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Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. v.14 n.1 Goiânia jun. 2008

 

EDITORIAL

 

Principiamos este editorial mergulhados num misto de lamentos, de perdas, de alegrias e de ganhos. Duas grandes personalidades da psicologia brasileira – dois dos construtores dessa psicologia – nos deixaram: Pierre Weil e Reinier Roseztraten. Sobre Pierre Weil, sua própria história o precede e pouco há o que acrescentar à sua passagem entre nós, deixando legados singulares para toda a comunidade de humanistas: introdutor da Psicologia Transpessoal no Brasil, um dos idealizadores e fundador da Universidade Internacional da Paz (Unipaz) e da Universidade Holística Internacional, um dos criadores da Abordagem Holística em Psicologia, e tantas e tantas obras e outras tantas “aulas” deixadas em palavras e em escritos. Pierre era Doutor em Psicologia pela Universidade de Paris e quando chegou ao Brasil, há sessenta anos, foi professor na Universidade Federal de Minas Gerais, entre 1958 e 1969. Publicou mais de quarenta livros, tendo recebido em 2002, o prêmio da Unesco para Educação e Paz. Na década de 1980 descobriu Brasília, onde ficou até seu falecimento, no dia 10 de outubro.

Outra das personalidades que nos deixou neste ano foi o Prof. Reinier Roseztranten. Filósofo e Teólogo, com formação em Haia, na Holanda; no Brasil, graduou-se em História Natural pela Universidade Federal de Minas Gerais. Será sempre lembrado como o introdutor da Psicologia do Trânsito no Brasil, mas igualmente inegável foi sua inestimável contribuição para disciplinas como a História da Psicologia, a Psicologia Experimental – em especial por seus laboratórios e experimentos em Psicofísica, Percepção e Sensação (chegando a reproduzir inúmeros experimentos clássicos da Psicologia moderna, inclusive da conhecida escola gestaltista alemã) – e a Psicologia da Aprendizagem. Mas, recorde-se ainda que a presença e a participação do Prof. Reinier Rozestraten foi intensa e decisiva para a própria constituição da Psicologia brasileira, como ciência e como instituição, participação esta que pode ser ilustrada – como destacado no texto Reinier Rozestraten em Ribeirão Preto: Memórias e Enraizamento da Psicologia no Brasil – por suas participações nas criações do atual Conselho Federal de Psicologia e da Sociedade Brasileira de Psicologia (antiga Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto). Faleceu em 28 de junho de 2008, em Ribeirão Preto, São Paulo.

Ao mesmo tempo em que as perdas nos fazem lamentar, ganhos – produtos de muita luta e investimento de toda uma equipe – fazem com nos orgulhemos de apresentar uma “nova” revista, agora totalmente digital, indexada e compartilhando da metodologia Scielo, junto ao PePSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia). O PePSIC reúne revistas científicas de Psicologia, numa parceria entre a BVS-Psi (Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia) e a ABECiP (Associação Brasileira de Editores Científicos de Psicologia). Para a estruturação desse monumental trabalho, conta ainda com a parceria do Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde – BIREME (www.bireme.br).

Com isto, alcançamos o primeiro patamar de nosso projeto iniciado há dois anos, que era projetar o primeiro periódico científico que pudesse acolher tanto a produção em Gestalt-Terapia e Abordagem Gestáltica, bem como um veículo de divulgação para a Fenomenologia e as Abordagens Humanistas.

Neste novo número, apresentamos a clínica existencial e fenomenológica em diversas vertentes: preliminarmente, a Gestalt surge em uma discussão sobre O Holismo de Smuts e a Gestalt-terapia, de autoria de Patrícia Valle Albuquerque Lima, e em outro texto, intitulado Solidão, Amor e Sexo na Mulher de mais de Sessenta Anos, de Teresinha Mello da Silveira. A reflexão sobre os fundamentos de sua prática é retomada em Alguns Apontamentos sobre a Origem das Psicoterapias Fenomenológico-Existenciais (de Beatriz Furtado Lima).

A Abordagem Centrada na Pessoa e o pensamento de Carl Rogers aparecem em Abuso e Exploração Sexual Comercial contra Crianças: Em Busca de uma Compreensão Centrada na Pessoa, de autoria de Leonardo Cavalcante de Araújo Mello & Elza Dutra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

O legado da filosofia kierkegaardiana para a compreensão do homem em seu contexto é discutida em As Expressões da Singularidade e as Categorias Universais, de Ana Maria Lopez Calvo Feijoo & Myriam Moreira Protasio, do Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro.

Nosso compromisso com a pesquisa e a produção de conhecimento, com a ciência empírica e as diversas metodologias ganha novos contornos com a explanação em Dos Quadros de Monet aos Patos da Margarida – Divagações sobre Investigação Fenomenológica, artigo de autoria de Daniel Cunha Monteiro de Sousa, coordenador do Mestrado em Relação de Ajuda do Instituto Superior de Psicologia Aplicada – Lisboa, Portugal).

Inauguramos neste número, um debate interdisciplinar e multi-facetado, que demos o nome de “Diálogos (Im)Pertinentes”, como uma marca para a troca, para o debate, para o embate e o desenvolvimento de novas idéias. Apresentaremos nesta seção, sempre um conjunto de textos relacionados a um mesmo tema, principiando – neste número e no seguinte – com um rol de trabalhos apresentados no Encontro Regional do SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião), realizado em Goiânia, entre 17 e 18 de maio de 2008. Alguns dos trabalhos apresentados nesse encontro foram selecionados e serão publicados em duas partes, juntamente com textos de gestaltistas que correlacionam o tema da Religião com a Fenomenologia, as Filosofias da Existência e a Gestalt-Terapia.

Ênio Brito Pinto, em seu texto intitulado As Ciências da Religião, a Psicologia da Religião e a Gestalt-terapia: Em Busca de Diálogos, assinala que o campo das ciências da religião é, essencialmente, um campo multidisciplinar e plural. Assim, o dossier sobre religião começa com a pluralidade de sua apresentação, além de Uma Fenomenologia da Cura Espiritual: Um estudo de caso na pesquisa fenomenológica, de Célia Carvalho de Moraes, do Instituto de Gestalt-Terapia de Brasília. Esses artigos introduzem o leitor ao debate mais profundo com a Filosofia, a Teologia, a Sociologia e a Antropologia, com os artigos que se seguem, frutos dos trabalhos do Soter Regional de 2008: Azize Maria Yared de Medeiros, da Universidade Católica de Goiás, apresenta Conspiração Aquariana Revisitada: Correlações com as Filosofias de Henri Bergson e William James; em seguida, Genivalda Araújo Cravo dos Santos, também da Universidade Católica de Goiás apresenta As Interpretações do Mal na Religião e a Síndrome de Burnout; Clóvis Ecco (Universidade Católica de Goiás/Colégio Marista de Goiânia) discute A Função da Religião na Construção Social da Masculinidade; em seguida, Maristela Patrícia de Assis (Universidade Católica de Goiás) apresenta Um Olhar Cristão da Liberdade numa Perspectiva Multicultural; e, por fim, Maria José Pereira Rocha (Universidade Católica de Goiás) nos prima com Gênero e Religião sob a Ótica da Redescrição.

Esse diálogo com a Religião continuará no próximo número, com formato semelhante. Esperamos com isto, estar inaugurando um novo canal de debates e, principalmente, amplificando o legado holístico da Gestalt.

Nossa seção de Textos Clássicos – que acreditamos ser de especial relevância para a construção da história da psicologia – apresenta ainda algumas novidades. Neste número – e nos dois próximos, subseqüentes – teremos o prazer de apresentar ao grande público, alguns dos textos mais importantes da psicologia humanista, por intermédio de diálogos empreendidos por Carl Rogers (criador da Abordagem Centrada na Pessoa) e algumas das mais renomadas personalidades de seu tempo, como Gregory Bateson, Martin Buber, B. F. Skinner e outros. Principiaremos com um colóquio entre Rogers e Paul Tillich, um dos mais famosos teólogos do século passado, realizado em 1965, e ainda inédito no Brasil. Esse e dos demais diálogos que apresentaremos estão originalmente publicados no livro Carl Rogers: Dialogues, editado por Howard Kirschenbaum & Valerie Land Henderson (Houghton Mifflin Company, Boston, 1989).

Nossos mais sinceros agradecimentos aos editores Howard Kirschenbaum e Valerie Land Henderson, bem como a Natalie Rogers, pela gentileza de autorizar a tradução do diálogo que consta nesse número.

Nessa nova fase, que ora principiamos, queremos agradecer especialmente a todos os autores que – ao longo desses dois anos – nos primaram com sua confiança, com seu envolvimento e com sua contribuição; bem como a todos os que nos ajudaram a construir esse projeto: editores, equipe técnica, consultores e membros do Conselho Editorial.

A todos, nossos mais sinceros agradecimentos. E aos leitores, reiteramos nosso convite para estar conosco na realização dessa nova etapa.

 

Adriano Furtado Holanda

- Editor -

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