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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746

Rev. bras.ter. cogn. v.3 n.2 Rio de Janeiro dez. 2007

 

ARTIGOS

 

Os esquemas na estruturação do vínculo conjugal

 

Schemas in the structure of conjugal blonds

 

 

Maria do Céu ScribelI; Maria Regina SanaII; Angela Maria di BenedettoIII

I Mestre em Educação &– Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), especialista em psicoterapia de casal e em terapias cognitivo-comportamentais
II Psicóloga clínica. Especialista em psicoterapia de casal e família e terapias cognitivo-comportamentais
III Psicóloga clínica. Especialista em psicoterapia de casal e família e terapias cognitivo-comportamentais

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Os desajustes conjugais configuram-se como fortes fatores de estresse individual, evidenciando a relevância de mais estudos na área da terapia de casais como campo de aplicação das terapias cognitivo-comportamentais. Seguindo esta linha de pensamento, este artigo propõe-se a oferecer uma contribuição para o entendimento da conjugalidade, abordando a relação amorosa sob a perspectiva da Teoria dos Esquemas de Young, e focando o papel dos esquemas precoces tanto na escolha do parceiro quanto na construção do vinculo amoroso. A classificação dos esquemas em seus respectivos domínios sugerida por Young é transposta para o campo conjugal e ilustrada através de exemplos de respostas mal adaptativas no relacionamento, possibilitando a visão de como estruturas formadas na infância são acionadas e regem o modo como as pessoas pensam, sentem e comportam-se em seus relacionamentos atuais. O estudo possibilitou-nos chegar a um modelo de entendimento dos desajustes conjugais, com base na abordagem dos esquemas mentais, e concluir que os esquemas de cada parceiro se entrelaçam, formando o que chamamos de “conjunção de esquemas precoces”. Assim, o foco do trabalho terapêutico recai na reestruturação dos esquemas mentais mal adaptativos geradores de interações perturbadas na vida do casal.

Palavras-chave: Relação conjugal, Esquemas, Terapia cognitiva.


ABSTRACT

Marital conflicts are configured as strong sources of individual stress, evidencing the relevance of developing more studies in the area of couple therapy as a field for the application of cognitive-behavioral therapies. Along this line of thought, this article intends to contribute to a better understanding of conjugality. It approaches affective relationship based on Young’s Schema Therapy, focusing on how premature schemes function to determine partner choice as well as affective link construction. The classification of schemes suggested by Young, in their respective domains, is applied to the marital field and is illustrated by some examples of maladaptative relationship responses, providing an insight of how childhood originated patterns can lead and determine people’s way of thinking, feeling and acting in their present relationships. This study leaded us to a model designed to understand marital conflicts based on the cognitive schemes approach and to a conclusion that each partner’s schemes are interlaced in what we called “Premature Schema Conjunction”. Thus, the focus of our therapeutic work falls into the reconstruction of those maladaptative cognitive schemes that generate conflicting relationships in the couples’ life.

Keywords: Marital relationship, Schema, Cognitive therapy.


 

 

Os esquemas na estruturação do vínculo conjugal

A queixa conjugal está presente não só nas terapias de casal, como também faz parte, com freqüência, da motivação que leva as pessoas à psicoterapia. O estresse causado pelos desajustes conjugais contribui para o surgimento de diferentes transtornos emocionais, sendo os mais comuns os quadros depressivos e de ansiedade (Epstein, 1985; Beck, 1995; Epstein & Schlesinger, 1995). Tal panorama justifica o fato de diferentes abordagens psicoterápicas dedicarem atenção ao tema. A terapia de casais é uma área de aplicação das TCCs que no inicio se dava predominantemente sob o enfoque da mudança comportamental. Ao longo do tempo foi se ampliando e hoje o foco reside nos processos de pensamento e sistema de crenças dos parceiros, configurando-se como um acréscimo que tem proporcionado resultados efetivos e consistentes (Dattilio & Padeski, 1995). Ellis (1977, citado por Dattilio & Padesky 1995)também identifica o enfoque predominantemente cognitivo para as terapias de casais. A terapia cognitivo-comportamental se ocupa da interação complexa das respostas cognitivas, comportamentais e afetivas que ocorrem nas interações de um casal (Epstein, 1998).

Este artigo alinha-se com a tendência da terapia cognitivo-comportamental contemporânea ao ter como objetivo preciso apresentar a possível aplicação da Teoria dos Esquemas de Young à terapia de casal, focando a influência dos esquemas precoces tanto na escolha do parceiro quanto na estruturação do vínculo conjugal. Iniciaremos, então, conceituando e tecendo considerações sobre a origem dos esquemas e sua manifestação na relação amorosa.

Do ponto de vista conceitual, a palavra esquema pode ser encontrada em vários campos de estudo e, em termos gerais, significa estrutura, esboço. No contexto da psicoterapia, em particular no paradigma cognitivo comportamental, esquema refere-se a uma espécie de lente repleta de vivências, pensamentos, sentimentos e situações da qual o indivíduo observa os acontecimentos e processa as informações (Beck, Freeman & Davis, 2005), ou, segundo Leahy (2006), maneiras habituais por meio das quais vemos as coisas .

A Terapia Focada nos Esquemas foi fundada por Jefrey Young reunindo e integrando conceitos e práticas de outras abordagens terapêuticas (Young, Klosko & Weishaar, 2003). Young et al. (2003) referem-se a uma parte biológica da personalidade, o temperamento, como uma espécie de viés genético que o indivíduo traz já ao nascer, desde o início inserido em um contexto interacional: em um primeiro momento a família, depois a escola, e, sucessivamente, o grupo de pares, a comunidade, a cultura.

Outros autores como Kagan (1989), Dragan e Cloninger (2005) também referem-se a esse viés genético. Kagan (1989) afirma existir evidências consistentes de que certas características de temperamento e padrões comportamentais já estariam presentes desde o nascimento, determinando tendências a serem acentuadas ou atenuadas pela qualidade das experiências infantis. Dragan e Cloninger (2005) referem-se à diferenças individuais de temperamento que modificam o processamento de informações do indivíduo e modelam aprendizagens precoces, condicionando respostas comportamentais automáticas.

Young et al. (2003) acredita que esse temperamento emocional interage com eventos infantis na formação de esquemas, e que, portanto, diferentes temperamentos expõem seletivamente a criança à diferentes circunstâncias da vida. Desta forma, a partir do que experienciamos, observamos e aprendemos, ao longo da infância e adolescência, construímos um conjunto de crenças a respeito de nós mesmos e de nossas relações com os outros, formando um padrão cognitivo estável e duradouro que norteia nosso funcionamento no mundo. As crenças estão inseridas nessas estruturas estáveis chamadas “esquemas” que selecionam e sintetizam os dados, para então desencadear uma série de estratégias de enfrentamento.

Young et al. (2003) classifica os esquemas em adaptativos e mal adaptativos. Os primeiros originam-se de vivências precoces percebidas como positivas e que, ao serem acionadas, contribuem para o enfrentamento e a resolução satisfatória das questões da vida. Os esquemas mal adaptativos, por sua vez, têm sua origem nas vivências precoces percebidas como dolorosas, podendo gerar interações perturbadas na vida atual. Para o autor, as experiências tóxicas da infância seriam a origem primária dos esquemas disfuncionais, aos quais se refere como “esquemas infantis desadaptativos” (EIDs). Desta forma, o que a pessoa experiencia já na vida adulta, diante de situações que ativam esses esquemas precoces seria, em essência, o drama da infância.

Outro autor, Jurg Willi (1985), terapeuta de casais, ao se aprofundar no estudo sobre a dinâmica conjugal, afirmou que nenhuma relação humana se aproxima tanto da relação pais-filho como a relação de um casal. Acredita que os problemas e as dificuldades dos casais seriam fruto de um jogo conjunto inconsciente, presente desde a escolha do parceiro, que chamou de colusão. Willi (1985) identifica quatro tipos de colusão: o primeiro, pode ser observado em casais onde a interação se define com um parceiro mantendo-se na posição de protetor, enquanto o outro permanece em um papel frágil e dependente, compondo assim um padrão relacional cuidador-desamparado. O segundo ocorre quando um dos parceiros perpetua-se no papel de “dominador”, enquanto o outro exerce um papel passivo. O terceiro tipo de situação relacional polarizada é aquela em que somente um dos parceiros realiza seu potencial, enquanto o outro renuncia às próprias necessidades e desejos em favor deste. E quarto e último tipo mostra uma relação de inveja e rivalidade, promovendo uma competição crônica pelo poder.

Comparando as posições de Young et al. (2003) e Willi (1985), encontramos um elemento comum que sugerimos chamar de “conjunção de esquemas precoces”, ou seja, o entrelaçamento dos esquemas mentais de cada parceiro, que acreditamos ser a origem dos diversos padrões de respostas no relacionamento amoroso.

 

O papel dos esquemas no vínculo amoroso

Todos os tipos de relacionamento humano subentendem algum grau de conflito. A relação conjugal, como modelo adulto de intimidade, condensa expectativas de satisfação de muitas necessidades antigas oriundas de relações primitivas e que armazenadas ao longo dos anos, renascem com a esperança de redenção na interação com o parceiro. Este é o fenômeno que torna complexo o casamento: o fato das pessoas atribuírem ao outro e à própria relação a condição de resolver suas necessidades internas, muitas vezes contraditórias.

Ellis (1977, citado por Dattilio & Padesky 1995) relaciona os desajustes conjugais às expectativas irreais e às exigências exageradas mantidas por cada cônjuge a cerca do casamento, fazendo com que avaliem a interação de forma extremamente negativa quando insatisfeitos. Beck (1995) também ressalta a importância do desenvolvimento de certas expectativas entre os parceiros, afirmando que a intensidade do relacionamento fomenta certos anseios há muito adormecidos: o que quer que um dos parceiros faça vem sempre carregado de significados oriundos desses desejos e expectativas. Além destas demandas pessoais geradas pelas vivências primitivas, há que considerar os aprendizados culturais sobre o casamento que também contribuem para essas expectativas, uma vez que nele é depositado um poder para a satisfação de necessidades pessoais que não lhe cabe e que tão pouco lhe é possível saldar (Sana & Scribel, 2004).

Na busca do entendimento da complexidade das relações amorosas deve-se considerar que o ser humano trava lutas internas com desejos e necessidades não atendidas e sentimentos dolorosos, através de uma variedade de mecanismos auto-protetores, que são formas especificas de lidar com essas experiências. Sabe-se que a maioria desses desejos não realizados e sentimentos dolorosos envolvem outra pessoa, e que são mantidos através de pensamentos e respostas à esse. A construção dessas estratégias auto-protetoras estão ligadas à forma como a pessoa lida com as necessidades mais elementares &— cuidado, proteção e pertencimento &— base para a estruturação da personalidade e que exercem influência no tipo de relacionamento amoroso que se estabelecerá na vida adulta.

Conforme observamos em nossa prática clínica , uma das condições que confere às relações amorosas um papel tão valioso, refere-se ao seu potencial de contribuição para o crescimento pessoal. Nesse sentido, acreditamos que o casamento tanto pode constituir-se em um campo fértil para o crescimento pessoal que leva à autonomia, à maturidade e à estabilidade, quanto em um campo para a permanência de conflitos e expressão de desejos primitivos não satisfeitos. Desta forma, o padrão interacional especifico do casal terá origem nos esquemas precoces de cada parceiro e que, ao serem introduzidos na relação, caracterizarão a forma peculiar de seu funcionamento. Haverá, portanto, um entrelaçamento de esquemas por nós nomeado de “conjunção de esquemas precoces”. Dependendo dos esquemas prioritariamente acionados teremos relacionamentos amorosos adaptativos, caracterizados pelo crescimento pessoal e conjugal, ou relacionamentos mal adaptativos, onde imperam as interações negativas, podendo ocorrer um empobrecimento pessoal ou o surgimento de sintomas depressivos e de ansiedade.

 

A interferência dos esquemas na eleição do parceiro e na dinâmica conjugal

Quando duas pessoas se unem para formar um casal, cada uma leva para o casamento um conjunto de crenças construídas ao longo de suas vivências com a família de origem. Nesse aspecto, a terapia cognitivo-comportamental de casais tem vários pontos de convergência com a abordagem sistêmica. Dentre eles, a premissa de que as famílias funcionam de acordo com seu sistema de crenças passado de geração para geração (Mc Goldrick & Randy, 1985; Papp, 1992). Tais crenças influenciam a forma de pensar e de sentir, guiando os comportamentos de cada membro do grupo familiar e contribuindo para a formação das estruturas cognitivas (esquemas). 

A eleição do cônjuge é ponto fundamental para a abordagem do casal em terapia. Há unanimidade entre autores que examinaram essa questão (Pincus & Dare, 1981; Framo, 1985; Willi, 1985) de que a escolha se ancora em raízes profundas e primitivas da vida da pessoa. A escolha não se dá ao acaso, ela é direcionada para satisfazer demandas pessoais, tanto conscientes como não conscientes, para confirmar crenças precoces quanto a si mesmo e quanto ao mundo, e para reeditar interações conflitivas vivenciadas no passado, oferecendo uma possibilidade de resolução ou manutenção do conflito.

Sob a perspectiva da abordagem focada nos esquemas, a escolha se fundamenta nas representações mentais de cada parceiro, que oferecem as bases para a estruturação dos esquemas. Young et al. (2003) refere que os esquemas mentais organizam a experiência porque interpretam e categorizam o real, servindo de guia para a ação. Assim, como já mencionamos anteriormente, a construção da relação amorosa se dará a partir do entrelaçamento dos esquemas mentais do par conjugal (conjunção de esquemas), originando demandas especificas que se traduzem na relação sob a forma de expectativas mútuas. As especificidades de cada demanda são influenciadas pelas crenças e outros componentes da organização cognitiva. Na interação conjugal esquemas primitivos são ativados, sendo que em pessoas bem ajustadas, os esquemas dão origem a uma variedade de crenças que são flexíveis e que se adequam às circunstâncias e ao momento atual. No entanto, em pessoas com transtornos emocionais ou com perfis psicológicos rígidos, os esquemas tendem a ser desadaptativos, gerando atitudes disfuncionais em muitas situações da vida.

Conforme Young et al. (2003) os esquemas podem estar latentes ou ativos. Observamos que no relacionamento amoroso, dado o grau de envolvimento das pessoas, os esquemas mais primitivos são acionados de forma intensa. Assim, quando há o predomínio de esquemas adaptativos, o relacionamento se construirá a partir da soma das habilidades individuais, estabelecendo-se um clima de cooperação e cumplicidade que fortalecerá a dupla conjugal e também cada pessoa. A relação será, portanto, satisfatória e dirigida para o crescimento. Por outro lado, quando a escolha se dá com base em esquemas desadaptativos, a relação se construirá de forma perturbada, tendendo a reforçar esses esquemas por meio de pensamentos distorcidos, o que propicia um clima de insatisfação e conflito crônico. A figura 1 sintetiza a ação dos esquemas na construção da identidade conjugal.

 

 

Os esquemas disfuncionais ativados introduzem um viés sistemático no processamento de informação. Formam-se padrões interacionais repetitivos que caracterizam o tipo de relação, que se formará pela ativação recorrente de certos esquemas dos parceiros. Portanto, nesse jogo interacional as respostas se reforçam mutuamente.  Tal entendimento se alinha com o princípio da complementariedade , utilizado amplamente pelos terapeutas sistêmicos, embora sejam nos estudos de Willli (1985) e Mony Elkaïm (1990) , que aparecem em maior profundidade, o que na abordagem da terapia focada nos esquemas corresponde a um reforçamento mútuo dos esquemas mentais.

 

Processos e domínios de esquemas na relação conjugal

Acreditamos que relacionamentos conjugais pautados nos esquemas iniciais desadaptativos também obedecerão aos processos de evitação, manutenção ou de compensação dos esquemas. Segundo Young et al. (2003) a manutenção refere-se à perpetuação do esquema através de distorções cognitivas que exageram informações que confirmem ou minimizem informações que o contradizem. A evitação refere-se às maneiras pelas quais as pessoas evitam ativar esquemas que lhe causem dor psicológica. E a compensação refere-se à maneira como a pessoa se comporta, de forma oposta ao esquema, para evitar que ele seja acionado.

Young et al. (2003) classificou os esquemas em cinco domínios, que são representativos dos cinco temas prevalentes observados nos pacientes. O primeiro domínio “desconexão e rejeição”, que inclui os esquemas de abandono, desconfiança, privação emocional, vergonha e isolamento social, é encontrado em pacientes incapazes de sentirem-se seguros e satisfeitos em seus relacionamentos, acreditando que suas necessidades de segurança, estabilidade e afeto não serão atendidas. O segundo domínio, “autonomia e desempenho prejudicados”, que inclui os esquemas de dependência, vulnerabilidade, emaranhamento e fracasso, refere-se a pacientes que possuem expectativas em relação a si mesmo e ao mundo que prejudicam seu funcionamento independente. O terceiro, “limites prejudicados”, que inclui os esquemas de merecimento/grandiosidade, insuficiência de auto-controle e auto-disciplina, é encontrado em pacientes que não desenvolveram limites internos adequados e senso de responsabilidade, apresentando dificuldades de cooperação e cumprimento de metas. O quarto domínio “orientação para o outro”, que inclui os esquemas de subjugação e auto-sacrifício, refere-se a pacientes que focam excessivamente desejos e necessidades dos outros em detrimento dos seus. Finalmente, o quinto domínio “supervigilância e inibição”, que inclui os esquemas de negativismo, inibição emocional, padrões inflexíveis e caráter punitivo, aparece em pacientes que suprimem seus impulsos e sentimentos espontâneos, submetendo-se à regras e expectativas rígidas internalizadas.

A tabela a seguir mostra alguns exemplos de respostas mal-adaptativas encontradas na relação amorosa, a partir da classificação de Young et al. (2003), transposta por nós para o trabalho terapêutico com casais.

No primeiro exemplo, temos a ativação do esquema de abandono e seu significado. A pessoa com esse esquema poderá escolher parceiros não confiáveis e não persistentes, colocando em risco a relação (manutenção do esquema); poderá evitar construir uma relação mais íntima por medo de ser abandonada (evitação do esquema) ou ainda, “grudar-se” no parceiro, sufocando-o (compensação do esquema). Os demais exemplos do quadro seguem este mesmo raciocínio, mostrando o esquema ativado, seu significado e estratégias comportamentais decorrentes.

 

 

Considerações finais

Muitos estudos, com diferentes orientações teóricas, têm surgido com o intuito de compreender a dinâmica da relação amorosa. A teoria dos esquemas mentais apresentada pela abordagem cognitiva vem oferecendo uma nova leitura para o entendimento de como o individuo se coloca no mundo, como se relaciona e como enfrenta os desafios da vida, sendo o centro da TCC contemporânea (Dattilio, 2006). Tal teoria assume grande valor por agregar objetividade, amplitude e profundidade. Ao ser transposta para a compreensão das relações amorosas e para a intervenção com casais em conflito, possibilita a visão de como estruturas que são formadas na infância e adolescência são acionadas e regem o modo como as pessoas pensam, sentem e agem em seus relacionamentos atuais.

Aprendemos com os casais em crise, que a possibilidade de responderem favoravelmente ao processo terapêutico está vinculada às condições da estrutura emocional de cada parceiro, de como lidam com as questões de privação, rejeição, subestimação ou superestimação de suas necessidades. Todas essas questões são reativadas e potencializadas na relação conjugal, por um lado, pela importância da conjugalidade na vida emocional adulta, que pode ser vivida como uma chance para o preenchimento de demandas primárias. Por outro lado, pela tendência a repetição dos padrões de comportamento que ancoram nas crenças pessoais.

Dentro da perspectiva apontada neste artigo o projeto terapêutico com casais contempla a identificação dos esquemas individuais mal adaptativos de cada parceiro que estão sendo acionados e reforçados mutuamente, gerando interações perturbadas. Ao compreender a conjunção de esquemas disfuncionais que se formou, as intervenções terão como meta a reestruturação dos esquemas mal adaptativos que se interpõem. O redimensionamento das expectativas e das exigências exageradas quanto ao outro e quanto ao casamento, oriundas das demandas primárias, contribuem decisivamente para interações livre de conflito, logo para o bem estar conjugal.

 

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Endereço do autor principal:
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E-mail:angelabenedetto@hotmail.com;mrsana@terra.com.br

Recebido em: 13/09/2007
Aceito em:05/12/2007

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