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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746

Rev. bras.ter. cogn. vol.11 no.1 Rio de Janeiro jun. 2015

http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20150008 

COMUNICAÇÕES BREVES BRIEF COMMUNICATIONS

 

Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas: uma história em 10 edições

 

Brazilian Congress of Cognitive Therapies: a history in 10 editions

 

 

Carmem Beatriz NeufeldI; Silviane PazII; Rose GuedesIII; Caroline da Cruz Pavan-CândidoIV

IDoutor - (Professor Doutor 2 da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)
IIEspecialista - (Psicóloga clínica, pesquisadora colaboradora no grupo de Transtorno de Estresse Pós-traumático [TEPT] no Instituto de Psiquiatria - Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ])
IIIGraduada em Psicologia - (Psicóloga clínica)
IVMestrado em Psicologia - (Doutoranda da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) - AdHoc - SP - Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

No final dos anos 1980, as terapias cognitivo-comportamentais (TCCs) chegaram ao Brasil e foram se difundindo pelo país. A Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) tem tido papel importante nesse crescimento, sendo uma de suas ações o Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas (CBTC), que completou 10 edições em 2015. Este trabalho teve como objetivo construir a história dos CBTCs e apontar suas contribuições para o crescimento das TCCs no Brasil. Para isso, foram examinados os anais dos CBTCs, relatórios de gestão da FBTC e das empresas responsáveis pela organização do evento; os sites dos congressos que se encontravam no ar; além de materiais diversos, como fotos, anotações pessoais, entre outros, fornecidos por sócios da Federação; e artigos científicos e capítulos de livros que auxiliassem na construção dessa história. Os resultados apontam crescimento do evento, com aumento do número de palestrantes, participantes e trabalhos apresentados. Indicam também participação intensa da FBTC e do CBTC no crescimento e difusão das TCCs no Brasil. Porém, ainda existe necessidade de difusão da área, por exemplo, nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste do País. Conclui-se que os CBTCs estão cumprindo seu papel de difusão das TCCs, assim como prevê a FBTC e a própria área.

Palavras-chave: Terapia cognitiva; Terapia cognitivo-comportamental; Congressos


ABSTRACT

In late 1980, Cognitive-Behavioral Therapies (CBT) arrived in Brazil and have spread throughout the country. The Brazilian Federation of Cognitive Therapies (FBTC) has played an important role in this growth promoting Brazilian Congress of Cognitive Therapies (CBTC), which completed 10 editions in 2015. This study aimed to outline the history of CBTC and point its contributions to the growth of CBT in Brazil. For this, were examined the annals of CBTC, reports provided by FBTC and by companies responsible for organizing the meetings, meetings websites, as well as several materials such as photographs and personal notes provided by FBTC members, as well as scientific articles and book chapters that could help construct this process. The results show that CBTC grew along these years, with increased number of speakers, participants and presented papers. They also indicate intense participation of FBTC and CBTC in the growth and spread of CBT in Brazil. However, there is still much to be done to spread CBT, especially in the North, Midwest and Northeast of Brazil. We can say that CBTC are fulfilling its role of disseminating CBT, as forecasted by FBTC and by the field.

Keywords: Cognitive therapy; Cognitive-behavior therapy; Congresses


 

 

INTRODUÇÃO

O termo terapia cognitivo-comportamental (TCC) se refere a um conjunto de práticas que compartilham características fundamentais, como aspectos teóricos e métodos de intervenção. Frequentemente, refere-se a elas no plural (terapias cognitivo-comportamentais - TCCs), por terem sido desenvolvidas por diferentes autores separadamente e por apresentarem variações, sendo possível encontrar mais de 20 abordagens dentro do modelo cognitivo e cognitivo-comportamental (Dobson & Scherrer, 2004; Knapp, 2004). As primeiras propostas cognitivo-comportamentais datam das décadas de 1950 e 1960, com autores como Aaron Beck, Albert Ellis e Lazarus, e com Meichenbaum e Mahoney, na década de 1970, quando surgem também os primeiros escritos importantes sobre modificação cognitiva do comportamento (Beck & Alford, 2001; Dobson & Scherrer, 2004; Ellis, 2001; Knapp, 2004).

O aumento das preocupações com os aspectos cognitivos do comportamento humano (Neufeld, Brust, & Stein, 2011) e a insatisfação com os modelos psicanalítico e comportamental tiveram papel decisivo no direcionamento das atenções de teóricos e clínicos para a aplicação da teoria cognitiva na psicologia clínica. Esse fato teve como consequências o desenvolvimento de uma diversidade de modelos e técnicas cognitivo-comportamentais, bem como o crescimento e a disseminação da área no cenário mundial (Dobson & Scherrer, 2004; Knapp, 2004).

No Brasil, durante a década de 1960, acompanhando as tendências mundiais, teve início um movimento de ensino de Psicologia Experimental, especialmente a Análise Experimental do Comportamento (AEC), em São Paulo (Cândido & Massimi, 2012; Guedes et al., 2008). Com isso, também teve início no país a proliferação do ensino e da aplicação de intervenções clínicas na abordagem comportamental, à época denominada Análise Aplicada do Comportamento ou Modificação do Comportamento. A vinda do professor Fred Keller para a Universidade de São Paulo, em 1961, para ministrar um curso de Psicologia Comparada e Animal no curso de Fisiologia, representou o primeiro contato dos brasileiros com a AEC e seu início no Brasil (Queiroz, Guilhardi, Guedes, & Martin, 1976). No Rio de Janeiro, o primeiro contato dos psicólogos com a área se deu em 1971, durante a II Reunião Anual de Psicologia de Ribeirão Preto, organizada pela Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto (que veio a se tornar Sociedade Brasileira de Psicologia). No ano seguinte, foram realizados cursos intensivos de AEC no Rio, ministrados pelos professores João Claudio Todorov e Thereza Mettel, de Ribeirão Preto (Rangé & Guilhardi, 1995). Esse foi um primeiro passo na direção das terapias cognitivas (TCs) no País.

No final dos anos de 1980, as TCs chegam ao Brasil trazidas por professores universitários e por terapeutas de abordagem comportamental que as conheceram por meio da participação em congressos internacionais e da literatura da área, em inglês. Um grupo do Rio de Janeiro, composto por Bernard P. Rangé, Eliane Falcone, Helene Shinohara, Paula Ventura, Mônica Duchesne, Alice Castro e Lúcia Novaes, iniciou encontros periódicos para discutir o enfoque cognitivista e sua incorporação às suas práticas clínicas (Shinohara & Figueiredo, 2011). A partir daí, vários eventos científicos, regionais e nacionais, começaram a ser organizados (Federação Brasileira de Terapias Cognitivas [FBTC], 2010).

Com a tradução para o português do livro Terapia cognitiva da depressão, de Aaron Beck e colaboradores, em 1997, teve início um movimento que vinha acontecendo em outros lugares do mundo: o surgimento de uma abordagem cognitivo-comportamental, que uniu profissionais no Rio, em São Paulo - local de forte tradição skinneriana - e em Porto Alegre - onde havia domínio da psicanálise, pela proximidade com a Argentina -, mudando a cara da terapia comportamental no Brasil (Rangé & Guilhardi, 1995). Em seu texto, Rangé e Guilhardi (1995) apontaram que seria importante realizar observações sobre os caminhos que a terapia cognitiva tomaria no País, além de seu impacto e evolução.

Em 1996, o grupo de terapeutas cognitivo-construtivistas composto por Cristiano Nabuco de Abreu, Raphael Cangelli Filho, Ricardo Franklin Ferreira, entre outros, fundou a Associação Brasileira de Terapias Cognitivas Construtivistas (ABTCC), a primeira associação da área no País. A ABTCC uniu-se à Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas (SBTC) no momento da criação desta última, em abril de 1998, durante o I Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas (Rangé, Falcone, & Sardinha, 2007). Em 2009, a SBTC passou a ser denominada Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) (Federação Brasileira de Terapias Cognitivas [FBTC], 2010), a fim de abrigar as associações regionais (ATCs), criadas a partir de 2005 (Shinohara & Figueiredo, 2011).

A criação dessa associação científica teve grande importância para a área por seu trabalho direto para o desenvolvimento das TCs no Brasil, tornando-se referência para os terapeutas e pesquisadores brasileiros. Desde sua fundação, tem como objetivos: incentivar e colaborar com a realização de pesquisas científicas; incentivar e apoiar a criação de cursos de pós-graduação lato sensu e a inserção das TCs nos programas de pós-graduação stricto sensu e em cursos de graduação, nos quais pode ser observado um crescimento do ensino de TC (Neufeld, Xavier, & Stockmann, 2010); facilitar o acesso de seus associados à capacitação, a partir da organização e do apoio a eventos científicos e da publicação da Revista Brasileira de Terapias Cognitivas (Neufeld & Affonso, 2013).

Uma das formas de fortalecer a área e favorecer o desenvolvimento de conhecimentos cientificamente construídos é a realização de eventos científicos que difundam conhecimentos empiricamente embasados e que ofereçam aos profissionais e estudantes a oportunidade de ter acesso à produção de conhecimentos atuais e baseados em evidências. Diante disso, no ano em que o CBTC comemora sua décima edição, justifica-se uma análise de suas edições e de suas contribuições para o crescimento da área no País, com vistas a implementar, cada vez mais, ações que favoreçam os objetivos do congresso, da Federação e da própria área.

 

OBJETIVOS

Este trabalho teve como objetivo descrever a história do CBTC, desde sua primeira edição, a partir de documentos contendo informações como local de realização, composição da comissão organizadora, número de participantes, convidados, apresentações realizadas, tipos de apresentações, e, a partir desses dados, apontar seu papel para a área das TCs no Brasil.

 

MÉTODO

Este estudo foi do tipo exploratório-descritivo, com delineamento de pesquisa histórica. O método historiográfico foi escolhido pois, de acordo com Danziger (2003), não é possível compreender uma prática apenas pelo estudo de seu estado atual. Para tal, é necessário compreender o que o autor denominou objeto psicológico, realizando um estudo histórico dos objetos discursivos, ou seja, estudo sobre o que os autores responsáveis pela criação e pelo desenvolvimento da área relatam sobre ela ao longo de seu tempo de existência.

Diante disso, para atingir os objetivos propostos, foi realizada uma análise historiográfica de documentos coletados sobre os CBTCs e sobre as TCs no Brasil, seguindo os passos propostos por Massimi (1998): 1) definição do tema e problema de pesquisa; 2) busca por fontes; 3) tratamento das fontes para compreensão de seus conteúdos; 4) interpretação do documento e apreensão do seu sentido; 5) a escrita da história para torná-la compreensível no presente.

Documentos

Foram examinados os anais de todas as edições do CBTC, realizadas entre 1998 e 2015, além de relatórios fornecidos pelos presidentes anteriores e pelas empresas responsáveis pela organização do evento (Relatórios Comunic Eventos, Relatório Esferamix, Relatório Oxford). Também foram consultados os sites dos VII, VIII, IX e X congressos, que se encontravam disponíveis e no ar.

Materiais diversos, como fotos, anotações pessoais, entre outros, foram obtidos com sócios da FBTC. A empresa responsável pela filmagem dos eventos (TVMED) forneceu uma lista das atividades filmadas, contendo o tipo e o título da atividade, além dos nomes dos palestrantes responsáveis por cada uma delas. Além disso, foram analisados artigos científicos e capítulos de livros que pudessem fornecer dados que contribuíssem para a construção da história do CBTC e de sua contribuição para o crescimento das TCs no Brasil.

Procedimento de coleta de dados

Primeiramente, os anais dos congressos foram buscados nos sites da FBTC e dos VII, VIII, IX e X CBTCs, que ainda se encontravam no ar. Também foi realizado contato, via e-mail e telefone, com os presidentes anteriores da FBTC e com membros das diretorias das 10 edições do evento, procurando pelos anais ou outros materiais que pudessem contribuir com a pesquisa. Esses representantes forneceram os documentos de que dispunham e indicaram outros membros antigos da diretoria e sócios que poderiam contribuir com outros materiais. Esses outros membros e sócios contatados, da mesma forma, forneceram os documentos e informações que tinham e indicaram novos associados e participantes de congressos anteriores que poderiam colaborar. Esse processo foi realizado diversas vezes, até que os materiais se esgotaram.

Além disso, a pesquisa e a busca por dados foram divulgadas nas redes sociais da Federação e do Congresso, sendo realizado contato com os sócios da FBTC via e-mail. Também foi realizado contato com as empresas responsáveis pela organização dos eventos, sendo que apenas uma delas não se dispôs a fornecer os dados. Todas as demais disponibilizaram os dados que tinham em seus arquivos. Por último, foram levantados artigos e livros sobre a história das TCs no Brasil.

Procedimento de análise de documentos

Os documentos foram organizados em arquivos digitalizados, de acordo com o tipo: fotos; anais dos congressos; registros das empresas de organização de eventos e empresa de filmagem; relatórios dos eventos ou da FBTC; informações dos sites; e anotações pessoais de diretores, presidentes e sócios.

Para a análise dos materiais, exceto das fotos, foram elaboradas algumas categorias a priori: dados quantitativos sobre participantes, convidados nacionais e internacionais, atividades realizadas durante o evento e tipo de atividades; e dados qualitativos como informações sobre local e ano de realização dos eventos, composição da diretoria da FBTC e comissão organizadora dos eventos.

Nas fotos, buscou-se confirmar a presença ou levantar a presença de pessoas componentes das comissões organizadoras e das diretorias da Federação.

Os textos levantados sobre a história das TCs no Brasil foram utilizados para auxiliar na compreensão dos documentos, pois essa depende da recuperação e compreensão dos aspectos da história e do local de produção dos materiais e, para isso, é importante a busca do entendimento de suas influências externas (Massimi, 1998).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nos dados coletados sobre os 10 CBTCs realizados, foi possível construir a história do evento em fatos e números. O levantamento realizado permitiu o acesso a informações gerais sobre as diversas edições do congresso, como data, local, cidade, estado e presidente (Tabela 1).

O CBTC é um evento bienal, realizado desde 1998, quando foi fundada a FBTC (na época denominada SBTC), como parte de suas ações de divulgação e fomento à capacitação de seus associados e da comunidade acadêmica e profissional da área. Cada presidente assume a gestão da Federação por um período de dois anos, durante o qual organiza uma edição do evento, sendo também o presidente dela. Uma exceção ocorreu com o II CBTC, realizado em 1999, em que o presidente da Federação era Paulo Knapp e o presidente do Congresso foi Bernard Rangé. Outra exceção relativa a essa edição do evento foi o intervalo de apenas um ano em relação à primeira edição. Ambas as exceções se deram a fim de realizar o evento juntamente com o V Latini Dies, levado para o Rio de Janeiro por Rangé, Eliane Falcone e Helene Shinohara, com apoio da FBTC e da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (Rangé et al., 2007). A realização do II CBTC juntamente com outro evento pode ter favorecido a divulgação do primeiro, que ainda era novo no cenário científico, e também despertado o interesse para as TCs de profissionais e pesquisadores que não haviam tido contato prévio com a área.

É possível observar que, ao longo dos 17 anos desde a realização do primeiro Congresso, ele aconteceu por duas vezes nos Estados do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Não houve edições do CBTC nos Estados do Centro-Oeste e Norte e, considerando que o Nordeste é bastante extenso geograficamente, essa região recebeu poucas edições (uma em Alagoas, uma em Pernambuco e uma na Paraíba). Essa distribuição parece refletir a história das TCs no Brasil, que se iniciou nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo (Abreu, Ferreira, & Appolinário, 1998; Rangé & Guilhardi, 1995; Rangé et al., 2007; Shinohara & Figueiredo, 2011), seguidos pelo Rio Grande do Sul (Neufeld, Xavier & Stockman, 2010).

Os resultados do estudo também permitiram acessar a composição das comissões e diretorias de cada uma das edições (Tabela 2). Observando-se tais dados, pode-se verificar um crescimento do número de profissionais componentes das diretorias e comissões ao longo dos anos. Esse aumento de profissionais pode ser explicado pelo crescimento e difusão das TCCs no Brasil e no mundo (Dobson & Scherrer, 2004; Rangé et al., 2007), o que significa a existência de um número maior de pessoas envolvidas com a produção e divulgação de conhecimento em eventos científicos, por exemplo, demandando também um crescimento do grupo trabalhando neles. Além disso, nas duas últimas gestões da FBTC (2011-2013 e 2013-2015), houve a criação do grupo de doutores, o que aumentou a participação de pesquisadores nas diretorias e comissões, pois a Federação conta com uma comissão científica permanente (FBTC, 2015).

Também é possível observar que os Estados de procedência dos integrantes das comissões e diretorias foram se ampliando com o passar dos anos e com o crescimento dessas equipes. No I CBTC havia membros apenas dos Estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Na segunda edição, participaram também pesquisadores de São Paulo e da Bahia. As únicas edições em que não houve acréscimo da representação de ao menos um Estado foram a VI e a VIII. Assim como em relação à cidade e ao Estado de realização do evento, a composição das comissões conta com um predomínio de membros dos Estados do Sul e Sudeste, com menor participação dos Estados do Nordeste, com a participação de um membro da região Norte (Amazonas), nas comissões da IX edição, e ausência de participação dos Estados do Centro-Oeste. Esses dados corroboram aqueles apresentados anteriormente sobre a maior presença das TCs no Rio de Janeiro e em São Paulo, Estados pioneiros no País; a inserção tardia da área no Estado do Paraná, por exemplo; e a baixa representação e divulgação nos Estados do Norte e Centro-Oeste (Abreu et al., 1998; Neufeld et al., 2010; Rangé & Guilhardi, 1995; Rangé et al., 2007; Shinohara & Figueiredo, 2011).

Foram contabilizados os números de participantes e de convidados nacionais e internacionais; de casos clínicos, comunicações orais, conferências, mesas-redondas, pôsteres e total de trabalhos apresentados; além de minicursos e workshops internacionais realizados (Tabela 3).

Pode-se observar que o II CBTC se diferencia em alguns aspectos em relação aos demais: grande parte das atividades realizadas ocorreu em maior número que em todas as demais edições do evento; inclusive o total de trabalhos/atividades realizadas só foi superado pela última edição do Congresso. Além disso, o número de participantes nessa edição só foi superado seis anos depois, na quinta edição. Isso pode ter acontecido porque foram realizados dois eventos juntos (o CBTC e o Latini Dies) e por ter sido realizado no Rio de Janeiro, o berço da TC no País. Os dados do quinto encontro parecem mostrar também a importância do Rio de Janeiro no cenário da área. Em relação ao IV CBTC, o número de participantes quase dobrou.

Levando em conta esses dados, é possível observar um claro crescimento do evento ao longo dos anos. Esse crescimento indica um maior interesse na área, que vem realizando pesquisas e desenvolvendo novas técnicas e modalidades de atuação, sempre com a preocupação em relação à eficácia no tratamento dos mais diversos transtornos mentais (Rangé et al., 2007; Knapp & Beck, 2008; Powell, Abreu, Oliveira & Sudak, 2008; Porto, Oliveira, Volchan, Mari, Figueira, & Ventura, 2008).

Esse crescimento foi previsto no terceiro estudo de Norcross, Hedges e Prochaska (2002) de uma série que se apoiou no procedimento chamado de Delphi Poll, que vem sendo repetido a cada 10 anos, desde 1980 (Norcross, Alford, & De Michele, 1992; Prochaska & Norcross, 1982). Esse procedimento é uma técnica que visa a identificação de tendências e eventos futuros, por meio da consulta a um grupo de especialistas sobre determinado tema. A replicação do atual estudo é sugerida após 10 anos. Assim como nos estudos mencionados, os dados dos CBTCs parecem indicar que a popularidade das abordagens cognitivas nos próximos anos continuará crescendo, levando em conta o aumento do número de participantes, de trabalhos apresentados em todas as modalidades e de atividades realizadas ao longo dos anos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo mapear a história do CBTC, descrevendo suas 10 edições, e levantar suas contribuições para o crescimento e a difusão das TCCs no Brasil. Partiu-se da ideia de que uma das estratégias para promover a difusão, o fortalecimento e o desenvolvimento de uma área como ciência é a promoção de eventos científicos que tenham como objetivo fornecer oportunidades para que estudantes e profissionais tenham acesso a conhecimento cientificamente embasado e, ao mesmo tempo, para que cientistas e estudantes possam divulgar os conhecimentos produzidos no meio acadêmico. Como o maior evento científico de TCCs, que vem contribuindo fortemente com o crescimento da área no País completou 10 edições, considerou-se importante analisar seu papel na difusão desse conhecimento durante estes 17 anos. Os resultados do estudo permitiram concluir que os CBTCs estão cumprindo seu papel de difusão das TCCs, assim como prevê a FBTC e a própria área.

Os dados referentes à distribuição do evento no País indicam a necessidade de investimento na divulgação da área, especialmente nos Estados do Norte e do Centro-Oeste, que não tiveram a oportunidade de sediar uma edição do Congresso e não participaram da institucionalização da área no País.

 

REFERÊNCIAS

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LEITURAS RECOMENDADAS

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Correspondência:
Carmem Beatriz Neufeld
Avenida Bandeirantes, 3900, Monte Alegre
Ribeirão Preto-SP. CEP: 14040-901
E-mail: cbneufeld@usp.br

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBTC em 02 de outubro de 2015. cod. 379.
Artigo aceito em 11 de junho de 2016.

 

 

Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Departamento de Psicologia. Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-comportamental - LaPICC.

 

 

No artigo "Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas: uma história em 10 edições" com o DOI: 10.5935/1808-5687.20150008 na página 60 onde se lia: "seguidos pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Neufeld et al., 2011)", leia-se: "seguidos pelo Rio Grande do Sul (Neufeld, Xavier & Stockman, 2010)"

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