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Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.22 no.2 Goiânia dez. 2016

 

EDITORIAL

 

 

Este número da Revista Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica - traz um dossiê inédito sobre Fenomenologia e Geografia: espaços, lugares e paisagens. Diante disto, gostaríamos de descrever brevemente ao leitor um resumo histórico do encontro da Geografia com a Fenomenologia. O início dessa história começou a partir da denominada "Geografia humanista cultural", ou seja, de um movimento no interior da geografia que surgiu nos Estados Unidos e Canadá em torno dos anos de 1960 e 1970, como uma reação contra-cultural e humanista à geografia científica, positivista. Os geógrafos David Lowenthal e Yi-Fu Tuan, precursores do movimento, defendiam a ideia que os estudos geográficos não deveriam considerar apenas a natureza e o ambiente físico real, mas fundamentalmente os seres humanos, como se comportavam e alteravam a natureza. A partir disso, podemos dizer que a Geografia passou a exigir diversas "aproximações humanísticas", como comenta Holzer (2008).

Outra referência importante e que também influenciou o movimento humanista foi a obra "O homem e a terra: natureza da realidade geográfica", do geógrafo francês Eric Dardel, publicada originalmente em francês no ano de 1952, contudo reconhecida tardiamente como a primeira obra de uma geografia fenomenológica. Nos anos 70, apareceu um artigo intitulado "An inquiry into the relations between phenomenology and geography", publicado por Edward Relph, que apontava de forma decisiva as condições e as possibilidades da Fenomenologia ser o fundamento epistemológico-metodológico da então geografia humanista cultural. Em um texto de 1976, "Place and Placelessness", afirma que "os fundamentos do conhecimento geográfico residem nas experiências diretas e da consciência que temos do mundo em que vivemos" (Relph, 1976, p. 5). Esses são alguns marcos iniciais da aproximação entre a Fenomenologia e a Geografia, aproximações que geraram mais estudos e pesquisas durante esses 30, 40 anos.

No Brasil, conforme destaca Marandola Jr (2013), o movimento humanista não começou tão bem organizado; apenas foram recebidas influências pontuais de temáticas do movimento humanista nos anos 70, especialmente no grupo da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Rio Claro (SP), liderado pelas professoras Lívia de Oliveira e Lucy P. Marion Machado. Isso aconteceu devido às traduções dos textos e autores do movimento, tais como: Yi-Fu Tuan, Edward Relph, Nicholas Entrikin, Jean Gallais, entre outros. Embora tenha estimulado e gerado uma nova geração de geógrafos no Brasil, não se tinha ainda uma clareza da Fenomenologia e de sua importância no campo da geografia.

Será somente no final dos anos 2000, conforme nos conta Marandola Jr (2008), que em uma reunião científica acontecerá a formação de um grupo de pesquisa em torno da temática Fenomenologia e Geografia Humanista. A partir desse momento foram se consolidando os estudos até a fundação e organização do Grupo de Pesquisa Geografia Humanista Cultural (GHUM), em 2008, coordenado pelo professor Werther Holzer e sediado na Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. O grupo se relaciona hoje com outros grupos de pesquisas, de outras universidades, que têm como objetivo pesquisar os aportes teórico-conceituais da geografia humanista cultural, com ênfase na Fenomenologia, destacando o estudo do mundo vivido. Ainda, tal como está descrito pelo grupo, há uma dedicação aos "diferentes temas de investigação, desde as relações com as artes, filosofia, ciências humanas e sociais, dimensões simbólicas e culturais da experiência cotidiana, até o sentido de lugares, paisagens e territórios, tendo em vista a pesquisa, mas também a ação nos campos do planejamento e políticas públicas, da academia e da educação".

O dossiê que aqui temos, traz várias contribuições de integrantes de diferentes universidades do país, que se reúnem hoje em diversos grupos de pesquisa em Fenomenologia e Geografia. Assim, além de apresentar contribuições dessa relação, este número é também o resultado da experiência concreta de autores que reconhecem o valor imbuído nos esforços da abordagem multi e interdisciplinar conseguindo, neste sentido, responder diretamente a muitas necessidades apontadas em diversos documentos e propostas político-pedagógicas brasileiras, na atualidade.

 

Referências

Holzer, W. (1996). A Geografia Humanista: uma revisão. Revista Espaço e Cultura (Rio de Janeiro), n. 3, p. 8-19.         [ Links ]

Marandola Jr., E. (2013). Fenomenologia e pós-fenomenologia: alternâncias e projeções do fazer geográfico humanista na geografia contemporânea. Geograficidade, 3(2),33-48.         [ Links ]

Relph, E. C. (1976). Place and placelessness. Londres: Pion.         [ Links ]

 

Tommy Akira Goto
-Editor convidado -

 

 

Número finalizado em 26.10.2016

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