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Arquivos Brasileiros de Psicologia

On-line version ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.71 no.2 Rio de Janeiro May/Aug. 2019

http://dx.doi.org/10.36482/1809-5267.ARBP2019v71i2p.130-149 

ARTIGOS

 

Análises psicométricas da Escala de Distorções Cognitivas Depressivas

 

Psychometric analyses of the Depressive Cognitive Distortion Scale

 

Análisis psicométricos de la Escala de Distorsiones Cognitivas Depresivas

 

 

Felipe Augusto CunhaI; Makilim Nunes BaptistaII

IDoutorando em Psicologia. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade São Francisco (USF). São Paulo. Estado de São Paulo. Brasil
IIDocente. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade São Francisco (USF). São Paulo. Estado de São Paulo. Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

As distorções cognitivas são erros lógicos de pensamentos que podem alterar a realidade do sujeito, causando possíveis sintomas depressivos. O objetivo do estudo foi construir um instrumento intitulado de Escala de Distorções Cognitivas Depressivas (EDICOD) e buscar evidências de validade baseada no conteúdo e estrutura interna, utilizando análise fatorial exploratória e o modelo da Teoria de Resposta ao Item (TRI). Na etapa de construção do estudo, participaram oito juízes e 27 estudantes de graduação para uma aplicação piloto para adequação dos itens. Posteriormente, 459 indivíduos, divididos entre sujeitos não clínicos e clínicos com diagnóstico de depressão, de ambos os sexos, com faixa etária entre 18 e 60 anos. Após as análises psicométricas, a escala ficou reduzida com 36 itens, divididos em três fatores interpretáveis, sendo esses, Abstração seletiva/personalização (F1), Inferência arbitrária/maximização e minimização (F2) e por último, Pensamento dicotômico/hipergeneralização (F3). Assim, a EDICOD apresentou ser um instrumento adequado de rastreio das principais distorções cognitivas, principalmente para possível uso em ambiente clínico.

Palavras-chave: Psicometria; Construção; Instrumento; Distorção.


ABSTRACT

Cognitive distortions are logical errors of thoughts that can alter the subject's reality, causing possible depressive symptoms. The purpose of the study was to construct an instrument titled Depression Cognitive Distortion Scale (EDICOD) and to seek evidence of validity based on content and internal structure using exploratory factorial analysis and the Item Response Theory (TRI) model. In the construction phase of the study, eight judges and 27 undergraduate students participated in a pilot application to adjust the items. Subsequently, 459 individuals, divided between non-clinical and clinical subjects with a diagnosis of depression, of both sexes, aged between 18 and 60 years, participated. After the psychometric analysis, the scale was reduced to 36 items, divided into three interpretable factors: Selective abstraction/personalization (F1), arbitrary inference/maximization and minimization (F2), and finally, dichotomous thinking/hypergeneralization (F3). Thus, EDICOD presented an adequate tool for screening the main cognitive distortions, mainly for possible use in clinical settings.

Keywords: Psychometry; Construction; Instrument; Distortion.


RESUMEN

Las distorsiones cognitivas son errores lógicos de pensamientos que pueden alterar la realidad del sujeto, causando posibles síntomas depresivos. El objetivo del estudio fue construir un instrumento titulado de Escala de Distorsiones Cognitivas Depresivas (EDICOD) y buscar evidencias de validez basada en el contenido y la estructura interna, utilizando análisis factorial exploratorio y el modelo de la Teoría de Respuesta al Ítem (TRI). En la etapa de construcción del estudio, participaron ocho jueces y 27 estudiantes de graduación para una aplicación piloto para adecuación de los ítems. Posteriormente, 459 individuos, divididos entre sujetos no clínicos y clínicos con diagnóstico de depresión, de ambos sexos, con rango de edad entre 18 y 60 años. Después de los análisis psicométricos, la escala se redujo con 36 ítems, divididos en tres factores interpretables, siendo éstos, Abstracción selectiva/personalización (F1), Inferencia arbitraria/maximización y minimización (F2) y por último, Pensamiento dicotómico/hipergeneralización (F3). Así, la EDICOD presentó ser un instrumento adecuado de rastreo de las principales distorsiones cognitivas, principalmente para posible uso en ambiente clínico.

Palabras clave: Psicometría; Construcción; Instrumento; Distorsión.


 

 

Introdução

A distorção cognitiva, conhecida também como erro lógico, é definida como um padrão rígido de processamento de informações, oriunda das interpretações que o sujeito faz sobre seu cotidiano, interferindo no modo de pensar e agir, sobre possíveis eventos ambientais como: visões negativas da vida e seus acontecimentos futuros. A partir de determinadas regras e padrões comportamentais adquiridos durante a vida da pessoa depressiva, essas crenças são acionadas em decorrência das suas fontes primárias, tais como: ansiedade, estresse e/ou pensamentos negativos (Rupke, Blecke, & Renfrow, 2006).

A literatura sofreu modificações durante as quatro últimas décadas, por isso serão apresentadas três maneiras de descrever as distorções cognitivas. Beck (1967) organizou os pensamentos distorcidos em seis tipos, sendo eles: inferência arbitrária; abstração seletiva; hipergeneralização; magnificação e minimização; personalização e pensamentos dicotômicos. No ano de 1979, Beck renomeou algumas distorções cognitivas e acrescentou seis tipos como: adivinhação do futuro ou profecia autorrealizadora; desconsideração dos elementos positivos; raciocínio emocional ou emocionalização; rotulação; imperativo; e catastofrização. Porém, Wood (2010) reescreveu algumas distorções cognitivas propostas por Knapp e Beck (2008), formulando então 11 tipos de pensamentos, que foram escolhidos como descritores teóricos para construir e formular os itens da Escala de Distorções Cognitivas Depressiva (EDICOD), conforme apresentados na Tabela 1.

Pela descrição mencionada das distorções cognitivas, percebe-se que avaliar e entender a forma como os indivíduos interpretam algumas situações do seu cotidiano seriam maneiras de explicar o surgimento de alguns sintomas da depressão como a anedonia e o humor deprimido (Rangé, 1995). Avaliar esses erros lógicos é de suma importância, porque, a partir desses erros, tem como saber o padrão de pensamento disfuncional que o indivíduo acredita, responsáveis por interferir na sua realidade. Sendo assim, aplicar um instrumento psicológico que permite identificar as falhas de pensamento do sujeito ajuda o profissional a avaliar os erros cognitivos específicos e delinear a sua intervenção para ajudar o paciente a corrigi-los ou modificá-los (Beck, 1995).

No ensejo da avaliação psicológica, existem alguns testes específicos para averiguar tipos de distorções cognitivas, com o intuito de avaliar e rastrear os principais tipos de erros de pensamentos, como, por exemplo, o Cognitive Error Questionnaire (CEQ) (Lefebvre, 1981). Esse questionário é constituído por 24 itens no formato de escala Likert de cinco pontos sendo 0, exatamente como eu penso, a 4, como eu não penso, e a pontuação variando de 0 a 96 pontos. Todos os itens são formulados por situações envolvendo pensamentos disfóricos refletindo quatro tipos de erros cognitivos baseados na teoria de Beck (1979). Dentre esses erros encontram-se os pensamentos distorcidos denominados de catastrofização, supergeneralização personificação e abstração seletiva. O CEQ apresentou o índice de confiabilidade no fator geral de 0,92. Pössel (2009) fez um estudo na Alemanha para avaliar as propriedades psicométrica da CEQ. Foram participantes 766 universitários, sendo 80% de mulheres (N = 638), com média de idade 23,71 anos. Após a análise fatorial exploratória, foram definidos quatro fatores. A confiabilidade dos fatores foi de 0,62 em Catastrofização (F1), 0,73 para Supergeneralização (F2), 0,64 para Personificação (F3), 0,59 para Abstração Seletiva (F4).

Weissman (1979), a partir das considerações de Aaron Beck sobre os pressupostos da depressão na perspectiva cognitiva, elaborou um instrumento com o intuito de averiguar atitudes disfuncionais que estavam interligadas com o processamento cognitivo da depressão. A Dysfunctional Attitude Scale (DAS) foi criada por Weissman e Beck em 1978 e finalizada por Weissman (1979). A partir de uma lista de pensamentos depressivos, foi feita uma avaliação por juízes residentes em psiquiatria e após a análise de conteúdo a versão original baseou-se em 100 itens e os resultados finais indicaram duas formas equiparáveis da DAS, com 40 itens cada, sendo nomeadas DAS-A e DAS-B. Essa escala foi utilizada em alguns estudos (Parker, Bradshaw, & Blignault, 1984; Oliver, & Baumgart, 1985; Cane, Olinger, Gotlib, & Kuiper, 1986) e a seguir será descrito uma das pesquisas mais completas. Cane et al. (1986) fizeram as análises do estudo que participaram 664 universitários. A análise fatorial exploratória com rotação Varimax indicou dois fatores, sendo o primeiro (15 itens) e o segundo fator (10 itens), explicando 47% da variância total dos itens e o alfa de Cronbach dos fatores foram respectivamente de 0,87 e 0,82.

Outro instrumento psicológico que tem como objetivo medir sintomas cognitivos presentes na depressão em sujeitos que não foram considerados deprimidos clinicamente é o Depressive Cognition Scale (DCS). Essa escala foi criada por Zauszniewski (1995) e construída a partir da teoria da depressão de Beck (1979) e a do desenvolvimento psicossocial de Erikson (1968). A DCS é composta por oito itens que são pontuados em uma escala do tipo Likert de seis pontos, sendo 0, discordo totalmente, e 5, concordo totalmente, e a pontuação variando entre 0 e 40 pontos. Cada item tem a função de mensurar aspectos cognitivos depressivos, a saber: desesperança, desamparo, impotência, inutilidade, solidão, vazio e sem sentido. Todos os itens são positivos como, por exemplo: "Estou esperançoso sobre o meu futuro". Quando o resultado do instrumento demonstra uma pontuação mais alta, indica ausência de uma cognição depressiva. A DCS foi usada e testada nas populações (clínica e não-clínica) dos Estados Unidos, a confiabilidade do instrumento foi de 0,79 e a correlação item-total ficou entre 0,30 e 0,62 e considerada um instrumento unidimensional (Zauszniewski, Chung, Krafcik, & Sousa, 2001; Zauszniewski, Picot, Debanne, Roberts, & Wykle, 2002).

Covin (2011) fez um estudo com o objetivo de construir uma escala denominada de Cognitive Distortion Scale (CDS), responsável por averiguar a frequência de dez tipos de erros cognitivos definidas por Burns (1980), a saber: leitura mental, catastrofização, tudo ou nada, raciocínio emocional, filtro mental, generalização, personalização, "e se", minimização do positivo e rotulação. Cada sentença da escala corresponde aos erros de pensamento em que o indivíduo tem que responder os 29 itens em uma escala do tipo Likert de sete pontos, sendo 1, nunca, e 7 ,o tempo todo, tais como de sentença: "Por favor, estima a frequência com que você se envolve em situações sociais (como quando está com amigos, parceiros ou familiares)" tendo como resultado pontuação mínima de 29 e máxima de 203 pontos. A pesquisa foi realizada em estudantes e o alfa de Cronbach foi de 0,91, em uma escala unidimensional, sendo que todas as cargas dos itens foram maiores que 0,50.

Em relação aos instrumentos que abordam pensamentos depressivos, Carneiro e Baptista (2016) construíram a Escala de Pensamentos Depressivos (EPD) com o objetivo de avaliar as distorções que o indivíduo tem sobre si, futuro e a percepção a respeito das pessoas com quem convive. A EPD teve como pressuposto teórico a visão cognitiva da depressão proposta por Aaron Beck, referente a tríade cognitiva (Beck, Rush, Shaw, & Emery, 1982) em que a escala foi pautada e estruturada. Participaram 619 pessoas de dois estados, São Paulo (n = 546; n = 82,1%) e Minas Gerais (n = 119; 17,9%) sendo estudantes do ensino médio e graduação, entre 18 e 64 anos (M = 29,23; DP = 10,81), dos quais 69,9% (n = 465) do sexo feminino. A escala foi dividida em dois fatores, sendo o F1 (Baixa autoestima/desesperança) "Meus motivos para ser feliz se esgotaram", "Todas as dificuldades que passei me fizeram ter pouca esperança sobre o futuro", apresentando índice de confiabilidade de 0,93 e o F2 (Funcionalidade nas relações) "Me sinto deixado (a) de lado", "Sou um(a) perdedor(a)", com confiabilidade de 0,89, tendo como confiabilidade geral de 0,93. O instrumento contem 26 itens em escala tipo Likert de três pontos, sendo 1 (Não concordo) e 3 (Concordo totalmente), tendo como pontuação mínima 26 e máxima de 78 pontos.

Os estudos descritos anteriormente serviram de base para analisar a proporção de testes que utilizaram a teoria cognitiva como forma de parâmetro na construção de instrumentos específicos para averiguar e rastrear intensidade de erros ou pensamentos distorcidos. Com o resgate dos instrumentos focados na teoria cognitiva e com base nos substratos da depressão, observa-se que a construção de instrumentos para avaliar padrões cognitivos é uma temática estudada há anos. Grande parte dos instrumentos supracitados foram compostos por testes, escalas e questionários autoaplicáveis. Esse tipo de instrumento é amplamente usado por profissionais da área da saúde e pesquisadores, por ser mais fácil de administrar, por ser rápido e prático no momento da aplicação e ter um custo financeiro menor que outros tipos de instrumentos de avaliação (Picon, Cataldo Neto, Gauer, & Furtado, 2003). Tendo em vista que no Brasil muitos instrumentos psicológicos têm sido criados para avaliar construtos distintos, existe somente um instrumento que avalia pensamentos depressivos, que no caso refere-se à Escala de Pensamentos Depressivos (EPD) (Carneiro, & Baptista, 2016).

Portanto, observa-se a importância de criar um teste psicológico que avalie, especificamente, os tipos de distorções cognitivas depressivas partindo do pressuposto da teoria cognitiva, para uso do profissional. Além dessas considerações, é importante ter um instrumento de âmbito clínico para rastrear determinados pensamentos negativos, auxiliando no tratamento da depressão (Wood, 2010). Diante dos aspectos abordados até o momento, a presente pesquisa teve como objetivo a construção de um instrumento para avaliar distorções cognitivas depressivas e buscar evidências de validade baseadas no conteúdo e evidências de validade baseadas na estrutura interna para a Escala de Distorções Cognitivas Depressivas (EDICOD).

 

Método

A primeira etapa se refere a construção dos itens da versão inicial do instrumento, baseado em descritores específicos, bem como a análise de conteúdo. Os itens foram desenvolvidos com foco na literatura nacional e internacional, que abordam construtos ligados às distorções cognitivas e à depressão (Beck, 1979; Beck et al., 1982; Knapp, & Beck, 2008). A partir das sugestões dos juízes, foram realizadas adaptações da escala com o propósito de adequar os itens. A segunda etapa teve como objetivo central realizar análises estatísticas para buscar evidência de validade baseada na estrutura interna e fidedignidade baseada na Teoria Clássica (TCT) e Teoria de Resposta ao Item (TRI).

Etapa 1: Construção do Instrumento e Evidências de validade baseada no conteúdo Participantes

Participaram do estudo oito juízes, sendo cinco psicólogos com título de doutorado há no mínimo dois anos, e que tinham conhecimento na área de psicometria e/ou especialização em saúde mental, principalmente sobre transtorno depressivo. Três eram psiquiatras especialistas em avaliação de transtornos de humor e que atuavam com a Teoria Cognitivo Comportamental (TCC), por no mínimo dois anos. Por fim, foi feito um estudo piloto do instrumento em fase de construção com 27 universitários de uma instituição privada de um município do interior do estado de São Paulo, ambos os sexos, a partir dos 18 anos.

Procedimentos

Os itens do instrumento foram criados a partir dos 11 descritores propostos por Wood (2010). Essas distorções são nomeadas como: Filtro mental, Chegar a conclusões precipitadas, Supergenaralização, Maximização e Minimização, Personalização, Pensamento "tudo ou nada", Catastrofização, Leitura mental, Ditar as leis, Raciocínio emocional e Rotulação. O instrumento foi construído no formato de uma escala tipo Likert de quatro pontos. Nesse sentido, o sujeito deverá classificar cada afirmação em: "Discordo totalmente"; "Discordo pouco"; "Concordo pouco" e "Concordo totalmente". Inicialmente, foram elaborados 110 itens negativos, sendo 10 itens para cada tipo de distorção cognitiva. Na sequência, realizou-se o desenvolvimento do cabeçalho do instrumento, criando uma instrução com exemplos de como a escala deveria ser preenchida. Juntamente, revisou-se o instrumento procurando excluir itens que avaliassem descritores repetidos ou frases com duplo sentido. A escala possui quatro afirmações, tais como para cada tipo de distorção cognitiva e destinado para a população adulta, com idades entre 18 e 60 anos.

Após a apreciação e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco (CAAE 61631016.2.0000.5514), foi realizada uma primeira análise de conteúdo, feita por um grupo de oito juízes. Nesse momento, os itens foram classificados a partir de uma escala tipo Likert que varia de 1 a 5, em que: "1 = Pouquíssima"; "2 = Pouca"; "3 = Média"; "4 = Muita" e "5 = Muitíssima". Os itens foram classificados quanto à sua clareza de linguagem, pertinência prática, relevância teórica e dimensão teórica. Com bases nessas classificações o intuito dos juízes foi de analisar e marcar com um "X" cada item. As afirmações foram consideradas corretas, se pelo menos 80% dos juízes aprovassem os itens. No caso os 11 descritores citados na Tabela 1, além de analisar o item na escala, a partir de uma planilha para facilitar a compreensão dos juízes, categorizando-o como uma afirmação objetiva e de fácil entendimento. Os juízes organizaram os itens nos descritores propostos, a fim de verificar se aquele item estava relacionado ao descritor pelo qual foi construído. Junto dos itens, havia um espaço, em que os juízes poderiam colocar suas observações e anotações.

Por fim, quando ocorreu a aplicação piloto da Escala de Distorções Cognitivas (EDICOD) o aplicador selecionou 27 estudantes universitários por conveniência para realizar a aplicação de forma coletiva na própria sala de aula. O tempo aproximado da aplicação foi de 30 minutos. Junto do instrumento, foi disponibilizada uma folha para os sujeitos da pesquisa colocarem sugestões e dúvidas sobre os itens respondidos.

Análise de dados

Foi realizada análise de conteúdo para observar a semântica dos itens e fazer as alterações necessárias a partir das considerações dos juízes e dos universitários da aplicação piloto. O objetivo foi deixar os itens mais claros e precisos a partir das críticas dos juízes.

Resultados

A partir dos critérios de exclusão considerados pelos juízes e da análise piloto, permaneceram 57 itens, todos com a semântica das frases negativas. As etapas realizadas para a criação do instrumento e sobre os itens excluídos podem ser visualizadas na Figura 1.

Conforme demonstra a Figura 1, a EDICOD inicialmente teve 110 itens, após a avaliação semântica entre os autores foram excluídos 40 itens, por serem parecidos, sendo realizada a primeira redução dos itens. Depois foi realizada a aplicação piloto nos 27 estudantes universitários, sendo 66,7% (n=18) eram do sexo feminino.

Foram analisados os resultados da aplicação piloto e os itens que os participantes demostraram dúvidas para responder foram alterados (n = 3; 27,3%) e excluídos (n = 8; 72,7%), tais como: "Tenho vivenciado situações terríveis" e "Se eu perder o controle emocional será uma catástrofe". Nas avaliações dos juízes, cinco itens foram retirados por não apresentarem concordância acima de 80%; tais como, "Tenho alterações no sono e apetite porque não consigo resolver meus problemas" e "Sei que as pessoas me olham torto porque sou um fracasso". A partir dos 57 itens restantes, foi realizado um estudo para buscar a segunda evidência de validade da escala, descrita a seguir.

Etapa 2: Evidência de validade baseada na estrutura interna por meio da Teoria Clássica dos Testes (TCT), Teoria de Resposta ao Item (TRI) e fidedignidade

Participantes

A amostra desta etapa da pesquisa foi composta por 459 sujeitos, divididos da seguinte forma:

Grupo 1: 429 sujeitos entre 18 e 60 anos (M = 27,51; DP = 9,19), sendo que 63,4% (n = 291) eram do sexo feminino. Desses indivíduos sem diagnóstico, 335 (73%) eram universitários e 94 (20,5%) funcionários de um hospital. Os dados foram coletados em duas instituições pertencentes a um município do estado de São Paulo, uma universidade privada e um hospital público.

Grupo 2: 30 pacientes com diagnóstico de depressão: idades entre 19 e 45 anos (M = 29,56; DP = 6,79), sendo que 80% (n = 24) eram do sexo feminino, provindos de serviço de atendimento privado.

Instrumentos

Escala de Distorções Cognitivas Depressivas (EDICOD): com 57 itens, em sua fase de construção e prévia a avaliação de juízes, além de um Questionário de Identificação contendo perguntas como: sexo, idade, escolaridade, histórico de doença mental e de avaliação psiquiátrica ou psicológica. Os dois grupos responderam o questionário de identificação.

Procedimentos

Os sujeitos receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), impresso em duas vias, que constavam as informações pertinentes da pesquisa. No grupo 1, a aplicação foi realizada de forma coletiva em sala de aula (os sujeitos pertencentes ao grupo de estudantes) após a aprovação dos responsáveis institucionais. Os funcionários do hospital responderam aos instrumentos na própria instituição de forma grupal e/ou individual, em um local específico da própria organização. Foi acrescentado o grupo dos funcionários do hospital com o intuito de ampliar a faixa etária da amostra. A previsão de tempo para a execução dessa atividade foi aproximadamente 30 minutos.

No grupo 2 as aplicações foram individuais no próprio estabelecimento onde o sujeito recebia atendimento, no caso, uma clínica médica. A aplicação teve duração aproximada de 50 minutos. Nesse grupo ocorreu um aumento de tempo na aplicação porque os pacientes com diagnóstico de depressão apresentaram dificuldades em compreender alguns itens dos instrumentos, por estarem debilitados pela depressão e/ou com efeitos de medicamentos.

Análise de dados

Os dados foram analisados por meio do programa SPSS (Statistical Packagefor the Social Sciences - versão 23.0) e pelo programa Factor (versão 10.3.01). Foi realizada uma análise fatorial exploratória, sendo utilizado o método de estimação Unweighted Least Squares (ULS), a partir de uma matriz de correlações policóricas por se tratar de escalas do tipo Likert, com método de retenção Minimum Average Partial (MAP). O índice Kaiser Meyer Olkin - KMO, verificou a homogeneidade dos itens, para o critério de interpretação dos números de fatores a serem extraídos. Foi escolhido a rotação oblimim porque pressupõe que os fatores estejam correlacionados. Para a análise da confiabilidade foi utilizado o teste alfa de Cronbach. Os dados foram analisados também pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), por meio do modelo de Rasch a partir do programa Winsteps.

Resultados

Inicialmente foi utilizada análise paralela (AP), sendo considerados o eigenvalue correspondente ao percentil 95. Na AP foi obtida uma solução de até cinco fatores, pelo método de extração Unweighted Least Squares (ULS). A partir desses resultados, foi feita a verificação da adequação da amostra para análise fatorial a partir do índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de Barlett, com o objetivo de verificar a circularidade da matriz. Foram utilizados outros dois métodos de retenção, Minimum Average Partial (MAP) e HULL. O MAP considerou mais adequada uma solução de três fatores e o HULL uma solução de apenas um fator (Lorenzo-Seva, 2003; Lorenzo-Seva & Van Ginkel, 2016).

Foi verificado o melhor ajuste dos dados para o modelo de três fatores com os índices Kaiser-Meyer-Olkin (KMO=0,94) e Bartlett (12320,3; p < 0,001); e o ajuste Global Fit Index (GFI) = 0,99. Desse modo, análise fatorial exploratória foi realizada utilizando o método de extração ULS, com rotação oblíqua (weighted oblimin). Foram excluídos 19 itens na primeira rodada por terem cargas cruzadas e/ou por não carregarem em nenhum fator, restando então, 38 itens. Posteriormente, foram retirados mais dois itens que não carregaram em nenhum fator específico, sendo o critério de inclusão o item ter carga fatorial mínima de 0,50. Restaram 36 itens divididos em três fatores, com eigenvalues de 15,66 no primeiro, 2,79 no segundo e 2,12 no terceiro fator. Por fim, a análise fatorial foi realizada considerando os fatores, em que as comunalidades variaram entre 0,34 e 0,73 (Tabela 2).

A solução encontrada explicou uma variância de 57,18%, dividida em três fatores nomeados como F1 (abstração seletiva/personalização) com 8 itens sobre pensamentos negativos focados apenas em detalhes negativos, sem observar os detalhes positivos; e quando algo ruim acontece com o indivíduo e acaba assumindo a culpa, mesmo sem ter. O F2 (inferência arbitrária/maximização e minimização) contém 13 itens que expressam pensamentos negativos de conclusão sobre determinado fato, apesar de ter evidências contrárias; e quando os pensamentos de si, do outro ou de alguma situação vivenciada, acaba maximizando os pontos negativos ou minimizando os aspectos positivos. E, por último, o F3 (pensamento dicotômico/hipergeneralização) formulado por 15 itens que remetem a ideia do sujeito possuir apenas duas possibilidades de categorizar os outros e as situações do cotidiano, sendo totalmente ruins ou bons; e quando mantem-se focado em aspectos negativos de uma ou mais situações limitadas, usando essas regras como conclusões amplas e gerais sobre vários aspectos da própria vida. Os fatores foram nomeados a partir das classificações dos tipos de distorções cognitivas, sendo que os itens com carga fatorial mais alta foram selecionados como opção para nomear os fatores.

Em seguida, foi feita uma análise para verificar as correlações entre os três fatores. Assim, na Tabela 3 pode ser observado que as correlações entre os fatores variaram entre 0,62 e 0,67. Com base em Dancey e Reidy (2006) essas correlações são classificadas como moderadas.

Na Tabela 3 também são indicadas informações sobre a confiabilidade da EDICOD para cada um dos três fatores. Os Alfas de Cronbach ficaram dentro do intervalo de valores de 0,93 a 0,95, indicando um nível alto para a consistência interna do instrumento. Assim, foi observado que a EDICOD apresentou confiabilidade excelente para todos os fatores.

Outro modelo utilizado para analisar os dados da pesquisa foi a Teoria de Resposta ao Item (TRI). Inicialmente são apresentadas estatísticas descritivas sobre o traço latente (theta) dos participantes da pesquisa, os índices de ajuste (Infit e Outfit) e, resumidamente, os dados descritos na Tabela 4 para os itens, considerando o nível de dificuldade, os índices de ajuste, correlação item-theta e os índices de precisão modelada.

A partir da Tabela 4 nota-se que todos os itens correspondentes aos três fatores do instrumento não foram endossados pela amostra, observados a partir da média de theta que foi negativo. Entre os fatores, o F3 apresentou a média menor de theta, demonstrando ser o menos endossado pelos respondentes do estudo. Por fim os valores de Infit e Outfit apresentaram bons ajustes, considerando os valores entre 0,60 e 1,40 (Linacre, 2010).

Outras análises foram realizadas com o intuito de aferir se a correlação item-total tem valores acima de 0,50 e também analisar as medidas de Infit e Outfit, considerando os valores de todos os itens do instrumento. A partir dos índices que foram encontrados, utilizou-se uma análise geral de todos os itens que fazem parte dos três fatores, descritos a seguir na Tabela 5, 6 e 7.

Nas tabelas pode ser observado que, no geral, os itens apresentaram bons índices de adequação, a não ser por cinco itens (13, 15, 22, 31 e 40) com índices fora do valor usado como base para adequação (Linacre, 2010). Nos Fatores 1 e 2 não houve nenhum item com desajuste, já no fator 3, cinco itens ficaram com índice inadequado, respectivamente, esses itens foram o 13 "Fico doente com bastante frequência, logo percebo que tenho pouco tempo de vida"; 15 "Todos me odeiam, então preferia não existir mais"; 22 "O mundo é um lugar péssimo e eu sou responsável por isso"; 31 "Ninguém gosta de mim, por isso vivo só" e o 40 "Sei que as pessoas me olham diferente porque sou um fracasso". A partir da correlação item-total, quase todas foram adequadas, variando entre magnitudes moderadas e altas (Dancey, & Reidy, 2006). Somente o item 13 que ficou abaixo do valor estabelecido (0,50). Outro ponto importante analisado foi o nível de dificuldade dos itens, que dividido entre os fatores, demonstraram no F1 a variação entre -0,81 e 1,04; no F2: -0,98 a 0,63 e no F3: -1,08 a 1,06. Então os indivíduos que responderam a escala, necessitaram de um nível médio para concordar com o instrumento. O item com menor chance para ser endossado foi o 40 "Sei que as pessoas me olham diferente porque sou um fracasso" e o mais fácil o 6 "Mesmo que não tenho problemas sérios agora, fico pensando que o pior vai vir".

A seguir, será apresentado na Figura 2 e 3 o mapa de pessoas e itens da escala divididos entre os três fatores específicos.

 

 

O mapa de itens da Figura 2, responsável pela representação do Fator 1 (Abstração seletiva/personalização), demonstra que, no geral, as pessoas se agrupam entre -4 e -3 e os itens entre -1 e 1, mostrando que esses itens são considerados difíceis de serem pontuados pelos indivíduos e não cobriram todo o espectro da população. O item mais difícil, já que a escala em construção (EDICOD) não avalia habilidade, mas frequência de resposta, foi o 41 "É difícil alguém me escutar porque as pessoas sabem que eu não tenho valor" e o mais fácil o 47 "Estou angustiado porque as pessoas deveriam me dar mais valor".

A Figura 2 que também foi representada pelo Fator 2, denominado de Influência arbitrária/maximização e minimização que apresentou resultados diferentes da Figura 1, já que as pessoas se agrupam mais entre -4 e -2 e os itens entre -1 e 0,8, porém apresentam alguns espaços entre eles, mas algumas pessoas ficaram mais próximas da média de itens, considerado então um nível mediano de dificuldade de resposta. O item que apresentou uma frequência de resposta menor foi o 7 "Prefiro ficar triste do que acreditar em um futuro melhor", e o mais fácil, o 6 "Mesmo que não tenho problemas sérios agora, fico pensando que o pior vai vir". Entende-se que o item 7 teve menos respostas porque afere visão negativista de futuro.

Por fim, a Figura 3, do fator Pensamento dicotômico/hipergeneralização (F3), apresentou que o item 43 "Tenho poucos amigos porque os outros me acham diferente", foi o mais respondido, por ser considerado mais fácil. E o item mais difícil foi o 40 "Sei que as pessoas me olham diferente porque sou um fracasso". Nesse fator foi possível observar que o agrupamento das pessoas ficou entre -4 e -3 e os itens entre -1 e 1, considerados difíceis para a população, o mesmo fenômeno ocorreu no fator 1, apresentados na Figura 2.

Outro critério avaliado na Escala de Distorções Cognitivas Depressivas (EDICOD) foi sobre as categorias de resposta para cada fator. Na figura 4, 5 e 6 a média b é considerada em zero, podendo ser analisada a probabilidade de endosso dos participantes para cada categoria de resposta, que no caso foi dividida em 1 (discordo totalmente), 2 (discordo um pouco), 3 (concordo um pouco) e 4 (concordo totalmente). No F1 o threshold entre a primeira e a segunda categoria é igual a -1,23, entre 2 e 3, igual a -0,27 e entre 3 e 4, igual a 1,50. Já no fator 2 o threshold entre a primeira e a segunda categoria de resposta ficou em -0,96, entre a segunda e a terceira ficou em -0,29 e entre a terceira e a quarta apresentou 1,25. Por último no F3 seguindo a mesma divisão de categorias entre os threshold, os valores respectivos ficaram entre -1,04, -0,10 e 1,14.

 

 

 

 

Foi notada uma representação fácil de compreender em todas categorias, considerando os três fatores, como, por exemplo, nas Figuras 4, 5 e 6 em que as curvas não sobrepõem a faixa de theta. Quando ocorre essa divisão das curvas em várias regiões da escala theta, entende-se que o sujeito conseguiu diferenciar entre as categorias do instrumento, demonstrando uma fácil compreensão entre a divisão da escala que no caso é Likert de quatro pontos.

 

Discussão

O presente estudo realizou análises psicométricas preliminares da Escala de Distorções Cognitivas Depressivas (EDICOD), utilizando tanto a Teoria Clássica dos Testes (TCT), quanto a Teoria de Resposta ao Item (TRI), especificamente o modelo de um parâmetro de Rasch. Essas análises são essenciais para testar a validade de um instrumento, sendo essas bastante usadas pelo psicólogo na área de avaliação psicológica, utilizando como referencial teórico alguns nomes importantes da psicometria (Pasquali, 2004; Urbina, 2007).

Inicialmente, sobre a análise fatorial exploratória utilizada no trabalho, observou-se que a versão final do instrumento (EDICOD) ficou com 36 itens no total, já que esses apresentaram cargas fatoriais de moderada a alta entre os três fatores. Essas dimensões foram denominadas como abstração seletiva/personalização (F1); inferência arbitrária/maximização e minimização (F2) e pensamento dicotômico/hipergeneralização (F3). Uma maneira de entender esse resultado da divisão de três fatores é endossando a classificação das distorções cognitivas de Beck (1967), que as agrupas em seis tipos. Nesse sentido, mesmo o instrumento sendo baseado nas 11 descrições de distorções de Wood (2010), no momento da divisão dos fatores pela AFE, o modelo teórico mais pertinente para explicar a solução fatorial foi a divisão inicial proposta por Beck (1967), por conter as seis principais distorções cognitivas presentes também nas classificações do Wood.

Assim, foi verificado que a escala não foi fatorada conforme as divisões de Wood, mas sim em três fatores que sustentam as distorções definidas por Beck (1967). Umas das explicações é que o modelo cognitivo da depressão foi formulado a partir de visões de pessoas pertencentes a grupos clínicos de depressivos, mas nas amostras do estudo de construção da escala, a maior parte dos participantes eram de pessoas sem diagnóstico de depressão. Portanto, era esperado que os tipos de distorções fossem identificados na população, mas não de uma forma genuína como a literatura demonstra (Knapp, & Beck, 2008).

A EDICOD foi construída somente com itens negativos, com um certo cuidado para serem criadas sentenças com visões distorcidas exageradas para que o respondente conseguisse identificar a partir da leitura, se o seu momento atual de pensamento é parecido com o conteúdo lido. Em uma pesquisa de Medeiros e Sougey (2010), foi relatado que os deprimidos apresentam mais crenças e distorções de pensamentos. Quando esses pensamentos negativos são regulados a partir de um processo psicoterapêutico, as chances de redução de sintomas da depressão são maiores. Por isso a construção e o estudo de escalas que rastreiam esses tipos de pensamentos depressivos é fundamental, para auxiliar na avaliação e na prevenção desses erros lógicos.

Em alguns estudos, realizados com a intenção de construir instrumentos psicológicos para rastrear distorções e/ou erros cognitivos, Lefebvre (1981) criou um instrumento intitulado de Cognitive Error Questionnaire (CEQ) baseado na teoria de Beck (1979), refletindo quatro tipos de distorções, tais como: castatrofização, supergeneralização, personificação e abstração seletiva. Porém os índices de confiabilidade, entretanto, não foram tão altos, quanto os encontrados nos fatores da EDICOD. Em outra pesquisa, Zauszniewski (1995) construiu o instrumento Depressive Cognition Scale (DCS) a partir do modelo cognitivo de Beck (1979), para mensurar aspectos cognitivos depressivos, como, por exemplo, desesperança, inutilidade, solidão, entre outros. A confiabilidade do instrumento foi de 0,79, e os itens apresentaram cargas fatoriais entre 0,30 e 0,62, considerados índices adequados, mas não excelentes.

Weissman (1979) também construiu um instrumento utilizado mundialmente, a Dysfunctional Attitude Scale (DAS), uma escala que tem como objetivo aferir os pensamentos disfuncionais na população geral. Essa escala foi utilizada em vários estudos, um deles realizado no Brasil, por Orsini, Tavares e Tróccoli (2007) com o objetivo de fazer uma adaptação brasileira para a escala. Os principais resultados apontaram que o instrumento foi dividido em três fatores, e os valores de confiabilidades foram maiores que 0,70, porém a variância total explicada foi baixa, de 26%. Comparando esses resultados com a EDICOD, nota-se que a Escala de Distorções Cognitivas Depressivas, durante as análises preliminares, apresentou altos índices de confiabilidade e também uma variância total explicada alta, demonstrando evidências estatisticamente satisfatórias até o momento.

Em uma outra pesquisa nacional e mais atual, Carneiro e Baptista (2016) construíram um instrumento para averiguar pensamentos depressivos, a Escala de Pensamentos Depressivos (EPD). Os pressupostos teóricos entre as escalas são parecidos, ambos retomaram a teoria cognitiva como suporte para descrever os instrumentos, mas a EPD focou totalmente na descrição da Tríade Cognitiva, já a EDICOD utilizou somente as distorções cognitivas, sendo o foco principal a ser pesquisado. Beck (2008), comentou que o modelo cognitivo da depressão é formulado por vários substratos, sendo eles, os esquemas, a tríade e os erros de pensamento. Porém, uma pessoa com sintomas depressivos não necessariamente necessita ter todos esses fatores ativados, somente um deles é suficiente, para causar sofrimento emocional, desencadeando o processo depressivo. Assim sendo, nota-se que a EDICOD apresenta semelhanças com outros instrumentos, mas, mesmo assim, contêm fatores importantes para rastrear determinados erros lógicos, que são as visões distorcidas do sujeito perante um evento específico.

Foi introduzido também para as análises o uso da TRI, para investigar a relação entre o traço latente do respondente imbricado ao item. No geral, a maioria dos participantes responderam de uma forma esperada. Em relação aos parâmetros de ajustes dos itens e pessoas, foram achados poucos itens com valores inadequados, tanto para infit quanto outfit, entre o valor de 0,60 e 1,40. Por isso foi sugerido a partir dos resultados que a escala pode ser considerada de bom ajuste, seguindo os valores esperados segundo a literatura (Linacre, 2010; Sisto, 2006).

A amostra dos respondentes a partir do mapa de itens, apresentou que os itens referentes aos fatores 2 e 3 da EDICOD foram considerados mais difíceis pela população geral, sendo pouco endossados. Em relação ao F2, foi avaliado como o fator com resultados mais mediano de respostas, apresentando itens com frequência de resposta maior, comparando-se com os outros dois fatores. Por fim, foi avaliado que a escala contem itens difíceis de serem respondidos e um dos motivos é porque o instrumento só compõe itens negativos e também a grande maioria dos participantes foram formados por sujeitos não clínicos, por isso a dificuldade de pontuação dos itens (Primi, 2010).

Foi verificado se as categorias de respostas para cada fator da escala foram consideradas adequadas. Em todos os fatores as categorias foram fáceis de compreender, porque as curvas não sobrepuseram a faixa de theta, resultando em um fácil entendimento do respondente entre a pontuação Likert, demonstrando que a divisão de quatro pontos foi a mais pertinente. Concluiu-se que a partir desses resultados o instrumento foi classificado como adequado.

A partir dos resultados fornecidos, tanto pela utilização da TCT e TRI, observou-se que a escala apresentou uma estrutura fatorial adequada, tanto para os três fatores, quanto a sua variância total explicada. Diversos itens foram excluídos com o intuito de deixar o instrumento mais fidedigno e coerente com a literatura, tendo como o objetivo inicial finalizado, que foi construir uma escala para rastrear distorções cognitivas depressivas. Contudo, cabe considerar algumas limitações. Uma delas, é a amostra reduzida de pessoas com diagnóstico de depressão, sugerindo um aumento desses pacientes clínicos e futuramente novas análises para adequar os itens que foram considerados ruins a partir da TRI.

 

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Endereço para correspondência:
Felipe Augusto Cunha
felipe.cunha@mail.usf.edu.br

Makilim Nunes Baptista
makilim01@gmail.com

Submetido em: 10/04/2018
Revisto em: 14/09/2018
Aceito em: 02/10/2018

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