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Revista da Abordagem Gestáltica

Print version ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.23 no.2 Goiânia Aug. 2017

 

ARTIGOS - RELATOS DE PESQUISA

 

Liberdade: limites e possibilidades de uma experiência da clínica psicológica no complexo da maré

 

Freedom: limits and possibilities of experience psychological clinic in complexo da maré

 

Libertad: límites y posibilidades de experiencia clínica psicológica en complexo da maré

 

 

Roberto Novaes de SáI; Sheila Corrêa da SilvaII

IPossui Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é Professor Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia na área de concentração Estudos da Subjetividade
IIPossui Graduação em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá e Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense. É Doutoranda na Linha de Pesquisa Clínica e Subjetividade do Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense. Endereço: Rua Praia de Inhaúma, Vila 58 casa 01 apto 201 - Bonsucesso - CEP 21042-130 - Rio de Janeiro. E-mail: sheila.correa@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

O trabalho pretende discutir a questão da liberdade enquanto abertura de sentido da existência, diante de limites e possibilidades para aqueles que chegam à clínica em uma comunidade, onde condições factuais de extrema violência e restrição vêm compor um horizonte de sentido. Dialogando com pensadores da chamada filosofia existencial, buscaremos pensar através da clínica, como a questão da liberdade se desvela, pois compreendemos que, cotidianamente, somos atravessados por tradições, costumes e referenciais de uma época. O mundo atual com a instauração da era técnica acarreta contínuos impactos aos modos de cuidado da clínica psicológica. Nossa relação com o mundo se dá em jogo lançados em um contexto impessoal que de início nos encontramos. Portanto, as narrativas compartilhadas na clínica proporcionam um olhar mais atento para as especificidades da experiência junto ao Complexo da Maré na cidade do Rio Janeiro. Ao propormos a questão da liberdade, apostamos na potência de reinvenção da existência, portanto, do fazer da clínica.

Palavras-chaves: Liberdade; Clínica psicológica; Complexo da Maré.


ABSTRACT

The present work intends to discuss the issue of liberty while opening of the meaning of existence, before limits and possibilities for those who arrive at the clinic in a community of the Maré Complex in Rio de Janeiro city; - where factual conditions of extreme violence and restriction, as to comprise a sense horizon. Dialoguing with thinkers of the so- called existential philosophy, we will seek to think through de clinic, how the question of liberty reveals itself, because we understand that, daily, were crossed by traditions, customs, and references of an era. The present world whith the establishment of the technical era, entail continuous impacts to de modes of care of the psychological clinic. Our relationship with the world, comes into play in an impersonal context which we first met. Therefore, the shared narratives in the clinic, provides a closer look at the specificities of the experience next to the community. When we propose the question of liberty, we bet on the power of reinventing the existence; therefore, to the making of the clinic.

Keywords: Liberty; Clinical psychology; Complexo da Maré.


RESUMEN

El presente trabajo pretende analizar la cuestión de la libertad durante la apertura de sentido de la existencia, frente a los límites y posibilidades para aquellos que vienen a la clínica em una comunidad donde vienen las condiciones fácticas de violencia extrema y restricción compuesto por um horizonte de sentido. Al dialogar com pensadores de la filosofía existencial, buscamos pensar a através de la clínica, ya que la cuestión de la libertad se revela, porque entendemos que todo el cotidiano és atravesado por las tradiciones, las costumbres y las referencias a la vez. El mundo actual con la introducción de la técnica traz impactos continuos para los modos del cuydado de la psicología clínica. Nuestra relación con el mundo se produce en um juego y en un contexto impersonal que inicialmente se reunió. Por lo tanto, al compartir las narrativas de la experiencia del hacer clínico se proporciona una mirada más atenta a los detalhes de la experiencia con el Complexo da Maré, en Rio de Janeiro. Al proponer el tema de la libertad, apostamos por el poder de la reinvención de la existencia, por lo tanto, de hacer la clínica.

Palabras Clave: Libertad; Clínica psicológica; Complexo da Maré.


 

 

Introdução

Partindo da interlocução da clínica psicológica com a chamada filosofia existencial, refletimos que o dispositivo clínico ao se utilizar de múltiplas abordagens teóricas não se firma em um campo coeso, sendo a clínica ainda mais ampla do que poderia supor sua concepção formal. Através de uma experiência da clínica psicológica situada no Complexo da Maré na cidade do Rio de Janeiro, fomos beneficiados com uma possibilidade da clínica para além das queixas objetivas a seu âmbito. Buscando inspirações em Martin Heidegger para melhor compreender o homem e os fenômenos presentes á comunidade através das narrativas daqueles que acreditaram na clínica e compartilharam suas histórias, solicitando ao dispositivo a uma reflexão mais ampla.

Nesse sentido, constatamos que tudo que diz respeito à existência humana não tem como garantir determinação diante da imprevisibilidade que pode ocorrer no jogo das relações humanas. Entendemos que o psicólogo, jamais encontrará recurso suficiente nas teorias que garantam absoluta eficiência a seu modo de cuidado.

Herdeiro do cientificismo, portanto, o homem contemporâneo vem sendo sujeitado a um discurso técnico que cada vez restringe mais sua liberdade, ou seja, a aposta estaria em afirmar que tudo que existe teria uma causa ou uma razão de ser. No entanto, para considerarmos a determinação do homem devemos ainda, acolher a abertura de sentido da existência humana, logo, sua liberdade.

Pela clínica fomos convidados a exercitar nossa liberdade pontuada por nosso horizonte histórico, pois compreendemos que da técnica não temos como escapar. Apostamos que seja necessário a cada vez, iluminar nosso caminho recorrendo à noção de humano que guardamos. Em Heidegger, compreendemos que o ente humano, ou seja, o ser-aí (Dasein)1 é um ser-no-mundo-com-o-outro. Tal compreensão é importante, pois ofereceu recursos reflexivos para a experiência da clínica que tivemos no Complexo da Maré.

Em sua principal obra Ser e Tempo de 1927, Martin Heidegger se propõe reapresentar a questão sobre o sentido do ser que será abordado a partir do fenômeno da linguagem. Para o filósofo, a linguagem é a própria aparição do ser em seus diferentes modos de manifestação, autêntico e inautêntico, o traduz nas relações que o homem estabelecerá com as coisas, com os outros e consigo mesmo, ou seja, o modo de ser cotidiano mais comum do homem.

A existência é marcada, de inicio e na maior parte das vezes, pela indiferença mediana e o impessoal, tendendo a fugir de si o homem esquece sua propriedade e se relaciona como algo simplesmente dado, caracterizando a maneira inautêntica com que se encontra no mundo, revelando-se de inicio ao modo do impessoal. Para Heidegger a concepção de homem enquanto sujeito configura apenas uma das possibilidades históricas de realização da experiência do sentido de si-mesmo não determinando sua estrutura ontológica, logo, seu modo de ser mais próprio.

Heidegger ao apresentar em Ser e Tempo (1927) o modo de ser cotidiano mais comum do ser-aí, aponta a radical diferença entres os entes que possuem o modo de ser do homem e os demais entes. Nesta perspectiva, o homem não possui uma essência a priori determinada, mas seu ser encontra-se sempre em jogo. Para o filosofo a questão não se trata apenas em diferenciar o modo de existir do homem em relação aos demais entes apontando características essenciais como o pensamento e a linguagem. Para o filosofo, não é suficiente para a compreensão do homem a realização de distinções entre uma res extensa e uma res cogitans. Para a filosofia da existência, o ser do homem não é res alguma não sendo possibilidade objetivações de um sujeito. "O homem é o pastor do ser" (Heidegger, 2005, 34), ente privilegiado, é a própria abertura de sentido, liberdade pela qual pode vir à luz o ser dos entes que se dão ao seu encontro. Designado o homem como pastor do ser, Heidegger nos fala que o ente humano em sua essência é cuidado, como ser-no-mundo não se encerra em si mesmo, ou seja, em uma interioridade psíquica, em jogo, em um contexto relacional é ser-com. O homem como ser-no-mundo-com-os-outros possibilita o desvelamento do sentido dos entes que lhe vêm ao encontro.

Segundo Sá (2009), a experiência clínica inspirada em Heidegger, encontraria sua motivação essencial na busca da ampliação da liberdade do homem, que pressupõe uma compreensão mais próxima à noção de existência proposta pelo filosofo contrapondo-se, portanto, as objetivações causais e determinísticas.

Nesse sentido, contrapondo-se a noção de determinismo, a liberdade entra em cena como estrutura originária ao modo de ser do homem que no vir a ser de sua existência amplia sua possibilidade de decisão2 diante da herança cientificista. Deste modo, mesmo admitindo que forças causais existam, a noção de liberdade estaria próxima a uma esfera em que se dá a abertura de sentido do homem:

O determinismo nega a liberdade, e se ele a nega, ele deve ter uma determinada representação de liberdade. Na representação da ciência natural, a liberdade foi sempre apenas um acontecimento não-causal, a-causal. Por isso, o determinismo encontra-se, a priori, fora da liberdade. Liberdade nada tem a ver com causalidade. A liberdade é ser-livre-e-aberto para uma solicitação. Então esta solicitação é o motivo. Não tem absolutamente nada a ver com cadeias causais. A solicitação é o motivo para o corresponder do homem. O estar-aberto para uma solicitação está fora da dimensão de produção causal. Por isso, o determinismo nem alcança o âmbito da liberdade, nada podendo dizer a respeito. Por isso, em relação à liberdade, é indiferente se conhecemos toda ou nenhuma ou algumas das causas de uma coisa. (Heidegger, 2001, p. 230)

Uma perspectiva baseada apenas em determinismos já não é suficiente, uma vez que a liberdade não se caracteriza tão somente como um dom ou uma dádiva, mas antes de tudo como uma tarefa que se realiza na história do homem que a exerce diante de seu limite e possibilidade. Nesse sentido, buscamos corresponder à solicitação que nos fez a Maré pela clínica que buscou exercitar a noção de humano em Heidegger, logo, compreender a diferença fundamental do ser-aí e dos demais entes no mundo.

Estruturalmente, o homem é vir a ser (Ek-sistere), portanto, constrói seus modos de existir no acontecer da vida estando sua história sempre a caminho não chegando ao lugar em que todos os demais entes já estão, pois todos são e o homem existe! Deste modo, a meta científica que visa assegurar ao homem "previsibilidade", não seria capaz de garantir segurança ontológica, pois o homem é na medida em que vive.

 

1. Metodologia

O comunicado conta com relatos de uma experiência da clínica psicológica realizada nos anos de 2006 a 2011, que atendeu alguns moradores do Complexo da Maré na cidade do Rio de Janeiro. O inicio da experiência clínica se deu pelo voluntariado em instalações da igreja católica local e buscou exercitar uma atitude clínica mais livre por conta dos diálogos também iniciados na ocasião com a chamada filosofia existencial.

A escolha do Complexo da Maré para o exercício da clínica não se deu de modo aleatório, mas foi inspirada pelos anos anteriores a experiência clínica quando a pesquisadora ainda morava na comunidade com a família. A experiência anterior, nesse sentido, foi a condição de possibilidade que motivou o retorno ao território para a realização da clínica e seu exercício correspondeu a aposta feita a noção de liberdade enquanto possibilidade de abertura de sentido diante de vários modos de violência percebidos no território. O dispositivo clínico já havia iniciado suas atividades quando a experiência demandou uma maior reflexão e, assim buscamos melhor compreendê-la através da pesquisa de mestrado de onde extraímos os relatos apresentados no presente comunicado. Assim, através da experiência anterior, bem como através de cinco historias confiadas à clínica, fomos capazes de resignificar nossa experiência e com mais cuidado voltar a olhar para as especificidades da comunidade.

Nossa atenção esteve voltada para além das queixas objetivas ao âmbito da clínica e buscou em Heidegger inspirações para melhor compreender os fenômenos presentes a comunidade que, quase sempre, eram levados ao âmbito da clínica através das narrativas daqueles que acreditaram no dispositivo.

Onde a vida pode se desvelar tão radicalmente oprimida, o desafio se impôs: que possibilidades ainda se abririam para a existência diante de circunstâncias, na maioria das vezes tão opressoras? Qual o sentido possível de liberdade, cuidado e pensamento para essa experiência clínica? Apostamos desta maneira, na questão da liberdade como palavra guia e ponto de partida para nossa reflexão acerca de limites e possibilidades para a clínica como modo de cuidado.

Nesse sentido, correspondendo à experiência anterior na comunidade, bem como as narrativas que nos foram compartilhadas durante o trabalho voluntário na clínica, buscamos compreender o homem a partir do ser-aí, pois tal noção nos doa sentido e orienta nossa compreensão de mundo, oferecendo recursos reflexivos para a prática clínica e a pesquisa:

Presença não é sinônimo nem de homem, nem de ser humano, nem de humanidade, embora conserve uma relação estrutural. Evoca o processo de constituição ontológica de homem, ser humano e humanidade. É na presença que o homem constrói o seu modo de ser, a sua existência, a sua história, etc. (Heidegger, 2008, p. 561)

Desta maneira, acreditamos ter rompido com certo discurso determinista e excludente ao realizamos a experiência junto à clínica de modo mais livre frente às especificidades do território. Nossa atenção esteve voltada, como já mencionamos, para além das queixas objetivas ao âmbito da clínica e, em Heidegger, encontramos inspirações para melhor compreender os fenômenos presentes ao território e dialogar com a comunidade pela clínica.

Desta maneira, não ignoramos os horizontes históricos e sociais mais abrangentes de nossa época, como a opressão ali imposta, que restringia e desafiava a existência situada em níveis radicais de realização, mas buscamos privilegiar as estruturas de sentido mais próximas e imediatas daqueles que habitavam naquele momento a comunidade e a clínica.

Apostamos no método fenomenológico hermenêutico recorrendo a autores como Ana Maria Feijoo e Roberto Novaes de Sá, que compreenderam que o método facilita o acesso as questões objetivas à clínica. Pelo método fenomenológico nos foi possível compreender o sentido da experiência de cinco participantes que contribuíram com a pesquisa durante o tempo que permaneceram em atendimento na clinica junto a Maré. Como a atividade da clínica foi anterior à pesquisa de mestrado, os participantes selecionados acolheram o convite para participarem da pesquisa que buscava refletir a questão da liberdade. Após assegurarmos nomes fictícios a fim de evitar quebra de sigilo, todos leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

2. Resultados e discussão

A caminho das instalações que abrigavam a clínica na comunidade, dialogando com o território, não foi possível deixar de perceber o que a experiência anterior, bem como as narrativas revelavam, da violência e da restrição. Sobre a ponte construída para dar passagem e ligar duas das comunidades do Complexo da Maré, havia comércio. Transformada em escritório, o comercio da ponte - constrangia aqueles que passavam por ali, frente a negociação e venda de drogas. Já se ouvia falar pelas ruas da comunidade sobre o crack que na época ainda não configurava uma epidemia nas adjacências do Complexo da Maré.

Os olhares lançados para o que nos chamava atenção na comunidade, também afetavam aqueles que buscavam pela clínica em certa medida. Cada um a seu modo, correspondiam a violência e a liberdade presente na Maré.

Dona Ana3, narrava que, quando chegou com sua família à cidade do Rio de Janeiro, encontraram no território da Maré, dificuldades como o desemprego e a violência. Assistiu dois de seus filhos envolverem-se com a "bandidagem". O filho mais novo, com apenas 12 anos na época, estava afastado da escola por mau comportamento faltas e reprovações, pois vigiava "a boca" 4 para o tráfico. O filho mais velho encontrava-se preso cumprindo pena por assalto à mão armada.

Dona Ana angustiava-se temendo pela vida dos filhos, sentia-se desamparada diante da situação opressora. No entanto, mesmo frente às circunstâncias que eram também motivo de constrangimento, pois muito se comentava na comunidade sobre os filhos, narrava que aguardava por dias melhores. Dona Ana deu continuidade ao processo que iniciou na clínica e mesmo depois de constatar que não estava em suas mãos o poder de decidir o destino dos filhos, deu continuidade aos encontros clínicos para falar da vida cotidiana, como por exemplo, o cuidado da casa, a relação com o marido alcoolista e o trabalho com reciclagem.

A violência na comunidade restringia a liberdade de ir e vir dos moradores e de serviços que permaneciam fechados em dias mais violentos alterando a rotina cotidiana da comunidade. Postos de saúde, escolas e creches não funcionavam quando havia confrontos. O território da comunidade nos possibilitou algumas observações lúdicas. Meninos através de brincadeiras expressavam suas experiências junto ao cotidiano violento da comunidade, em punho de seus revolveres feitos de cabo de vassoura, encenavam pelas ruas o que sabiam das batalhas travadas.

Privada da liberdade de ir vir, Virginia5, também se viu afetada pela violência, ao passar uma temporada na casa de parentes: "desde que a guerra começou (...) não tive como ficar lá sozinha. É perigoso! O tiroteio é constante e as ruas ficam desertas". A violência apesar de restringir a liberdade de ir e vir de Virginia, também a forçava olhar para a ausência do marido frente ao casamento desfeito. Sentindo-se sozinha, desprotegida em dias de maior violência, voltava sua atenção para a falta de garantias da vida, pois afinal, seu casamento estava desfeito, mesmo ecoando em sua lembrança a promessa de que estariam juntos na alegria e na tristeza e que a união só seria desfeita diante da morte.

Os fenômenos e as reflexões em torno da problemática da violência sempre foram no tempo, uma temática explorada e discutida pelas ciências sociais e políticas, demandando ações efetivas da sociedade como um todo. Nesse sentido, pode-se dizer que a violência é um fenômeno que se manifesta tanto nas cidades como no campo, presente na vida cotidiana, sem distinção de cor, raça, sexo, credo, condições sociais e econômicas, estando, para além da desordem social. A violência em nenhum momento da história passou despercebida.

Ao olharmos para história, compreendemos que a violência é um senso comum de guerra, presente no tempo e, para além de nossa experiência na Maré, quando iniciamos nossos diálogos com o território de modo mais reflexivo. Observamos e, nos foi possível falar do fenômeno da violência pelo o que nos veio ao encontro também pela clínica. Buscamos tratar do que estava lá, no território, para ser visto por quem pudesse ou quisesse ver o que nos levou a compreender que a liberdade era uma questão muito mais ampla e de difícil tematização diante da noção de humano e de mundo que buscamos a cada vez compreender e exercitar.

Nesse sentido, realizamos a experiência do que nos foi possível compreender junto ao horizonte de sentido da comunidade, onde, afetados por costumes e tradições de um contexto impessoal, buscamos apostar na possibilidade de tempos melhores diante dos limites impostos pela violência e pelo abandono. A Maré já não é a mesma dos tempos das palafitas, mas continua acolhendo em seu território novas gerações. Seu meio ambiente vem sendo violentado há décadas, suas paisagens sofrem mudanças a cada instante em decorrência das continuas ocupações e construções irregulares.

Diante de tal cenário voltando a Heidegger (2000), para compreender que o homem possui em si próprio, diversas possibilidades de concretização, sendo o impessoal a principal marca de seu modo de existir:

O impessoal desenvolve sua própria ditadura nesta falta de surpresa e de possibilidade de constatação. Assim nos divertimos e entretemos como impessoalmente se faz; lemos, vemos e julgamos (...) como impessoalmente se vê e se julga; também nos retiramos das 'grandes multidões" como impessoalmente se retira; achamos 'revoltante" o que impessoalmente se considera revoltante. O impessoal, que não é nada determinado, mas que todos são, embora não como soma, prescreve o modo de ser da cotidianidade. (Heidegger, 2000, p. 179)

Dar atenção à vulnerabilidade do território foi uma das condições de possibilidade para uma melhor compreensão do homem enquanto existência, logo, daqueles que buscavam sentido junto a clínica na comunidade. Ao compreendermos que a tematização da violência só foi possível graças a nossa posição de liberdade, nos possibilitou compreender que a violência presente na comunidade não se tratava de uma questão simplesmente dada.

Se de um lado existia o algoz e do outro uma vítima, bem como refletiu Eirado6, esquecemos que tanto o algoz quanto a vítima, se encontravam lançados a um horizonte de sentido territorial, que impessoalmente massacrava. Foi possível refletir em Heidegger (2000) que, trabalha-se, come-se, bebe-se de modo impessoal, mas ainda, se é violento, como impessoalmente se faz. A violência fazia eco às narrativas clínicas de modo concreto e foi assim que Shirley7 viu seu pai falecer na comunidade quando o mesmo ao sair para o trabalho foi atingido por uma bala perdida. Passado o luto, Shirley retomou seus projetos interrompidos pela tragédia, qualificando-se passou a atuar como fisioterapeuta na comunidade, teve outro filho e continuou cantando na igreja. Dizia que não pretendia se mudar da Maré, pois encontrava na comunidade tudo que precisava para ser feliz.

Faz-se importante dizer que, mesmo contando com uma experiência anterior junto à comunidade, foi através "da" e "na" clínica que se deu nosso interesse de melhor compreender o ente humano enquanto abertura de sentido, logo, liberdade. Apostamos que a clínica seja deste modo, potência disparadora de experiência e reflexão, pois nos possibilitou dialogar com o território de um modo mais aberto. O ato de pensar, segundo Sá (2009), não se restringe tão somente a uma atividade mental de um sujeito racional, mas a palavra pensar guarda ainda outro sentido em português, que é o de "cuidar, curar (pensar uma ferida)". Refletir sobre a violência presente na comunidade teve sua importância, pois nos libertou da lamentação e nos conduziu a correspondência de outras demandas pertinentes ainda ao âmbito clínico.

A solicitação que a noção de liberdade exerceu sobre nós ganhava mais força, quanto mais compreendíamos que o cuidado clínico também se encontra sob o domínio de um horizonte de sentido técnico. Ao passo que a noção de liberdade ganhava contorno nas experiências clínicas que nos foi possível contato, mais sua compreensão tornava-se necessária, pois a clínica situada na comunidade não foi afetada somente pelo fenômeno da violência. A clínica da comunidade não deixou de se relacionar com as queixas objetivas de nosso tempo, pois afinal em certa medida, somos sem distinções sociais herdeiros de um tempo marcado pelo cientificismo. Assim, aqueles atendidos pela clínica na comunidade também evitavam suas angustias e negavam, por vezes, sua condição estrutural de abertura de sentido, ao ansiarem por decifrações e formularas mágicas que dessem conta de seus desamparos.

Pela narrativa clínica tivemos a oportunidade de cuidar das histórias confiadas e através da manifestação da linguagem autêntica e inautêntica, creditamos maior confiança de que somos abertura de sentido para exercitamos uma atitude clínica mais livre:

Isso só acontece, porém, quando prestamos atenção ao vigor próprio da linguagem. Enquanto essa atenção não se dá, desenfreiam-se palavras, escritos, programas, numa avalanche sem fim. O homem se comporta como se ele fosse criador e senhor da linguagem, ao passo que ela permanece sendo a senhora do homem. Talvez seja o modo de o homem lidar com esse assenhoramento que impele o seu ser para a via da estranheza. É salutar o cuidado com o dizer. Mas esse cuidado é em vão se a linguagem continuar apenas a nos servir como um meio de expressão. Dentre todos os apelos que nos falam e que nós homens podemos a partir de nós mesmos contribuir para se deixar dizer, a lingua-gem é o mais elevado e sempre o primeiro. (Heidegger, 2008, p. 126)

Ao cuidarmos das historias daqueles atendidos na clínica na comunidade, compreendemos que esse espaço se deu como um espaço de acolhida e liberdade. A clínica buscou desvelar sentido e ampliar as possibilidades daqueles que viviam seus momentos de restrições de sentido, pela narrativa daqueles que atendemos e que, nos coube escutar, buscamos refletir que somos livres e, portanto, abertura de sentido. Nas palavras de Feijoo (2000), a psicoterapia, prática da clínica psicológica "cabe ajudar o homem a resgatar sua liberdade e a flexibilidade".

Nesse sentido, o desafio foi de encontro às histórias narradas como no caso de dona Ana, que buscava por acolhimento e compreensão diante da impotência de assistir dois de seus filhos envolvidos com o tráfico local. Dona Ana pela clinica passou a dar importância a seu estranhamento diante da própria existência, desvelando-se para além das preocupações com os filhos, deu lugar a um sofrimento que a acompanhava desde a infância, on-de o medo de ser considerada louca, a fez guardar para si, durante anos, os vultos que via e as vozes que ouvia. Aqueles que buscam pelo atendimento clínico, não possuem uma essência determinada a priori, suas essências permaneciam em jogo no tempo. As noções de liberdade, de cuidado, de presença, não são apenas, noções abstratas, restritas ao âmbito de um pensamento especulativo, mas no exercício clínico contando com o pensamento de sentido, diz respeito à vida concreta daqueles que procuram a clínica diante de restrições de sentido e sofrimentos.

Segundo Sá (2009), o que produz o sofrimento não é a incorreção lógica ou factual de uma perspectiva, mas sim a redução de possibilidades de sentido que, por sua vez impõem ao campo existencial a restrição da liberdade. A prática da "psicoterapia lida essencialmente com o problema da liberdade, mas não entendida como livre arbítrio de um sujeito simplesmente dado no mundo. Liberdade é o próprio ser do homem enquanto 'poder coresponder' ao que lhe vem ao encontro".

Na prática clínica o fenômeno não deve ser tomado apenas de modo que proporcione o aparecer de algo sem em nada aprofundá-lo, o fenômeno não é apenas o que aparece de maneira menos rígida e despreocupada diante de um problema ou uma dificuldade, essa seria uma maneira ingênua de olhá-lo. O fenômeno só se mostra quando alguém se propõe a olhá-lo, aproximando-se dele na busca de compreendê-lo e explicitá-lo, se utilizando da escuta e da fala. Portanto, a clínica na comunidade buscou compreender o fenômeno apresentado através da existência concreta daqueles que confiaram suas historias ao longo dos atendimentos clínicos, bem como buscou dialogar com a comunidade através dos olhares lançados ao território e que foram afetados por tamanha vulnerabilidade.

Ao voltarmos nosso olhar para as especificidades do Complexo da Maré, fomos apresentados a um território marcado por fenômenos no tempo através de historias de habitações, construções de espaços e de mundo. Assim, para além da proteção física das paredes de tijolos e cimento que abrigavam a clínica, realizamos uma experiência de liberdade pela clínica, quando correspondemos ao clamor do território e, compreendemos que o dispositivo clínico ultrapassa o espaço físico que, aparentemente, limita seu campo de atuação:

Os espaços abrem-se pelo fato de serem admitidos no habitar do homem. Os mortais são, isso significa: em habitando têm sobre si espaços em razão de sua de-mora junto às coisas e aos lugares. E somente porque os mortais têm sobre si o seu ser de acordo com os espaços é que podem atravessar espaços. Atravessando, não abrimos mão desse ter sobre si. Ao contrario. Sempre atravessamos espaços de maneira que já os temos sobre nós ao longo de toda travessia, uma vez que sempre nos demoramos junto a lugares próximos e distantes, junto às coisas. (Heidegger, 2008, p. 136)

Desta maneira, habitamos a clínica na Maré como um espaço privilegiado de liberdade, pois procuramos compreender através daqueles que chegavam em busca de sentido, como a questão da liberdade estava sendo experienciada, mesmo quando não reconhecida ou não tematizada. Tivemos a oportunidade de refletir sobre aquilo que temos de mais estruturante, ou seja, nossa co-respondência.

A palavra liberdade e sua compreensão para alguns na clínica guardava estreita relação com a questão da violência e pode ser refletida por ocasião de disputas territoriais entre facções rivais ou através do confronto policial. No entanto, para Elisa8 seu encontro com a liberdade guardou relação com seus projetos e não se restringiu ao direito de ir e vir que a mesma costumava desafiar durante o carnaval, quando desfilava no bloco Se Benze que Dá, pelas ruas das 16 comunidades do Complexo da Maré, levando alegria e desafiando os limites impostos pelas fronteiras existentes no território. Elisa amadurecia a possibilidade de deixar o trabalho de auxiliar de escritório, onde se dizia infeliz para apostar em um curso de pré-vestibular comunitário na Maré. Seu objetivo era ingressar em uma universidade pública para cursar serviço social. Depois que deixamos de exercitar a clínica na comunidade, Elisa continuou frequentando a clínica, desta vez, ai ao nosso encontro no consultório particular em outro território. Recentemente, tivemos noticias de que Elisa concluiu a formação em serviço social e ingressou no mestrado em saúde coletiva. Elisa continua morando na Maré e costumava-se a se indignar com seu direito de ir e vir violado, entretanto, em tempos de paz sua liberdade resistia e seus projetos podiam seguir seus caminhos.

A restrição da liberdade nesse sentido, só era sentida, portanto, quando aqueles que passaram pela clínica viam seu direito de ir e vir violado, ao menos, esta era de imediato a noção compreendida. Tal experiência dizia muito mais respeito à própria dificuldade existencial em acessar modos mais livres e singulares nos distanciando da co-pertinência entre ser e pensar. Reflexões mais próprias acerca da noção de liberdade foram possíveis ao âmbito da clínica através do enraizamento experimentado durante o tempo que ali permanecemos. Graças aos diálogos estabelecidos, percebemos que nossa experiência anterior na comunidade nos beneficiou com uma compreensão mais próxima das especificidades do território que por sua vez, possibilitou uma clínica mais livre e conhecedora de seu propósito.

Notamos que nosso cuidado clínico deu lugar a outros modos de relação com a psicologia. Desta maneira, foi possível dizer que a clinica se deu como um espaço potente de dialogo e reflexão ainda com a profissão. Sendo assim, tentamos nos aproximar dos fenômenos que se deixaram mostrar tal como se apresentou à clínica, tal como nos orienta o método fenomenológico hermenêutico. Esforçamos-nos para colocar em suspenso, posturas que, por si só restringem o cuidado psicológico, engessando a clínica como espaço de pensamento e liberdade.

Partindo do entendimento que não se pode dizer que há na existência humana somente relações de causa e efeito, sendo mais apropriado falar em motivações, seguimos em defesa de práticas mais livres de cuidado, considerando que o homem em sua estrutura é possibilidade de sentido diante da herança deixada do cientificismo. Tal compreensão dá contornos e doa modulações ao nos-so fazer clínico.

Nesse sentido, não podemos afirmar que, algum evento que tenha ocorrido a uma criança, por exemplo, em seus iniciais anos de vida, determine toda sua existência, pois mesmo que encontremos relações de sentido entre a infância e a idade adulta de um indivíduo, não se pode atestar que tais eventos tenham apenas relações causais. Ao tentarmos compreender a vida do ponto de vista existencial, realizamos a experiência de um pensamento mais contemplativo acerca da historia e de nosso tempo. Desta maneira, experimentamos a vida como inacabada e suportamos nossa liberdade, embora, constantemente esquecemos-nos de nosso modo mais próprio de ser, nos distanciamos de nossa condição originária. Heidegger dirá que o homem é um ser-para-morte, pois só chega a ser ele mesmo, no momento, em que não é mais.

Como ser-no-mundo frente à tarefa de realização, caminhamos próximos ao estranhamento e angustiados olhamos para o futuro e nos relacionamos com o desconhecido e a indeterminação. Através de nossa historia, de nosso passado, entramos em contato com um conjunto de acontecimentos, contudo, o que já foi vivido acaba ficando em suspenso, pois a cada novo passo, a cada novo acontecimento, a totalidade de nossa existência vai se alterando e realizando. Nosso futuro, o por-vir e o vigor-de-ter-sido, o passado, se apresentam de um modo totalmente aberto, ou seja, somos livres em nossa relação de sentido com o mundo. Desta maneira, para nós já não faz tanto sentido uma proposta clínica que se paute em modelos cientificistas.

Ao reconhecermos que de nosso horizonte histórico não temos como escapar, apostamos que seja justamente por tal determinação que realizamos nossa experiência de liberdade. Nesse sentido, se nosso tempo é pontuado por certo cientificismo do qual somos herdeiros, somos ainda convidados pelo dialogo com a chamada filosofia existencial a realizar um modo de cuidado clínico mais livre e menos técnico, pois compreendemos que nossa compreensão de homem deve acolher o humano tanto pela clínica particular quanto pela clínica na comunidade, pois em ambos os dispositivos lidamos com restrições de sentido, dores cotidianas que demandam da clínica decifrações especializadas, fórmulas mágicas e rápidas soluções para os sofrimentos. Tal horizonte configura, portanto, uma realização do empenho moderno em tudo querer controlar e prever através de uma lógica que calcula. Assistimos a uma tendência que atrela a vida às malhas da técnica:

Façamos a experiência. Para todos nós os equipamentos, aparelhos e máquinas do mundo técnico são hoje imprescindíveis, para uns em maior e para outros em menor grau. Seria insensato investir às cegas contra o mundo técnico. Seria ter vistas curtas querer condenar o mundo técnico como uma obra do diabo. (Heidegger, 1959, p. 23)

O cenário de restrição de sentido frente à técnica que, segundo Heidegger, nos tornamos escravos guarda ainda, outra direção se nos for possível vislumbrar uma atitude mais cuidadosa e mais livre diante do horizonte de sentido tecnológico em que estamos lançados.

Portanto, exercitar uma proximidade com reflexões mais meditativas pelo dialogo com a chamada filosofia existencial, nos faz compreender que tal atitude não se da através da possibilidade de um pensamento de cunho valorativo que seja mais positivo ou verdadeiro em detrimento do pensamento que calcula, mas sim de sabermos de nossa liberdade diante do cuidado clínico que não podemos negar que seja uma atividade técnica. Tal compreensão nos conduz a liberdade e, a noção de serenidade como disposição afetiva fundamental ao âmbito da clínica psicológica que defendemos e por tal disposição dizer "sim" e "não" ao nosso horizonte histórico, onde através do cientificismo o calculo e as técnicas predominam:

Mas podemos, simultaneamente, deixar esses objectos repousar em si mesmos como algo que não interessa àquilo que temos de mais intimo e de mais próprio. Podemos dizer « sim » à utilização inevitável dos objetos técnicos e podemos ao mesmo tempo dizer « não », impedindo que nos absorvam, e desse modo, vergem, confundam e, por fim, esgotem a nossa natureza. (Heidegger, 1959, p. 24)

Para procedermos de maneira que seja possível dizer sim e não a cada vez aos modos técnicos de cuidado, ou seja, para que possamos privilegiar uma atitude clínica mais livre, faz-se necessário dispensar atenção à história do homem cujo modo de ser é abertura de sentido. Apostamos em tal possibilidade da reflexão exercitada no âmbito da clínica não desprezando as modulações calculante e meditante do pensamento, pois se não fosse assim, o cuidado com a vida estaria engessado.

 

Considerações finais

Concluímos, com isso que em Heidegger (2001, p. 230), assim como com aqueles que convidamos para serem companheiros desse comunicado, encontramos noções que nos possibilitaram um campo de atuação mais aberto na relação clínica. A noção de ser-aí foi à via de acesso para compreendermos a existência humana e, nesse sentido, a prática clínica foi se construindo e sendo pensada à medida que habitávamos a clínica na comunidade. Dar atenção ao território onde estivemos situados nos permitiu dizer sim e não ao que nos veio ao encontro e pela experiência exercitarmos modos de ser e de cuidado mais livres.

 

Referências

Heidegger, M. (2000). M. Ser e Tempo. Vol. I. 9. ed. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Heidegger, M. (2001). Seminários de Zollikon. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Heidegger, M. (2008.) Ensaios e Conferências. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Heidegger, M. (2005). Carta Sobre o Humanismo. São Paulo: Centauro.         [ Links ]

Heidegger, M. (1959). Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget.         [ Links ]

Feijoo, A. M. L. (2000). A Escuta e a Fala em Psicoterapia. São Paulo: Vetor.

 

 

Recebido em 14.09.2016
Primeira Decisão Editorial em 31.10.2016
Aceito em 21.01.2017

 

 

1 "Presença não é sinônimo nem de homem, nem de ser humano, nem de humanidade, embora conserve uma relação estrutural. Evoca o processo de constituição ontológica de homem, ser humano e humanidade. É na presença que o homem constrói o seu modo de ser, a sua existência, a sua história, etc." (Heidegger, 2008, 561).
2 A palavra decisão é empregada aqui no sentido Heideggeriano tal como em Ser e Tempo (2008, p. 579), designando um movimento em um sentido de destrancar e abrir, assim uma das modalidades do homem é o destrancar-se e o abrir-se para.
3 Todos os nomes foram modificamos a fim de garantir o sigilo.
4 Expressão dada ao movimento do tráfico, relacionando-se ao local do comércio das drogas.
5 Todos os nomes foram modificamos a fim de garantir o sigilo.
6 Comentários do Professor Doutor André Eirado na ocasião da qualificação desta pesquisa em 24 de agosto de 2009, na UFF, Campus do Gragoata, Niterói.
7 Todos os nomes foram modificamos a fim de garantir o sigilo.
8 Todos os nomes foram modificamos a fim de garantir o sigilo.

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