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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.68 no.3 Rio de Janeiro dez. 2016

 

ARTIGOS

 

Razões maternas para colocar ou não o bebê na creche

 

Mothers' reasons to enroll or not the baby in day care

 

Razones maternas para inscribir o no al bebé en la guardería

 

 

Cesar Augusto PiccininiI; Rodrigo Gabbi PolliII; Marcela BortoliniIII; Gabriela Dal Forno MartinsIV; Rita de Cássia Sobreira LopesV

IDocente. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
IIPós-doutorando. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). São Leopoldo. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
IIIDoutoranda. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
IVPós-doutoranda. Programa de Pós-graduação em Educação. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Porto Alegre. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
VDocente. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O estudo investigou as razões maternas para colocar ou não o filho na creche no primeiro ano de vida. Participaram do estudo 69 mães e seus filhos, sendo que 26 estavam ingressando nas creches e 43 continuariam sendo cuidados pela mãe ou por outros cuidadores. As mães responderam a uma entrevista sobre maternidade e escolha de cuidado. A análise de conteúdo revelou que a decisão de colocar ou não o filho na creche nos primeiros seis meses é influenciada por razões relacionadas ao bebê, às próprias mães/pais e à rede de apoio. Além disso, verificou-se que as razões maternas para escolha de qualquer cuidado estiveram voltadas para as necessidades dos filhos. Quanto à creche, as mães destacaram sua importância para o desenvolvimento social e cognitivo, enquanto que, nos outros cuidados, as mães enfatizaram a atenção mais individualizada. Independentemente das razões específicas, estas eram envoltas em um processo complexo e dinâmico.

Palavras-chave: Comportamento de cuidado da criança; Creches; Desenvolvimento infantil.


ABSTRACT

The study investigated mothers' reasons to enroll or not children in day care during their first year of life. 69 mothers and their children participated in the study, of which 26 were entering the day care and 43 continued to be receive care by other caretakers. Mothers answered an interview involving questions about motherhood and choice of care. Content analysis revealed that the decision to enroll or not children in day care in their first six months is influenced by reasons related to the baby, to the mothers/fathers and to the support network. Furthermore, it was found that mothers' reasons for choosing any type of care were related especially to the baby's needs. Regarding the day care, the mothers emphasized its importance to the child's social and cognitive development, whereas, in relation to other ways of care, emphasized the importance of a more individualized and closer attention. Regardless of the specific reasons, these were involved in a complex and dynamic process.

Keywords: Child care behavior; Day care; Childhood development.


RESUMEN

El estudio investigó las razones maternas para inscribir o no al hijo en la guardería en el primer año. El estudio incluyó a 69 madres y sus hijos, de los cuales 26 estaban entrando en los centros de atención y 43 continuarían siendo cuidados por la madre u otros cuidadores. Se entrevistó a las madres sobre la maternidad y la elección de cuidado. El análisis de contenido reveló que la decisión de inscribir o no al hijo en los centros de atención en los primeros seis meses fue influenciada por razones relacionadas con el bebé, sus madres/padres y la red de apoyo. Además de eso, se verificó que las razones maternas para elegir cualquier cuidado estuvieron relacionadas con las necesidades de los hijos. En cuanto a los centros de atención, las madres destacaron su importancia para el desarrollo social y cognitivo, mientras que los otros cuidados, las madres enfatizaron la atención más individualizada. Independiente de las razones específicas, estas estaban involucradas en un proceso complejo y dinámico.

Palabras clave: Cuidado de niños; Jardines infantiles; Desarrollo infantil.


 

 

Introdução

Diversas mudanças sociais e culturais, como a entrada da mulher no mercado de trabalho, modificações na estrutura familiar e a reorganização de papéis entre cada um de seus membros contribuem para a crescente busca por cuidados alternativos para bebês e crianças pequenas (Rapoport & Piccinini, 2004; Rossetti-Ferreira, Ramon, & Silva, 2002). Desse modo, a creche e a pré-escola e também outras formas de cuidado (como a babá e outros familiares) têm se tornado importantes contextos de desenvolvimento para muitas crianças.

No Brasil, especificamente, nos últimos oito anos, as matrículas em creche cresceram 84,6% e já atenderam mais de 3 milhões de crianças. No ano de 2015, o crescimento foi de 6,2%. (INEP, 2017). Por um lado, isso ocorre porque a mulher, sobretudo em famílias de menor nível socioeconômico, precisa voltar ao trabalho e contribuir com o orçamento familiar. Neste caso, muitas mães procuram creches públicas e gratuitas, já que não possuem condições financeiras para escolher outra forma de cuidado alternativo ou não contam com rede de apoio para compartilhar os cuidados ao bebê.

De modo semelhante, em famílias de maior nível socioeconômico, muitas vezes, o retorno da mulher ao trabalho, logo após o período de licença-maternidade, tem aparecido associado ao desejo de conciliar a maternidade e a carreira (Rocha-Coutinho, 2005). Contudo, essas famílias com melhores condições financeiras podem escolher com maior liberdade o cuidado alternativo que melhor se adapte às suas necessidades, crenças e expectativas.

Apesar das publicações existentes, ainda sabe-se pouco acerca das razões que levam os pais a optarem por uma forma de cuidado alternativo em detrimento das demais (Fuller, Holloway, & Liang, 1996; Singer, Fuller, Keiley, & Wolf, 1996). Contribui para isto o fato de grande parte dos estudos terem investigado a influência de fatores socioeconômicos na escolha dos cuidados (Early & Burchinal, 2001; Geoffroy et al., 2012; Leslie, Ettenson, & Cumsille, 2000; Liang, Fuller, & Singer, 2000; Peyton, Jacobs, O'Brien, & Roy, 2001) e poucos buscaram compreender qualitativamente as justificativas dos pais para suas escolhas.

O presente estudo, no entanto, parte do pressuposto de que os pais experienciam sua escolha como parte de um processo dinâmico que inter-relaciona diversos fatores, envolvendo decisões sobre o trabalho, os cuidados que desejam para sua criança e as rotinas familiares, entre outros (Meyers & Jordan, 2006). Outros autores corroboram esta perspectiva e incluem, além dos aspectos socioeconômicos das famílias, a forma individual com que os pais experienciam o retorno ao trabalho, como avaliam a qualidade dos diferentes cuidados e o que priorizam para o desenvolvimento do filho (Early & Burchinal, 2001; Henly & Lyons, 2000).

Para compreender a dinamicidade por detrás desse processo, é relevante considerar que a escolha por um cuidado alternativo se dá, geralmente, no contexto de retorno da mãe ao trabalho, momento em que ela precisa separar-se do filho. Este é um momento delicado para a mãe e para o bebê, bem como para o restante da família e, muitas vezes, a angústia da mãe se manifesta em suas dúvidas sobre a melhor forma de cuidado alternativo (Rapoport & Piccinini, 2004; 2006). Nesse sentido, Meyers e Jordan (2006) afirmam que, muitas vezes, as razões pelas quais as mães escolhem o cuidado alternativo refletem formas de lidar com os conflitos advindos deste momento, sendo que algumas mães preferem manter os filhos sob um cuidado mais próximo ao familiar, enquanto outras preferem oportunidades educacionais.

Entre os inúmeros fatores que afetam a decisão por algum tipo de cuidado alternativo, encontra-se a idade da criança no momento de retorno da mãe ao trabalho (Early & Burchinal, 2001; Fuller et al., 1996; Liang et al., 2000; Singer et al., 1996; Zucker, Howes, & Garza-Mourino, 2007). Em geral, os estudos demonstram que, quando a criança é mais nova, a chance de os pais escolherem um cuidado alternativo é menor (NICHD, 2001; Singer et al., 1996; Sylva, Stein, Leach, Barnes & Malmberg, 2007; Zucker et al., 2007), preferindo então manter o bebê sob cuidados exclusivos da mãe. Bellini (2008) identificou que no final do primeiro ano do bebê, as mães passaram a considerar a inserção na creche, de modo que a criança e a mãe mostravam-se mais autônomas e independentes.

No entanto, muitas vezes, as mães não conseguem postergar seu retorno ao trabalho e precisam escolher um tipo de cuidado alternativo para a criança, mesmo ela sendo muito pequena. Nesses casos, tendem a preferir um cuidado que se aproxime mais ao contexto familiar, inclusive privilegiando que os cuidadores (especialmente parentes) venham até a casa da família (Rapoport, 2003). Estes pais acreditam que crianças pequenas precisam de um cuidado mais individualizado e de um ambiente afetivo (Erdwins, Casper, & Buffardi, 1998).

Se para alguns pais escolher cuidados de parentes ou babás pode se constituir em uma forma de lidar com os conflitos característicos do momento de retorno da mãe ao trabalho, para outros, a opção por uma creche desempenha um papel semelhante. Razões para esta escolha também não faltam e estão ligadas, muitas vezes, à valorização da creche enquanto um ambiente seguro e educativo, onde a criança terá a oportunidade de interagir e conviver com outras crianças e adultos (Rapoport & Piccinini, 2004; Scarr, 1998), podendo, assim, desenvolver habilidades de cooperação (Liang et al., 2000). Além disso, pais que escolhem a creche geralmente a preferem por preparar a criança academicamente para a escola, além de estimular o seu desenvolvimento social e emocional (Zucker, Howes, & Garza-Mourino, 2007; Vesely, 2013). Por isso, um critério que também é citado por estes pais diz respeito à qualificação específica dos profissionais que atuam nesse contexto (Early & Burchinal, 2001).

Para algumas famílias, os aspectos acima citados são tão relevantes que, mesmo quando as mulheres não precisam retornar a uma atividade remunerada, elas escolhem colocar seus filhos na creche (Rapoport & Piccinini, 2004; Vesely, 2013). Embora essa escolha possa resultar também da sobrecarga com tarefas domésticas e com as funções relativas à maternidade, ao mesmo tempo, essas mães acreditam que a creche poderá auxiliar no desenvolvimento da criança (Rapoport & Piccinini, 2004; Vesely, 2013).

Embora, como os estudos têm demonstrado, a escolha por determinado tipo de cuidado alternativo seja bastante permeada pela forma com que cada pai/mãe lida com esta transição e por suas crenças em relação ao melhor cuidado para a criança, não se pode esquecer que questões ligadas à organização da rotina diária da família também são aspectos considerados no momento da escolha. Erdwins et al. (1998) verificaram que, embora a babá geralmente seja mais cara que uma creche, alguns pais preferem este tipo de cuidado em função da economia de tempo de deslocamento, das ocasiões em que a criança adoece e precisa ficar em casa, além de a babá também ajudar em algumas tarefas domésticas.

Já questões ligadas à localização e aos horários são mencionadas tanto por pais que escolhem cuidados de parentes ou babás (Henly & Lyons, 2000), quanto por aqueles que escolhem a creche (Zucker et al., 2007). No primeiro caso, enfatiza-se que não há necessidade de deslocar-se para levar o filho até uma instituição e que os horários das pessoas que cuidam da criança tendem a ser bastante flexíveis, podendo ajustar-se aos horários dos pais (Henly & Lyons, 2000). Já no que se refere à creche, alguns pais justificam sua escolha por ela estar localizada próxima a casa da família e por ter horários amplos (Zucker et al., 2007).

Considerando conjuntamente todos esses aspectos, entende-se que investigar as razões dos pais pela escolha de um cuidado alternativo possibilita compreender como experienciam o momento de retorno ao trabalho e de separação do bebê, especialmente no caso das mães. Além disso, permite conhecer suas crenças sobre as necessidades da criança, bem como sobre o ambiente considerado mais adequado ao seu desenvolvimento. A investigação destes aspectos pode auxiliar profissionais que atuam junto às famílias, bem como os que atuam como cuidadores alternativos, como babás e educadores em creches. Neste último caso, conhecer as crenças dos pais pode ser importante para auxiliá-los no processo de adaptação do bebê à creche (Martins & Piccinini, 2014).

Diante disso, o presente estudo teve como objetivo investigar as razões maternas para colocar ou não o filho na creche no primeiro ano de vida. Em particular, buscou-se explorar, do ponto de vista qualitativo, as justificativas que as próprias mães relatam para sua escolha, possibilitando, assim, compreender a complexidade envolvida neste processo.

 

Método

Participantes

Participaram deste estudo 69 mães, com idades entre 21 e 43 anos, que residiam com o pai do bebê. Na ocasião da coleta de dados, os bebês tinham entre 3 e 13 meses de idade e não apresentavam problemas graves de saúde. Destes, 26 estavam ingressando em duas creches públicas federais (Grupo creche) e 43 eram cuidados exclusivamente pela mãe ou por outros cuidadores, como babá e familiares (Grupo não creche).

A Tabela 1 apresenta as principais características sociodemográficas dos participantes.

Todos os participantes foram selecionados de um estudo maior, intitulado Impacto da creche no desenvolvimento socioemocional e cognitivo infantil: estudo longitudinal do sexto mês de vida do bebê ao final dos anos pré-escolares - Cresci (Piccinini et al., 2012). Este projeto tem como objetivo maior investigar o impacto da creche no desenvolvimento socioemocional e cognitivo de crianças, desde seu sexto mês até o final dos anos pré-escolares. O projeto encontra-se melhor descrito em (Piccinini et al., 2012). Para fins do presente estudo, foram considerados apenas os dados coletados no sexto mês de vida dos bebês.

Delineamento, procedimentos e instrumentos

Foi utilizado um delineamento de grupos contrastantes (Nachmias & Nachmias, 1996), envolvendo um grupo de bebês que estava ingressando na creche (Grupo creche) e um grupo de bebês cuidados pela mãe ou por outros cuidadores (Grupo não creche). Com relação ao Grupo creche, após convite e aceite das famílias, foi agendado um primeiro encontro, antes do ingresso do bebê na creche, no qual, inicialmente, os pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, em seguida, preencheram a Ficha de Dados Demográficos da Família - 6º mês (NUDIF, 2011a). Num segundo momento, as famílias foram ao Instituto de Psicologia, onde as mães responderam à Entrevista sobre a maternidade - 6° mês (NUDIF, 2011b). Tal entrevista semiestruturada é composta de seis blocos de questões que investigam sentimentos, expectativas e crenças da mãe sobre o bebê, sobre si mesma e sobre o companheiro. A entrevista tinha duração de aproximadamente uma hora, era gravada e, posteriormente, transcrita. Para fins do presente estudo, foram examinadas apenas as respostas das mães a respeito das suas razões para a escolha de colocar ou não o bebê na creche (por exemplo, Por que vocês escolheram colocar (ou não) a criança na creche neste momento?). Com relação ao Grupo não creche, aquelas que se voluntariaram a participar responderam aos mesmos instrumentos descritos anteriormente.

 

Resultados

Os relatos das mães sobre suas razões para colocar ou não seu filho na creche foram examinados através de análise de conteúdo (Bardin, 1977; Laville & Dionne, 1999), com base em três categorias derivadas da literatura (Rapaport, 2003; Fuller et al., 1996; Tang, Coley, & Votruba-Drzal, 2012) e nos próprios dados, a saber: 1) Razões relacionadas ao bebê; 2) Razões relacionadas à mãe/pai; e 3) Razões relacionadas à rede de apoio. Cada uma destas categorias envolve diversas subcategorias, cujas porcentagens e frequências serão apresentadas a seguir, juntamente com vinhetas ilustrativas. Dois pesquisadores classificaram de forma independente todas as vinhetas nas categorias e subcategorias e, quando houve divergências, discutiram até chegar a um consenso.

A Tabela 2 apresenta as porcentagens e frequências das razões maternas para colocar ou não o bebê na creche, com destaque para as categorias e subcategorias. Ressalta-se que uma mesma mãe pode ter citado mais de uma razão, classificadas em diferentes categorias e subcategorias. Dessa forma, todas as porcentagens que serão apresentadas têm como referência o total de mães pertencentes a cada grupo (Grupo creche e Grupo não creche).

Razões para colocar na creche

As mães cujos filhos estavam ingressando na creche relataram mais frequentemente "razões relacionadas ao bebê" (92%), seguidas por "razões relacionadas à mãe/pai" (62%) e "razões relacionadas à rede de apoio" (65%). Apenas três mães mencionaram "outras razões".

Dentre as razões relacionadas ao bebê, a qualificação da creche foi uma das mais mencionadas pelas mães (58%)1, uma vez que esta possuía características que as mães valorizavam, como rotina e formação das educadoras. Nesse sentido, devido aos seus atributos, a creche contribuiria positivamente na vida da criança: "A qualidade da creche é outra coisa importante. Eu gosto muito deles, a maneira como eles agem com as crianças, a riqueza dos estilos" (M15). Outra razão citada pela maioria das mães foi a socialização da criança (58%), pois a creche seria um lugar onde o seu filho conviveria com outras crianças e adultos. Desse modo, a maior socialização do bebê propiciada pela creche foi apontada como vantagem quando comparada com outras formas de cuidado: "Pelo fato também de tá junto com outras crianças, ter essa interação social maior, essa sociabilização da criança" (M10).

Várias mães (35%) também relataram o estímulo para o desenvolvimento como uma das razões que as levou a escolherem a creche. Dessa forma, as falas das mães apresentaram a creche enquanto um lugar que estimulava o desenvolvimento e o crescimento da criança, colaborando para a aquisição de novas habilidades e capacidades: "A criança que vai pra escola tem um desenvolvimento diferente do que a criança que fica em casa com a babá, porque eu acho que é impossível uma babá sozinha estimular e botar a criança em contato, em interação com o mundo tanto quanto uma escola" (M14). Além disto, o ambiente seguro da creche foi citado por algumas mães (23%) como uma das razões, porque julgavam que a instituição tem uma boa infraestrutura, várias pessoas cuidando das crianças, além de haver uma confiança nas educadoras: "Eu acho muito mais seguro tu deixar o teu filho num lugar que foi feito pra cuidar de criança, todo o ambiente tem segurança, tem toda a infraestrutura pra eles brincarem mais e tagarelarem, se formaram para cuidar de crianças" (M14).

Dentre as razões relacionadas à mãe/pai, o fato da mãe precisar trabalhar foi mencionado várias vezes (42%): "Em função do trabalho eu não posso ficar com ele" (M4). Por outro lado, o fato de a creche ser oferecida pelo empregador da mãe ou do pai foi uma das razões que contribuiu para a tomada da decisão (38%): "Primeiro, o fato de [o emprego] ter esse benefício. E financeiramente é muito importante pra nós ser a creche da universidade, da gente não ter gasto com isso. Então tava fora de cogitação qualquer outra opção" (M5).

Algumas mães (12%) também citaram a acessibilidade e proximidade da creche, por ser perto da casa ou do trabalho, como uma das razões que colaborou para a escolha: "Eu tenho como vir, é pertinho" (M25). Além disto, uma mãe (M16) ainda referiu que não saberiam o que fazer com o bebê: "Eu e o meu marido precisamos de orientação nos cuidados [da filha]"; enquanto outra (M18) mencionou que a presença dos avós ajudando a cuidar prejudicaria o relacionamento do casal.

Por fim, dentre as razões relacionadas à rede de apoio, a maioria das mães (54%) relataram que optaram pela creche, pois não tinham com quem contar, não dispondo de outras pessoas que pudessem cuidar do bebê: "E não temos quem fique com ela. Não tem nenhum parente, não tem irmã, não tem tia, né. Não tem ninguém de confiança assim pra fica com ela. Vai pra creche, esse é o principal motivo" (M1). Outra razão relatada por algumas mães (15%) foi a de não querer sobrecarregar os familiares deixando o filho aos cuidados deles: "Eu não ia deixar ela com os meus pais, não por não ter confiança neles, mas eu acho que eles já criaram dois filhos, já cuidaram, e agora eles têm que aproveitar" (M22).

Além disso, algumas mães (15%) também mencionaram não querer estranhos em casa como uma das razões que as levou a decidir pela creche: "Porque mesmo que fosse babá, tinha que ser alguém assim, conhecido, de confiança. A gente nunca cogitou contratar uma pessoa por agência, desconhecida. Então acho que nesse momento, o menos pior é que ele fique na creche, do que ficar com uma pessoa sozinho em casa, que a gente não sabe" (M2). Uma mãe (M9) ainda relatou preferir colocar o filho na creche e não deixar sob os cuidados da avó, pois se sentia preocupada com as manias que a avó poderia dar ao filho.

Razões para não colocar na creche

As mães que decidiram não colocar o seu filho na creche destacaram "razões relacionadas ao bebê" (88%), seguidas de "razões relacionadas à mãe/pai" (49%) e "razões relacionadas à rede de apoio" (37%).

Dentre as razões relacionadas ao bebê, a crença de que a creche não é adequada ao bebê foi a mais mencionada pelas mães (60%)2, uma vez que esta possui características que as mães consideravam negativas ou prejudiciais para o desenvolvimento do filho. Nesse sentido, a creche configuraria um ambiente com alguns riscos: "Na minha cabeça, a figura que vem de uma creche pra um bebê de colo é um nenê sozinho no berço porque tem várias crianças e não tem como elas darem conta de todo mundo" (M37).

Outra razão mencionada por várias mães (44%) foi a importância da família e de um contexto conhecido, visto que essas priorizavam o ambiente familiar e acreditavam que esse seria o mais saudável para o seu filho. Desse modo, o contexto de casa contribuiria positivamente para o desenvolvimento das crianças: "Eu acho que a criança, nos primeiros meses, ela tem que ter um modelo, uma segurança e o ambiente familiar é o que vai trazer, é onde ele vai moldar a personalidade dele, o tipo de vínculo que ele vai ter" (M31).

Outra razão mencionada para não colocar o filho na creche foi a idade do bebê (28%). Nesse sentido, essas mães referiram que os seus filhos eram muito novos para frequentar a creche, preferindo que eles fossem maiores para ingressarem em um ambiente escolar: "É pela questão de achar ela muito frágil ainda para ir à escolinha, sabe? Dela ser muito pequena" (M49). Além disto, a questão de o ambiente de casa ser mais seguro foi outra razão destacada por algumas mães (26%), que referiram ter um controle maior em casa, pois sentiam que a criança não iria contar tudo o que pode acontecer na creche, assim como receberiam mais atenção: "Eu tenho medo de botar na creche enquanto ele não fala, ainda. Porque pode sofrer maus-tratos. Eu acho que eu criarei o meu filho muito melhor do que uma atendente de creche. Eu dou o amor que eu quero e eu dou o limite que eu quero" (M45).

Algumas mães (19%) relataram também a atenção individualizada como uma das razões que as levou a fazerem essa escolha, visto que preferiam que o filho tivesse um cuidado particular de uma pessoa que estivesse atenta a ele. Nesse sentido, devido à quantidade de crianças em um ambiente escolar para dividir a atenção dos professores, a creche não seria um local adequado: "Acho que em casa ele vai ter uma dedicação mais exclusiva assim de, enfim, vai ser uma pessoa só cuidando dele, coisa que na creche tu tem uma pessoa pra quatro crianças" (M51).

Dentre as razões relacionadas à mãe/pai, o fato da mãe querer cuidar do filho, foi a mais mencionada pelas mães (19%). Desse modo, essas mães desejavam estar perto do seu filho, cuidando dele: "Então, tu ter um filho, tu demorar pra ter, pra deixar pra outras pessoas cuidarem, né, tu não curtir esse momento que passa tão rápido, né. Então, essa é a opção, né. Uma coisa tão esperada que a gente quer tanto, eu quero mais é curtir" (M62). Por outro lado, a insegurança materna foi uma das razões que também contribuiu para a decisão de algumas mães (16%). Por não confiarem nos cuidados oferecidos pela creche ou por outras pessoas, elas preferiram cuidar ou que alguém de confiança cuidasse do seu filho: "Primeira coisa é que eu tenho muito medo, assim né, de creche porque eu sei que o cuidado não é o mesmo. O cuidado com o teu filho é assim tu mesma, né, ninguém vai cuidar do teu filho como a própria mãe né. Então, a gente não confia muito em creche" (M42).

Ao mesmo tempo, o desemprego materno foi outra razão mencionada por algumas mães (12%), pois não haveria vantagem em colocar o filho na creche com a falta de emprego ou mesmo com um emprego no qual receberia muito mal. Assim, algumas mães referiram que, devido às suas condições financeiras, seria melhor ter o filho sob os seus cuidados: "Principalmente porque eu parei de trabalhar, e aí não teria motivo nenhum ela ir pra uma creche e eu ficar né em casa" (M56). Além disso, três mães (7%) também citaram o fato de a creche ser cara como uma das razões: "Meu salário era um salário baixo, eu recebia em torno de 700 reais. As creches que tem perto de casa são carérrimas, tu paga 500 reais pra colocar na creche aí eu trabalhar por 200 reais não vale a pena" (M69).

Outra razão mencionada por duas mães (5%) foi a proximidade e facilidade de outro tipo de cuidado (que não a creche), ajudando algum aspecto da sua rotina: "Então, acho que um dos motivos, a questão dos horários que acho que com uma babá em casa, eu posso ir em casa qualquer hora ficar com ela" (M63). Outras duas mães (5%) também mencionaram o desejo de querer amamentar o bebê: "Eu pensei primeiro na amamentação, se eu tivesse uma pessoa em casa eu poderia vir ao meio-dia pra dar mamá pra ela" (M64). Já uma mãe (M40) referiu que os horários do casal não se adaptavam à creche.

Por fim, dentre as razões relacionadas à rede de apoio, várias mães (37%) mencionaram "ter pessoas disponíveis para cuidar do bebê" como justificativa para não terem escolhido a creche: "É o fato de que não tem necessidade, tem duas avós praticamente à disposição, uma mais que a outra, e depois outra mais que uma" (M34).

 

Discussão

O presente estudo teve como objetivo investigar as razões maternas para escolha da creche ou de outros tipos de cuidado disponibilizados ao bebê. Em particular, buscou-se explorar qualitativamente as escolhas das mães, investigando suas justificativas, o que permitiu compreender a complexidade envolvida neste processo. Os estudos têm destacado diversas razões para se colocar o bebê na creche, entre elas a socialização (Rapoport & Piccinini, 2004; Scarr, 1998); o desenvolvimento de habilidades de cooperação (Liang et al., 2000); a preparação acadêmica (Zucker et al., 2007; Vesely, 2013). Os resultados não só corroboram com os achados da literatura, como os estende ao apresentar uma lista expressiva de razões mencionadas pelas mães para colocarem o filho na creche. Para além disto, o presente estudo descreve uma série de razões maternas para não colocar o filho na creche, o que tem sido raramente investigado pelos estudos.

Em relação às razões apresentadas pelas mães que colocaram seus bebês na creche, a quase totalidade destacou aquelas relacionadas ao próprio bebê. Especificamente, as mães ressaltaram aspectos ligados à promoção do seu desenvolvimento no contexto da creche, tais como a socialização e o estímulo, considerando a qualificação da creche escolhida. Mesmo quando falaram deste último aspecto, as mães o relacionaram com a formação pedagógica das educadoras e com a riqueza que isso poderia trazer para a rotina dos filhos. Tais resultados vão ao encontro da literatura, que refere que pais que optam pela creche geralmente têm razões ligadas à promoção do desenvolvimento (Early & Burchinal, 2001).

No entanto, razões relacionadas à mãe/pai também foram bastante frequentes no grupo de mães que optaram pela creche e foram mencionadas por mais da metade das mães. Aqui o mais saliente foi a necessidade de elas voltarem ao trabalho após a licença-maternidade, bem como o custo da creche, subsidiado pela instituição na qual elas trabalhavam, e a proximidade em relação ao trabalho. Tais razões foram bastante salientadas neste grupo, composto em sua maioria por mães que trabalham no serviço público federal e que, portanto, dificilmente abandonariam seu trabalho. Também se salienta que, comparada aos cuidados de babás ou parentes, a creche é mais estável quanto aos horários e dias de funcionamento. Outros estudos (Erdwins et al., 1998; Zucker et al., 2007) já destacaram que os pais consideram, na escolha do cuidado, questões de ordem prática e, neste caso, o horário fixo de trabalho das mães pode ter contribuído para escolha de um cuidado que também oferecesse estabilidade nos horários.

Nessa mesma direção, os resultados também indicaram que mais da metade desse grupo de mães mencionou a ausência de uma rede de apoio adequada como a razão que as levou a escolher a creche. Em função da necessidade e/ou desejo de voltar a trabalhar e de não ter com quem contar, a creche foi a principal escolha dessas mães. É interessante que, nesse grupo, os relatos das mães pareceram indicar que elas podiam contar pouco com uma rede de apoio envolvendo familiares, seja porque residiam em cidades diferentes, seja porque não queriam explicitamente sobrecarregar os avós do bebê, por considerarem que não seria função para eles, ou até que não cuidariam adequadamente. Tais aspectos podem também estar associados a valores e características específicas deste grupo de mães, tais como a grande ênfase na carreira profissional e consequente deslocamento de suas cidades de origem para estudar e trabalhar e a valorização da independência intergeracional.

Resultados distintos foram verificados no grupo de mães que não colocaram seus filhos na creche. As razões relacionadas ao bebê também foram as mais frequentes e refletiram as crenças de que os filhos precisavam de um ambiente mais íntimo, que promovesse uma experiência de maior individualidade e, ao mesmo tempo, de maior vinculação com poucas pessoas, especialmente pais e irmãos. Nesse sentido, a creche não foi considerada adequada justamente por expor o bebê a um contexto de pouca atenção individual e a mais riscos. Estes achados são corroborados pela literatura, que destaca que alguns pais acreditam que crianças pequenas precisam de um cuidado mais individualizado e de um ambiente afetivo (Early & Burchinal, 2001; Erdwins et al., 1998) e consideram muito importante a confiança e familiaridade com os cuidadores, avós ou babás (Henly & Lyons, 2000).

Nesse mesmo grupo de mães que optaram por não colocar o filho na creche, quase metade delas também mencionaram razões relacionadas à mãe/pai. Foram referidos motivos bastante variados, embora vários estiveram ligadas ao desejo da mãe de manter-se próxima do bebê e de querer cuidar dele, e pela sua insegurança em deixar o filho aos cuidados de outrem. Estas razões também têm aparecido em outros estudos que mostram que algumas famílias postergam a inserção da criança em algum cuidado alternativo em função da crença social de que a mãe deveria cuidar o filho (Rossetti-Ferreira, Amorim, & Vitória, 1994) ou porque os pais tendem a confiar mais em uma pessoa familiar (Henly & Lyons, 2000).

Por outro lado, o desemprego materno, associado ao fato de que uma creche custa caro, também foi razão mencionada por algumas mães. Elas afirmaram que não valeria a pena trabalhar e gastar quase todo seu salário com a creche, optando por permanecer em casa com os filhos, o que evidencia a importância do fator socioeconômico na escolha do cuidado (Early & Burchinal, 2001; Henly & Lyons, 2000; Meyers & Jordan, 2006). Também é preciso considerar que essas mães, diferentemente do Grupo creche, descrito acima, em sua grande maioria, não eram funcionárias públicas, de modo que nem seu salário, nem a estabilidade do emprego foram fatores que as motivaram a retornar ao trabalho após a licença-maternidade.

Ainda no grupo de mães que não colocaram seus filhos na creche, as razões ligadas à rede de apoio foram pouco explicitadas. A única razão mencionada nessa categoria foi ter pessoas disponíveis para cuidar do bebê, indicando que havia uma rede de apoio disponível nesse grupo. Contudo, é importante salientar que uma parte destas mães optou por ficar cuidando exclusivamente do filho, enquanto outra parte contou com pessoas da família ou optou por contratar uma babá. Os relatos de várias destas mães revelaram que elas pareciam particularmente empenhadas em valorizar a proximidade familiar (Rapoport, 2003). Isto, juntamente com a disponibilidade de familiares, pode ter contribuído para a escolha de um familiar para ajudar nos cuidados do bebê (Zucker et al., 2007).

Examinando-se conjuntamente as razões maternas, seja para colocar ou não colocar o bebê na creche, em ambos os grupos razões relacionadas ao bebê apareceram com alta frequência. Contudo, examinando-se qualitativamente os resultados, diferenças foram identificadas. Por exemplo, no grupo de mães que optaram pela creche, talvez, a maior inevitabilidade do retorno ao trabalho e a consequente escolha da creche como cuidado alternativo parecem ter favorecido que elas supervalorizassem o potencial da creche como promotora do desenvolvimento da criança, especialmente em termos sociais e cognitivos. Por outro lado, nenhuma das mães que optou pela creche associou a sua escolha ao desejo de que o bebê pudesse ter, por exemplo, uma relação de vínculo forte com outros adultos ou que pudesse ser respeitado na sua individualidade e ritmo.

No entanto, atentar para essas questões é também muito importante, desejável e possível no contexto de creches, especialmente as com boa qualidade, que valorizam a sensibilidade como característica elementar da interação educador/bebê (Bressani, Bosa, & Lopes, 2007). No referido estudo, foi encontrado que a educadora responsável pela turma apresentava boa responsividade e demonstrava capacidade de cuidar de modo sensível dos bebês, percebendo nos sinais e comportamentos deles as suas necessidades e respondendo adequadamente a elas através de contato físico afetivo, sorriso e fala. Portanto, a creche pode se constituir em um ambiente que permita o desenvolvimento emocional e individual do bebê, além do tradicionalmente mencionado, quanto ao desenvolvimento social e cognitivo.

Contudo, lamentavelmente, as creches nem sempre se empenham em cuidar e valorizar estes aspectos mais emocionais do desenvolvimento do bebê e isto acabou sendo destacado entre as razões das mães para não colocarem o bebê na creche. Neste grupo, as razões ligadas ao bebê também foram as principais, mas estiveram muito mais associadas a um desejo da mãe de proporcionar uma experiência intimista, de maior proximidade com o bebê a família, considerando tais experiências relevantes para o desenvolvimento do bebê. Nesse sentido, neste grupo, as razões relacionadas ao bebê e as razões relacionadas à mãe/pai mostraram-se mais emaranhadas, sendo difícil identificar até que ponto o bem-estar do bebê era o critério principal de sua escolha ou se seriam demandas, desejos e dificuldades da mãe.

Parece prevalecer nos relatos maternos uma visão bastante dicotômica a respeito da experiência que é proporcionada pelos contextos creche e não creche. Parece que na creche não haveria espaço para intimidade e construção de um vínculo bebê/adulto e que em casa não haveria espaço para promoção do desenvolvimento social e cognitivo. Essas são visões antagônicas que precisam ser mais bem discutidas e aprofundadas em novos estudos. Acredita-se que ambos os contextos podem e devem atender às necessidades emocionais, sociais e cognitivas do bebê. Dessa forma, cuidados dispensados ao bebê precisam integrar suas diferentes necessidades, independentemente do contexto no qual são realizados.

Quanto ao contexto da creche, sugere-se que os programas de capacitação oferecidos aos educadores passem a priorizar o desenvolvimento de estratégias para que possam atender particularmente as demandas de desenvolvimento emocionais de cada bebê, já que as sociais e cognitivas parecem já ser valorizadas. Obviamente isto só ocorrerá em um ambiente de creche adequado, com condições de trabalho gratificantes, com número reduzido de bebês por educadora, no qual a relação bebê/educadora possa ser pautada pela sensibilidade e gratificação para ambos. Embora isto seja particularmente almejado para o contexto da creche, por vezes, também não é encontrado nas relações mãe/bebê, especialmente quando estas envolvem mães com dificuldades emocionais, como a depressão pós-parto (Frizzo & Piccinini, 2005).

Embora o presente estudo traga uma contribuição nas investigações sobre as razões maternas para colocar ou não o filho na creche, é importante destacar que se trata de um grupo de mães com características socioeconômicas de classe média e média alta, residentes em uma capital, sendo que ao Grupo creche eram oferecidas pelos empregadores duas creches de boa qualidade. É óbvio que as razões maternas acabaram influenciadas pelas características das participantes e estes achados provavelmente não se repetirão em outros contextos. Além disto, é importante lembrar que esta separação entre razões apresentada neste artigo é meramente didática e que a decisão por um ou outro cuidado envolve um processo dinâmico que inter-relaciona inúmeros fatores (Meyers & Jordan, 2006). E, em última instância, como destacado no título deste artigo, parafraseando Pascal (1670), "As mães têm razões que a própria razão desconhece". Nesse sentido, não se trata de julgar as razões das mães, mas compreendê-las para melhor intervir junto às famílias e para buscar a qualificação dos cuidados, independentemente do contexto.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Cesar Augusto Piccinini
piccinini@portoweb.com.br

Rodrigo Gabbi Polli
ropsiufsm@gmail.com

Marcela Bortolini
bortolini.marcela@gmail.com

Gabriela Dal Forno Martins
gdalfornomartins@gmail.com

Rita de Cássia Sobreira Lopes
sobreiralopes@portoweb.com.br

Submetido em: 26/12/2015
Aceito em: 15/05/2016

 

 

1 No Grupo creche, para facilitar a exposição dos achados, foi utilizada a seguinte descrição quanto ao número de mães que fizeram relatos classificados em cada subcategoria: uma/algumas mães [1 a 6 (23%)]; várias mães [7 (26%) a 13 (50%)]; a maioria das mães [14 (53%) a 20 (76%)]; a grande maioria/todas as mães [21 (80%) a 26 (100%)]. Já a autoria das vinhetas será identificada pela letra M seguida do número do caso.
2 No Grupo não creche, para facilitar a exposição dos achados, foi utilizada a seguinte descrição quanto ao número de mães que fizeram relatos classificados em cada subcategoria: uma/algumas mães [1 a 11 (25%)]; várias mães [12 (28%) a 21 (49%)]; a maioria das mães [22 (51%) a 33 (76%)]; a grande maioria/todas as mães [34 (79%) a 43 (100%)].

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