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Revista da Abordagem Gestáltica

Print version ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.18 no.1 Goiânia June 2012

 

TEXTOS CLÁSSICOS

 

As origens da ideia da forma: (capítulo I - La Psychologie de la Forme1)

 

 

Paul Guillaume

 

 

(1937)

1. A Psicologia Analítica e seus Críticos

A Psicologia da Forma nasceu de uma reação contra a psicologia do século XIX, que tomou para si, por tarefa, a análise dos fatos da consciência ou das condutas. O exemplo das outras ciências parecia impor este método; a química e a física dividiam os corpos em moléculas e átomos; a fisiologia isolava os órgãos e os dissociava em tecidos e células; a psicologia deveria então isolar seus elementos e descobrir as leis de suas combinações.

A análise ideológica lhe havia aberto o caminho; os elementos eram as sensações com os quais Condillac2 já construíra a alma da sua estátua3, ou seja, os dados simples, originais, irredutíveis a todo novo esforço de análise, os quais, dizia-se, correspondiam na consciência à excitação de cada órgão sensível. A ambição do psicólogo era fazer um completo inventário delas, descrever ou mediar as suas propriedades - qualidade específica, intensidade e sinal local - precisar a correspondência invariável de cada uma delas com a excitação de um aparelho receptor e nervoso bem localizado.

O conteúdo próprio da sensação encontrava-se em seu segundo elemento, a imagem, que era, em princípio, a reprodução daquela. As imagens ora se misturavam às sensações atuais, nesses complexos difíceis de dissociar que eram nossas percepções familiares, ora se apresentavam em agrupamentos mais livres, que constituíam nossas lembranças ou nosso pensamento.

Mas, após descrever os elementos, era necessário justificar sua ordem e seu agrupamento, explicar a organização dos todos e as funções de suas partes. Durante muito tempo esse problema pareceu resolvido pelo associacionismo. Na forma mais sistemática dessa teoria, a associação se estabelece pela contigüidade dos elementos no tempo e se reforça pela repetição desses contatos. A psicologia do séc.XIX consolidava essa noção através de experimentos nos quais se via estabelecerem-se ligações estáveis entre elementos quaisquer, simplesmente justapostos na experiência do indivíduo; qualquer coisa podia se associar com qualquer outra coisa. Desde então, podia-se admitir que a unidade de todos os complexos psíquicos tinha a mesma origem que a ligação de um par de sílabas sem sentido, nos experimentos de Ebbinghaus4, ou que a ligação de um sinal condicionado e uma reação, nos experimentos de Pavlov5. Os limites, no espaço e no tempo, desses agrupamentos complexos que chamamos objetos ou acontecimentos, sua significação e seu valor, resultavam de conexões estabelecidas por contatos acidentais entre elementos indiferentes uns aos outros.

Todavia, a insuficiência desses fundamentos teóricos sempre tinha sido mais ou menos sentida pelos próprios psicólogos. Para mais tarde situar a teoria da Forma no movimento das idéias; para mostrar como se alia a esforços paralelos e em que consiste sua verdadeira originalidade, devemos lançar um olhar sobre algumas críticas endereçadas a esses princípios e sobre as correções propostas.

A idéia de uma associação de elementos se presta a uma descrição correta dos conteúdos de consciência observáveis? Muito clara em sua forma primitiva e em sua aplicação restrita, ela se tornava obscura em sua generalização. As famosas leis que encontramos já em Aristóteles eram anotações sumárias da ordem de sucessão das idéias, ou seja, de distintos momentos do pensamento, realmente observáveis. Mas a associação que, na percepção, liga sensações e imagens, não é mais uma sucessão de estados distintos, uns chamados pelos outros. Neste caso, a consciência não suspeita da complexidade dos fatos; um raciocínio é o que prova que a percepção está carregada de recordações. Assim, o tempo necessário para ler uma palavra familiar é bem inferior ao que exigiria a percepção distinta do mesmo número de letras agrupadas de qualquer maneira; e ainda mais com o emprego do taquistoscópio não se percebe a alteração de uma letra em uma palavra familiar, e tudo se passa como se a letra correta, que falta, tivesse sido vista. Mas o leitor não distingue, na palavra, o que é sensação propriamente dita e o que é interpretação imaginativa; sua percepção não se lhe apresenta como mistura dessas duas espécies de elementos. Se eles existem, não estão justapostos, associados, mas de certo modo fundidos e irreconhecíveis. Esse é o caso de grande número de fatos que, a princípio, eram colocados sob a rubrica associação. O acontecimento primitivo, fonte da significação e do valor, é muitas vezes esquecido, ignorado; a significação é agora inerente ao sinal, como qualidade original. A análise não pode mais separar, na percepção, os elementos que proviriam da memória e da sensibilidade.

O próprio experimentador chega, então, a se perguntar se os dados de fato, aos quais se aplicam suas descrições e suas medidas, correspondem de fato ao conceito de sensação. Um observador respeitoso dos fatos e se m prevenção teórica como Binet6, teria terminado por ver, no experimento do discernimento tátil das duas pontas de um compasso, mais um método de estudo da personalidade do sujeito que de exploração da sua sensibilidade, e sentia vivamente a dificuldade de separar os dois problemas. Um outro observador, trabalhando recentemente sobre a mesma questão, publicou seus resultados sob este título significativo: "À la recherche d'une sensation tactile pure"7. Esta pesquisa, apesar de todas as precauções tomadas, não lhe deu senão percepções, as quais são simultaneamente, uma função do excitante externo e das idéias que o sujeito faz delas. É impossível obter, em estado puro, o efeito, isolado da ação dos primeiro fator. Parece que esses psicólogos serão levados a abandonar o conceito de sensação. Não obstante, até aí não chegam; a sensação continua a parecer-lhes uma entidade necessária; ainda que a observação jamais atinja senão as combinações complexas, das quais se supõe seja parte.

Mas não é menos impossível à análise mental dissociar os elementos fornecidos a esses complexos pelas próprias diversas sensações. Por exemplo, percebemos a distância e o relevo dos objetos visíveis. Mas a percepção do relevo nada nos diz a respeito das sensações dos dois olhos e de suas diferenças, que seriam os elementos dessa percepção; a percepção da distância não contém as sensações cinestésicas dos músculos oculares, que estariam ligadas às sensações visuais; a percepção tátil da espessura de um objeto seguro entre as mãos não contém as sensações articulares dos dedos, do pulso, do cotovelo e do ombro, as quais, diz-se, devem estar associadas às sensações cutâneas. E se nos colocamos em condições convenientes para ver as imagens duplas, a aparência específica do relevo desaparece; se nos aplicamos a perceber esforços musculares e atitudes de membros, apagam-se as qualidades de distância e de dimensão dos objetos. Encontramo-nos em presença de novas percepções, nas quais nos é impossível reconhecer os elementos das primeiras.

Para resolver essas contradições entre os dados da consciência ingênua e a análise, os psicólogos do século XIX acreditaram que bastava fazer certas correções nos seus princípios. Da associação propriamente dita distinguem a síntese, na qual os elementos perderam sua individualidade (este é, pelo menos, um sentido da palavra "síntese"; logo encontraremos outro). A síntese química não se deixa subsistir na água, com suas propriedades originais, com o oxigênio e o hidrogênio que serviram para formá-la; ao contrário, no composto surgem propriedades novas, que não existem nos elementos. Haveria algo de análogo na síntese mental. Podemos ainda exprimir a mesma idéia de outra forma. Os elementos derradeiros do fato mental não seriam alcançados pela consciência: seriam fenômenos psíquicos inconscientes. Esta noção pode apresentar-se sob duas formas. Na primeira, o elemento simplesmente perdeu sua individualidade na combinação em que entrou, mas poderíamos observá-lo ainda, em estado puro, em outras condições; sua inconsciência é acidental. Na segunda, ao contrário, é inconsciente pela sua própria natureza, pois não existe senão em combinação. Mas, em um caso como em outro, a análise não mais se apóia diretamente na observação; torna-se teoria, construção cuja legitimidade é discutível. Na primeira forma, que acabamos de dar à hipótese do inconsciente, será preciso provar que se trate sempre do mesmo elemento, livre em um caso, combinado no outro, e que não é arbitrária a hipótese que atribui essa composição à combinação. Na segunda forma, na qual os elementos isolados não são jamais observáveis, eles se tornam puros conceitos explicativos hipotéticos; para que insistir na idéia de que os elementos perdem suas propriedades no todo, já que essas propriedades, pelas quais são definidos, nunca puderam ser constatadas? Toda hipótese sobre os elementos e suas combinações torna-se incontrolável, e propõe-se o problema de saber se é realmente necessária para a inteligibilidade dos fatos.

Se os psicólogos, diante dessas dificuldades, ainda hesitam em renunciar a essa análise que lhes parece o próprio método de toda a ciência, filósofos não tem os mesmos escrúpulos e mostram-se muito mais ousados. Eles substituem a análise por uma descrição "fenomenológica". Os fenômenos psíquicos são nada mais do que fenômenos simplesmente8, as experiências imediatas do sujeito: a análise é condenada como ilusória e deformadora. Ela é substituída por uma intuição que não quer ser senão um retorno aos "dados imediatos" da vida consciente. Estes se revelam incompatíveis com todo atomismo mental. Não há sensações, imagens ou sentimentos que possam ser isolados do todo. A consciência é - na célebre comparação de James e de Bergson9 - assemelhada a um rio, a uma massa fluida e contínua, na qual somente por artifício podemos distinguir partes. Não há elementos ou momentos distintos e justapostos, mas uma interpenetração mútua. Nossa inteligência, orientada para a ação, habituada a operar sobre o mundo material, mais exatamente sobre sólidos, nos quais e pelos quais nossos membros podem agir, aplica-se a solidificar o fluxo dos fenômenos, a recortar na sua continuidade de objetos que separa e agrupa; ela "reifica" o fenômeno e aplica-lhe conceitos que vem da mecânica, porque não está plenamente à vontade que nesse domínio. A psicologia estaria, então, enganada por uma ilusão intelectualista. Mas essa crítica não podia satisfazer os psicólogos: era inteiramente negativa. Não se propunha a reconstruir uma psicologia cientifica sobre novos fundamentos, mas antes a mostrar, em proveito da intuição metafísica, a inanidade de toda tentativa nessa direção.

Não obstante, restava de pé o fato de que a doutrina dos elementos dava uma descrição pouco exata dos conteúdos da consciência. Seria mais satisfatória como explicação? Daria uma representação correta das leis da vida mental?

A doutrina associacionista foi criticada, desde suas origens, por não conhecer senão ligações extrínsecas entre os elementos, e por não poder explicar o pensamento lógico, cujos momentos se encadeiam em virtude de uma necessidade interna. Mais geralmente, não permite compreender a organização e a finalidade, que são caracteres tão notáveis do pensamento. De que maneira um mecanismo como o da associação poderia subordinar meios a fins, adaptar harmonicamente atos a situações novas? A oposição que aqui aparece é um caso particular da oposição geral entre as explicações mecanicistas e finalistas, entre as idéias de desordem e de ordem. Se as explicações mecanicistas explicam mal a organização fisiológica, parecem ainda menos qualificadas para fazer compreender as adaptações superiores da conduta, a invenção na solução de problemas, o pensamento racional.

Em face dessas dificuldades, a maioria dos psicólogos reconhece a parte do associacionismo. Distingue dois níveis. O nível inferior é o do mecanismo puro, regido pelas leis da associação; para falar com propriedade, aqui não existe verdadeiro pensamento, mas uma espécie de fuga das idéias, como notamos nos estados de fraca tensão psíquica, sonhos, devaneio, distração, recitação mecânica, execução de atos habituais estereotipados, etc. Porém, há um nível superior, o da síntese mental (esta palavra toma aqui um novo sentido). Nele o pensamento é produtivo e inteligente. Psicólogos franceses, como Paulham, Janet, nos tornaram familiares dessas idéias. Elas têm incontestável valor concreto e clínico: introduzem as necessárias oposições de nuances e de planos, no quadro sem matizes e sem relevo, que o puro associacionismo havia traçado da vida mental. Mas esse dualismo está longe de apresentar a clareza teórica satisfatória. Em primeiro lugar, oferece os inconvenientes de todo dualismo; na prática, é difícil limitar as duas classes de fatos, e manter entre elas uma oposição profunda; trata-se, antes, de uma série de graus, e o simples mecanismo associativo parece ser um limite inferior fictício, mais que um fato real. Se da finalidade se fizesse a lei geral, como parecia querer Paulhan, seriam necessárias, para explicar os graus de eficiência e de valor do pensamento, hipóteses particulares, que jamais foram formuladas claramente.

Psicólogos como Ach10, Bühler11, Selz12 ensaiaram precisar esse dualismo pela experimentação, e definir mais claramente sua posição em relação ao associacionismo. Assim, Ach distingue ligações associativas e determinações. A oposição é ilustrada, de um lado, pela associação livre, na qual o sujeito responde, a cada palavra pronunciada pelo experimentador, com a primeira palavra que lhe vem à mente, e de outro lado, pela associação dirigida, na qual uma instrução, fixada no início de cada série de provas, determina o gênero de relação invariável, que a palavra escolhida pelo sujeito deverá ter com aquela que se lhe propõe [Por exemplo, deverá apresentar com ela tal relação de forma (rimar) ou de sentido (oposição, subordinação, etc.)]. Há, nesta espécie de exercício, um verdadeiro pensamento, um problema, uma idéia diretriz, a consciência da conformidade de um exemplo a uma regra. A tendência do associacionismo era de não ver, entre os dois tipos de experimentos, senão uma diferença de complexidade; no primeiro, o indutor era único; no segundo, era múltiplo, sendo a resposta do sujeito "sugerida" simultaneamente pela palavra ouvida e pela regra prescrita no início. Ao contrário, os psicólogos dos quais falamos admitem que se trata, nos dois casos, de dois tipos diferentes de causalidade psíquica. A determinação lógica é um laço intrínseco das idéias irredutível ao laço extrínseco criado pela associação, quer dizer, pela contigüidade acidental das percepções originais. Mas, como dar, desta diferença, uma interpretação fisiológica? Pode-se admitir, para explicar as associações, que laços materiais duráveis se estabeleceram entre as zonas cerebrais afetadas por excitações simultâneas. Como traduzir, porém, em termos fisiológicos, a influência da compatibilidade lógica das idéias, da harmonia ou do valor do todo que elas seriam capazes de formar, ao se unirem? Qual equivalente cerebral se pode dar da orientação de uma corrente de pensamento por uma regra, da força da evidência, ou da atração do ideal? Quanto à "explicação" psicológica, não é de temer que permaneça puramente verbal, que se limita a indicar, para cada classe de fatos, uma mera entidade, sem conseguir dar uma representação clara de suas relações de causalidade?

Assim, a psicologia do século XIX tinha consciência da insuficiência de seu método de análise, fundado nas noções de elemento e de associação. Outras noções eram propostas por pensadores mais ou menos estranhos ao círculo dos puros psicólogos, e que se puderam contar entre os precursores do movimento contemporâneo. Na Alemanha, especialmente, as palavras estrutura, articulação, totalidade, aparecem, por exemplo, nas obras de Dilthey13, mas num sentido bastante vago, e o autor é antes de tudo um historiador da civilização que um psicólogo. Encontramo-las, também, em Driesch14, o qual, saído da biologia, ressuscita as formas aristotélicas, mas sem delas extrair, para a psicologia, aplicação concreta verdadeiramente interessante. Hesitava-se, então, em abandonar os conceitos tradicionais que, apesar de suas imperfeições, pareciam as únicas bases possíveis de uma construção científica, enquanto os que lhe eram opostos pareciam negativos, vazios, cientificamente estéreis. O mérito da teoria da Forma será o de sobrepujar esses antagonismos. Resta-nos ver, mais de perto, como foi encaminhada para a posição que tomou, e de quais fatos particulares extraiu seus princípios.

 

2. Teoria das Qualidades da Forma

Em 1890, um psicólogo vienense, von Ehrenfels15, publicou sobre a psicologia das qualidades da forma, uma memória16, que passou quase desapercebida, a princípio; mais tarde, os promotores da Gestalttheorie descobriram-no e a ele recorreram.

Uma melodia compõe-se de sons; uma figura, de linhas e de pontos. Porém, esses complexos possuem uma unidade, uma individualidade. A melodia tem um princípio e um fim, tem partes; distinguimos, sem vacilação, os sons que a ela pertencem e os que lhe são estranhos, mesmo quando intercalados entre os primeiros. Do mesmo modo, a figura limita-se, em nosso campo visual, em relação às outras figuras; tais pontos, e linhas fazem parte dela, enquanto tais outros são excluídos. A melodia e a figura são formas. Ehrenfels enumera grande número de outras variedades delas.

Nesses exemplos simples, as propriedades destacadas da forma aparecem imediatamente. Uma forma é outra coisa ou algo mais do que a soma de suas partes. Tem propriedades que não resultam da simples adição das propriedades de seus elementos. É o que Ehrenfels torna sensível da maneira seguinte. Seja um tema composto de n sons consecutivos, e seja um número igual de pessoas; façamos cada um ouvir um dos sons; essas percepções nada contêm das qualidades da melodia em si, nenhuma das qualidades estruturais ou qualidades de complexo, que aparecem quando todos esses sons são dados a uma mesma consciência, sucessivamente.

Um desses caracteres é muito digno de nota: a melodia pode ser transposta em outro tom. Para nós, continua sendo a mesma melodia, tão fácil de reconhecer que às vezes não nos apercebemos da mudança. Não obstante, todos os seus elementos estão alterados, seja porque todos os tons são novos, seja porque alguns dentre eles ocupam outros lugares, com outras funções. Ao contrário, se uma única nota da melodia original é alterada, temos outra melodia, com qualidades formais diferentes (por exemplo, quando a alteração de altura de um único som a faz passar do modo maior para o modo menor).

Todas essas noções são banais; mas propõem para a psicologia um problema que não foi suficientemente notado. As sensações correspondentes aos sons isolados pareciam constituir a realidade mesma da percepção. Mas a melodia guarda sua identidade e suas qualidades próprias, quando todos os sons e, por conseguinte, todas as sensações, mudaram de certo modo; inversamente, esses mesmos sons, nas transposições, assumem outra função, embora as sensações correspondentes tenham permanecido idênticas. O todo é, então, uma realidade, tal e quais seus elementos. A análise de uma percepção em sensações negligencia, então, um aspecto muito importante do real, aspecto esse que possui, em relação a esses elementos, originalidade incontestável.

Ehrenfels teve o mérito de propor um problema: não o resolveu e seu pensamento permanecia confuso. Não rejeitava a ideia de sensação. Admitia duas espécies de realidades psíquicas: dualidades sensíveis e qualidades formais (Gestaltqualitäten); eram, para ele, dois estados de consciência distintos: os primeiros, o substrato (Grundlage) dos segundos; podiam existir sem eles, ao passo que a recíproca não era verdadeira. No exemplo da melodia, as qualidades sensíveis correspondem às excitações produzidas pelas vibrações sonoras, com sua frequência e sua intensidade própria. A que correspondem as qualidades formais? Apesar de seu caráter imediato, quase sensível, parecem não ter excitante próprio. Fica-se tentado a dizer que são uma percepção das relações entre essas vibrações. Com efeito, são essas relações que permanecem constantes quando a melodia é transposta, e que lhe dão seu desenho, sua estrutura; é sua alteração local que desfigura a melodia e dá-lhe outros caracteres. Não obstante, essa maneira de ver suscita grandes dificuldades, que a fizeram repelida por Ehrenfels e seus continuadores.

Com efeito, na percepção imediata da melodia, nada há que se traduza, efetivamente, por juízos de relação, quer se enunciem na linguagem da física, quer na da teoria musical. Ainda quando é capaz de enunciar tais relações, o ouvinte percebe de modo diferente, quando ouve ingenuamente a frase melódica, e quando nela descobre essas relações. A análise é uma transformação real do estado de consciência. Crer o contrário seria confundir a realidade física e a aparência variável que toma na percepção subjetiva. A análise de um objeto físico leva a nele perceber novos aspectos, novos pormenores, novas relações; dizemos, com razão, que faz com que o conheçamos melhor. Dá-nos, pois, outra percepção; psicologicamente conhecemos outro objeto e não tem sentido afirmar que esse outro objeto é idêntico ao primeiro, ou nele estava contido.

Meinong17 distinguia "complexões" (quer dizer, formas) e relações: logicamente podemos fazer corresponder as segundas às primeiras; mas, psicologicamente, daquelas são libertadas por uma série de transformações que, em teoria, pode ir ao infinito. Se a percepção primitiva da melodia fosse a das relações, seria preciso dizer de que relações se trata. Trata-se das relações entre as notas consecutivas? Mas porque dessas, de preferência a outras? De preferência a, por exemplo, relações entre cada nota e as notas fundamentais do tom, ou entre notas quaisquer, consideradas em sua altura, em sua duração, em sua intensidade, etc.?

Logicamente, umas existem tanto quanto as outras, assim como as relações de segunda ordem das quais são os termos. Porém, nenhuma dessas relações tem existência psicológica atual, na simples percepção da melodia. Dizer que ela as contém virtualmente, em potência, é dizer que, psicologicamente, não as contém; é evitar, com uma palavra vazia de sentido, o difícil problema das condições da reorganização que poderá fazer surgir esta ou aquela dessas relações. O mesmo sucede na percepção de uma figura; ora aparece como unidade indivisa, ora como um todo articulado de tal e qual maneira. Seria completamente arbitrário dizer, no primeiro caso, que consiste na percepção de relações (por exemplo, que a percepção ingênua de um círculo consiste na da igualdade dos raios, ou na da relação x2 + y2 = R2 ou de qualquer outra relação característica do círculo). Não seria menos arbitrário, no segundo caso, dizer que elas contêm outras relações que aquelas que se traduzem no modo particular de articulação atual dessa forma, para o sujeito que percebe o círculo.

Porém, essa inexistência de relações, na percepção da forma, acarreta uma consequência que levou mais tempo para ser percebida e aceita: os elementos também não preexistem na forma primitiva. Nem Ehrenfels, nem a escola de Graz18 (Meinong, Benussi), que continua depois dele a doutrina da qualidade das formas, ousaram ir até aí. Eles ainda perguntam o que se vem acrescentar às sensações elementares produzidas por uma multiplicidade de pontos, ou de sons quando nela percebemos uma figura, uma melodia. Se os sentidos não proporcionam senão materiais, um substrato (Grundlage); se as recordações não podem comunicar à percepção uma organização que elas próprias não possuem, cumpre então, dizem eles, que as formas resultam de uma atividade formadora original. Opõem, à "reprodução" associacionista, uma "produção" de origem supra-sensorial e, sem dúvida, suprafisiológica. Mas esta questão e esta resposta perdem toda razão de ser se os elementos, do mesmo modo que as relações - e ao mesmo tempo que elas -, são produtos da análise, quer dizer, de uma nova articulação da Forma. Não aparecem como realidades psicológicas independentes, senão à medida que o todo é desmembrado. O progresso na apreensão de diversas espécies de relações é correlato do progresso na apreensão de diversas espécies de elementos. Essa dissociação tem seus limites, suas condições; as formas lhe oferecem maior ou menor resistência.

Uma melodia simples é muito facilmente descomposta em notas (embora estas, do mesmo modo que seus intervalos, não sejam ouvidas com exatamente os mesmos valores que se estivessem sós, de modo que não há verdadeira permanência de suas qualidades sensíveis, em diversas combinações melódicas). Mas em um acorde, onde a ligação é muito mais forte, sentimos muito bem que o isolamento das componentes, se disso somos capazes, é algo muito diferente da simples percepção do acorde, com sua qualidade própria. Sucede o mesmo para esses elementos provisórios que são as notas, nas quais um novo progresso pode levar-nos a ouvir novos elementos (som fundamental e primeiros harmônicos) e a discernir, por conseguinte, novas relações.

As sensações da psicologia analítica não possuem, portanto, existência real a menos que queiramos dar esse nome a percepções que resultam, em condições bem artificiais, do desmembramento de estruturas de fraca ligação interior, percepções escolhidas arbitrariamente e sem privilégio real sobre todas as outras. Não há motivo para - é um falso problema - procurar por qual operação de síntese suprasensorial essas sensações seriam unidas, agrupadas, pois não são senão o produto do desmembramento das formas naturais e a análise, em muitos casos, não pode sequer duplicar-se, com uma experiência, real, e permanece puramente lógica. Disso resulta que a separação das qualidades formais e qualidades sensíveis não pode ser mantida, pois essas últimas não são, absolutamente, constantes, mas dependem das formas variáveis a que pertencem, e nas quais perdem sua identidade.

 

3. A Teoria da Forma

Esta crítica da teoria das qualidades da forma encaminhou-nos para a posição tomada no problema pela Gestalttpsychologie. Podemos resumir, em algumas fórmulas, os resultados obtidos e esboçar os novos problemas a que conduzirão.

Os fatos psíquicos são formas, quer dizer, unidades orgânicas que se individualizam e se limitam no campo espacial e temporal da percepção ou da representação. As formas dependem, no caso da percepção, de um conjunto de fatores objetivos, de uma constelação de excitantes; mas são transportáveis, quer dizer que algumas de suas propriedades se conservam em mudanças que afetam, de certa maneira, todos esses fatores. As formas podem apresentar uma articulação interior, de partes ou membros naturais possuindo, no todo, funções determinadas e constituindo em seu interior, unidades ou formas de segunda ordem. A percepção das diferentes classes de elementos, e das diferentes espécies de relações, corresponde a diferentes modos de organização de um todo, que dependem ao mesmo tempo de condições objetivas e subjetivas. A correspondência que se pode estabelecer, entre os membros naturais de um todo articulado e certos elementos objetivos, não se mantém, geralmente, quando esses mesmos elementos pertencem a outro conjunto objetivo. Uma parte, num todo, é algo distinto dessa parte isolada ou em outro todo, por causa das propriedades que deve ao seu lugar e à sua função em cada um deles. A mudança de uma condição objetiva pode ora produzir uma mudança local na forma percebida, ora traduzir-se por uma mudança nas propriedades da forma total.

Toda teoria parte de dados que considera como primeiros. A psicologia clássica partia das sensações elementares (ou de suas reproduções), para construir com elas objetos ou fatos mais ou menos organizados, seja pelo mecanismo da associação, seja por operações sintéticas do espírito. A Gestalttheorie parte das formas ou estruturas consideradas como dados primeiros. Ela não considera uma matéria sem forma, uma pura multiplicidade caótica, para procurar em seguida por qual jogo de forças exteriores a esses materiais indiferentes esses se agrupariam e se organizariam. Não há matéria sem forma. Por conseqüência, podemos desde já prever que todos os problemas - sejam de descrição, sejam de explicação - que a psicologia dos elementos não conseguia resolver, como o vimos no começo desse capítulo, devem ou ser suprimidos ou propostos de outra maneira, pois a noção de elemento desaparece.

Diremos que a teoria dá, assim, por completamente resolvidos problemas que a psicologia analítica não chegava talvez a resolver, mas que pelo menos não evitava. Vimos, porém, que se tratava de falsos problemas. Aliás, ao mesmo tempo em que desaparecem, surgem outros muito mais de acordo com os hábitos do pensamento científico. Se não há motivo para procurar a origem das formas a partir de pretensos elementos, cumpre estabelecer, pela experimentação, as condições dessas formas e as leis das suas transformações. Tal será, para a Gestalttheorie, o problema essencial. O problema da percepção consiste em determinar a constelação física de excitantes correspondente a cada forma percebida, e as variações da primeira que modificam a estrutura da segunda. Cada forma é uma função de diversas variáveis, e não mais uma soma de diversos elementos. Para que esta busca possa chegar a leis e permitir previsões precisas, não é necessário, de modo algum, que exista uma correspondência termo a termo entre elementos da situação objetiva e elementos da forma; de fato, essa correspondência geralmente não existe e, em todos os casos, não se mantém constante. Veremos, mais adiante, exemplos de tais leis.

Mas, para que esse problema adquira toda a sua significação, é preciso ampliá-lo. Até aqui as noções de forma e de estrutura eram apresentadas como puramente psicológicas. O estudo da melodia nos mostrou como sons que, como fatos físicos, são independentes uns dos outros, engendram na consciência do ouvinte um "fenômeno" que apresenta os caracteres das formas. Sobre este ponto, existe acordo entre as diferentes escolas que reivindicam o título de psicologia da Forma. A que estudamos, especialmente neste livro vai mais longe: ela se pergunta se as formas não existem apenas no domínio do pensamento. São elas, somente, o aspecto que tomam em nossa apreensão subjetiva, uma realidade física estranha, em princípio, a toda organização? Ou bem será a Forma uma noção geral, que tem sua aplicação fora da psicologia? À fenomenologia das formas, poderemos acrescentar uma física das formas?

Os termos forma, estrutura, organização, pertencem tanto à linguagem biológica quanto à linguagem psicológica. Um ser vivo é um organismo, um indivíduo separado do seu meio, apesar das trocas materiais e energéticas que se operam entre eles; é um sistema cujas partes, tecidos e órgãos dependem do todo, e este parece determinar seus caracteres. Esta organização não é somente estática, mas dinâmica, já que o jogo de todas as funções é solidário, e que a vida do ser resulta de um equilíbrio móvel de todos os processos locais. A palavra adaptação resume essas complexas relações do todo e das partes. Pode-se, assim, aproximar as formas psíquicas e as formas orgânicas.

Como poderia ser de outro modo? Trata-se não somente de fatos comparáveis, mas de fatos conexos. A vida mental surge no seio da vida fisiológica; por suas raízes mergulha no organismo. A percepção e o pensamento estão ligados às funções nervosas. A organização que o psicólogo estuda deve ser aproximada à que o fisiologista estuda. Se nossa percepção é organizada, o processo nervoso que a ela corresponde deve sê-lo, do mesmo modo. E se não há elementos psíquicos independentes, tampouco há processos cerebrais elementares independentes. Desde 1912, Wertheimer, na conclusão de sua memória sobre o movimento estroboscópico19, esboçava uma teoria desse fenômeno, fundada sobre a idéia de que o processo cerebral, engendrado pelas duas estimulações sucessivas, apresenta o mesmo caráter de unidade que o movimento visível. O paralelismo não existe entre fatos elementares, mas sim entre formas, fisiológica e psíquica, apresentando uma comunidade de estrutura. Tal é o princípio do isomorfismo, pelo qual a teoria da Forma renova a velha noção de paralelismo. Por essa doutrina, prenhe de conseqüências filosóficas, nega-se a estabelecer, sobre a base dessa propriedade de organização, uma separação entre o espírito e o corpo. O espírito não é uma força organizadora que, de maneira misteriosa, por uma atividade espontânea e incondicional, faria surgir, de um caos de processos fisiológicos, uma ordem que lhes seria completamente estranha. E Köhler20 põe como título de um dos seus capítulos, a frase de Goethe: "Was innen ist, ist aussen" ("O que está dentro, está também fora").

Porém, o princípio do isomorfismo conduz a um novo problema. Se o fato fisiológico possui os caracteres das formas, duas explicações são possíveis. Ou eles lhe pertencem em virtude de leis especiais da vida, ou em virtude de leis físicas gerais. A primeira tese é vitalista: no ser vivo, superpõe à causalidade física outra causalidade, que se serviria da primeira como de um meio. A Forma, como a finalidade, seria estranha ao mundo puramente físico; na passagem do físico ao biológico seria necessário colocar o fosso que, há pouco, não se queria colocar entre o biológico e o mental; nesse momento é que interviriam as forças organizadoras, das quais o pensamento consciente não seria mais que uma expressão particular.

A Teoria da Forma rejeita esta interpretação. O fato fisiológico, o fato nervoso, em todos os seus aspectos acessíveis à ciência, são fatos físicos; a fisiologia fala a linguagem da física. Mas essa concepção acarreta, ipso facto, a extensão da noção de forma a certos fatos físicos. É preciso buscar as formas físicas não somente nos fatos fisiológicos, descritos em termos físicos, que encontramos nos seres vivos, mas também nos fatos que o físico estuda e reproduz no seu laboratório. Sem dúvida, não estamos habituados a considerá-los sob esse aspecto. Não se trata, entretanto, de modificar o conhecimento positivo que deles a física nos dá, mas de mostrar que ela justifica essa nova linguagem e essas novas classificações. Partindo do nosso estudo da apreensão das formas psíquicas, exercitar-nos-emos em reconhecer nos fatos físicos analogias com estas. Em troca, esses exemplos, tomados de empréstimo à mais clara e mais precisa das ciências, permitir-nos-ão compreender melhor as formas psicológicas.

 

Tradução: Adriano Holanda

 

 

Nota Biográfica

Paul Guillaume (1878-1972) foi psicólogo e o principal representante da Psicologia da Gestalt francesa, bem como seu maior difusor em língua francesa. Foi autor do clássico La Psychologie de la Forme (1937), que teve uma tradução para o português em 1966, pela Companhia Editora Nacional (tradução de Irineu de Moura; Volume 81 da coleção "Atualidades Pedagógicas"). Além desse importante texto, publicou ainda L'Imitation chez l'enfant (1925); La Formation des Habitudes (1936) [A Formação dos Hábitos, tradução de Ramiro de Almeida; Volume 36 da coleção "Atualidades Pedagógicas"]; La Psychologie Animale (1940) [Psicologia Animal, tradução de Lavínia Costa Raymond; Volume 25 da coleção "Iniciação Científica"] ; La psychologie de l'enfant en 1938-1939 (1941) ; La psychologie des singes (1942) e Introduction à la psychologie (1943) [Manual de Psicologia, tradução de Lólio Lourenço de Oliveira e J.B.Damasco Penna; Volume 60 da coleção "Atualidades Pedagógicas"]. Todas as edições em português foram traduzidas e publicadas pela Companhia Editora Nacional, de São Paulo.

 

 


1 Publicado originalmente em 1937, na Bibliothèque de Philosophie Scientifique, pela Flammarion (Paris, França), tendo uma reedição pela mesma editora em 1948 e outra edição, mais recente, de 1979. No Brasil, tem sua primeira tradução pela Companhia Editora Nacional (São Paulo), em 1966, através de Irineu de Moura, compondo o Volume 81 da coleção Atualidades Pedagógicas.
2 Etienne Bonnot de Condillac (1715-1780) era filósofo francês, nascido em Grénoble, e estava ligado ao movimento da Encyclopédie, de Diderot, Voltaire e D'Alembert. Estudou Teologia no Saint-Sulpice e na Sorbonne, tendo se ordenado em 1740, mas praticamente abandona o sacerdócio para se dedicar às Letras e às Ciências, acompanhando Rousseau e Diderot (de quem era amigo) e de seu primo D'Alembert. Sua filosofia guarda relações estreitas com o Empirismo britânico - especialmente em relação a Locke - e questiona o racionalismo e o inatismo. Seu tema central é a sensação (daí ter desenvolvido uma doutrina chamada de "sensacionismo"), e utiliza como metáfora a imagem de uma estátua de mármore, que iria se tornando sensível - a partir das sensações básicas, como olfato, tato, etc. Segundo Condillac, a base originária de todas as faculdades superiores da mente seria, portanto, as sensações, que se organizariam para construir todo o edifício nocional. Foi também dos primeiros a fazer uma análise da linguagem. Dentre suas obras principais, destacam-se: Essai sur l'origine des connaissances humaines (1749) e Traité         [ Links ] des Sensations (1755) [         [ Links ]Nota do Editor].
3 Vide nota anterior [Nota do Editor].
4 Hermann Ebbinghaus (1850-1909). Após seus estudos em Bonn, Halle e Berlim, doutorou-se em 1873 e organizou um laboratório de psicologia experimental em Berlim. Grande defensor da psicologia experimental, entre os anos 1894 e 1895, entra em controvérsia com Wilhelm Dilthey contra uma "psicologia compreensiva". Seus trabalhos mais conhecidos versam sobre a questão da memória e das sílabas sem sentido. Dentre suas obras principais, destacam-se: Sobre a Memória (1885) e Princípios de Psicologia (1919) [Nota do Editor].
5 Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), fisiologista e neurologista russo, tendo sido professor em Leningrado (São Petersburgo) desenvolveu a teoria do reflexo condicionado juntamente com Vladimir Bechterev. Em 1904 foi agraciado com o Prêmio Nobel de Medicina, por suas pesquisas sobre a fisiologia da digestão e suas relações com o sistema nervoso. Seus trabalhos se tornaram a base para todos os desenvolvimentos posteriores no campo da psicologia experimental e da psicologia comportamental, tendo influenciado toda a corrente behaviorista de Psicologia. Sua teoria sobre o reflexo condicionado foi exposta numa obra russa de 1923, onde defende a unidade do fisiológico com o psicológico. Embora tenha sido anticomunista, o governo soviético manteve um centro de pesquisas biológicas sob sua direção, desde 1921 até sua morte. Em 1949, em homenagem ao centenário de seu nascimento, a Academia de Ciências da União Soviética publicou suas obras completas [Nota do Editor].
6 Alfred Binet (1857-1911). Foi professor na Sorbonne, tendo dirigido o instituto psicofisiológico da Universidade. Seus trabalhos versaram, sobretudo, sobre a inteligência. Tornou-se conhecido por ter desenvolvido uma série de testes de inteligência, juntamente com Simon, que foram rapidamente adaptados para outros países [Nota do Editor].
7 J.Philippe, Année Pscyhologique, 1920-1921, Vol. XXII.         [ Links ]
8 É sempre neste sentido que empregamos, neste livro, a palavra fenômeno.
9 Aqui o autor se remete às noções de "fluxo da consciência" (em William James) e de durée ou de élan vital em Henri Bergson [Nota do Editor].
10 Narziss Kaspar Ach (1871-1946). Psicólogo especializado em inteligência e pensamento. Estudou em Gottingen, onde doutorou-se sob orientação de Georg Elias Muller em filosofia e medicina. Desenvolveu experimentos sobre atos volitivos e motivação; no campo da experimentação sobre o pensamento, aproximou-se dos trabalhos de Oswald Külpe [Nota do Editor].
11 Karl Bühler (1879-1963), médico e psicólogo, foi discípulo de Oswald Külpe. Seus primeiros trabalhos experimentais versavam sobre o pensamento e a vontade, chegando muito próximo da noção de "configuração" (Gestalt). Ficou igualmente conhecido por seus trabalhos sobre psicologia infantil, juntamente com sua esposa, Charlotte Bühler [Nota do Editor].
12 Otto Selz (1881-1977). Ficou conhecido por seus experimentos sobre o pensamento produtivo. Em 1909, obteve seu doutorado com Theodor Lipps, com um trabalho sobre a psicologia do conhecimento [Nota do Editor].
13 Wilhem Dilthey (1833-1911). Professor de filosofia em Berlim, foi o grande expoente do movimento historicista alemão, além de ter sido o responsável pela constituição das chamadas "ciências do espírito", nas quais estaria alicerçada uma "psicologia compreensiva" (em contraposição a uma psicologia explicativa). Sua elaboração está desenvolvida, em diversas obras, como: Os Tipos de Concepção de Mundo, de 1919 (edição em português de 1992, Lisboa, Edições 70) e Idé         [ Links ]ias sobre uma Psicologia Descritiva e Analítica, de 1894 (possui duas edições em português: uma de Lisboa, Edições 70, de 2002; e uma brasileira mais recente, pela ViaVerita Editora, de 2011).         [ Links ]
14 Hans Adolf Driesch (1867-1941), foi biólogo e filósofo que se preocupou em desenvolver uma "teoria da enteléquia" (termo retirado de Aristóteles), para designar uma força de vida não-espacial, qualitativa e intensiva. Em 1933, foi retirado de sua cadeira em Leipzig e colocado na posição de professor emérito pela administração nazista, por seu pacifismo e por sua discordância do regime, tornando-se o primeiro não-judeu a ser expulso da universidade alemã. Posteriormente, interessou-se por temas como clarividência, telepatia e telecinese, publicando sobre parapsicologia [Nota do Editor].
15 Christian Maria Von Ehrenfels (1859-1932), foi o "descobridor" das chamadas qualidades da forma ou Gestaltqualitäten, breve trabalho apresentado em 1890. É de sua autoria a célebre frase: "o todo é mais que a soma de suas partes" [Nota do Editor].
16 Ch.v.Ehrenfels, Ueber Gestaltqualitäten, Viert. f. wiss. Phil., 1890, p. 249-292.         [ Links ]
17 A.Meinong, "Zur Psychologie der Komplexionen und Relationen", Zts.f.Ps., 1891.         [ Links ]
18 Nome dado ao conjunto de filósofos e psicólogos que girou em torno da figura de Alexius Meinong (1853-1920) e de seus experimentos sobre ontologia formal, semântica e análise de percepções, na Universidade de Graz, Áustria. Como assinala Ferrater Mora, o estilo de Meinong é similar ao de Bolzano e Brentano, bem como do primeiro Husserl.
19 Max Wertheimer, "Experimentelle Studien über das Schen von Bewegung", Zts.f.Ps. LXI, 1912, págs. 161-265.         [ Links ]
20 Wolfgang Köhler, Die physischen Gestalten in Ruhe und im stationären Zustand, Braunschweig, 1920.         [ Links ]