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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746

Rev. bras.ter. cogn. vol.13 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2017

http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20170011 

10.5935/1808-5687.20170011 EDITORIAL

 

Editorial em Homenagem à mentora da RBTC, Eliane Falcone

 

 

Angela Donato Oliva

Editora Chefe

 

 

Inspira-nos um trecho do filósofo Kierkegaard quando afirma que "(...) a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás (...)". A visão retrospectiva permite uma amplitude de compreensão da realidade que só conseguimos com o devido afastamento no tempo, quando o pensamento atual nos leva a perceber mais claramente o papel desempenhado pelos fatores pregressos, presentes em um momento singular da história. Tendo em mente essa ideia, convido o leitor a "abstrair as facilidades editoriais" de 2018 e a considerar esse processo nos anos compreendidos entre 2002 e 2005. Apesar de nem tão distante no tempo, no que tange às publicações de periódicos científicos, as coisas eram então bem diferentes. A internet já fazia parte do nosso dia-a-dia de trabalho de pesquisa, mas as publicações científicas eram veiculadas basicamente de maneira impressa.

Em 2002, um fato teve relação direta com o surgimento da RBTC (Revista Brasileira de Terapias Cognitivas). Começava a ser montada a chapa que levaria a Professora Drª da UERJ, Eliane Mary de Oliveira Falcone, à presidência da então SBTC (Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas). Naquela ocasião, Eliane idealizou a criação de uma revista científica especializada na veiculação de pesquisas teóricas e empíricas sobre as terapias cognitivas. Era um projeto ousado em virtude da magnitude para concretizá-lo e das condições materiais da SBTC à época.

Eliane Falcone possuía a liderança indispensável para assumir o comando de uma revista, tinha motivação de sobra para contagiar e encorajar as pessoas e ainda apresentava força e obstinação para executar todas as etapas necessárias à montagem de um periódico. Sem falar da autoridade acadêmica que lhe permitia avalizar o projeto de uma revista demonstrando sua viabilidade. O resultado disso foi que conseguiu montar uma equipe de primeira linha, com pessoas que trabalharam duramente, construindo e gerenciando de maneira "braçal" (sem auxílio de sistemas de editoração) os primeiros volumes da RBTC. A sofisticação da época era usar e-mails e computadores pessoais como ferramentas para gerir a revista. A dedicação e disciplina desse grupo, ao lado de um ideal de excelência acadêmica, fizeram a diferença. Dessa união entre mentes brilhantes e mãos laboriosas nasce, em 2005, a RBTC. A revista saiu indexada desde o seu primeiro número e disponibilizando seus textos completos no Portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia - PEPSIC.

A distribuição dos volumes para as bibliotecas do Brasil e para os assinantes era feita por correio e ficava a cargo das pessoas da equipe, composta por Lucia Novaes (que dividiu o trabalho de editora junto com Eliane), Mônica Duchesne e Adriana Nunan (que trabalhavam como assistentes de edição) e um grupo de alunos do Rio de Janeiro, Giselle Couto e Liliane de Carvalho, ao qual, em seguida, se juntaram Aline Sardinha Mendes Soares de Araújo, Conceição Santos, Juliana Furtado D'Augustin, Lívia da Silva de Santana, Patrícia de Souza Barros, Aline Falcone Naice e Viviane Rosa Marinho. O trabalho de todas essas pessoas foi fundamental e deixou marcas que entraram para a história da RBTC.

Um passo inicial e crucial dessa história foi a ponte que Margareth Oliveira fez entre Eliane Falcone e o dono da Editora Casa do Psicólogo, Ingo Güntert. O apoio proporcionado pela Casa do Psicólogo foi a peça que faltava para dar materialidade à ideia acalentada por Eliane. Ambos vislumbraram que o projeto era promissor. Essa parceria perdurou até 2008 e a RBTC reitera de maneira carinhosa o agradecimento por todo o apoio dado pela Casa do Psicólogo, desde a confecção dos bonecos até a impressão gráfica, fundamental para a consolidação da revista durante esse tempo. Nos editoriais de 2007, volume 3, nº1 e de 2008, volume 4, nº 2 e na entrevista de 2015, volume 11, nº1 constam partes dessa história. Neles, são mencionadas mais pessoas a quem deixamos nosso agradecimento por terem contribuído, mais direta ou indiretamente, para as publicações dos primeiros números da RBTC.

Em 2008, a RBTC passou a ser apresentada apenas no formato eletrônico. Em 2015, a revista recebeu o código ou identificador DOI (Identificador de Objeto Digital) e com isso seus artigos se tornaram acessíveis de maneira permanente na internet.

Foi também no ano de 2015, na abertura do X Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas realizado pela FBTC (Federação Brasileira de Terapias Cognitivas), em Porto de Galinhas, PE, que a Drª Carmem Beatriz Neufeld, então presidente da entidade, anunciou a criação de um número monográfico como uma maneira de homenagear Eliane Falcone pelos seus feitos para a RBTC, FBTC e terapias cognitivas em geral.

Entre Setembro de 2017 e Janeiro de 2018, foram feitas chamadas para submissão de manuscritos sobre temas tais como "empatia", "habilidades sociais", "relação terapêutica", "terapia do esquema", "comportamento pró-social" e "altruísmo". Essas áreas temáticas são centrais à trajetória acadêmica de Eliane Falcone. Remetem-nos quase que obrigatoriamente a seu nome, tanto por serem objeto de pesquisa quanto por fazerem parte de disciplinas acadêmicas ligadas à formação de alunos e de terapeutas. Além do mais, são contribuições oriundas da produção bibliográfica em formato de livros e de artigos.

Com a chamada para o número monográfico, foram submetidos quase 30 manuscritos. O trâmite editorial, como se sabe, é demorado e, para não alongar demasiadamente o tempo para a publicação dessa homenagem, foi usado o critério de incluir neste volume os primeiros oito artigos aprovados após as avaliações e reformulações solicitadas pelos revisores ad hoc. Os demais continuam no processo de avaliação e, os que vierem a ser aceitos, serão publicados nos dois números subsequentes do ano de 2018. O leitor facilmente irá identificá-los pelos temas que abordam. A resposta à chamada ao número monográfico reflete o respeito e o carinho que a comunidade científica da área expressa por Eliane Falcone. Em decorrência dessa experiência editorial bem sucedida, a RBTC, a partir de 2019, propõe realizar, a cada dois anos, uma chamada para número temático e estamos aceitando sugestões.

Para encerrar essa homenagem, foi realizada uma busca no portal CAPES em dois períodos de tempo, de aproximadamente dez anos, com a palavra chave "Cognitive Therapy". O objetivo foi comparar o número de publicações sobre esse tema entre os dois períodos (um mais antigo e outro mais recente) e descobrir se a palavra chave "Cognitive Therapy" seria usada com frequência diferente em cada um deles. Afinal, há temas que no decorrer do tempo dão lugar a outros. A busca para os dois períodos foi feita apenas em periódicos revisados por pares, tendo sido mantidos os mesmos parâmetros e usando as bases Scopus (Elsevier), MEDLINE/PubMed (NLM), OneFile (GALE), Science Citation Index, Expanded (Web of Science) e ScienceDirect Journal (Elsevier). Os resultados indicaram que, no período compreendido entre 1º de Janeiro de 1998 a 31 de Dezembro de 2007 (período de 10 anos), foram encontradas 99.445 publicações, sendo apenas 69 em língua portuguesa. No período compreendido entre 1º de Janeiro de 2008 a 31 de julho de 2018 (quase 10 anos) foram encontradas 282.345 publicações, sendo 537 publicações em língua portuguesa. Um crescimento notável. O que esse resultado tem a ver com a homenagem?

Em 2002, Eliane Falcone já apostava que as terapias cognitivas continuariam crescendo e se ampliando, e que era necessário abrir um espaço de divulgação, com avaliação por pares, para abrigar o volume de publicações em uma área, a seu ver, em franca expansão. A avaliação dela estava corretíssima. Em diversos países pode-se constatar que as terapias cognitivas se desenvolvem a partir de evidências empíricas e apoiadas em pesquisas científicas. Era necessário haver periódicos para que a produção na área pudesse ser veiculada nos canais adequados.

Olhando para trás, compreende-se agora, com mais clareza, as razões que impulsionaram Eliane a propor, em 2002, a criação de um periódico de terapias cognitivas. Há que se reconhecer que Eliane foi capaz de vislumbrar resultados dessa empreitada. Ela tinha de alguma maneira antecipado os rumos de uma realidade de crescimento dessa área. Ela não só estava certa, ela fez a coisa certa.

Não poderia encerrar sem antes frisar que testemunho, como colega e admiradora de seu trabalho, sua grande paixão pelas terapias cognitivas e toda a dedicação de uma vida acadêmica voltada à divulgação desse tema e à formação incansável de profissionais na área. A você, Eliane Falcone, agradecemos, pelo trabalho, exemplo e comprometimento.

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