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Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.24 no.3 Goiânia dset./ez. 2018

http://dx.doi.org/10.18065/RAG.2018v24n3.10 

ARTIGOS: RELATOS DE PESQUISA

 

Fenomenologia e relatividade: Husserl, Weyl, Einstein e o conceito de essência

 

Fenomenología y Relatividad: Husserl, Weyl, Einstein y el Concepto de Esencia

 

 

Giorgio Jules Mastrobisi

PhD na Universidade de Salento (Itália) sobre a fundação fenomenológica da Teoria da Relatividade de Einstein, supervisionada pelo professor Thomas Nenon (Memphis, TN, EUA), em 2004. Também editou um manuscrito não publicado de Einstein, que ele chamou de "Manuscrito de Cingapura", que agora é publicado no recente volume XIII dos Collected Papers de Einstein, da Universidade de Princeton. orcid.org/0000-0002-8054-7932. Email: jmastrobisi@hotmail.com

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é desenhar uma nova concepção de "essência", a partir da análise das obras de Husserl (por exemplo, Filosofia da Aritmética, Investigações Lógicas, Ideias) e comparando com as considerações de Einstein e Weyl (a maioria delas inéditas) sobre fundamentar um novo método que combina "análise filosófica da essência" e "construção matemática". A pesquisa sobre a natureza física do espaço-tempo nos fornece um exemplo de análise fenomenológica pura das essências. Ao desenvolver essa concepção de essência, a subjetividade e a consciência fenomenológicas desempenham um papel importante para representar uma representação relativamente objetiva da realidade das coisas. Por essa razão, o objetivo principal deste trabalho é buscar a complementaridade entre objetividade e subjetividade na consciência representacional e na produção de essências; Além disso, este estudo tem como objetivo demonstrar como a intersubjetividade fenomenológica atua na constituição das essências, para que possamos considerar a constituição das essências intersubjetivas como um caso possível de construção de um mundo real.

Palavras-Chave: Fenomenologia, Relatividade, Essência, Consciência, Subjetividade.


RESUMEN

Este trabajo pretende dibujar una nueva concepción de "esencia", comenzando por el análisis de las obras de Husserl (por ejemplo, Filosofía de la aritmética, Investigaciones lógicas, Ideas) y comparando las consideraciones de Einstein y Weyl (la mayoría de ellas inéditas) sobre cómo establecer un nuevo físico método que combina "análisis filosófico de la esencia" y "construcción matemática". La investigación sobre la naturaleza física del espacio-tiempo nos proporciona un ejemplo de análisis fenomenológico puro de las esencias. Al desarrollar esta concepción de la esencia, la subjetividad fenomenológica y la conciencia juegan un papel importante para representar una representación relativamente objetiva de la realidad de las cosas. Por esta razón, el propósito principal de este artículo es tratar de abordar la complementariedad entre la objetividad y la subjetividad en la conciencia representacional y en su producción de esencias; además, este estudio pretende demostrar cómo la intersubjetividad fenomenológica actúa sobre la constitución de las esencias, de modo que podríamos considerar la constitución de las esencias intersubjetivas como un posible caso de construir un mundo real

Palabras-Clave: Fenomenología, Relatividad, Esséncia, Consciencia, Subjetividad.


 

 

Introdução

No mesmo ano da publicação de Crise, de Husserl, em artigo denominado Física e Realidade, Albert Einstein (1936) afirmou que os físicos se veem trabalhando com um sistema rígido de conceitos e leis básicas e claramente estabelecidas, mas que isso é um problema sério, em uma época em que as bases primordiais da física se tornaram problemáticas. Para Einstein, a ciência como um todo não é mais do que um mero refinamento do pensar cotidiano (Einstein, 1936; Husserl, 1954; Merleau-Ponty, 1960). Por essa razão, o pensamento crítico do físico não pode ser restrito à avaliação de conceitos do seu próprio campo de trabalho (Einstein, 1936).

Em Logica formal e transcendental, Husserl (1929) já havia afirmado que as ciências falham ao entender a parcialidade essencial de suas produções; de fato, a ciência relaciona suas pesquisas combinadas à universalidade do ser e a sua unidade essencial fundamental. A condição atual das ciências Europeias necessita de investigações radicais sobre o sentido, portanto essas ciências perderam a crença maior em si mesmas, em sua significação absoluta (Husserl, 1974). Mas, a obra Sense-investigation (die Besinnung) de Husserl representa um esforço em produzir o sentido em si mesmo, o sentido no modo de uma clareza plena ou de uma possibilidade essencial (Husserl, 1974). Presumo que a existência real das coisas, que constitui o objeto da física, só é dada e somente pode ser dada como uma correlação intencional dos processos da consciência de um egopuro e dotado de sentido (Weyl, 1918). O mundo físico, presente em nossas vidas, um mundo objetivo, é por necessidade um mundo relativo e que pode ser representado por números ou outros símbolos, mas somente depois que um sistema de coordenadas tenha sido arbitrariamente levado para dentro desse mundo. Tempo e espaço intuitivos são o meio adequado no qual a física constrói o mundo externo. As investigações sobre espaço e tempo nos parecem um bom exemplo da análise das essências (die Wesenanalyse) almejada pela filosofia fenomenológica e um exemplo clássico para estes casos nos quais lidamos com uma essência não imanente. O que resta, em última instância, é uma construção simbólica exatamente como aquela que Hilbert trabalha na matemática (Weyl, 1949).

Por essas razões, a formulação da teoria da Relatividade de Albert Einstein, segundo Hermann Weyl, um de seus maiores parceiros e colaboradores, compreende "um método que combina Wesenanalyse (análise da essência) com a mathematische Konstruktion (construção matemática)" (Weyl, 1956, p. 26).

Nesse artigo, tenho a intenção de esclarecer que o conceito de essência, que Einstein e Weyl receberam da fenomenologia de Husserl, está estritamente conectado a esse par de opostos: subjetividade-absoluta e objetividade-relativa, de um lado, mas por outro, essa concepção deve ser considerada de uma maneira intersubjetiva que se redefine, como consequência da irredutibilidade entre Erleben (experienciar) e Erfassen (compreender), no processo de compreensão da realidade das coisas. Para esta interpretação, todos os objetos sensoriais existem como essência, no sentido fenomenológico, de um modo específico e possível da consciência-dada, e em um processo intersubjetivo contínuo, a fim de esclarecer e compreender sua totalidade e objetividade (Zahavi, 2003).

Mas é preciso enfatizar que, para Husserl, o que o conhecedor pretende não é apenas o que vivencia diretamente, mas o que é objetivo nesse processo, ou seja, o que pode ser experienciado por qualquer conhecedor ou uma comunidade de conhecedores, na qual cada indivíduo está ciente de si mesmo como sendo uma instância meramente falha do processo de conhecimento. Husserl demonstra também como essas essências, estas estruturas formais são relativas, também, no sentido de apontar para um tode ti, um objeto individual e concreto que existe de forma independente das estruturas formais (Husserl, 1977; Zhok, 2012). Nesse sentido, a essência em si mesma depende do indivíduo concreto. Portanto, cada um dos dois lados dessa relação, o formal/essencial e o material/individual/empírico, permanece um em relação ao outro, de modo que ambos mantêm a diferença entre si, ao mesmo tempo em que demonstram que não podem ser compreendidos adequadamente estando separados dessa relação ou em situação de relatividade com o outro lado (Zahavi, 2016). Assim, a relatividade e a subjetividade, mostram-se como alternativas não excludentes, mas sim necessariamente conectadas uma a outra nessa concepção de essência. Nesse sentido, podemos falar de uma Relatividade fenomenológica.

Na tentativa de resolver essa questão, procuro mostrar nas duas primeiras seções como e porque o espaço-tempo, às quais a Teoria da Relatividade está intimamente conectada, podem ser consideradas como essências em um sentido fenomenológico e como podem manter sua objetividade na ciência. Afirmo que toda essência relativa a algo físico resulta de diferentes camadas multifacetadas e oriundas de visões distintas, um tipo de essência de uma categoria diversificada e constituída na minha consciência. Para esta concepção, os estudos iniciais de Husserl são os mais relevantes (Husserl, 1901), por estarem voltados ao conceito de número, noções de lógica-matemática de konnective Verbindung e Variations-Rechnung, tais como a fórmula de Riemann para uma teoria de multiplicidade n-dimensional (Husserl, 1891, p. 232; Becker, 1923, p. 401; Boi, 1995, pp. 127-172). Procuro também definir o papel da subjetividade fenomenológica e, portanto, o papel do observador, com suas estruturas e funções psicofisiológicas (kinesthesis) (Husserl, 1973, 1992; Farber, 1940), ou seja, o conhecedor na relação entre percepção e realidade.

Nas duas últimas seções, busco explicar minhas ideias sobre a importância do Mundo-vida e da intersubjetividade na constituição física das essências. Na verdade, o conhecimento do mundo científico-objetivo está fundamentado na autoevidência do Mundo-vida. Em outras palavras, coisas e objetos nos são dados fenomenologicamente como sendo válidos para nós, mas de tal modo que estejamos conscientes deles como coisas ou objetos no mundo-horizonte. Nesse Mundo-vida, os co-sujeitos desta experiência constituem, eles mesmos, para mim e para o outro, um mundo aberto e de infinitos instrumentos possíveis, como construções simbólicas da matemática e da geometria, permitindo-nos representar uma série de essências de maneira intersubjetiva. A relatividade dessas essências mostra a possível existência de uma consciência dada, dentro de um processo de esclarecimento contínuo, redefinindo sua objetividade e validade. A este processo denomino constituição intersubjetiva das essências. Minha conclusão é fundamentada em algumas reflexões de Einstein, ainda inéditas, mas que me parecem certas no sentido de responder a esse grande problema de Husserl que é a constituição intersubjetiva do mundo.

 

Essência-eìdos como Realidade, de categoria diferente, e o papel da Subjetividade

Referimo-nos à concepção de essência, não em um sentido metafísico da substância - o conceito aristotélico de ousìa -, mas sim considerando o conceito platônico de eidos, ideia, que envolve diretamente o ato de ver. Contudo, nesse sentido, o eidos é um resultado, uma cópia das realidades que "eu vi", em um mundo superior e que se ergue sobre o mundo material. Por essa razão, a pesquisa sobre essências (Wesensforschung) é a coordenação perfeita entre a Ideenschau e a Ideenerkenntnis, que definimos como um conhecimento a priori (Husserl, 1988, p.13).

Husserl (1956) parece aceitar esta caracterização do conceito de essência, mas a concepção de eidos, livre da relevância platônica transcendental, é profundamente influenciada pela relevância transcendental de Kant. Na filosofia kantiana, a essência é: "o princípio mais íntimo que trata da possibilidade da existência de algo no geral" (Kant 1973, p. 467). Portanto, o ato psicofisiológico interior de ver e o conceito lógico de possibilidade são estabelecidos juntos na concepção fenomenológica da essência e que é a base da nossa experiência e do nosso conhecimento.

Em Ideias I, Husserl define essência como um novo tipo de objeto, um objeto individual e que confere a si mesmo uma visão eidética. Por essa razão, a experiência é uma visão empírica, ou seja, é a consciência de um objeto individual: o que é visto quando esse fato ocorre, corresponde à essência pura ou Eidos, como sendo a categoria mais alta ou uma particularização da ausência de categorias - reduzida à concretização plena. A especificidade de certas categorias de essências é tal que as essências podem ser apenas parciais, mesmo sendo diversificadas. Contudo jamais são unilaterais. A singularização individual dessas essências pode ser experienciada de maneira similar, sendo objetivada apenas em intuições empíricas erroneamente unilaterais (Husserl, 1913a).

Toda essência relacionada a alguma coisa física é a composição de diferentes camadas diversificadas de visão: a Ding não é determinada em si mesma como constituinte espacial, pois é um tipo de essência diversificada constituída em minha consciência. Por essa razão, os primeiros estudos de Husserl sobre o conceito de número, além das noções de konnective Verbindung (representação coletiva) e Variations-Rechnung (cálculos de variações) integram a base formal e matemática da sua concepção de essência, tal como a fórmula n-dimensional plural ou variada de Riemann (Husserl,1983). É especificamente relevante, desse ponto de vista, a formulação Husserliana, nos Prolegomena para as Investigações Lógicas. Essa formulação trata de uma teoria ou doutrina plural na qual o matemático teoriza seus objetos pensados como objetos que possuem relações possíveis, determinadas em uma ontologia formal (Husserl, 1901, 1913b).

Por essa razão, uma essência é consciência de uma coisa, um objeto, de algo ao qual o olhar intuitivo está direcionado e atribuído a si mesma apenas na intuição; qualquer objeto possível - logicamente falando - e tem prioridade sobre todo pensamento predicativo; mais precisamente as maneiras de se tornar o objeto de uma objetivação, uma consideração intuitiva que alcança a si mesma, em sua individualidade pessoal, e que tira proveito disso. Ver uma essência equivale a perceber no sentido gestacional, não como um mero e talvez vago tornar-presente. A percepção é uma intuição originalmente presentiva, tirando proveito da essência em sua individualidade (Husserl, 1913a, p. 10). Fenomenologicamente, podemos dizer que o mundo natural é pensado como um correlato da consciência, e o que as coisas são, são objetos da experiência. A experiência por si dá sentido a elas: o Erlebnisse, assim como nossas maneiras de viver a experiência, como percepções de coisas são correlatas de nossas experiências factuais, nas quais o mundo real parece ser um dos muitos mundos possíveis, correlatos de modificações eidéticas possíveis da nossa ideia de consciência experiencial (Husserl, 1913a, p. 10).

Este eidos deve manifestar completamente todas as formas de estados mentais em potencial, deve estar presente em todas as combinações sintéticas e totalidades auto delimitadas e enclausuradas; pois, se é para ser pensável, é intuitivamente concebível. A psicologia fenomenológica, não como ingenuidade, mas como fenomenologia eidética é, portanto, direcionada exclusivamente para as formas essenciais invariantes. Por exemplo, a fenomenologia da percepção dos corpos será a apresentação de sistemas estruturais invariantes sem o qual a percepção de um corpo, e a multiplicidade de percepções concordantes de um ou do mesmo, seria impensável (Husserl, 1997).

Nesse sentido, Husserl (1917) diz claramente que a experiência de alguma coisa externa e física é em si mesma, uma experiência mental, mas relacionada a parte física através de nossas experiências intencionais. Naturalmente, a coisa física vivenciada em si mesma, pressuposta como sendo fisicamente real, o real coisificado, com todos os seus momentos reais de necessidade, não pertence ao nosso inventário próprio de essências, comum no processo de vida experiencial (Husserl, 1976).

Husserl (1936) afirma que na consciência, os órgãos da percepção assumem um papel constante, quanto à sua função de perceber, ouvir, etc, juntamente com a motilidade do ego chamada de kinesthesis. Assim, a sensibilidade, o funcionamento ativo do ego de um corpo vivo (Leiblichkeit) ou de órgãos corporificados, pertence de um modo fundamental a toda experiência dos corpos. Isso ocorre na consciência apenas em combinação com o corpo vivido em funcionamento de modo sinestésico, ou seja, o ego envolvido em uma atividade específica e habitual (Husserl, 1954).

Sendo assim, em termos de percepção, corpo físico e corpo vivido (Körper e Leib) são essencialmente diferentes ‒ o corpo vivido é único e é dado a mim como tal na percepção, meu próprio corpo vivido (Husserl, 1954, 1992), o observador privilegiado (o Beobachter na Relatividade de Einstein como ponto de origem de um sistema modelado). Entretanto, se é para mostrar sua existência através dos objetos do mundo, eles necessariamente se mostram como corpos físicos, o que não significa que se mostrem sempre dessa forma; nós, de maneira similar, embora relacionados através do corpo vivido a todos os objetos existentes, não somos relacionados a eles unicamente como um corpo vivido (Husserl, 1954).

A consciência do mundo, portanto, está em movimento constante; estamos conscientes do mundo sempre em termos de diferentes maneiras de sermos conscientes.

 

Essência e Mundo Real

De modo geral, atribuímos uma existência real a coisas materiais e as aceitamos como constituídas, modeladas e coloridas, conforme as percebemos (Weyl, 1952). Essas coisas materiais estão imersas em uma diversidade de realidades análogas que se unem para formar um espaço de mundo único e sempre-presente ao qual eu pertenço, com o meu próprio corpo. Com Kant, Hermann Weyl (1918), em sua grande obra Space, Time, Matter afirma que o espaço é apenas uma forma da nossa percepção; e que no reino da física, talvez apenas a Teoria da Relatividade o tenha tornado quase real, ou seja, as duas essências, espaço e tempo, não têm lugar no mundo construído pela moderna física matemática (Weyl, 1952).

O mundo real, e qualquer um dos seus constituintes do mundo real são, e somente podem ser dados, diz Weyl (1952, p. 5), "como objetos intencionais de atos de consciência". Eu "tenho" a percepção, porém só "conheço" algo relativo a ela quando a tenho, assim como o objeto intencional de uma nova percepção interiorizada. Neste segundo ato, o objeto intencional é imanente: assim como o ato em si mesmo, é um componente real do meu fluxo de experiências; porém, no ato primário da percepção, o objeto é transcendente: ele nos é dado na experiência da consciência, mas não é um componente real dela. O que é imanente é absoluto, é exatamente o que é na forma como o tenho em sua essência, através de atos de reflexão.

Por outro lado, objetos transcendentais tem apenas uma existência fenomenológica no meu fluxo de consciência; eles são essências porque eu os "vejo" como aparências e porque apresentam uma diversidade de "gradações", de diversas maneiras (Weyl, 1952). É a natureza de uma coisa real, inesgotável em sua essência. Podemos ainda obter um insight ainda mais profundo deste conteúdo eidético através da adição contínua de novas experiências, de onde surge a característica empírica de todo o nosso conhecimento da realidade.

Os conteúdos da consciência não se apresentam simplesmente como 'ser' (tais como concepções e números, etc.), mas como um ser agora, preenchendo um presente duradouro e de conteúdo variável. O tempo é a forma primitiva do fluxo de consciência (Husserl, 1928), de modo que alguém não diz que é, mas este é o agora, agora e não mais. Se nos projetarmos para fora do fluxo de consciência e representarmos seu conteúdo como um objeto, o fluxo torna-se um evento acontecendo no tempo, os diferentes estágios se posicional um ao outro em relações de antes e depois (Weyl, 1952). Em outras palavras, cada coisa material pode ocupar igualmente uma posição diferente no espaço a partir de sua posição atual, sem mudar seu conteúdo. Esta é a propriedade da homogeneidade do espaço que é a raiz da concepção congruente (Rickman, 2005).

A consciência, sem a guarnição de sua imanência, torna-se um recorte da realidade. Assim, a consciência expande sua rede na forma de tempo, acima da realidade. Mudança, movimento, passagem do tempo, tornar-se e cessar de ser, existente em si mesma no tempo; exatamente como o meu desejo que age no mundo externo através e além do meu corpo, como uma força motivacional, de modo que o mundo externo seja, portanto, ativo (Wirken). De fato, podemos perceber na física como a forma do tempo cósmico e forma física estão unidas entre si. A nova solução para o problema de amalgamar o espaço e o tempo, dada pela Teoria da Relatividade, segundo Weyl (1952) traz consigo um profundo insight voltado para a harmonia do agir no mundo.

Num similar sentido "transcendental", Einstein (1936) afirma que a física trata de forma direta, apenas, da experiência sensorial e da compreensão de suas conexões; mas, num primeiro momento, mesmo o conceito do mundo real externo do cotidiano se assenta exclusivamente nas impressões dos sentidos. Einstein está ciente que de o primeiro passo para postular um mundo real externo é a produção de algum tipo de ordem entre as impressões sensoriais, através da criação de conceitos genéricos, relações entre esses conceitos e relações entre conceitos e experiência sensorial. É nesse sentido que o mundo das nossas experiências sensoriais é compreensível. O fato de ser compreensível é um milagre, na opinião de Einstein (1936, p. 351). A conexão dos conceitos elementares do pensamento cotidiano com complexos de experiências sensoriais, pode ser compreendida apenas de maneira intuitiva, pois não é adaptável a uma obsessão cientificamente lógica. Na formulação de Einstein há, para o indivíduo, um Eu-tempo, ou tempo subjetivo, que não é mensurável; porém podemos associar números a eventos de modo que números maiores sejam associados ao último evento ao invés do primeiro. Esta associação pode ser definida por meio de um relógio, comparando-se a ordem de eventos fornecida pelo relógio com a ordem de uma série de eventos dados. De fato, em física, usamos o relógio como algo para estabelecer uma série de eventos que possam ser contados. As ciências naturais, em especial a física, lida com essas percepções sensoriais. A concepção de corpos físicos, em especial rígidos, é uma complexidade relativamente constante de percepções sensoriais como mencionado anteriormente. Um relógio, um ponto ou linha, também é um corpo, ou um sistema com a propriedade adicional que a série de eventos que conta é formada de elementos que podem ser considerados como iguais: eles servem para representar a complexidade de nossas experiências (Einstein, 1953, pp. 1-2).

O objetivo da ciência é a compreensão, a mais completa possível, da conexão entre as experiências sensoriais em sua totalidade, através de um número mínimo de conceitos primários e relações (Einstein, 1936, p. 352).

 

Mundo-Vivido e Intersubjetividade: A solução de Husserl.

Em Crise, Husserl critica o desdém (Verächtlichkeit) com o qual tudo é "meramente subjetivo e relativo" e, portanto, o modo como os cientistas tratam a experiência sensorial, a partir do ideal moderno de que a objetividade não modifica nada em sua própria maneira de ser (Husserl, 1954, p. 128).

De fato, usar o Lebenswelt, o mundo-vida, não significa entendê-lo cientificamente em sua própria maneira de ser. Husserl responde a Einstein, que usa os experimentos de Michelson e sua corroboração por parte de outros pesquisadores, sem uma verificação cuidadosa do que envolve: pessoas, aparatos, a sala no instituto, etc. Mas Einstein não pode fazer qualquer uso da construção teórica psicológica-psicofísica do ser objetivado do Michelson. Ao invés disso, fez uso do ser humano que era mais acessível a ele, assim como para todo o mundo pré-científico, como um objeto de uma experiência evidente, ou seja, o ser humano cuja existência, vitalidade, em suas atividades e criações do mundo-vida, é sempre a pressuposição de todas as linhas de investigação científico-objetivas de Einstein, projetos e realizações pertencentes aos experimentos de Michelson. É claro que - de acordo com Husserl (1976) - que o mundo da experiência é comum a todos, e que Einstein e todos os outros pesquisadores o sabem, sendo aquele que ele vive como ser humano, mesmo em todas as suas atividades de pesquisa.

Mas, enquanto o cientista natural está envolvido com sua atividade, a subjetividade-relativa ainda está funcionando para ele, não como algo irrelevante e que deve ser atravessada, mas como algo que fundamenta a validade ôntica lógico-teórica para qualquer validação objetiva, como fonte para autoevidência, como fonte de verificação. As escalas de mensuração visíveis, o espaço Euclidiano, os corpos rígidos e relógios, a homogeneidade e congruência no espaço, são empregadas como coisas verdadeiramente existentes, não como ilusões: mas aquilo que realmente existe no mundo-vida, como algo válido, é apenas uma premissa. O conhecimento do mundo científico-objetivo está fundado na evidência do mundo-vivido. Se deixamos de estar imersos em nosso pensamento científico, nos tornamos conscientes de que nós, cientistas, somos, afinal de contas, seres humanos e, como tais, estamos entre os componentes do mundo-vida que sempre existe para nós, sempre pré-dado; e assim toda a ciência é levada conosco, para dentro do mundo-vida meramente subjetivo-relativo (Husserl, 1954).

A pergunta então é: qual a relação entre o mundo verdadeiramente objetivo e o mundo-vivido? Como já sabemos, físicos - que são seres humanos como outros seres humanos, que sabem de si como vivendo no mundo-vida, o mundo dos seus interesses - têm, sob o título de físicos, um tipo particular de questionamentos, e suas teorias são os seus resultados práticos. E isto inclui, segundo Husserl, todas as coisas objetivas a priori, com sua referência necessária a um correspondente a priori do mundo-vivido: essa referência-passada é uma das bases da validade (Geltungsfundierung) (Husserl, 1954, p. 143).

Se procurarmos, ao nosso redor, pelo que permanece invariável no mundo-vida, perpassando as alterações do relativo, involuntariamente paramos no que determina para nós o falar sobre o mundo: o mundo é o universo das coisas, distribuídas dentro do mundo-forma do espaço-tempo e posicional em dois sentidos (de acordo com a posição espacial e com a posição temporal) - o onta espácio-temporal. Aqui, pois, poderíamos encontrar a tarefa de uma ontologia do mundo-vida, entendida como uma doutrina geral da essência para estes onta (Husserl, 1954, p. 145).

Coisas e objetos são dados fenomenologicamente como válidos para nós, mas apenas se estivermos conscientes deles como coisas ou objetos dentro do mundo-horizonte. Cada qual é uma coisa, algo do mundo do qual estamos constantemente conscientes como um horizonte, um sistema pré-dado. Por outro lado, estamos conscientes desse horizonte-referência apenas como um horizonte para objetos já existentes (Husserl, 1954, p. 147-148).

Se eu permanecer puramente no domínio da visão, encontro novas diferenças, surgindo da multiplicidade em curso de qualquer visão normal que, afinal, é um processo contínuo; cada fase é em si mesma uma visão, mas o que é visto em cada uma é algo diferente.

Esta é a prova fenomenológica, teoricamente falando, dos processos da Relatividade. Eu sou consciente da coisa existente, ainda que ela se modifique eventualmente. Eu tenho a experiência (Erlebnis) de uma exibição de, embora a última, com o seu notável "de' torna-se visível apenas na reflexão. Implícita na experiência particular da coisa está todo um horizonte de ações inativas (nichtaktuelle) e ainda maneiras co-funcionais de aparência e sínteses de validade (Husserl, 1954, p. 162).

Cada essência pode ser mostrada somente em relatividade; em um desdobramento de horizontes nos quais percebemos as limitações não percebidas, horizontes que ainda não foram sentidos e que nos levam a questionamentos a partir de novas correlações inseparavelmente unidas com aquelas já demostradas (Husserl, 1954, p. 162). O mundo existe como algo temporal - um mundo espácio-tempo no qual cada objeto tem sua extensão e duração corpórea e sua posição no espaço e no tempo universal (Grelland, 2008). Em uma percepção contínua, o objeto está lá, para mim, na certeza ôntica direta da presença imediata (Husserl, 1954, pp. 164-167).

 

Conclusão: Resposta de Einstein e a Essência Intersubjetiva do Mundo

Em um manuscrito inédito, do mesmo ano da Crise, de Husserl, Einstein parece voltar-se a este problema fenomenológico usando a mesma terminologia de Husserl:

A ciência como algo existente e confeccionado é mais do que algo objetivado e, ao mesmo tempo, impessoal, de que nós, seres humanos conhecemos. A ciência, como algo que se constrói, como meta, é também e igualmente subjetiva, psicologicamente condicionada assim como todas as outras aspirações humanas. (...) Naturalmente existem pessoas que afirmam que a ciência produz uma conexão elevada entre fatos experienciados [erlebbaren], de modo que podemos deduzir, a partir de fatos experienciados, outros fatos experienciados. Segundo alguns positivistas, a solução possível para esta tarefa seria unicamente o fim da ciência (...). Existe ainda um fator mais forte e por essa razão também um impulso mais sombrio por trás dessas disputas constantes: o desejo de compreender o Ser, a Realidade; entretanto, parece que temos evitado tais palavras, já que estamos muito envergonhados em esclarecer o que devemos verdadeiramente intencionar como real [Wirklich], e o que devemos entender [begreifen] nesta afirmação mais genérica. Todos esses esforços estão baseados na confiança que o Ser em sua estrutura, está em completa harmonia (Einstein, 1931/1933, p. 1).

Mas, voltemos nossa atenção para a convicção de Husserl de que no fluxo contínuo de percepção-mundo não estamos isolados, mas inseridos nele e em contato com outros seres humanos. Assim, de acordo com este texto, o mundo existe não apenas para seres humanos isolados, mas também para comunidades; pois mesmo o que é diretamente perceptível também é comunal (Husserl, 1954, p. 165-166).

Nessa comunalização, também ocorre uma alteração constante da validade através de correções recíprocas. Na compreensão recíproca, minhas experiências e aquisições vividas entram em contato com as experiências dos outros, de modo similar ao contato entre séries de experiências individuais, ao longo da vida de qualquer um. Novamente, ocorre uma harmonia intersubjetiva da validação e assim a unidade intersubjetiva surge na multiplicidade de validações, de tudo o que é validado através delas (Husserl, 1954, p. 166).

Neste mundo-vida, cada sujeito já vivenciou coisas, portanto, o que é visto pelo indivíduo, através da percepção, é vivenciado como existindo diretamente e sendo como é. Cada sujeito sabe que a percepção se relaciona com as mesmas coisas vivenciadas, de modo que cada sujeito tem diferentes aspectos, lados, perspectivas, e que são levados de um sistema total de multiplicidades, no qual cada indivíduo é consciente, como o horizonte de uma possível experiência (Husserl, 1954, p. 166).

A coisa em si, a essência é, na verdade aquela que ninguém vivencia realmente, visto que está sempre em movimento, sempre e para todos, uma unidade para a consciência da multiplicidade infinita de experiências mutáveis e coisas experienciáveis, próprias e dos outros (Husserl, 1954, p. 166167). Os co-sujeitos destas experiências, constituem para mim e para os outros, um mundo infinito e aberto de possíveis instrumentos, que nos permite representar uma série de essências, intersubjetivamente estabelecidas. Um mundo de essências intersubjetivamente determinado, no qual todos os objetos sensoriais são um modo específico e possível da consciência dada, em um processo contínuo de esclarecimento e compreensão da sua totalidade e objetividade. Uma aparência meramente subjetiva é válida como algo que existente na particularidade de seus modos de dar-se na própria vida. Nessa intersubjetividade geral, os conceitos do que é, de modos de doação, de sínteses, etc., são relativizados de forma recorrente (Husserl, 1954, p. 167).

Então a Relatividade fenomenológica vem à tona e Einstein, finalmente, reconhece a solução de Husserl na sua relevância filosófica e científica. De fato, em um manuscrito inédito de 1941, em resposta ao Prof. McCrady, filósofo da Universidade de Oxford, nos Estados Unidos, afirma que:

(...) configurar uma realidade física, independente de qualquer sujeito perceptivo com rígidas leis físicas, nunca foi algo duradouro. De fato, parece que a teoria atual da física quântica não muda nada. Esse escape, que deriva de um constrangimento momentâneo, em uma fórmula estatística de leis da física, não deve ser tido como definitivo, mesmo que outro caminho ainda não tenha sido encontrado. De um lado, a Física e de outro a Psicologia, a História e a Teologia, empregam conceitos de natureza diferentes para deduzir conexões nas evidências. Estes dois mundos conceituais distintos não podem ser fundidos em uma estrutura unitária. Um pensamento sempre será sempre algo do outro, comparado com seu evento físico correlato, em um sistema nervoso, tal como a representação de uma pessoa sempre será diferente em comparação à descrição linguística de uma particularidade dela (Einstein, 1941, p. 1).

Referindo-se à fenomenologia de Husserl - acredito - Einstein conclui que:

(...) Está surgindo, em nosso tempo, um pensamento novo e original. Se esse tempo gerou um progresso da esfera epistemológica, então me parece que não poderíamos dar como certo nenhum caminho aceitável que nos leve de Erleben (experiência) para o Erfassen (conhecimento) conceitual das coisas, visto que todo pensamento está assentado em uma construção teórica livre, que sistematicamente decorre de experiências do sentido (Einstein, 1941, p.2).

O mundo, tal como é para nós, se torna compreensível como uma estrutura de significados formada fora de intencionalidades elementares. E o significado não é nada além de validações relacionadas aos egos dos sujeitos. Intencionalidade é o nome que permanece para o único caminho genuíno e atual de explicar, tornar inteligível (Husserl, 1954, pp. 170-171). Nesse sentido, falamos de constituição intersubjetiva do mundo: o mundo da vida, que logicamente, refere-se a si mesmo dentro de todas as estruturas práticas, relacionado à subjetividade através da alteração constante de seus aspectos relativos.

A verdade objetiva pertence exclusivamente à atitude natural do mundo-vivido: o mundo é desde o início entendido como correlato das aparências subjetivas, perspectivas, atos subjetivos e capacidades, através dos quais obtém seu sentido mutável, porém unitário. Ora, se as investigações da fenomenologia de Husserl partem do mundo de volta às essências destas aparências e perspectivas, os polos do ego se tornam sujeitos da investigação da essência e, em um sentido novo e superior, tornam-se o aspecto subjetivo do mundo e de suas maneiras de aparecer (Husserl, 1954, p. 183).

Mas - de acordo com Husserl - precisamente aqui temos uma dificuldade. A intersubjetividade universal, na qual toda objetividade e tudo o que existe é resolvido, pode não ser nada além de humanidade (Husserl, 1954, p. 183).

A intersubjetividade transcendental, que é constituída como relatividade em uma pluralidade de egos existe com o modo de existência pertencendo a algo absoluto; na forma de uma vida intencional e, portanto, possuindo uma capacidade essencial para refletir em si mesma, em todas as estruturas que a sustentam, uma habilidade essencial para tornar-se temática e produzir julgamentos e evidências relacionadas a si própria. Mas essa essência inclui a possibilidade de auto avaliação que começa com significados vagos e que, através de um processo de descobrimento, volta-se para o ego primordial (Husserl, 1929, p. 241).

 

Referências

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Recebido em 2017.05.02
Primeira Decisão Editorial em 2017.11.07
Aceito em 2018.12.01

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