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Revista da Abordagem Gestáltica

Print version ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.24 no.2 Goiânia May/Aug. 2018

 

EDITORIAL

 

 

Adriano Holanda

(Editor)

 

 

Este novo número traz, como novidade, a firme intenção de publicar o máximo possível de artigos bilíngues, privilegiando nossa língua nativa – o português – e, ao mesmo tempo, incentivando os autores a publicar seu manuscrito numa versão em inglês. Nossa intenção, com isto, visa tanto atender às demandas de internacionalização, por um lado; como ainda permitir que o leitor brasileiro não seja privado dessas produções, por uma eventual inacessibilidade a línguas estrangeiras. Acenamos, com isto, tanto para a necessidade de ampliar a visibilidade das nossas produções, como para o reconhecimento que nossa sociedade não pode, em nome de critérios os mais variados, prescindir de sua história, de sua cultura e, por conseguinte, de sua língua materna, elementos estes constitutivos de sua própria identidade, mesmo estando inseridos na “universalização” da produção e do conhecimento.

A Phenomenological Studies – Revista da Abordagem Gestáltica não é um periódico vinculado ainstituições públicas, mas isto não a exime de se posicionarética e culturalmente, de analisar o cenário no qualestamos envolvidos, e de se manifestar enfaticamente contrária a qualquer atitude de dominação discursiva, dehomogeneização e direcionamento de ações, e de posiçõesque consideramos demasiado invasivas ou “colonizantes” e, por consequência, excludentes, visto não termos, em nossa sociedade ou educação, sequer um amplo, livre e digno acesso ao conhecimento, às instituições, ou a toda uma gama de serviços. Entendendo que a política de Acesso Aberto deve ser mantida, ampliada e qualificada, acreditamos que o respeito às nossas raízes e a nossa sociedade, passa igualmente pela manutenção de uma publicação que mantenha o mínimo de possibilidade de acesso linguístico.

Vivemos num país que ainda comporta um contingente de 7,2% da sua população entre 15 anos ou mais na faixa do analfabetismo; dados da OCDE(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) indicam ainda que até 2016, apenas 14% da população adulta brasileira tem acesso ao Ensino Superior; portanto, não podemos considerar razoável, que a publicação científica brasileira, uma vez veiculada apenas em língua não-nativa, esteja a serviço desta população e desta sociedade. Consideramos – e devemos problematizar sempre – o risco de criar novos nichos de saber, novos modos de exclusão e, com isto, afirmamos nossa política de publicação bilíngue como um compromisso social e cultural da revista, e de sua mantenedora, mesmo sabendo o ônus acumulado dessa tarefa e o custo decorrente da mesma. Convidamos os leitores e os autores a se engajarem nesta empreitada conosco, como parceiros, na dupla direção da qualificação e da consideração (e respeito) pelas necessidades de nossa comunidade. Ademais, afirmamos, com esta ação, a crença, a confiança e a expectativa de que a produção acadêmica e científica brasileira possa servir de eixo de mudanças para nossa sociedade.

Neste número, apresentamos três manuscritos em publicação bilíngue. Esperamos que a partir disto estejamos inaugurando uma nova forma de divulgar nossos trabalhos e esforços; uma nova tradição, e que possamos estar construindo juntos novas possibilidades e novos caminhos para a democratização do conhecimento.

Os três manuscritos bilíngues, aqui apresentados, trazem temas, contextos e leituras que expressam a abertura e a diversidade de nossa proposta editorial, e são os seguintes: Oficina de Desenvolvimento da Escuta: Prática Clínica na Formação em Psicologia, de autoria de Shirley Macêdo, Gledson Wilber de Souza e Monzitti Baumann Almeida Lima, da Universidade Federal do Vale do São Francisco; Estudo de Caso em Gestalt-terapia: Leituras Fenomenológicas do Desenho Infantil, de Mariana Vieira Pajaro (Universidade de Brasília) e Celana Cardoso Andrade (Universidade Federal de Goiás) e; As Origens do Conceito de Agressão na Gestalt-terapia: Freud, Reich e Outras Fontes, de Thauana Santos de Araújo e Adriano Furtado Holanda (Universidade Federal do Paraná).

Arte, corpo, liberdade, idosos institucionalizados, suicídio, transtornos alimentares, Foucault, Binswanger, cuidado, ética e Saúde Mental são temas que completam este número, através dos manuscritos: Elaborando Tradições na Contemporaneidade: Ausier e a Preservação do Chorinho, de Roberta Vasconcelos Leite e Miguel Mahfoud (Universidade Federal de Minas Gerais); Deixou o Corpo em Casa, Foi para Terapia: O Corpo Segundo Psicólogos, de Joanneliese de Lucas Freitas, Paula Arenhart e Mariana Abuhamad (Universidade Federal do Paraná); Ser Além dos Muros: Fenomenologia da Liberdade para Idosos Institucionalizados, de Diogo Arnaldo Corrêa (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Carla de Santana Oliveira (Universidade de Mogi das Cruzes) e Marlise Aparecida Bassani (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo); Por Um Núcleo de Atendimento Clínico a Pessoas em Risco de Suicídio, de Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro); “Oi, Meu nome é Ana” – Um Estudo Fenomenológico- Existencial da Experiência de Mulheres com Anorexia Nervosa, de Élida Mayara daNóbrega Cunha e Elza Maria do Socorro Dutra, da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte; Foucault e Binswanger: Uma Aproximação Intempestiva?, de Fabio Yasoshima (Universidade de São Paulo) e Guilherme Messas (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo), e; Cuidado, Ética e Convivência em Saúde Mental: Reflexões Fenomenológicas, de Tania Inessa e Ileno Izidio da Costa, da Universidade de Brasília.

Finalizamos com a tradução de um documento histórico, a versão para o português do artigo que inaugura a tradição de pesquisa empírico-fenomenológica nos Estados Unidos, Análise Fenomenal: Exemplificada por um Estudo da Experiência de “Realmente se Sentir Compreendido”, de Adrian L. Van Kaam, publicado originalmente em 1959. Esperamos estar continuando nosso projeto de contribuição com a Fenomenologia no Brasil e na América Latina.

Boa leitura a todos.

 

 

(Este número foi finalizado no dia 01 de fevereiro de 2018)
1 Dados IBGE, de 2017. Fonte: Jornal Valor Econômico: http://www.valor.com.br/brasil/5234641/ibge-brasil-tem-118-milhoes-de-analfabetos-metade-esta-no-nordeste         [ Links ]
2 Dados de 2016. Fonte: Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/09/1813715-so-14-dos-adultos-brasileiros-tem-ensino-superior-diz-relatorio-da-ocde.shtml
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