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Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.25 no.3 Goiânia set./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.18065/RAG.2019v25n3.8 

ESTUDOS TEÓRICOS OU HISTÓRICOS

 

A concepção de motivação no pensamento de Edith Stein

 

The notion of motivation in Edith Steins's thought

 

La noción de motivación en Edith Steins's thought

 

 

Savio Passafaro Peres

Graduação em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP); Mestrado e Doutorado pela FFCLRP/USP, com estágio internacional na Università Lateranense (Roma). Fez pós-doutorado (2011-2014) em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com estágio internacional no Center for Subjectivity Research (Copenhagen). Foi professor visitante de Filosofia da Universidade Camilo Castelo Branco, no curso de pós-graduação lato sensu. Membro do GT de Fenomenologia da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF). Membro do GT "Fenomenologia, Saúde e Processos Psicológicos" da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). Membro fundador da Sociedade Brasileira de História da Psicologia. Foi pós-doutorando na Unesp-Assis e professor convidado da pós-graduação e da graduação na Unesp-Assis. Atualmente professor substituto no Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, na área de psicologia fenomenológica. Tem experiência nas áreas de História e Filosofia da Psicologia, Psicologia clínica, Psicologia da educação, psicologia fenomenológico-existencial, atuando nos seguintes temas: fenomenologia, história da psicologia, psicopatologia, psicologia e literatura, inconsciente, intersubjetividade. Email: savioperes@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

O tema da motivação e da causalidade psíquica foi amplamente analisado, a partir do método fenomenológico, por Edith Stein. Uma exposição detalhada deste tópico pode ser encontrada em sua obra Contribuições para uma fundação filosófica da psicologia e das ciências do espírito, publicada no ano de 1922. Nesta obra, Stein mostra como o conceito de motivação é necessário para se compreender a vinculação da pessoa humana com a realidade sociocultural. Uma das teses centrais da obra é que a vida da consciência não pode ser abordada de maneira suficiente pelo método científico-natural, pois este se vale apenas do conceito de causalidade natural e não do conceito de motivação. Neste artigo, pretendo apresentar alguns tópicos centrais das discussões de Stein sobre o conceito de "motivação", situando-os à luz do pensamento husserliano. Por fim, buscarei mostrar a sua importância para a fundamentação epistemológica da psicologia.

Palavras-chave: Fenomenologia; Psicologia fenomenológica; Motivação; Causalidade


ABSTRACT

The theme of motivation and psychic causality was extensively analyzed, from the phenomenological method, by Edith Stein. A detailed discussion of this topic can be found in his Contributions to a Philosophical Foundation of Psychology and the Sciences of the Spirit, published in the year 1922. In this work, Stein shows how the concept of motivation is necessary to understand the linkage of the human person with sociocultural reality. One of the central theses of the work is that the life of consciousness cannot be adequately addressed by the natural-scientific method, since it uses only the concept of natural causation and not the concept of motivation. In this article, I intend to present some central topics of Stein's discussions about the concept of "motivation", placing them in the light of Husserlian thinking. Finally, I will try to show its importance for the epistemological foundation of psychology.

Keywords: Phenomenology; Phenomenological psychology; Motivation; Causality


RESUMEN

El tema de la motivación y de la causalidad psíquica fue ampliamente analizado, a partir del método fenomenológico, por Edith Stein. Una exposición detallada de este tema se puede encontrar en su obra Contribuciones a una fundación filosófica de la psicología y las ciencias del espíritu, publicada en el año 1922. En esta obra, Stein muestra cómo el concepto de motivación es necesario para comprender la vinculación de la persona humana Con la realidad sociocultural. Una de las tesis centrales de la obra es que la vida de la conciencia no puede ser abordada de manera suficiente por el método científico-natural, pues éste se vale sólo del concepto de causalidad natural y no del concepto de motivación. En este artículo, pretendo presentar algunos tópicos centrales de las discusiones de Stein sobre el concepto de "motivación", situándolos a la luz del pensamiento husserliano. Por último, procuraré mostrar su importancia para la fundamentación epistemológica de la psicología.

Palabras clave: Fenomenología; Psicología fenomenológica; Motivación; Causalidad


 

 

Introdução

O tema da motivação e da causalidade psíquica foi amplamente debatido na virada do século XIX na Alemanha, sobretudo em virtude de suas consequências tanto para a definição quanto para os métodos da psicologia. Um dos primeiros a chamar a atenção para o tópico foi Dilthey (1894/2008) em uma obra de 1894, Ideias para uma psicologia descritiva e analítica (Ideen über eine beschreibende und zergliedernde Psychologie). Nesta obra polêmica, Dilthey distinguiu entre Ciências do espírito (Geisteswissenschaften) e Ciências Naturais (Naturwissenschaften) e argumentava que o método causal-hipotético é válido apenas às últimas. As ciências do espírito deveriam empregar o método descritivo-analítico, pois as vivências só podem ser compreendidas em sua articulação com o nexo totalizante (Zusammenhang) da vida da pessoa. Para Dilthey, as ciências do espírito (ou em uma tradução mais em sintonia com o pensamento atual "ciências humanas") englobavam basicamente as seguintes disciplinas: psicologia, a antropologia, a economia política, direito e história, a filologia e estética. (Makkreel, 1975).

Para Dilthey, há um vínculo entre o conceito de motivação e as ciências do espírito. Isso é particularmente visível na historiografia. Não se compreende um fato histórico por meio de leis naturais, mas sim a partir da apreensão das motivações dos agentes envolvidos (Dilthey, 1894/2008). A investigação histórica exige que o pesquisador se coloque no lugar das figuras históricas a fim de compreender, à luz de suas respectivas visões de mundo, as motivações que os conduziram a uma determinada ação. Por exemplo, é inapropriado recorrer a causas naturais para se compreender porque Júlio Cesar atravessou, com suas legiões, o rio Rubicão, para marchar em direção a Roma. A melhor forma de abordar esse fato histórico é colocando-se no lugar de Júlio Cesar e buscar compreender suas ações a partir de sua visão de mundo e de suas motivações. Para Dilthey, a abordagem aos fenômenos históricos, os quais são marcados pela singularidade, bem como pela singularidade de sua conjuntura, se encontra em pleno contraste com a busca por uma causalidade natural, pois esta pressupõe uma regularidade entre os fenômenos repetíveis, os quais devem ser subsumidos a poucas variáveis:

Entender-se-á por ciência explicativa toda a subordinação de um campo de fenómenos a um nexo causal por meio de um número limitado de elementos (isto é, partes integrantes do nexo) univocamente determinados. Este conceito indica o ideal de semelhante ciência, tal como ele se formou sobretudo graças ao desenvolvimento da física atómica (1894/2008, p.10).

As ciências humanas em geral operam com eventos singulares, os quais são incluídos em um contexto estrutural altamente complexo, dotado de uma enorme quantidade de fatores concretos de ordem social, econômica, moral, cultural, pessoal. Por essa razão, o método de abordagem das ciências humanas deve ser analítico e descritivo, pois trata-se de descrever e articular o fenômeno histórico à luz do todo.

Dado o anterior, a psicologia naturalista, de cunho hipotético-causal, estaria, devido a seus pressupostos metodológicos, fadada ao fracasso, posto que seria incapaz de abordar a vida humana em sua dimensão concreta e singular (1894/2008). Assim, Dilthey propôs que a psicologia deveria ser concebida não só como uma ciência humana ao lado de outras, mas sim como a disciplina que fundamentaria as ciências humanas. (1894/2008, p.20, 24). A razão deste status privilegiado da psicologia frente às demais ciências humanas residiria no fato de que todas elas pressupõem uma concepção do que seja o ser humano, tema esse que circunscreve o campo da psicologia. Deste modo, por vezes Dilthey designava a sua psicologia de "psicologia real" ou mesmo "antropologia" (Makkreel, 1975).

O pensamento de Dilthey exerceu forte impacto na fenomenologia husserliana, a partir de 1905 (Peres, 2014). Nas lições sobre Psicologia fenomenológica, de 1925, Husserl (1962) alega que a obra de Dilthey consistiu em um divisor de águas da psicologia da época, suscitando um debate que assumiu várias formas, e que dividiu filósofos e psicólogos. É a psicologia uma ciência natural ou uma ciência humana? Qual a diferença entre ciências naturais e ciências humanas? Um dos tópicos concernentes ao debate sobre se a psicologia é uma ciência humana ou natural diz respeito ao problema da causalidade psíquica. Esse problema pode se expresso pela seguinte pergunta: Pode o surgimento de uma vivência ser explicado tão somente por leis causais-naturais? É possível que haja uma lei estabelecendo uma relação de regularidade entre uma determinada configuração material e uma vivência de determinado tipo e determinado conteúdo de sentido?

Em Ideias II (Ideen zu einer reinen phänomenologie und phänomenologische Philosophie: Phänomenologische Untersuchungen zur Konstitution), Husserl, inspirado pela problemática colocada por Dilthey, busca fundamentar, a partir do método fenomenológico, a distinção entre ciências da natureza e ciências do espírito. A lei causal, do ponto de vista clássico, pode ser definida como uma relação de regularidade entre determinadas condições reais e determinados efeitos reais. Assim, uma lei natural diz que, dadas determinadas condições reais, seguem necessariamente determinados efeitos reais. Se o princípio da causalidade é universal, deveríamos considerar que todo evento possui uma causa, conhecida ou desconhecida. Por exemplo, se algo pegou fogo é porque determinadas condições ocorreram. Se um relâmpago ocorreu, é porque certas condições materiais ocorreram. Mas o que dizer de uma vivência? Partindo do princípio naturalista, poderíamos defender o seguinte raciocínio:

1) O princípio de causalidade é válido para toda natureza.

2) O ser humano é parte da natureza e, portanto, um ser natural.

3) A vivência é parte do ser humano.

4) Logo, uma vivência é um evento que ocorre na natureza e, enquanto tal, possui uma causa natural.

A concepção de que a consciência é parte integrante da natureza e, portanto, está submetida a leis naturais, era amplamente difundida na segunda metade do século XIX. Tal concepção está na base do surgimento da psicologia tomada como ciência natural. Em geral, os psicólogos naturalistas julgavam ter rompido com as amarras do cartesianismo, de acordo com o qual o espírito (res cogitans) possui leis distintas da matéria (res extensa). Consideravam que essa distinção nada mais era do que um resquício de preconceitos metafísico-religiosos. O problema, como iremos observar, é que o conceito de natureza pressuposto pelos naturalistas era, do ponto de vista filosófico e ontológico, ingênuo e ainda tinha a sua raiz no cartesianismo.

A segunda metade do século XIX vê o nascimento de diversas propostas, inspiradas na Fisiologia, de se estudar a consciência a partir do método natural. E muitos psicólogos entendiam que a aplicação dos métodos naturais iria resolver vários problemas filosóficos ligados à ética, à lógica e à epistemologia. É neste cenário de entusiasmo com a nova psicologia que surge a polêmica em torno ao psicologismo (Kusch, 1995, Porta, 2013). Um de seus desdobramentos é a polêmica em torno ao naturalismo da consciência: é a consciência passível de ser abordada pelos métodos naturais?

Husserl foi um dos autores que mais contribuíram para crítica ao psicologismo, sobretudo em Investigações lógicas (1900/1975; 1901/1984a; 19001/1984b), ao defender a irredutibilidade da lógica à psicologia empírica. A lógica pura não se ocuparia de vivências, mas sim de estruturas lógico-ideais. A crítica ao psicologismo realizada em Investigações lógicas, entretanto, não constitui o ponto final das reflexões de Husserl sobre o tema da psicologia. Se, nesta obra, o alvo era a expansão indevida do campo de atuação da psicologia empírica, em obras posteriores, Husserl iria entrar em outros aspectos da psicologia. Um deles é o pressuposto de que a consciência é uma entidade natural ao lado de outras (Porta, 2013).

A crítica de Husserl ao naturalismo não consiste em um regresso ao dualismo cartesiano, em que se contrapõem duas substâncias, o espírito e a matéria. O centro da crítica de Husserl (1911/1965; 1913/1950; 1912/1952) consiste em mostrar que as ciências naturais operam a partir de certos pressupostos ontológicos do que seja a natureza e de como esta funciona. A ciência natural não possui meios para refletir sobre os seus próprios pressupostos. É neste ponto que a epistemologia e, em particular, a fenomenologia torna-se necessária. Esta possibilitaria a tematização, clarificação e crítica das ciências naturais, revelando que elas não possuem um domínio irrestrito de aplicação. Um dos argumentos chaves de Husserl consiste em afirmar que cada ciência empírica deve respeitar as características essenciais de sua respectiva região ontológica. Nesta direção, em Ideias I, Husserl (1913/1950, p.23) afirma que toda ciência de fatos tem seu fundamento teórico em ontologias regionais, as quais lhes propiciam sua base racional. O exemplo frequentemente citado por Husserl (1913/1950; p.25; 1962, p.305) é a física, que apenas pode se desenvolver com o aprimoramento da ontologia eidética das formas espaciais, isto é, a geometria.

Toda ciência natural, na medida em que necessariamente se efetua a partir de determinados pressupostos ontológicos, encontra-se limitada por esses pressupostos e não pode violá-los. Não se trata, é preciso salientar, de eliminar as ciências naturais, mas apenas de refletir sobre os seus domínios legítimos de atuação. O naturalismo, neste sentido, consiste em uma extrapolação imprópria de domínio ontológico (Husserl, 1911/1965). Desde então, devemos perguntar: o ser humano, uma vez que possui uma vida de consciência, marcada pela intencionalidade, pode ser suficientemente abordado pelas ciências naturais? Esse tema ocupou Husserl em Ideias II.

Em Ideias II, Husserl se empenha na elaboração de ontologias regionais. A ontologia do ser humano, que aparece em Ideias II, teria justamente a função de fundamentar epistemologicamente os conceitos básicos tanto da psicologia empírica, quanto das ciências humanas. Para Husserl, as ciências humanas devem operar com o conceito de causa motivacional, ao passo que as ciências da natureza, com a causa natural:

Obtemos uma afiada distinção entre ciências da natureza e ciências do espírito: as ciências da natureza tratam da realidade (da substancialidade e da causalidade) no mundo das aparições. As ciências do espírito tratam de individualidade pessoal, da causalidade pessoal, a causalidade da liberdade e da motivação.1 (Husserl, 1952, p. 392).

 

Husserl e Stein sobre a motivação

O tema da motivação possui um importante papel na fenomenologia. Como foi discutido na seção anterior, ele foi abordado de maneira bastante detalhada por Edmund Husserl, em Ideias II, obra essa que Edith Stein, durante os dois anos em que fora assistente de Husserl (1916-1918), ajudou a organizar. Não por acaso, há uma forte sintonia entre os problemas abordados por ambos os autores. Edith Stein desenvolveu nas Contribuições para uma fundação filosófica da psicologia e das ciências do espírito (Beiträge zur philosophischen Begründung der Psychologie und der Geisteswissenschaften), a fenomenologia husserliana, mostrando que toda forma de psicologia que ignora a intencionalidade da consciência, a intersubjetividade, e os sentidos com os quais os diferentes entes do mundo circundante se manifestam é insuficiente para dar conta da complexidade humana. Apesar de várias semelhanças com o texto de Husserl, Edith Stein apresentou valiosas contribuições ao tema da motivação.

A obra de Stein foi publicada em 1922, no Anuário para a investigação de filosofia e fenomenologia (Jahrbuch für Philosophie und phänomenologische Forschung), revista que serviu de meio para a publicação de uma série de importantes publicações de autores que pertenciam ao movimento fenomenológico (Spiegelberg, 1965). É aí que Husserl publicou, em 1913, Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica (Ideen zu einer reinen phänomenologie und phänomenologische Philosophie) e Heidegger publicou, em 1927, Ser e Tempo (Sein und Zeit). Por se tratar de uma revista especializada, as obras nela publicadas pressupunham um leitor inteirado não só do método fenomenológico, mas também dos problemas filosóficos que circulavam na época. Já na apresentação da obra, Stein (1922/2010, p.3) revela que fora fortemente influenciada pelo pensamento de Husserl, particularmente por Ideias II (Ideen zu einer Reinen Phänomenologie und Phänomenologischen Philosophie: Phänomenologische Untersuchungen zur Konstitution). Sabemos que Stein foi orientada por Husserl em sua tese, O problema da empatia (2008) (Zum Problem der Einfühlung), defendida em 1916 e que, posteriormente, durante os anos de 1916 e 1918, foi assistente de Husserl (MacIntyre, 2007, p.99). Durante esse período ela teve acesso aos manuscritos do mestre e foi responsável não só pela preparação de Ideias II, mas também, conjuntamente com Heidegger, pela preparação e publicação de Lições sobre a consciência interna do tempo (Zur Phänomenologie Des Inneren Zeitbewusstseins). Não espanta, portanto, a semelhança temática e de ideias entre as obras de Stein e Husserl. Edith Stein, logo no prefácio de Contribuições, assume ao leitor que seria impossível citar Husserl, posto que muito do que ela expõe na obra encontrava-se apenas nos manuscritos do mestre, particularmente, em Ideias II (Stein, 1922/2010, p.4).

De acordo com a autora (Stein, 1922/2010, p.3), as Contribuições consistem em um aprofundamento de um problema que já se encontrava no plano de fundo de sua tese, O problema da empatia. O ponto é que a empatia, tomada como apreensão intuitiva da vivência do outro, exigia delinear a estrutura da personalidade humana a partir da articulação de seus estratos fundamentais, corpo (Leib), psique (Psych) e espírito (Geist). Essa tarefa, que ela não pode se dedicar inteiramente na ocasião de seu doutorado, ela pretende realizar em Contribuições. Tendo esse fim em mira, ela busca "clarificar duas leis fundamentais, a motivação e causalidade, que cooperam em um sujeito psíquico dotado de uma essência sensível e espiritual. " (Stein, p.1922/2010,p.3). É investigando essas duas leis, que ela busca, como o próprio título de sua obra sugere, clarificar os fundamentos tanto das ciências do espírito2 (Geisteswissenschaften) em geral, quanto da psicologia, em particular.

Stein, assim como Husserl em Ideias II, vincula a causalidade ao estrato psíquico, marcado pela sensibilidade, e a motivação ao estrato espiritual, este último marcado pela intencionalidade. Uma das maiores contribuições de Stein ao tema consiste em mostrar, através de minuciosas análises fenomenológicas, as diferentes articulações entre estes estratos.

As Contribuições são divididas em duas partes. Na primeira, Stein discute a relação entre psique e espírito, e vinculado a isso, a distinção entre causalidade e motivação. Os últimos capítulos desta primeira parte são dedicados a uma refinada análise dos fenômenos volitivos e uma discussão sobre as relações de causalidade e motivação em várias vivências, como a tomada de conhecimento (Kenntisnhamen), o tender (Streben), o querer (Willen), a tomada de posição (Stellungnahmen), a pulsão (Trieb). Além da análise destas vivências, Stein também examina em que medida o espírito é livre, defendendo a importantes tese de que nem toda vivência espiritual é um ato livre (Stein, 1922/2010, p.45-53).

Na segunda parte da obra, Stein aborda a relação entre indivíduo, comunidade e o mundo espiritual. Para isso, ela investiga diferentes formas de organizações sociais. Também analisa outras espécies de vivências, proeminentemente marcadas pela intersubjetividade, como os atos de emoção (Gemütsakte), de empatia (Einfühlung), de contágio emocional (Ansteckung) e os atos categoriais (Kategoriale Akte). Um dos eixos da segunda parte da obra consiste em responder à pergunta: "Como compreender o fato de que vivências de diversos indivíduos se entrelaçam e cooperam na formação de uma conexão motivacional? " (1922/2010, p.143)3

 

A Motivação

Na seção intitulada "Vida espiritual e motivação" (Gestiges Leben und Motivation), Stein (1922/2010, p.34) afirma que a compreensão da relação dos homens entre si em um contexto cultural exige levar-se em conta a causalidade motivacional ou, simplesmente, motivação (Motivation). Deste modo, Stein opera, seguindo Husserl, uma ampliação do conceito de motivação em relação ao uso popular do termo (Bello, 2013). A motivação diz respeito não apenas aos fenômenos volitivos, mas sim a um tipo particular de relação entre vivências intencionais:

Se, em linhas gerais, definimos motivação a ligação de atos dos quais estamos nos ocupando, estamos bem conscientes de atuar uma diferenciação com respeito à linguagem habitual, que limita tal expressão a esfera dos atos livres, particularmente ao ato da vontade. (Stein, 1922/2010, p. 36).4

E ainda:

A motivação é a ligação que conecta os atos entre si, não se trata de uma simples união, como aquela das fases que transcorrem uma em seguida da outra no fluxo de vivências, ou de uma ligação associativa de vivências; trata-se antes de uma vivência que provém de outra, de uma vivência que se realiza sobre a base de outra, por querer de outra5. (Stein, 1922/2010, p. 36).

O problema de fundo que exige a introdução do conceito de motivação é aquele concernente à gênese das vivências. Tal problema pode ser expresso pela seguinte pergunta: "qual a 'causa' de uma vivência?". O que Stein procura mostrar é a causa aqui em questão não se restringe àquela operada pelas ciências naturais. Dentro de uma visão puramente naturalística, poderíamos dizer que o que causa as vivências são os processos cerebrais. Tal abordagem, entretanto, é inadequada para se compreender a gênese de certas classes de vivências, em particular, as vivências intencionais, as quais pertencem ao estrato espiritual (1922/2010, p. 35). A causalidade natural se limita ao estrato psíquico (embora não o esgote). O estrato psíquico é constituído pelas vivências da sensibilidade, por aquilo que Husserl (1950), em Ideias I, havia designado de hylé. Particularmente, pertencem à psique as pulsões sensíveis (sinnliche Trieb) e os dados sensíveis (sinnlicher Daten) (como sensações cromáticas, auditivas) (1922/2010, p.99). Apenas essa esfera encontra-se sujeita às leis causais naturais6.

A diferença entre os dois tipos de causalidade torna-se explícita ao se observar que a causa natural pressupõe uma relação regular entre realidades (Husserl, 1952, p.125, 126; Stein, 1922/2010, p.258259). Se A exerce efeito causal em B, então A e B devem existir e ser reais. Essa exigência não ocorre na relação de motivação. Não necessariamente B precisa ser um objeto real-natural para produzir uma relação motivacional em A (Husserl, 1952, p. 220, 230). Assim o nexo motivacional entre vivências intencionais não depende da realidade ou irrealidade do objeto. A última tese se fundamenta em dois princípios gerais da fenomenologia: (1) a relação intencional da consciência com o objeto não é uma relação real, isto é, a intencionalidade da consciência a um determinado objeto não é determinada pela ação causal deste objeto na consciência (Husserl, 1984a, p.439); (2) a relação intencional depende do conteúdo de sentido com o qual o objeto é apreendido (Husserl, 1901/1984a, p.427; Stein, 1922/2010, p.37). Eu posso estar consciente não só daquilo que se encontra em meu mundo circundante imediato, ou seja, aquilo que é dado na percepção sensível. Posso também estar consciente de objetos inexistentes, como um quadrado redondo, objetos futuros, como o próximo natal, objetos passados, como o natal passado, objetos ideais, como uma equações matemáticas, e mesmo objetos fantasiados, como um elefante alado.

Os nexos motivacionais podem ser facilmente ilustrados no caso da relação do homem com a religião. Para compreendermos o comportamento religioso não adianta recorrermos apenas às qualidades físicas do corpo ou do mundo, mas sim ao sentido que os diferentes entes religiosos têm para o sujeito da experiência. O que faz uma pessoa estremecer diante de uma pintura na qual o demônio é representado não são suas qualidades físicas, mas sim o sentido e o modo pelo qual a imagem é apreendida. Ou seja, o que interessa, para a relação motivacional entre vivências intencionais são:

1) Os tipos das vivências intencionais envolvidas (percepção, consciência de imagem, etc.) e, correlativamente, o tipo de doação do objeto à consciência (Art der Gegebenheit eines Objekts) (por exemplo, intuitiva ou signitiva). Como afirma Stein (1922/2010, p.36): "A natureza particular da doação do objeto pode ser também entendida como um motivo para a tomada de posição do eu no confronto a tal objeto; por exemplo, a doação perceptiva como motivo para a crença em sua existência".7 Essa mesma posição se encontra em Husserl, que, em Ideias II, entende que "Todos os modos de comportamento espiritual são conectados 'causalmente' através de relações motivacionais; por exemplo: eu suponho que A seja, porque sei que B, C... são." 8 (Husserl, 1952, p.230)

2) O sentido (Sinn) com o qual o objeto é intencionado em cada uma das vivências integrantes do nexo motivacional (Stein, 1991, p.236; 1922/2010, p.37)9. Por exemplo, o sentido que a cruz tem para quem nasceu em uma sociedade cristã não se limita aos aspectos físicos do objeto. Se um cristão se ajoelha diante a cruz, não é devido apenas às suas propriedades físicas e geométricas, mas antes ao sentido que ela tem para ele.

Para Stein, a estrutura da relação de motivação entre a(s) vivência(s) motivante(s) e a vivência motivada é estabelecida a partir do eu puro (Stein, 1922/2010, p.36) 10. O eu realiza um determinado ato porque ele realizou outro. Por exemplo, eu tenho a vivência de crer na mesa porque tenho a vivência intuitiva de perceber a mesa. Do mesmo modo, o pensar lógico consiste em relações motivacionais: eu concluo algo sobre a base das premissas. Neste último caso, a vivência judicativa de concluir é motivada pelas vivências de julgar as premissas. O sentido contido nas premissas, somado à evidência da veracidade de uma regra lógica, motiva a minha vivência judicativa de conclusão.

As relações motivacionais podem ocorrer de maneira explícita ou implícita (Stein, 1922/2010, p.36). A motivação explícita ocorre quando há um nexo explícito de evidência entre as vivências motivantes e motivadas. Isso ocorreria, por exemplo, quando um sujeito, em uma demonstração matemática, parte das premissas e vai seguindo, explicitando cada um dos passos, até alcançar a demonstração desejada. No caso da motivação implícita, o nexo entre vivências motivantes e vivências motivadas se dá por meio de sedimentações de nexos motivacionais explícitos já efetuados. Por exemplo, uma vez provado o teorema, a pessoa pode se valer do mesmo sem precisar demonstrá-lo novamente. O teorema entra no nexo motivacional e vale como evidente, devido à sedimentação dos passos da demonstração antes realizados de maneira explícita. Essa situação pode ser generalizada: toda motivação explícita pode se sedimentar e se tornar implícita e vice-versa.

Uma vez que a motivação diz respeito ao nexo entre vivências, pode parecer que se trata de uma lei que diz respeito a uma subjetividade desencarnada, abstraída do mundo. Nada mais distante. Como os nexos motivacionais dependem do senti-do de apreensão dos objetos, a motivação nos auxilia a compreender a dinâmica entre o homem e seu mundo circundante. Ademais, a motivação permite mostrar que a fenomenologia opera com uma noção de subjetividade encorporada. Isto fica claro quando Edith Stein explora a relação entre motivação e percepção.

Para Stein, o âmbito da percepção é atravessado por motivações implícitas. Ao ver uma coisa espacial, o objeto é dado intuitivamente através de perfis, de modo que temos do objeto uma evidência inadequada. Assim, podemos dizer que, a cada momento, apenas um determinado perfil é intuitivamente dado, ao passo que os perfis ausentes (por exemplo, o lado de trás do objeto) são co-intencionados de maneira vazia. A consciência do horizonte de perfis ausentes pode motivar um movimento do corpo (Stein, 1922/2010, p.37)11. A exploração intuitiva do objeto pressupõe um nexo motivacional que coordena os perfis ausentes, co-intencionados, e as vivências cinestésicas, responsáveis pela autoconsciência da espacialidade dos membros do corpo e de seus movimentos.

Stein apresenta uma afiada terminologia para descrever as relações motivacionais. É preciso distinguir entre motivo, vivência motivante e vivência motivada. "O raio e não a percepção do raio é o motivo de minha espera do trovão; o motivo de minha alegria é a chegada de uma carta desejada e não o conhecimento da chegada da carta."12 (1922/2010, p.38). Neste último caso, a chegada da carta é o motivo da alegria; o conhecimento da chegada da carta é a vivência motivante da vivência da alegria (vivência motivada).

Uma vez que há um nexo entre motivo, vivência motivante e vivência motivada, podemos dizer que, em última instância, a compreensão de nossas ações e atividades mentais exige se levar em consideração o mundo circundante (Umwelt), o mundo tal qual se apresenta e é posto em nossa vida intencional, mundo que é correlato de nossa atitude personalística e prática (Stein, p.1922/2010, p.186). Segundo Stein, a relação do sujeito com o mundo dos valores e dos bens culturais não pode ser devidamente abordada por uma psicologia causal naturalística. A elucidação da dinâmica entre o sujeito corporificado e o mundo circundante exige que o investigador leve em consideração as conexões motivacionais que se estabelecem em função do sentido (Sinn) com que os objetos se apresentam ao sujeito. Ou seja, para compreendermos os motivos, devemos levar em consideração o sentido com o qual um determinado objeto ou evento se apresenta à consciência. E para investigar os sentidos é preciso observar as relações intersubjetivas e a atitude personalística (ou seja, nossa atitude prática e cotidiana com o mundo, em contraste com a atitude teórico-naturalística, ou seja, a do cientista natural).

Para Stein, a racionalidade humana, tanto teórica quanto prática, encontra seu esclarecimento através de uma análise da motivação13. O tipo de relação motivacional racional é designado por Stein de fundação racional (vernünftiger Begründung), sendo esta caracterizada por nexos de evidência, seja a evidência apodítica, adequada ou inadequada, entre o motivo e a vivência motivada. Por exemplo, um valor moral pode servir de motivo para minha decisão de ajudar essa determinada pessoa (1922/2010, p.42). De maneira análoga, como já observamos, o pensar lógico se dá por meio de relações motivacionais, embora, neste caso, os nexos que ligam as vivências sejam apodíticos.

Contudo, nem toda forma de motivação é, em si, racional. Há casos em que o nexo motivacional não é, estrito senso, nem racional nem irracional, mas sim um nexo compreensível (Verständicher Zusammenhang) (1922/2010, p.39). Uma pessoa pode relutar em acreditar em uma má notícia, motivada pelo fato de esta ser desagradável (Stein, 1922/2010, p.43).

O conceito de motivação possui, além dos fatores mencionado, importantes implicações para uma interpretação fenomenológica do inconsciente. Nem sempre temos conhecimento explícito das relações motivacionais que ocorrem em nossa consciência. Podemos viver uma vivência sem que saibamos a(s) vivência(s) motivante(s) (Stein, 1922/2010, p.41). A partir de uma perspectiva fenomenológica, o que pode ser inconsciente não são as vivências, mas os nexos motivacionais que há entre elas. Esta posição também é defendida por Husserl em Ideias II, o qual entende que certas vivências singulares podem ser motivadas "por um fundo obscuro" (Husserl, 1952, p.223). É sempre possível, de acordo com Husserl, levantarmos a questão: "o que me levou a esta vivência singular, ou seja, a este pensamento, a esta fantasia, a esse sentimento? ". Em certos casos, sabemos os motivos. Por exemplo, sinto raiva porque julguei ofensiva a atitude do outro. Sinto-me culpado porque realizei, de maneira impulsiva, um ato que foi de encontro aos meus valores. Mas nem sempre sou capaz de identificar os motivos que me levaram a esta ou aquela vivência. Como Husserl aponta: "Os 'motivos' são muitas vezes escondidos na profundidade, mas podem vir colocados à luz por meio da "psicanálise". (Husserl, 1952, p.223). Esta "profundidade" não significa, para Husserl, que a motivação não seja, em sentido amplo, um nexo integrante da consciência, em particular, da consciência pré-reflexiva. O que ocorre, isso sim, é que "embora a motivação esteja realmente presente na consciência, ela não chega a assumir um relevo, não vem notada, é inadvertida ('inconsciente')". (Husserl, 1952, p.223)14

Edith Stein não apenas se coloca de acordo com Husserl (Stein, 1922/2010, p.43) em vários tópicos presentes em Ideias II, mas busca aprofundar e examinar a relação entre psique e espírito, procurando detalhar a relação entre causalidade psíquica e causalidade motivacional em várias classes de vivências. Um exemplo disso são as análises que ela realiza, a partir do desenvolvimento do pensamento de Alexander Pfänder (1900; 1911/1963), da vivência do tender (Streben). Repulsão e desejo são as duas formas básicas do tender. Na repulsão, a direção se dá no sentido de um afastamento de um determinado objeto repulsivo. No desejo, a direção se dá no sentido de uma atração a um determinado objeto atraente (Stein, 1922/2010, p.60). Para Stein, o desejo é constituído a partir de componentes psíquicos e espirituais. Por um lado, ele tem origem em uma pulsão (Trieb) psíquica. Por outro lado, na medida em que o desejo se direciona a um objeto (evento ou situação desejada), ele é uma vivência intencional pertencente puramente ao espírito. Em contraste, a vontade (Willen) possui origem espiritual. Ela é experienciada como provindo e estando sob o poder do eu (1922/2010, p.61), ao passo que o desejo é algo despertado no eu. Não está em meu controle ter ou não ter o desejo, mas está sobre o meu poder lutar, com minha vontade, contra o desejo, resistindo-lhe. Um exemplo disso seria o de um fumante que resolve parar de fumar. Ele não tem como, nos primeiros dias, não sentir desejo de fumar. Contudo, nada impede de ele buscar resistir ao desejo com a força de sua vontade, a qual está vinculada com sua decisão, realizada a partir de certas motivações: cuidar de sua saúde, etc.

 

Considerações Finais

Edith Stein, em Contribuições, apresenta uma fina análise do tema da motivação, aperfeiçoando, enriquecendo e complementando as discussões husserlianas. Ao longo deste artigo, buscamos exibir alguns tópicos relevantes ao assunto, delineando algumas das contribuições de Edith Stein. Esperamos ter evidenciado que as discussões fenomenológicas sobre a motivação podem oferecer subsídios para a investigação sistemática de regiões da vida humana que não podem ser adequadamente abordadas pelos métodos naturalísticos, uma vez que estes se constituem em pressupostos epistemológicos e ontológicos incapazes de operar com determinados problemas decorrentes da intencionalidade da consciência, como o que diz respeito ao sentido de apreensão dos entes.

A vida humana é altamente complexa e uma abordagem psicológica que busque fazer jus à essa complexidade não deve se eximir de levar em consideração a subjetividade, a intencionalidade e a intersubjetividade. Vale ressaltar que a introdução do conceito de motivação como um fator explicativo necessário para uma abordagem da vida humana em sua concretude histórico-social não implica na exclusão da aplicação, em outros aspectos, de explicações de tipo causais-naturais.

Em sentido amplo, pode-se dizer que a elucidação e articulação dos conceitos de causalidade e motivação visam oferecer um modo de fundamentar fenomenologicamente a afirmação corriqueira de que o ser humano é um ser bio-psíquico-social e se traçar, a partir daí, estratégias metodológicas. Como pudemos observar, a motivação assume centralidade para se pensar abordagens que tenham como escopo a vida humana em sua dimensão social, cultural e racional.

 

Referências

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Recebido em 30.05.2017
Primeira Decisão Editorial em 05.05.2018
Aceito em 10.05.2018

 

 

1 ,,Eine scharfe Scheidung haben wir also zwischen Naturwissenschaften und Geisteswissenschaften: Die Naturwissenschaft geht auf Realität (auf Substantialität und Kausalität) in der. Erscheinungswelt. Die Geisteswissenschaft geht auf personale Individualität und auf personale Kausalität, Kausalität der Freiheit und Motivation."(1952, p.392)
2 Husserl e Stein, como pudemos observar, entendem que a psicologia não pode ser considerada, estrito senso, nem uma ciência humana nem uma ciência natural, pois ela opera tanto com a causalidade natural quanto com a causalidade motivacional.
3 ,,Wie ist es zu verstehen, daß Erlebnisse verschiedener Individuen ineinandergreifen und zur Bildung eines Motivationszusammenhangs zusammenwirken?" (Stein, 1922/2010, p.143)
4 Todas as traduções são de nossa autoria. Segue a passagem citada no original alemão: ,,Wenn wir die Verbindung von Akten, die wir hier im Auge haben, ganz allgemein als Motivation bezeichnen, so sind wir uns bewußt, von dem üblichen Sprachgebrauch abzuweichen, der diesen Ausdruck auf das Gebiet der »freien Akte«, insbesondere des Willens, beschränkt". (Stein, 1922/2010, p.36).
5 ,,Motivation in unserm allgemeinen Sinn ist die Verbindung, die Akte überhaupt miteinander eingehen:kein bloßes Verschmelzen wie das der gleichzeitig oder nacheinander abfließenden Phasen des Erlebnisflusses oder die assoziative Verknüpfung von Erlebnissen, sondern ein Hervorgehen des einen aus dem andern, ein Sichvollziehen oder Vollzogenwerden des einen auf Grund des andern, um des andern willen". (Stein, 1922/2010, p.36).
6 ,,Wir unterscheiden eine sinnliche Lebenskraft, die sich umsetzt in die Aufnahme sinnlicher Daten bzw. verschiedene Fähigkeiten zur Aufnahme sinnlicher Daten, sowie in sinnliche Triebe und ihre Betätigung."
7 ,,Man kann auch die besondere Art der Gegebenheit eines Objekts als Motiv auffassen für die Stellungnahme des Ich zu diesem Objekt, die wahrnehmungsmäßige Gegebenheit z. B. als Motiv für den Glauben an seine Existenz."
8 ,,Alle geistigen Verhaltungsweisen sind durch Beziehungen der Motivation ‚kausal' verknüpft, z.B. ich vermute, es sei A, weil ich weiß, daß B,C ... ist. (Husserl, 1952, p.230)
9 ,,Der Zusammenhang der Erlebnisse, wonach eines vermöge seines Sinnesgehaltes ein anderes hervorruft (z. B. die Furcht vor einer Gefahr eine Abwehrhandlung), heißt Motivation." (Stein, 1991, p.236)
10 ,,Die Struktur der Erlebnisse, die allein in das Verhältnis der Motivation eintreten können, ist für das Wesen dieses Verhältnisses durchaus maßgebend: daß Akte ihren Ursprung haben im reinen Ich, von ihm phänomenal ausgehen und hinzielen auf ein Gegenständliches.." (Stein, 1922/2010, p.36)
11 ,,Innerhalb dieser Auffassung treten dann die eigentlichen Motivationsverhältnisse hervor: Weil ich ein räumlich ausgedehntes Ding erfasse, nehme ich auch die Rückseite »mit« wahr, die ich nicht selbst erfasse, und diese Mitauffassung wiederum motiviert evtl. den Vollzug der freien Bewegung, welche die mitaufgefaßte Rückseite in einer eigentlichen Wahrnehmung selbst hervortreten läßt." (Stein, 1922/2010, p.37).
12 ,,Das Blitzen wird für mich zum Motiv der Erwartung des Donners, nicht die Wahrnehmung des Blitzes; Motiv meiner Freude ist die Ankunft des ersehnten Briefes, nicht die Kenntnisnahme von der Ankunft." (1922/2010, p.38).
13 Mit den Akten und ihren Motivationen beginnt - so sahen wir - das Reich des »Sinnes« und der »Vernunft«: Es gibt hier Richtigkeit und Falschheit, Einsichtigkeit und Uneinsichtigkeit in einem Sinne, von dem in der Sphäre des »aktlosen« Bewußtseins keine Rede sein kann. (Stein, 1922/2010, p.37).
14 ,,In den meisten Fällen aber ist die Motivation zwar im Bewußt sein wirklich vorhanden, aber sie kommt nicht zur Abhebung, sie ist unbemerkt oder unmerklich (,,unbewußt")". (1952, p.223)

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