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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.68 no.2 Rio de Janeiro ago. 2016

 

ARTIGOS

 

Clivagem: a noção de trauma desestruturante em Ferenczi

 

Splitting: the notion of deconstructive trauma in Ferenczi

 

Escisión: la noción de trauma deconstructivo en Ferenczi

 

 

Jôse Lane SalesI; Regina Herzog de OliveiraII; Fernanda Pacheco-FerreiraIII

IDoutoranda. Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro. Estado do Rio de Janeiro. Brasil
IIDocente. Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro. Estado do Rio de Janeiro. Brasil
IIIPós-doutoranda. Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro. Estado do Rio de Janeiro. Brasil

Endereços para correspondência

 

 


RESUMO

Considerando os impasses da clínica psicanalítica contemporânea e visando esclarecer algumas modalidades de padecimento psíquico, incompreensíveis se tomados exclusivamente a partir da lógica do mecanismo do recalque e da foraclusão, o objetivo principal do presente artigo é analisar o processo de clivagem do Eu. Defendemos a hipótese de que tal processo não se restringe ao fenômeno da perversão, estando diretamente relacionado à vivência de um trauma, sinalizando a existência de conteúdos incapazes de ingressar no circuito representacional. Para tanto, analisaremos os principais escritos de Freud e de Ferenczi que abordam a clivagem do Eu e discutiremos sua incidência na clínica.

Palavras-chave: Clivagem do eu; Clínica psicanalítica; Trauma; Recalque.


ABSTRACT

Considering the impasses of contemporary psychoanalytic practice, designed to further clarification about some types of incomprehensible psychic suffering if taken exclusively from the logic of the mechanism of repression and foreclosure, the main objective of this paper is to analyze the cleavage process. We support the hypothesis that such a process is not restricted to the perversion phenomenon, being directly related to the experience of trauma, signaling the existence of contents unable to enter the representational circuit. We will analyze the main writings of Freud and Ferenczi which address the cleavage process, and also discuss its impact on practice.

Keywords: Splitting; Psychoanalytic practice; Trauma; Repression.


RESUMEN

Teniendo en cuenta los impases de la clínica psicoanalítica contemporánea, diseñada para promover aclaraciones sobre algunos tipos de dolencias psíquicas incomprensibles si se toma exclusivamente a partir de la lógica del mecanismo de la represión y la exclusión, el objetivo principal de este trabajo es analizar el proceso de escisión del yo. Apoyamos la hipótesis de que tal proceso no se limita al fenómeno de perversión, estando directamente relacionado con la experiencia del trauma, lo que indica la existencia de contenidos que no pueden entrar en el circuito de representación. Vamos a analizar los principales escritos de Freud y Ferenczi que abordan la escisión del yo, y también discutir su impacto en la clínica.

Palabras clave: Escisión del yo; Clínica psicoanalítica; Trauma; Represión.


 

 

Introdução

O processo de clivagem do Eu abarca um leque amplo de possibilidades de abordagem. Primeiramente, a clivagem foi apresentada como o principal mecanismo para a compreensão dos casos de perversão através das formulações freudianas sobre o fetichismo (Freud, 1927/1996g). Ao final da obra de Freud, contudo, seu alcance foi ampliado para além das perversões e das psicoses, sendo possível estender as considerações sobre a clivagem para os processos de subjetivação em geral. Neste artigo, pretendemos investigar o tema da clivagem como decorrente de um trauma psíquico, segundo a perspectiva de Ferenczi. Consideramos que uma investigação mais acurada sobre o tema poderá fornecer subsídios para uma maior compreensão de certas modalidades de padecimento psíquico com que nos deparamos na contemporaneidade.

A noção de clivagem implica necessariamente uma divisão psíquica, estando subjacente a toda teoria de Freud que trabalhou com essa perspectiva desde suas primeiras formulações. Algumas cisões foram concebidas como constitutivas, ao passo que outras foram colocadas no campo da psicopatologia. No primeiro caso, podemos citar o aparelho psíquico postulado em 1900 (Freud, 1900/1996c), o qual comportava uma divisão que, longe de ser patológica, é estruturante. O aparelho em questão, formado por dois sistemas, o sistema consciente e pré-consciente e o sistema inconsciente, não permite ao sujeito ter acesso direto aos conteúdos deste último (Freud, 1900/1996c). Nessa configuração, o mecanismo psíquico do recalque - defesa privilegiada na neurose - é o responsável por tornar inconscientes determinados elementos, mantendo-os afastados do sistema consciente e pré-consciente (Freud, 1915/1996d).

Com o avançar das elaborações freudianas, observa-se que a noção de divisão psíquica não só se consolida como adquire ainda maior proeminência, sobretudo no âmbito do segundo dualismo pulsional e da segunda tópica. A partir de diversos fenômenos clínicos como a melancolia e o fetichismo, Freud é confrontado a modalidades de defesa que não obedecem à lógica do recalque. É nesse contexto que o autor desenvolve paulatinamente a ideia de uma clivagem patológica, isto é, não apenas uma clivagem do Eu, estruturante e constitutiva, mas uma clivagem no Eu.

Em 1917, no artigo Luto e melancolia (Freud, 1917/1996e) encontramos uma breve referência ao mecanismo de clivagem do Eu. E, em 1927, após a postulação da pulsão de morte e da segunda tópica, na investigação acerca do fetichismo, Freud (1927/1996g) volta a mencionar esse mecanismo. Todavia, somente dez anos depois, a noção de clivagem do Eu ganha realmente um lugar de destaque com os artigos A divisão do ego no processo de defesa (Freud, 1940/1996i) e Esboço de psicanálise (Freud, 1940/1996h).

O objetivo do presente artigo não é traçar um panorama geral da noção de clivagem do Eu na obra freudiana, mas refletir sobre a clivagem decorrente de um trauma psíquico desestruturante. Para tanto, além de nos propormos a analisar os quatro artigos citados acima, vamos explorar também as contribuições de Ferenczi que, partindo da peculiaridade de sua experiência clínica com casos difíceis, contribuiu significativamente para o enriquecimento da compreensão da noção de clivagem e de suas manifestações clínicas.

A clivagem em Freud

No artigo Luto e melancolia, Freud (1917/1996e) fala pela primeira vez de uma divisão no Eu, situando esse mecanismo como principal responsável pela característica diferencial entre a melancolia e o luto. O sujeito melancólico, diferentemente do enlutado, parece encontrar prazer em autodifamar-se, em mostrar ao mundo o quanto é desprezível. A partir desse comportamento, Freud (1917/1996e) conclui que o luto é um processo doloroso, porém natural, de retirada gradativa da libido depositada no objeto perdido. Enquanto a melancolia é um processo patológico que envolve uma perda relativa ao Eu do próprio sujeito.

Na melancolia, em conformidade com a fase oral, o Eu, impossibilitado de abrir mão do objeto perdido, o incorpora e acaba por se dividir em duas partes: uma identificada ao objeto incorporado, outra responsável pela atividade crítica. Com isso, tem lugar uma verdadeira cisão capaz de permitir que a parte identificada com o objeto possa ser julgada pela outra parte do Eu, como se lhe fosse externa.

Observa-se então, que a partir do estudo da melancolia, Freud admite a possibilidade de uma divisão dentro do próprio Eu. Ideia que vai adquirindo mais consistência à medida que a teoria psicanalítica se desenvolve e complexifica, sobretudo, com a introdução do segundo dualismo pulsional e da segunda tópica.

No artigo O fetichismo, Freud (1927/1996g) parte do princípio segundo o qual o fetiche é um substituto do pênis da mulher e, utilizando o conceito de denegação (Verleugnung), nos dá indícios de que a clivagem do Eu também se faz presente neste fenômeno. Os acontecimentos subjacentes à escolha objetal dominada pelo fetiche podem ser assim resumidos: quando criança, ao avistar o órgão sexual de uma mulher o menino recusa-se a aceitar a castração feminina, uma vez que esta coloca em perigo seu próprio pênis. Ou seja, ele rejeita sua percepção. Contudo, de alguma forma, essa percepção se conserva em algum lugar do psiquismo. Há, portanto, uma dupla operação, uma atitude em favor da realidade e outra em favor do desejo, ou seja, um reconhecimento e uma recusa, cujo resultado é a eleição de um objeto fetiche para tamponar a falta de pênis nas mulheres (Freud, 1927/1996g). Conforme salientam Borges e Cardoso (2011), o objeto eleito funciona ao mesmo tempo como o representante e o produto do que fora rejeitado, sendo responsável pela instalação de uma clivagem no interior do Eu.

Aproximadamente dez anos mais tarde, no artigo A divisão do ego no processo de defesa, ao investigar as perturbações pelas quais a função sintética do Eu pode passar em decorrência de um trauma, Freud (1940/1996i) retoma algumas das questões abordadas em 1927. Nesse momento, além de mencionar novamente a denegação (Verleugnung), discorre também sobre sua consequência, uma divisão (Splittting) no Eu. Mais uma vez, para ilustrar suas observações, o autor utiliza a recusa infantil em aceitar a castração feminina e a consequente criação de um objeto fetiche. De acordo com ele, o Eu infantil, sob a influência de um trauma psíquico e pressionado tanto pelas exigências pulsionais quanto pelos perigos da realidade, pode responder ao conflito, seguindo ambas as pressões. Obviamente, isso implica em tomar dois caminhos contrários de forma simultânea, ação que só se torna possível através de uma divisão (Slpittting), uma "fenda" no próprio Eu (Freud, 1940/1996i, p. 293).

Uma das observações mais relevantes contida nesse breve e inacabado artigo se refere à dimensão temporal. Freud (1940/1996i) é bastante claro ao afirmar que a "fenda" (p. 293) no Eu permanecerá aberta e, ao invés de cicatrizar, aumentará com o decorrer do tempo. Retomaremos essa questão mais adiante.

O final do capítulo VII do Esboço de psicanálise (Freud, 1940/1996h) aprofunda as conjecturas lançadas no artigo anterior sobre os processos de defesa do Eu, ampliando significativamente a abrangência do mecanismo da clivagem. Freud (1940/1996h) volta a falar sobre a "divisão (Split)" (p. 215), mas dessa vez utiliza, além do fetichismo, a psicose para demonstrar como duas atitudes psíquicas diferentes podem coexistir lado a lado no psiquismo, sem que uma anule a outra. A grande novidade desse último texto, contudo, é a afirmação de que a clivagem do Eu não está restrita nem ao fetichismo, nem à psicose, podendo ocorrer também na neurose. Nas palavras do autor: "É na verdade uma característica universal das neuroses que estejam presente na vida mental do individuo, em relação a algum comportamento particular, duas atitudes diferentes, mutuamente contrárias e independentes uma da outra" (Freud, 1940/1996h, p. 217).

A esse respeito, Verztman (2002) comenta que essa passagem revela que "a universalidade do recalque nas neuroses parece estar sendo colocada em xeque" (p. 63). Decerto, essa afirmação freudiana relativiza a ideia da clivagem como um mecanismo psíquico único e exclusivo da perversão e, por conseguinte, de que a foraclusão seria uma exclusividade da psicose e o recalque, da neurose. É possível inclusive pressupor a coexistência simultânea de mecanismos psíquicos distintos em um mesmo sujeito.

A partir do que apresentamos até aqui, já podemos inferir que na teoria freudiana a clivagem entra em cena quando um sofrimento extremo se apresenta ao Eu. Portanto, como veremos com maior riqueza de detalhes mais adiante, ela é uma defesa frente ao trauma. Por ora, cabe lembrar que após 1920 o trauma é caracterizado não pela natureza do evento desencadeante e sim pela exposição do aparato psíquico a uma inundação de estímulos sem que haja tempo e recursos hábeis para elaboração. Nesse contexto, o sujeito traumatizado é confrontado com um excesso pulsional, que em um movimento repetitivo não cessará de tentar uma inscrição psíquica (Freud, 1920/1996f). A clivagem seria então uma das possibilidades do psiquismo manejar esse conteúdo não inscrito e/ou não simbolizado, sendo que a saída encontrada, paradoxalmente, consiste em um não manejo. Diferentemente do recalque, que permite um retorno do material expulso da consciência através dos sintomas passíveis de interpretação (Freud, 1915/1996d), a defesa da clivagem opera de modo mais arcaico e elementar, clivando parte do Eu do sujeito, tornando inviável o contato com o elemento traumatizante.

Visando melhor compreender a relação entre a clivagem e o traumático, apresentaremos a seguir as contribuições de Ferenczi, autor que justamente a partir do seu estudo acerca do trauma desestruturante contribui para o enriquecimento da noção de clivagem.

A clivagem em Ferenczi

Ferenczi, motivado por seus impasses clínicos diante de uma clientela a qual não obtinha melhora com o dispositivo clínico clássico, constrói uma teoria sobre o trauma patológico. Teoria que tem no mecanismo psíquico da clivagem um dos seus pontos centrais de desenvolvimento.

Para Ferenczi (1931/1992a), o trauma envolve sempre a incidência de um fator exógeno forte o suficiente para provocar uma modificação no aparelho psíquico, sendo que essa modificação não é necessariamente desestruturante. Ou seja, por si só o trauma não é patológico. Ele só adquire esse caráter se o fator exógeno ultrapassar certo limite, a ponto de não poder ser metabolizado e integrado ao aparelho psíquico. Uma das diferenças mais importante entre a perspectiva freudiana e ferencziana a esse respeito é que, para Ferenczi, a capacidade de ligação também vai depender largamente da qualidade das respostas do ambiente. E, nessas respostas, o jogo intersubjetivo definirá se o trauma será estruturante ou desestruturante.

A fim de exemplificar a situação traumática desestruturante, Ferenczi (1933/1992b) lança mão da cena de uma violência sexual perpetrada por um adulto contra uma criança, dando relevo à confusão de línguas aí envolvida. Enquanto a criança está na linguagem da ternura, apenas vivenciando fantasias lúdicas com relação ao adulto, este toma as brincadeiras infantis como investidas sexuais de quem já atingiu a maturidade. Por conta disso, responde através da linguagem da paixão, realizando atos plenos de significados sexuais. Entretanto, esse adulto, culpado pela ação cometida, diz à vítima que nada se passou; confusa, ela relata o ato a um terceiro, que também o nega. Monta-se, assim, o cenário traumático no qual o desmentido qualificará o trauma como desestruturante, imputando ao Eu imaturo a defesa radical da clivagem. Vejamos como tudo isso ocorre.

A resposta encontrada pela criança à violência sofrida e ao desmentido por parte de um terceiro a quem confiava é a identificação com o adulto agressor, o que consequentemente provoca a introjeção do sentimento de culpa deste. A partir daí, o Eu da criança divide-se em duas partes incomunicáveis, tornando-a, paradoxalmente, ao mesmo tempo inocente e culpada (Ferenczi, 1933/1992b). É como se o Eu infantil fosse invadido pelo agressor que, então, toma posse dessa instância, dando condições para a paixão assumir a palavra e se afastar totalmente da ternura. Paixão e ternura tornam-se desconhecidas, porém, ambas, se pretendem representantes legitimas do Eu infantil (Pinheiro, 1995).

Conforme comenta Pinheiro (1995), a clivagem na teoria ferencziana do trauma consiste na cisão do Eu em duas partes, as quais deixam de manter qualquer tipo de contato entre si. Nessa perspectiva, a autora chama nossa atenção para as semelhanças entre essas proposições e as ideias expressas por Freud (1940/1996i) no artigo A clivagem do ego no processo de defesa, no qual a cisão total do Eu também é causada pela penetração de um fato real na vida psíquica.

Uma vez instituída a clivagem no Eu, o desenvolvimento emocional do sujeito estará invariavelmente comprometido. Para começar, a clivagem manterá o núcleo da personalidade infantil preso de alguma forma ao momento da violência (Ferenczi, 1933/1992b). Ademais, a criança poderá viver uma "progressão traumática ou uma pré-maturação" (Ferenczi, 1933/1992b, p. 354),saída patológica, oposta à regressão, a qual impulsiona uma das partes clivadas ao amadurecimento precoce tanto no plano emocional quanto no intelectual. Ferenczi (1933/1992b) ilustra essa saída através da comparação com o amadurecimento precoce e rápido demais de um fruto em virtude da bicada de um pássaro. Pinheiro (2005) visualiza nessa imagem o esforço infantil em prol da superação da angústia e do sofrimento oriundos do trauma. Ainda de acordo com a autora, a parte prematuramente amadurecida, terá como difícil tarefa impedir novas mutilações no Eu e velar pela parte que se mantém na ternura. Para tanto, deverá apartar-se dos afetos. Tal configuração, como se pode antever, acarretará uma séria de prejuízos ao sujeito.

A nosso ver, a concepção ferencziana de clivagem deixa mais evidente do que a freudiana suas consequências patológicas. Entretanto, não podemos deixar de ressaltar que, apesar do seu caráter extremo e das suas consequências nefastas, tal mecanismo possui um viés positivo, uma vez que preserva parte da linguagem da ternura e permite ao sujeito manter uma mínima integridade psíquica. A criança sucumbe à clivagem porque não é capaz de abrir mão do adulto agressor enquanto objeto idealizado; entre abandoná-lo e clivar-se, fica com a segunda opção. Opção que livra o agressor da culpa, deixando-a somente com a vítima e, ao mesmo tempo, o conserva como objeto de amor - na esperança de introjetá-lo -, mantendo viva parte da linguagem da ternura (Ferenczi, 1933/1992b). Não seria equivocado então afirmar que, em última instância, é a clivagem que permite à criança sobreviver ao trauma.

Feita essa breve explanação do pensamento de Freud e de Ferenczi a propósito da clivagem, podemos passar agora a tecer algumas considerações adicionais a respeito desse mecanismo. Conforme apontado acima, a clivagem está diretamente relacionada à vivência de um trauma. Trata-se de uma defesa do Eu que ao ser confrontado com um sofrimento extremo consente, para sobreviver, em uma automutilação. A esse respeito, Reis (2004) sublinha que diante de uma experiência profundamente dolorosa que não pode ser recalcada, a clivagem é a única saída possível, a qual visa evitar, não a castração, mas o aniquilamento do sujeito. Desse modo, tal mecanismo não pode nem deve ser concebido como a consequência de um conflito, mas sim como uma ação contra a destruição psíquica e física.

Nessa perspectiva, a clivagem do Eu sinaliza a existência de conteúdos incapazes de ingressar no circuito representacional e que justamente por isso adquirem características distintas daquelas apresentadas pelo material recalcado. Nosso interesse agora recai sobre o retorno desse material. Assim, tendo como horizonte alguns fenômenos clínicos e buscando superar o paradoxo de se pensar no retorno de algo que nem mesmo chegou a se integrar como uma experiência vivida, abordaremos no próximo tópico as manifestações da clivagem.

A clivagem e suas manifestações

Dado que a clivagem comporta a presença de algo situado mais "além do princípio do prazer" (Freud, 1920/1996f, p. 28), convém fazer um breve resgate a respeito do solo que possibilitou a Freud questionar a dominância do princípio de prazer e conceber esse outro princípio de funcionamento psíquico. Após ser confrontado clinicamente com o fenômeno da compulsão à repetição, sobretudo nas neuroses traumáticas, Freud (1920/1996f) postula o conceito de pulsão de morte, trazendo para o interior da teoria a noção de uma força pulsional disruptiva. Com isto abre caminho para se pensar a constituição psíquica para "além do princípio do prazer" (p. 28) e do domínio da representação.

As neuroses traumáticas caracterizavam-se por, de alguma forma, remeterem constantemente o sujeito à concretude da cena traumática, provocando um acesso de angústia (Freud, 1920/1996f). Cardoso (2011) enxerga nessa característica da neurose traumática a presença da dimensão do "atual" (p. 75), dado que há uma repetição incessante de certos elementos e impressões, que retornam justamente porque não conseguiram se tornar passado devido a uma impossibilidade de historicização.

A insistência compulsiva em apresentar o elemento traumático sem a mediação da representação indica a existência de uma memória oposta à memória representacional, que é intrínseca às neuroses de transferência. Dessa forma, a recordação traumática - caracterizada pela literalidade, fixidez de seus elementos, atemporalidade - diz respeito a um passado que permanece cristalizado como presente no psiquismo, como marcas não metaforizáveis, como impressões sensoriais sem representação (Borges, 2012).

Pensando então na peculiaridade da memória na neurose traumática e partindo da noção de "inconsciente enclavado" (Laplanche, 2006, p. 15, citado por Cardoso, 2011), Cardoso (2011) trabalha com a hipótese de que os elementos enclavados são subjacentes a esse tipo de neurose. Tais elementos encontram-se isolados do restante do material psíquico, sem possibilidade de trânsito entre eles. São o resultado de uma falha em traduzir, a qual impede o elemento até mesmo de entrar no circuito representacional. O fracasso em traduzir, consiste em um fracasso radical de tradução, distinguindo-se, portanto, do fracasso de tradução, que seria um fracasso parcial de tradução. Este último se situa na base da constituição do recalcado e o primeiro na do material enclavado (Cardoso, 2002, 2011). Como esclarece a autora, os enclaves seriam mensagens que não sofreram a ação transformadora do recalque e ficaram bloqueadas. Como consequência, essas mensagens permanecem na íntegra, em sua originalidade, fixadas no registro do atual, em um presente que não se faz passado, situando-se na contracorrente do que seria a construção de uma história.

Considerando a especificidade da neurose traumática e a noção de "enclave" (Cardoso, 2011, p. 78), podemos dizer que as manifestações da clivagem estão muito mais próximas da repetição implacável das neuroses traumáticas, do que do simbolismo dos sintomas neuróticos balizados pelo recalque. E, ainda, que o conteúdo clivado guarda semelhanças com os elementos enclavados. Lembremos que, tanto Freud quanto Ferenczi, sugerem uma espécie de congelamento das vivências subjacentes à clivagem. Freud (1940/1996i), no artigo A divisão do ego no processo de defesa, postulou a existência de uma "fenda" (p. 293) no Eu, que ao invés de se fechar com o tempo, aumenta no seu decorrer. Ferenczi (1933/1992b), por sua vez, realçou a existência de um núcleo da personalidade que permanece preso ao momento traumático.

Ademais, no artigo de 1927, Freud (1927/1996g), através do fetichismo, aproxima o mecanismo da clivagem do fenômeno de amnésia traumática. A respeito do momento em que um fetiche é instituído - o que necessariamente acarreta em uma clivagem no Eu - Freud (1927/1996g) enuncia: "é como se a última impressão antes da estranha e traumática fosse retida como fetiche" (p. 157).

Assim, inferimos que na clivagem ocorre uma interrupção da memória, fazendo com que algo se perca. Comparando este mecanismo com o recalque, Reis (2004) esclarece que neste último, embora se perca a memória de um primeiro tempo, em um segundo momento, ela será ressignificada através de um sintoma portador de sentido. Mas, na clivagem os dois momentos são descontínuos e como ambos escapam ao sentido um não pode emprestar significado ao outro. É por isso que o clivado só é capaz de dar sinais de sua existência por meio de repetições incessantes sem o caráter simbólico e a formação de compromisso. Observamos, então, que o retorno do clivado comporta características próprias, muito distintas do que conhecemos através da ação do recalque. Nesse sentido, a temporalidade que está em jogo nos lembra a noção de fueros introduzida por Freud (1896/1996a) na Carta 52, bem como nos remete à ordem da presentificação.

Para entender a noção de fueros, cabe examinar como Freud apresenta o aparelho de memória na famosa carta. Nela, o aparato de memória é composto por camadas estratificadas, cujas extremidades são formadas pelo sistema perceptivo (W) e pela consciência (Bews). Entre eles, existem três níveis de registros: os signos de percepção (Wz), a inconsciência (Ub) e a pré-consciência (Vb). O signo da percepção é o primeiro registro das percepções, não é capaz de se tornar consciente e está disposto conforme as associações por simultaneidade. A inconsciência possui traços tomados em relação de causalidade que são passíveis de se tornarem conscientes. E a pré-consciência está relacionada às representações verbais. Dentro da lógica desse aparelho, para atingir a consciência um estímulo precisa antes percorrer os três registros citados, ou seja, passar pelos signos de percepção (Wz), pela inconsciência (Ub) e pela pré-consciência (Vb).

As inscrições feitas nesse aparato não são imutáveis. Pelo contrário, são passíveis de constantes rearranjos de acordo com as circunstâncias, o que implica uma retranscrição contínua. Dessa forma, uma inscrição psíquica não se dá de modo único, podendo sofrer transformações ao longo do tempo e se inserir em cadeias de associações (Freud, 1896/1996a).

Como citado anteriormente, para um estímulo atingir a consciência precisa passar pelos três níveis de registro. Contudo, nem por isso o acesso à consciência é garantido, dado que algumas retranscrições podem não ocorrer, fazendo com que certos traços mnêmicos sobrevivam inalterados, imutáveis, como fueros. Sobre isso escreve Freud (1896/1996a):

Quando falta uma transcrição subsequente, a excitação é manejada segundo as leis psicológicas vigentes no período anterior e consoante as vias aberta nessa época. Assim, persiste um anacronismo: numa determinada região ainda vigoram "fueros"; estamos em presença de "sobrevivência" (p. 283).

Os fueros, então, dizem respeito a um elemento arcaico em comparação aos outros elementos do aparato psíquico, um elemento que sobreviveu em sua forma original, sem conseguir atingir a consciência. Conforme comentam Pacheco-Ferreira, Mello e Herzog (2013), as experiências subjacentes aos fueros não passam por uma reinterpretação a posteriori e exatamente por isso, conservam o caráter original inalterado. É justamente por ilustrarem a impossibilidade de certas vivências se inscreverem psiquicamente, por não sofrerem retranscrições, situando-se mais próximos dos signos de percepção, que podemos traçar um paralelo entre os fueros e o material clivado do Eu. Nessa perspectiva, o retorno do clivado se caracteriza muito mais como presentificação do que como uma representação.

Nesse ponto cabe fazer uma distinção entre a presentificação (Darstellung) e a representação (Vorstellung). Embora a palavra Darstellung tenha sido usada por Freud no lugar da palavra Vorstellung, ela possui um sentido próprio, o qual se aproxima da noção de traço da Carta 52 (Freud, 1986/1996a). Resumidamente, podemos correlacionar a representação (Vorstellung) aos traços inconscientes e conscientes, já a presentificação ao signo de percepção (Darstellung), o qual, como apontado anteriormente, não é capaz de se tornar consciente. Nesse contexto, a representação (Vorstellung) é um desdobramento possível da presentificação (Darstellung), mas não o único (Herzog, 2011).

Recapitulando, os elementos clivados do Eu permanecem no psiquismo na posição de "enclave" (Cardoso, 2011, p. 78), uma vez que preservam todo o potencial traumático, conservando-se dissociados das trilhas associativas sem conseguirem transitar no campo do sentido (Borges & Cardoso, 2011). Assim, retornam praticamente em sua concretude, se apresentam por meio de uma memória traumática, conservando praticamente toda a realidade que lhes deu origem. Característica que Borges (2012) nomeia como "hiperlembranças" (p. 71), em contraponto às lembranças encobridoras (Freud, 1899/1996b), marcando que aquelas não são permeadas pela fantasia. Cabe destacar que as lembranças encobridoras, caracterizadas pela nitidez e aparente insignificância, envolvem na verdade experiências sexuais recalcadas da infância, sendo permeadas por fantasias inconscientes (Freud, 1899/1996b). Elas se encontram mais próximas do afeto e da percepção do que da representabilidade, guardando, justamente por isso, o aspecto realístico.

Winnicott (1994) no artigo O medo do colapso também se refere a uma espécie de congelamento temporal de determinada vivência subjetiva. Embora o autor não cite textualmente o termo clivagem, há em sua argumentação elementos úteis para nossa investigação. O medo do colapso seria o medo de algo que, apesar de já ter acontecido, não pôde ser experienciado, "trata-se de um fato que se carrega consigo escondido no inconsciente" (p. 73). Mesmo sem ser muito preciso a respeito, Winnicott (1994) ressalta que o inconsciente o qual faz referência se distingue do inconsciente recalcado da psiconeurose. Afirmação que permite vislumbrar semelhanças com o mecanismo da clivagem. Winnicott prossegue em sua argumentação dizendo que, paradoxalmente, o paciente continua a se preocupar com um evento passado, justamente por ele não ter sido experienciado, ou seja, ainda não ter se tornado passado. Não é justamente isso o que sucede com o material clivado pelo Eu? Não temos dúvidas que sim. Mas, a principal contribuição de Winnicott (1994) consiste em apontar a possibilidade de trabalho com esses pacientes. Nesses casos, o analista deve levar o analisando a aceitar "um tipo esquisito de verdade" (p. 73): a de que eles sofrem por algo que viveram, mas não experienciaram, e no decorrer da análise, através da transferência tratar-se-á de possibilitar que experimentem a agonia original. Tarefa que só é possível de ser desempenhada se o analista, por meio de falhas e equívocos, desde que não sejam excessivos, permitir ao paciente gradualmente reunir a experiência de agonia na área de sua onipotência (Winnicott, 1994). Tarefa que só é possível de ser desempenhada se o analista, por meio de falhas e equívocos, desde que não sejam excessivos, permitir ao paciente gradualmente reunir a experiência de agonia na área de sua onipotência. Lembrando que na concepção desse autor uma experiência só adquire o caráter de passado após o ego reuni-la dentro de sua própria e atual experiência temporal e de controle onipotente (Winnicott, 1963).

Para finalizar

Vimos que tanto no âmbito da teoria de Freud quanto na de Ferenczi, a clivagem do Eu está sempre remetida à presença de conteúdos traumáticos, podendo ser considerada um dos destinos do traumático. É uma defesa que ao cindir o próprio Eu, instaura uma ruptura intransponível no psiquismo dando origem a diversas áreas incomunicáveis, inviabilizando com isso a integração de certas experiências psíquicas.

Diferentemente do recalque, a clivagem não pressupõe um conflito psíquico ligado à censura e, portanto, também não culmina em uma solução de compromisso. Pelo contrário, suas manifestações guardam semelhança com as da neurose traumática, com tudo aquilo que é da ordem da presentificação. Assim, o clivado se mantém em sua concretude, tal como os "fueros" (Freud, 1896/1996a, p. 283), não circulando pelas redes associativas das representações. Afinal, ele se encontra afastado da consciência, mas em outro local que não o inconsciente recalcado das neuroses. No entanto, essa defesa, mais cedo ou mais tarde, tal como o recalque, dará sinais de parte de sua ineficiência, podendo gerar sintomas e sofrimento. Conforme destacou Ferenczi (1933/1992b), o sujeito poderá apresentar uma progressão traumática ou uma pré-maturação.

É importante ressaltar que, a despeito de termos explorado, no presente artigo, a radicalidade dessa defesa, na qual o Eu consente em uma automutilação, sem valorizar sua faceta positiva, como sinalizamos anteriormente, não se deve descartá-la. Borges e Cardoso (2011) sublinham que a clivagem, ao mesmo tempo em que utiliza recursos psíquicos que operam, em última análise, além dos princípios de prazer e de realidade, encontra-se também ligada à auto conservação. Ou seja, apesar da sua resposta radical, a clivagem não deixa de ser uma forma de preservação, ao menos em parte, da subjetividade.

Para finalizar, cabe ainda marcar que pressupor a coexistência da clivagem com os demais mecanismos psíquicos nas mais diversas configurações subjetivas - entendendo que o seu retorno envolve o que é da ordem da presentificação - tem se mostrado importante para a clínica na atualidade, em especial por observarmos um aumento na contemporaneidade de patologias na esfera da ação. Tomar a representação como uma das possibilidades diante da presentificação, e não a única, tal como pressupõe Herzog (2011), amplia nossa concepção de aparelho psíquico, fazendo com que a produção de representações verbais deixe de ser a alternativa exclusiva na prática clínica. Assim, diante desses casos nos quais o mecanismo psíquico da clivagem parece predominar na constituição psíquica, o analista está autorizado a considerar em sua escuta não só a linguagem verbal, mas toda e qualquer expressão do paciente, sua postura, seu gestual, a entonação da sua voz, ou seja, o registro do sensível. Atitude que tem se revelado uma das saídas para lidar com os casos nos quais o dispositivo da análise clássica freudiana parece não surtir muitos efeitos.

 

Referências

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Endereços para correspondência:
Jôse Lane Sales
jose.lane@hotmail.com.br

Regina Herzog de Oliveira
rherzog@globo.com

Fernanda Pacheco-Ferreira
fpachecoferreira@gmail.com

Submetido em: 26/12/2015.
Revisto em: 23/06/2016.
Aceito em: 09/07/2016.

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