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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.65 no.3 Rio de Janeiro  2013

 

Os conflitos conjugais na perspectiva dos filhos

 

Marital conflicts from children's perspective

 

Los conflictos conyugales desde de la perspectiva de los niños 

 

 

Viviane Ribeiro GoulartI; Adriana WagnerII

IMestre. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
IIDocente. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Estado do Rio Grande do Sul. Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Investigou-se a perspectiva dos filhos sobre os conflitos conjugais. Participaram 17 estudantes de uma escola pública de Porto Alegre (RS), de ambos os sexos, reunidos em dois grupos focais: um com oito crianças (8-9 anos) e outro com nove adolescentes (12-13 anos) que coabitavam com seus pais. Cada grupo se encontrou uma única vez com os pesquisadores na escola. As informações foram gravadas, transcritas e seu conteúdo analisado a partir dos temas emergentes. Na visão dos filhos, os conflitos conjugais variam desde uma discussão até a agressão física, são recorrentes, versam sobre qualquer assunto e são de expressão predominantemente negativa. Eles reconhecem a ocorrência dos conflitos e afirmam que nem sempre entendem suas causas, mas sofrem suas consequências. Adotam estratégias variadas para lidar com os conflitos, desde ignorá-los até adotar atitudes autodestrutivas. Conclui-se que os sujeitos estão atentos aos conflitos conjugais de seus pais e reconhecem as suas repercussões.

Palavras-chave: Conflitos conjugais; Filhos; Relacionamento conjugal; Parentalidade.


ABSTRACT

We investigated children's perspective about marital conflicts. Participants were 17 students from a public school from Porto Alegre (RS), of both sexes, gathered in two focus groups: one with 8 children (8-9 years old), and another with 9 adolescents (12-13 years old), who lived with their parents. Each group had a single meeting at school. The information collected was recorded, transcribed and its content analyzed from the emerging themes. In children's view, marital conflicts range from discussion to physical aggression, are recurrent, deal with any topic, and its expression is predominantly negative. Children recognize the occurrence of conflicts and state that do not always understand their causes, but suffer its consequences. Children adopt various strategies to deal with conflicts, from ignoring them to taking self-destructive attitudes. We conclude that the subjects are aware of their parents' marital conflicts and recognize its repercussions.

Keywords: Marital conflicts; Children; Marital relationship; Parenting.


RESUMEN

Se investigó sobre la perspectiva de los hijos  en  los conflictos conyugales. Participaron 17 estudiantes de una escuela pública de Porto Alegre (RS), de ambos sexos, reunidos en dos grupos focales: uno con 8 niños (8-9 años), y otro con 9 jóvenes (12-13 años), que vivían con sus padres. Cada grupo ha tenido sólo una cita en la escuela. Las informaciones fueron grabadas, transcritas y el contenido analizado a partir de los temas emergentes. De acuerdo con los niños, los conflictos conyugales van desde una discusión hasta la agresión física, son recurrientes, versan sobre cualquier tema, y su expresión es predominantemente negativa. Los niños reconocen la existencia del conflicto pero ni siempre entienden sus causas y todavía  sufren sus consecuencias. Los niños adoptan distintas estrategias para lidiar con los conflictos, desde ignorarlos hasta las actitudes autodestructivas. Se concluye que los sujetos son conscientes de los conflictos conyugales de sus padres y reconocen sus repercusiones.

Palabras clave: Conflictos conyugales, Hijos; Relación marital; Crianza de los hijos. 


 

 

Os conflitos conjugais são inerentes ao convívio dos casais e até mesmo necessários para que os cônjuges possam resolver determinados aspectos da vida a dois. Entretanto, toda a família que coabita com um casal em conflito fica exposta a tais situações. No Brasil, estatísticas recentes indicam que aproximadamente 73% dos casais moram com seus filhos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010). Portanto, é natural que os filhos percebam, e até mesmo testemunhem, episódios de conflitos entre os pais. Considerando que o conflito conjugal pode ser definido como qualquer situação de interação entre o casal que envolva diferença de opinião, tanto negativa como positiva (Cummings & Davies, 2010), pergunta-se: qual o impacto dessa situação para os filhos?

A literatura científica internacional já possui dados consistentes sobre os efeitos do conflito conjugal para crianças e adolescentes, tais como problemas de externalização e internalização (Emery, 1982; Grych & Fincham, 1990; Davies & Cummings, 1994). Nesse sentido, estudos indicam que o conflito conjugal pode comprometer o desenvolvimento psicológico (Davies & Cummings, 1994), social (Grych & Fincham, 1990) e acadêmico (Harold, Aitken, & Shelton, 2007) dos filhos.

As pesquisas sobre o papel dos conflitos conjugais na vida dos filhos têm sido orientadas por dois modelos teóricos, amplamente utilizados no cenário científico mundial. O primeiro, chamado modelo cognitivo-contextual (Grych & Fincham, 1990), propõe que o impacto do conflito no ajustamento dos filhos depende, sobretudo, da interpretação que esses fazem dos conflitos. De acordo com esse modelo, a interpretação é influenciada por fatores cognitivos, desenvolvimentais e contextuais que se inter-relacionam. Os pesquisadores Davies e Cummings (1994) tomaram como base as proposições do modelo cognitivo-contextual para propor o modelo da segurança emocional (Davies & Cummings, 1994). Esse modelo se diferencia do primeiro por valorizar a emoção como mediadora dos efeitos dos conflitos para os filhos, já que sua hipótese principal é que, frente ao conflito dos pais, o maior objetivo dos filhos é o de manter sua segurança emocional no contexto familiar.

A partir das proposições desses modelos o conflito conjugal foi reconhecido como um construto multidimensional, cuja compreensão do seu efeito sobre os filhos pressupõe a análise de quatro elementos que o compõem: (a) frequência, (b) intensidade, (c) conteúdo e (d) resolução. Ou seja, caracterizar o tipo de conflito é fundamental para que se compreenda o seu impacto na vida dos filhos, o que pode ser feito através da avaliação dessas quatro dimensões.

A frequência dos conflitos varia desde raros até constantes, sendo esses últimos os mais negativos para o desenvolvimento dos filhos (Davies & Cummings, 1994). O conteúdo do conflito refere-se ao tema da discussão, que pode versar sobre qualquer assunto. Pesquisas norte-americanas (Papp, Cummings, & Goeke-Morey, 2009) e nacionais (Mosmann & Falcke, 2011) indicam que a maioria das brigas versa sobre temas relacionados aos filhos, relacionamento conjugal, divisão de tarefas domésticas e questões financeiras. Entretanto, aqueles conflitos que versam sobre a própria criança ou adolescente são especialmente estressantes para os filhos (Grych & Fincham, 1993).

Quanto à intensidade, os conflitos podem variar desde uma discussão calma até a agressão verbal e física (Fincham, 2009, pp. 298-303; Grych & Fincham, 1990), sendo que essas manifestações de agressividade dos pais oferecem mais riscos ao desenvolvimento dos filhos (Davies & Cummings, 1994; Cummings, Kouros, & Papp, 2007). Já a dimensão da resolução dos conflitos refere-se à forma como os pais manejam seus desentendimentos, que pode variar desde a completa resolução até a absoluta falta de resolução, com ampla gama de desfechos intermediários (Goeke-Morey, Cummings, & Papp, 2007). Os estudos indicam que os conflitos pobres em resolução são os mais prejudiciais aos filhos (Davies & Cummings, 1994).

Assim, a análise das quatro dimensões dos conflitos revela que a exposição dos filhos a determinados tipos de conflito os coloca sob risco de desenvolver problemas de ajustamento. Desse modo, os conflitos mais prejudiciais aos filhos são aqueles que são frequentes, intensos, relacionados aos filhos e pobres em resolução (Cummings & Davies, 2010; Davies & Cummings, 1994; Grych & Fincham, 1990; Grych & Fincham, 2001, Larrosa, Souto & Alda, 2012).

Contudo, para se compreender o impacto do conflito para os filhos, além de se caracterizar os desentendimentos é necessário também que se compreenda o significado que os filhos atribuem aos conflitos em relação a si e as suas famílias (Cummings & Davies, 2002). Nesse sentido, destacam-se três principais dimensões psicológicas que se inter-relacionam para que os filhos possam construir o significado dos conflitos conjugais: avaliação cognitiva, reações emocionais e comportamentos de enfrentamento.

A avaliação consiste na interpretação do conflito, dimensão psicológica que tem sido medida principalmente através de uma escala (Grych, Seid, & Fincham, 1992) que avalia a percepção de ameaça, culpa e eficácia do coping dos filhos em relação aos conflitos. Percepções de ameaça, culpa e baixa eficácia têm sido associadas a conflitos intensos, frequentes e que versam sobre os filhos (Grych & Fincham, 1993; Wild & Richard, 2003). Já os sentimentos dos filhos têm sido investigados internacionalmente através da avaliação das reações emocionais dos filhos aos conflitos. A literatura tem documentado sentimentos de culpa, tristeza, medo de que os pais se separem ou se agridam ou medo de serem agredidos pelos pais (Davies & Cummings, 1994; Wild et al., 2003). As reações emocionais dos filhos variam de acordo com o manejo dos conflitos pelo casal. Estratégias positivas dos pais associam-se a sentimentos positivos nos filhos, enquanto táticas destrutivas associam-se a emoções negativas (Cummings, Goeke-Morey, & Papp, 2003).

As estratégias de enfrentamento referem-se aos comportamentos adotados pelos filhos para lidar com os conflitos dos pais. Nesse sentido, frente ao conflito os filhos podem buscar apoio emocional, intervir, adotar comportamentos para descarregar sentimentos negativos e se afastar (Shelton & Harold, 2007; Koss et al., 2011; Nicolotti, El-Sheikh, & Witson, 2003; Toloi, 2006).

Assim, a análise da literatura permite concluir que o conflito conjugal pode prejudicar o desenvolvimento e o bem-estar dos filhos. Considerando-se que o conflito conjugal é inerente ao relacionamento do casal e que, em alguma medida, os filhos estão expostos às brigas entre os pais, o conflito conjugal se apresenta como um relevante problema a ser investigado. A análise da literatura revela, também, que a forma como os filhos caracterizam e interpretam os conflitos conjugais é de extrema importância para se compreender como crianças e adolescentes lidam com tais situações no contexto familiar.

A grande maioria das pesquisas internacionais utiliza uma abordagem quantitativa para investigar o impacto dos conflitos conjugais sobre determinados aspectos do desenvolvimento dos filhos. Há carência de estudos internacionais e nacionais, que investiguem qualitativamente a percepção dos filhos sobre os conflitos dos seus pais. No Brasil, em particular, a escassez de estudos sobre os conflitos conjugais na perspectiva dos filhos é muito expressiva.

Frente a isso, buscamos investigar, desde uma perspectiva qualitativa, a forma como os filhos caracterizam e vivenciam os conflitos conjugais no contexto familiar. O estudo qualitativo desse fenômeno permite uma exploração inicial do tema de pesquisa a partir dos relatos dos próprios filhos, valorizando o modo como caracterizam, explicam, sentem e lidam com os conflitos conjugais em suas famílias.

 

Método

Em relação ao delineamento, trata-se de um estudo qualitativo de caráter exploratório-descritivo. A partir de um convite feito nas salas de aula de uma escola pública da cidade de Porto Alegre (RS), 17 estudantes, de ambos os sexos, que coabitavam com seus pais, aceitaram participar da pesquisa. Os participantes foram reunidos em dois grupos focais de acordo com a faixa etária: um grupo com oito crianças entre 8-9 anos (quatro meninas e quatro meninos) e outro com nove adolescentes entre 12-13 anos (quatro meninas e cinco meninos). Não foi necessário controlar a distribuição dos sexos dentro de cada grupo, já que espontaneamente o número de meninos e meninas mostrou-se equilibrado em cada faixa etária. Na ocasião do convite, os sujeitos receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a fim de solicitar a autorização aos seus progenitores para participar da pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Instrumentos e procedimentos

Utilizou-se a técnica do grupo focal (Morgan, 1997). Cada grupo teve um único encontro, de cerca de uma hora e meia, na escola. Havia um moderador e dois observadores, os quais também operaram equipamentos de gravação (áudio e vídeo) e registraram a dinâmica grupal e os comportamentos não verbais. Os grupos focais foram conduzidos segundo um único roteiro de atividades, previamente testado em um estudo piloto.

Iniciou-se o encontro com um rapport acerca da universalidade do conflito conjugal nas famílias. Em seguida, convidou-se o grupo a definir o conflito conjugal. Posteriormente, como atividade para quebrar o gelo seguiu-se a confecção de um desenho sobre o tema Os filhos e os conflitos dos pais. A partir de uma adaptação da técnica draw and tell (Driessnack, 2005), após a composição do desenho os participantes foram encorajados a falar sobre a sua produção gráfica para o grupo.

Depois de falar sobre o desenho, foram propostas questões de orientação aos participantes para guiar a discussão, sendo as principais: Quais são, na opinião de vocês, as causas dos conflitos entre os pais? Como os filhos se sentem quando percebem que os pais estão brigando? Que tipo de coisa os filhos fazem quando percebem que os pais estão enfrentando um conflito?

Após a discussão das questões de orientação, os participantes construíram dois cartazes em conjunto. Um sobre as coisas boas e outro sobre as coisas ruins que podem resultar dos conflitos entre os pais. A partir da orientação acerca da liberdade para usar colagens de figuras e palavras, os participantes tiveram à sua disposição canetas, revistas, cola e tesoura. Após a confecção de cada cartaz, os participantes foram encorajados a clarificar as ideias representadas nos cartazes, com comentários e explicações. Todos os procedimentos metodológicos utilizados na dinâmica do grupo focal e descritos foram usados na compreensão dos aspectos investigados.

 

Resultados e discussão

Os dados foram transcritos na íntegra e analisados a partir do referencial de Olabuénaga (1999). Esse tipo de análise inclui a sistematização, a codificação e a categorização das informações. A categorização dos achados foi feita com base nas proposições dos Modelos Cognitivo-contextual (Grych & Fincham, 1990) e da Segurança Emocional (Davies & Cummings, 1994) e também a partir dos dados. Chegou-se a oito categorias que estão apresentadas na forma de perguntas, estando os resultados relatados e discutidos de maneira a responder a essas questões. Apresenta-se a visão de crianças e adolescentes em separado, devido às peculiaridades de cada faixa etária. Os nomes dos participantes foram omitidos para proteção da sua identidade, sendo substituídos por iniciais de nomes fictícios, designando-se o sexo feminino ou masculino por XX e XY.

A perspectiva das crianças

O que é conflito conjugal?

Para as crianças, o conflito conjugal envolve briga, discussão, muita confusão, incluindo a separação. Agressões físicas, como pontapés e cada um puxar o cabelo do outro, também foram consideradas como conflito conjugal.

Quais são os temas dos conflitos entre os pais?

Os pais brigam por qualquer coisa, especialmente sobre cobranças de um cônjuge em relação ao outro, como (a) cuidados com os filhos, (b) distribuição das tarefas domésticas, (c) trabalho, e (d) tempo dedicado ao esporte. As cobranças ligadas aos filhos foram exemplificadas por G. (XY, 8 anos), que relatou que seu pai reclama com sua mãe que "ela só fica deitada" e não dá atenção ao filho. A cobrança pela divisão das tarefas domésticas também foi ilustrada por esse participante: "às vezes meu pai e minha mãe brigam por causa que a minha mãe não fez aquilo, meu pai não fez aquilo (referindo-se aos afazeres domésticos)". A. (XX, 8 anos) reforçou essa opinião, compartilhando que sua mãe "só fica deitada" e o seu pai "tem que fazer tudo e chega a ficar com dor nas costas".

O trabalho também pode ser o tópico do conflito para casais que trabalham juntos, como acontece com os pais de G. (XY, 8 anos): "eles têm um restaurante e eles sempre ficam brigando no restaurante". Por outro lado, atividades de lazer não compartilhadas também podem ser tema de conflito, como é o caso de B. (XY, 9 anos) cuja mãe cobra que o "pai demora muito para parar de jogar futebol". A pluralidade de temas referidos pelos participantes, os quais também aparecem na literatura (Papp, Cummings, & Goeke-Morey, 2002), denota a capacidade de discernimento das crianças quanto às temáticas de conflito entre seus pais e leva a crer que, possivelmente, essas situações fazem parte do cotidiano familiar.

Com que frequência os pais brigam?

De acordo com a vivência das crianças, a frequência das brigas é variada. Enquanto alguns relatam que os pais "brigam pouco", para outros, os pais "vivem brigando". A frequência dos conflitos aparece associada à qualidade do relacionamento dos pais. Para aquelas cujos pais "vivem brigando" (C., XX, 9 anos) o relacionamento deles é "horrível". Para outros, entretanto, o relacionamento dos pais é visto como positivo em função da baixa frequência dos conflitos: "eu acho que meus pais se relacionam bem porque eu acho que eles não brigam, eles brigam só uma vez por mês, mais ou menos" (B., XY, 9 anos).

Quais estratégias de resolução são adotadas pelos pais?

Na visão das crianças, a expressão do conflito parece estar relacionada ao tom afetivo das interações conjugais durante as brigas. Nesse sentido, destaca-se a hostilidade, que pode partir tanto do homem: "às vezes meu pai chama qual é cara pra minha mãe" (G., XY, 8 anos), quanto da mulher: "às vezes meu pai faz carinho na minha mãe e ela larga as patas nele" (A., XX, 8 anos).

O tom afetivo das brigas pode inclusive acabar sendo direcionado aos filhos, como sugeriu C. (XX, 9 anos): "um dia meu pai falou pra mim (durante o conflito conjugal) cala a boca". O relato de C. parece ilustrar o efeito spillover, no qual o tom afetivo do relacionamento conjugal invade o relacionamento dos pais com os filhos (Erel & Burman, 1995; Krishnakumar & Buehler, 2000; Mosmann & Wagner, 2008).

C. (XX, 9 anos) completou dizendo que os pais podem falar palavrões durante uma discussão, atitude considerada por ela como um "mau exemplo". Há o reconhecimento, por parte das crianças, que o relacionamento conjugal serve como modelo de relacionamento social. Muitos pesquisadores argumentam que os filhos podem aprender com os pais estratégias positivas e negativas de resolução de conflitos (Cummings & Davies, 2010; Davies & Cummings, 1994; Grych & Fincham, 1990). Contudo, na fala das crianças os exemplos referidos ficaram restritos aos comportamentos negativos por parte dos pais no enfrentamento dos conflitos.

Para as crianças, os pais podem utilizar várias estratégias para resolver seus conflitos, como por exemplo, discutir e se afastar, ficando "um dia sem se falar ou uma semana" (A., XX, 8 anos). N. (XX, 9 anos) relatou que os pais utilizam uma forma de comunicação escrita: "normalmente meu pai tá dormindo e a minha mãe faz as coisas, daí minha mãe reclama e aí o meu pai tem que fazer massagem, só que daí a minha mãe não quer a massagem, meu pai recusa e aí minha mãe recusa também e daí eles se mandam cartas, dizendo que se odeiam... e daí a minha mãe diz que vai quebrar o vidro e aí meu pai diz que não vai pagar".

Segundo a criança, seus pais se mandam cartas por medo de falar diretamente um com o outro. Quando questionada se já teria lido essas cartas, a participante negou, relatando que os pais as mantêm no âmbito conjugal e que ela própria não tem interesse em lê-las. A partir dessa informação supõe-se que a atribuição do afeto agressivo em seu conteúdo seja uma inferência da criança, provavelmente baseada na cena de conflito presenciada.

Nesse exemplo, embora haja ameaça de danificação de objetos, a estratégia de comunicação escrita pode revelar uma tentativa do casal de proteger a criança de verbalizações durante a briga. Ao mesmo tempo, a não necessidade de ler as cartas, pode estar indicando uma estratégia de autoproteção da criança frente ao conflito.

A submissão se revelou como uma forma de resolução, latente na fala de N. (XX, 9 anos): "a minha mãe às vezes não quer cozinhar, aí às vezes meu pai quer uma coisa, aí ela faz um sanduíche, daí meu pai joga na cara dela, daí o meu pai não quer o sanduíche, daí minha mãe tem que fazer outra coisa pra ele". A agressão física também foi apontada como forma de resolução, como se observa no comentário de A. (XX, 8 anos): "bateção, batendo um no outro".

Percebe-se a predominância de estratégias negativas de resolução como a submissão, o afastamento, a hostilidade e até mesmo a agressão. Essa percepção das crianças pode indicar que a sua atenção está voltada a sinais de conflitos destrutivos, que ameaçam mais fortemente seu senso de segurança emocional (Davies & Cummings, 1994). Além disso, a atenção focada na negatividade das interações pode ser uma tentativa de dar significado ao comportamento dos pais durante o conflito (Crockenberg & Lagncrock, 2001, pp. 129-156).

Como as crianças explicam o conflito conjugal?

As explicações das crianças sugerem que elas extraem informações do contexto imediato do conflito para estimar as suas causas e assim dar significado às brigas (Davies & Cummings, 1994; Grych & Fincham, 1990). Nesse sentido, as características da personalidade de um dos pais parecem ser consideradas como um fator gerador de conflito, conforme análise de C. (XX, 9 anos): "eu não sei bem, o meu pai é muito estressado e a minha mãe fica triste em relação a ele".

Além de identificar causas alheias a si, as crianças podem sentir-se responsabilizadas pelas brigas. Nessa perspectiva, A. (XX, 8 anos) relatou que os pais a culpam quando o casal briga para decidir quem vai dirigir o carro quando a família sai de casa, já que geralmente é a menina que pede para passear.

Embora os filhos possam presenciar os conflitos, um participante lembrou que às vezes as brigas acontecem na sua ausência. Essa informação pode revelar que os filhos inferem que os pais brigaram, mesmo sem terem assistido o conflito. Isso pode acontecer em decorrência da percepção da criança acerca do clima emocional das interações entre os pais (Cummings, Simpson, & Wilson, 1993). Essa percepção das crianças de que alguns conflitos ocorrem em sua ausência e de que aqueles testemunhados por eles são predominantemente negativos concorda com achados de Papp et al. (2002). Segundo esses pesquisadores americanos, cerca de dois terços dos conflitos ocorrem na ausência dos filhos, contudo, aqueles que acontecem em sua presença mostram-se mais negativos.

Como as crianças se sentem frente ao conflito conjugal?

As crianças relataram que se sentem mal e tristes, enfatizando a sensação de isolamento e de medo. C. (XX, 9 anos) ilustrou: "vou pro meu quarto, leio o meu livro e durmo". Observa-se nos relatos que, embora as crianças adotem comportamentos considerados adaptativos como a distração com atividades prazerosas em um ambiente isolado do conflito (Nicolotti et al., 2003), a situação entre os pais produz sentimentos negativos.

Já o significado do medo mostrou-se ligado ao temor de que os conflitos culminem na separação dos pais. Entretanto, nem todos os participantes mencionaram esse medo. O temor de que o conflito leve à separação pode indicar que esse evento pode representar uma ameaça para o bem-estar da criança e da família. De outro modo, possivelmente para outras crianças, o conflito não representa uma ameaça e por isso não há o temor da separação (Davies & Cummings, 1994).

Como as crianças lidam com o conflito conjugal?

Os esforços das crianças para lidar com os conflitos incluem diferentes estratégias, como (a) não fazer nada, (b) presenciar a briga, porém, fingindo que não estão vendo, (c) assistir a briga, e (d) intervir.

As crianças justificaram que intervêm no conflito "porque às vezes as brigas são muito feias", revelando que a intervenção visa à cessação da briga e está relacionada à intensidade da expressão do conflito. Embora a efetividade da intervenção não tenha sido discutida, é possível fazer conjeturas sobre a atitude dos filhos de tentar separar os pais durante a briga. Isto é, se por um lado o sucesso desse comportamento pode ser efetivo para acalmar a criança, por outro pode colocá-la em risco, já que, por vezes os conflitos se expressam de forma agressiva. Embora o envolvimento tenha sido apontado por algumas crianças, alguns participantes fazem pouco uso dessa estratégia enquanto outras disseram não fazê-lo nunca.

Quais as repercussões negativas e positivas do conflito?

A desconfiança e a traição foram as repercussões negativas mais lembradas pelas crianças. A falta de confiança foi demonstrada pelo comentário de B. (XY, 8 anos): "ela (mãe) tá querendo saber se ela está sendo traída". Já a infidelidade foi evidenciada na fala de N. (XX, 9 anos): "(o pai) pode ter uma amante" e no comentário de G. (XY, 8 anos): "o cara traindo a mulher quando a outra mulher tá no emprego". Embora as crianças tenham dado essas respostas, não está claro nas suas falas se de fato a traição e a desconfiança são causas ou consequências do conflito conjugal.

Ainda que de forma difusa ao longo da discussão, algumas falas das crianças sugerem que o conflito pode levar um dos pais a abandonar o lar: "um dia meu pai... falou tão mal com a minha mãe que ela quase foi embora de casa" (C., XX, 9 anos). Um novo casamento e uma mudança de orientação sexual apareceram claramente associados à separação do casal em decorrência dos conflitos: "o pai pode se separar e casar com outra mulher... e a mãe pode virar lésbica" (G., XY, 8 anos).

As consequências negativas dos conflitos associam-se à dissolução da família. Sendo assim, podem ser uma ameaça à segurança emocional das crianças (Davies & Cummings, 1994). De forma superficial, um dos participantes lembrou ainda que o alcoolismo pode ser uma das consequências negativas do conflito. Por fim, outra reverberação negativa foi apresentada por B. (XX, 8 anos): "o meu pai fica falando da minha mãe pelas costas, enquanto ela vai trabalhar de noite ele fica falando dela".

A possibilidade de um novo casamento apareceu como um desfecho positivo em casos em que o primeiro casamento infeliz termina: "... eles se casaram, não eram felizes, aí se casaram de novo e ficaram felizes" (XX, 9 anos). A possibilidade de harmonia familiar como resultado da formação de uma nova família é apontada na referência de A. (XX, 8 anos): "família feliz, são dois pais, duas mães".

Percebem-se diferentes vivências das crianças em relação ao segundo casamento de pai ou mãe, já que esse, ora é visto como positivo ora como negativo. Ele pode significar tanto o rompimento do vínculo amoroso entre os pais como o restabelecimento da harmonia familiar após um novo casamento desses, dependendo do ponto de vista. Outra consequência boa do conflito apontada é que os pais "fazem sexo" e "namoram". Nesses casos, a resolução positiva do conflito se evidencia para as crianças nas trocas afetivas envolvidas na reconciliação.

A perspectiva dos adolescentes

O que é conflito conjugal?

Para os adolescentes, o conflito conjugal é "uma discussão de ideias, que eles (pais) não concordam e que vira um debate que às vezes pode levar à agressão física" (F., XX, 13 anos). Os adolescentes utilizaram como sinônimos de conflito expressões como briga, discussão e discordância de ideias.

Na definição dos adolescentes, destaca-se a situação de oposição declarada de opiniões entre os cônjuges, marcada pela dificuldade de entrar em acordo. A definição dos adolescentes assemelha-se à de Fincham (2009) quando fazem referência a conflitos declarados.

Quais são os temas dos conflitos entre os pais?

Na visão dos adolescentes, os pais brigam "por tudo que é tipo de coisa", principalmente sobre o assunto filhos: cerca de "90% das vezes é em torno do filho", "por causa que o filho fez alguma coisa ou jogou um pai contra o outro", por exemplo. "O que eu quero dizer com jogou um pai contra o outro é: pede pra um que deixa e pede pra outro que não deixa, aí fica aquela briga" (F., XY, 13 anos). Entretanto, alguns participantes discordaram: "não é só isso que acontece né, porque não é só o filho que importa no casal, tem outras coisas" (L., XX, 13 anos). Após debate, o grupo concluiu que cerca de 50% dos conflitos são sobre os filhos e que "50 % são et cetera".

Essa predominância de conflitos relacionados aos filhos está descrita na literatura (Papp et al., 2009). A acentuada autorreferência dos jovens como tema dos conflitos de seus pais pode estar relacionada ao fato de que os conflitos sobre os filhos são particularmente estressantes para esses (Grych & Fincham, 1993).

Os adolescentes apontam com frequência a existência de conflitos sobre o manejo dos filhos, especialmente nos casos em "o filho pede pro pai pra ir numa festa e o pai diz não, aí o filho pede pra mãe e a mãe diz sim" (G., XY, 12 anos). Uma das razões que parece dificultar a tomada de decisão dos pais quanto a liberar a saída de casa para as festas e passeios, aparece vinculada à preocupação com a segurança: "(...) daí eles ficaram discutindo que eu não podia ir porque lá não era seguro, e a minha mãe falou que eu podia ser assaltada, esmagada, pisoteada." (A., XX, 12 anos).

Também, em relação à vida social, pais e mães discordam sobre as amizades dos filhos: "só sei que ela (mãe) sempre odiou minhas melhores amigas, isso gera um conflito entre o meu pai e a minha mãe porque o meu pai é super relax com essas coisas e a minha mãe é tipo muito neurótica" (C., XX, 13 anos). Os sujeitos relacionam muitas das dificuldades enfrentadas por seus pais para entrar em um acordo às características de personalidade de cada um. Outro tema bastante recorrente de conflito na visão dos adolescentes são os assuntos financeiros, como por exemplo, "compras", "gastos" e "dinheiro". Nota-se que nessa idade os filhos já não se mostram mais alheios aos temas financeiros da família.

Nessa mesma perspectiva, temas ligados especificamente ao relacionamento conjugal também são motivos de conflito, tais como o ciúme, a falta de confiança e o tempo que o cônjuge fica fora de casa. Nesse sentido, o ciúme apareceu ilustrado por M. (XY, 13 anos): "por exemplo, se a tua mulher tem um amigo que ela não gosta, ou melhor, o teu marido não gosta,... e ele gosta dela, mas assim, ele já foi namorado dela daí o marido não gosta dessa amizade".

Em relação à falta de confiança, uma participante ilustrou seu ponto de vista com o exemplo de um casal de amigos do pai: "tipo, o meu pai tem um amigo que a namorada dele, o cara não pode sair sem avisar ela, daí passou um minuto ela quer saber onde ele tava, porque, quer saber com quem ele tava, desde quando ele tava, desde quando eles se conhecem, tem que ter uma ficha" (C., XX, 13 anos). A respeito do tempo fora de casa, M. (XY, 13 anos) relatou: "a minha mãe, até alguns anos atrás, reclamava que o meu pai chegava tarde". Foi dito também que os pais podem brigar por causa de parentes, como, por exemplo, a sogra. Ainda que de forma superficial, a política também foi lembrada como um tópico de conflito (Kurdek, 1995; Papp et al., 2009).

Pode-se observar uma diversidade de temas reconhecidos pelo grupo de adolescentes assim como registra a literatura da área (Mosmann & Falcke, 2011; Papp et al., 2009). Essas evidências indicam a aguçada capacidade dos adolescentes em perceber e avaliar a relação dos pais. Nesse sentido, constata-se que, mesmo na adolescência, onde os interesses dos sujeitos estão mais voltados ao mundo extrafamiliar, aspectos conflituosos do relacionamento íntimo familiar seguem sendo relevantes e foco de atenção dos filhos.

Com que frequência os pais brigam?

Embora a frequência dos conflitos não tenha sido especialmente valorizada na discussão, os dados revelam que os conflitos parecem ser bastante recorrentes no ambiente familiar, conforme explica C. (XX, 13 anos): ... "o meu pai manda arrumar o meu quarto e minha mãe falando que eu não preciso arrumar naquela hora, que eu posso arrumar depois, e eu fico com tédio". A menina clarificou o significado dessa sensação de aborrecimento dizendo que "é comum, todo o dia" acontece a mesma coisa. Essa fala da adolescente expressa a recorrência de conflitos conjugais.

Quais estratégias de resolução são adotadas pelos pais?

Os conflitos conjugais parecem, por vezes, ficar sem solução. O impasse na negociação entre pais e mães acerca da criação dos filhos mostrou-se muito presente em diversos momentos da discussão, revelando que os progenitores parecem ter dificuldade de encaminhar esse tipo de conflito para algum grau de resolução.

As principais formas de manejo do conflito incluem, além da rigidez da discordância, hostilidade através de xingamentos e palavrões, podendo chegar à iminência da agressão; "quase se agredindo" (F., XY, 13 anos). Um único exemplo de estratégia positiva foi referido na discussão, quando F. (XY, 13 anos) relatou que o pai "chegou com um monitor e uma CPU nova?" porque sua mãe "não para de reclamar do computador".

Como os adolescentes explicam os conflitos conjugais?

Os adolescentes procuram compreender e explicar os conflitos (Grych & Fincham, 1990), muitas vezes atribuindo a causalidade à personalidade de um dos cônjuges, como faz R. (XY, 12 anos): "a minha mãe, ela tá sempre com dor de cabeça, parece que ela nunca tá bem". Da mesma forma, F. (XY, 13 anos) apoia essa ideia: "a minha mãe é muito alterada. Ela começa a xingar o meu pai". No mesmo sentido, os comportamentos de um dos cônjuges que são desaprovados pelo outro membro do casal são identificados como causa: "... a minha mãe fuma e o meu pai não gosta disso e ele briga com ela" (C., XX, 13 anos).

Como os adolescentes se sentem frente ao conflito conjugal?

Os adolescentes afirmam que se sentem mal, valorizando o sentimento de culpa, ponderando que talvez os filhos se sintam assim por terem provocado o conflito: "acho que ele (referindo-se ao filho) se sente mal, talvez com um sentimento de culpa por ter colocado o pai contra a mãe" (M., XX, 13 anos).

Um dos participantes (R., XY, 12 anos) relatou que após uma briga entre seus pais, sua mãe ameaçou sair de casa. Esse episódio, classificado pelo sujeito como triste, fez com que o jovem se sentisse péssimo e ficasse imaginando esse desfecho horrível. A referência ao sentimento de tristeza foi feita apenas nesse exemplo, sendo o sentimento de culpa citado mais frequentemente durante toda a discussão.

Quando questionados sobre outros sentimentos possivelmente despertados pelo conflito, os adolescentes mencionaram que alguns filhos podem se sentir felizes em função de ganhos secundários obtidos com a briga entre os pais. Entretanto, os adolescentes reconhecem que este tipo de atitude é adotado por filhos com problemas psicológicos, que intencionalmente provocam os conflitos entre os pais para saírem beneficiados.

Percebe-se que os adolescentes reconhecem a sua influência no relacionamento conjugal, o que pode ser um indicativo de que esses têm a capacidade de olhar o conflito desde uma perspectiva sistêmica. Ou seja, não só os conflitos afetam os filhos, como também os comportamentos dos filhos influenciam as brigas entre os pais (Jenkins, Simpson, Dunn, Rasbach, & O'Connor, 2005; Schermerhorn, Cummings, Decarlo, & Davies, 2007).

Como os adolescentes lidam com o conflito conjugal?

A forma como os adolescentes lidam com o conflito parece ser influenciada por três fatores principais: (a) a estimativa de eficácia da sua intervenção, (b) a avaliação do risco que se colocam ao intervir, e (c) a busca por alívio do sentimento de culpa (Shelton & Harold, 2007).

Há indícios de que, frente a uma situação conflituosa, os adolescentes orientam seu comportamento pela avaliação que fazem da eficácia da sua intervenção. Isto é, quando entendem que não há nada que possam fazer, não atuam na situação e se limitam a ouvir a discussão ou a chorar no quarto. Nesse sentido, a decisão por não intervir possivelmente está pautada em sua percepção da ineficácia das suas tentativas de intervenção visando à cessação ou à resolução do conflito (Larossa et al., 2012). Por outro lado, P. (XX, 12 anos) mencionou que "tem vezes também que a criança pode resolver o problema, vai lá e fala toda a verdade e daí os pais se dão conta". Contudo, a maioria dos participantes mostrou-se descrente quanto à eficácia dessa estratégia, conforme manifestação de M. (XY, 13 anos) apoiada pelos demais jovens: "eu só vi isso em novela".

Embora o grupo não tenha apoiado essa visão sobre o poder dos filhos de cessar o conflito, os resultados de algumas pesquisas norte-americanas reconhecem esta possibilidade (Covell & Milles, 1992; Schermerhorn et al., 2007). Contudo, as razões para que os pais parem de brigar a partir da intervenção dos filhos nos episódios dos conflitos são discutidas na literatura em diferentes perspectivas. Isto é, o sucesso da interferência dos filhos no conflito pode estar menos relacionado à eficácia dessa ação em si e mais ao fato de que esse tipo de comportamento ajuda os pais a se darem conta de que o conflito está chegando a um nível preocupante para os filhos (Covell & Milles, 1992; Schermerhorn et al., 2007). Assim, ao tomar consciência disso, os pais podem interromper o conflito para proteger os filhos. Os filhos, por outro lado, podem ser levados a entender que são capazes de acabar com o conflito na medida em que, por vezes, a briga cessa após a sua intervenção (Covell & Milles, 1992; Schermerhorn et al., 2007).

Os adolescentes também parecem fazer uma avaliação do risco que se colocam ao intervir. Nesse sentido, uma participante explicou que quando tenta defender sua mãe durante uma discussão conjugal seu pai diz para ela "calar a boca e fica bem quieta que o assunto é entre nós (casal)" (C., XX, 13 anos). O tom agressivo da fala do pai parece ser tomado claramente pela adolescente como um sinal para que a filha não se intrometa. Segundo os adolescentes, os filhos podem decidir por não interferir no conflito porque, em suas palavras, "se tu vai te meter, tu piora a situação", podendo acontecer "alguma coisa de ruim", desde alguma forma de castigo até a agressão física. Assim, as falas dos adolescentes revelam a ideia de que a avaliação do risco parece estar ligada à capacidade de autoproteção.

O sentimento de culpa foi bastante valorizado na discussão. Os adolescentes revelaram que quando se sentem responsáveis pelo surgimento de uma briga, os filhos podem chegar a realizar uma autoagressão, como se cortar ou, em uma atitude extrema, tentar se matar, como tentativa de acabar com o conflito. Entretanto, especula-se que a partir desses comportamentos os adolescentes também buscam o alívio imediato do sentimento de culpa, porém com efeitos prejudiciais para a sua integridade física. É preocupante que os adolescentes considerem esse tipo de atitude como uma das formas de enfrentamento. Por outro lado, percebe-se também o quão prejudicial para o filho pode ser a sensação de se perceber como a causa do conflito entre os pais. De modo geral, pode-se dizer que os adolescentes usam estratégias de enfrentamento incluídas em duas classes de ações: uma focada na resolução do problema (modificação do curso do conflito) e outra na emoção (regulação das emoções) (Cummings & Davies, 2002; Kerig, 2001).

Quais as repercussões negativas e positivas do conflito?

Os adolescentes indicaram repercussões negativas para a conjugalidade, como (a) traição, (b) separação, (c) novo casamento, e (d) alcoolismo; e mudanças no comportamento dos filhos. Na esfera conjugal, a traição foi identificada de forma clara e unânime pelo grupo como uma consequência negativa do conflito, ilustrada por A. (XX, 12 anos): "quando eu era pequena..., a minha mãe e o meu pai brigavam muito e daí ele acabou traindo ela". No mesmo sentido, a separação mostrou-se uma consequência negativa que parece estar especialmente ligada à traição. Outra repercussão do conflito apontada pelos adolescentes foi o surgimento de uma nova família, após o desenlace da separação dos pais.

O alcoolismo masculino foi apontado também como uma repercussão do conflito, podendo levar o homem a agredir a mulher: "quando o homem bebe, ele nem sabe o que está fazendo na mulher, aí dá o conflito" (G., XY, 12 anos). A percepção dos jovens de que o álcool está relacionado à violência doméstica demonstra que já no início da adolescência os filhos mostram-se capazes de reconhecer hábitos pessoais nocivos que prejudicam a dinâmica do relacionamento familiar. Percebe-se que o alcoolismo ora é indicado como a causa ora como a consequência do conflito. Independentemente de poderem identificar as causas ou consequências do conflito, os adolescentes denotam aptidão para reconhecer os aspectos adjacentes ao contexto do conflito.

Além de afetar o relacionamento do casal, o conflito que resulta em separação pode influenciar negativamente o comportamento dos filhos. M. (XX, 12 anos) ilustra relatando: "depois que (a amiga) começou a ouvir brigas dos pais e os pais se separaram ela pegou e começou a mudar totalmente, ela começou a colocar piercing, tatuagem, fazer essas coisas". O grupo reforçou esse comentário, acrescentando que os filhos podem usar drogas e mudar de humor e de companhias.

Por outro lado, uma das boas implicações do conflito na opinião de G. (XY, 12 anos) é que "a mulher pode se arrumar mais para ficar bonita para o marido", possivelmente em referência ao movimento da mãe em direção à reconciliação. Para alguns adolescentes "um bebê" pode ser uma consequência boa do conflito. Entretanto, os adolescentes não desenvolveram uma argumentação consistente para justificar essa opinião, limitando-se a dizer que "um filho é uma coisa boa, é uma vida, é felicidade". Em contrapartida à alegação de F. (XX, 13 anos), C. (XX, 13 anos) ponderou que "um filho por si só é bom, mas dependendo do clima que os pais têm, o jeito que eles se tratam, pode ser ruim um filho". Portanto, o grupo mostrou-se dividido quanto a esse ponto.

Ao se investigar, especificamente, as coisas boas resultantes dos conflitos entre os pais, uma das participantes tomou como referência a separação: "se um pai e uma mãe se separam e vão... pra outro lugar, tu (filho) vai ver..., culturas novas e vai viajar bastante" (A., XX, 12 anos). Para F. (XY, 13 anos), uma repercussão positiva para os filhos no caso de pais separados seria: "por exemplo, no Natal, o filho ganha duas coisas". O fato de alguns adolescentes terem relacionado a separação à coisas boas, pode ser um indicativo da limitação da sua percepção em relação às possíveis implicações positivas do conflito. Isso talvez possa ser decorrente da concepção negativa que os adolescentes têm acerca do conflito conjugal, limitando a sua perspectiva. Dessa forma, a visão dos adolescentes pode ficar restrita à expressão do conflito, não havendo ainda a maturidade cognitiva e emocional necessária para ponderar acerca dos possíveis ganhos da exposição aos conflitos.

Considerações finais

A perspectiva de crianças e adolescentes assemelha-se em muitos aspectos. Embora a comparação entre os grupos não tenha sido o objetivo deste estudo, algumas diferenças foram evidenciadas. Especula-se que essas diferenças possivelmente se relacionem à fase de desenvolvimento. Por se tratar de uma especulação, este estudo limita-se a descrever as diferenças observadas, sugerindo que estudos longitudinais possam investigá-las de forma aprofundada.

A partir da análise das falas dos grupos focais realizados com as crianças e os adolescentes, pode-se constatar que os filhos consideram conflitos conjugais as discussões e brigas entre os pais que podem chegar à agressão física. Além dessa perspectiva, o conceito de conflito das crianças inclui a separação, enquanto os adolescentes destacam a oposição entre os componentes do casal.

Os conflitos parecem ser recorrentes entre os pais, podendo versar sobre qualquer assunto. No geral, as crianças apontaram para temas relacionados à vida familiar, como, por exemplo, a distribuição das tarefas domésticas. Os adolescentes, por outro lado, reconheceram a ocorrência de brigas sobre assuntos financeiros e a prevalência de conflitos sobre os filhos.

A percepção dos filhos sobre as estratégias de resolução dos pais mostra-se voltada para expressões negativas do seu manejo, como, por exemplo, a hostilidade. As crianças parecem prestar mais atenção no tom afetivo negativo das interações durante o conflito. Em contrapartida, os adolescentes chegam a reconhecer a existência de estratégias assertivas de resolução, embora enfatizem o impasse na solução de conflitos sobre o manejo dos filhos.

Os filhos procuram explicar os desentendimentos entre os pais a partir da identificação e da compreensão de suas causas. Nesse sentido, os comportamentos e características de um dos pais são apontados como fonte de conflito tanto para as crianças como para os adolescentes. Além dessa explicação, as crianças consideram que algumas vezes os pais culpam os filhos por criarem situações que desencadeiam conflitos conjugais.

No geral, os conflitos conjugais despertam sentimentos negativos nos filhos, com a tristeza sendo a emoção apontada tanto por crianças quanto por adolescentes. Algumas crianças apontaram ainda para sentimentos de isolamento decorrentes da sua estratégia de afastamento do conflito. Outras, para o sentimento de medo de que o conflito leve à separação dos pais. Os adolescentes valorizaram muito o sentimento de culpa dos filhos pelo surgimento dos conflitos. Por outro lado, reconhecem que filhos com problemas psicológicos podem se sentir felizes por terem provocado o conflito, na medida em que obtém ganhos pessoais com a desunião dos pais.

A forma como os filhos lidam com o conflito parecer ser diversificada. As estratégias de enfrentamento variam desde comportamentos, como não fazer nada, até a intervenção direta na discussão. As crianças mencionaram que podem assistir a briga ou, ainda, fazer de conta que não estão vendo o conflito, mesmo estando presentes durante sua ocorrência. A decisão acerca de qual estratégia os adolescentes utilizam relaciona-se a sua crença sobre as chances de sucesso de sua intervenção, à antecipação do risco a que se expõem ao intervir e ao alívio do sentimento de culpa. A autoagressão apareceu como uma tentativa dos filhos adolescentes de cessar conflitos dos quais eles se sentem responsáveis.

Entre as consequências negativas dos conflitos, os filhos apontaram para repercussões que representam a dissolução da família, como a traição e a separação. O alcoolismo foi indicado por ambos os grupos como uma decorrência negativa do conflito. As crianças mencionaram, ainda, que os conflitos podem fazer com que elas passem a ter uma madrasta ou um padrasto. Na visão exclusivamente dos adolescentes, de outro modo, os conflitos podem levar os filhos a modificar o seu comportamento, com atitudes como, por exemplo, o uso de drogas.

Como repercussões positivas dos conflitos, os filhos fizeram menção a comportamentos dos pais que podem ser entendidos como voltados à reconciliação, como as trocas afetivas. Para as crianças, um novo casamento apareceu como uma consequência positiva do conflito. Com isso, a perspectiva das crianças assinala a sua ambivalência quanto à formação de uma nova família, já que um novo casamento é valorado tanto de forma positiva como negativa. Na visão dos adolescentes os filhos podem ter benefícios quando os pais são separados, como por exemplo, ganhar dois presentes no Natal. A repercussão positiva do conflito foi diretamente relacionada à separação e não ao conflito em si.

No geral, o ponto de vista dos filhos mostra uma tendência de percepção negativa dos conflitos, com a percepção de um repertório limitado de estratégias de resolução pelos pais. A perspectiva de crianças e adolescentes revela, ainda, que os conflitos podem ter repercussões predominantemente negativas para os filhos e para a família. Assim, chama a atenção o fato de as falas das crianças e adolescentes revelarem um processo de naturalização da violência no ambiente familiar.

Tanto crianças quanto adolescentes demonstram esforço para lidar com os conflitos entre os pais. Nesse sentido, os filhos podem adotar comportamentos adaptativos ou não de enfrentamento dessas situações no contexto familiar. Conflitos relacionados à própria criança ou adolescente são particularmente estressantes para os filhos, podendo levá-los a sofrimento psíquico e comportamentos extremamente autodestrutivos. Profissionais que trabalham com crianças e adolescentes precisam estar atentos para possíveis expressões de sofrimento, já que essas podem estar relacionadas a alguns aspectos da vida familiar, como os conflitos conjugais.

Os resultados deste estudo sugerem que crianças e adolescentes têm uma visão bastante ampla e sofisticada sobre os conflitos conjugais, sendo capazes de caracterizar as brigas de acordo com diferentes aspectos, como temática, frequência, expressão e resolução. Este estudo oferece indícios de que a percepção dos filhos talvez seja muito mais aguçada do que os próprios progenitores avaliam e percebem, já que tanto crianças como adolescentes mostram-se atentos às brigas dos pais, mesmo quando não presenciam os episódios de conflito ou quando não demonstram aos pais estarem registrando tais situações. Recomenda-se, portanto, que sejam feitos estudos para se avaliar o quanto os pais têm conhecimento acerca da percepção de seus filhos sobre os seus conflitos conjugais. Os achados apontam, ainda, para a necessidade de desenvolvimento de programas para a ampliação das estratégias de resolução de conflitos conjugais, já que as relações que se estabelecem precocemente na família servem como modelos de interação social para os filhos ao longo de seu desenvolvimento.

 

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 Endereço para correspondência:
Viviane Ribeiro Goulart
viviribeirogoulart@uol.com.br
Adriana Wagner
adrianawagner.ufrgs@hotmail.com

Submetido em: 12/06/2012
Revisto em: 12/06/2013
Aceito em: 17/11/2013