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Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.16 no.1 Goiânia jun. 2010

 

RESENHAS

 

Bárbara Spenciere

Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia (ITGT)

 

 

“Histórias” da Gestalt-Terapia no Brasil: um Estudo Historiográfico, 2009

(Danilo Suassuna e Adriano Holanda)

Curitiba: Editora Juruá

O registro histórico existe há muito tempo. Desde a constituição da escrita contam-se histórias, pois é uma forma de se contar o presente a gerações e populações futuras. No livro em questão, os autores ressaltam essa importância do contar e conhecer a história para que se possa inclusive compreender melhor o presente e em conseguinte o movimento dessa história.

Ao ler “Histórias” da Gestalt-terapia no Brasil: um estudo historiográfico (2009), faz-se uma viagem pelo tempo direcionada pelos “primeiro atores” dessa história. Contada sob diferentes perspectivas e olhares, a história passa a ser de uma riqueza indescritível. Vivenciam-se elementos, situações e contextos acessados sob diferentes perspectivas, o que gera uma infinita gama de detalhes e aspectos.

O objetivo desse trabalho é o de compreender o contexto em que a Gestalt-Terapia é introduzida no Brasil, aqueles que foram responsáveis pelo feito e como ocorre o seu desenvolvimento até os dias atuais. Dessa forma, constrói-se uma história pela via dos “primeiros atores”.

No primeiro capítulo, ressalta-se a importância da história para a humanidade e para a ciência, não obstante, para a Psicologia e para a Abordagem Gestáltica. Apresentam-se os métodos que serão utilizados para a execução do trabalho e a possibilidade de uma intersecção entre os mesmos.

Para a construção do livro, os autores utilizaram o método fenomenológico e também o método historiográfico. Este, na visão dos autores, vem acompanhado da perspectiva fenomenológica uma vez que a história baseada em depoimentos colhidos via entrevistas revela o contexto vivido, a descrição do vivido individual e as relações entre esse indivíduo e o meio descrito.

Já em um segundo momento, proporciona-se ao leitor uma viagem pela história da abordagem antes de sua chegada ao Brasil destacando os principais nomes, “fundadores” da mesma, com ênfase na figura de Fritz Perls. Os autores basearam-se, nessa etapa do trabalho, em uma vasta revisão bibliográfica incluindo livros, como a autobiografia de Fritz Perls, uma compilação feita por Laura Perls (1994), Aquí y Ahora escrito por Perls, entre outros.

No terceiro capítulo, os autores relatam a pesquisa subdividindo-o em duas partes. Na primeira, são apresentados os participantes - sujeitos entrevistados - e o instrumento utilizado, a entrevista. Na segunda, constroem um diálogo com trechos e relatos dos entrevistados.

Os participantes selecionados e denominados de “primeiros atores”, foram escolhidos a partir do que foi encontrado na revisão bibliográfica. Contemplaram-se os Gestalt-terapeutas que se encontram no eixo São Paulo- Brasília. O texto ressalta que mesmo restrito a essas localidades, os profissionais do Nordeste e do Rio de Janeiro foram do mesmo modo imprescindíveis para a chegada dessa abordagem no Brasil.

Os entrevistados foram pioneiros tanto na produção teórica quanto prática, além de possuírem experiências com a Gestalt-terapia logo em seus primórdios. Abel Guedes, Ari Rehfeld, Jean Clark Juliano, Jorge Ponciano Ribeiro, Lílian Frazão, Selma Ciornai, Tessy Hantzchel e Walter Ribeiro foram os “primeiros atores” entrevistados. Foram utilizadas entrevistas semidirigidas com três perguntas disparadoras que orientaram a fala dos entrevistados.

Após essas entrevistas, os autores montaram um “diálogo” entre os “primeiros atores” com o intuito de compreenderem como chega, com quem chega e como se desenvolve a abordagem no Brasil. Dentre outros aspectos, o livro apresenta sobre: “Como chega”. De acordo com o relato dos entrevistados, trata de um Brasil marcado por intensas transformações políticas, porém também uma intensa abertura cultural de receptividade para o novo. “Com quem chega” destaca pessoas que foram mais representativas no início da Gestaltterapia no Brasil. Conforme Jorge Ponciano bem destaca no Prefácio do livro, o grupo dos oito - “primeiros atores” - conta acerca do grupo dos quatro pioneiros na Gestaltterapia: Madre Cristina Sodré, Therese Tellegen, Paulo Barros e Bob Martin. E contam também acerca do grupo dos 13, grupo do Boiçucanga que foi de extrema importância para o desenvolvimento da abordagem no Brasil. Já “Como se desenvolve” ressalta como está o caminhar da abordagem desde seu primórdio no Brasil, o papel e feitos desses pioneiros nessa construção desse caminho e seus vislumbres para o futuro.

Como todo caminhar de uma história, a da Gestaltterapia também tem perspectivas futuras e questões a serem refletidas e trabalhadas para que o caminho se aprimore. Os autores levam o leitor a refletir acerca da construção da história e a perceber que existem “novos atores” a se destacar e que a abordagem precisa deles para dar continuidade em seu caminho. De certa forma, é um convite para o estudo e publicações, enfim, contribuições para a abordagem com uma visão ampliada que contemple o âmbito social, é um ampliar a visão para além do consultório, com o intuito de uma busca por um desenvolvimento de um engajamento “político” - aquilo referente a homem e a polis na perspectiva social e comunitária. Essa era uma vontade de Perls e está no “bojo teórico” da abordagem, basta desenvolver.

Mais que uma apresentação da história, o livro apresenta as novas perspectivas dessa abordagem que se direcionam para o trabalho social. Esse inclusive era um desejo de Perls e isso fica bem destacado pelos autores.

Como se pode perceber, o livro está disposto em capítulos que abrangem inicialmente uma visão ampla do que será trabalhado e só então, no desenrolar dos mesmos, aquilo que há de mais específico vai tomando forma e surgindo como parte integrante do todo inicial. No decorrer, apresentam-se justificativas e explicações o que torna a leitura de fácil compreensão. Os autores conseguem contar a história de uma maneira leve e interessante

 

Referências

Suassuna, D., & Holanda, A. (2009). “Histórias” da Gestalt-terapia no Brasil: um estudo historiográfico. Curitiba: Juruá.

 

 

Recebido em 18.06.2009
Aceito em 25.11.2009

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