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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.67 no.2 Rio de Janeiro  2015

 

ARTIGOS

 

Conjugalidade e parentalidade: uma revisão sistemática do efeito spillover*

 

Matrimonio y paternidad: una revisión sistemática del efecto spillover

 

Marital conflict and parenting: systematic review of the spillover

 

 

Bianca da Rocha HameisterI; Paola Vargas BarbosaII; Adriana WagnerIII

IMestre. Programa de Pós Graduação em Psicologia. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Rio Grande do Sul. Brasil
IIDoutora. Programa de Pós Graduação em Psicologia. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Rio Grande do Sul. Brasil
IIIDocente. Programa de Pós Graduação em Psicologia. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Rio Grande do Sul. Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Relações parentais funcionais ou disfuncionais reverberam sobre todos os membros do sistema familiar. O objetivo deste trabalho foi revisar sistematicamente a literatura nacional e internacional dos últimos dez anos, mapeando o conflito conjugal, suas reverberações na parentalidade e no desenvolvimento dos filhos. Utilizaram-se as palavras-chave "couples" e "parents", "conflict" e "marriage" e "children", "spillover" e "conjugalidade" e "conflito", nas bases de dados Scopus, Medline, Lilacs, Scielo e Pepsico. Foram selecionados 76 artigos completos, revisados por pares, que envolvessem a temática do conflito na dinâmica familiar. Os resultados relatam os principais dados sobre o contexto desses estudos, instrumentos mais utilizados e seus principais achados. Os dados indicam consistência na literatura no que se refere às consequências dos distintos tipos de conflitos do casal para o desenvolvimento dos filhos. Constatou-se escassez de pesquisas sobre o tema na população brasileira.

Palavras-chave: Relações conjugais; Relações familiares; Conflito conjugal; Filhos.


ABSTRACT

Functional or dysfunctional parental relationships reverberate on all members of the family system. The aim of this study was to systematically review national and international literature of the last 10 years, to map marital conflict and its reverberations on parenting and children's development. The following key words were used, at Scopus, Medline, Lilacs, SciELO and Pepsico: "couples" and "parents", "conflict" and "marriage" and "children", "spillover" and "marital" and "conflict". 76 complete articles, revied by peers, that involved the conflict in the family dinamic were selected. Results report data about the context of the studies, the instruments they used and their main findings. Data showed consistency in literature in terms of the different types of marital conflict and their consequences for children's development. A dearth of research on the topic in the Brazilian population was found.

Keywords: Marital relations; Family relations; Marital conflict; Children.


RESUMEN

Relaciones parentales funcionales o disfuncionales reverberan en todos los miembros del sistema familiar. El objetivo de este estudio fue revisar sistemáticamente la literatura nacional y internacional de los últimos 10 años con el fin de conocer el conflicto marital y sus reverberaciones en la crianza y desarrollo de los niños. Utilizamos las palabras clave "couples" y "parents", "conflicto" y "marriage" y "children", "spillover" y "marital" y "conflicto" en el Scopus, Medline, Lilacs, SciELO y Pepsico. Tras la lectura de los resúmenes, fueran selecionados y analizados 76 artículos completos, revisado por consultores ad hoc, y que presentavan el tema del conflicto conyugal y sus consecuencias en la familia. Los datos principales fueran analisados a partir del contexto de los estudios, los instrumentos más utilizados y sus principales resultados. Los datos reunidos revelan las consecuencias del conflicto para el desarrollo de los niños y la relación con los diferentes tipos de conflicto entre la pareja. Se encontró una escasez de investigación sobre el tema en la población brasileña.

Palabras clave: Relaciones conyugales; Relaciones familiares; Conflictos conyugales; Niños.


 

 

Conjugalidade e parentalidade: uma revisão sistemática do efeito spillover

A relação existente entre a qualidade do vínculo conjugal e a forma como os membros do casal exercem a parentalidade vem sendo discutida na literatura desde a década de 1980. Os resultados das primeiras pesquisas que investigaram tal associação já apontavam que bons níveis de funcionamento conjugal relacionam-se com o desenvolvimento saudável dos filhos (Goldberg & Easterbrooks, 1984). Desde então, muitos estudos têm sido realizados buscando conhecer a influência recíproca entre a conjugalidade e a parentalidade.

Uma das hipóteses explicativas para compreender a dinâmica desse processo foi denominada de efeito spillover (Erel & Burman, 1995). Tais autores afirmam existir um transbordamento do clima emocional da relação de conjugalidade dos progenitores para a parentalidade e vice-versa. De acordo com essa perspectiva, a qualidade da relação conjugal tem um impacto no subsistema parental, sendo que um relacionamento conturbado entre o casal tende a trazer consequências negativas para os filhos (Mosmann, Zordan, & Wagner, 2011). Por outro lado, um relacionamento conjugal marcado por estratégias positivas na resolução dos conflitos pode reverberar positivamente no desenvolvimento da prole (Mc Coy, Cummings, & Davies, 2009), a partir do aumento dos níveis de responsividade, adaptabilidade e coesão parental (Mosmann, 2007).

Estudos têm sido realizados, a partir de diferentes enfoques, na tentativa de compreender como ocorre esse processo de reverberação, já que nem todas as crianças expostas a experiências negativas - como o conflito conjugal - desenvolvem problemas de ajustamento. As diferenças individuais, como a capacidade de resiliência ou características da personalidade dos filhos e variáveis referentes ao funcionamento da família, como as práticas parentais ou a existência de alianças entre a criança e os pais, exercem um importante papel nessa dinâmica (Grych, Raynor, & Fosco, 2004). A interação entre as características individuais dos pais (personalidade, satisfação com o casamento e com a parentalidade) e do conflito conjugal (motivos, intensidade, resolução) também são variáveis importantes para compreender o processo de transbordamento entre os subsistemas conjugal e parental (Carlson, Pilkauskas, Mc Lanahan, & Brooks-Gunn, 2011; Feinberg, Jones, Kan, & Goslin, 2010).

Nesse sentido, pesquisas apontam que casais com baixos níveis de satisfação conjugal, que vivenciam conflitos intensos e frequentes, têm sua relação com os filhos afetada negativamente (Erel & Burman, 1995), demonstrando a permeabilidade entre a conjugalidade e a parentalidade. A literatura da área também demonstra a existência de dois importantes modelos teóricos que fundamentam grande parte das pesquisas sobre o efeito spillover. O Modelo Cognitivo-Contextual preconiza que a interpretação das crianças sobre o conflito interparental e o contexto em que vivem tem importante papel nos efeitos que o conflito terá sobre elas (Grych & Fincham, 1990). Já o Modelo da Segurança Emocional sugere que o sentimento de proteção e a segurança emocional vivenciados na família têm função central na forma como os filhos lidam com o conflito conjugal e, consequentemente, em seu ajustamento psicológico (Davies & Cummings, 1994).

Pesquisas que se apoiaram nesses dois modelos apontam que diferentes variáveis atuam como mediadoras ou moderadoras do efeito spillover. Algumas delas são: triangulação do conflito (envolver o filho nos desentendimentos do casal), problemas internalizantes (sintomas de ansiedade e depressão) ou externalizantes (comportamentos agressivos ou opositivos), esperança dos filhos a respeito da resolução da situação, apego aos pais e sintomas depressivos dos cônjuges (Buehler & Welsh, 2009; Pedro, Ribeiro, & Shelton, 2012). A complexidade da relação entre variáveis na construção do efeito spillover tem, inclusive, revelado a necessidade de lançar mão de métodos mais abrangentes de investigação do fenômeno.

Com isso, é possível identificar o papel de mais de uma variável no processo de spillover em um mesmo estudo. Uma dessas variáveis diz respeito às características específicas do conflito conjugal. A literatura aponta quatro dimensões como elementos fundamentais para definir seu impacto no desenvolvimento dos filhos: a frequência, a intensidade, o conteúdo e a resolução dos conflitos. A forma como ocorre a situação conflituosa pode contribuir para um melhor desfecho quando o casal apresenta manejo apropriado e habilidades de comunicação, ou o contrário, no caso de uso de agressividade física e verbal (Benetti, 2006).

Outra diferenciação que colabora para a compreensão dos desentendimentos entre o casal se dá a partir dos conceitos de conflito construtivo e destrutivo, ambos com diferentes impactos no contexto familiar. O primeiro envolve estratégias positivas de resolução dos problemas, como a busca pelo acordo, boa comunicação e demonstração de afeto e apoio entre o casal. O segundo, por outro lado, abrange o uso de hostilidade, raiva, agressão física e/ou verbal e insultos pessoais durante a situação conflituosa. Conforme esperado, as estratégias construtivas não apenas reduzem respostas negativas ou problemas de ajustamento dos filhos, como também aumentam aspectos positivos do funcionamento psicológico deles (Mc Coy et al., 2009).

Assim, muitos são os fatores envolvidos no processo do spillover, com diferentes possibilidades a respeito do papel que o conflito exerce na família. Frente a isso, torna-se relevante conhecer como a literatura da área vem retratando esse fenômeno e quais as variáveis que têm sido consideradas nos estudos sobre esse processo. Diante da importância dessa temática para a saúde do ambiente familiar, este trabalho pretende mapear o conflito conjugal e suas reverberações na parentalidade e no desenvolvimento dos filhos. Objetiva-se também conhecer as principais variáveis relacionadas, identificando como o fenômeno spillover se apresenta na literatura brasileira e internacional dos últimos dez anos.

 

Método

As buscas da presente revisão sistemática foram realizadas nas seguintes bases de dados: Scopus e Medline, através do Portal Periódicos Capes; e Lilacs, Scielo e Pepsico, pelo site BVS Psicologia ULAPSI - Brasil. Utilizaram-se os descritores "couples" e "parents", "conflict" e "marriage" e "children", "spillover" e "conjugalidade" e "conflito".

Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos completos publicados a partir de 2004, em inglês, português ou espanhol, com acesso gratuito e revisado por pares. Foram encontrados 4.992 artigos. Destes, foram eliminados aqueles que não se adequavam aos critérios estabelecidos ou que não indicavam incluir diretamente a temática do "spillover".

Os artigos foram inicialmente selecionados com base na leitura dos títulos e resumos/abstracts. A partir disso foram selecionados 162 artigos. Uma segunda etapa da seleção foi realizada, sendo excluídos os artigos cujas temáticas não envolviam a relação entre o conflito e a dinâmica familiar. Nesse sentido, estudos com foco principal em fatores como trabalho, saúde física, doenças mentais, alimentação, relações de gênero e sexualidade não permaneceram na amostra final.

Ao fim desse processo foram selecionados e lidos na íntegra 76 artigos, os quais foram organizados em uma planilha contendo dados de identificação do manuscrito (título, autores, ano de publicação e revista publicada), participantes, objetivos, delineamento, temáticas associadas, instrumentos utilizados e principais resultados. Os dados de identificação dos estudos foram resumidos, e os principais resultados apresentados nos trabalhos foram agrupados em categorias temáticas. Estas foram construídas a partir dos critérios estabelecidos por Bardin (2011), isto é, categorias que fossem mutuamente excludentes, homogêneas, pertinentes, objetivas e produtivas.

 

Resultados

A análise do material será apresentada partindo do contexto dos artigos analisados e, posteriormente, do conjunto de achados derivados destes.

Contexto dos artigos

O contexto dos artigos se refere às informações a respeito do ano e local de publicação, participantes e os métodos que originaram os estudos analisados, como pode ser visto na Tabela 1. Também se explicitam na tabela os instrumentos mais utilizados nas pesquisas sobre o tema, considerando o delineamento dos estudos.

 

 

No que se refere ao volume de publicação dos trabalhos, foi possível identificar uma queda na quantidade de trabalhos sobre a temática nos últimos três anos. Quanto ao local, percebe-se predominância de pesquisas realizadas nos Estados Unidos (60 artigos, 79%). No Brasil foram produzidos apenas 4% do total das publicações analisadas (3 artigos), evidenciando a escassez de estudos sobre a temática no país. Outros trabalhos encontrados haviam sido realizados na Europa em países como Holanda, Portugal, Reino Unido e Alemanha, assim como na Ásia (China e Coreia do Norte). A análise diádica ou triádica (84%), mais especificamente envolvendo casais e seus filhos (59%), também foi predominante, o que indica a importância do olhar sobre a relação que se estabelece entre os subsistemas em pesquisas sobre essa temática, que se caracteriza por ser eminentemente relacional (Villas Boas et al., 2010). Em contrapartida, quando a análise era individual, o foco foi avaliar os filhos (67%) ou suas mães (25%), negligenciando a visão do pai a respeito do tema.

Dentre os estudos, foram encontradas diferentes estratégias metodológicas. São exemplos: avaliação de programas de intervenção para pais (Faircloth & Cummings, 2008; Feinberg et al., 2010), pesquisas longitudinais (46% do total) e abordagem multimétodo (43% do total). Quanto aos instrumentos, foram utilizados questionários, escalas e/ou entrevistas combinadas com codificação de vídeos sobre a interação entre o casal e/ou a família, com uso do System for Coding Interaction in Dyads (Sturge-Apple, Davies, & Cummings, 2006), por exemplo. As principais variáveis mensuradas incluem as interações entre os grupos, como já mencionado, as estratégias de resolução de conflitos - Conflict Resolution Styles Inventory (Van-Doorn, Brange, Vandervalk, De Goede, & Meeus, 2011), as práticas parentais - The Parenting Scale (Feinberg et al., 2010) e o ajustamento dos filhos - Child Behavior Checklist (Garcia, Marín, & Currea, 2006).

Conjunto dos achados

Com a análise dos resultados dos artigos, emergiram alguns temas, os quais foram agrupados em categorias de conteúdos afins. Sabe-se que o conflito conjugal não deve ser examinado como um construto unidimensional. É preciso considerar sua condição de ressonância, a qual se modifica conforme se processa no ambiente. Assim, conflitos construtivos e destrutivos têm diferentes impactos nos processos familiares e no desenvolvimento da prole (Mc Coy et al., 2009). É importante mencionar que, por esse caráter bidimensional do conflito e por muitos artigos incluírem diversas variáveis em seus resultados, estes não se limitam a apenas um tipo de spillover, explorando tanto reverberações construtivas quanto destrutivas do conflito conjugal.

A partir desse pressuposto, os artigos foram organizados, de acordo com o conteúdo de seus achados, em quatro categorias. Duas caracterizam a bidimensionalidade do conflito, no caso, spillover dos conflitos construtivos e spillover dos conflitos destrutivos. Nessas categorias também serão descritas as possíveis consequências da situação conflituosa para o desenvolvimento dos filhos. Estas podem ter relação direta com o conflito conjugal, a partir da exposição a ele (Cummings, Goeke-Morey, & Papp, 2004), ou indireta, por meio de mudanças nas práticas parentais (Carlson et al., 2011), do apego na família (Milings, Walsh, Hepper, & O'Brien, 2013) ou pelo tipo de sentimento gerado na criança (Grych et al., 2004). A terceira categoria agrupa aqueles trabalhos sobre a maneira como os filhos interpretam e reagem aos conflitos do par parental, e a última reúne informações sobre alguns fatores de risco e proteção dos filhos em contextos conflituosos.

1. Categoria spillover dos conflitos construtivos

Um importante achado foi o de que apenas 26,3% do total de artigos se referiram ao spillover dos conflitos construtivos entre os subsistemas. Nessa categoria foram incluídos os relatos de resultados potencialmente saudáveis para as relações familiares ou para o desenvolvimento dos filhos, provenientes de conflitos ou estratégias construtivas de resolução.

O trabalho de Merrifield e Gamble (2013) revela que, quando o casal se envolve em atividades para manter o casamento e em ações para melhorar a satisfação conjugal, a eficácia de suas práticas parentais é maior do que naqueles que não investem na conjugalidade. Ou seja, ações buscando a melhora do subsistema conjugal acabam por ter resultados benéficos para a relação que se estabelece com o subsistema parental. Alguns exemplos de variáveis do casal parental associadas a bons níveis de qualidade conjugal são: o envolvimento parental (Carlson et al., 2011), o apoio parental (Stapleton & Bradbury, 2012) e o apego seguro entre pais e filhos (Milings et al., 2013; Roskam, Meunier, & Stievenart, 2011).

O spillover dos conflitos construtivos também provém do uso de estratégias que levam à resolução positiva do conflito. Quando o acordo foi possível entre os cônjuges/pais, os artigos relataram melhores resultados no funcionamento e no ajustamento psicológico dos filhos (Cummings et al., 2004; Mc Coy et al., 2009). Pais cujos filhos demonstraram comportamentos socialmente habilidosos indicaram melhor comunicação conjugal e avaliaram seu casamento de maneira mais positiva do que negativa (Bolsoni-Silva & Marturano, 2010).

O uso de estratégias positivas utilizadas pelos pais na resolução de conflitos se associou com o uso das mesmas pelos filhos em dois estudos (Bucx & Seiffge-Krenke, 2010; Van-Doorn et al., 2011). Quando um padrão de negociação, busca pelo acordo, empatia e apoio parental foi estabelecido na família, tanto entre o casal quanto na relação com os filhos, estes também se mostraram mais competentes para resolver os problemas com os pares (Feldman, Masalha, & Derdikman-Eiron, 2010). Tais achados evidenciam a importância das estratégias positivas de resolução dos conflitos conjugais para o aprendizado dos filhos. Nesses casos, ainda que sejam estudados de forma menos frequente (26,3% dos artigos analisados), os conflitos do subsistema conjugal tornam-se fontes de aprendizado da prole de como enfrentar as próprias dificuldades de modo construtivo.

2. Categoria spillover dos conflitos destrutivos

Essa categoria reuniu 84,2% do total dos artigos examinados, o que demonstra o maior foco dos estudos nas consequências negativas que o conflito conjugal pode gerar. Segundo os resultados encontrados, essa reverberação pode ocorrer de maneira direta, pela exposição ao conflito conjugal, ou indireta, advinda de mudanças nas atitudes de um ou de ambos os cônjuges ou dos sentimentos gerados na criança ou adolescente. Os pesquisadores demonstram que a reverberação direta ou indireta pode afetar tanto as relações entre o subsistema parental quanto o ajustamento e as relações dos filhos com seus pares.

Diversos estudos corroboram a existência de consequências destrutivas do conflito conjugal para as práticas parentais (Pedro et al., 2012; Schoppe-Sullivan & Mangelsdorf, 2013). A hostilidade e a evitação entre os cônjuges apresentaram-se associadas positivamente a maiores índices de indisponibilidade materna (Sturge-Apple et al., 2006), enquanto a agressividade entre o casal apareceu positivamente relacionada a comportamentos parentais mais punitivos e hostis (Doh et al., 2012; Taylor, Lee, Guterman, & Rice, 2010) e a menor apego dos filhos com seus progenitores (Laurent, Kim, & Capaldi, 2008). O uso de agressividade entre o casal também se associou ao aumento dos comportamentos disruptivos da criança - através dos quais expressa raiva ou frustração (Musick & Meier, 2010) e sintomas internalizantes (ansiedade e depressão) em casa e na escola (Lee, Beauregard, & Bax, 2005). Variáveis como a hostilidade entre os cônjuges (Benson, Buehler, & Jerard, 2008; Feldman et al., 2010; Low & Stocker, 2005), o aumento da exposição ao conflito ao longo do tempo (Atkinson, Dadds, Chipuer, & Dawe, 2009; Schermerhorn, Cummings, De Carlo, & Davies, 2007) e o estresse familiar (Flook & Fuligni, 2008), assim como as práticas parentais de controle psicológico e de menor compreensão e empatia (Benson et al., 2008), se mostraram bastante potentes na relação entre os problemas de ajustamento dos filhos (expressão de comportamentos inter e externalizantes) e os conflitos conjugais.

Tais distúrbios também podem estar relacionados, mediados ou moderados por características dos próprios filhos advindas da situação conflituosa, tais como sentimentos de culpa, estresse (Ablow, Measelle, P. A. Cowan, & C. P. Cowan, 2009) e insegurança emocional (Kouros, Merrilees, & Cummings, 2008). Progenitores que relataram vivenciar o sentimento de estresse no ambiente familiar também demonstraram práticas menos apoiadoras ao ensinar as crianças sobre suas próprias emoções (Nelson, O'Brien, Blankson, Calkins, & Keane, 2009).

A amplitude da reverberação do conflito conjugal nas práticas parentais faz com que outros aspectos sejam afetados, como o estilo de apego dos filhos. Estilos não seguros nos filhos se relacionaram com menores níveis de responsividade dos pais e maiores níveis de estilos parentais autoritário e permissivo (Milings et al., 2013). A parentalidade ainda se mostrou comprometida quando maiores níveis de conflito conjugal levaram à confusão de papéis, fazendo com que os filhos se sentissem impelidos a cuidar de seus pais, e estes, a envolvê-los em sua conjugalidade (Peris, Goeke-Morey, Cummings, & Emery, 2008). Variáveis mediadoras das dificuldades conjugais e parentais, como o alcoolismo, podem agravar o efeito spillover, já que, em tal contexto, o conflito se associa com o exercício ineficaz da parentalidade, disciplina inconsistente e controle psicológico (Keller, Cummings, & Davies, 2005).

Alguns dos resultados foram diferentes para os pais e para as mães, como os achados de que a responsividade paterna se relaciona mais à satisfação conjugal do que a materna (Stroud, Wilson, Durbin, & Mendelsohn, 2011). A insensibilidade ao estresse dos filhos e o controle psicológico do pai em relação a eles também apresentam correlação negativa com a satisfação conjugal (Davies, Sturge-Apple, Woitach, & Cummings, 2009). Para as mães, a estratégia de evitação do conflito conjugal teve relação com as práticas parentais e o aumento dos níveis de cortisol ao longo do tempo. Quanto maior a evitação, maior o nível de estresse e o uso de práticas negativas (hostilidade, controle, baixo apoio) com os filhos (Sturge-Apple, Davies, Cicchetti, & Cummings, 2009). O afeto entre o casal se relacionou com o afeto pais-criança, mas o conflito conjugal se associou significativamente com o conflito pais-criança apenas para as mães (Fauchier & Margolin, 2004).

Em famílias reconstituídas ou divorciadas, quando a criança foi exposta ao conflito em mais de um núcleo familiar, o risco para problemas externalizantes foi particularmente alto (Dunn, O'Connor, & Cheng, 2005). Isso reforça a ideia de que quanto maior a exposição ao conflito, maior a probabilidade de problemas de ajustamento, já que até mesmo conflitos construtivos se mostraram um risco para o comportamento infantil, nos casos de ambientes altamente conflituosos (Cummings et al., 2004).

No entanto, as consequências do conflito interparental para os filhos seguem ocorrendo até sua idade adulta. As características do relacionamento dos pais se mostraram preditoras das relações amorosas dos filhos, principalmente em padrões de agressividade ou hostilidade (Hare, Miga, & Allen, 2009; Whitton et al., 2008). Houve continuidade do comportamento conflituoso na família e da qualidade do ambiente (casal parental e pais-filhos) para as relações amorosas na geração seguinte (Topham, Larson, & Holan, 2005). Nesse padrão, a falta de regulação emocional é um importante mecanismo que se repete nas trocas conjugais (Kim, Pears, Capaldi, & Owen, 2009).

Caracterizando a dinâmica sistêmica do spillover, essa reverberação na família também pode ocorrer no sentido inverso - dos filhos para a conjugalidade dos pais. A literatura registra que os casais sentem que os filhos interferem no casamento tanto positiva quanto negativamente (Braz, Dessen, & Silva, 2005). Há ainda registros de que as crianças podem contribuir para a manutenção dos processos familiares destrutivos (Gerard, Krishnakumar, & Buehler, 2006). A direção dessa influência, de acordo com Jenkins, Simpson, Dunn, Rasbash e O'Connor (2005), é do aumento do conflito conjugal devido ao comportamento da criança ou adolescente. A existência de problemas externalizantes dos filhos se mostrou preditora do aumento do conflito interparental, por exemplo. Ter filhos adolescentes também foi um fator estressor para o casal, já que a qualidade conjugal diminuiu nessa fase do ciclo vital familiar (Cui & Donnellan, 2009).

Em análise mais específica sobre a permeabilidade das emoções e vivências entre os diferentes subsistemas, a relação com o genitor de sexo oposto ao do filho também se mostrou importante. Quando a qualidade dessa relação foi baixa, os adolescentes indicaram dificuldade para aprender sobre como se comportar em relações amorosas heterossexuais (Bucx & Seiffge-Krenke, 2010). Na relação com amigos esse padrão de spillover também se manteve (Feldman et al., 2010), o que enfatiza a importância de se atentar para o papel das características da família durante a infância e adolescência dos filhos para a construção de seus relacionamentos adultos no futuro.

3. Categoria interpretação e reação dos filhos frente ao conflito

A reverberação do conflito conjugal é regulada pela forma como os filhos interpretam e reagem ao conflito conjugal de seus pais (Grych & Fincham, 1990). As emoções vivenciadas por eles também foram consideradas e estudadas por Davies e Cummings (1994). Os relatos das crianças sobre os conflitos dos pais foram consistentes com as observações dos conflitos entre o casal, o que indica que os filhos percebem adequadamente as diferentes nuances do relacionamento entre seus pais (Lindahl & Malik, 2011). A triangulação, isto é, ser chamado a participar das discussões dos progenitores, destacou-se entre os resultados. Pesquisadores revelaram um aumento na participação dos filhos nas brigas quando os níveis de conflito eram maiores (Buehler & Welsh, 2009; Schermerhorn, Cummings, & Davies, 2005) e quando os adolescentes apresentaram emoções negativas frente à situação conflituosa (Grych et al., 2004; Schermerhorn et al., 2005). As crianças mostraram tendência a se aliar com aqueles com quem têm laços biológicos, em famílias reconstituídas, ou com o genitor com quem apresentam maior afeto em famílias intactas (Dunn et al., 2005).

Os resultados das pesquisas analisadas reportam ainda que os sentimentos de culpa, insegurança e ansiedade afetaram a percepção da criança sobre o conflito interparental e sua reação frente a ele. A sensação de ameaça, caracterizada como medo de que a constituição da família possa ser alterada ou de que a situação conflituosa leve a consequências negativas para si, também interferem na maneira como o filho vê e reage ao conflito conjugal. Quanto mais se sente ameaçado, maior sua tendência a reagir ativamente ou emocionalmente (Lindahl & Malik, 2011; Richmond & Stocker, 2007). Esses resultados se mantiveram especialmente quando a ameaça era referente a ser levado para dentro do conflito ou à possibilidade de que a briga entre o casal afetasse a relação de afeto entre os pais e a prole, chegando essa variável a ser a única preditora para problemas internalizantes dos filhos (Atkinson et al., 2009).

As crianças também demonstraram mais sentimentos negativos para conflitos destrutivos do que construtivos. Sentimentos de raiva e medo se associaram positivamente com uso de estratégias de intervenção e envolvimento para regular a exposição ao conflito, enquanto a tristeza relacionou-se positivamente com estratégias de evitação e monitoramento da situação conflituosa (Koss et al., 2011). Entretanto, os sentimentos de esperança, proteção e apego aos pais se revelaram como indicadores de proteção dos adolescentes (Buehler & Welsh, 2009).

4. Categoria fatores de risco e proteção aos filhos

Diante de tantas possibilidades de reverberação do conflito na família, foi possível identificar entre os trabalhos analisados, contudo, alguns fatores que podem ser considerados tanto de risco como de proteção à criança ou adolescente. O apego entre pais e filhos (Roskam et al., 2011), fatores genéticos (Horwitz et al., 2011) e fatores fisiológicos, como os níveis de funcionamento dos sistemas simpático e parassimpático (Koss et al., 2013), são exemplos de diferenças individuais que afetam a maneira como o spillover se apresenta em cada família. Já a satisfação conjugal (Garcia et al., 2006) e características parentais, como companheirismo (Davies & Lindsay, 2004), sensibilidade e apoio à autonomia dos filhos (National Institute of Child Health and Human Development Early Child Care Research Network [NICHD], 2004) se mostraram variáveis parentais protetivas aos filhos em contexto de conflito interparental. O mesmo ocorreu quando os filhos manejaram respostas proativas quanto a tal ocorrência (Schermerhorn et al., 2007).

 

Discussão e considerações finais

Os resultados dessa revisão sistemática corroboram o processo de spillover na família, tanto para conflitos construtivos quanto para os destrutivos. Houve consenso nas pesquisas analisadas sobre a existência de uma relação de influência mútua entre a conjugalidade e a parentalidade, especificamente no que se refere ao papel do conflito nessa relação. Por um lado, alguns dos artigos selecionados apontam os efeitos construtivos do spillover, demonstrando que investimentos na conjugalidade resultam em melhora das práticas parentais. Além disso, a utilização de estratégias construtivas de solução de conflitos entre o casal é também observada nos filhos na relação com seus pares. Por outro lado, os efeitos destrutivos de tal permeabilidade entre os subsistemas conjugal e parental são percebidos no desenvolvimento dos filhos quando o conflito conjugal não é bem manejado. Filhos de casais que vivenciam agressividade, hostilidade e evitação do conflito em seu relacionamento são os que sofrem com as piores práticas parentais, menor desenvolvimento de estratégias de regulação emocional, dificuldades para lidar adequadamente com o conflito, além de maiores níveis de ansiedade e depressão.

Entretanto, mesmo que a literatura revisada descreva resultados positivos e negativos do spillover, seus efeitos nocivos são mais frequentemente descritos do que aqueles possíveis de promover saúde na família. A minoria dos artigos analisados pôde ser categorizada como descrevendo o spillover dos conflitos construtivos. Essa ênfase exemplifica o foco na problemática (ou na doença) e a lacuna existente sobre estudos a respeito daquilo que é promotor de saúde na família. Já que existem características saudáveis da relação conjugal que reverberam para outros subsistemas, estas devem ser mais bem compreendidas, auxiliando diferentes profissionais a promover as potencialidades existentes ao lidar com indivíduos ou famílias.

Os resultados também demonstram uma compreensão bidirecional entre a relação conjugal e parental, visto que 84% dos estudos utilizaram análises diádicas ou triádicas em sua metodologia. Entretanto, faz-se relevante a realização de mais estudos com o objetivo de compreender a influência dos filhos na conjugalidade dos pais. Estudos apontam que os níveis de conflito conjugal diminuem ao longo do tempo quando a criança toma atitudes frente à situação conflituosa, como falar aos pais sobre seus sentimentos nessas ocasiões, por exemplo (Schermerhorn et al., 2005, 2007). Porém, mesmo que essa relação tenha sido registrada, ainda não é claro por que ocorre essa diminuição dos níveis de conflito entre o casal. Nesse caso, é preciso cuidado ao dizer que os filhos ajudam nesse processo, sem antes mapear o valor explicativo das variáveis implicadas na dinâmica conjugal conflitiva. É possível, por exemplo, que alguns casais apenas percebam o nível de hostilidade com que se relacionam quando a criança demonstra abertamente como se sente em tais ocasiões. Isso, então, pode tornar-se um incentivo para o casal buscar maneiras menos destrutivas de encaminhar seus problemas conjugais.

Algumas pesquisas ainda apontam que os sentimentos dos filhos sobre a relação familiar afetam a sua reação ao conflito. Enquanto sentimentos de culpa, insegurança, ansiedade e ameaça a si ou à constituição familiar se associam a reações mais ativas e emocionais ao conflito (Lindahl & Malik, 2011; Richmond & Stocker, 2007), sentimentos de esperança, proteção e apego aos pais se relacionam à menor reação emocional (Buehler & Welsh, 2009). Ou seja, as consequências negativas ou positivas do conflito conjugal para os filhos também se associam à percepção que eles têm sobre esse contexto. Por esse motivo, o clima das relações no subsistema parental e a maneira como o casal maneja os próprios conflitos na família são fundamentais. Crianças e adolescentes que se sentem protegidos e confiantes tendem a lidar melhor com tais situações.

Os estudos revisados têm importante contribuição na construção do conhecimento nessa área, considerando a complexidade dos aspectos envolvidos na compreensão dessa temática. A abordagem multimétodo, predominante entre os estudos analisados, é a que consegue abranger maior complexidade, a partir da investigação das diferentes facetas do conflito conjugal, assim como dos diferentes cenários em que ele ocorre. A exemplo disso, destacam-se os estudos dedicados a analisar o impacto do conflito conjugal no desenvolvimento dos filhos ao longo do tempo (estudos longitudinais) e dos comportamentos de díades ou tríades (observação das famílias) aliados à perspectiva individual dos participantes (aplicação de questionários e escalas).

Os estudos têm avançado muito nos últimos anos, passando da replicação das pesquisas pioneiras e testagem dos modelos teóricos de Grych e Fincham (1990) e Davies e Cummings (1994) à realização de análises complexas relacionando características dos cônjuges, dos filhos, das relações familiares e a forma como ocorre o conflito em um mesmo estudo. As pesquisas mais recentes têm focado a fisiologia e a genética dos conflitos conjugais, por exemplo. No entanto, ainda é necessário maior conhecimento sobre o papel das diferenças individuais, como as características da personalidade de cada familiar, e dos acontecimentos ocorridos fora do sistema familiar, tais como aspectos culturais e o contexto do trabalho e da escola, por exemplo.

Há outras variáveis importantes que muitas vezes não são incluídas devido às próprias limitações dos estudos, tais como divórcio dos pais, histórico de apego, características de personalidade e estresse crônico na vida dos casais (Stapleton & Bradbury, 2012). Embora algumas delas apareçam nos objetivos e resultados das pesquisas, geralmente não são o principal foco do estudo, surgindo como fatores indiretos a serem medidos. É importante que tais construtos recebam maior atenção em pesquisas futuras, de maneira a ampliar o conhecimento das variáveis envolvidas na complexa dinâmica do spillover na família.

Compreender o papel do conflito conjugal e a forma como ele é encaminhado, visando à saúde familiar, é um importante desafio. Isso explica a demanda por mais estudos, principalmente no Brasil, onde o tema não tem sido examinado, vide a pequena quantidade de artigos encontrados com os descritores utilizados no presente estudo, sendo menor ainda o número daqueles que partem de análises diádicas na tentativa de entender a relação entre tais subsistemas.

Sabe-se que o conflito é inerente às relações humanas. Sendo assim, o que diferencia uma família de outra é a forma como encaminha suas desavenças. Por isso, conhecer a dinâmica familiar que envolve o conflito conjugal abre a possibilidade de criar e oferecer intervenções psicoeducativas e clínicas que venham a contribuir no fortalecimento das relações familiares e na otimização de seus níveis de saúde.

 

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Endereço para correspondência:
Bianca da Rocha Hameister
bihameister@hotmail.com
Paola Vargas Barbosa
paolavargasbarbosa@gmail.com
Adriana Wagner
adrianawagner.ufrgs@hotmail.com

Submetido em: 19/02/2015
Revisto em: 16/04/2015
Aceito em: 19/04/2015

 

 

* Este trabalho teve apoio da CAPES e do CNPq, através de bolsa de pesquisa aos autores.

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