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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.62 no.2 Rio de Janeiro  2010

 

ARTIGOS

 

Conflitos conjugais e seus efeitos sobre o comportamento de crianças: uma revisão teórica

 

Marital conflict and its effects on children’s behavior: a theoretical review

 

 

Ana Carolina Villares Barral Villas BoasI; Maria Auxiliadora DessenII; Lígia Ebner MelchioriIII

IDoutoranda -Programa de Pós-Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito Federal. Brasil
IIDocente -Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito Federal. Brasil
IIIDocente -Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. (UNESP). São Paulo.Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Os conflitos conjugais têm sido amplamente investigados em pesquisas, especialmente por seu impacto no desenvolvimento dos filhos. Tendo como base uma revisão da literatura, este artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre os conflitos nas relações conjugais e seus efeitos sobre o comportamento das crianças, particularmente, por meio das práticas parentais. Ênfase é dada à perspectiva de causalidade sistêmica entre o conflito conjugal e o desenvolvimento infantil, por possibilitar uma melhor compreensão da dinâmica familiar e permitir uma ampliação do escopo de análise para além das correlações lineares entre ambas as variáveis.

Palavras-chave: família; conflito conjugal; desenvolvimento infantil.


ABSTRACT

Marital conflicts have been largely investigated in research, especially because of its impact on child development. Based on a literature review, this article aims to present some reflections about marital conflicts and its possible associations with children’s behavior, particularly through parental practices. Emphasis is made on a systemic view of causality between marital conflict and child behavior, which offers a better comprehension of the family functioning. This perspective also allows us to enlarge the analysis scope beyond linear correlations between both variables.

Keywords: family; marital conflict; child development.


 

 

Introdução

A família consiste em um sistema hierarquicamente organizado, composto por diversos subsistemas que afetam e são afetados pelos eventos que ocorrem em outros subsistemas e por relações interdependentes e bidirecionais (COX; PALEY, 1997; DESSEN; BRAZ, 2005a; KREPPNER, 2000). As pesquisas sobre relações familiares começaram a enfatizar a importância de se estudar as inter-relações entre as relações conjugais e parentais já na década de 80 (BELSKY, 1981; BIGRAS; PAQUETTE, 2000; DESSEN; BRAZ, 2005b; EREL; BURMAN, 1995; MOSMANN; WAGNER, 2008).

Os conflitos nas relações conjugais têm sido amplamente abordados na literatura, principalmente em estudos internacionais que investigam suas implicações para o desenvolvimento infantil (ver, por exemplo, CUMMINGS; DAVIES, 2002; GRYCH, 2005; GRYCH; FINCHAM, 1990; KATZ; GOTTMAN, 1993; MCCOY; CUMMINGS; DAVIES, 2009). As evidências de que os conflitos nas relações conjugais provocam uma série de prejuízos para o desenvolvimento da criança tem levado os pesquisadores a investigar quais são os processos responsáveis pela associação entre essas duas variáveis (DAVIES; CUMMINGS, 1994; LEIDY et al., 2009; STOCKER et al., 2003).

Considerando que a maioria das famílias, em algum momento de suas trajetórias, vivencia situações conflituosas, seja nas relações conjugais, parentais ou entre irmãos (TURNER; WEST, 1998), este artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre os conflitos nas relações conjugais e seus efeitos sobre o comportamento dos filhos, durante a infância. O estudo baseou-se em uma revisão da literatura constante das bases de dados PsycInfo, Scielo e Lilacs e em outros textos de autores nacionais e internacionais publicados na área. A primeira seção apresenta uma breve exposição dos conflitos nas relações familiares e conjugais, seguida pela descrição de estudos sobre os seus efeitos no comportamento dos filhos. A segunda parte é dedicada à discussão de questões relativas aos mecanismos responsáveis pela associação entre o conflito conjugal e o comportamento das crianças. Ênfase é dada à relação parental, destacada como um fator que pode atuar na mediação entre ambas as variáveis. Na última seção, são feitas algumas considerações sobre a importância de se estudar o conflito conjugal e seus possíveis efeitos na dinâmica das relações familiares, ampliando o foco de análise das relações diádicas para as relações entre todos os membros da família. A adoção de uma perspectiva de causalidade sistêmica é sugerida visando uma melhor compreensão das inter-relações entre o conflito conjugal e o comportamento dos filhos.

 

Conflitos nas relações conjugais e seus efeitos sobre os filhos

Os conflitos constituem um aspecto central dos relacionamentos íntimos, particularmente das relações familiares, uma vez que o alto nível de interdependência entre os seus membros favorece o surgimento e a manutenção de situações conflituosas (TURNER; WEST, 1998). Eles são comuns dentro do casamento, cujo contexto é permeado por um constante confronto entre a individualidade dos cônjuges e a conjugalidade do casal (FÉRES-CARNEIRO, 1998). Quando os conflitos são definidos como qualquer disputa, discordância ou expressão de emoções negativas diante de questões cotidianas ou problemas do dia-a-dia que caracterizam a vida conjugal, eles se tornam particularmente freqüentes dentro do casamento (CUMMINGS; DAVIES, 2002).

Para Turner e West (1998), o conflito refere-se a um processo em que os membros da família percebem uma discordância a respeito de objetivos, regras, papéis, cultura ou padrões de comunicação. De acordo com Peterson (1983, apud HEAVEY; SHENK; CHRISTENSEN, 1994), essa discordância entre os indivíduos é definida como conflito aberto, que, por sua vez, difere do conflito estrutural de interesse, que reflete uma incompatibilidade nos objetivos de duas pessoas sem, contudo, ser explícito. Segundo Kline et al. (2006), a maioria dos estudos sobre conflitos conjugais tem investigado o conflito aberto, expresso nos desacordos e em agressões verbais, que são mais facilmente medidos.

O conflito pode ser definido de diversas maneiras e, portanto, não há consenso entre os pesquisadores quanto a uma única definição do termo. Trata-se de uma variável complexa, com uma série de medidas e construtos que são usados para avaliá-la (KLINE et al. 2006; PAWLAK; KLEIN, 1997). Os conflitos podem variar em frequência, intensidade, conteúdo, grau de resolução e serem abertos ou encobertos (GRYCH; FINCHAM, 1990). Além disso, eles mudam ao longo do tempo, na medida em que as famílias passam por diferentes fases do seu desenvolvimento no curso de vida familiar (TURNER; WEST, 1998). Nesse contexto, são diversas as causas associadas aos conflitos nas relações conjugais, dentre as quais, as disputas de poder, transições inerentes ao desenvolvimento familiar, a presença de filhos, questões financeiras, divisão de responsabilidades, relacionamentos extraconjugais, diferenças de gênero, discordâncias quanto à educação dos filhos e características pessoais dos cônjuges, como temperamento, história de vida e a presença de psicopatologias (BIGRAS; PAQUETTE, 2000; GOTTMAN; SILVER, 2000; HEAVEY; SHENK; CHRISTENSEN, 1994; EMERY; TUER, 1993; PAWLAK; KLEIN, 1997; TURNER; WEST, 1998).

Os conflitos conjugais tendem a afetar negativamente todo o funcionamento familiar e demais subsistemas, incluindo as relações parentais (EREL; BURMAN, 1995), além de estarem associados a problemas de comportamento dos filhos (EMERY, 1982). Em um estudo realizado com o objetivo de descrever aspectos da qualidade das relações conjugais e parentais de 14 famílias brasileiras, Braz, Dessen e Silva (2005) verificaram que, em situações de conflito, os casais de classe média relataram empregar mais frequentemente estratégias negativas, tais como discutir de forma exaltada, gritar, reclamar, demonstrar afeto negativo e deixar de conversar com o parceiro. Segundo Gottman e Silver (2000), enquanto alguns casais evitam os desentendimentos, outros brigam e há, ainda, aqueles que conseguem discutir seus problemas e chegar a um acordo sem alterar o tom de voz.

A literatura tem sugerido que existe um padrão de demanda/retraimento durante situações de conflito, segundo o qual as mulheres assumem mais o papel de resolver os problemas nas disputas maritais, enquanto os homens mostram-se emocionalmente distantes e tendem a assumir uma postura de silêncio (CHRISTENSEN; HEAVEY, 1990; GOTTMAN; SILVER, 2000). Entretanto, o estudo de Papp, Kouros e Cummings (2009) aponta para resultados contrários, indicando que esse padrão de demanda/retraimento pode ocorrer de maneira equilibrada entre os cônjuges, com cada um assumindo ambos os comportamentos com frequências semelhantes. A pesquisa desses autores mostrou, ainda, que quem inicia o conflito tem mais chance de assumir o papel de demanda, na tentativa de defender seus interesses.

De acordo com Heavey, Shenk e Christensen (1994), poucos casais conseguem encontrar soluções satisfatórias para lidar com situações conflituosas e os conflitos mal resolvidos geram frustração e raiva, criando um ciclo em que a discórdia se torna cada vez mais freqüente e hostil. Desta forma, muitos casais, incapazes de romper com esse ciclo, começam a considerar a possibilidade da separação, o que, por sua vez, não significa o fim dos conflitos. As separações ocorrem, principalmente, em virtude do desejo manifesto das mulheres de se separarem do seu cônjuge (FÉRES-CARNEIRO, 1998; 2003).

Embora todas as uniões matrimoniais sejam caracterizadas por algum grau de conflito, os conflitos não envolvem apenas emoções negativas; pelo contrário, podem envolver também aspectos positivos (MOSMANN; WAGNER, 2008). Em outras palavras, os conflitos podem ser destrutivos ou construtivos conforme o manejo dos indivíduos, e, enquanto alguns podem resultar em insatisfação e infelicidade, outros podem levar ao estreitamento das relações entre os membros da família (TURNER; WEST, 1998).

Estratégias consideradas construtivas envolvem a resolução do conflito ou qualquer tentativa do casal nessa direção, manifestações de apoio e afeição, pedidos de desculpas e explicações aos filhos sobre os problemas dos pais. Por outro lado, são consideradas estratégias destrutivas aquelas que envolvem agressão ou violência física, isolamento, submissão, agressão ou hostilidade verbal, perseguição, ameaças à união da família e exposição das crianças aos conflitos (DAVIES et al., 1999; GOEKE-MOREY et al., 2003). Os pesquisadores têm feito distinção entre os comportamentos construtivos e destrutivos apresentados pelos cônjuges em situação de conflito com base em suas consequências para as crianças (DAVIES et al., 1999; GOEKE-MOREY et al., 2003).

Discussões calmas, com demonstrações de apoio e de atitudes que favoreçam a resolução dos problemas, não geram reações negativas nos filhos, sugerindo que a exposição a conflitos menos intensos, ainda que frequentes, não parece prejudicial (DAVIES; CUMMINGS, 1994; EASTERBROOKS; CUMMINGS; EMDE, 1994). A exposição a alguns tipos de conflito pode até servir de modelo para o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas ou estratégias de enfrentamento nos filhos (GRYCH; FINCHAM, 1990). No entanto, a maioria dos filhos de casais violentos acaba por presenciar episódios agressivos dos pais, que, por sua vez, estão mais intimamente relacionados a problemas de comportamento nos filhos (BRANCALHONE; FOGO; WILLIAMS, 2004). A este respeito, Grych e Fincham (1990) constataram que a exposição a situações conflituosas frequentes e intensas, envolvendo agressão física, acarreta mais sofrimento para a criança.

Evidências na literatura sugerem que os conflitos nas relações conjugais podem gerar prejuízos para os filhos, quer direta ou indiretamente (DAVIES; CUMMINGS, 1994; GRYCH, 2005; KELLER; CUMMINGS; PETERSON, 2009). Quando o casal atinge um estágio em que suas interações são marcadas, essencialmente, pela hostilidade e escárnio, as brigas se tornam frequentes e intensas e são mais facilmente percebidas pelas crianças, levando-as a se comportarem de diferentes maneiras (KATZ; GOTTMAN, 1993). Crianças expostas a altos níveis de conflito estão mais propensas a desenvolverem uma série de problemas emocionais e de comportamento durante a infância, entre os quais, baixa auto-estima (PAWLAK; KLEIN, 1997), pobre interação com pares (GOTTMAN; KATZ, 1989), depressão e problemas de saúde (NICOLOTTI; EL-SHEIK; WHISTON, 2003), distúrbios de sono (EL-SHEIK et al., 2006) e problemas de comportamento exteriorizado e interiorizado (NICOLOTTI; EL-SHEIK; WHISTON, 2003; KATZ; GOTTMAN, 1993; KELLER; CUMMINGS; PETERSON, 2009).

Em um amplo estudo longitudinal publicado recentemente, Feldman, Masalha e Derdikman-Eiron (2010) investigaram modos de resolução de conflitos como variáveis preditoras do comportamento agressivo, em três subsistemas (parental, conjugal e entre pares) do ambiente social de 141 crianças israelenses e palestinas. Os autores empregaram um delineamento multimetodológico que envolveu medidas de auto-relato e de observação. Os resultados mostraram que a habilidade das crianças para resolver conflitos é aprendida em casa por meio da participação e da observação de situações de conflito na família e que a agressão das crianças frequentemente resulta da experiência de conflitos mal resolvidos. No que concerne à relação conjugal, duas dimensões foram consideradas de risco: a hostilidade entre o casal parental e a tentativa de um cônjuge minar o comportamento do outro.

As diferentes estratégias de resolução de conflito empregadas pelos pais podem também predizer os diferentes padrões de comportamento apresentados pelas crianças em longo prazo (KATZ; GOTTMAN, 1993). Esses autores realizaram um estudo longitudinal com 56 famílias de crianças entre quatro e cinco anos, e investigaram a relação entre a satisfação dos casais e seu estilo de comunicação em situação de conflito, e o comportamento dos filhos, avaliado três anos depois. Eles verificaram que, quando os casais são hostis, os filhos tendem a apresentar comportamento anti-social; por outro lado, quando os pais se mantêm emocionalmente distantes durante as brigas, há indícios de sinais de ansiedade e de retraimento social nas crianças.

As crianças também agem de diferentes maneiras em função de aspectos como o conteúdo do conflito, se relacionado ao filho ou aos genitores, e de quem iniciou a situação, se a mãe ou o pai (SHELTON et al., 2006). Esses autores desenvolveram uma pesquisa para investigar diferenças nas estratégias de enfrentamento empregadas por crianças de doze e treze anos em função do conteúdo do conflito e da maneira como pais e mães se expressam nessas situações. Os resultados mostraram que os filhos são mais propensos a interferir no conflito quando as discussões são relacionadas a eles ou envolvem agressão física entre os pais. Neste caso, as próprias crianças podem se tornar também alvo da hostilidade parental, o que agrava ainda mais a situação. No entanto, diante de episódios que não envolvem agressão, os filhos podem reagir tanto evitando quanto interferindo na situação.

Em outra pesquisa que envolveu 89 crianças com idades entre oito e onze anos, Nicolotti, El-Sheik e Whiston (2003) buscaram verificar se as estratégias de enfrentamento usadas pelos filhos funcionariam como preditores, moderadores ou mediadores da relação entre os conflitos conjugais e a ocorrência de problemas de comportamento interiorizado, exteriorizado e de saúde. Neste estudo, os autores avaliaram os conflitos conjugais e o comportamento dos filhos, tanto por meio do relato dos pais quanto com base na avaliação das próprias crianças, que indicaram, após presenciar a simulação de uma situação de conflito, como lidam com o conflito entre seus pais. Os resultados indicaram que o fato de as crianças lidarem de modo ativo com a situação funciona como proteção contra sintomas de depressão e baixa auto-estima em meninas, e contra problemas de saúde, tanto em meninos como em meninas. Por outro lado, diante de altos níveis de conflito marital, as estratégias usadas pelas crianças para evitar a situação constituíram fator de vulnerabilidade para a manifestação de problemas de comportamento exteriorizado, interiorizado e de auto-estima.

Os sentimentos dos filhos diante de situações de conflito também dependem de como os pais se comportam diante dos problemas. Cummings et al. (2002) avaliaram o relato de 51 casais sobre como agiam em situações de conflito e quais as reações de suas crianças de quatro a onze anos de idade. Para a coleta de dados, os pesquisadores utilizaram diários nos quais pais e mães registraram, em casa, situações de conflito entre o casal e como percebiam as reações das crianças. Os filhos se sentiam mais inseguros quando os pais demonstravam medo durante os conflitos, e o gênero do cônjuge também interferiu no modo como os filhos interpretavam seus sentimentos. As crianças demonstraram mais insegurança diante de expressões de raiva por parte dos pais e de tristeza por parte das mães. A tristeza da mãe pode significar que os problemas não serão solucionados, já que a mulher é quem mais se engaja na resolução dos problemas, como afirmam Gottman e Silver (2000). Por outro lado, os homens expressam raiva mais intensamente ou de maneira mais ameaçadora, devido às suas características físicas, o que pode gerar mais insegurança nas crianças.

Algumas pesquisas mostram que meninos e meninas parecem responder diferentemente diante dos conflitos entre seus pais (GRYCH; HAROLD; MILES, 2003; SHELTON et al., 2006), ainda que os dados sejam controversos. Segundo Grych, Harold e Miles (2003), embora tanto meninos quanto meninas sintam-se ameaçados pelas brigas, os meninos tendem a agir no sentido de controlar a situação. No entanto, os resultados de Shelton et al. (2006) sugerem o contrário, indicando que as meninas são mais propensas a intervir no conflito. Por outro lado, Stocker et al. (2003) não encontraram diferenças de gênero quanto às reações das crianças, e Ablow et al. (2009) não verificaram diferenças de gênero na maneira como as crianças percebem os conflitos conjugais, denotando que a literatura ainda não é conclusiva a respeito. Isto indica a necessidade de mais pesquisas sobre questões de gênero, bem como de estudos de meta-análise sobre as reações das crianças diante de conflitos conjugais.

Em síntese, apesar de os conflitos conjugais não serem considerados bons ou ruins a priori (HEAVEY; SHENK; CHRISTENSEN, 1994), a maneira como eles são resolvidos pelo casal, no seu dia-a-dia, denota a sua funcionalidade ou não para o casamento e para as relações familiares como um todo, além de fornecer indícios sobre o quanto a criança é afetada por eles (COX; PALEY, 1997). Como afirma Féres-Carneiro (1998), o mais importante para o desenvolvimento dos filhos não é o fato de os pais estarem casados ou separados, mas a qualidade da relação entre os (ex-)cônjuges e entre estes e seus filhos.

Portanto, o uso de estratégias adequadas na resolução de conflitos conjugais constitui um fator preponderante para a satisfação dos cônjuges, para a manutenção de uniões duradouras e de relações familiares estáveis e para a qualidade das relações parentais (NORGREN et al., 2004). Apesar de a literatura não ser conclusiva a respeito dos efeitos do conflito conjugal, há consenso entre os pesquisadores de que os conflitos podem ocasionar diversos prejuízos para o desenvolvimento infantil em função de algumas de suas características e do modo como são enfrentados, os quais provocam diferentes reações nas crianças. Considerando que as reações das crianças variam em função do comportamento apresentado pelos pais, torna-se imprescindível a identificação das estratégias empregadas pelos casais para lidar com os conflitos e dos mecanismos responsáveis pelos efeitos provocados nos filhos, isto é, como as crianças são afetadas por eles.

 

Associação entre conflito conjugal e comportamento infantil: mediação direta e indireta

Há diferentes hipóteses na literatura sobre como as relações conjugais geram prejuízos para os filhos, e os pesquisadores sugerem uma relação tanto direta quanto indireta entre o conflito conjugal e o comportamento infantil (ABLOW et al., 2009; EMERY; FINCHAM; CUMMINGS, 1992; GRYCH; FINCHAM, 1990; BUEHLER; GERARD, 2002). A hipótese de que existe uma relação direta apóia-se na idéia de que, dada a importância das figuras parentais para os filhos, os pais atuam como fortes modelos para as crianças e, consequentemente, a exposição à agressividade parental em situações de conflito pode levá-las a reproduzir estratégias equivalentes àquelas observadas (KATZ; GOTTMAN, 1993). Outra hipótese levantada por Grych e Fincham (1990) sugere que o conflito marital expõe as crianças a uma intensa fonte de estresse, levando-as a apresentar agressividade ou retraimento como resposta às situações vivenciadas.

Grych e Fincham (1990) e Grych et al. (2000) tentam explicar por que as crianças manifestam problemas de comportamento em resposta à hostilidade e à discórdia marital recorrendo ao modelo denominado de cognitivo-contextual. O modelo pressupõe que os contextos em que os conflitos ocorrem e a interpretação cognitiva dada pelas crianças funcionam como mediadores da associação entre o relacionamento conjugal e o desenvolvimento infantil. Nesta mesma direção, Davies e Cummings (1994) propuseram um modelo enfatizando as reações afetivas e emocionais das crianças recorrendo à hipótese da ‘segurança emocional’. Segundo esse modelo, baseado na Teoria do Apego (BOLWBY, 1969/1990), a preocupação da criança em torno de sua segurança emocional perante situações conflituosas exerce influência sobre a regulação de suas emoções e sobre a maneira como enfrenta o episódio, o que, por sua vez, interfere no seu bem estar emocional e nas relações que irá estabelecer no futuro.

A reação da criança é, portanto, influenciada por sua história de exposição aos conflitos, por suas características pessoais e pelo modo como percebe os conflitos entre os genitores (ABLOW et al. 2009). Em seu estudo envolvendo 96 crianças com idades entre 5 e 6 anos, Ablow et al. (2009) verificaram que a tendência da criança a se culpar pelos conflitos maritais parece mediar a relação entre os conflitos e problemas interiorizados, ao passo que seu envolvimento com o conflito atua como mediador parcial da relação entre os conflitos e comportamentos exteriorizados. A pesquisa também evidenciou que a percepção das crianças sobre os conflitos conjugais estava significativamente associada ao relato de mães e pais sobre os seus próprios conflitos.

Mas os pesquisadores também apontam para uma relação indireta entre os conflitos conjugais e o comportamento infantil, sugerindo que os desentendimentos entre o casal prejudicam os filhos na medida em que provocam mudanças nas práticas parentais (BUEHLER; GERARD, 2002; KATZ; GOTTMAN, 1996; STOCKER et al., 2003). O conflito conjugal é considerado por Emery (1982) uma entre as diversas variáveis ambientais apontadas como disruptivas e com efeitos negativos sobre as relações parentais. O conflito conjugal está associado a altos níveis de hostilidade nas relações entre os genitores e seus filhos (STOCKER et al., 2003), bem como a relações de apego inseguro das crianças (GOTTMAN; KATZ, 1989). Tem sido verificada também uma associação entre o conflito conjugal e a rejeição dos genitores em relação à criança (KATZ; GOTTMAN, 1996), frieza e distanciamento das mães (BIGRAS; PAQUETTE, 2000) e menores níveis de responsividade parental (MOSMANN; WAGNER, 2008). Portanto, a presença de conflitos na família provoca alterações na maneira como os pais educam seus filhos, interferindo negativamente no subsistema parental, o que, por sua vez, cria dificuldades para as crianças e pode gerar prejuízos para o seu desenvolvimento. Essa idéia tem sido sustentada por pesquisas que confirmam o efeito spillover, que pressupõe que os conflitos conjugais estejam associados a práticas parentais ineficazes (BUEHLER; GERARD, 2002; EREL; BURMAN, 1995; MOSMANN; WAGNER, 2008). Isto significa que relações parentais satisfatórias são menos prováveis quando há conflitos entre o casal. Uma das hipóteses levantadas é a de que relações conjugais negativas ou conflituosas causariam irritação nos genitores e os deixariam emocionalmente esgotados, tornando-os, consequentemente, menos atenciosos e sensíveis às crianças (EREL; BURMAN, 1995).

Em um amplo estudo empírico que envolveu 2541 pais de crianças e adolescentes com idades entre dois e dezoito anos, Buehler e Gerard (2002) investigaram em que medida os conflitos conjugais estavam associados a problemas nas relações parentais e ao ajustamento dos filhos. Para tanto, os autores testaram quatro modelos explicativos: o primeiro, referente à idéia do efeito spillover; o segundo, de que conflitos maritais e práticas educativas pobres representam um mesmo fenômeno, por exemplo, a inabilidade dos pais para manter um bom relacionamento íntimo; o terceiro, de que conflitos maritais e práticas ineficazes são medidas distintas que explicam por si só as variações no ajustamento dos filhos; e o quarto e último modelo pressupõe que a relação entre o conflito conjugal e problemas de comportamento pode ser maximizada por práticas parentais ineficazes, ou, pelo contrário, minimizada por práticas educativas eficientes. Os resultados da pesquisa mostram que o modelo mais apropriado para explicar o papel mediador das práticas parentais na associação entre a qualidade da relação marital e o comportamento das crianças, conforme previsto por Erel e Burman (1995), foi o do efeito spillover, isto é, diante de conflitos, os pais adotam práticas parentais insatisfatórias. O estudo realizado por Buehler e Gerard (2002) mostrou, ainda, que os conflitos estão associados ao uso de disciplina severa por parte dos genitores e ao menor envolvimento com as crianças, o que produz efeitos deletérios para o desenvolvimento infantil.

Na mesma direção, e buscando compreender a relação entre o relacionamento conjugal e parental, Mosmann e Wagner (2008) realizaram um estudo com 149 casais brasileiros para investigar como aspectos da conjugalidade, entre os quais os conflitos, estão associados às dimensões das práticas parentais, responsividade e exigência. As autoras verificaram que quanto maiores os índices de conflito entre o casal, maior a exigência e menor a responsividade dos pais na relação com os filhos, o que também sustenta a hipótese do efeito spillover. Com base nesses achados, as pesquisadoras consideram que os casais têm dificuldades em separar o que ocorre na vida conjugal de suas práticas parentais, evidenciando um processo dinâmico e de interdependência entre suas interações nos subsistemas familiares, conforme atesta a literatura sobre família (por exemplo, KREPPNER, 2000).

Katz e Gottman (1996) realizaram um estudo para verificar os efeitos dos conflitos conjugais sobre as práticas parentais de 56 casais observados em laboratório e verificaram que, quando há hostilidade no relacionamento marital, os pais mostram rejeição em relação aos filhos, enquanto as mães somente agem assim quando os pais demonstram retraimento ou mostram-se emocionalmente distantes frente às disputas conjugais. Stocker et al. (2003), em contrapartida, não encontraram diferenças na maneira como conflitos hostis afetam os papéis de pai e de mãe. É possível que dimensões específicas do conflito, como intensidade, conteúdo e freqüência, estejam relacionados às diferenças observadas na forma como pais e mães se comportam diante dos filhos.

Ainda que os estudos apontem para diferentes mecanismos explicativos para a relação entre os conflitos conjugais e o ajustamento infantil, os pesquisadores assumem que tanto a idéia de uma relação direta quanto indireta são plausíveis, uma vez que o desenvolvimento humano é uma variável complexa, multideterminada, probabilística e epigenética (DESSEN; COSTA JÚNIOR, 2005).

 

Considerações finais: ampliando o foco de análise

O avanço na compreensão da associação entre conflitos conjugais e desenvolvimento infantil requer a verificação empírica dos modelos teóricos que têm sido propostos para explicar os mecanismos responsáveis por tal associação (CUMMINGS; DAVIES, 2002). Segundo esses autores, enquanto a primeira geração de estudos demonstrou haver uma relação entre os conflitos conjugais e o ajustamento da criança, as pesquisas mais recentes têm buscado identificar os fatores que mediam essas duas variáveis, na tentativa de compreender como os conflitos conjugais interferem no desenvolvimento dos filhos. Em outras palavras, o foco de análise tem sido deslocado para o estudo dos efeitos indiretos do conflito conjugal sobre o desenvolvimento da criança. Esta tendência atual parece promissora, uma vez que a verificação pura e simples de correlações estatísticas entre conflito conjugal e problemas de comportamento, recorrendo a modelos explicativos de causa única, não é suficiente para a compreensão de fenômenos complexos como é o caso das relações familiares.

O conflito conjugal pode prejudicar o relacionamento entre pais e filhos, contribuindo para o surgimento e/ou manutenção de problemas de comportamento em crianças. Entretanto, ainda que o subsistema marital e os pais exerçam uma influência dominante sobre os demais, devido à estrutura hierárquica das famílias, eles não se sobrepõem à influência da criança sobre os genitores (EMERY; TUER, 1993). Portanto, é fundamental que as pesquisas adotem a família como unidade mínima de análise, ampliando o foco do indivíduo e das díades, conforme sugerido por Dessen e Lewis (1998).

De acordo com Emery e Tuer (1993), o conflito nas famílias nunca envolve apenas uma díade. O foco em relações diádicas pode camuflar os complexos processos existentes no sistema familiar, além do fato de que o que é considerado efeito também pode se tornar causa, conforme as relações evoluem no decorrer do tempo (EMERY; FINCHAM; CUMMINGS, 1992). Portanto, insistir na verificação da associação entre conflito conjugal e problemas de comportamento de modo linear implica deixar de lado os processos dinâmicos presentes nas interações familiares.

Embora grande parte da literatura sobre conflitos nas relações conjugais destaque os efeitos deletérios para as crianças, não seria apropriado olhar para tais conflitos apenas do ponto de vista da psicopatologia (EASTERBROOKS; CUMMING; EMDE, 1994). Em outras palavras, embora o foco dos estudos sobre as relações conjugais recaia, sobretudo, nos aspectos negativos, é importante desenvolver trabalhos sobre implicações das relações conjugais positivas para as crianças, que, ao contrário dos conflitos destrutivos, parecem ter uma correlação negativa com problemas de comportamento (LEIDY et al., 2009) e positiva com o comportamento prosocial (MCCOY; CUMMINGS; DAVIES, 2009). Como salientado anteriormente, os conflitos são inerentes às relações familiares, incluindo as conjugais, e também podem contribuir para o estreitamento das relações e para o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas nas crianças.

Além disso, os últimos anos têm registrado um aumento crescente do interesse dos pesquisadores sobre os processos biológicos envolvidos na interação entre o organismo e seu ambiente, com foco nos efeitos dos conflitos conjugais sobre o funcionamento fisiológico da criança (DAVIES et al., 2008; DAVIES et al., 2009). Essas pesquisas demonstram uma nova tendência na condução de estudos sobre a interação entre padrões de comportamento em situações de conflito e variáveis biológicas, evidenciando a adoção de uma abordagem interdisciplinar para tratar destas questões complexas e inter-relacionadas.

Apesar da extensa literatura sobre conflitos conjugais, é preciso cautela na interpretação dos resultados dos estudos apresentados. Além de possíveis divergências nos dados em função da metodologia empregada, as pesquisas, em sua maioria, foram conduzidas com amostras compostas por estadunidenses, o que torna difícil a generalização dos dados para outras populações. Diferenças culturais têm um papel fundamental no funcionamento das famílias (GEORGAS et al., 2006; FELDMAN; MASALHA; DERDIKMAN-EIRON, 2010) e, consequemente, na maneira como os conflitos conjugais são vistos, alterando a interpretação dada a eles pelas crianças e pelos casais. Goeke-Morey et al. (2003) defendem que a compreensão científica do construto conflito conjugal requer, em parte, a identificação dos efeitos provocados por comportamentos específicos dos genitores e apontam para as possíveis variações nas reações das crianças conforme a cultura em que estão inseridas. Assim, comportamentos dos casais considerados destrutivos em determinados contextos podem ser socialmente aceitos em culturas distintas.

No Brasil, alguns pesquisadores vêm se destacando, desde a década de 80, em estudos sobre os conflitos nas relações conjugais (FÉRES-CARNEIRO, 1998; 2003; GOMES, 2003; 2005; MOSMANN; WAGNER, 2008), embora a literatura brasileira seja escassa no que concerne às implicações de tais conflitos para o desenvolvimento dos filhos. O número de trabalhos com foco nas implicações dos conflitos para o desenvolvimento dos filhos que foram publicados em periódicos indexados nas bases de dados Scielo e Lilacs denota a escassez dos estudos disponíveis, tanto de caráter teórico (ex.: BENETTI, 2006; GUILHERME et al., 2007) como de natureza empírica (ex.: BENEDITO, 2002; OLIVEIRA et al., 2002), o que também foi constatado por Silvares e Souza (2008), utilizando estratégia de busca distinta. É necessário, portanto, envidar esforços para reunir dados de pesquisas empíricas realizadas no Brasil, a fim de que se possa compreender melhor o funcionamento das famílias brasileiras e as implicações dos conflitos conjugais para o desenvolvimento de seus filhos.

A identificação dos processos responsáveis pelo surgimento e manutenção dos conflitos conjugais, associados aos prejuízos para os filhos, pode ajudar na proposição de medidas de orientação familiar. Dentre as várias possibilidades de programas, merecem destaque os programas de educação familiar (DESSEN; PEREIRA-SILVA, 2004) com ênfase no desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas (KLINE et al., 2006), visando evitar episódios de agressão física e, consequentemente, de violência doméstica. Kline et al. (2006) destacam, ainda, a importância de se avaliar como adolescentes resolvem conflitos nas suas experiências românticas, bem como a relação entre essas experiências e os relacionamentos na idade adulta, o que pode contribuir para a prevenção de conflitos que tragam prejuízos para a família.

As tentativas cada vez mais crescentes de se ir além do estudo de díades mãe-criança e de verificações estatísticas de correlações entre apenas duas variáveis, juntamente com a adoção de uma perspectiva de causalidade sistêmica e interdisciplinar, podem oferecer visões mais sofisticadas e complexas sobre o modo como as crianças são afetadas pelos conflitos conjugais e como elas afetam o relacionamento do casal. A complexidade da dinâmica familiar requer que os pesquisadores adotem modelos sistêmicos para a sua compreensão, considerando os diversos fatores que operam ao longo do tempo no curso de vida familiar e do indivíduo. Identificar os mecanismos responsáveis pela origem e manutenção dos comportamentos e das relações mantidas entre os membros da família constitui um desafio para os pesquisadores que buscam compreender a associação entre conflito marital e desenvolvimento infantil.

 

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Endereço para correspondência
Ana Carolina Villares Barral Villas Boas
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Maria Auxiliadora Dessen
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Lígia Ebner Melchiori
E-mail:lmelch@fc.unesp.br

Recebido em: 07/07/2009
Revisto em: 14/06/2010
Aceito em: 06/07/2010

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