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Arquivos Brasileiros de Psicologia

versão On-line ISSN 1809-5267

Arq. bras. psicol. vol.73 no.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2021

http://dx.doi.org/10.36482/1809-5267.ARBP2021v73i1p.3-4 

EDITORIAL

 

Editoria Científica: Reconectando Ciência e Solidariedade

 

 

Pedro Paulo Pires dos Santos

Editor-chefe pro-tempore da Arquivos Brasileiros de Psicologia. Chefe do Departamento de Psicometria. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

 

 

Aos autores e à comunidade científica.

O ano de 2021 foi crítico pela inexistência de verba. Nos últimos meses, tivemos finalmente a chegada de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), porém a crise de financiamento figura um momento anterior à pandemia. Dívidas foram priorizadas. Contamos também com um sucateamento sem precedentes da estrutura dos programas de pós-graduação, que vem tornando a gestão dos periódicos continuamente solitária, além dos demais espaços que ocupamos nas atividades administrativas, de ensino, pesquisa e extensão que produzem uma sobreposição de funções. Vivemos, atualmente, um dos piores cenários da história da editoração científica no Brasil.

A pandemia também trouxe para a equipe editorial, os autores e a comunidade desafios graves à saúde mental, enquanto observamos a manutenção dos critérios de exigência e avaliação das agências científicas brasileiras, havendo como efeitos apenas pequenos ajustes e tolerância de prazos. Algo discrepante da ocorrência de mais de 600 mil mortes. Este movimento aborda a ocorrência de uma pandemia como inexistente, figurando um produtivismo cego, que segue em desencontro com os princípios fundamentais do Código de Ética Profissional do Psicólogo, a exemplo explicitamente observado no primeiro inciso: "[...] baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano [...]" (CFP, 2005, p. 7). É crítico também evocar o segundo inciso dos mesmos princípios, que torna inerente à atuação do psicólogo sua luta contra a negligência, exploração, violência, crueldade, opressão e discriminação.

O sucateamento da educação e da pesquisa produz um cenário de violação constante da dignidade e integridade de professores, pesquisadores, alunos, técnicos administrativos e população usuária dos sistemas existentes vinculados às universidades. Com toda a luta histórica da nossa classe, edificar ciência na Psicologia brasileira se tornou um exercício holístico de conhecer e promover dimensões fundamentais da existência humana - de seu berço à luta das minorias por uma ciência contextualizada em nossa história, realidade, diversidade, cultura e linguagem. E, neste momento, precisamos nos inserir e nos questionar sobre a dinâmica de poder existente nos diferentes níveis, mesmo aqueles que tratam da interação entre colegas no processo de editoração científica. Tais interações são revestidas de uma transversalidade que não poderia passar sem cicatrizes em meio a um persistente movimento de instauração de uma necropolítica sobre a própria ciência.

Por esse motivo, o corpo editorial da Arquivos Brasileiros de Psicologia pede solidariedade na construção de um ambiente científico de tolerância. Cada membro do corpo editorial se empenhou pessoalmente em cada artigo. Enfrentamos as dificuldades de comunicação com um fluxo de correspondências eletrônicas referente a mais de 600 artigos em trâmite, cada um com um corpo de autores. Lidamos com pares de avaliadores que também experimentam os desdobramentos de uma pandemia. Contando a comunidade total envolvida, seria possível estimar números e, mesmo assim, isso não seria capaz de dar voz ao quanto a vida foi transformada nos últimos anos - e arbitrariamente destruída pelo autoritarismo.

A equipe editorial presente conduz a missão de publicação dos volumes atrasados de 2021 em meio ao prejuízo financeiro, administrativo, funcional, comunicacional e da saúde mental de seus membros em meio a pandemia. Também nos solidarizamos com o corpo de autores e revisores que experimentam as mesmas condições. Que a luta continue. Que a construção da ciência siga implicada a partir da construção de uma sociedade que tem como pedra angular a solidariedade.

 

Referências

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos Psicólogos, Resolução n.º 10/05, 2005. ________. Psicologia, ética e direitos humanos.         [ Links ]

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