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Revista da Abordagem Gestáltica

Print version ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.24 no.2 Goiânia May/Aug. 2018

http://dx.doi.org/10.18065/RAG.2018v24n2.8 

ESTUDOS TEÓRICOS OU HISTÓRICOS

 

Foucault e Binswanger: uma aproximação intempestiva?

 

Foucault and Binswanger: an unexpected convergence?

 

Foucault y Binswanger: ¿una aproximación intempestiva?

 

 

Fabio YasoshimaI; Guilherme MessasII

IDoutorado, Mestrado e Graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). É Psicólogo e Bacharel em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com especialização em Psicopatologia Fenomenológica pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). Email: fabio.yasoshima@usp.br
IIGraduação, Mestrado e Doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Coordenador da Especialização em Psicopatologia Fenomenológica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Coordenador da Especialização em Psicopatologia e Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Editor da revista Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea. Membro fundador e Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Psicopatologia Fenômeno-Estrutural. Coordenador da Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP). Partner of the Collaborating Centre for Values-Based Practice in Health and Social Care, St Catherine's College, Oxford. Coordenador da Câmara Temática Interdisciplinar sobre Drogas do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CTDrogas). Membro da WPA Section of Philosophy and Humanities in Psychiatry

 

 


RESUMO

Os nomes de Foucault e Binswanger figuram lado a lado com tão pouca frequência que, à primeira vista, a aproximação entre os autores pode apresentar-se como uma questão despropositada. No presente trabalho, com base na análise de algumas de suas obras e nas contribuições de seus comentadores, procuramos apresentar algumas indicações para uma breve incursão em certos aspectos da história desse acercamento, cujos desdobramentos não se reduzem a uma casual afinidade intelectual entre o filósofo francês e o psiquiatria suíço. Defendemos a existência de uma convergência entre ambos, centrada em aspectos como a recusa de modelos explicativos organicistas e psicodinâmicos; e a utilização metodológica da noção de a priori. Concluímos pela existência de uma importante aproximação entre as obras dos dois autores.

Palavras-chave: Michel Foucault; Ludwig Binswanger; Fenomenologia.


ABSTRACT

The names Foucault and Binswanger are so seldom seen together that the question of any convergence between the authors may at first sound preposterous. In the present study, based on the analysis of some of their works and on contributions from their commentators, we sought to present some indications for a brief incursion into certain aspects of the story behind this connection, whose implications cannot be dismissed as a mere casual intellectual affinity between the French philosopher and Swiss psychiatrist. We argue that there exists a convergence between the two, centered on aspects such as the rejection of organicist and psychodynamic explanatory models; and the methodological use of the notion of a priori. We conclude that there is an important convergence between the works of the two authors.

Keywords: Ludwig Binswanger; Michel Foucault; Phenomenology.


RESUMEN

Los nombres de Foucault y Binswanger aparecen uno junto al otro tan infrecuentemente que, inicialmente, la aproximación entre los autores puede presentarse como una cuestión sin sentido. En este trabajo, basado en el análisis de algunas de sus obras y en las contribuciones de sus comentadores, hemos buscado presentar algunas indicaciones para una breve incursión en determinados aspectos de la historia de esta aproximación, cuyos desenvolvimientos no se reducen a una casual afinidad intelectual entre el filósofo francés y el psiquiatra suizo. Defendemos la existencia de una convergencia entre los dos, centrada en aspectos como el rechazo a los modelos explicativos organicistas y psicodinámicos; y el empleo metodológico de la noción de a priori. Concluimos en favor de la existencia de una importante aproximación entre las obras de los dos autores.

Palabras clave: Ludwig Binswanger; Michel Foucault; Fenomenología.


 

 

Introdução

O nome do filósofo cujo método, em um primeiro momento, ficou conhecido como arqueologia, e o nome daquele que chegou a ser chamado de "pai da psicopatologia fenomenológica" (Van den Berg, 1981, p. 123) figuram lado a lado com tão pouca frequência que, salvo quando se trata de estudos biográficos ou introdutórios em que um ou outro é mencionado en passant, a aproximação entre Michel Foucault (1926-1984) e Ludwig Binswanger (1881-1966), à primeira vista, pode causar surpresa ou apresentar-se como uma questão despropositada, compreendida a partir de um movimento secundário na obra do então jovem filósofo francês.

Contudo, contribuições recentes vêm revelando insuspeitadas similaridades entre o pensamento dos dois autores (Basso, 2010; 2011), apresentando afinidades que ultrapassariam o simples interesse do primeiro Foucault por determinado período da obra binswangeriana. Outrossim, essas semelhanças intelectuais talvez pudessem atenuar o valor da ênfase com que o filósofo francês posteriormente recusaria a fenomenologia (Basso, 2008; 2012). No entanto, para que possamos desenvolver essa possível aproximação, faz-se mister que, em primeiro lugar, apresentemos algumas indicações para uma breve incursão em certos aspectos desse acercamento, o qual permite a descoberta de uma interlocução bastante profícua, cujos desdobramentos, notadamente a partir da primeira tradução francesa (Binswanger, 1954) do ensaio de 1930 intitulado Sonho e existência (Traum und Existenz), não se reduzem a uma casual afinidade intelectual entre Foucault e o Binswanger da Daseinsanálise.

Posto isso, convém explicitar o escopo e a pretensão do presente artigo. Inicialmente, diremos o que ele não é ou não almeja ser, a saber: uma reconstituição histórica da aproximação entre Foucault e Binswanger ou uma discussão exaustiva de seus desdobramentos. Pelo contrário, pretendemos tão somente indicar alguns dos aspectos que, a partir do intercâmbio entre os autores em questão (iniciado a partir da tradução francesa de Sonho e Existência), julgamos relevantes para justificar a relativização do afastamento das posições teórico-metodológicas de ambos (sobretudo de Foucault em relação ao psiquiatra suíço), procurando matizar a sua suposta irreconciliabilidade. A partir daí, pretendemos endossar a tese da aproximação, mostrando de que modo ela ultrapassa as simples menções diretas de Foucault a Binswanger. Nossa curta perspectiva histórica procura salientar as continuidades programáticas entre os dois autores, no interior da obra de cada um, com ênfase em suas compreensões antropológicas e em seus procedimentos metodológicos.

É bem conhecida a problematização que, no século das Luzes, Kant expõe ao formular a pergunta sobre as condições de possibilidade do conhecimento, em sua Crítica da Razão Pura. O pensamento de Foucault também fez época ao se lançar, antes de tudo, mas não exatamente à maneira de uma "teoria do sujeito do conhecimento", em uma profunda "análise dos diferentes códigos de saber" que conferem "positividade" e "unidade" a certos discursos de uma época (Sabot, 2014, p. 45), como o discurso científico sobre a doença mental.

Sabemos que, em Doença mental e psicologia (Maladie mentale et Psychologie, 1962), edição remanejada do texto originalmente intitulado Doença mental e personalidade (Maladie mentale et Personnalité)1, o qual fora publicado em 1954, ano em que surge também a primeira versão francesa de Sonho e existência, Foucault (1962/2005, p. 88) apontou para as origens do "homo psychologicus" - o homem enquanto "espécie psicologizável".

Ao seguirmos, ainda com Foucault, a história das condições que permitiram o aparecimento da própria psicologia enquanto ciência, deparamos necessariamente com a loucura, que, desde o Renascimento, imiscuiu-se profundamente nas diversas linguagens artísticas. Com efeito, para Foucault, o testemunho de Nerval vem juntar-se ao de Artaud ou àquele de Roussel, como exemplos de resistência a certa orientação determinista e excludente da então recente medicina psicológica, cujas condições de possibilidade mobilizaram, a partir da modernidade, as figuras conceituais da insanidade e da alienação (1972, p. 412). Como escreveria Foucault (1972, p. 47), de maneira lapidar: "sob a consciência crítica da loucura e suas formas filosóficas ou científicas, morais ou médicas, uma oculta consciência trágica não deixou de velar". Essa consciência trágica seria uma condição de possibilidade do saber sobre a loucura que demarcaria uma clara distinção entre o saber médico-psicológico, cada vez mais hegemônico, e o entendimento clássico dos desvarios da razão. Assim, o filósofo francês procurou sustentar que o conhecimento histórico dos interesses e métodos científicos é capaz de revelar descontinuidades no entendimento da loucura. Outrossim, Foucault pôde recusar a ideia de que a ciência - ao menos a médico-psicológica - discorreria sobre características universais do homem, as quais seriam, por assim dizer, imunes às influências da história. Mas teria sido essa a única posição intelectual de Foucault ante a loucura? E essa conhecida posição do filósofo francês teria sido tão homogênea, a ponto de não permitir a identificação de qualquer ambiguidade em seu interior? Será mediante a investigação dessas questões - e do cotejo dessas mesmas interrogações, na economia da obra binswangeriana - que pretendemos desenvolver o argumento do presente artigo.

"Doença mental e existência", passando pelo sonho: a "protoarqueologia"2 encontra a Daseinsanálise

Sabemos que a Análise Existencial, já em 1928, na obra de Binswanger intitulada Função Vital e história interior da vida, apresentara uma "alternativa" à "ciência natural" e à própria psicanálise (1973a), desenhando claramente uma crítica ao modelo positivista. Ademais, como lembra Basso (2012, p. 9192), alguns expoentes da chamada antipsiquiatria parecem reivindicar, de certo modo, sua filiação à fenomenologia existencial, apoiando-se em autores da então recente psicopatologia fenomenológica.

Neste ponto, não custa lembrar que, a despeito das divergências sobre os primeiros direcionamentos propriamente fenomenológicos no âmbito da investigação psiquiátrica (que nos fariam recuar a Jaspers ou até mesmo a Dilthey e sua ampla influência), é possível apontar objetivamente para o surgimento do primeiro esforço sistemático em prol de certa fundação das bases da psicopatologia fenomenológica, como bem apontou Holanda (2011), em seu artigo intitulado Gênese e histórico da psicopatologia fenomenológica:

[...] o "nascimento" de uma psicopatologia fenomenológica - do ponto de vista formal e objetivo - tem data, marco e filiação. O "dia histórico" é 25 de novembro de 1922; o marco é a 63ª Sessão da Sociedade Suíça de Psiquiatria, reunida em Zurique; e a filiação tem dois nomes: Ludwig Binswanger (1881-1966) e Eugène Minkowski (1885-1972), como aponta Tatossian [...]. Foi neste encontro que Minkowski apresentou seu estudo sobre um caso de melancolia esquizofrênica [...] e Binswanger apresenta o texto Ueber Phaenomenologie [...], artigo no qual analisa as influências da fenomenologia sobre a psiquiatria (Holanda, 2011, p. 134).

Importa ressaltar, no presente artigo, o fato de que o "olhar fenomenológico", ou essa nova interrogação sobre a existência humana3 - patológica, inclusive -, concorreu sobremodo, como asseveram Moreira & Pita (2013, p. 681), para a "abertura de um novo espaço dentro do campo da psiquiatria." E nisso teve especial importância a contribuição de Binswanger (cuja abordagem fenomenológica em psicopatologia, em suas diferentes fases, as quais mencionaremos a seguir, esteve apoiada nas fenomenologias heideggeriana e husserliana), ao questionar os fundamentos epistemológicos da psiquiatria (Binswanger, 1971).

Como se sabe, o pensamento fenomenológico de Binswanger pode ser dividido em três "fases"4(Tatossian, 2006; Moreira & Pita, 2013). Sem nos determos nas controvérsias acerca dessas fases, atentemos para alguns traços do desenvolvimento do pensamento fenomenológico de Binswanger, os quais são esboçados durante o momento em que Foucault trava diálogo com o grande psiquiatra suíço da "análise da presença, ou análise existencial" (Kuhn & Maldiney, 1971, p. 16); ainda que tenhamos de reconhecer a existência de importantes pontos de divergência entre os conceitos (Töpfer, 2013), métodos (Machado, 2015) e antropologias (Binswanger, 1964) de ambos os autores. Eis o que Moreira e Pita afirmam sobre esse momento do percurso de Binswanger:

[...] o conceito de Dasein fornece a Binswanger a oportunidade de aprofundar a descrição do paciente psicótico a partir de sua existência no mundo. A introdução deste conceito provoca uma modificação na antropologia fenomenológica de Binswanger que se torna Daseinsanálise [...] (Moreira & Pita, 2013, p. 683).

Nesse momento de sua obra, já fica claro o modo como Binswanger visa à construção de uma "ciência empírica, preocupada com uma abordagem antropológica da essência individual do ser humano" (Chamond, 2011, p. 4). É interessante notar que há aqui uma clara aproximação entre essa mesma definição e a apresentação da análise existencial feita pelo Foucault de Doença Mental e personalidade (1954).

O projeto binswangeriano é, pois, decorrente de um significativo interesse "antropológico e epistemológico pelo problema do psíquico" (Basso, 2010). Tal projeto encontra-se, desde a constituição da Daseinsanálise, fortemente marcado por uma crítica radical às concepções mecanicistas, "naturalistas" e psicodinâmicas da psicologia e da psiquiatria então vigentes. Como psiquiatra - e também como pensador - Binswanger dirige suas críticas a uma determinada concepção de homem que o naturaliza, incluindo a obra de Freud no arco de suas reflexões (Binswanger, 1973b; 1973c). Seu esforço intelectual se volta, antes de tudo, para uma antropologia fenomenológica (Binswanger, 1946).

Ora, os aspectos centrais da abordagem científica vigente "contra os quais a análise existencial se opunha", como bem lembra Novaes de Sá (2013, p. 373), eram "o determinismo causal aplicado à existência humana e a tendência de supor forças e complexos psíquicos ocultos sob os modos de ser diretamente perceptíveis". Em outras palavras, a crítica binswangeriana atinge em cheio as duas correntes majoritárias de sua época, o positivismo biologicista e o dinamicismo da psicanálise. Sua proposta pretende, por meio de uma retomada de conceitos da filosofia, reformar o entendimento psicopatológico e, por fim, toda a psiquiatria.

Ainda sobre a recusa de Binswanger em aceitar certo "dualismo de substâncias à moda cartesiana", conforme nos lembra Messas (2012, p. 183), Moreira & Pita (2013, p. 680) apontam justamente para o fato de que, em seu já citado texto de 1928, "Função Vital..." (Binswanger, 1973a), o psiquiatra suíço recusava a separação entre elemento psíquico e corporal. Essa posição binswangeriana pode ser compreendida como uma busca por estruturas antropológicas originais, que dão sentido à noção de causalidade. Essa introdução temática da complexidade da noção de causalidade no campo psicopatológico inaugurou um profícuo diálogo que se estendeu do período inicial da psicopatologia fenomenológica, no começo do século XX (Straus, 1930/1978), até a época contemporânea (Messas, 2016). Neste sentido, vale frisar um relevante motivo pelo qual, de acordo com Naudin (1997, p. 20, grifo nosso), o pensamento do psiquiatra e filósofo suíço buscou inspiração na fenomenologia de Husserl, a saber: "[...] se a linguagem heideggeriana convém à compreensão pática e biográfica do delírio, ela não permite uma melhor compreensão de sua gênese". Ora, se seguirmos Naudin, constataremos que a reviravolta husserliana de Binswanger, como iremos retomar adiante, de modo algum abandona a perspectiva biográfica, mas, pelo contrário, procura enriquecê-la, ampliando seu escopo antropológico, por meio do estudo das alterações das condições constituintes da consciência - a chamada gênese transcendental.

Em Doença mental e personalidade, os esforços de Foucault se voltaram para a consideração da doença mental e suas perturbações a partir de um "novo estilo de análise", cujas bases foram lançadas pela "análise fenomenológica" de Minkowski, Binswanger, Kuhn, entre outros; e que procura dar conta de formas de experiência - a angústia, por exemplo - que não se deixam "reduzir por uma análise de tipo naturalista", nem se esgotam em uma "análise de tipo histórico" (Foucault, 1954, p. 53). Como sustenta Foucault, em sua Introdução ao ensaio de Binswanger, trata-se de "uma forma de análise que se designa como fundamental em relação a todo conhecimento concreto, objetivo e experimental; cujo princípio e método enfim são determinados desde o início apenas pelo privilégio absoluto de seu objeto: o homem, ou melhor, o Ser-homem, o Menschsein" (Foucault, 1954, p. 10).

É curioso notar que, diferentemente dos outros membros do "'quadrunvirato fenomenológico' dos anos 1920" - no qual Binswanger figurava ao lado de Minkowski, Straus e Von Gebsattel -, os quais, segundo Tatossian, "são muito menos leva-dos a citar os filósofos, ao menos como garantias de suas análises, e não insistem além da medida em sua submissão à filosofia fenomenológica", toda a obra do psiquiatra-filósofo suíço, prossegue Tatossian, seja qual for a sua "fidelidade sempre discutida5 [...] às intenções próprias de Husserl e Heidegger, [...] está apoiada em cada página nas referências filosóficas e técnicas explícitas e se reconhece como tal" (Tatossian, 2006, p. 32).

Não por acaso, de 1952 a 1954, será Foucault o colaborador da germanista e tradutora Jacqueline Verdeaux, na tarefa de verter para a língua francesa, pela primeira vez, um desses textos crivados de referências filosóficas que foi o "manifesto programático" - como quer Basso (2010) - da Daseinsanálise, qual seja, o já mencionado ensaio intitulado Sonho e existência (Eribon, 1989, p. 63 et seq.). Esse texto, que em extensão ultrapassou o próprio ensaio de Binswanger, pode ser considerado, segundo Castro (2009, p. 54), como "o ponto de maior aproximação entre Foucault e a fenomenologia".

Sabemos que, pelos menos em um primeiro momento, para Binswanger (e também para o Foucault leitor e, de certa maneira, "adepto" do modelo analítico-existencial binswangeriano), a experiência onírica revelou-se como uma "experiência imaginária absolutamente privilegiada, na medida em que desvela, através de sua rede de imagens, a estrutura fundamental da existência humana." (Sabot, 2014, p. 48). Em Sonho e existência, o esforço de Binswanger concentra-se na tentativa de esclarecer o lugar e a importância do sonho no seio desse fundamento que é a própria existência (Binswanger, 1954, p. 193). Para tanto, à diferença do empenho que havia demonstrado anteriormente no sentido de uma "problematização epistemológica da psicologia e da psiquiatria", o Binswanger de Traum und Existenz revela a grande "ambição filosófica de conjugar a analítica fenomenológica de Heidegger com a psicopatologia." (Basso, 2012, p. 88).

Entretanto, apesar do diálogo constante do psiquiatra suíço com o "pai da psicanálise", a "psicopatologia fenomenológica" de Binswanger, conforme Chammond (2011, p. 4), "não buscava uma verdade do sintoma ocultada pelo inconsciente, como era entendida pela psicanálise"; antes, procurava compreender o paciente como "intérprete de seu próprio sofrimento". A perspectiva de Binswanger, notadamente no momento em que se encontra imbuída da fenomenologia descritiva de Husserl, afasta definitivamente de seu horizonte teórico a noção de inconsciente instaurada pela psicanálise freudiana; e isto porque, ao destacar essa mesma noção, o fundador da psicanálise naturalizava e mecanizava o homem, tornando-se incapaz de identificar o genuinamente humano de suas vivências (Binswanger, 1973c).

Sobre essa mesma discussão, cabe-nos aqui ressaltar o fato de que Foucault, desde os seus primeiros textos, dirigirá igualmente suas críticas a Freud, descobrindo no Binswanger da Daseinsanálise um aliado de fundamental importância. Afinal, qual seria o escopo desses primeiros estudos empreendidos por Foucault? A propósito dessa interrogação, Nalli explica que:

Enquanto na Introdução a O Sonho e a existência Foucault se posicionava em prol da proposta de análise de Binswanger em oposição tanto a Freud como a Husserl, em Doença Mental e personalidade ele buscou assinalar os elementos, a um só tempo existenciais e ontológicos, que caracterizam tanto a consciência como o universo patológico do doente mental, exatamente em consonância com sua leitura de Binswanger. Essa unidade entre consciência e mundo (tomamos aqui 'universo' e 'mundo' como sinônimos) forma uma estrutura (Nalli, 2006, p. 39).

Arqueologia versus Fenomenologia?

Sabemos que as pesquisas de Foucault não escaparam às críticas de seus contemporâneos. A recepção da História da Loucura, por exemplo, pela psiquiatria francesa, foi marcada por uma forte crítica, por meio da qual a postura intelectual de Foucault seria taxada de "ideológica" (Basso, 2012, p. 89). Certo é que os críticos de Foucault - como Henry Ey, ou o próprio Minkowski (1999, p. 70), que elogiara efusivamente a Introdução de 1954 a Le Rêve et l'existence - terminaram por recriminar sua postura "psiquiatricida" (Roudinesco, 1994, p. 11); postura essa, segundo Basso (2012, p. 89), que esses mesmos críticos consideravam contraditória com "as primeiras obras do filósofo", sobretudo com a Introdução ao ensaio de Binswanger.

Em uma entrevista concedida a Raulet, cujo tema girava em torno do estruturalismo e do pós-estruturalismo, Foucault se pergunta: "Será que um sujeito de tipo fenomenológico, 'transhistórico', é capaz de dar conta da historicidade da razão?"; para em seguida indicar, justamente, o autor que teria encetado o seu afastamento da tradição fenomenológica6: "É aí que, para mim, a leitura de Nietzsche foi a ruptura: há uma história do sujeito, exatamente como há uma história da razão; e desta, a história da razão, não se deve requerer a extensão a um ato fundador e primeiro do sujeito racionalista." (Foucault, 2001, p. 1255).

Mas apesar da imposição desta suposta pecha de 'transhistoricidade' à tradição fenomenológica, Foucault não conservaria, por mais tempo do que comumente se imagina, certa "atitude fenomenológica", qual seja, a da interrogação sempre renovada das "evidências fundamentais"? (Foucault, 2001, p. 1569). Neste sentido, parece-nos digna de interesse a evocação do autor das Considerações intempestivas, como um alerta contra "qualquer procedimento intelectual que, digamos, erre na dose de utilização do passado como insumo cognitivo" (Messas, 2010, p. 9). Com efeito, Nietzsche (2003, p. 17) assevera que, "em meio a um certo excesso de história, a vida desmorona e se degenera [...]"; e ainda propõe uma doutrina da saúde na qual "o a-histórico e o supra-histórico são os antídotos naturais contra a asfixia da vida pela história, contra a doença histórica" (Nietzsche, 2003, p. 96).

Ora, esse "louco mestre alemão" que inegavelmente provocou impacto no pensamento foucaultiano (Nalli, 2009, p. 108), afinal teria sido ineficaz, no caso de Foucault, como "antídoto natural" capaz de agir "contra a asfixia da vida pela história, contra a doença histórica", por conta da "fraqueza7de acreditar na história, mesmo quando se trata da existência"? (Foucault, 1954, p. 41).

Em Doença mental e personalidade, precisamente em sua introdução, Foucault (1954, p. 2) sustentara que a origem da patologia mental não devia ser buscada em "uma especulação sobre uma 'metapatologia' qualquer, mas somente em uma reflexão sobre o próprio homem". Conforme a análise de Ribas (2014, p. 55-57), na posterior introdução remanejada desse mesmo texto (que, como dissemos, seria então chamado de Doença mental e psicologia), lê-se o seguinte acréscimo: "Gostaríamos de mostrar que a raiz da patologia mental não deve ser buscada em uma 'metapatologia' qualquer, mas em certa relação, historicamente situada, do homem ao homem louco e ao homem verdadeiro" (Foucault, 1962/2005, p. 2). Ora, esta "relação historicamente situada", à qual Foucault se refere nesse último texto, em certo sentido dará ensejo a um distanciamento do modelo de análise das patologias mentais preconizado por Binswanger e do qual Foucault (sequioso por criticar o modelo "organicista", a psicanálise e certa tradição em fenomenologia) fizera um grande elogio, quase irrestrito, tanto em sua Introdução à tradução de Sonho e existência quanto em Doença mental e personalidade.

Após essas observações, portanto, não é de estranhar a afirmação que - como observa Basso, em seu Posfácio à tradução francesa de Sonho e existência -, de forma "quase provocativa" (Basso, 2012, p. 89), encerra o sexto capítulo ("A loucura, estrutura global") da última parte de Doença mental e psicologia. Eis o que assevera Foucault: "Na realidade, somente na história é que podemos descobrir o único a priori concreto em que a doença mental, com a abertura vazia de sua possibilidade, obtém suas figuras necessárias" (Foucault, 2005, p. 101).

Contudo, não nos parece despropositado lembrar o fato de que a "via aberta pelo método fenomenológico à análise existencial, na qual o Dasein está diretamente em jogo, leva necessariamente a uma reflexão sobre a condição do homem na psiquiatria e a uma análise das principais concepções de homem que determinaram historicamente e de maneira significativa essa condição" (Kuhn e Maldiney 1971, p. 14, grifo nosso).

Ora, as principais obras de Binswanger, embora procurem, de fato, um a priori antropológico como fundamento da psicopatologia, consideram que o único modo de sustentar esse encontro com os a priori é a investigação histórica minuciosa dos detalhes de uma vida singular. Seus cinco casos clínicos daquela que é talvez sua obra maior, a saber: Esquizofrenia (1957), são um libelo pela defesa da individualidade contra a abstração de modelos gerais interpretativos da doença mental. A doença mental é uma tipicidade que pode ser vista como essencialmente geral da humanidade, mas apenas em suas atestações ônticas, visualizadas na progressão dos acidentes e incidentes, das alternativas e imposições de existências (Dasein) historicamente situadas. Ademais, como aponta Basso (2009, p. 15), é somente prescindindo de "qualquer caracterização filosoficamente 'forte' da noção de a priori" que Binswanger pôde assumir o termo em sua procura pelos fundamentos da existência. Mesmo nas obras finais de Binswanger (1960; 1965), muito criticadas por Tatossian (2006), pelo seu grau de abstração, não se pode deixar de mencionar o fato de que a utilização do aparato husserliano para a revisão do sentido antropológico das patologias mentais é apoiado extensamente nas vicissitudes existenciais de casos clínicos. Há, assim, como indica o próprio Binswanger (1960, p. 13; 1965, p. 12), dizendo-se surpreso com as críticas a sua suposta conversão husserliana, uma continuidade entre a sua fase daseinsanalítica e a fenomenológica. Assim, entendemos que a aparente distância do pensamento foucaultiano em relação à obra de Binswanger, quando o filósofo francês rejeita a noção de um a priori antropológico geral e assume a particularidade histórica dos a priori, é, por assim dizer, injustificada, na medida em que também o psiquiatra suíço jamais recusou em absoluto a noção de historicidade em sua concepção de a priori. E quando aparentemente o fez, empregou o conceito de um modo intimamente ligado às historicidades singulares humanas.

A despeito dos aspectos que indicamos mais acima - a análise crítica das abordagens psico(pato)lógicas então vigentes e, naturalmente, a busca de uma alternativa à psicanálise -, os quais nos parecem aproximar as pesquisas do jovem Foucault ao Binswanger de Sonho e Existência, a investigação do interesse de Foucault, a partir dos anos 1950, pela psiquiatria existencial, súbito encontra obstáculos que, se nos fiarmos nas rigorosas pesquisas de Basso (2012; 2011; 2010; 2008), uma vez enfrentados, poderão nos conduzir ao cerne não apenas das dissensões entre os dois autores, mas, em um determinado momento, a uma insuspeitada espécie de koinonia metodológica.

Neste sentido, parece-nos defensável a existência de uma "coerência" entre o pensamento de Foucault e o de Binswanger (Basso, 2011). Tal coerência, segundo a autora italiana, revela-se no seio das proposições referentes à noção de a priori em Foucault (o chamado a priori histórico) e em Binswanger (o a priori estrutural, como o designa Basso, identificando-o, sobretudo, na fase daseinsanalítica do psiquiatra suíço). Com efeito, na obra intitulada Três Formas da Existência Malograda, ao citar o Heidegger de Ser e Tempo, em uma longa passagem que, segundo Messas (2010, p. 1), remete àquela busca por um "arcabouço último" das "vivências psicológicas", Binswanger sustenta que:

[...] a ontologia do ser-aí trouxe à luz uma estrutura essencial apriórica, juntamente com elementos estruturais essenciais (os 'existenciais') que permitem ao psiquiatra investigar e descrever as formas mórbidas a serem investigadas e descritas por ele como modificações fácticas dessa estrutura apriórica. (Binswanger, 1977, p. 188, grifo nosso).

Neste ponto, ao tangenciarmos o conceito de estrutura, vale lembrar o apontamento de Messas, segundo o qual a "atitude fenomenológica em psicopatologia", desde o seu "momento fundador" (i.e., os anos 1920), justamente "procura escavar a epiderme das vivências psicológicas em busca de seu arcabouço último, fornecedor das condições de possibilidade da própria consciência e, com ela, da mesma existência" (Messas, 2010, p.1). "Existir - prossegue Messas - é integrar-se necessária e inescapavelmente consigo mesmo, com o mundo do semelhante humano e com o mundo circundante cósmico. Desvendar as modalidades e características dessas amarras primordiais da existência, quando dadas as condições de seu colapso, vem sendo, pois, a tarefa da fenomenologia psicopatológica" (Messas, 2010, p.1).

Ao examinar esta aproximação entre o a priori histórico (Foucault) e seu correspondente estrutural (Binswanger), Basso aponta para a função do conceito de a priori na economia de alguns dos principais textos das diferentes fases ("proto-arqueológica", arqueológica, genealógica e ética) do filósofo francês, assim como na obra do psiquiatra suíço. Ao realizar essa tarefa, lança luz ao arcabouço teórico a partir do qual (ou contra o qual) vão surgindo os contornos do pensamento de Foucault e o de Binswanger, no que se refere às noções de a priori histórico e a priori estrutural, identificando a metodologia como o ponto de convergência entre ambos os autores, que acabam por divergir apenas secundariamente, nos campos de aplicação dessa metodologia. Assim, sustenta Basso (2011, s/p): "[...] se é possível assinalar uma coerência entre o programa de Binswanger e a arqueologia, isto se dá em um plano metodológico: Foucault teria de alguma maneira retomado o modelo da análise binswangeriana das estruturações normativas das formas de experiência ou dos 'projetos de mundo', desenvolvendo seu princípio metodológico em um plano epistemológico, isto é, no projeto de estudar os saberes a partir dos saberes mesmos, de suas for-mas intrínsecas, de seu funcionamento."

Não parece, portanto, despropositado, afirmar que Foucault, ainda que sem o desejar, tenha conduzido a novas fronteiras um método de investigar o mundo inaugurado por Binswanger, guardando suas características centrais (Smyth, 2011). A arqueologia e a fenomenologia não se situam, enfim, de modo tão oposto como poderiam aparentar; ou seja, a arqueologia não se afastou tanto de uma antropologia trans-histórica, nem a fenomenologia binswangeriana foi tão insensível à historicidade.

À guisa de conclusão (ou apontamentos sobre um debate inconcluso)

Em certo sentido, não deixa de ser problemática a atitude de Foucault diante da fenomenologia, pois em diversos de seus escritos - principalmente a partir da fase arqueológica, passando pelas genealogias, até a chamada fase ética -, há um sem-número de apontamentos críticos que às vezes só parece corroborar a opinião segundo a qual o breve período da aproximação entre o leitor de Binswanger, o então jovem Foucault, filósofo e estudante de psicologia, e aquele grande fundador da Daseinsanálise, afinal de contas, teria sido um episódio absolutamente marginal, se comparado às viradas antiantropológica e antifenomenológica de um Foucault posterior e, em geral, mais conhecido e com melhor acolhida entre os filósofos e historiadores de filosofia (Basso, 2011).

A partir das análises de diversos comentadores e da leitura de algumas de suas obras fundamentais, pudemos perceber certos pontos de contato, muitas vezes insuspeitados, entre o pensamento de Foucault e o de Binswanger, sobretudo na recusa de modelos explicativos organicistas e psicodinâmicos; e na utilização metodológica da noção de a priori ou, precisamente, no que diz respeito a uma possível convergência entre o funcionamento do a priori histórico em Foucault e o da "historicização do a priori".

Como bem observou Eribon (1995, p. 201), no pensamento de Foucault, podemos encontrar certos "ecos" da fenomenologia e da psiquiatria existencial binswangeriana na "ideia de uma 'experiência' fundamental da loucura". Neste sentido, lembremos a significativa indicação de Foucault, mediante a qual esse pensador multifacetado nos lembra que, ao fazer a história da loucura, em vez da descrição de um "tipo psicológico" (i.e., o louco), ao longo de aproximadamente "cento e cinquenta anos de sua história", o que suas pesquisas afinal alcançaram se inscreve menos nos âmbitos da "crônica das descobertas" e da "história das ideias" do que no da investigação daquilo que, no capítulo com o qual conclui sua História da loucura, ele caracteriza como o "encadeamento das estruturas fundamentais da experiência" (Foucault, 1972, p. 653). No entanto, também não devemos esquecer que essa tese, a qual foi redigida aproximadamente na segunda metade dos anos 1950, pode ser compreendida como uma "etapa intermediária e decisiva neste percurso, já que se trata, nesta circunstância, de vincular a análise de uma experiência (aquela da loucura) às suas condições históricas de possibilidade, fazendo-a assim escapar à miragem de uma consciência constitutiva e de uma significação subjetiva, a-histórica" (Sabot, 2014, p. 50).

Enfim, não seria descabido recuperar, a propósito da conclusão de As palavras e as coisas, muitas vezes lida como a indicação de uma vaga de certo pessimismo antropológico foucaultiano, a afirmação de Nalli (2009, p. 114), segundo a qual esta "conjectura do fim do homem como tema/problema do pensamento, como limite arqueológico-histórico da modernidade que ainda é a nossa, também é, de modo mais específico, uma aposta pelo fim histórico da fenomenologia como todas as filosofias do sujeito". Todavia, prossegue Nalli, não devemos nos perguntar, antes, se esse prognóstico sinalizaria que:

[...] enfim, Foucault teria se liberado de toda a fenomenologia? Mas será que Foucault tinha tal pretensão? Será que um dos aspectos mais instigantes dessa relação voltada ao desaparecimento não reside justamente na tensão constante que ela implica? E que esse desaparecimento, mais do que aniquilamento, deve ser pensado como esquecimento; naquele velho sentido presente tanto na fenomenologia quanto em Foucault, de que o esquecimento se faz fundamental? Não temos respostas para tais questões... (Nalli, 2009, p. 114).

Nós tampouco as temos. Todavia, claro está que essas mesmas questões afinal suscitam, como lembra Nalli (2009, p. 114), "novas maneiras de pensar velhos problemas", de refletir sobre os "empreendimentos filosóficos e analíticos" de autores da envergadura de Foucault, ou de Binswanger, ou até mesmo de elucidar alguns aspectos da oportuna aproximação entre os esforços teóricos de ambos.

 

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Recebido em 27.03.2017
Primeira Decisão Editorial em 25.09.2017
Aceito em 24.10.2017

 

 

1 Um rigoroso cotejo entre esses dois textos encontra-se em Ribas (2014, p. 53-87).
2 Empregaremos, aqui, o termo utilizado por Nalli (2006) para designar os textos da fase anterior à(s) chamada(s) arqueologia(s) de Foucault.
3 Para uma discussão mais aprofundada sobre as origens e o desenvolvimento da psicopatologia fenomenológica, remetemos o leitor ao já citado artigo de Holanda (2011).
4 Cabe-nos, aqui, lembrar que Spiegelberg (1972) não dividia o pensamento de Binswanger em três fases, e sim em quatro, a saber: a chamada "fase pré-fenomenológica", a "primeira fase husserliana", a "fase heideggeriana" e a "segunda fase husserliana" (p. 200).
5 Sobre as críticas à importação da filosofia heideggeriana por Binswanger, ver Loparic, 2002; Heidegger, 2009.
6 Ainda que, na suposta "influência" de Nietzsche na ruptura de Foucault com a fenomenologia, haja algumas nuanças a serem ressaltadas, conforme indicação de Nalli (2009, p. 108).
7 É o próprio Foucault quem o confessa, precisamente na Introdução ao ensaio de Binswanger: "[...] temos a fraqueza de acreditar na história mesmo quando se trata da existência" (Foucault, 1954, p. 41).

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