SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.14 número1A função da religião na construção social da masculinidadeGênero e religião sob a ótica da redescrição índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. v.14 n.1 Goiânia jun. 2008

 

DIÁLOGOS (IM)PERTINENTES

 

Um olhar cristão da liberdade numa perspectiva multicultural

 

A christian look of freedom in a multicultural perspective

 

Una mirada cristiana de la libertad en una perspectiva multicultural

 

 

Maristela Patrícia de Assis

 

 


RESUMO

Este artigo é uma análise da liberdade conceituada por Paulo, numa perspectiva multicultural e, sobretudo, considerando-se que sua expressão é uma relação com o outro, numa dimensão transcendente. Esse olhar é um desafio em qualquer cultura e vinculado a uma vida real de prática comunitária cristã com liberdade no Espírito. A liberdade como proposta de vida cristã é em prol da comunidade, exercida com igualdade e serviço mútuo, pelo amor que transcende os limites das regras e preconceitos. Liberdade é um anseio do indivíduo em qualquer cultura e se expressa na prática do serviço como designação do amor, verdade que a pessoa humana necessita, e que independe de raça, gênero, ou até cultura, visto que ultrapassa fronteiras e atribui sentido a uma existência, a uma história de vida.

Palavras-chave: Amor; Liberdade cristã; Comunidade; Multiculturalismo.


ABSTRACT

This paper is an analysis of freedom as concept by Paul, in a multicultural perspective and considering its expression as a relationship, in a transcendent dimension. This look is a challenging in any culture and it’s linked to the practice of Christian community with freedom in the Spirit into the real life. Freedom, as an option of Christian life, is in behalf of the community, and ought to be lived with equality and serving to one another, because of the love that is beyond the rules limits and prejudices. People in any culture desire freedom and its expression is by serving because of love, truth that the human person needs and that is independent of race, gender, or even culture, considering that this surpass borders and gives sense to the existence, to a life history.

Keywords: Love; Christian freedom; Community; Multiculturalism.


RESUMEN

Este artículo es un análisis de la libertad conceptuada por Paulo, bajo una perspectiva multicultural y, sobretodo, considerando que su expresión es una relación con el otro, en una dimensión trascendente. Esa mirada es un desafío en cualquier cultura y está vinculada a una vida real de práctica cristiana comunitaria con la libertad de Espíritu. La libertad como una propuesta de vida cristiana es en pro de la comunidad, ejercida con igualdad y servicio mutuo, por el amor que trasciende los límites de las reglas y de los preconceptos. La libertad es un anhelo del individuo de cualquier cultura y se expresa por la práctica del servicio como una designación del amor, de la verdad que la persona humana necesita, y no depende de la raza, del género, o hasta de la cultura, ya que ultrapasa fronteras y le atribuye significado a la existencia, a la historia de vida.

Palabras clave: Amor; Libertad cristiana; Comunidad; Multiculturalismo.


 

 

O aprendizado da liberdade possui por demarcação o amor ao próximo. Especificamente será enfocada a liberdade numa relação pessoal com Deus e suas implicações no relacionamento com o próximo. O tema sobre a liberdade é incisivo e permeia os diversos campos do relacionamento com Deus e as relações interpessoais, e comunica que liberdade é inerente ao ser humano. Pensar esse tema contribui para uma discussão saudável sobre questões existenciais e sociais do ser humano na atualidade, visto que liberdade em Cristo é transcender o limite cultural, político e social. Liberdade é um anseio do indivíduo em qualquer cultura e se expressa na prática do serviço como designação do amor, verdade que a pessoa humana necessita, e que independe de raça, gênero, ou até cultura, visto que ultrapassa fronteira e atribui sentido a uma existência, a uma história de vida.

Restituindo ao ser humano a verdadeira liberdade, a libertação radical concretizada por Cristo lhe entrega um serviço: a práxis cristã, que é a aplicação do amplo mandamento do amor. Este último é a abertura suprema da ética da sociedade cristã, fundada sobre o Evangelho e sobre toda a tradição desde os tempos apostólicos, como descrito:

Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para (viverdes segundo) a carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros. Pois toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Gl 5, 13-14).

A liberdade cristã expressa o sentimento de ser servo e a dependência da criatura ao criador, na pessoa de Jesus Cristo, semelhante à dependência definida por Otto (1985, p. 14) como o sentimento que a criatura tem de seu próprio nada e que desaparece na presença daquele que está acima de toda criatura, diante de um poder soberano específico. É um sentimento de soberania absoluta e que pode indicar a diferença entre o Senhor Deus e o servo ou serva fiel. Para Otto (1985) é um superpoder que se relaciona ao sentimento de ser criatura, que é um sentimento numinoso, matéria bruta da humildade religiosa e pode ser definido pelo sentimento de dependência, como expressada por Abraão, que não consiste no fato de não ter sido criado, mas no fato de ser uma criatura (Gn 18, 27, “certamente sou ousado em falar ao meu Senhor, eu que sou pó e cinzas”). Este sentimento de ser criatura favorece a prática do serviço ao próximo, em amor a Deus e ao outro, como a expressão máxima da liberdade cristã.

A liberdade cristã consiste em ser livre para servir. Nesse conceito de liberdade se insere a humildade religiosa gerada pelo sentimento de dependência, de ser criatura diante do criador, e que é necessária para que se estabeleça a condição de ser livre para servir ao Deus vivo e soberano, e ao próximo. Pois, “sem humildade e coragem não há amor” (Bauman, 2004, p. 22). Uma liberdade eficaz o suficiente para produzir servos e servas que servem em amor compromissado, que traz conseqüências marcantes para a comunidade cristã, na direção da superação de diferenças sociais, políticas, culturais, étnicas e de gênero. Essa comunidade que se forma no molde do cristianismo não só supera tais diferenças, mas, sobretudo agrega as multiformes culturas e etnias num único contexto comunitário em que o maior valor agregado é precisamente o amor expressado pelo serviço de uns para com os outros, não em ações egoístas e unilaterais, mas em ações integradas em que todos se beneficiam.

Teixeira (2003, p. 41) afirma que a vida religiosa implica a existência de forças muito particulares que são as forças que removem montanhas, significando que quando um homem vive da vida religiosa ele pensa participar de uma força que o domina, mas que ao mesmo tempo o sustenta e o eleva acima de si próprio. Apoiado nela parece-lhe que pode enfrentar as dificuldades de existência, que pode até dobrar a natureza a seus desígnios.

A liberdade que se recebe pelo viver no Espírito por meio de Cristo tem seu lugar na comunidade cristã, e se concretiza na prática do amor que só se efetiva nas relações estabelecidas entre pessoas que se interagem com o propósito de servir a Deus e ao próximo. A comunidade cristã que vive a liberdade num relacionamento pessoal com Deus e com o próximo encontra em Deus a força necessária para o serviço, força esta que a sustenta, levando-a a superação das dificuldades e propiciando a fé que remove as montanhas das desigualdades, das diferenças culturais, do egoísmo, e tantas outras mais que vierem a impedir a existência dessa comunidade livre. E essa força de origem transcendente é o amor e não normas, preceitos ou um receituário de procedimentos. “Amar é querer gerar e procriar” (Bauman, 2004, p. 21).

O ser humano, apesar de ser criatura, e criatura de Deus, é sua imagem e semelhança; “no dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez” (Gn 5,1). Assim, homem e mulher pertencem à mesma natureza daquele que os criou, possui a mesma qualidade do ser que os gerou, e, por isso, são também criadores ou criativos em potencial. De forma latente ou manifesta, a criatividade humana, semelhante à divina, procede do amor, porque “o amor é afim à transcendência” (Bauman, 2004, p. 21).

A carta aos gálatas é um exemplo na escritura bíblica sobre a defesa da liberdade cuja prática é o amor. O apóstolo Paulo, o apóstolo das Nações, enviado aos gentios para a missão de pregar o Evangelho de Cristo, nesta Epístola aos Gálatas, mais que nunca, demonstra seu espírito de luta em prol da liberdade. Nesse embate travado com os adversários e em favor da causa de Cristo e de seus irmãos em Gálatas, Paulo não mediu esforços em fazer prevalecer a verdade proclamada por Cristo, em favor da fé cristã, como definiu em Gl 2:16, de que “o homem não é justificado pelas obras da lei, mas somente pela fé relativa a Jesus Cristo”. Nesse esforço, Paulo não só confirma a verdade do Evangelho de Cristo que procurou registrar também em outras cartas, mas, sobretudo, expande a compreensão da vida em liberdade, centrada na pessoa de Cristo. A importância desta carta é inquestionável para os tempos de Gálatas e para as bases da igreja cristã que se principiava, como também para os tempos atuais, pois, em sua perspectiva mais libertadora introduz a comunidade uma vida social que produz o serviço ao próximo sem hierarquizar privilégios ou valorizar um indivíduo em detrimento de outro, por motivo político, cultural, econômico, social ou até mesmo de gênero. Não ocorreria, então, a primazia de um ser humano sobre outro, pois prevalecem às relações igualitárias baseadas na justiça que provêm da condição de filhos de Deus.

A luta de Paulo, como afirma Bortolini (1991, p. 16), é pela preservação dos valores culturais próprios da comunidade dos Gálatas, contemplando também a inculturação do evangelho na realidade própria de cada povo, pois, evangelho que não leva em conta as culturas próprias de um povo é pura escravização. Uma luta perfeitamente atual e válida para qualquer sociedade, cultura e até nação.

A carta aos gálatas é também um exemplo na luta pela superação das diferenças étnicas e culturais, onde Paulo defende a fé cristã que desemboca na libertação para a vivência da liberdade em comunidade, sem imposição de ritos judaicos como a circuncisão e a comensalidade para fazer surgir o sentimento de pertença à comunidade eleita ou para se tornar nação santa ou raça eleita. Aderir aos costumes judaicos, conforme dito por Paulo: “se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitarᔠ(Gl 5, 2), além de eliminar Cristo da comunidade, seria o mesmo que impor a prevalência de uma cultura e sua soberania sobre as demais fazendo de suas bases a Lei judaica. Mas, com o advindo da ressurreição de Cristo, a comunidade não necessitaria mais se tornar judeu ou judia para ser povo escolhido de Deus, bastando somente a fé em Cristo, que tudo consumou na cruz do calvário. Porém, sem esquecer que essa liberdade é limitada pelo amor e vivida no Espírito. E o significado desse viver no Espírito pressupõe Cristo como exemplo a ser seguido, mas que cujo jugo ou fardo é o mais suave e o mais leve que qualquer regra poderá se arvorar.

Como afirma Ferreira (2005, p. 165), “o serviço fraterno é, pois, o modo como a comunidade experiencia a liberdade em Cristo”. Esse modo de vida como expressão da liberdade cristã designada pela comunidade supera desigualdades para o estabelecimento de relações que não sejam de dominação, ou subjugadoras e opressoras, configurando-se assim numa sociedade igualitária, mais livre de preconceitos e competições, enfim, uma sociedade de iguais. Pois, segundo Ferreira (2005), em sua visão de liberdade, aderindo ao programa de uma possível sociedade sem discriminações, Paulo vai mostrando que ela busca, apesar dos conflitos, a superação das barreiras étnicas, sexuais e sociais, e, como a liberdade, ou seja, viver segundo o Espírito, se opõe à escravidão, vê-se, paulatinamente, que liberdade e o princípio da igualdade andam de mãos dadas.

A máxima da liberdade cristã, que se estabelece nas relações entre servos e Senhor, quando não acompanhada da sua práxis que é o mandamento do amor, acaba por ser uma ferramenta eficiente para o estabelecimento de relações que podem servir para justificar ou autorizar ações e legações de autoridades eclesiásticas. Dissociar liberdade cristã da prática do amor ao próximo é o mesmo que eliminar Cristo da comunidade, ou o mesmo que edificar uma comunidade na forma de lei e ordenanças que eliminam o fruto primordial dessa liberdade, formando assim uma comunidade composta de indivíduos com problemas psicossociais, em constante anomia, em que conflitos se acirrarão e se tornarão pontos para a desestruturação social. Uma religião nessas bases não realiza sua função social integradora. Se dissociar liberdade cristã do serviço ao próximo é o mesmo que eliminar Cristo da comunidade, negar essa liberdade, segundo Bortolini (1991), é negar Jesus Cristo, o único que é capaz de fazer viver na justiça e na liberdade, pois, quando a Lei, ou as obras da Lei, ocupam o primeiro lugar na vida das pessoas ou das comunidades, abre-se o caminho para a escravidão e a injustiça.

Para citar Berger, “o controle social busca conter as resistências individuais ou de grupo dentro de limites toleráveis” (Berger, 1985, p. 42). A tônica do amor ao próximo como produto da liberdade cristã ressalta a necessidade de se expressar esse amor no serviço ao próximo e em constante relacionamento com Deus. Pode-se inferir dessa temática que ela funciona como fator para conter sentimentos carnais de inimizades, invejas, ciúmes e tantos outros sentimentos que representam as resistências individuais que tanto prejudicam os relacionamentos na comunidade ou grupo eclesiástico. Para Berger (1985, p. 29), o indivíduo é socializado para ser uma determinada pessoa e habitar um determinado mundo. Berger (1985) afirma, ainda que o indivíduo não é modelado passivamente, mas sim no curso de uma prolongada conversação em que ele é participante. Formado como pessoa continua a participar da conversação e a ser um co-produtor do mundo social e de si mesmo.

Com o objetivo de estabelecer as bases da vida comunitária da igreja cristã, o amor ao próximo tem sido um norte, lembrando que, amor “não é senão outro nome para o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim de uma criação nunca é certo” (Bauman, 2004, p. 21). O amor, sendo um norte, funciona como fonte de construção de uma comunidade, grupo e um mundo mais próximo de Deus. É também um caminho a trilhar que tem seu início, mas como abertura através de um poder criativo que pretende ser construtor de relacionamentos que não se adaptam a regras e conceitos preestabelecidos, pois “o tipo de entendimento que a comunidade se baseia precede todos os acordos e desacordos. Tal entendimento não é uma linha de chegada, mas o ponto de partida de toda união” (Bauman, 2003, p. 15).

O amor é também fator de coesão forte na comunidade. Favorece o indivíduo em seu esforço constante e árduo de estar integrado numa vida em grupo, numa prática de construção de seu mundo social repleto de sentido, e numa via de mão dupla que pretende levar o indivíduo a doar-se ao próximo e ao grupo, e a receber o mesmo tratamento desse grupo, tornando-se participativo nessa construção social. Estabelece-se, assim, um nomos, que para Berger (1985) é uma ordenação da experiência que é própria a toda espécie de interação social em que “o ‘nomos’ de uma sociedade atinge a consciência teórica” (Berger, 1985, p. 45), legitimando totalmente, numa cosmovisão que abrange tudo, com o objetivo de manter a realidade objetiva e subjetiva. Porém, amor não se encerra na coesão e manutenção de realidades como fim em si mesmo. É sempre a inclusão do outro, visando o outro, o diferente e desconhecido, pois amor é “uma relação com a alteridade, com o mistério, ou seja, com o futuro, com o que está ausente do mundo que contém tudo o que é...” (Lévinas, citado por Bauman, 2004, p. 22).

Como fundamento da religião cristã, a liberdade aqui conceituada, em que sua práxis se situa no amor ao próximo, intervém para definir sentido à comunidade religiosa e ao indivíduo na relação com o outro, e facilitando a construção de uma prática que fornece as explicações para as relações sociais existentes, conferindo-lhes significado, repassando valores existenciais e sociais, posicionando o homem num cosmos sagrado em sintonia com Deus e a comunidade religiosa. Nessa visão, liberdade é construtora de um mundo melhor, que interfere neste mundo para fazer valer o preceito do amor que é suporte para transformação de vidas.

A liberdade cristã assim definida é a que se estabelece entre o crente servo e Jesus Cristo, seu Senhor, Deus único e pessoal. A crença em Jesus como Senhor Ressuscitado, sobre que se fundou a igreja cristã primitiva pode ser um pressuposto para a crença também em um Senhor que venceu todas as coisas e realizou o sacrifício por seus servos e servas. Essa crença orienta, no cristianismo, a vida da instituição e especificamente do grupo. Na verdade é a base do cristianismo enquanto prática religiosa: a prática do amor ao próximo, o serviço ao próximo. O amor ao próximo, como expressão da liberdade, é fundamento da ética cristã ocidental, em que o pensamento religioso ocidental é transcendentalista e acentua um Deus transcendente e o mundo como sua criação.

Concluindo, nessa perspectiva em que se coloca a liberdade cristã, as diferenças se despojam de significado e a comunidade passa a ser condicionada pelas trocas que se estabelecem em bases sólidas e consistentes, fundamentadas no amor uns para com os outros. Isso implica em decisão pela vontade de viver numa comunidade livre para servir, não por força de leis e ordenanças, mas no amor que é gerado pela fé daqueles que crêem em Cristo como Senhor, e desejam andar no seu Espírito, produzindo o seu fruto melhor que é esse amor. Segundo Giavini (1987, p. 77), “essa liberdade foi dada pelo Espírito à igreja para que a viva no interior de si mesma e no mundo, dentro da sociedade civil”. Nesse sentido o propósito é produzir o amor como o fruto melhor vivendo-o não só na comunidade eclesiástica, mas também na sociedade. O verdadeiro amor não precisa da lei ou do seu jugo “e vai muito além do mínimo exigido pelas normas, contratos, ameaças de penas ou previsão de vantagens” (Giavini, 1987, p. 78). Nesse sentido as normas em vigor não são pesadas ou determinantes, pois, o ser humano que vive a liberdade de servir por amor não se baseia ou se prende a elas, uma vez que já não precisa delas. O amor prescindindo de leis, ultrapassando-as, cumpre além de suas determinações de forma serena e pacífica. Pois,

amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama irreversível. Abrir-se ao destino significa, em última instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que se incorpora no Outro, o companheiro no amor (Bauman, 2004, p. 21).

Amor e liberdade cristã se expressam no outro. Apesar de muitas vezes solitário, não existe na ausência do outro. É um desafio a ser vivido na relação com o outro, com a alteridade. E o mais desafiador é a vivência da liberdade pela práxis do amor na multiplicidade do que é diferente, do outro, ou seja, na comunidade. Esse viver comunitário é, na verdade, um anseio do ser humano em qualquer cultura, pois este ser não pode prescindir de outros seres por ser ele mesmo carente de uma vida em grupo que lhe satisfaça.

Esse mesmo ser humano dissolve sua carência no outro e em comunidade, pois, “o amor é a vontade de cuidar, e de preservar o objeto cuidado” (Bauman, 2004, p. 24). Não pode haver nada mais criativo e construtor do que esse amor. Não pode haver nada mais prestativo que esse amor, pois “amar é contribuir para o mundo, cada contribuição sem o traço vivo do eu que ama” (Bauman, 2004, p. 24). E, ainda, não pode haver nada mais expressivo da liberdade que o amor, e nada mais expressivo do significado da existência e da vida do que o amor, porque “amor significa um estímulo a proteger, alimentar, abrigar. Amar significa estar a serviço, colocar-se à disposição, aguardar a ordem” (Bauman, 2004, p. 24).

 

Referências Bibliográficas

Bauman, Z. (2003). Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.        [ Links ]

Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Berger, P. (1985). O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulinas.

Bortolini, J. (1991). Como ler a carta aos gálatas. São Paulo: Paulinas.

Ferreira, J. A. (2005). Gálatas. A epístola da abertura de fronteiras. São Paulo: Loyola.

Giavini, G. (1987). Gálatas: Liberdade e lei na Igreja. São Paulo: Paulinas.

Otto, R. (1985). O Sagrado. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista.

Teixeira, F. (2003). Sociologia da religião. Petrópolis: Vozes.

 

 

Recebido em 09.05.08
Primeira Decisão Editorial em 21.08.08
Aceito em 17.09.08

 

 

Maristela Patrícia de Assis - Graduada em Psicologia e Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências de Religião, do Departamento de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Goiás (UCG). Endereço para correspondência: QND 19, Casa 18, Taguatinga Norte, CEP 72120.190 (Brasília/DF). Email: <massis@cnpq.br>

Creative Commons License