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Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.21 no.1 Goiânia jun. 2015

 

Editorial

 

 

Principiamos esse primeiro número de 2015 com três pesquisas empreendidas sob a égide do método fenomenológico - em campos distintos, Clínica, Saúde e Assistência Social - que demonstram a potencialidade e as possibilidades desse "olhar".

Em A Ética do Cuidado e o Encontro com o Outro no Contexto de uma Clínica-Escola em Fortaleza, os autores - Liliane Brandão Carvalho, Ana Maria Ferreira Alves, Clarissa Ale Passos, Fernanda Gomes Lopes, Renata Bessa Holanda e Virginia Moreira, vinculados à Universidade de Fortaleza - apontam para a reconfiguração do campo da psicologia clínica. A indagação central desse artigo é sobre a formação no âmbito da graduação. Neste sentido, problematizam o conceito de cuidado como uma atitude ética, tomando por objeto a experiência vivida de estagiários de Psicologia, utilizando-se do recurso hermenêutico para analisar entrevistas abertas.

No segundo artigo, intitulado Percepção de Dor em Adolescentes com Câncer: Pesquisa Fenomenológica, Hilze Benigno de Oliveira Moura Siqueira, Rodrigo Ramon Falconi Gomez, Talita de Cássia Raminelli da Silva, Fátima Aparecida Emm Faleiros Sousa (da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e Andressa Karina Amaral Plá Pelegrin (do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto), propõem um estudo descritivo-exploratório com adolescentes com câncer, com vistas a compreender suas vivências de dor. A pesquisa, desenvolvida através de entrevistas, mostra as diversas facetas da experiência da dor, em sua multidimensionalidade; o que aponta para a necessidade da equipe de saúde atentar para aspectos tais como a história de vida, o tempo de internação e as expressões de sofrimento nesta etapa de vida.

No artigo Atuação do psicólogo no CRAS: uma análise fenomenológico-empírica, Tatyanne Couto Flor e Tommy Akira Goto (da Universidade Federal de Uberlândia) discutem o SUAS - Sistema Único de Assistência Social - com vistas a identificar a atuação do psicólogo no serviço, a partir de entrevistas com profissionais do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Os resultados apontam para percepções de limites e dificuldades no trabalho, para os direcionamentos de ações desenvolvidas no serviço e propõe reflexões sobre o papel do profissional da psicologia.

Na sequência, temos uma revisão de literatura intitulada Ajustamento criativo e estresse na hipertensão arterial sistêmica, de autoria de Juliana de Oliveira Figueiredo e Emma Elisa Carneiro Castro (da Universidade Federal de Minas Gerais). Tomando por objeto um importante problema da saúde pública, o trabalho teve por objetivo rever a literatura sobre os aspectos psicológicos envolvidos no desencadeamento e manutenção da hipertensão, na perspectiva do ajustamento criativo da Gestalt-Terapia.

Em seguida, temos quatro estudos envolvendo reflexões teóricas e historiográficas, principiando por um estudo histórico sobre Nise da Silveira e o Enfoque Fenomenológico, de autoria de Karoline Stolsz Schleder e Adriano Furtado Holanda (da Universidade Federal do Paraná). A partir de um estudo bibliográfico-qualitativo da obra da eminente psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), procura-se demonstrar as significativas aproximações de suas ideias da filosofia fenomenológica. Mesmo que Nise da Silveira não tenha se envolvido diretamente com a fenomenologia, sua concepção de ser humano e atitude diante dos pacientes apontam aproximações.

No artigo Por um Entendimento do que se chama Psicopatologia Fenomenológica, Silvério Lucio Karwowski (da Faculdade Estácio do Ceará/Instituto de Gestalt do Ceará) discute a interseção entre fenomenologia e psicopatologia, buscando compreender as bases de uma psicopatologia fenomenológica para precisar seu alcance, limites, constituição e propósitos. Concluiu por um entendimento da psicopatologia fenomenológica como um campo em evolução, necessitando de delimitações aprofundadas, tanto a partir da prática dos profissionais de saúde como da pertinente reflexão sobre a fenomenologia e a possibilidade de sua adequação à psicopatologia.

Na sequência, o artigo Articulação entre Hermenêutica e Fenomenologia para uma Clínica Psicológica com Bases Heideggerianas, de Jean Luca Lunardi Laureano da Silva e Marina Valente Guimarães Cecchini (da Universidade de Mogi das Cruzes) fazem uma aproximação da clínica fenomenológica com a hermenêutica heideggeriana, destacando a importância da hermenêutica como historicismo e a fenomenologia como método para uma ontologia fundamental.

O artigo Pessoas que Dependem de Drogas: Ensaio de Figuras e Fechamentos, de Luiz Gustavo Santos Tessaro e Cleber Gibon Ratto (do Centro Universitário Metodista IPA/RS), discute - sob a ótica da Gestalt-Terapia e com base na filosofia existencial fenomenológica - a temática da dependência química, utilizando-se de vinhetas clínicas, e de aproximações com a Saúde Coletiva.

Finalizamos este número com uma nova tradução do clássico texto de Karl Jaspers - "Die phänomenologische Forschungsrichtung in der Psycho-pathologie" - originalmente publicado em 1912. Em A Direção de Pesquisa Fenomenológica na Psicopatologia, Jaspers "inaugura" o campo da psiquiatria fenomenológica, trazendo ao âmbito da clínica, o recurso da fenomenologia como método descritivo e anunciando sua posterior potencialidade.

Reafirmamos nosso compromisso de apresentar ao leitor um veículo de divulgação pautado pelo envolvimento, dedicação e empenho, na direção de construir uma revista sólida e de qualidade, mesmo que as avaliações formais e regulatórias não dediquem igual atenção e consideração de modo incondicional. Reafirmamos igualmente nosso compromisso pela atitude isenta de preconceitos com modos específicos de se fazer pesquisa, de ver ou de se pensar as relações com o mundo, ou de vinculações institucionais, e continuaremos nosso trabalho sem qualquer intenção de nos abatermos diante das adversidades.

Convidamos os leitores e colaboradores a uma leitura agradável e a um debate sobre os modos de se produzir conhecimento e de se avaliar a qualidade deste, dentro e fora da academia.

Boa leitura a todos.

 

Adriano Furtado Holanda
- Editor -

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