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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.68 no.1 Rio de Janeiro abr. 2016

 

ARTIGOS

 

Escrita, psicologia e produção de cuidado: ética, estética e política

 

Writing, psychology, production and care: ethics, aesthetics and politics

 

Escritura, psicología, producción y atención: la ética, la estética y la política

 

 

Flávia Cristina Silveira LemosI; Maria Lívia do NascimentoII; Dolores GalindoIII

IDocente. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém do Pará. Estado do Pará. Brasil
IIDocente. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói. Estado do Rio de Janeiro. Brasil
IIIDocente. Programa de Pós-Graduação em Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e Sociedade da Universidade Estadual Paulista, campus Assis (UNESP). Cuiabá. Estado do Mato Grosso. Brasil

Endereços para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo visa problematizar a escrita na pesquisa como encontros e conversações, por meio de práticas de cuidado de si e dos outros, tendo Foucault, Deleuze e Guattari como intercessores. O objetivo foi analisar anotações, cartas e a escrita através do compartilhamento de saberes e experimentações para os amigos como uma intervenção crítica do presente. Criar, pela escrita e pela leitura, um analisar produtor de liberdade pela história do próprio pensamento era, para estoicos, pitagóricos e epicuristas, um desafio de buscar a transformação de si e o deslocamento de onde se estava. Trata-se de forjar uma caderneta de notas pensadas a partir do cotidiano, na qual se registra algo para não se perder em uma instabilidade da atenção e poder constituir um cuidado de existências.

Palavras-chave: Escrita; Cartas; Pesquisa; Psicologia; Cuidado de si e dos outros.


ABSTRACT

This article intends to discuss the writing on research as meetings and conversations through self care and the others' care practices, with Foucault, Deleuze and Guattari as intercessors. The aim was to analyse notes, letters and writing through the sharing of knowledge and experimentation to friends as a critical intervention of the present. Create, by writing and reading, an analyse producer of freedom in the history of itself thought was, to stoics, pythagoreans and epicureans, a challenge to seek a transformation of self and a displacement of where they were. This is possible preparing a booklet to write thoughts from daily life, where it can be written things to not get lost in an instability of attention, which can constitutes a care stocks.

Keywords: Writing; Letters; Research; Psychology; Care of themselves and of the others.


RESUMEN

Este artículo se propone problematizar la escritura en la investigación como reuniones y conversaciones a través del autocuidado y otras prácticas, teniendo Foucault, Deleuze y Guattari como intercesores. El objetivo era analizar notas, letras y escritos a través del intercambio de conocimientos y experimentaciones con los amigos como una intervención crítica del presente. Crear, con la escrita y la lectura, un análisis productor de la libertad por la historia del pensamiento en sí era, para los estoicos, epicúreos pitagóricos, un desafío de buscar la transformación de uno mismo y el desplazamiento de dónde estaba. Se está forjando un pensamiento del libro de calificaciones de la vida cotidiana, en la que tiene algo para no perderse en una inestabilidad de la atención y ser capaz de construir una atención de las existencias.

Palabras clave: Escritura; Cartas; Investigación; Psicología; El cuidado de sí mismos y los demás.


 

 

Introdução

Os estoicos, os pitagóricos e os epicuristas escreviam sobre uma prática de cuidado. Eles faziam diários do cotidiano e partilhavam com os amigos. A ideia era efetuar uma estilística da existência pela escrita, por meio de uma avaliação ética de cada ato realizado e experimentado. A política da amizade era a construção de uma relação pautada na parresia, na palavra franca e no compartilhamento de saberes, com o objetivo do governo de si e dos outros (Foucault, 2004, 2010a).

As práticas de escrita e leitura eram uma forma de reativar o pensamento por um exercício de fazer circular anotações e leituras como um operador ético, uma atitude de cuidado. Ficar somente lendo poderia gerar dispersão e escrever sem ler e sem analisar sobre si resultaria em uma escrita esvaziada de legado a compartilhar, como ato de amizade e cuidado (Foucault, 2004). Trata-se, neste artigo, de problematização das práticas da escrita e leitura na pesquisa em psicologia, buscando alguns operadores em Michel Foucault e Deleuze.

 

As cartas e as correspondências

Eram pequenos escritos, anotações em cadernos como diários de bordo, trocados entre amigos como um gesto de compartilhar esse legado e aprender com as experimentações, por meio de uma avaliação de si ao escrever sobre si próprio. Não se tratava de diários intimistas para revelar a privacidade escondida, abafada e reprimida. Era como o exercício de constituição de si e de cuidado com o outro (Foucault, 2004).

Os hypomnémata são cadernos individuais que servem como ajuda-memória. Seu uso como livro de vida e guia de conduta é comum entre as pessoas cultas dos primeiros séculos de nossa era. Neles são escritas citações, fragmentos de obras, de exemplos e de ações que se viu, se leu ou se ouviu falar. Configuram a memória material das coisas lidas, entendidas e pensadas. Segue-se a necessidade de tê-los sempre à mão (ad manum) a fim de utilizá-los, caso haja necessidade. Tal técnica visa à constituição do lógos bioéthikos, conjunto de discursos úteis para situações vitais inusitadas enfrentadas pelo sujeito. A escritura, a releitura e a meditação de tais discursos possibilitam implantá-los progressivamente na alma como parte do próprio sujeito. Não se trata apenas da apropriação de discursos de verdade para torná-los seus, mas de constituir um eu por intermédio deles. (Candiotto, 2008, p. 98).

Foucault relatou que esses escritos não eram um arquivo de lembranças ou mero suporte da memória. Deviam estar à mão e disponíveis para o uso cotidiano. A escrita, a leitura e a apropriação dos mesmos eram o objetivo de sua produção. Testemunhas, fragmentos de vida, anotações de livros lidos, coisas ouvidas e pensadas, eram meios de construir argumentos de luta, material para forjar um trabalho mais sistematizado depois, um conjunto de regramentos de conduta para superar dificuldades como perdas e ruínas (Foucault, 2004).

Sem a escrita, não haveria um corpo para digerir o que se lê e se vive; ao contrário, essas experiências aprisionavam-se na dispersão e na agitação da mente. Com a escrita, haveria uma reflexão sobre o que se viveu para se aproximar e se afastar do passado. Tratava-se de forjar uma caderneta de notas em que se registrava algo para não se perder em uma instabilidade da atenção e dispersão.

Eram anotações que também podiam ser remetidas como cartas aos amigos, contando acontecimentos, fragmentos de uma leitura, ressonâncias de uma experiência e narrativas sobre alguma situação diferente do dia e do que foi vivido. A carta promoveria uma ação sobre quem a enviasse e sobre quem a recebesse, que visaria à transformação. Demonstrava uma amizade entre o mestre e o aluno, uma troca de material para um exercício de pensamento entre os epicuristas.

Buscava-se, ao ensinar, instruir-se. Prestar socorro com uma oferta de admoestações, conselhos e advertências. Caso se precise, futuramente, recebê-lo muitas vezes pela própria escrita que realizou (Foucault, 2004). A carta gerava um tornar-se presente que produzia encontros e reencontros, sem criar intimidades e privacidades do diário biográfico e/ou autobiográfico. A cultura de si não é isolada da cidade e do governo de si, na estilística da existência.

A carta criava a reciprocidade, efetuava uma avaliação e o olhar de si e do outro sem decifração; é da ordem do ocupar-se de si e cuidar do outro. A carta criava uma exposição ao olhar do outro e uma abertura como objetivação e subjetivação, ao mesmo tempo. Para os estoicos, epicuristas e pitagóricos, ela ganhava o estatuto de remédio da alma como o exercício de saúde (Foucault, 2004).

Epicuro fundou, em trezentos e seis antes de Cristo, em Atenas, uma escola filosófica, o epicurismo. Ela se baseava nas seguintes práticas: a preocupação com a experiência e a liberdade; a ética relacionada à liberdade e à produção da verdade; o movimento dos corpos e os exercícios de meditação e simplicidade de vida; a importância dos encontros e conversações pela confiança e a abertura entre os mestres e os seus discípulos (Hadot, 2010).

O estoicismo, no final do século IV antes de Cristo, foi criado por Zenão e teve em Crisipo, no século três antes de Cristo, um dos seus maiores difusores. Estava alicerçado na busca de fazer o bem como escolha à submissão ao trágico da existência. A ética estoica estava relacionada ao fato de que há coisas que estão fora do alcance humano e visava criar um código de conduta que fosse prático e implicasse agir por meio de uma reserva na vida política, familiar e social.

Sêneca, em quatrocentos antes de Cristo, em Roma, buscava a vida simples, preocupado em servir à humanidade e, apesar de rico, ter uma vida modesta e simples, a qual explicitasse e afirmasse o que ele dizia e ensinava no próprio corpo, nas formas de ser e de se relacionar. Preocupava-se com a vida na cidade ligada ao governo de suas condutas eticamente e politicamente, em todas as situações, mesmo que não estivesse próximo a observá-lo (Hadot, 2010).

Pitágoras nasceu, em quinhentos e setenta e um antes de Cristo, na Grécia. Fundou a escola pitagórica, baseada na filosofia e na matemática. Para ele, a procura pela liberdade era o processo que demandava esforço em analisar através de exercícios. A escola pitagórica se pautava na vida comunitária e valorizava a amizade solidária (Hadot, 2010).

Essas escolas eram guiadas pela filosofia como modo de vida. Baseavam-se em exercícios, postulavam maneiras de experimentar o viver pela conduta ética, por meio da criação de maneiras de ser, para efetuar uma existência bela. Também cultivavam a experiência da produção da liberdade e a posição política do cuidado de si e dos outros, avaliada pela atitude crítica de questionamento permanente.

 

A escrita e a produção de liberdade

Deleuze (2004) apontou que seu trabalho com Guattari era uma maneira de deixar de ser autor e fazer o pensamento sacudir, sair dos modelos e poder conversar com. Escrever exige paciência, certa relação com a velocidade, com o gaguejar na própria língua e com a possibilidade de tornarse estrangeiro nela. Escrever seria um movimento de perder o rosto e sair do lugar.

Com efeito, o escritor produziu agenciamentos e procurou abrir passagens entre as multiplicidades ao fissurar o já dado e estabelecido em meio às práticas de governo das condutas de si e dos outros. Criar pela escrita e pela leitura a produção de liberdade pela história do próprio pensamento é um desafio de buscar a transformação de si e o deslocamento de onde se estava.

O diário de bordo poderia ser a tática para realizar esse trabalho sobre si e com os outros na pesquisa, quando a amizade é colocada como condição ética, estética e política de aposição de vida problematizadora do que é feito, do mundo em que se vive e das regras às quais se submete ou não (Foucault, 2004).

De acordo com Prado Filho (2009), trata-se de uma prática de experimentar em si o que se pensa e o que se escreve como objeto de transformação de si, de forjar a ética enquanto prática de liberdade e não de liberação da vertente do indivíduo e suas interiorizações e nem de um sujeitode direitos livre que se analisa como cidadão. É uma liberdade política em termos de parresia, mas sem representação e sem jurisdição abstrata do sujeito de direitos. Ora, a ética é diferente da lei, o sujeito ético é diferente do sujeito de direitos (Foucault, 2010a).

Na verdade, a questão é operar um perspectivismo da escrita e do escrever como risco e deslocamento e não como a agenda programática de encomendas técnico-burocráticas a cumprir para tornar-se produtivo nas avaliações das agências de controle da produção do conhecimento.

Foucault (2010a) ressaltava que o sujeito ético é constituído como um trabalho permanente sobre si. Nesse processo, a escrita é uma pedra angular e da arte da existência para produzir uma vida que possa ser vista como bela, ou seja, fazer a obra de arte. Buscar o zelo por algo é um objetivo da política da existência em termos da estética, da criação de si por meio da ética, uma avaliação de si para não permanecer o mesmo.

Deslocar-se e transformar-se por práticas estéticas implica escrever e ler, reler e escrever, trocar correspondências e forjar uma amizade, nesse processo de subjetivação e objetivação. Ora, cria-se a história de nossas relações com a verdade e as regras que a constituem. Opera-se uma análise das relações múltiplas e heterogêneas em que estamos atravessados e pelas quais resistimos e acionamos táticas de luta. A estética era, para Foucault (2010a), a arte da constituição de uma vida bela e não o domínio de peritos e profissionais.

O trabalho sobre si na escrita e na leitura fazia parte de um "conhece-te a ti mesmo", porém, na antiguidade greco-romana, não estava dissociado do cuidado da cidade. Significava certa forma da atenção e do olhar. Buscava-se a força política para enfrentar as situações adversas da vida e das relações de disputa e tensões na cidade.

Tratava-se de realizar um conjunto de exercícios para aprender a efetuar a sabedoria, o vigor, a coragem, a prudência, a justiça e as próprias insuficiências e limites experimentados. Para produzir a resistência é importante criar concentração, a cura das feridas, um cuidado de si e do outro, um ocupar-se da cidade e governar-se para lidar com os reveses da vida (Foucault, 2010b).

Outro exercício de liberdade era guardar sobre os olhos a arte de problematizar o presente e as regras de conduta que tomamos como verdade, avaliando os riscos do itinerário e os objetivos a atingir como um equipar-se para realizar combates e se defender. As leituras e a escrita efetuavam essa preparação, requeriam tempo e sustentavam lugares que não eram apenas cronológicos e espaciais, pois saiam das regras traçadas na forma encerrada do roteiro pronto. Assim, bifurcavam-se e ganhavam materialidades de estranhamento e variação na própria língua.

Por fim, tratava-se do saber calar e ouvir, efetuar a escuta e escrever em silêncio, uma prática comum no cotidiano de Michel Foucault de quem se vê emergir, ao lado da publicação dos cursos e livros, os cadernos de anotações ou dossiês que pacientemente redigia, como nos conta Michon (2010a), a respeito dos escritos preparatórios para As Palavras e as Coisas. Estudar com zelo para ativar as palavras com atenção, como um exercício constante de crítica de estilística pela escrita, pela leitura, pela produção da liberdade e se relacionar. Experimentar a vida como prova e criação de testemunhos para formar-se como a obra de arte (Foucault, 2010a).

 

A escrita e a palavra como resistência

A parresia, à qual se remetia Michel Foucault, era pautada não na lisonja nem pelo ornamento das vestes e dos perfumes. Era baseada na palavra franca e em guardar o silêncio. Fazer resumos das leituras e reunir proposições de um assunto de vários autores, na escrita. Transformar a leitura em uma experimentação do pensamento, tal como uma meditação. A escrita ajudaria na escolha de leituras e na apropriação de fragmentos e operadores conceituais.

Desse modo, a escrita possibilitaria recolher os discursos e criar um corpo para o exercício do pensamento do que se leu e do se estava vivendo, ler escrevendo, tomando notas, escrever como exercício de pensamento. Assim, criar um caderno de notas e enviar aos amigos para colocar-se à disposição deles ou, como fez Foucault (Veyne, 2009) diversas vezes, inclusive em uma das suas viagens ao Brasil, partilhar uma obra em preparação, discutindo-a com colegas.

Dizer a verdade e colocar em xeque os regimes de veridicção junto aos amigos com coragem na escrita e, no caso da figura histórica da relação mestre e alunos, admoestá-los, aconselhá-los e adverti-los em uma atitude ética de parresia. Produzir uma liberdade frente à lisonja e à retórica e não buscar favores de superiores. Ensinar os alunos a serem benevolentes uns com os outros era uma prática entre os epicuristas.

Michel Foucault se queixou diversas vezes do silêncio que reinava nas suas aulas, no Collège de France, e manifestou o desejo de compor pequenos grupos de leitura. Havia uma prática de ensinar para construir com os alunos um governo de si e dos outros, pautado em uma aprendizagem crítica na cidade (Foucault, 2010a).

A parresia implicava em dizer o que se pensa e o que se tenta fazer no que se diz, de sorte a comprometer-se com o que foi dito e escrito. O pensamento seria tal como a efetuação dos focos de experiência do que se passa hoje, do que acontece. Uma ontologia do presente, de modo a criar campos de possíveis e uma palavra franca sem a direção de outrem ao sair da menoridade pela ação crítica. Ou seja, a parresia sustenta-se na genealogia, uma invenção de uma dramática política da verdade, segundo Foucault (2010b). Estilizar a existência do interrogar outras maneiras enquanto uma política da verdade histórica. Nisso, consistiria a agonística, a disputa pela verdade e pela palavra com coragem, arriscando-se de todas as formas. Nisso residiria a constituição de uma dramática, colocar-se em risco para realizar a fala franca. Os amigos podem ser solidários nas consequências do ato de dizer a verdade e nas tensões do mesmo, o que pressupõe vincular-se ao outro e ao que ele diz, ética e politicamente (Foucault, 2010b).

A atuação de Michel Foucault junto ao Grupo de Informações sobre as prisões (GIP), as cartas endereçadas aos dirigentes políticos, os textos, a defesa de professores acusados testemunham tal exercício. Amizade como modo de vida, o sítio heterotópico de produzir lugares outros e deslocamentos dos corpos e das maneiras de ser, de sentir e agir, no presente. Essas formas de ser construídas por processos de subjetivação múltiplos tem seu modo de acionar as forças heterogêneas para criar formas sujeito (Deleuze, 1992). Assim, a liberdade da palavra se tornava um problema político, ético e estético, simultaneamente. Um jogo da palavra e dos combates históricos por ela. Constituía-se a amizade como modo de vida crítico em exercício, como um caminho a percorrer para fazer uma fricção nas maneiras de conhecer e produzir a verdade por perguntas-problemas.

Seria essencial preferir a justiça ética à felicidade sempre com todas as consequências trágicas advindas dessa postura (Foucault, 2010b). Por isso, a parresia era a atitude e não uma profissão (Foucault, 2011). É nesse aspecto que Foucault (2011) ressaltava que a liberdade é a prática e não uma essência do ser. Ela é exercida pela escrita também, que lhe é constitutiva e não um exercício a posteriori de externar o exercício dela apartado.

Foucault (2010b) destacava que seus livros eram experiências e não teorizações, sendo que o trabalho histórico de transformar a si só pode ser feito pela atitude crítica contínua para abrir espaços de resistências e afirmar pensamento que tenha afrontamentos a realizar. Por isso, enfatizava que todo trabalho histórico deve dizer como é feito, o que constitui um modo de respeitar o leitor.

Sabemos que a oficina da escritura não guarda com o texto a relação de explicitação e confissão, nem tudo que foi estudado será enunciado. Revel (2010) narra uma decepção inicial do grupo de pesquisadores que buscou cartografar o trabalho cotidiano de pesquisa de Michel Foucault, ao se deparar com uma das bibliotecas mais frequentadas por ele e não encontrar registros de sua deambulação, senão a do livro não devolvido.

[...] todo o discurso manifesto repousaria secretamente sobre um já-dito [...]. As margens de um livro, jamais são nítidas ou rigorosamente cortadas: além do título, as primeiras linhas e o ponto final, além de sua configuração interna e a forma que o autonomiza está preso em um sistema de remissões a outros livros, outros textos, outras frases: nó em uma rede [...] (Foucault, 2009a, p. 34 e 36).

No trabalho com os arquivos e na intervenção direta em situações intoleráveis como as prisões, os conceitos não são universais, mas ferramentas da escrita histórica, visando intervir ativamente nos regimes de produção de verdade e na constituição política de existências (Veyne, 1998). Esses conceitos operadores de existências e do analisar criticamente precisam ser provados e interrogados frente aos acontecimentos historicamente, pois não são chaves para todas as portas.

 

A escrita interrogante e a ontologia histórica do presente

Para Deleuze e Guattari (2013), os conceitos são inventados por perguntas e problematizações, por atitudes críticas. A criação de conceitos difere da ciência, já que esta age por função e proposição e não pela invenção conceitual, diferindo da arte que seria regida por seres de sensação, apenas. A ciência opera por limites e coordenadas, enquanto os conceitos implicam variações e produção de um plano de imanência, objetivando ganhar consistência sem perder as ressonâncias e as multiplicidades. Para inventar conceitos, eles buscam personagens conceituais em inusitadas dramáticas, sendo Mil Platôs, sem dúvida, o exercício de escrita que leva ao máximo expoente tal artifício, ao operar por meio de camadas de tempo e de espaço com cronologia própria - platôs.

De acordo com Foucault e Deleuze, a problematização possibilita fazer uma escrita da história como a ontologia de existências. Por isso, realizam a crítica como atitude, um ethos. Fazem perguntas para construírem a trama de intrigas e forjarem as ferramentas de desnaturalização das práticas de poder, de saber e de subjetivação. A história é uma escrita de narrativas de intrigas, baseadas em conceitos que são práticas concretas de construção de objetos (Cardoso Júnior, 2001).

Veyne (1998) assinala a importância dos conceitos para que seja feita a história. Para tanto, é fundamental trabalhar com a raridade dos acontecimentos e a produção do inventário das diferenças estruturado por perguntas-problema que permitam analisar a emergência dos objetos. A história não teria repetição, porém, atualização de virtualidades a partir de a multiplicidade de forças heterogêneas.

Nesse sentido, a ontologia histórica é constituída por uma escrita conceitual, por uma perspectiva de problematização de práticas concretas. Trata-se de operar a pragmática das relações a ser alvo de interrogação e mapeamento crítico. As intrigas e perguntas na história implicam realizar a descrição e a análise dos acontecimentos raros e singulares (Veyne, 1998).

Conforme Cardoso Júnior (2001), nesse sentido, as ontologias só podem variar com a história. São exercidas pelas perguntas elaboradas pelo historiador aos documentos, por exemplo, por meio de perguntas sobre o tempo presente que atuem como redes de inventários do historiador que visa a problematizar acontecimentos. O questionário do historiador é formado pela preocupação em interrogar o que acontece na atualidade e efetuar uma crítica que desnaturalize a sociedade na qual vive.

É possível que essa ontologia crítica adquira efeitos interessantes de insurreição, entre os quais os estudos pós-coloniais. Mezzadra (2010) ressalta que a escrita em conversação com Michel Foucault o ajudava a efetivar um trabalho histórico pós-colonial, portanto, de crítica acirrada, em uma postura de problematização cultural materializada na apropriação de temas e documentos considerados subalternos, de vidas infames e sobre as quais praticamente nada se dizia e/ou se falava.

As lutas locais e a insurreição dos saberes sujeitados abrem brechas na escrita e na leitura epistolar em certa medida, pois essa narrativa possibilita contar de outras maneiras a história, de narrar os estilos de existências e de povos que foram submetidos pela inferiorização de seus valores. As anotações de leituras das experimentações não são a representação de um mundo já dado, nem uma expressão da interioridade do sujeito da consciência que expressa sentidos identitários de um significado. Por isso, para Foucault (2009a, 2009b), não há nenhuma relação biunívoca entre autor e obra: as anotações não são meros comentários nem apenas sujeição disciplinar a suposta unidade de discurso. Há quebras com os controles discursivos, porque eles nunca são totalizantes, e os enunciados são coletivos e não remetem a um "eu" (Deleuze & Guattari, 1995).

 

Cartas, arquivos, escrita da História

De acordo com Malatian (2009), as cartas se tornaram o objeto de interesse da historiografia como documentos a serem analisados, sobretudo a partir de 1980, quando houve um aumento expressivo da análise das narrativas por meio de cartas. A autora relata que elas ganharam importância desde o século XVIII como gênero de escrita baseado na expressão das vivências, dos sentimentos e pensamento singulares, em tempos de curta duração, autobiográficos e biográficos.

As cartas analisadas podem ser aquelas enviadas por emissários, pelos correios, mas também as que vão eletronicamente por e-mails, em distintas texturas do papel e da tela. As cartas são documentos e sua escrita é prática descontínua que não revela o autor, a obra e as influências recebidas na escrita e na história.

Romper com a função autor e com uma suposta obra, que revelaria a interioridade expressa do eu, é um dos objetivos da história problematizadora, a qual indaga os efeitos da escrita naquele que escreve, naquele a quem se destina a epístola:

O trabalho que a carta opera sobre o destinatário, mas que também é efectuado sobre o escritor pela própria carta que envia, implica a "introspecção"; mas há que entender esta menos como a decifração de si por si mesmo do que como uma abertura de si mesmo que se dá ao outro. Nem por isso deixa de se registar aqui um fenômeno que pode parecer algo surpreendente, mas que é repleto de sentido para quem quiser fazer a história da cultura de si: os primeiros desenvolvimentos históricos da narrativa de si não devem ser procurados pelas bandas dos "cadernos pessoais", dos hypomnemata, cujo papel é permitir a constituição de si a partir da recolha do discurso dos outros; em compensação, é possível encontrá-los pelo lado da correspondência com outrem e da troca do serviço da alma. (Foucault, 2004).

O falar, o visualizar e o escrever não são as mesmas ações. Conforme Deleuze (2005) há uma disjunção entre ver, falar e escrever e forças díspares, as quais se encontram ao acaso das relações e ganham materialidade nas cartas e nas anotações em cadernetas. Nas reflexões de Michel Foucault, o princípio do mero comentário e da retórica lisonjeira que não cessa de repetir o já dito é colocado em xeque para que a escrita possa operar invenções e, dessa maneira, apostar em diferir.

Várias cartas guardadas podem ser denominadas arquivo. Esse pode ser pessoal ou público e pode estar conservado e armazenado, em um museu, uma biblioteca ou a instituição de guarda de documentos, em universidades e agências do Estado ou ainda em a entidade privada de conservação. O arquivo pode ser de outras ordens públicas não restritas aos prédios estatais e aos serviços de envio de cartas pelos correios a serem guardadas em museus e bibliotecas, posteriormente. Há arquivos nas casas, nos computadores, nas redes sociais na internet, nas gavetas dos armários em salas de trabalho (Gomes, 2004). Os papéis utilizados em texturas e cores; os selos, as formas de envio, os envelopes, as fitas, os perfumes lançados no papel, as flores e folhas secas enviadas juntamente, as canetas usadas, as tecnologias de comunicação ampliadas em velocidade, a cultura da alfabetização, o surgimento da privacidade e da noção de indivíduo, a preocupação em compartilhar reflexões e acontecimentos experimentados com amigos e familiares, dentre outras situações, estiveram na base da constituição das cartas (Malatian, 2009).

Escritos ordinários quase sempre são condenados ao descaso e ao esquecimento, pois se tratam de correspondências cotidianas, diferentemente das cartas trocadas entre aqueles considerados grandes personagens da história política ou do pensamento. Contudo, a escrita epistolar, igualmenteem seu uso cotidiano, interessa ao historiador por materializar e ser matéria de práticas culturais. É possível fazer uma história política, intelectual, cultural, social e econômica pelas análises de cartas, mapear a rede de sociabilidade, o compartilhar de afetos e relacionamentos amorosos, as trocas de trabalho e de saberes.

A história oral permitiu a constituição de histórias de vida e relações entre os processos de individualização das práticas, articuladamente aos de totalização, visando a romper causalidades e teleologias. As anotações em cartas e em cadernos de escrita de si ganharam uma relevância grande na analítica da história cultural e da história política contemporânea, aproximando História, Antropologia e Psicologia (Gomes, 2004).

Cartas podem ser enviadas por diferentes pessoas e organizações, por e-mail ou pelas agências dos correios, por alguém que as transporte por encomenda e pedido, ou ainda entregues pelo escritor, junto com o presente, um mimo ou compartilhamento de legados das aprendizagens e problematizações de cada ação realizada diariamente. De acordo com Bourdieu (1996), a escrita não é linear e nem contínua. Por uma parte, a escrita epistolar cotidiana é vista como a literatura menor, por se tratar de narrativas do coloquial. Todavia, seria possível afirmar justamente que estaria aí a potência dessa narrativa, porque permitiria criar fissuras na língua, ao articulá-la ao campo político das práticas e aos agenciamentos coletivos de enunciação em processos de constituição de subjetividades concomitantes à ruptura com as práticas cristalizadas. Por outra parte, interrogar a produção das biografias e autobiografias nas cartas, as quais ganharam evidência como documentos teóricos, constitui ainda a maneira de fazer uma história descontínua que quebra a linearidade da construção de subjetividades e propicia usar ferramentas da história oral também chamada de micro-história, rompendo as partições entre os saberes eruditos e cotidianos. Nessa modalidade de escrita e de problematização, descentraliza-se pelas cartas como documentos a função autor e sua obra.

 

Cartas, escritura e publicação

A Psicologia brasileira tem sido bastante enriquecida pelas contribuições inquietantes do filósofo e historiador Michel Foucault, mesmo após mais de trinta anos de sua morte. As ressonâncias de Foucault permanecem propagando efeitos relevantes na Psicologia e em variadas áreas, no presente. Um exemplo pulsante desse efeito Foucault na Psicologia, no Brasil, são as potências das afetações da escritura epistolar.

Essa escrita está marcada pela produção de cartas, articuladas ao viver, em exercícios efetuados nos agenciamentos coletivos, materializados pela história. A escrita das cartas provoca urdiduras e faz da figuração epistolar um operador de amizade e política de existência, em uma atitude ética capaz de acionar o pensamento crítico na Psicologia no cuidado de si e dos outros, pela parresia, na atualidade, em meio às tensões que atravessam e transversalizam as práticas sociais. Essa proposta visa instalar um dispositivo de conversa, em estilo narrativo de uma carta fictícia preocupada com o presente, em termos de inquietações e problematizações ativadas pelo legado deixado por Foucault à Psicologia brasileira. Em especial, para as pesquisas e posicionamentos éticos, estéticos e políticos, na trama de arquivos testemunhos.

O que está em foco é o ethos do viver e criticar estilos de existência por meio da relação Psicologia e Michel Foucault, estoicos, epicuristas, cínicos, entre outros filósofos e estudiosos cuja vida se tornou uma obra de arte pela busca ativa de um cuidado de si e dos outros. Desse modo, afirma-se uma política de pesquisa sintonizada com os processos, entendendo que a amizade e sua atualização na pesquisa não é um retrato de um mundo dado, de uma realidade existente "lá fora". Ela é, antes, performativa, isto é, faz existir realidades.

A escrita é, assim, na Psicologia um laboratório no qual se incluem marcas, hesitações, silêncios, gagueiras. A publicação de textos na forma de cartas objetiva justamente colocar em cena uma forma de narrar a qual se compõe com o que se faz no cotidiano da pesquisa: o exercício do diálogo, da parceria, da partilha de experiências, do endereçamento ao outro, da problematização das nossas zonas de conforto no encontro com a alteridade. A carta afirma, por conseguinte, a possibilidade de instauração de outra discursividade na pesquisa, tornando inseparáveis a escrita e a vida.

Trata-se de uma aposta na criação de existências que inventam e desacomodam, a começar pela maneira com que organizam os modos de trabalhar pelos encontros e conversações. A tensão se faz presente nas maneiras dos atravessamentos se constituírem e não há objetivo de eliminá-la, pois é a agonística, ou seja, o campo diferencial de forças, que possibilita a singularização de existências e a potência dos encontros, em uma diagonal entre horizontalidade e verticalidade, nas práticas sociais. A escrita epistolar e as leituras para anotações em cartas encontram nos livros um espaço de criação e, sem prescindir da publicação em periódicos qualificados, instalam experimentos e fissuras nas regras do discurso do que seria um livro feito por pesquisadores.

Os territórios arqueológicos podem atravessar textos 'literários' ou 'filosóficos', bem como textos científicos. O saber não está investido somente em demonstrações, pode estar também em ficções, reflexões, narrativas, regulamentos institucionais, decisões políticas [...]. A prática discursiva não coincide com a elaboração científica a que pode dar lugar. O saber que ela forma não é nem o esboço rigoroso nem o subproduto cotidiano de uma ciência constituída. As ciências - pouco importa no momento a diferença entre os discursos que têm uma presunção ou um estatuto de cientificidade e os que não apresentam realmente seus critérios formais -aparecem no elemento de uma formação discursiva e tendo o saber como fundo. (Foucault, 2009a, p. 222).

Como Deleuze e Guattari montaram os Mil Platôs, os quais poderiam ser lidos sem uma sequência de capítulos, as cartas também podem ser lidas dessa forma. A aposta é na rede um dispositivo de amizade e compartilhamento de afetos, de mundos, entrecruzamento de alegrias e testemunhos da vida, deixando rastros de um legado capaz de ser ferramenta para quem dele quiser extrair potências.

 

Considerações finais

A carta, como vimos argumentando, intensifica encontros por meio de uma relação de solidariedade com o leitor, cria uma exposição ao olhar do outro e pode ser um remédio para a alma. É importante lembrar que o trabalho sobre si na escrita e na leitura faz parte de um "conhece-te a ti mesmo", porém, não está, na antiguidade greco-romana, dissociado do cuidado com os outros e com a cidade. Nesse sentido, a escrita e a leitura possibilita m a criação de modos de vida e o deslocamento de práticas cristalizadas para dessujeitar saberes e corpos, por um processo de invenção e problematização de maneiras de viver e se relacionar. A escrita epistolar das cartas traz essa dimensão da ruptura de saberes, ao friccionar a linguagem e a política da escritura pela apropriação das leituras em notas que fazem reverberar o cotidiano refletido, ao ser compartilhado pelas cartas, nos hypomnématas.

O trabalho analítico e de amizade com as cartas implica, também, certa forma da atenção e do olhar. Esse ato busca a força política para enfrentar as situações adversas da vida e das relações de disputa na cidade. Significa um ocupar-se da cidade e governar-se para lidar com os reveses da vida, de modo a construir uma existência bela para resistir aos dramas pela produção de problemas na leitura e escrita, na relação de encontros e conversações (Foucault, 2010b). Assim, na criação de um caderno de notas para enviar aos amigos persiste uma maneira de colocar-se à disposição deles com coragem de fazer a escrita ranger e forjar deslocamentos de si e dos outros, por ressonâncias, em cadeias de fraturas nas práticas cristalizadas a romper (Foucault, 2010a). Esse é um ato de colocar-se em risco para realizar a fala franca. Os amigos podem ser solidários nas consequências do ato de dizer a verdade, e justamente era esse ato que poderia garantir a formação de jovens pesquisadores e afirmar afetivamente um vínculo de amizade. Ou seja, estar ao lado dos amigos nas consequências da parresia (Foucault, 2010b).

As cartas, publicadas no formato de livro, trazem um combate corajoso marcado por fricções nos modos de existência e na política de produzir a verdade (Foucault, 2011). Em Foucault e Deleuze, a problematização permite interrogar e fazer uma escrita da história como uma ontologia de existências. Foucault e Deleuze realizam a crítica como uma atitude de perguntar e não de realizar reconhecimentos de soluções programadas previamente. Essa prática concretiza uma postura, um ethos. Nela, a subjetividade não remete, evidentemente, nem a uma substância nem a uma determinação transcendental, mas a uma reflexividade que se poderia chamar de prática: uma maneira de se relacionar consigo mesmo para se construir, para se elaborar. (Gros, 2006, p. 128).

A composição da leitura com a escrita é tecida como uma atualização de virtualidades, a partir de uma multiplicidade de forças heterogêneas. Quem escreve se transforma e, ao mesmo tempo, dirige ao leitor suas análises. Por isso, conforme Cardoso Júnior (2001), nesse sentido as ontologias só podem variar com a história, em descontinuidades que fazem proliferar escrituras em variação. A escrita de cartas faz parte desse movimento de criação, de cuidado de si e do outro, pautado pela amizade como modo de vida e pela partilha de saber como prática que aproxima antigas e novas gerações de pesquisadores em Psicologia.

 

Referências

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Endereços para correspondência:
Flávia Cristina Silveira Lemos. flaviacslemos@gmail.com
Maria Lívia do Nascimento. mlivianascimento@gmail.com
Dolores Galindo. dolorescristinagomesgalindo@gmail.com

Submissão: 03.07.2015
Reformulação: 16.03.2016
Versão final: 21.03.2016

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