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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.70 no.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2018

 

ARTIGOS

 

Primeiras interações: um estudo comparativo entre mães e paisi

 

Early interactions: A comparative study between mothers and fathers

 

Las primeras interacciones: un estudio comparativo entre madres y padres

 

 

Sara PereiraI; Raquel CostaII; Catarina TojalIII; Iva TendaisIV

IMestre em Psicologia Clínica. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real. Portugal
IIProfessora Universitária. Universidade Europeia| Laureate International Universities. Lisboa. Portugal. Investigadora. EPIUnit - Instituto de Saúde Pública, Universidade do Porto, Porto, Portugal
IIIInvestigadora. EPIUnit - Instituto de Saúde Pública, Universidade do Porto, Porto, Portugal
IVInvestigadora. EPIUnit - Instituto de Saúde Pública, Universidade do Porto, Porto, Portugal. Departamento de Ciências da Saúde Pública e Forenses e Educação Médica, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

ENQUADRAMENTO: A qualidade da interação mãe/pai-bebé é um factor determinante do desenvolvimento da criança.
OBJECTIVO: descrever e comparar os padrões de interação mãe-bebé e pai-bebé.
MÉTODOS: Para o efeito ao 2º e 6º mês após o parto realizaram-se gravações das interações face a face entre mãe e bebé e entre pai e bebé.
RESULTADOS: a qualidade do comportamento das mães na interação é significativamente mais adequada do que a dos pais na interação aos 6 meses.
CONCLUSÃO: Estar atento à qualidade da interação mãe-bebé e pai-bebé é crucial para potenciar desenvolvimento normativo da criança.

Palavras-chave: Interação mãe/pai-bebé; Desenvolvimento infantil.


ABSTRACT

BACKGROUND: the quality of mother/father-infant interaction is a key determinant of child development.
AIM: to describe and compare the patterns of mother-infant interaction and father-infant interaction.
METHODS: at 2 and 6 months after childbirth face to face interactions records between mother and infant and between father and infant were conducted.
RESULTS: the quality of the mother´s behavior is significantly more adequate than the father´s behavior in the interaction at 6 months after birth.
CONCLUSION: to be attentive not only to the quality of mother-infant interaction but also to the quality of father-infant is crucial to enhance child developmental outcomes

Keywords: Mother/father-infant interaction; Child development.


RESUMEN

ANTECEDENTES: la calidad de la interacción madre/padre-hijo es un determinante clave del desarrollo del niño.
OBJETIVO: describir y comparar los patrones de interacción madre-hijo y padre-hijo.
MÉTODOS: a los 2 y 6 meses de edad se produjo grabaciones de interacciones cara a cara entre la madre y el bebé y entre el padre y el bebé.
RESULTADOS: la calidad de los comportamientos maternos es significativamente mejor que los comportamientos del padre en la interacción.
CONCLUSIÓN: Esté atento no sólo a la calidad de la interacción madre-hijo como también a la calidad de la interacción y padre-hijo es crucial para mejorar el desarrollo del niño.

Palabras clave: Madre/padre-hijo interacción; Desarrollo del niño.


 

 

Introdução

O desenvolvimento emocional do ser humano tem lugar logo após o nascimento (Winnicott, 1958) e é altamente influenciado pelas dinâmicas familiares (Winnicott, 1982). De acordo com Bowlby (1952), a qualidade das interações entre os pais e os filhos é crucial para o desenvolvimento infantil e para a própria sobrevivência da espécie humana. Quando os pais são mais sensíveis aos sinais demonstrados pelas crianças, estas desenvolvem de forma mais eficaz a capacidade de adaptação e de autorregulação emocional. Por outro lado, quando os pais apresentam uma capacidade responsiva mais pobre, são criados padrões inconsistentes de regulação emocional e de comportamentos de adaptação, incompatíveis com um desenvolvimento infantil favorável.

A afetividade parental é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil (Seidl-de-Moura et al., 2008), para a adaptação da criança e do seu envolvimento positivo com os pares (Verissimo et al., 2010), dado o seu papel construtivo nas interações. A habilidade de atenção conjunta de pais e filhos durante a interação favorece a aquisição e desenvolvimento das competências sociais e comunicativas (Aquino, & Salomão, 2009; 2010). Também Allely et al. (2013) demonstraram que os comportamentos de atenção conjunta podem ser marcadores precoces de psicopatologia. O grau de sensibilidade materna durante a fase de interação é um preditor da reatividade da criança face aos estímulos inesperados (Gunning, Halligan, & Murray, 2013; Mesman, IJzendoorn, & Bakermans-Kranenburg, 2009). A qualidade da interacção não tem apenas efeitos a curto prazo, mas também a longo prazo, influenciando a qualidade de vida do adulto (Brennan, & Shaver, 1998). A negligência materna, por exemplo, é um marcador precoce para o desenvolvimento de distúrbios do humor (Doucette et al., 2016). Zeanah e Smyke (2008) empregam, inclusive, o termo distúrbio de vinculação para descrever o conjunto de perturbações de humor, de comportamento e sociais resultantes de padrões negativos de vinculação. Nestas circunstâncias, as crianças criam expectativas sociais e comportamentais irrealistas e não adaptativas, apresentando dificuldade ao nível da interação social, afetiva e adaptativa.

Apesar de existir um enfoque na importância da qualidade das interações parentais precoces não só para o desenvolvimento infantil, mas também para a saúde mental, o estudo das relações pai-bebé tem sido negligenciado. Existem escassos estudos que se debruçaram sobre a qualidade da interacção pai-bebé, que mostram especificidades nos padrões comportamentais de mães e pais nas interacções com os seus bebés (Forbes, Cohn, Allen, & Lewinsohn, 2004; Kokkinaki, & Vasdekis, 2015) bem como da própria dinâmica na interacção (Feldman, 2003; Kokkinaki, & Vasdekis, 2015). Forbes et al. (2004) encontraram particularidade nos comportamentos de mães e pais durante a interacção com os seus filhos de 3 e 6 meses de idade, num estudo conduzido com o objectivo de estudar a expressão de afeto durante interações diádicas numa amostra de 50 famílias com filhos nascidos de termo e saudáveis. As mães despendem mais tempo na interação em afeto positivo comparativamente com os pais, enquanto os pais enveredaram mais pelo jogo físico comparativamente com as mães. Neste estudo, verificou-se ainda que os bebés eram mais positivos nas interacções com as suas mães do que nas interacções com os seus pais. Kokkinaki e Vasdekis (2015) conduziram um estudo com o objectivo de analisar e comparar a coordenação emocional em díades mãe-bebé e pai-bebé numa amostra de 11 díades mãe-bebé e 11 díades pai-bebé com idades compreendidas entre os 2 e os 6 meses. Verificaram que os pais são mais animados e reativos na interação, bem como mais ativos e provocativos em resposta aos movimentos, atenção e emoções do bebé enquanto as mães são mais responsivas às manifestações de interesse de intimidade dos bebés. Na generalidade, estas diferenças comportamentais resultam numa maior correspondência e sintonia emocional nas díades pai-bebé comparativamente com as díades mãe-bebé. Também Feldman (2003) analisou a interacção de 100 casais com os seus primeiros filhos nascidos de termo e de 5 meses com o objectivo de analisar a corregulação do afeto positivo em díades mãe-bebé e díades pai-bebé. Verificou que apesar de tanto os pais como as mães serem capazes de interagir em sincronia, oferecem experiências e práticas diferentes quer ao nível da partilha quer ao nível da regulação emocional.

Tendo em consideração as mudanças sociais operadas nos últimos anos, com a crescente empregabilidade das mulheres, bem como as medidas laborais tomadas muito recentemente em Portugal, nomeadamente a possibilidade de os pais substituírem as mães durante o período da licença de maternidade, o tempo que os homens dedicam aos filhos tem vindo a aumentar significativamente. A relação pai-bebé tem por isso assumido crescente relevância, e desempenha um papel crucial no desenvolvimento da criança (Lamb, 2010). No presente estudo estamos por isso particularmente interessados em descrever e comparar a qualidade da interação mãe-bebé com a qualidade da interação pai-bebé.

 

Metodologia

Participantes

A amostra inclui 183 casais em período de gestação, cuja média de idades das mulheres era de 30,9 anos (DP = 4,7) e dos homens 32,7 anos (DP = 5,5). A maioria dos participantes era de raça caucasiana, de nacionalidade portuguesa, encontrava-se casado ou em união de facto, e na maior parte dos casos esta gravidez dizia respeito ao primeiro filho (ver Tabela 1). Dados sobre saúde física, saúde mental, consumo de substâncias, álcool e tabaco podem ser observados na Tabela 1.

 

 

Procedimentos

A presente investigação foi parte integrante de um estudo longitudinal mais amplo. O projeto supramencionado foi aprovado pelo Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde Norte após o parecer favorável da Comissão de Ética para a Saúde.

As mães foram contactadas aquando da consulta médica de rotina durante o terceiro trimestre de gravidez. Os critérios de exclusão foram: analfabetismo, anomalias congénitas diagnosticadas durante a gravidez e gestações múltiplas. Os objetivos e procedimentos foram explicados e esclarecidos, tendo sido assinados os devidos documentos de consentimento informado. Das mulheres contatadas para participarem no estudo, 73% (n = 400) aceitaram, 12% (n = 65) recusaram alegando pouca disponibilidade de tempo e 15% (n = 82) recusaram alegando falta de interesse.

Entre as 34 e as 37 semanas de gestação, foi aplicado um questionário sociodemográfico a cada um dos participantes. Após o parto, o Optimailty Index (OI; Low, Seng, & Miller, 2008) foi preenchido com recurso aos processos clínicos. Quando os bebés atingiram os 2 e os 6 meses de idade, foram realizadas separadamente com a mãe e com pai interações face-a-face de acordo com o protocolo Face-to-Face Still-Face (Gunning et al., 2013), que foram gravadas em vídeo a fim de serem classificadas segundo o protocolo Global Rating Scale (GRS; Gunning, Fiori-Cowley, & Murray, 1999). Os pais foram instruídos a interagir de forma espontânea durante 5 minutos sem o recurso a brinquedos, chupetas ou colo.

Instrumentos

Informação e avaliação clínica

O Optimality Index (Low et al., 2008) é uma escala desenvolvida especificamente para a recolha de informação clínica sobre os fatores de risco materno, os cuidados pré-natais e sobre todas as fases da gravidez, parto e pós-parto; inclusive sobre o próprio recém-nascido (Low et al., 2008). Para além de avaliar cada especificidade da saúde perinatal, o instrumento inclui múltiplos itens que fornecem um sumário relativamente a quão ótimas são as práticas e os resultados em geral do cuidado materno (Low et al., 2008).

Interação mãe/pai-bebé

A Global Rating Scales (Gunning et al., 1999) é um procedimento de avaliação da qualidade da interação dos pais com os filhos que assenta na gravação em vídeo de um momento de interação que pode ser aplicado entre os 2 e os 6 meses pós-parto; tanto na própria habitação dos participantes como num setting estruturado (Figueiredo, & Dias, 2013; Gunning et al., 1999). Os pais são instruídos a brincar/interagir com os seus filhos de forma espontânea, sem qualquer recurso a brinquedos numa sessão face a face com a duração de 5 minutos. A escala permite classificar de um modo geral a qualidade do (1) comportamento parental, (2) comportamento do bebé e da (3) interação global.

1. O comportamento parental é obtido através da soma de treze subescalas: warm/positive vs. cold/hostile, accepting/rejecting, responsive/unresponsive, non-demanding/demanding, sensitive/Insensitive; non-intrusive behavior/intrusive behavior, non-intrusive speech/intrusive speech, non-remote/remote, non-silent/Silent; happy/sad, much energy/low energy, absorbed in the infant/self-absorbed, relaxed/ tense.

2. O comportamento do bebé é obtido através da soma de sete subescalas: attentive/avoidant, active communication/no active communication, positive vocalizations/no positive vocalizations; engaged with the environment/self-absorbed, lively/inert, attentive/avoidant, happy/distressed, non-fretful/Fretful.

3. A qualidade da interação global é obtida através da soma de cinco subescalas: smooth/easy/difficult, fun/serious, satisfying/unsatisfying, much engagement/no engagement, excited engagement/quiet engagement.

A pontuação de cada subescala varia entre 1 e 5, sendo que 1 diz respeito a uma pobre qualidade das dimensões e 5 à qualidade ótima (Figueiredo, & Dias, 2013; Gunning et al., 1999).

Análise estatística

A análise de dados foi efetuada com recurso ao SPSS 21.0. Iniciou-se por uma análise descritiva dos dados sociodemográficos e clínicos sobre a gravidez, parto e pós-parto e a qualidade de interação pais-bebé. Para analisar as diferenças entre mães e pais ao nível da qualidade dos comportamentos e da interação com os bebés recorreu-se ao teste não paramétrico de Wilcoxon.

 

Resultados

Análise estatística de dados

Dados relativos à gravidez, trabalho de parto, parto, e saúde neonatal podem ser observados na Tabela 2. A média do peso foi de 3248,3 g (DP = 511,5), do comprimento foi de 49,2 cm (DP = 2,3), do perímetro cefálico foi de 3,5 cm (DP = 2,2) e do índice de Apgar ao 1º e 5º minuto 8,5 e 9,6 (DP = 1,4/1). Contudo, cerca de 3,3% dos recém-nascidos teve de ser sujeito a manobras de ressuscitação depois do parto e 5,5% foi internado nos serviços de neonatologia. Não se registaram mortes perinatais e apenas 0,5% dos recém-nascidos apresentaram problemas pós-parto (ver Tabela 2).

 

 

Comparação da qualidade de interação mãe-bebé e pai-bebé Comportamento Parental

Aos 2 meses de idade as mães obtêm com mais frequência scores mais positivos ao nível da responsividade, sensibilidade, presença, comunicação e contentamento na interacção comparativamente com os pais. No entanto, as mães obtêm também com mais frequência scores mais negativos ao nível da impositividade. Aos 6 meses de idade as mães obtêm com mais frequência scores mais positivos ao nível da responsividade, comunicação, contentamento, actividade e relaxamento na interacção comparativamente com os pais (ver Tabela 3).

 

 

Comportamento do bebé

Aos 2 meses e aos 6 meses não se verificam diferenças significativas ao nível das dimensões do comportamento do bebé (ver Tabela 3).

Qualidade da interacção global

Aos 2 meses não se verificam diferenças significativas ao nível da interação global. No entanto, aos 6 meses verifica-se que com mais frequência as interações mãe-bebé obtêm scores mais positivos em termos da satisfação mútua, comparativamente com as interações pai-bebé (ver Tabela 3).

 

Discussão

O presente estudo teve como principal objetivo descrever e comparar os comportamentos parentais, os comportamentos do bebé e a qualidade global de interações mãe-bebé e pai-bebé. Não se verificaram diferenças significativas no comportamento do bebé nas interações com mães e pais aos 2 ou 6 meses de idade. No entanto, o comportamento das mães difere do comportamento dos pais quer aos 2 quer aos 6 meses de idade. Em comparação com os pais, aos 2 meses de idade, as mães são com mais frequência mais sensíveis e mais presentes, mas também mais impositivas. Por outro lado, aos 6 meses, as mães mostram-se com mais frequência mais ativas e relaxadas na interacção comparativamente com os pais. Tanto aos 2 como aos 6 meses, as mães são mais responsivas, comunicativas e mostram mais expressão de contentamento na interacção, sendo esta uma característica que tende a permanecer mesmo durante o desenvolvimento do bebé. Na generalidade, o comportamento das mães na interacção parece mais adequado comparativamente com o comportamento dos pais quer aos 2 quer aos 6 meses. Também Forbes et al. (2004) verificaram diferenças no comportamento de mães e pais na interacção com os bebés, sendo que as mães se apresentam mais calorosas e divertidas, enquanto os pais tendem a praticar brincadeiras de cariz mais físico.

Numa altura em que os bebés não se expressam do ponto de vista verbal, estas diferenças comportamentais entre mães e pais podem advir de uma melhor capacidade das mulheres para o reconhecimento e interpretação de expressões não verbais das emoções, nomeadamente as reações faciais e as expressões corporais (Alaerts, Nackaerts, Meyns, Swinnen, & Wenderoth, 2011; Hampson, Anders, & Mullin, 2006; Hofmann, Suvak, & Litz, 2006; Kothari, Skuse, Wakefield, & Micali, 2013; Parmley, & Cunningham, 2014; Weiss, et al., 2007). Esta capacidade de captação e interpretação de sinais não verbais é fundamental para a elaboração de uma resposta adequada aos mesmos. Mas, por outro lado, esta diferença também pode associar-se aos papéis sociais distintos que são atribuídos a ambos os pais. O papel de mãe e/ou pai consta de construções socioculturais e transgeracionais que influenciam fortemente a identidade dos papéis de género (Lamb, 1992; Manfroi et al, 2011; Wagner, Predebon, Mosmann, & Verza, 2005). Neste sentido, é atribuída à mãe a responsabilidade pelo desenvolvimento dos filhos, bem como pela sua educação, alimentação, higiene e saúde; enquanto que aos pais é atribuída a responsabilidade pela promoção dos bens materiais e pela orientação moral (Lamb, 1992; Manfroi et al., 2011; Wagner et al., 2005). Sendo assim, e no sentido de ir de encontro das expectativas sociais, é natural que as mães façam um esforço adicional para conhecer melhor os sinais demonstrados pelos filhos e para desenvolver uma capacidade de resposta adequada às suas necessidades. Por seu lado, os pais, no sentido de irem de encontro às expectativas sociais, despendem os seus esforços em outras atividades, como o jogo (Lamb, 1992, 1977).

Os resultados deste estudo mostram que, ao final de 6 meses, este esforço por parte das mães parece resultar numa melhoria ao nível da qualidade da interação global, que nesta altura parece envolver mais satisfação mútua comparativamente com a qualidade da interação pai-bebé. Embora este estudo saliente a importância não só da qualidade da interação mãe-bebé, como também da qualidade da interação pai-bebé para o desenvolvimento normativo da criança, apresenta algumas limitações que não permitem a generalização dos resultados, nomeadamente o número reduzido da amostra. Assim sendo, tendo em consideração que diversos estudos mostram que a qualidade das primeiras interações se relaciona significativamente com o desenvolvimento de capacidade de autorregulação, pensamento simbólico e criação de relações empáticas e de confiança com os pares (Feldman, 2007), a investigação futura deve ter em conta estes dados, bem como incidir na replicação destes dados em amostras maiores.

 

Considerações finais

Os resultados observados neste estudo ao nível da qualidade de interação mãe-bebé e pai-bebé enfatizam não só o impacto das relações primárias ao nível do padrão de comportamento do indivíduo, mas também o interesse em alargar a investigação dos fatores que influenciam a qualidade do comportamento interativo dos próprios pais, em busca de uma compreensão mais aprofundada sobre esta dinâmica. Estes resultados sugerem também a importância e necessidade de implementar intervenções ao nível das interações nos primeiros meses de vida, no sentido de promover a qualidade relacional entre pais e filhos.

Propõe-se que as investigações futuras enquadrem análises que englobem outros fatores que possam influenciar a qualidade da interação dos pais com os bebés nos primeiros meses de vida.

 

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Endereço para correspondência:
Sara Pereira
sara.utad@gmail.com

Raquel Costa
raquel.costa@europeia.pt

Catarina Tojal
catarinatojalrebelo@gmail.com

Iva Tendais
ivatendais@gmail.com

Submetido em: 28/03/2015
Revisto em: 02/10/2017
Aceito em: 02/11/2017

 

 

i Estudo financiado por Fundação Bial, Contributions of parent-infant psychophysiology during dyadic interactions to child development (Referência no 157/12).

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