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Arquivos Brasileiros de Psicologia

On-line version ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.64 no.3 Rio de Janeiro Dec. 2012

 

ARTIGOS

 

Problemas externalizantes e agressividade infantil: uma revisão de estudos brasileiros

 

Externalizing problems and child aggressiveness: a review of Brazilian studies

 

Problemas de exteriorizar y de agresividad infantil: una revisión de estudios brasileños

 

 

Taiane LinsI; Patrícia AlvarengaII; Catiele PaixãoIII; Eliana AlmeidaIV; Heloneida CostaV

IMestranda.Programa de PósGraduação em Psicologia. Universidade Federal da Bahia (UFBa).Salvador. Bahia. Brasil
IIDocente. Programa de PósGraduação em Psicologia. Universidade Federal da Bahia (UFBa).Salvador. Bahia. Brasil
IIIGraduanda. Curso de Psicologia. Universidade Federal da Bahia (UFBa).Salvador. Bahia. Brasil
IVGraduanda. Curso de Psicologia. Universidade Federal da Bahia (UFBa).Salvador. Bahia. Brasil
VGraduanda. Curso de Psicologia. Universidade Federal da Bahia (UFBa).Salvador. Bahia. Brasil

Endereços para correspondência

 

 


RESUMO

Problemas externalizantes e agressividade podem levar a dificuldades de adaptação e sofrimento na infância e em fases posteriores. Diversos fatores têm sido relacionados a esses padrões de comportamento. Realizouse levantamento bibliográfico de artigos completos publicados no Brasil referidos a estudos empíricos brasileiros, de 2000 a 2010, nas bases de dados SciELO Brasil, PePSIC, LILACS, IndexPsi e MEDLINE. Os resultados apresentados nos 30 artigos selecionados foram analisados em sete categorias: práticas educativas e habilidades parentais; características familiares; características infantis; exposição a modelos de comportamento violento; programas de intervenção parental; queixas externalizantes; e outros. Concluise que esses estudos têm contribuído para a identificação de preditores dos problemas externalizantes/agressividade infantil, investigando, sobretudo, fatores relacionados às características infantis e às práticas educativas parentais.

Palavras-chave: Problemas externalizantes; Agressividade; Comportamento antissocial.


ABSTRACT

Externalizing problems and aggression can lead to difficulties adjustment and suffering during childhood and in later stages, and several factors have been related to these patterns of behavior. This article analyses the findings of Brazilian empirical studies about these issues. A bibliographical survey of complete articles published in Brazil from 2000 to 2010, in the following databases: SciELO Brazil, PePSIC, LILACS, IndexPsi and MEDLINE was conducted. The results presented in the 30 selected articles were analyzed in seven categories: parenting practices and parental social skills; family characteristics; child characteristics, especially gender; exposure to violent role models; parental intervention programs; externalizing complaints and others. The conclusion is that Brazilian studies have contributed to the identification of predictors of externalizing problems/child aggressiveness, investigating, especially factors related to infants characteristics and parenting practices.

Keywords: Externalizing problems; Aggressiveness; Antisocial behavior.


RESUMEN

Problemas de exteriorizar conductas y de agresividad pueden conducir a dificultades de adaptación y sufrimiento en la infancia y en las etapas posteriores. Varios factores se han vinculado a estos patrones de comportamiento. Se realizó estudio bibliográfico de artículos completos publicados en Brasil que se refieren a estudios empíricos brasileños, de 2000 a 2010, en las bases de datos SciELO Brasil, PePSIC, LILACS, IndexPsi y MEDLINE. Se evaluaron los resultados presentados en 30 artículos seleccionados en siete categorías: prácticas educativas y habilidades parentales; características familiares; características de los niños; exposición a modelos de comportamiento violento; programas de intervención de los padres; exteriorización de quejas y otros. Se concluye que estos estudios han contribuido a la identificación de predictores de problemas de exteriorización/agresividad infantil, investigando, principalmente, factores relacionados con características infantiles y prácticas educativas de los padres.

Palabras-clave: Problemas de exteriorizar; Agresividad; Comportamiento antisocial.


 

 

Os problemas externalizantes constituem importante foco de pesquisas em psicopatologia da infância. Em geral, são considerados indicadores iniciais do comportamento antissocial infantil e podem evoluir para transtornos mentais, como o Transtorno de Conduta, o Transtorno Desafiador Opositivo e o Transtorno de Personalidade Antissocial (APA, 2002). Tais problemas envolvem queixas de agressividade, impulsividade, problemas de atenção e delinquência (Lambert, Wahler, Andrade, & Bickman, 2001; Pacheco, Alvarenga, Reppold, Piccinini, & Hutz, 2005) e compõem a definição operacional de problemas emocionais e comportamentais, ao lado dos problemas internalizantes. Ambos foram constatados em análises multivariadas de itens sobre problemas comportamentais e emocionais realizadas por Achenbach e colaboradores (Achenbach, 1966; Achenbach & Eldebrock, 1978; Achenbach & Rescorla, 2000). Atualmente, o Sistema Achenbach de Avaliação Baseada em Evidências (ASEBA) conta com diversos instrumentos para avaliação desses problemas em diferentes faixas etárias, assim como há versões para serem respondidas por múltiplos informantes, como pais, professores e o próprio indivíduo.

Segundo Achenbach e Rescorla (2000), os problemas externalizantes são manifestações comportamentais que se voltam contra o ambiente. Por essa característica, as dificuldades externalizantes podem ser mais facilmente identificadas por observadores externos, como pais, professores ou cuidadores. Contudo, a associação dos problemas externalizantes a prejuízos para o ambiente parece ser limitada, visto que alguns achados têm apontado para suas repercussões sobre o bemestar emocional da criança. Chen et al. (2003) verificaram que os problemas externalizantes aos 12 anos foram preditores da depressão (p < 0,01) aos 14 anos e estiveram negativamente relacionados à percepção de autoestima (p < 0,01). Keiley, Lofthouse, Bates, Dodge e Pettit (2003), por exemplo, especulam que talvez mães de crianças que apresentam comportamentos inadequados, como a agressividade, percebam que os filhos apresentam ansiedade e tristeza provavelmente em decorrência da falta de habilidade para controlar o próprio comportamento.

Outro ponto a ser considerado sobre os problemas externalizantes refere-se às suas associações com o comportamento antissocial. De acordo com a proposta de Patterson, Reid e Dishion (1992), que fundamenta este estudo, a conduta antissocial é adquirida na infância, a partir das interações sociais estabelecidas entre a criança e seu meio, especialmente com os familiares, e está sujeita a modificações, devido tanto ao desenvolvimento da criança quanto ao surgimento de novas demandas do ambiente no qual está inserida. Muitas vezes os termos antissocial e problemas externalizantes têm sido considerados sinônimos, devido a semelhanças importantes entre as duas condições (Pacheco et al., 2005). Uma dessas semelhanças seria a natureza compartilhada entre a conduta antissocial e alguns dos principais marcadores dos problemas externalizantes, como agressividade e comportamento delinquente, que estariam associadas à maximização de gratificações e à evitação de demandas dos contextos sociais (Patterson et al., 1992). Porém, esses termos apresentam algumas distinções conceituais. Por exemplo, Shaw e Winslow (1997) fazem uma diferenciação entre eles com base no nível de severidade atribuído. Assim, para eles, problemas externalizantes constituem formas mais brandas de problemas comportamentais relacionados à conduta antissocial, e por isso esta é a expressão por eles utilizada para se referirem a crianças com idades até cinco anos que apresentam esse padrão comportamental. Já a expressão comportamento antissocial seria mais apropriada quando se observa maior estabilidade do comportamento agressivo. Além disso, é importante destacar que os problemas externalizantes envolvem problemas de atenção e hiperatividade. Nesse sentido, Liu (2004) enfatiza outra diferença entre as duas expressões, visto que crianças hiperativas podem ou não apresentar indicadores de conduta antissocial.

De modo geral, os problemas externalizantes apresentam elevada prevalência em comparação a outras dificuldades comportamentais. Anselmi, Piccinini, Barros e Lopes (2004), em um estudo longitudinal sobre problemas de comportamentos em préescolares, encontraram uma prevalência de 31,8% para os problemas externalizantes. O estudo desenvolvido por Samarakkody, Fernando, McClure, Perera e Silva (2012), no Sri Lanka, verificou uma prevalência de 19,2% em crianças de quatro a seis anos.

Na Austrália, a prevalência foi de 12,9% (Sawyer et al., 2001), muito inferior às outras taxas, em especial à verificada no Brasil.

Esses achados podem ser reflexos de diferenças culturais, pois, como sugerem Chen et al. (2003), a cultura pode constituir tanto um importante preditor quanto um meio de interpretação dos desajustes comportamentais. Contudo, é necessário pensar também nas diferenças entre os tipos de problemas comportamentais, pois, em geral, mães, outros cuidadores ou professores são mais sensíveis aos comportamentos facilmente observáveis e que causam algum tipo de desconforto no ambiente, o que ocorre no caso dos externalizantes. Dessa forma, pode haver uma maior preocupação em relação a essas dificuldades, em comparação com os problemas internalizantes (ex: ansiedade, depressão e retraimento), que, por não representarem um grande incômodo ao entorno social, podem receber menos atenção. Além das diferenças contextuais e das variações de topografia dos problemas comportamentais, Anselmi et al. (2004) sugerem que a prevalência encontrada pode ser decorrente da faixa etária estudada, pois comportamentos típicos dessa fase, como agressividade e desobediência, decorrentes de uma busca por autonomia por parte das crianças, podem ser confundidos com problemas externalizantes. Isso pode explicar também a diferença entre esse estudo e o de Sawyer et al. (2001), visto que a pesquisa australiana avaliou problemas comportamentais em crianças e em adolescentes até 17 anos. Assim, o próprio desenvolvimento infantil, incluindo a transição para a adolescência, pode exercer influência na manutenção ou no declínio dos problemas externalizantes. A redução dos problemas externalizantes e da agressividade ao longo do desenvolvimento foi um dos achados de Bongers, Koot, van der Ende e Verhulst (2003) e de Leve, Kim e Pears (2005).

De acordo com Olson, Bates, Sandy e Lanthier (2000), o desenvolvimento e a manutenção de problemas comportamentais estão associados a múltiplos fatores, que se influenciam reciprocamente. Entretanto, os principais preditores apontados pela literatura têm sido características individuais, como temperamento e gênero, e características ambientais, como o impacto da cultura e de eventos de vida estressantes, entre eles o baixo nível socioeconômico e a rejeição de pares (Keiley et al., 2003). Além desses fatores, há uma ênfase sobre características familiares, em especial, práticas educativas parentais na presença de psicopatologia parental, entre outras, depressão materna e fatores como responsividade materna, monoparentalidade, conflitos conjugais (Keiley et al., 2003; Leve et al., 2005; Samarakkody et al., 2012). O impacto da genética também tem sido destacado por pesquisas realizadas com famílias que possuem filhos adotados e com famílias com gêmeos monozigóticos e dizigóticos (Leve et al., 2010; van der Valk, van den Oord, Verhulst, & Boomsma, 2003). Van der Valk et al. (2003) identificaram que a herança genética se constituiu como o principal fator de risco, explicando 55% (r = 0,54) da estabilidade dos problemas externalizantes, enquanto influências ambientais compartilhadas pelas crianças que crescem juntas, na mesma família - por exemplo, as práticas educativas parentais e a condição socioeconômica -, explicaram 37% da estabilidade dos problemas externalizantes. Por fim, as influências ambientais não compartilhadas, aquelas que afetam diferentemente crianças criadas em uma mesma família, como acidentes, tratamento parental diferente ou grupo de pares, explicaram apenas 8% da estabilidade dos problemas externalizantes. No entanto, há estudos que não confirmam a hipótese da herança genética. Leve et al. (2010), por exemplo, encontraram uma maior influência de fatores ambientais, como o estado afetivo da mãe adotiva, que moderou o risco genético para problemas externalizantes.

O papel da família como preditor dos comportamentos externalizantes se tornou mais evidente com o Modelo de Coerção proposto por Patterson et al. (1992) para explicar o desenvolvimento do comportamento antissocial. De acordo com tal modelo, esse comportamento começa a se desenvolver na infância, sendo resultante de interações familiares, as quais reforçam e mantêm o comportamento antissocial. Além disso, esse modelo considera a influência do contexto em que a família está inserida e das características individuais de cada um dos membros sobre as interações familiares e, consequentemente, sobre o padrão antissocial.

A literatura indica que problemas externalizantes possuem natureza complexa e podem prejudicar o desenvolvimento infantil, nas esferas social, emocional e cognitiva (Chen et al., 2003), podendo se estender para outras fases do desenvolvimento, culminando no surgimento de psicopatologias mais severas. Considerando a importância desse fenômeno e a influência de possíveis variáveis culturais mediadoras ou moderadoras que podem repercutir na expressão dos problemas externalizantes, o objetivo do presente estudo foi analisar quais fatores têm sido pesquisados e associados aos problemas externalizantes e à agressividade infantil em estudos empíricos brasileiros. Esses artigos foram agrupados de acordo com as variáveis investigadas, e os principais resultados foram apresentados e discutidos à luz da literatura internacional sobre essa temática.

 

Método

Os artigos revisados foram selecionados a partir de um levantamento bibliográfico realizado nas bases de dados Scientific Electronic Library Online - Brasil (SciELO Brasil), Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PePSIC), Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Index Psi Periódicos (IndexPsi) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Para esse levantamento, foram utilizadas cinco palavraschave relevantes para o tema, de acordo com a literatura: externalizantes, externalizáveis, externalização, agressão e agressividade. Como critério de inclusão, todos os artigos deveriam ser empíricos, constituir trabalhos completos e ser publicados no Brasil entre 2000 e 2010.

Além disso, os artigos deveriam apresentar resultados específicos para problemas de comportamento externalizantes ou para agressividade. Assim, os que não apresentavam tais resultados, como os que investigaram "problemas de comportamento" sem deixar claro o tipo de comportamento avaliado, bem como estudos que apresentavam resultados sem diferenciação entre crianças e adolescentes, foram excluídos das análises. Por fim, as crianças que participaram direta ou indiretamente deveriam ter no máximo 12 anos de idade, pois o objetivo do estudo foi identificar as principais variáveis relacionadas aos problemas externalizantes e à agressividade em crianças. A participação indireta se refere aos casos nos quais a avaliação dos problemas externalizantes foi feita por pais, professores ou outros informantes, sem que as crianças fizessem parte da amostra.

Após a leitura dos resumos ou, quando necessário, da seção de resultados dos artigos encontrados, 30 foram selecionados. Após essa seleção, foi realizada uma leitura sistemática para síntese das informações relacionadas aos objetivos, participantes, instrumentos, resultados e conclusões de cada um dos estudos. Posteriormente, foi feita uma caracterização com base nos periódicos nos quais foram publicados, nos participantes diretos, nas técnicas de coleta de dados e nos instrumentos utilizados para a investigação dos problemas externalizantes/agressividade. Finalmente, uma categorização dos resultados dos estudos revisados foi realizada por três juízes independentes, para identificação dos principais temas investigados na produção nacional, entre 2000 e 2010, em relação aos problemas externalizantes/agressividade. A categorização levou em consideração os resultados que estabeleciam alguma ligação entre problemas externalizantes/agressividade e qualquer outra variável investigada pelos estudos. Assim, toda variável avaliada em relação aos problemas externalizantes/agressividade foi agrupada, de acordo com a sua temática, em uma categoria. Após a finalização desses agrupamentos em eixos temáticos, os juízes atribuíram nomes às categorias. É importante salientar que, como alguns estudos investigam diferentes variáveis, um mesmo artigo pode ter sido alocado em diferentes categorias.

 

Resultados

De acordo com os critérios adotados, foram analisados 30 estudos nacionais. Desses, nove foram publicados na revista Psicologia: Reflexão e Crítica, enquanto as revistas Interação em Psicologia, Psicologia em Estudo, Paidéia e Contextos Clínicos foram responsáveis pela publicação de três artigos cada. Na Aletheia e na Estudos de Psicologia (Campinas), foram publicados dois e outros cinco na Estudos de Psicologia (Natal), Psico-USF, Psicologia: Ciência e Profissão, Psikhê e Psicologia Escolar e Educacional. É possível que a revista Psicologia: Reflexão e Crítica reúna a maior parte dos artigos revisados no presente estudo, por priorizar a Psicologia do Desenvolvimento em seu perfil editorial, enquanto as outras revistas possuem um caráter mais generalista. Foi possível constatar que 20 estudos foram publicados entre 2005 e 2010, enquanto apenas dez foram publicados de 2000 a 2004, o que pode indicar um aumento do interesse dos pesquisadores brasileiros em investigar os problemas comportamentais na infância.

Em relação aos participantes, verificou-se que as mães participaram diretamente em 22 dos 30 estudos, enquanto as crianças participaram em 17, os professores em oito, os pais em cinco e outros cuidadores, como avós e padrastos, em quatro. Quanto ao tipo de técnicas de coletas de dados, verificou-se que em 24 artigos foram utilizadas combinações de técnicas, como, por exemplo, entrevista e questionário ou observação e entrevista. Nos outros seis, os pesquisadores utilizaram só uma técnica, como a entrevista, a observação ou a aplicação de algum instrumento padronizado. Houve uma tentativa de criar uma categoria para classificar o referencial teórico dos artigos revisados, mas isso não foi possível, visto que a maior parte dos estudos não deixa clara a abordagem teórica adotada. Porém, no que se refere ao referencial adotado para os problemas externalizantes/agressividade e comportamento antissocial, há um claro predomínio da proposta de Achenbach (Achenbach, 1991, 2001; Achenbach & Rescorla, 2000) e do modelo de Patterson et al. (1992). Assim, para a investigação dos problemas externalizantes/agressividade, em 19 dos 30 estudos analisados, foram aplicados instrumentos padronizados, sendo que 12 estudos utilizaram instrumentos do Sistema Achenbach de Avaliação Baseada em Evidências (ASEBA) e cinco utilizaram versões para pais e/ou professores das Escalas de Comportamento Infantil de Rutter. A seguir, são apresentadas as sete categorias criadas, pelos três juízes, com base na aproximação dos temas de investigação para a análise e discussão dos resultados dos estudos revisados: práticas educativas e habilidades sociais parentais, características infantis, características familiares, exposição a modelos de comportamento violento, programas de intervenção parental, queixas externalizantes e outros.

A tabela a seguir apresenta as categorias nas quais os artigos selecionados foram agrupados e os respectivos autores e ano de publicação.

 


Tabela - Clique para ampliar

 

Práticas educativas e habilidades sociais parentais

Nesta categoria, foram incluídos 13 estudos, cujos resultados se referiam a impactos ou ausência de relação entre as práticas educativas e habilidades sociais parentais e problemas externalizantes/agressividade. Dois estudos não encontraram relações significativas entre essas variáveis (Alvarenga & Piccinini, 2003, 2007), assim como no de Marin e Piccinini (2007) não houve diferenças entre as práticas educativas de mães solteiras e casadas em relação aos problemas externalizantes de pré-escolares. Alvarenga e Piccinini (2007) também encontraram que a responsividade materna não explica a ocorrência de problemas externalizantes/agressividade. Para análise mais acurada desses achados, esta categoria foi dividida em duas subcategorias: práticas coercitivas e práticas não coercitivas.

Nove estudos encontraram relações entre práticas educativas coercitivas e problemas externalizantes/agressividade. Essas práticas foram caracterizadas pelo uso frequente de agressões físicas e verbais, do controle ambíguo e do controle coercitivo. Além das práticas coercitivas, também foram encontradas relações com estratégias intrusivas e permissivas. É importante ressaltar que nesses estudos as práticas educativas coercitivas estiveram relacionadas à presença de problemas externalizantes/agressividade (Alvarenga & Piccinini, 2001, 2007, 2009; Leme & BolsoniSilva, 2010a, 2010b; Oliveira et al., 2002; Vieira, Mendes & Guimarães, 2010). Outros estudos que acompanharam amostras de crianças que já apresentavam padrão de comportamento externalizante, segundo avaliação das professoras, verificaram uso mais frequente de práticas educativas punitivas por parte dos pais (Dessen & Szelbracikowski, 2004, 2006). Esses achados indicam o caráter prejudicial dessas estratégias disciplinares para o desenvolvimento pleno das crianças.

A subcategoria práticas educativas não coercitivas, por sua vez, foi encontrada em seis artigos cujos resultados se referiam a algum tipo de relação entre as práticas educativas consideradas facilitadoras do desenvolvimento infantil e os problemas externalizantes/agressividade. Contrário ao esperado, práticas como a orientação e o controle assertivo, nos estudos de Alvarenga e Piccinini (2007, 2009), foram positivamente associadas aos problemas externalizantes/agressividade. Além dessas práticas, as habilidades sociais parentais, a comunicação materna, a participação paterna em atividades escolares, de lazer e culturais (Cia et al., 2006; Leme & BolsoniSilva, 2010a, 2010b) e o estabelecimento de limites (Boas & BolsoniSilva, 2010) foram também relacionados aos problemas externalizantes/agressividade. Dessas variáveis, apenas a participação paterna esteve positivamente relacionada a problemas externalizantes/agressividade dos filhos. Para as outras variáveis, a relação foi negativa, o que indica que habilidades sociais parentais, comunicação das mães com filhos e estabelecimento de limites aos comportamentos infantis estão relacionados a menores escores de problemas externalizantes/agressividade.

Características infantis

Esta categoria foi encontrada em 13 estudos que apresentaram resultados referentes à existência ou não de relação entre problemas externalizantes/agressividade e alguma característica da criança. Desse total, oito investigaram a influência do sexo da criança sobre a manifestação dos problemas externalizantes/agressividade. Os estudos realizados por Batista, Fukahori e Haydu (2004), BolsoniSilva, Marturano e Manfrinato (2005), Oliveira et al. (2002) e Pavarino, A. Del Prette e Z. A. P. Del Prette (2005) não encontraram diferenças entre meninos e meninas associadas à presença de problemas externalizantes/agressividade. Por outro lado, quatro estudos verificaram algum tipo de diferença. De acordo com esses achados, os meninos foram mais agressivos após assistirem um filme violento (Gomide, 2000) e utilizaram mais frequentemente a agressão física, enquanto as meninas adotaram com maior frequência a agressão verbal (Lisboa et al., 2002). Além disso, Sisto e Fernandes (2004) verificaram que os meninos cometeram mais erros e apresentaram maior dificuldade linguística que as meninas, como também tiveram índices de agressividade mais altos. Entretanto, para alunos da quarta série, foi encontrada uma correlação positiva para as meninas. Além disso, para os meninos foi encontrado um resultado interessante e, segundo os autores, não observado na literatura, visto que houve uma correlação negativa, indicando que conforme aumentavam os erros linguísticos, diminuía a agressividade escolar. Apesar de não ter sido encontrada diferença de gênero em relação aos problemas externalizantes/agressividade, Marturano, Toller e Elias (2005) identificaram uma correlação positiva, para os meninos, entre eventos adversos, como separação dos pais, casamento de um dos pais, abandono da família por um dos pais e mudança de cidade e os problemas externalizantes/agressividade. Já para as meninas houve correlação positiva desses problemas comportamentais com o acréscimo de um terceiro adulto à família, piora no relacionamento com amigos, mudança de escola e total de eventos adversos passados e recentes.

Também não foram encontradas relações significativas entre problemas externalizantes/agressividade e doença crônica infantil, como o hipotireoidismo congênito (Figueiredo & Schermann, 2001) e o fato de a criança ter nascido a termo ou prétermo (Linhares, Chimello, Bordin, Carvalho, & Martinez, 2005). Por outro lado, crianças que apresentavam problemas externalizantes/agressividade foram avaliadas como menos habilidosas socialmente (Leme & BolsoniSilva, 2010a, 2010b). Apenas Alvarenga e Piccinini (2007) avaliaram a influência do temperamento infantil sobre os problemas externalizantes/agressividade e encontraram uma correlação negativa com a dimensão adaptabilidade. Por fim, no estudo de Dessen e Szelbracikowski (2006), a prontidão para a alfabetização exerceu influência sobre os problemas externalizantes/agressividade.

Características familiares

Esta categoria foi verificada em cinco estudos, os quais se referiam a alguma relação entre características da família, como escolaridade e estado civil dos genitores, nível socioeconômico familiar, atitude conjugal conflituosa ou uso de entorpecentes e problemas externalizantes/agressividade. Apenas Marin e Piccinini (2007) não encontraram uma relação significativa entre a característica familiar avaliada (estado civil materno) e os problemas externalizantes/agressividade. Dessen e Szelbracikowsi (2006) verificaram que o baixo nível socioeconômico esteve relacionado diretamente aos problemas externalizantes da criança, assim como a baixa escolaridade dos genitores. Esse último resultado também foi encontrado por Alvarenga e Piccinini (2003). Oliveira et al. (2002) constataram que a atitude conjugal conflituosa seria um fator de risco para os problemas externalizantes de crianças. Sobre o uso de entorpecentes por um dos pais, Marturano et al. (2005) encontraram relação significativa com problemas externalizantes/agressividade para filhos e filhas.

Exposição a modelos de comportamento violento

Dos 30 estudos revisados, apenas cinco foram alocados nesta categoria. Foram observadas correlações positivas entre a exposição da criança a modelos de comportamentos violentos e os problemas externalizantes e/ou agressividade. Assim, assistir a filmes ou programas de televisão com conteúdo violento esteve positivamente relacionado aos problemas externalizantes e à agressividade infantil (Batista et al., 2004; Gomide, 2000; Vieira et al., 2010). Do mesmo modo, presenciar violência no ambiente doméstico se relacionou com os níveis de problemas externalizantes/agressividade, ou seja, as crianças, que nesses estudos relataram algum tipo de violência doméstica tiveram maiores índices de problemas de comportamento externalizantes/agressividade (Lisboa et al., 2002; Maldonado & Williams, 2005; Vieira et al., 2010).

Programas de intervenção parental

Nesta categoria, foram incluídos apenas três estudos, os quais buscavam avaliar o efeito de intervenções que tinham o objetivo de orientar ou treinar os pais em algumas condições específicas sobre os comportamentos das crianças e dos próprios pais. Fernandes, Luiz, Miyazaki e Marques Filho (2009) examinaram os efeitos do seu programa com pais de crianças que apresentavam transtorno psiquiátrico, enquanto Lambertucci e Carvalho (2008) buscaram avaliar um treinamento com pais de uma comunidade carente. Por fim, BolsoniSilva, Silveira e Ribeiro (2008) objetivaram desenvolver habilidades sociais educativas parentais e avaliar seus efeitos nos níveis de problemas externalizantes/agressividade em crianças. Após a participação dos pais ou cuidadores nas intervenções, foram observadas reduções significativas nos indicadores de problemas externalizantes nos três estudos. Houve também um aumento na frequência de habilidades sociais educativas parentais, o que possibilitou aumento de respostas socialmente habilidosas das crianças. Contudo, após 60 dias, Fernandes et al. (2009) observaram um aumento significativo dos indicadores de problemas externalizantes.

Queixas externalizantes

Esta categoria foi composta por seis estudos, que apresentaram resultados relativos à predominância ou não de queixas externalizantes, em especial o comportamento agressivo, nos relatos de pais ou cuidadores e professores ou através de avaliação direta do comportamento infantil pelos pesquisadores. De acordo com essas investigações, há um predomínio de queixas externalizantes, em especial de comportamento agressivo, em atendimento clínico (Cavalini, Telles, Aribi, Wanderley, & Cardoso, 2002; Moura, MarinhoCasanova, Meurer, & Campana, 2008), no ambiente escolar (Picado & Rose, 2009) e segundo o relato materno (Leme & BolsoniSilva, 2010a). Por outro lado, Pavarino et al. (2005) não encontraram diferenças entre as frequências de comportamentos empáticos e agressivos, em crianças de quatro a seis anos, apenas uma maior tendência para o aumento dos comportamentos empáticos e redução dos comportamentos agressivos. Por fim, houve uma tendência de as crianças apresentarem poucas condutas agressivas no meio familiar (Sisto & Fernandes, 2004).

Outros

Nesta categoria, foram incluídos achados específicos de três estudos, cujas temáticas não se aproximavam das demais categorias propostas para a análise dos resultados dos 30 estudos. Borsa e Nunes (2008) verificaram que houve uma concordância moderada entre pais e mães em relação aos problemas externalizantes dos filhos. Já Oliveira et al. (2002) verificaram que o fato da escola ser pública ou privada não se relacionou significativamente aos problemas externalizantes/agressividade. Por fim, Sisto e Fernandes (2004) constataram que o aumento de erros na escrita correspondeu a um aumento nos níveis de agressividade no contexto escolar.

 

Discussão

O objetivo deste estudo foi analisar os fatores que têm sido avaliados e associados a problemas externalizantes na literatura empírica brasileira dos últimos dez anos. Inicialmente, destacase a participação direta das mães em quase todas as 30 investigações, em detrimento de outros informantes, como, por exemplo, os pais. Uma explicação pode ser a maior disponibilidade e facilidade de acesso às mães, em comparação aos pais. Segundo Fleck e Wagner (2003), a estrutura familiar brasileira, embora venha se modificando, ainda funciona de acordo com o modelo tradicional de conceber e representar suas relações, o qual prevê funções específicas, tendo o pai como provedor e a mãe como cuidadora do lar. Outra possível justificativa pode ser encontrada na própria história da psicologia, a qual deu ênfase à interação mãecriança como a díade primordial nas pesquisas sobre desenvolvimento (Crepaldi, Andreani, Hammes, Ristof, & Abreu, 2006). Essa predominância da participação da mãe como único informante pode gerar vieses nos resultados, principalmente quando a mãe apresenta algum problema psicopatológico, como depressão ou nível de estresse elevado. Nesses casos, é provável que as participantes tenham uma percepção distorcida dos comportamentos infantis (Ramos & Furtado, 2007). Já nos estudos internacionais, parece ser mais comum o uso de múltiplos informantes, como mãe, pai e professores, em comparação aos estudos brasileiros (Gryczkowski, Jordan & Mercer, 2009; Keiley et al., 2003; Lambert et al., 2001; Leve et al., 2010).

Em geral, a análise dessa produção demonstra que os principais fatores pesquisados em relação aos problemas externalizantes/agressividade estão relacionados a características infantis e às práticas educativas parentais, visto que essas foram as categorias de maior ocorrência. Dentre as características infantis, o sexo das crianças teve destaque se for considerado o número de estudos que buscou investigar possíveis diferenças entre meninos e meninas quanto à manifestação dos problemas externalizantes/agressividade. Contudo, a maioria deles não encontrou diferenças significativas. De acordo com a literatura internacional, as meninas teriam maior tendência a apresentar problemas internalizantes, enquanto os meninos tenderiam a apresentar mais problemas externalizantes (Breslow, Klinger & Erickson, 1999; Eley, Lichenstein & Stevenson, 1999; Storvoll & Wichstrom, 2002; Tremblay, 2000). No estudo de Rubin, Burgess, Dwyer e Hastings (2003), por exemplo, os meninos apresentaram mais comportamentos agressivos aos dois anos (t(100) = 2.73, p < 0,01) e mais problemas externalizantes aos quatro anos t(71.48) = 4.14, p < 0,01), em comparação às meninas. Outros, por outro lado, não encontraram tais relações (Furniss, Beyer & Guggenmos, 2006; Olson et al., 2000). Assim, pode-se concluir que o sexo se constitui como uma importante variável a ser investigada, mas não de modo isolado, devendo-se levar em consideração outros fatores que podem atuar aumentando ou diminuindo a possibilidade de influência do sexo sobre problemas comportamentais. Um desses fatores pode ser a cultura, visto que grupos sociais podem reforçar determinados comportamentos em meninas, mas não em meninos.

Nesse sentido, Wangby, Bergman e Magnusson (1999) constataram que a estabilidade e a evolução dos problemas externalizantes/agressividade são também preocupantes no caso das meninas, já que esses comportamentos se constituem como possíveis preditores de outros problemas na vida adulta, como a criminalidade, o abuso de substâncias e problemas de saúde mental. Assim, é necessário investigar e intervir sobre tais problemas, precocemente, tanto em meninos quanto em meninas. Apesar de a maioria dos artigos revisados, que investigaram a influência do sexo da criança, não terem encontrado diferenças significativas, com eles foi possível a identificação de fatores que contribuem para o desenvolvimento de comportamentos externalizantes/agressividade em meninos e meninas de forma diferenciada.

Outro resultado que chama atenção quanto às características infantis referese ao fato de apenas um estudo ter examinado a influência do temperamento sobre os problemas externalizantes/agressividade. Conforme Sanson, Letcher, Smart e Prior (2008), o temperamento tem sido apontado como um fator de vulnerabilidade para desenvolvimento de problemas de comportamento, além de influenciar as práticas educativas utilizadas pelos pais. Olson et al. (2000), por exemplo, encontraram que crianças percebidas como difíceis aos seis meses de vida apresentavam problemas externalizantes, segundo relato das mães e professoras, na idade escolar, e também aos 17 anos, segundo o relato materno. Além disso, as crianças resistentes ao controle materno obtiveram níveis mais elevados de agressividade e hiperatividade, em comparação àquelas que não apresentavam tais características de temperamento. A associação entre resistência ao controle e problemas externalizantes foi também um dos achados de Keiley et al. (2003). É possível que alguma questão metodológica, como ausência de um instrumento adequado à realidade brasileira e à faixa etária, esteja dificultando a investigação de tais relações (Alvarenga, 2004).

Além das características infantis, os estudos apontam para uma importante relação entre as práticas educativas empregadas pelos pais, em especial pelas mães, e os problemas externalizantes dos filhos. Esses achados estão de acordo com o modelo proposto por Patterson et al. (1992), segundo o qual as interações entre pais e filhos constituem um importante meio para desenvolvimento da conduta antissocial, que inicialmente corresponde aos problemas externalizantes. Em geral, as práticas educativas utilizadas pelos pais de crianças que apresentam problemas externalizantes possuem caráter coercitivo e envolvem xingamentos, repreensões e uso de punição física, como apontam os resultados de Leve et al. (2005) e de Keiley et al. (2003). Gryczkowski et al. (2009) analisaram as relações entre práticas educativas e problemas externalizantes, a partir da comparação entre os relatos de mães e pais, e encontraram uma correlação negativa entre práticas educativas positivas, como oferecer elogios e recompensas, e problemas externalizantes dos filhos, de acordo com o relato materno (p < 0,01) e paterno (p < 0,01), e uma relação positiva entre disciplina inconsistente e os problemas externalizantes dos filhos, também segundo as mães (p < 0,01) e os pais (p < 0,01) das crianças.

Sobre as relações positivas encontradas por Alvarenga e Piccinini (2007, 2009), entre as práticas educativas facilitadoras da interação entre pais e filhos e os comportamentos externalizantes e agressividade infantil, supõese que tais práticas estejam mantendo tal padrão por não serem contingentes aos comportamentos das crianças. Outra possibilidade é que o contexto mais amplo em que as práticas são utilizadas pelos pais possa desempenhar um papel importante. Nesse caso, considera-se a possibilidade de que os pais, embora empreguem práticas facilitadoras com frequência, possam fazê-lo inapropriadamente, como, por exemplo, insistir em comando assertivo quando a criança já se recusou, de forma igualmente assertiva, a obedecer ao comando. Nesse caso, para Crockenberg e Litman (1990), é possível que a criança possa reagir de modo agressivo ou desafiador diante da aparente insensibilidade dos pais frente à sua recusa. Por fim, alguns autores afirmam que o uso da orientação não associada a estratégias de controle assertivo (ex., comandos) também não seria eficaz na regulação da conduta infantil (Baumrind, 1971; Crockenberg & Litman, 1990). Isso ocorre porque a criança, ao receber apenas ou predominantemente sugestões e explicações não acompanhadas por comandos mais diretos, não percebe nem atribui poder aos pais. Esses achados, em conjunto, indicam que as relações entre práticas facilitadoras e problemas externalizantes devem continuar a ser investigadas para que se esclareçam.

Em síntese, através desta revisão sistemática da literatura, foi possível delinear e caracterizar o campo de investigação sobre os problemas externalizantes e a agressividade em crianças, na literatura nacional, entre 2000 e 2010. Os estudos nacionais têm contribuído para a identificação dos principais preditores e mantenedores de tais comportamentos, que, em geral, são resultantes de uma interação entre fatores individuais e ambientais, dentre os quais se destacaram o sexo da criança e as práticas educativas parentais. Contudo, ainda é necessário um avanço nas pesquisas, tanto em relação à investigação de outros possíveis preditores, como, por exemplo, o temperamento infantil, quanto em relação aos informantes. Assim, os próximos trabalhos poderiam incluir como participantes pais e professores, além das mães, para que uma ampla gama de interações da criança fosse investigada. Também são fundamentais estudos que esclareçam o impacto e as interações da variável gênero com outros fatores relacionados aos problemas externalizantes, bem como pesquisas que avaliem aspectos como a prevalência desses problemas na população infantil brasileira, para uma maior compreensão desse padrão de comportamento e suas possíveis variações culturais.

Por fim, cabe destacar a importância de que os instrumentos utilizados para a avaliação dos problemas externalizantes sejam normatizados para a população brasileira. Nesse sentido, estudos que invistam na adaptação e validação desses instrumentos para as diferentes regiões do país serão muito bem-vindos. A partir da integração dos achados de estudos brasileiros, somados às evidências de estudos internacionais, programas de prevenção e intervenção poderão ser elaborados de forma a auxiliar famílias e crianças, principalmente aquelas consideradas de risco, buscando evitar desajustes e sofrimento e promover o pleno desenvolvimento infantil.

 

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Endereços para correspondência
Taiane Lins
lins.taiane@gmail.com

Patrícia Alvarenga
palvarenga66@gmail.com

Catiele Paixão
binhakatty@hotmail.com

Eliana Almeida
nana_elly17@hotmail.com

Heloneida Costa
helouniversal@hotmail.com

Submetido em: 28/05/2012
Revisto em: 02/09/2012
Aceito em: 10/09/2012