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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.65 no.3 Rio de Janeiro  2013

 

Quando a anorexia é uma questão de sexuação*

 

When anorexia is a matter of sexuation

 

Cuando la anorexia es una cuestión de sexuación

 

 

Joana Maia SimoniI; Angélica BastosII

IMestre. Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro. Estado do Rio de Janeiro. Brasil
IIDocente. Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro. Estado do Rio de Janeiro. Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Partindo da constatação clínica da alta incidência da anorexia entre jovens mulheres, o presente trabalho dedica-se à investigação das relações entre o sintoma anoréxico e a feminilidade. Nossa hipótese é a de que o sintoma anoréxico configura uma resposta de algumas jovens diante das consequências da sexuação e do encontro com o gozo feminino. Questionam-se a continuidade e a identidade entre a anorexia infantil, na qual o comer nada aparece como objeto separador, e a anorexia como resposta ao gozo feminino e aos impasses da sexuação. Analisamos as contribuições freudianas a respeito da assunção do sexo e a retomada dessa problemática empreendida por Lacan, que desloca o falocentrismo freudiano, propondo a lógica do não-todo, própria ao gozo feminino, suplementar ao falo e correlato à posição feminina. Como consequência desse percurso, o artigo sustenta que algumas anorexias em adolescentes e jovens correspondem a um tratamento ao gozo Outro que irrompe no corpo.

Palavras-chave: Feminilidade; Anorexia; Sexuação; Gozo feminino.


ABSTRACT

From clinical observations of the high incidence of anorexia among young women, the present work is dedicated to the research of the relationship between the anorectic symptom and femininity. Our hypothesis is that the anorexic symptom configures a response of some young women in face of the consequences of sexuation and of the encounter with female jouissance. The continuity between children's anorexia, in which eating nothing pops up as a separator object, and anorexia as a response to female jouissance and the sexation dilemmas are questioned. We analyze Freud's contributions concerning the assumption of the sex and the resumption of this problematic undertaken by Lacan, who shifts the Freudian phallocentrism, proposing the logic of the not whole, peculiar to the female jouissance, correlative to the women's position. As a result, the article maintains that some types of anorexia in young women represent a rejection of this Other jouissance that erupts in the body.

Keywords: Femininity; Anorexia; Sexuation; Female jouissance.


RESUMEN

A partir de la constatación clínica de la alta incidencia de anorexia entre las jóvenes, el presente trabajo se aboca a la investigación de las relaciones entre el síntoma anoréxico y la feminidad. Nuestra hipótesis es que el síntoma anoréxico configura la respuesta de algunas jóvenes ante las consecuencias de la sexuación y del encuentro con el goce femenino. Se cuestiona la continuidad entre la anorexia infantil, en la cual el comer nada aparece como objeto separador, y la anorexia como respuesta al goce femenino y a las dificultades que acarrea la sexuación. Analizamos las contribuciones freudianas respecto a la asunción del sexo y la retomada de esta problemática emprendida por Lacan, que disloca el falocentrismo freudiano, proponiendo la lógica del no-todo, propio al goce femenino, correlativo a la posición femenina. Como consecuencia, el artículo sostiene que algunas anorexias en adolescentes y jóvenes corresponden a un rechazo de este goce Otro que irrumpe el cuerpo.

Palabras claves: Feminidad; Anorexia; Sexuación; Goce femenino.


 

 

Introdução

A alta incidência da anorexia entre adolescentes e jovens mulheres constitui uma constatação clínica que interpela o psicanalista. Para além dos aspectos quantitativos, das análises de frequências e estatísticas, tal fato aponta para a existência de alguma relação entre a feminilidade e a anorexia. Seria esta uma relação de conjunção, na qual a anorexia corresponderia a uma manifestação da feminilidade? Ou, ao contrário, o sintoma anoréxico corresponderia a uma recusa da feminilidade? Nenhuma das duas opções parece adequada. Entendemos que a questão é mais complexa, e não se trata de uma simples recusa da feminilidade, mas dos impasses e consequências que a sexuação impõe ao gozo dos sujeitos situados do lado mulher da divisão dos sexos. Essa é a problemática do presente trabalho, que tem por objetivo situar a anorexia em relação ao gozo feminino, gozo suplementar ao falo.

Para o encaminhamento da questão, a feminilidade será abordada segundo o referencial da psicanálise e, em seguida, será circunscrito o lugar que o sintoma anoréxico pode ocupar em sujeitos inscritos no lado mulher da divisão dos sexos.

Adotamos a premissa segundo a qual o posicionamento subjetivo em relação à diferença sexual requer a simbolização da castração, característica da neurose. Com a problemática assim delimitada, esta investigação estará restrita às neuroses, excluindo de seu escopo as anorexias que surgem nas melancolias, delírios de perseguição e esquizofrenias, quadros que demandariam pesquisa complementar acerca dos destinos que a sexualidade pode encontrar.

O sintoma anoréxico não é apanágio exclusivo às mulheres. A anorexia infantil atinge crianças de ambos os sexos, mas sua incidência maciça do lado das mulheres tende a coincidir com a puberdade ou com a juventude, sugerindo uma relação estreita com a assunção do sexo feminino em vias de consolidação na adolescência e na juventude, quando do encontro com o Outro sexo. Por isso, não se estabelece aqui uma teoria geral da anorexia, nem se exclui que fatores presentes na anorexia infantil se encontrem em atuação nas adolescentes e jovens mulheres, ou seja, que a estratégia de resgatar o desejo através do comer nada esteja em jogo para as jovens anoréxicas, quando a profusão do objeto alimentar não deixa margem a que o objeto opere a título de falta.

A experiência clínica indica que a anorexia infantil em meninas não está prometida a uma recidiva na adolescência. No sentido inverso, a anorexia que surge a partir da puberdade não é necessariamente precedida por anorexia infantil, configurando um sintoma correlato às transformações que a sexualidade atravessa ao longo do devir mulher. Conjugadas, essas observações clínicas apontam para a intervenção de fatores específicos ao processo de sexuação, justificando a investigação das relações entre a feminilidade e o sintoma anoréxico. A hipótese a ser desenvolvida a seguir sustenta que, para os sujeitos que definem sua posição do lado mulher na sexuação, a anorexia neurótica que irrompe na puberdade consiste em uma resposta para tratar o gozo do corpo, gozo propriamente feminino.

 

Da primazia do falo ao além do falo

Em Organização genital infantil, Freud (1923/1976b) introduz o conceito de falo concernente aos impactos sofridos pelas crianças quando da constatação da diferença sexual. A organização infantil, título desse artigo, é caracterizada precisamente pelo fato de, para ambos os sexos, entrar em consideração apenas um órgão genital, qual seja, o falo.

Inicialmente, os meninos creem que todas as criaturas vivas (humanos e animais) possuem um órgão como o seu. O menino se interessa muito por esse órgão, facilmente excitável e rico em sensações. O pênis passa, então, a ser o alvo principal de suas pesquisas, e ele começa a compará-lo com os demais e, ao longo de suas pesquisas sexuais, o menino chega à conclusão de que se equivocara e que nem todas as criaturas possuem um órgão como o seu.

Freud acrescenta que, de início, a atitude da criança com relação a essa descoberta é marcada pela rejeição do fato, acreditando que realmente vê um pênis - ainda pequenino - ali onde não há o órgão. E, ao longo de suas pesquisas infantis, os pequenos chegam à conclusão de que o pênis já estivera ali, ou seja, que as meninas também já possuíram o falo e que o perderam devido à castração (como punição).

Meninos e meninas respondem distintamente à diferença anatômica. Diante da visão do órgão masculino, a menina "faz seu juízo e toma sua decisão num instante. Ela o viu, sabe que não o tem e quer tê-lo" (Freud, 1925/1976d, p. 314). Ao constatar sua castração, ela identifica o pênis como o equivalente superior de seu clitóris e passa a ser dominada pela inveja do pênis (penisneid).

Vemos que a noção de falo institui, pois, uma lógica calcada em ter ou não ter; o não ter aqui sendo entendido como resultado da castração. Conclui-se nessa formulação freudiana que é pela falta que a menina será compreendida pelo menino. Em Organização genital infantil (Freud, 1923/1976b) é desenvolvido o engendramento, com o primado do falo, da dimensão da falta: na medida em que o pênis é tido como faltoso ou como algo que pode vir a faltar, ele ganha importância. A concatenação do falo com a castração é, pois, evidente. A diferença fundamental em como meninos e meninas posicionam-se em relação à castração está no fato de que os primeiros temem a sua ocorrência, ao passo que as últimas a concebem como um fato consumado.

As análises por Freud conduzidas levaram-no a postular que a sexualidade humana é organizada a partir da experiência infantil acerca da presença ou ausência do pênis. A sexualidade infantil não é, assim, nem masculina nem feminina, é unicamente fálica. As duas posições sexuadas - viril e feminina - só se constituem após a passagem pelo complexo de Édipo e seu subsequente declínio. Ao final desse percurso, a subjetivação da presença ou ausência do pênis se dará sob as fórmulas tenho ou não tenho. Assim sendo, na assunção de seu sexo, o homem se identificará como aquele que tem o falo - e por isso se constitui a partir do temor da castração - e a mulher como aquela que não o tem, constituindo-se a partir da inveja do pênis.

Entretanto, Freud nos ensina que, em sua constituição, a sexualidade feminina exige mudanças suplementares em relação à masculina. Em uma série de artigos dos anos 1920 e 1930, ele nos mostra que a feminilidade implica que a menina efetue uma mudança de zona erógena (do clitóris para a vagina) e uma mudança de objeto de investimento (da mãe para o pai). De acordo com essas formulações, a eliminação da sexualidade clitoridiana é precondição para o desenvolvimento da feminilidade: "Seu reconhecimento da distinção anatômica entre os sexos força-a a afastar-se da masculinidade e da masturbação masculina, para novas linhas que conduzem ao desenvolvimento da feminilidade" (Freud, 1925/1976d, p. 318). Nesse processo, os caminhos a serem percorridos não estão prefigurados e o tornar-se mulher estará sujeito a percalços e impasses, que envolverão a pulsão e o corpo, como veremos na anorexia.

Inicialmente, nos diz Freud em A dissolução do complexo de Édipo (1924/1976c), o clitóris para a menina ocupa um lugar semelhante ao do pênis para o menino. Entretanto, ao se deparar com o órgão masculino, a menina é tomada por um sentimento de inferioridade e pela sensação de que foi vítima de uma injustiça. Diante da constatação de sua castração, a menina volta-se contra a mãe, responsabilizando-a por sua falta de pênis, ao mesmo tempo em que se afasta da sexualidade clitoridiana (masculina), em prol da vaginal.

Em Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos (Freud, 1925/1976d), o acento recai sobre a questão do objeto de investimento: se tanto para os meninos quanto para as meninas a mãe se constitui como o primeiro objeto de investimento sexual, o Édipo feminino comporta um problema a mais que o dos meninos. Isso porque no Édipo masculino esse objeto é mantido, enquanto no feminino ocorre uma transferência de objeto, da mãe ao pai. A ausência do pênis é compensada por meio de um deslizamento simbólico do pênis para um bebê, cuja consequência é o surgimento de um desejo na menina de receber um filho do pai. Entretanto, a sexualidade infantil não encontra seu ponto resolutivo na organização fálica; o real do corpo e o encontro com o parceiro sexual trarão novas exigências a partir da puberdade, momento a partir do qual interrogamos a irrupção de algumas anorexias.

Lacan (1998a) dá novos contornos à problemática da sexualidade ao formular que tal subjetivação confere ao falo uma significação e faz dele não só a imagem do pênis, mas um significante. A novidade aqui é precisamente a distinção entre o falo imaginário e o falo simbólico, com o acento colocado neste último. A função simbólica do falo é justamente a castração - entendida como restrição de gozo - e implica que o ser falante, seja homem ou mulher, pelo fato mesmo de que fala e habita a linguagem, é marcado pela falta.

Assim, partindo da perspectiva freudiana acerca do falocentrismo da sexualidade, é preciso dar um passo adiante. Trate-se da sexualidade masculina, trate-se da feminina, o falo está em cena com um papel privilegiado. No entanto, como veremos, as consequências da incidência do falo para os sujeitos femininos instauram um além dele próprio, característico da feminilidade e fonte de impasses, para os quais a anorexia pode constituir uma resposta.

Em Diretrizes para um Congresso sobre a sexualidade feminina (1998b), Lacan indaga se a mediação fálica é capaz de drenar tudo o que pode se manifestar de pulsional na mulher, ou seja, indica que, quando se trata da feminilidade, há algo referente à esfera pulsional que escapa da mediação operada pelo falo. O que seria essa dimensão pulsional para além do falo em jogo na posição feminina?

No inconsciente, só há o falo para dar conta da inscrição sexual. Isso quer dizer que, como todo sujeito, as mulheres são submetidas à castração; ou seja, como qualquer ser falante, elas têm que consentir com a perda de uma parcela de gozo para inscrever-se na linguagem. Mas, ao mesmo tempo, parecem possuir uma relação com o falo que implica também algo de outra ordem. Aquilo que é mais próprio da feminilidade não está, pois, inscrito na ordem fálica; donde a diferença sexual do ponto de vista do inconsciente não se resumir na oposição binária entre presença e ausência do falo imaginário.

É apenas no seminário 20, Mais, ainda, com a análise do mito freudiano construído em Totem e tabu (Freud, 1913/1976a), que Lacan (1985) efetivamente elaborará a dimensão pulsional para além do falo, presente na posição feminina. Nesse seminário, o tema da sexualidade feminina é balizado pela questão do gozo. Com efeito, homens e mulheres se situam de forma diferente na ordem fálica. Para dar conta disso, Lacan desenvolve as fórmulas da sexuação, que expressam em termos lógicos as relações entre os sexos, avançando as formulações desenvolvidas em 1971 durante seu seminário Um discurso que não fosse semblante (Lacan, 2009), que explicitavam a inexistência da relação sexual, isto é, sua impossibilidade de inscrição.

No mito freudiano, o pai da horda é todo-poderoso, o único com direito ao gozo absoluto das mulheres da tribo. Seus filhos, os demais membros da horda, têm o acesso às mulheres impedido pelo pai. Em um determinado momento, estes, então, juntam-se para matá-lo, devorando-o em seguida como modo de incorporação do poder do pai. A lembrança do gozo do pai morto o mantém presente como exceção constitutiva e reguladora dos filhos, que, para permanecerem juntos, devem renunciar ao gozo pleno, formalizando a proibição do incesto enquanto lei.

O ingresso no laço social implica, assim, uma restrição de gozo. A partir do consentimento com a perda de gozo, o sujeito do desejo pode advir. A inscrição da dimensão da falta é condição necessária para desejar, de modo que, para tomar uma mulher como objeto do desejo, é preciso que não se possa gozar de todas. Os sujeitos que se inscrevem do lado masculino têm todo o seu gozo submetido à função fálica. Há unidade entre o desejo e a lei; isso quer dizer que, ao consentir com a incidência da linguagem, o sujeito renuncia ao acesso ao gozo pleno em troca da promessa de outro gozo, aquele próprio dos sujeitos da Lei, o gozo fálico.

No escrito Subversão do sujeito e dialética do desejo, lê-se que "a castração significa que é preciso que o gozo seja recusado, para que possa ser atingido na escala invertida da Lei do desejo" (Lacan, 1998c, p. 841). Desenha-se aqui uma primeira distinção no campo do gozo, aquela entre um gozo absoluto e um gozo fálico. Com efeito, em 1960, não parece plausível para Lacan que o gozo absoluto referente ao pai da horda seja identificado ao gozo sexual. O gozo sexual parece ser uma espécie de delimitação do gozo absoluto, infinito: "É a simples indicação desse gozo em sua infinitude que comporta a marca de sua proibição e, para constituir essa marca, implica um sacrifício: o que cabe num único e mesmo ato, com a escolha de seu símbolo, o falo" (Lacan, 1998c, p. 836).

Em Mais, ainda, Lacan (1985) propõe outra distinção no campo do gozo, extraída da lógica da sexuação, que apresenta o gozo fálico e um Outro gozo, que lhe é suplementar, não circunscrito pela função fálica. O gozo fálico não é aqui entendido como uma delimitação desse gozo Outro, mas regido pela lógica própria à castração, enquanto o gozo suplementar não é subsumido por esta lógica. Veremos como é desenvolvida essa distinção.

 

A sexuação e o gozo suplementar

Nas fórmulas da sexuação, os sexos são distinguidos pelo modo como o sujeito - argumento (x) da função - se inscreve na função do falo, que se escreve como (Φx). É importante lembrar que a função fálica, enquanto semblante, artifício de linguagem, faz suplência à ausência da relação sexual, isto é, à inexistência de proporção e complementaridade entre os sexos. Lacan faz uso ainda de outras duas notações lógicas: o quantificador universal, o para todo (), e o quantificador existencial, o existe ao menos um que (). Além disso, há a notação da negação, expressa por uma barra.

Do lado do todo, masculino, a primeira linha () diz respeito à exceção fundadora (existe um/algum que não está na ordem fálica) do conjunto fechado (todo) de homens (x Φ x). Maleval (1999) esclarece que, logicamente, um todo só é concebível a partir da existência de uma exceção que instaure um limite suturante. Assim, a exceção funda a regra.

Essa exceção toma como referência o mito do pai da horda freudiano, que submeteria seus filhos e gozaria de todas as mulheres com exclusividade, sem que recaia sobre seu gozo nenhuma restrição. Vemos que no mito de Totem e tabu (Freud, 1913/1976a) a dessimetria entre os sexos delineia-se da seguinte maneira: o sujeito do mito corresponde ao homem, e os objetos de gozo, às mulheres. Do lado masculino, vemos que a exceção funda o conjunto: é a existência do pai não castrado, do pai detentor do gozo absoluto que permitirá que todos os homens se inscrevam na ordem fálica.

Do lado não-todo das fórmulas, feminino, a situação se apresenta de outra maneira. Não há um correlato feminino para o Pai da horda, não havendo, nos termos do mito, nenhuma mulher impedida ao pai ou alguma em condição de exceção. Em vista disso, não há nenhuma mulher que não esteja inscrita na função fálica, ou seja, que escape à castração (). Todas as mulheres estão, assim, na função fálica.

E é justamente por conta da ausência de uma exceção fundadora que ao lado do todo masculino há o lado do não-todo () feminino. Isso implica a ausência de um conjunto fechado referente à posição feminina, ou seja, em termos lógicos as mulheres só podem ser abordadas uma a uma. Não há nenhum significante que funde o universal A mulher, fato este que leva Lacan (1985) a formular a polêmica proposição A mulher não existe:

Esse campo é o de todos os seres que assumem o estatuto da mulher - se é que esse ser assume o que quer que seja por sua conta. Além disso, é impropriamente que o chamamos a mulher, pois como sublinhei da última vez, a partir do momento em que ele se enuncia pelo não-todo, não pode se escrever. Aqui o artigo a só existe barrado (p. 108).

O não-todo referente à posição feminina na castração não quer dizer que há algumas mulheres que estão submetidas à ordem fálica e outras não. Antes, explicita que todas as mulheres se inscrevem na ordem fálica, mas todas estão aí não-todas. Ao mesmo tempo, não se trata de tomar esse não-toda como algo da ordem de uma eficácia parcial, como se a castração não operasse nelas totalmente (o que aproximaria as mulheres da estrutura psicótica). Antes, o não-toda refere-se à impossibilidade de a função fálica dar conta do gozo feminino, pois este o excede: "Não é porque ela é não-toda na função fálica que ela deixe de estar nela de todo. Ela não está lá não de todo. Ela está lá à toda. Mas há algo mais" (Lacan, 1985, p. 100).

Ao mesmo tempo em que estão situados na ordem fálica e são marcados pela castração, os sujeitos femininos também possuem uma relação com o corpo e com o gozo tais que são suplementares à ordem fálica e, portanto, escapam de sua mediação. É em vista disso que o gozo feminino é denominado por Lacan como gozo Outro, Outro em relação à ordem fálica, suplementar a esta. Para as mulheres, o gozo se vê assim dividido em dois: um que se orienta em direção ao falo (Φ), que um homem pode encarnar, e outro referente à falta de significante no Outro, uma vez que não há nenhum significante no Outro que diga o que é uma mulher. Esse é propriamente o gozo feminino, situado para além do falo.

Assim, há uma parcela do gozo que uma mulher não retira de seu parceiro, mas recebe, a mais, de seu próprio sexo. Nesse sentido, a mulher experimentaria em seu próprio corpo a alteridade: "A questão é, com efeito, saber no que consiste o gozo feminino, na medida em que ele não está todo ocupado com o homem, e mesmo, eu diria que, enquanto tal, não se ocupa dele de modo algum [...]" (Lacan, 1985, p. 118).

Se, por um lado, a mulher tem uma parcela de seu gozo limitada pela castração (o gozo fálico) e alcançada através de uma função significante, por outro, lhe é possível um acesso a um gozo inteiramente distinto, que não reconhece os limites da função fálica, o que implica uma outra experiência de corpo. É devido a essa heterogeneidade quanto ao gozo que Lacan (1985) definirá a mulher como o Outro por excelência: "Chamemos heterossexual, por definição, aquele que ama as mulheres, qualquer que seja seu sexo próprio" (Lacan, 1985, p. 467). Longe de se resolver em uma oposição diacrítica, a diferença sexual supõe que a função fálica esteja em operação para homens e mulheres, ambos submetidos à castração entendida como subtração de gozo. A diferença refere-se a uma lógica que ultrapassa o ter ou não ter, pois faz intervir a exceção que funda o conjunto masculino, quando o gozo está todo limitado pelo falo, enquanto, do lado das mulheres, a plena operação da função fálica deixa fora de seu domínio uma parcela de gozo não mediado pelo significante.

Por estar além dos limites da função fálica, há uma impossibilidade de qualquer elucubração de saber acerca desse gozo, do qual as mulheres nada sabem e não podem dizer sobre ele. Podem apenas reconhecer que o experimentam:

Há um gozo dela, desse ela que não existe e não significa nada. Há um gozo dela sobre o qual talvez ela mesma não saiba nada a não ser que o experimenta - isso ela sabe. Ela sabe disso, certamente, quando isso acontece. Isso não acontece a todas elas (Lacan, 1985, p. 100).

Para termos alguma notícia do gozo suplementar, Lacan sugere que nos voltemos para o testemunho dos místicos. Nesses testemunhos, entretanto, talvez o que se evidencia é a impossibilidade mesma de a linguagem dar conta da dimensão para além do falo:

Apesar, não digo de seu Falo, apesar daquilo que os atrapalha quanto a isso, eles entreveem, eles experimentam a ideia de que deve haver um gozo que esteja mais além. É isto que chamamos os místicos. [...] É claro que o testemunho essencial dos místicos é que eles o experimentam, mas não sabem nada dele (Lacan, 1985, p. 102-103).

Em sua autobiografia, Santa Tereza D'Ávila (D'Ávila, 2010) se esforça para dizer da experiência de seu arrebatamento por Deus. No entanto, como nos mostra Solano-Suárez (2003), a religiosa explicita em muitos momentos sua dificuldade em encontrar palavras que expressem o gozo experimentado no corpo. Fica claro, no entanto, na narrativa de Santa Tereza, que sua união com Deus produz nela fenômenos corporais:

Então, quando está no arrebatamento, o corpo fica como morto, sem poder nada por si mesmo, muitas vezes, e do jeito que o toma, fica: se em pé, se sentado, se as mãos abertas, se fechadas. Porque, ainda que poucas vezes, se perde os sentidos, aconteceu-me perdê-los totalmente. São poucas e por pouco tempo. Mas, o normal é se turbar. E ainda que não consiga fazer nada sozinha quanto ao exterior, não deixa de perceber e ouvir como se fosse uma coisa de longe. Não digo que perceba e ouça quando está no alto do arrebatamento [...], pois então não vê, nem ouve, nem sente, ao que me parece. [...] O que acontece comigo é que [...] experimenta-se o gozo com intervalos (D'Ávila, 2010, p. 185).

Tais fenômenos provocam uma imensurável dor, o que a leva a ficar acamada nos dias que se seguem a esses episódios. No entanto, como enfatiza Solano-Suárez (2003), a religiosa esclarece que as dores no corpo são acompanhadas por um gozo delicioso. Tal é a experiência mística, não generalizável, que merece ser contraposta à irrupção de um gozo corporal com que o sujeito não consente e que tenta fazer passar ao significante. Como cifrar a satisfação pulsional que perpassa o corpo? Uma possibilidade seria a anorexia, com a redução da carne suscetível ao gozo.

 

Anorexia e gozo feminino

De início, ressaltamos que não pretendemos, com base no ensino lacaniano, estabelecer uma teoria geral da anorexia. Esta seria uma tarefa impossível, visto que o sintoma anoréxico desempenha uma função singular para cada sujeito, devendo, por isso, ser analisado caso a caso.

Em A direção do tratamento e os princípios de seu poder, Lacan (1995) afirma que o comer nada da anoréxica não se trata de um não comer, ou seja, não se trata de uma negação da atividade, mas, antes, o nada possui, para a anoréxica, estatuto de objeto e, mais ainda, de objeto separador. O nada enquanto objeto separador constitui um recurso para os sujeitos às voltas com os impasses na separação (como nos mostram os trabalhos de Recalcati (2001) e de Silva & Bastos (2006)). Nesses casos, o comer nada possuiria a função de tornar operativa a falta no Outro, mediante uma recusa da "papinha sufocante" (Lacan, 1999, p. 643).

No entanto, tomar a anorexia como um recurso do sujeito face aos impasses referentes ao encontro com o desejo do Outro parece não ser suficiente para dar conta de alguns casos de anorexia de jovens mulheres, cujo sintoma aparece preponderantemente na puberdade. Parece-nos que a anorexia das jovens mulheres pode referir-se, sempre de acordo com o caso, a algo relativo à assunção do sexo e estar balizada por impasses relativos ao gozo feminino.

Que impasses seriam esses e como a anorexia aí se interpõe? Muitas são as possibilidades de resposta a essas questões, e não pretendemos esgotá-las. Nossa hipótese de investigação é a de que as estratégias anoréxicas em certos casos de adolescentes e jovens mulheres consistem justamente em modos de lidar com o gozo Outro próprio da feminilidade, não excluindo outras manobras tal como aquela que recorre ao objeto nada.

A primeira estratégia diz respeito propriamente à tentativa da anoréxica de estabelecer uma exceção no lado feminino. Com efeito, a literatura psicanalítica (trabalhos tais como os de Cacciali (2005), Recalcati (2001) ou Soria (2001)) documenta que, em alguns casos, a anoréxica busca justamente instaurar a exceção que não há do lado feminino, para que, assim, o conjunto das mulheres possa ser constituído. Isso quer dizer que não há, por parte desses sujeitos, consentimento com o gozo suplementar, com o gozo Outro, com o não-todo característico da posição feminina. Assim sendo, a anoréxica encarna ela própria o lugar da exceção: há pelo menos uma que não come, que não necessita comer, que come nada.

A segunda estratégia, que também visa escamotear o não-todo, é caracterizada por Soria (2001) como uma nomeação imaginária. Através do corpo magro, esquálido, a anoréxica procura o significante que não há, aquele que poderia dizê-la. O recurso à magreza é uma tentativa de nomear-se, através da imagem, e de velar a ausência de significante no simbólico que dê a significação para o que é uma mulher. É através da imagem que busca nomear-se como anoréxica. A insuficiência desse recurso (Pencak & Bastos, 2009) evidencia-se no fato de o corpo nunca ser suficientemente magro: para a anoréxica, sempre há algo mais a ser perdido.

Vemos, portanto, nessas duas estratégias, que a anoréxica procura justamente tratar o que há de pulsional na feminilidade e que não é passível de ser drenado pelo falo. Busca, em última instância, aniquilar a dessimetria sexual enquanto tal, sacrificando a si mesma para isso, evidentemente, não sem um incremento de gozo. Trata-se, portanto, de uma cifragem da parcela de gozo feminino, justamente da parte que atesta a dessimetria entre homens e mulheres, bem como a alteridade que o gozo suplementar impõe aos sujeitos posicionados no lado mulher da partilha dos sexos.

O confronto com o gozo não regulado falicamente não aguarda o advento da puberdade, mas deve ser diferenciado da experiência do gozo corporal feminino. A criança de ambos os sexos depara-se com o gozo desregrado, à medida que a mãe também é mulher e sua satisfação pulsional não se esgota nem no investimento fálico que deposita na criança, nem na relação com o homem que a toma como objeto de seu desejo. Parte de seu gozo não está dirigida ao falo, escapa a ela própria, como uma forma de alteridade a si mesma, conforme foi colocado anteriormente.

De forma paralela, o homem também é suscetível de se deparar com ele e de buscar evitá-lo quando o vislumbra de modo enigmático e assustador na mulher. O que traz de novo a puberdade feminina não é o encontro com o gozo desregulado ou enigmático das mulheres, mas sua experiência corporal no encontro com o Outro, bem como sua assunção.

Um aspecto presente em quadros de anorexia é a perturbação na subjetivação da imagem corporal. Jovens analisantes afirmam sentir-se gordas, embora saibam que estão magras. Como podem sabê-lo, se não o experimentam? Explicam que basta ver o peso na balança ou as roupas que ficaram largas. No entanto, o espelho lhes devolve a imagem de um corpo gordo e disforme, marcado pelo excedente de carne, que precisa ser eliminado através de dieta rigorosa e contabilidade draconiana das calorias ingeridas.

Contra a possibilidade de considerar a anorexia um distúrbio da ordem da imagem, é preciso lembrar que a constituição da imagem corporal depende do posicionamento do sujeito no simbólico, ou seja, a posição do olho em relação ao espelho determina tanto a

apreensão de si como corpo quanto a distorção da autoimagem e mesmo a impossibilidade de constituição da imagem do corpo. Esse aspecto imaginário - é preciso dizer - não está presente em todos os casos de anorexia, mas, nos casos em que se apresenta, merece ser conjugado com o real do gozo feminino que não encontrou consentimento subjetivo. Ao invés do assentimento ao gozo feminino propriamente dito, a anoréxica se consagra a um gozo narcísico da imagem. Na impossibilidade de encontrar um significante para o gozo feminino ou na impotência em assumi-lo a título de satisfação, a anoréxica se encontra às voltas com seu retorno no imaginário. Como sustenta Desbordes (2012):

É, então, logicamente pelo corpo, por sua tentativa de domínio e por sua significância, que a anoréxica pensa poder regular o gozo que a atravessa: tentando regulá-lo, ela o convoca e é pega em sua armadilha, feminina (Desbordes, 2012, p. 109, tradução nossa).

 

Concluindo

Entre as anorexias que afetam as crianças de ambos os sexos e aquelas apresentadas por adolescentes e jovens mulheres, incide a questão não simplesmente da sexualidade, mas da sexuação. Especialmente para os sujeitos posicionados no lado das mulheres, a sexuação não encontra um estado resolutivo na infância, exigindo as mudanças destacadas por Freud (1925/1976d): a de objeto de investimento libidinal e a de deslocamento da erogeneidade corporal.

Enquanto a sexualidade infantil se configura de acordo com a organização fálica, as transformações da puberdade confrontam a adolescente com o gozo feminino não absorvido pelo falo. Agora, trata-se de um gozo do corpo, de um gozo suplementar, com o qual a jovem consente ou que a confronta com impasses na impossibilidade de fazê-lo passar ao significante.

A alta incidência de anorexia entre adolescentes e jovens mulheres não parece, por conseguinte, uma forma de expressão do feminino, nem uma recusa da feminilidade tout court, mas uma resposta à irrupção do gozo no corpo. As anorexias que primam pela apreensão do corpo dilatado ou disforme, antes de constituírem uma patologia da imagem, a nosso ver, traduzem o retorno na autoimagem corporal de algo que se tenta cifrar, levando à insistência em extirpar a gordura suplementar. Certamente, essa forma de anorexia não se aplica a todos os casos, mas adverte o psicanalista quanto à necessidade de trazer para a consideração clínica as peculiaridades do gozo feminino e de sua assunção.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Joana Maia Simoni
joanams@gmail.com
Angélica Bastos
abastosg@terra.com.br

Submetido em: 21/02/2013
Revisto em: 01/07/2013
Aceito em: 03/07/2013

 

 

* Artigo referido à dissertação de mestradoda autora, "O masoquismo das mulheres: fantasia masculina, semblante feminino", orientada pela coautora no PPG Teoria Psicanalítica, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defendida em 2011, com o apoio do CNPq e da FAPERJ (Bolsa Nota 10).