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Revista da Abordagem Gestáltica

versão impressa ISSN 1809-6867

Rev. abordagem gestalt. vol.27 no.1 Goiânia jan./abr. 2021

http://dx.doi.org/10.18065/2021v27n1.3 

RELATOS DE PESQUISA

 

Investigando a Experiência de usuários em um Centro de Convivência sob a perspectiva da psicologia humanista e da fenomenologia

 

Investigating the Experience of users in a Coexistence Community Center from the perspective of humanistic psychology and phenomenology

 

Investigando la Experiencia de usuarios en un Centro de Convivencia desde la perspectiva de la psicología humanista y la fenomenología

 

 

Eberson dos Santos AndradeI; Vera Engler CuryII

IGraduado em Psicologia e Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Email: eberson.psico@gmail.com
IIGraduou-se em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas; é Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e Doutora em Saúde Mental pela Universidade Estadual de Campinas. É docente permanente do Programa de Pós Graduação em Psicologia e titular da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. É líder do Grupo de Pesquisa: Atenção Psicológica Clínica em Instituições: prevenção e intervenção e do Laboratório de Pesquisa: Psicologia Clínica Social. Email: vengler@puc-campinas.edu.br

 

 


RESUMO

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica que objetivou compreender a experiência de pessoas que frequentam um Centro de Convivência (CECO). Foram realizados encontros dialógicos individuais com sete usuários adultos, de ambos os sexos. Após cada encontro, o pesquisador redigiu uma Narrativa Compreensiva, a partir de suas próprias impressões, sobre a experiência do (a) participante. Uma Narrativa Síntese foi construída, em seguida, contendo os elementos significativos da experiência de todos os participantes em relação às vivências no CECO. Os elementos fenomenologicamente desvelados, que constituíram os resultados da pesquisa, podem ser assim expressos: (1) as relações interpessoais, mediadas pelos profissionais no contexto do CECO, são orientadas por respeito, compreensão e interesse mútuo; (2) a partir da convivência cotidiana com outras pessoas e da participação em atividades coletivas, os usuários podem desenvolver criativamente suas habilidades e interesses; e (3) ao se sentirem acolhidos e respeitados como pessoas, os usuários também desenvolvem uma relação afetiva positiva com o serviço. Concluindo, o CECO é um espaço propício ao desenvolvimento de potencialidades individuais e coletivas e à valorização de relações sociais construtivas que facilitam e preservam a tendência inerente das pessoas para o crescimento, a autonomia e o amadurecimento psicológico.

Palavras-chave: Centro de Convivência; Psicologia Fenomenológica; Narrativas; Atenção Psicológica em Instituições; Saúde Pública.


ABSTRACT

This paper presents the results of a qualitative research of phenomenological nature that aimed to understand the experience of people who attend a Coexistence Community Center (CECO). Individual dialogical encounters were held with seven adult users of both sexes. After each meeting, the researcher wrote a Comprehensive Narrative, based on his own impressions, about the participant's experience. A Narrative Synthesis was then constructed containing the significant elements of the experience of all participants in relation to the experiences in the CECO. The phenomenologically revealed elements, that constituted the results of the research, can be expressed as follows: (1) interpersonal relations, mediated by professionals in the context of the CECO, are guided by respect, understanding and mutual interest; (2) from the daily coexistence with other people and from participation in collective activities, users can creatively develop their skills and interests; and (3) when they feel welcomed and respected as people, users also develop a positive affective relationship with the service. In conclusion, CECO is a space conducive to the development of individual and collective potentialities and to the valorization of constructive social relations that facilitate and preserve the inherent tendency of people for growth, autonomy and psychological maturation.

Keywords: Coexistence Community Center; Phenomenological Psychology; Narratives; Psychological Attention in Institutions, Public Health.


RESUMEN

Este artículo presenta los resultados de una investigación cualitativa de naturaleza fenomenológica que objetivó comprender la experiencia de personas que frecuentan un Centro de Convivência (CECO). Se realizaron encuentros dialógicos individuales com siete usuários adultos de ambos sexos. Después de cada encuentro, el investigador redactó una Narrativa Comprensiva, a partir de sus propias impresiones, sobre la experiencia del participante. A continuación, una Narrativa Síntesis fue construída conteniendo los elementos significativos de la experiencia de todos los participantes en relación a las vivencias en el CECO. Los elementos fenomenológicamente desvelados, que constituyeron los resultados de la investigación, pueden ser así expresados: (1) las relaciones interpersonales mediadas por los profesionales en el contexto del CECO se orientan por respeto, comprensión y interés mutuo; (2) a partir de la convivencia cotidiana con otras personas y de la participación en actividades colectivas, los usuarios pueden desarrollar creativamente sus habilidades e intereses; y (3) al sentirse acogidos y respetados como personas, los usuarios también desarrollan una relación afectiva positiva con el servicio. Concluyendo, el CECO es un espacio propicio para el desarrollo de potencialidades individuales y colectivas y la valorización de relaciones sociales constructivas que facilitan y preservan la tendencia inherente de las personas hacia el crecimiento, la autonomía y la maduración psicológica.

Palabras-clave: Centro de Convivencia; Psicología Fenomenológica; Narrativas; Atención Psicológica en Instituciones; Salud Pública.


 

 

Introdução

Os Centros de Convivência (CECO's)1 são instituições públicas que compõem as redes de Atenção à Saúde e de Atenção Psicossocial e cuja missão consiste em promover espaços de sociabilidade, formação cultural e intervenção em municípios brasileiros. São locais de portas abertas à comunidade e, em especial, às pessoas em situação de vulnerabilidade ou exclusão social (Brasil, 2005; Brasil, 2011; Ferigato; Carvalho & Teixeira, 2016a). Desse modo, possibilitam encontros entre pessoas com características diferentes, em especial àquelas que vivenciam diferentes formas de exclusão, estimulando o convívio e a participação da comunidade de uma determinada região (Ferigato; Carvalho & Teixeira, 2016b).

O grande eixo de trabalho dos CECO's são as atividades coletivas, que ocorrem por meio de oficinas de artesanato, música, dança, teatro e esporte, por exemplo. Há, também, oficinas de geração de renda, nas quais são promovidas "atividades para ressignificar o processo de trabalho, visando à inserção social, através de cooperativas para geração de renda" (Cambuy & Amatuzzi, 2012, p. 675). Estas cooperativas facilitam o reconhecimento das habilidades dos usuários dos CECO's para compor fontes de renda quando encontram-se em situação de desemprego, favorecendo sua reinserção no mundo do trabalho, o qual, neste contexto, pode significar um novo estatuto social para aquele considerado incapaz ou improdutivo (Ramos, 2015).

As atividades dos CECO's ocorrem a partir do engajamento de diversos setores públicos, principalmente das instituições da Assistência Social, Saúde, Educação e Cultura num modelo assistencial sob a forma de rede intersetorial. Então, apesar de comporem a rede de cuidados em saúde, em especial a rede de Atenção Psicossocial, os CECO's não operam sozinhos; extrapolam as fronteiras sanitárias ao promover ações intersetoriais e transdisciplinares exercidas por diferentes profissionais (Ferigato et al., 2016b). A intersetorialidade efetivada nos CECO's inclui atividades culturais juntamente com diferentes modalidades de atenção à saúde (Aleixo & Lima, 2017), fortalecendo as políticas públicas de Promoção da Saúde e a rede de Atenção Psicossocial no Sistema Único de Saúde (SUS).

As ações no contexto dos CECO's são desenvolvidas pelos profissionais contratados - como psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, educadores sociais, artistas plásticos - bem como por profissionais vinculados a outros serviços, estagiários e voluntários. O encontro de profissionais de áreas tão distintas nestas instituições cria um novo ofício que supera a prática tradicional em saúde (Lopes; Valent & Buelau, 2015; Silveira; Amanda & Reinaldo, 2010) e estimula, entre outras coisas, a transdisciplinariedade, a ampliação de redes de cuidado (Ferigato et al., 2016a) e, consequentemente, a promoção do cuidado integral. Os CECO's, desta forma, mostram-se relevantes para garantir a saúde da população, que passa a desfrutar de um espaço de cuidado orientado por ações que não focam as patologias e, sim, as potencialidades e os aspectos sadios dos indivíduos. Este olhar caracteriza algumas propostas de atenção psicológica clínica desenvolvidas em CECO's (Cambuy & Amatuzzi, 2012).

Historicamente, os CECO's surgiram no contexto brasileiro no final da década de 1980 enquanto serviços públicos afinados com o ideário da Reforma Psiquiátrica e, portanto, como parte da rede complementar e substitutiva em saúde mental, ao lado, por exemplo, dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) (Lopes et al., 2015). Neste sentido, foram implementados inicialmente com vistas à reabilitação psicossocial de usuários da saúde mental, no intuito de incluí-los no tecido social (Aleixo & Lima, 2017; Galletti, 2004). No entanto, estas instituições passaram a direcionar uma atenção especial a pessoas com problemáticas sociais e ampliaram seu escopo de ação ao sofrimento e a vulnerabilidade vividos socialmente.

No que se refere aos usuários que frequentam os CECO's, são pessoas da comunidade que encontram, nestas instituições, possibilidades de convivência, criação de laços sociais e participação em atividades diversas. No entanto, essas instituições vêm se destacando também pelo papel estratégico que desemprenham na inclusão social de pessoas com vulnerabilidades diversas (Alvarez & Silva, 2016; Cambuy & Amatuzzi, 2012; Galletti, 2004; Ferigato et al., 2016a, 2016b), como pessoas com deficiências físicas, sensoriais e cognitivas, pessoas em situação de rua, população LGBTQ, usuários de crack, álcool e outras drogas e pessoas com transtornos mentais diversos (Aleixo & Lima, 2017; Ferigato et al., 2016b). As ações dos CECO's voltam-se especialmente para pessoas com histórico de exclusão ou que se sentem nesta condição, criando novos sentidos para o viver coletivo, sobretudo em contextos onde há escassez de espaços comunitários de convivência, cultura e lazer, como é o caso do município onde este estudo foi realizado e, também, da maioria das cidades brasileiras.

A exclusão social é conceituada por Wanderley (2004) como um processo de privação coletiva que tem em seu escopo a pobreza, a discriminação e as desigualdades sociais. Do ponto de vista psicológico, o sofrimento psíquico se configura como uma das principais manifestações humanas decorrentes de situações de exclusão. Evidentemente, o sofrimento psíquico não é uma expressão exclusiva de pessoas socialmente excluídas, porém esta população conta com menos recursos para enfrentar com sucesso os riscos a que é submetida cotidianamente, o que dificulta a qualidade de vida e sua reinserção social (Rabello, 2013).

Entende-se, desse modo, a importância de práticas e estratégias inclusivas que busquem o desenvolvimento humano de pessoas historicamente excluídas, descriminadas e oprimidas, as quais podem vivenciar diversas facetas dos chamados sofrimentos sociais (Aiello-Vaisberg 2017). Neste sentido, os CECO's ganham expressão. A inclusão social nestes espaços se dá pela via da convivência entre pessoas heterogêneas que se relacionam por meio de atividades coletivas (Ferigato et al., 2016b).

Estudos realizados com diversos públicos (usuários, familiares, profissionais e gestores), sob diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, apontam que os CECO's promovem efeitos positivos na vida da população que os frequenta, como: a formação de novos laços sociais, o acesso aos serviços públicos (Saúde, Educação e Cultura), a ampliação da autonomia, a redução da medicalização, inclusão e participação social, a apropriação dos espaços públicos na cidade, a valorização da livre expressão, resgate ou descoberta de habilidades, aumento da autoestima, e a ressignificação do trabalho por meio das atividades realizadas (Aleixo & Lima, 2017; Alvarez & Silva, 2016; Caçapava; Colvero & Pereira, 2009; Cambuy & Amatuzzi, 2012; Damasceno & Reinaldo, 2009; Ferigato et al., 2016a, 2016b; Silveira et al., 2010). Nenhum destes estudos, no entanto, propôs-se a discutir a produção do conhecimento sobre estes serviços e/ou sobre as repercussões na vida das pessoas que deles fazem parte sob uma perspectiva psicológica tal como o fizemos nesta pesquisa, isto é, compreender os significados atribuídos à experiência de integrar-se aos CECO's pela perspectiva dos usuários deste tipo de instituição.

 

Fundamentos Metodológicos

Este estudo foi desenvolvido como uma pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica, segundo os princípios formulados por Edmund Husserl. A fenomenologia husserliana constituiu-se em um movimento filosófico que se originou no final do século XIX e se ampliou no século XX, na Alemanha (Ales Bello, 2006). Para Husserl (1977/2008), a Fenomenologia apresenta-se como um modo mais coerente, nas investigações das Ciências Humanas, para se compreender o homem, suas vivências e os significados que ele atribui ao que vive, isto é, o seu sentido. E para apreender o sentido, é preciso colocar o fato empírico entre parênteses (Amatuzzi, 2009), utilizando-se da redução fenomenológica.

Na transposição da Fenomenologia filosófica para a investigação empírica em Psicologia, a pesquisa fenomenológica se sustenta, segundo Amatuzzi (1996, p. 5), enquanto uma forma de pesquisa qualitativa que "designa o estudo do vivido, ou da experiência imediata pré-reflexiva, visando descrever seu significado"; ou ainda, "qualquer estudo que tome o vivido como pista ou método. É a pesquisa que lida, portanto, com o significado da vivência" (p.5).

Para Holanda (2006, p. 371), o método fenomenológico, aplicado às investigações empíricas, orienta-se pela busca do sentido da experiência vivida, procurando compreender o "que a experiência significa para as pessoas que tiveram a experiência em questão e que estão, portanto, aptas a dar uma descrição compreensiva desta. Destas descrições individuais, significados gerais ou universais são derivados: as 'essências' ou estruturas das experiências." Em uma pesquisa de natureza fenomenológica, como é o caso, busca-se o registro transcendental, isto é, a estrutura essencial das experiências em investigação. O pesquisador, neste contexto, pode, ao final do processo, ser capaz de apreender a estrutura da experiência em estudo a partir daquilo que foi comunicado, ou seja, poderá reconhecer os elementos comuns (invariantes) que caracterizam a experiência de determinado fenômeno para diversas pessoas.

As pesquisas qualitativas de natureza fenomenológica que vêm sendo desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa institucional "Atenção Psicológica Clínica em Instituições: prevenção e intervenção", do qual os pesquisadores fazem parte, têm utilizado narrativas compreensivas geradas a partir de encontros dialógicos entre pesquisador-participantes como expressão da experiência vivida nessa relação intersubjetiva (Brisola & Cury, 2018; Brisola; Cury & Davidson, 2017; Mozena & Cury, 2010; Oliveira & Cury, 2016; Zini & Cury, 2014).

Este encontro, ancorado na escuta empática e apurada do pesquisador, demarca a abertura de um espaço intersubjetivamente orientado pela troca de ideias e pensamentos entre pesquisador e participante, numa via de mão dupla, no qual ambos se afetam mutuamente. Essa troca é facilitada, pelo pesquisador, por meio de um diálogo no qual o objetivo é estar junto com o participante para explorar algo com ele e não "reunir dados" para a pesquisa. Daí o motivo pelo qual estes encontros não são gravados pelos pesquisadores (Brisola et al., 2017). Então, foi a partir dos encontros dialógicos do pesquisador com diversos usuários de um CECO que as narrativas compreensivas ganharam expressão nesta pesquisa, integrando outros estudos de natureza fenomenológica realizadas em contextos institucionais.

A partir de uma perspectiva de base fenomenológica, as narrativas podem ser compreendidas, segundo Mozena e Cury (2010, p. 69), como "um processo rigoroso de interpretação da experiência intersubjetiva gerada a partir da relação dialética entre pesquisador e participante, que revela o significado da experiência vivida pela via do pesquisador". Esta estratégia metodológica privilegia, dessa forma, o processo experiencial do pesquisador, a partir da relação com o participante, na compreensão e interpretação das experiências vividas.

A versão inicial das narrativas, escritas pelo pesquisador em primeira pessoa, conta com aspectos mais triviais da experiência, priorizando-se o relato do sujeito pesquisado, da forma como ele escolheu contar sobre o vivido. Aqui, a narrativa tem um caráter mais descritivo (Oliveira & Cury, 2017). Depois da leitura dessa primeira versão, os pesquisadores são impactados pela narrativa novamente, porém com um olhar diferenciado: "vendo novos significados, enxergando com mais clareza. Eles fazem isso de novo, até que não haja mais novas impressões ou significados" (Brisola et al., 2017, p. 470, tradução nossa). Desse modo, ao passo que estas narrativas são lidas, ganhando novos significados, as versões subsequentes evoluem gradativamente de um modelo descritivo para outro mais reflexivo e compreensivo (Oliveira & Cury, 2017).

Ao finalizar as narrativas de cada encontro, com os elementos significativos elucidados, o pesquisador se debruça numa releitura cuidadosa de cada uma delas com o objetivo de identificar os elementos invariantes das experiências comunicadas. A leitura do conjunto de narrativas resultará, desse modo, na elaboração de uma Narrativa Síntese, a qual pode ser compreendida como "uma depuração dos elementos mais significativos da experiência em foco" (Oliveira & Cury, 2017, p. 211). Engloba, desta maneira, os significados das experiências vividas que são compartilhadas por um grupo de participantes (Brisola et al., 2017).

No que se refere ao processo de análise do material em estudo, é importante esclarecer que o próprio movimento de construção das narrativas pelo pesquisador vai traçando o caminho analítico. O material organizado na forma das Narrativas Compreensivas e da Narrativa Síntese é interpretado a partir de atividades características das análises fenomenológicas que se inicia com a descrição, é sucedida pela compreensão e finalizada com a interpretação, "numa dança harmoniosa em que os passos ao se sucederem complementam-se e são recriados" (Zini & Cury, 2014, p. 48).

 

O Contexto da Pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em um Centro de Convivência localizado em um bairro de periferia de uma cidade do interior do Estado de São Paulo com cerca de um milhão de habitantes. É um espaço aberto para a circulação de toda a comunidade; recebe, desse modo, crianças, jovens e, principalmente, adultos de todas as idades, funcionando como um "serviço de porta aberta". As pessoas chegam encaminhadas de outras instituições da comunidade ou por busca espontânea. O acolhimento aos novos usuários é feito, portanto, durante todo o horário de funcionamento do serviço. Vale ressaltar que, no momento do acolhimento, o recém-chegado é convidado a conhecer o espaço e suas atividades, podendo escolher aquelas com as quais mais se identifica. Esta instituição conta com aproximadamente 125 frequentadores/mês.

 

Procedimento

Após os pareceres favoráveis da instituição responsável pelo CECO e do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (sob o protocolo n.º 2.432.475), o pesquisador passou a frequentar o CECO semanalmente com o objetivo de acompanhar as atividades rotineiras da instituição e aproximar-se dos seus usuários. Acompanhou, desse modo, as oficinas oferecidas pelo espaço durante quatro meses. A partir da inserção do pesquisador no campo de pesquisa, este aproximou-se de algumas pessoas, convidando-as a participar do estudo. A escolha dos participantes ocorreu a partir do envolvimento espontâneo do pesquisador com os usuários e do interesse deles na pesquisa.

Após a demonstração de interesse por parte das pessoas convidadas, os encontros dialógicos foram agendados em comum acordo entre pesquisador e participante. Estes encontros ocorreram individualmente no espaço do CECO, em lugares adequados para este fim. Neles, o pesquisador iniciou a conversa esclarecendo o participante sobre as questões éticas envolvidas na pesquisa, as eventuais dúvidas sobre a mesma. Em seguida, fez a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para o participante, pedindo-lhe que, se estivesse suficientemente esclarecido e de acordo, assinasse uma das vias do documento e mantivesse a outra consigo.

Os encontros foram iniciados com a seguinte questão norteadora: "estou interessado em compreender a experiência de pessoas que frequentam um Centro de Convivência. Gostaria que me contasse sobre a sua experiência no CECO (nome do CECO)". Assim, os participantes eram convidados a falar abertamente sobre suas experiências, de forma natural e fluida, como numa conversa. O pesquisador assumiu uma postura de aceitação e compreensão empática durante o encontro, facilitando a interação dialógica e o acolhimento às falas e às emoções expressas.

Após os encontros, o pesquisador redigiu narrativas compreensivas, conforme descritas e fundamentadas anteriormente, que visam comunicar a experiência de cada um dos participantes em relação ao CECO. Ao finalizar estas narrativas, elaborou uma Narrativa Síntese contento os elementos significativos e estruturais da experiência vivida por todos os participantes. Por fim, foi realizado um diálogo com outros pesquisadores do Grupo de Pesquisa sobre os resultados desse estudo, de forma a possibilitar uma melhor elaboração dos elementos essenciais da experiência vivida pelos participantes na relação com o CECO.

 

Participantes

Participaram de um encontro individual com o pesquisador sete usuários de ambos os sexos, maiores de 18 anos, que frequentam o CECO regularmente e que participam de pelo menos uma das atividades oferecidas. Os encontros tiveram entre uma e duas horas de duração e foram realizados nos meses de maio, junho e julho de 2018.

A seleção dos participantes do estudo não tomou como base um diagnóstico específico e pré-estabelecido. O pesquisador priorizou a diversidade em termos de condições de saúde para a seleção dos participantes, visto que o objetivo foi compreender a experiência de pessoas que, na condição de usuários, frequentam o CECO, sendo que estes não precisavam, necessariamente, apresentar alguma morbidade. O nome dos participantes foi alterado para garantir o necessário sigilo. A Tabela 1, abaixo, apresenta uma caracterização dos mesmos, seguindo a ordem cronológica em que os encontros ocorreram.

 


Tabela 1 - Clique para ampliar

 

Resultados e Discussão

A construção das narrativas a partir dos encontros dialógicos realizados com os participantes da pesquisa possibilitou uma aproximação com os elementos significativos da experiência vivida por eles ao se integrarem às atividades de um Centro de Convivência. Estes elementos serão apresentados tomando como base as Narrativas Compreensivas e, principalmente, a Narrativa Síntese construída pelo pesquisador, a qual expressa a estrutura essencial da experiência vivida pelos participantes. Em seguida, os elementos fenomenologicamente desvelados serão discutidos a partir da interlocução com outros pesquisadores, cujos estudos discorreram sobre os CECO's e/ou sobre o conviver como dimensão psicológica de relacionamentos interpessoais. Embora sejam analisados separadamente, os elementos se relacionam entre si numa dimensão experiencial.

Os trechos mantidos entre aspas nos pequenos excertos escolhidos para ilustrar os elementos essenciais da experiência vivida pelos participantes buscaram uma aproximação com as falas dos mesmos.

 

As relações interpessoais no contexto do CECO

Este elemento considera que as relações interpessoais, mediadas pelos profissionais no contexto do CECO, são orientadas por respeito, compreensão e interesse mútuo, possibilitando aos usuários o desenvolvimento de vínculos afetivos significativos entre si.

A fala de José sobre "enxergar a pessoa do outro" me despertou interesse. Pergunto se ele se sente desta forma no CECO. José relata que gosta muito dali porque é enxergado de verdade; é enxergado com afeição e respeito. Conta que é visto com estranhamento pela sociedade, mas ali se sente diferente: "aqui sou reconhecido, valorizado...e as pessoas não me olham como um incapaz e sim como alguém que tem muito potencial, você entende?" (...) "O CECO me ajudou de várias maneiras... me ajudou, inclusive, a ser quem eu sou." (Trecho da Narrativa Compreensiva de José)

Apesar de me sinalizar que foram as atividades que, inicialmente, despertaram seu interesse pelo CECO, [Maria de Lourdes ] conta que o que a fez permanecer no serviço é a forma como foi recebida e como as pessoas são cuidadas ali: "mas o que mais me chamou a atenção foi o acolhimento daqui." (...) "Você pode reparar... não tem distinção nenhuma. Todo mundo é tratado igual... com respeito e carinho". (Trecho da Narrativa Compreensiva de Maria de Lourdes)

[Alma ] sente que os frequentadores têm uma relação de respeito e de estima para com ela, como uma irmandade: "aqui é tudo meus irmãos. Eu nunca vou sair daqui... só quando eu morrer mesmo". Ela me diz que fez amizades muito importantes no serviço: "fiz muitos amigos aqui. Amigos que eu visito, que eu recebo em casa... alguns vão na igreja comigo...". (Trecho da Narrativa Compreensiva de Alma)

[Fred ] destaca que se sente realizado pela possibilidade que o CECO lhe oferece de desenvolver-se, de ser olhado e respeitado. Conta que se sente muito bem ali, pois as pessoas (frequentadores e profissionais) tratam-no com familiaridade e afeto, diferentemente de outros lugares nos quais, muitas vezes, o tratam com indiferença, com mais frieza. (Trecho da Narrativa Compreensiva de Fred)

Com base no relato dos participantes, foi possível perceber que integrar-se ao CECO possibilita a vivência de relações humanas gratificantes e peculiares pouco vividas anteriormente por eles em instituições de saúde ou até mesmo em suas histórias pessoais. Encontros interpessoais orientados por respeito, afeição e interesse mútuo constituem oportunidades que, segundo o psicólogo norte americano Carl Rogers2 (2009), são vitais para o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais construtivos, isto é, relacionamentos que facilitam o desenvolvimento de potencialidades que fazem parte da tendência inerente das pessoas para o crescimento e amadurecimento psicológicos.

As relações interpessoais no contexto do CECO são caracterizadas, desse modo, pela vivência de atitudes positivas para com o outro. Essa vivência corresponde a uma atitude de Aceitação Positiva Incondicional, compreendida por Rogers (2009), como uma condição psicológica que consiste em receber e aceitar o outro como ele é, expressando interesse, consideração e apreço genuínos por sua pessoa, independentemente de sua condição, de seu comportamento ou de seus sentimentos. Trata-se, pois, de uma condição que convida o outro a viver sua vida de forma mais autônoma, confiante e espontânea; é um convite à experiência de ser quem se é. Neste sentido, as relações interpessoais no CECO parecem favorecer um clima psicológico de aceitação e segurança que facilita o desenvolvimento e a expressão autêntica das pessoas, bem como a valorização delas por outros que lhe são significativos.

Os achados da presente pesquisa, portanto, corroboram os estudos que tratam das relações interpessoais no CECO (Alvarez & Silva, 2016; Ferigato et al., 2016a) ao compreenderem que a vivência de relações humanas neste contexto é gratificante e transformadora, isto é, orienta-se em uma direção construtiva.

Ao vivenciarem este tipo de relacionamentos interpessoais com os profissionais e, principalmente, com os demais frequentadores, os usuários do CECO sentem-se genuinamente valorizados e respeitados neste contexto. E é justamente a valorização da pessoalidade de cada um que os mantém afetivamente vinculados à instituição. Sabem que, neste contexto, podem desenvolver seus potenciais e se expressar de forma autêntica, isto é, podem ser quem realmente são. A vivência de relações interpessoais caracterizadas por reconhecimento mútuo e aceitação das diferenças individuais, sem avaliações ou julgamentos, parece caracterizar os relatos dos participantes no que diz respeito a sentirem-se acolhidos e aceitos sem exigências no CECO. A esse respeito, Cambuy e Amatuzzi (2012) esclarecem que, ao se sentirem respeitados e acolhidos, os usuários dos CECO's, em especial aqueles com transtornos mentais, podem se sentir confiantes para explorar outros espaços relacionais da comunidade.

No presente estudo, ficou evidente que um dos elementos que facilita aos usuários do CECO explorarem outros espaços de convívio e outras instituições, além do desenvolvimento da autoconfiança, é a possibilidade que encontram ali para a formação e manutenção de laços sociais significativos, ampliando, assim, a rede social de apoio e de convivência. Os participantes compartilharam que, ao integrar-se ao CECO, puderam criar elos de amizade que são mantidos dentro e fora desta instituição. Em seu estudo, Monnerat (2011) concluiu que os CECO's atuam como espaços singulares de sociabilidade para seus usuários pelas relações de amizade formadas e que a exploração de outros espaços da comunidade, pelos usuários do CECO, é estimulada pelos profissionais do serviço, o que na presente pesquisa parece ocorrer de forma mais espontânea.

Alguns estudos corroboram que estes espaços coletivos de convivência promovem a criação de novos laços sociais e fortalecem os vínculos já estabelecidos neste contexto, possibilitando a ampliação das relações e da inserção social de seus usuários (Aleixo & Lima, 2017; Alvarez & Silva, 2016; Ferigato et al., 2016a, 2016b; Marques et al., 2016). Alvarez e Silva (2016) explicam que a ampliação dos laços sociais e a exploração de outros espaços da comunidade é de grande relevância, sobretudo para as pessoas em sofrimento psíquico e/ou com outras problemáticas sociais, pois, na perspectiva dessas autoras, a partir da vivência de relações humanas que estimulem a tolerância às diferenças, essas pessoas podem seguir o processo em direção a uma vida mais plena e autônoma.

Como já exposto, os Centros de Convivência surgiram no contexto brasileiro enquanto serviços de base comunitária para a reabilitação psicossocial e para a promoção da saúde, visando a convivência e também a inclusão social de pessoas com transtornos mentais e de outras populações que se encontram em situação de exclusão. A noção de inclusão usualmente discutida nas políticas públicas sustenta-se, aparentemente, a partir de uma concepção hierárquica de relações humanas, nas quais as pessoas ditas "normais" incluiriam os "psicóticos", os "deficientes", "os diferentes" etc. numa via de mão única. A partir do relato dos participantes desta pesquisa, os pesquisadores arriscariam dizer que os CECO's conseguem superar essa concepção limitadora de inclusão.

A posição defendida sustenta-se na ideia de que as relações interpessoais no CECO facilitam a vivência, para os usuários, de uma consideração positiva incondicional pelo outro enquanto pessoa, isto é, orientam-se pela busca e cultivo de uma postura de aceitação e de respeito à alteridade. Neste sentido, Mahfoud (2017), ao discorrer sobre o conceito de pessoa para Edith Stein, acentua que os indivíduos se tornam pessoas e se individualizam por meio das diversas formas de alteridade; tornam-se pessoas na relação com outra pessoa reconhecida como tal. Neste sentido, parece que as relações no CECO possibilitam vivências de acolhimento e de respeito ao outro enquanto igual, extrapolando a noção genérica de inclusão social. A diversidade presente nessas instituições de saúde aparece como um elemento em potencial para vivências humanas que sustentam as diferenças individuais e que reconhecem a pessoalidade e as potencialidades do outro (Cambuy & Amatuzzi, 2012).

 

O desenvolvimento do potencial criativo na convivência cotidiana

Este elemento compreende que, a partir da convivência cotidiana com outras pessoas e da participação em atividades coletivas, os usuários do CECO podem desenvolver criativamente suas próprias habilidades e interesses.

José me relata, também, que acredita muito na convivência entre pessoas a partir das atividades do CECO. As atividades fazem-no "desenvolver a mente, a sociabilidade e também a parte motora". (Trecho da Narrativa Compreensiva de José)

Isabel explica que o CECO foi, antes de mais nada, "uma terapia" após a perda do marido. Além disso, destaca que foi um espaço que permitiu que ela desenvolvesse seu potencial criativo, pois aprendeu "um monte de coisa" que ela não sabia que era capaz de fazer. (Trecho da Narrativa Compreensiva de Isabel)

Carlos relata que tem uma dificuldade acentuada em interagir com as pessoas pelo fato de ser muito tímido e reservado e, na oficina de teatro, teve a possibilidade de desenvolver suas habilidades sociais. "O teatro exige que você incorpore um personagem, olhe no rosto dos colegas, fale em público... então, a timidez é deixada um pouco de lado". Para ele, isso lhe permite aproximar-se das pessoas e criar novos laços de amizade. (Trecho da Narrativa Compreensiva de Carlos)

[Fred ] Conta que ali pôde fazer amizades, ganhar confiança e, principalmente, desenvolver suas potencialidades artísticas: "eu venho pro CECO por todos esses anos porque, aqui, consegui desenvolver meu carisma e o meu talento em relação à dança, ao canto e à atuação". Pergunto, então, se uma dos motivos para manter-se vinculado ao serviço por tanto tempo é a possibilidade de desenvolver seu potencial artístico. Ele confirma e relata que é a valorização, pelas pessoas, desse potencial. (Trecho da Narrativa Compreensiva de Fred)

Os participantes desta pesquisa relataram que, por meio da convivência e da participação em atividades coletivas no CECO, puderam desenvolver potencialidades construtivas como seres humanos, sejam elas artísticas, relacionais e/ou psíquicas. Desse modo, ao se apropriarem de uma instituição de saúde que lhes oferece atividades de interesse, desenvolveram-se em uma direção positiva e satisfatória, potencializando o processo de recuperação da saúde, quando se encontravam adoecidos ou debilitados, como é o caso das pessoas em sofrimento psíquico e/ou com alguma deficiência. Este elemento nos remete à concepção rogeriana de tendência atualizante:

A tendência à atualização é a mais fundamental do organismo em sua totalidade. Preside o exercício de todas as funções, tanto físicas quanto experienciais. E visa constantemente desenvolver as potencialidades do indivíduo para assegurar sua conservação e seu enriquecimento, levando-se em conta as possibilidades e limites do meio (Roger & Kinget, 1979, p. 41).

Neste sentido, tendo como base o relato dos participantes desta pesquisa, podemos concluir que as relações vividas no contexto do CECO propiciam um clima psicológico de segurança e de liberdade que facilita a manifestação desta tendência na direção do desenvolvimento e atualização das potencialidades de seus frequentadores, os quais encontram no CECO uma oportunidade para saírem de casa, onde há poucas atividades que lhes interessam, segundo eles, para se desenvolverem como pessoas num ambiente social. Desse modo, resgatam ou descobrem habilidades e competências que os enriquecem pessoalmente; aprendem a viver com outras pessoas em suas singularidades, superando limitações e preconceitos; e sentem-se mais criativos e autônomos em relação à própria vida.

No que se refere ao resgate ou descoberta de habilidades, os participantes destacaram que, ao participarem das atividades do CECO, aprenderam a trabalhar com diferentes tipos de artesanato, como o mosaico e a decoupage3, e se desenvolveram física e artisticamente por meio das oficinas que estimulam a capacidade criativa e a expressão, como a oficina de teatro, música e dança. Todos os participantes relataram se sentir satisfeitos ao participar de atividades coletivas que atendem aos seus interesses e que são escolhidas por eles, pois podem aprender e aprimorar uma técnica, explorar possibilidades, criar e se expressar artisticamente. Destaca-se aqui o sentido terapêutico da participação em diferentes oficinas para os participantes.

Em sua pesquisa, Cambuy e Amatuzzi (2012) concluíram que, além do desenvolvimento de habilidades e da autonomia, como apontadas no nosso estudo, as oficinas no CECO também proporcionam aos seus usuários o aumento da autoestima e "a ressignificação da experiência de vida a partir do contato com a produção" (p. 678). Esses pesquisadores destacaram também que, embora as oficinas possibilitem benefícios para os usuários, são, em essência, estratégias para a convivência entre as pessoas, isto é, "elas representam o meio, e não o fim de todo o trabalho" (p. 680). Neste sentido, os participantes do presente estudo apontaram que desenvolvem potencialidades relacionais e psíquicas ao participarem de atividades coletivas que estimulam a tolerância às diferenças, ou melhor, que facilitam a vivência de uma aceitação positiva incondicional pelo outro. Esta vivência possibilita a eles superar limitações e preconceitos, como apontado no estudo de Ferigato et al. (2016a, p. 17) ao classificar o envolvimento dos usuários do CECO com a atividade como um "canal produtor de mudança da percepção que o outro tem de si, uma possibilidade para diminuir estigmas, produzir direitos e gerar novos encontros entre o sujeito" e o contexto social.

Além disso, esses mesmos autores apontam que o encontro com a atividade tem significados terapêuticos, de transformação pessoal e de ocupação das pessoas no tempo e espaço. Este último elemento nos remete aos achados da presente pesquisa ao compreender que, ao se apropriarem do CECO e das oficinas, os usuários podem organizar e enriquecer suas rotinas de forma a terem uma agenda de atividades que os faz sentirem-se engajados, exercendo, assim, atividades com valor social. O sentimento para eles é de satisfação por fazer algo com outras pessoas no seu dia a dia. Isso aparece nas narrativas, em alguma medida, como uma vivência de pertencimento grupal. A partir de uma perspectiva centrada na pessoa (Rogers, 2009), podemos compreender o pertencimento como uma necessidade de ser considerado de forma positiva por outras pessoas significativas.

Abraham Maslow, psicólogo norte-americano cuja contribuição para o desenvolvimento da Psicologia Humanista norte americana, juntamente com Carl Rogers e outros psicólogos, é inegável, estruturou uma teoria da motivação a partir da hierarquização das necessidades humanas de um ponto de vista psicológico que orientaria o processo de desenvolvimento. Segundo essa teoria, as pessoas têm as seguintes necessidades básicas: fisiológicas, de segurança, de pertencimento e amor, de estima e de autorrealização. As necessidades de pertencimento incluem aquelas voltadas para as esferas sociais, como ter uma família, amigos íntimos e pertencer a grupos e comunidades (Maslow, 1954).

Estudos apontam que o sentimento de pertencimento é indispensável para a potencialização da saúde e para o tratamento psicossocial no campo da saúde mental e de promoção da saúde (Dutra et al., 2017; Moura et al., 2017; Pereira & Palma, 2018). O estudo de Pereira e Palma (2018), realizado em um CAPS da cidade de Unaí - MG, buscou conhecer a percepção dos usuários acerca dos sentidos das atividades terapêuticas em seu cotidiano, a partir de uma pesquisa de natureza fenomenológica. Dentre seus achados, estes pesquisadores acreditam que o sentimento de pertencimento a um grupo e à comunidade possibilita novos papéis na sociedade, transformação pessoal e segurança para formar novos laços sociais, ampliando, desse modo, o sentido da autonomia para os usuários do CAPS.

Pertencer a um grupo parece nos colocar diante do próprio existir. Edith Stein, compreende que a vida em comunidade é o que nos torna humanos e o que nos invidualiza através de relações nas quais há reconhecimento mútuo da pessoalidade, isto é, através da alteridade (Mahfoud, 2017). Na perspectiva de Stein, uma comunidade pode se estabelecer entre duas pessoas ou entre os cidadãos de uma grande nação. É a vida em comunidade que potencializa o processo de formação pessoal (Mahfoud, 2008). Neste processo de tornar-se, a partir dos relacionamentos, as pessoas podem desenvolver suas próprias potencialidades individuais. Segundo Cambuy e Amatuzzi (2012, p. 680), no contexto do CECO, "quanto mais o sujeito se vê reconhecido e respeitado em sua alteridade, em sua singularidade, como legítimo outro, mais ele vai potencializando sua própria existência".

 

Desenvolvendo uma relação afetiva com o CECO

Neste elemento, compreende-se que, ao se sentirem acolhidos e respeitados como pessoas e não como pacientes, os usuários desenvolvem uma relação afetiva positiva com o serviço que os faz colaborarem com as atividades cotidianas de uma maneira diferente daquela que vivenciam em outros contextos de saúde pública.

José continua seu discurso com elogios ao serviço e aos profissionais que dele fazem parte: "o CECO é um lugar que torna as pessoas criativas e onde os profissionais enxergam a pessoa do outro". Refere-se ao CECO com muita gratidão. (...) Ele esclarece que prefere as oficinas de artesanato e a oficina de culinária. Conta que se sente muito satisfeito em participar dessas oficinas, ainda mais quando pode ajudar a equipe de profissionais e os outros frequentadores. Questiono se ele pode ser considerado como "a mão direita" da equipe, mas ele não se vê assim. Relata: "na verdade, eles [os profissionais ] são minha mão direita, pelo cuidado que tiveram e têm comigo... devo muito a eles!". (Trecho da Narrativa Compreensiva de José)

Para Alma, a forma como é recebida e cuidada ali fez com que se envolvesse com o serviço de forma tão significativa. (...) Conta que se sente muito bem, feliz em estar no CECO. Além disso, emocionada, relata: "tudo o que eu não tinha na minha família, eu tenho aqui". Eu repito sua fala, questionando depois o que ela tem ali que não teve na sua história. Alma relata, precisamente: "Amor!". Emociona-se neste momento e continua: "eu me sinto amada aqui... é profundo esse negócio que eu sinto aqui. Apesar de saber que a Íris e Tati [profissionais do CECO ] não são minhas mães, eu sinto como se aqui fosse a minha casa. Eu gosto delas... gosto de todo mundo aqui." (Trecho da Narrativa Compreensiva de Alma)

Comento com Ana que, aparentemente, ela se tornou uma referência para outras pessoas que participam do serviço. Ela confirma e relata que ela e sua amiga Maria de Lourdes (participante desta pesquisa) se tornaram referências ali. (...) [Ana ] relata que, além da forma como foi recebida e tratada, compreende o CECO como um espaço diferenciado. (Trecho da Narrativa Compreensiva de Ana)

Dona Maria de Lourdes acredita que todos os serviços (não apenas os de saúde) têm seu modo de receber e tratar as pessoas, mas o CECO é diferente: "aqui é mais acolhedor. Você pode ver que aqui tem muitas pessoas com problemas de saúde, muitas pessoas com problema mental, que vêm do CAPS, e são muito bem tratadas. (...) "gosto do CECO porque é um lugar aberto e porque encontro pessoas queridas", referindo-se aos profissionais e às pessoas com quem criou laços de amizade. Continua: "é como se fosse uma família, sabe? As pessoas perguntam 'por que você não veio? Você desapareceu! O que aconteceu?' É um diálogo, assim, de querer saber um do outro...de cuidar um do outro, você me entende? É um ambiente em que as pessoas se preocupam com a gente...enfim, a vivência aqui é muito boa, sabe?". (Trecho da Narrativa Compreensiva de Maria de Lourdes)

Ao frequentarem o Centro de Convivência, os usuários têm a possibilidade de se relacionar numa direção construtiva com outros frequentadores e, também, com os profissionais da instituição. A esse respeito, os participantes da pesquisa relataram que se sentem pessoalmente envolvidos com os membros da equipe e expressaram sentimentos de apreço, admiração e gratidão por esses profissionais, o que torna o CECO uma instituição de saúde diferenciada e única, na percepção dos participantes.

Relataram que o grande diferencial do CECO, enquanto espaço de cuidado, encontra-se na possibilidade da participação em atividades coletivas, tais como nas diversas oficinas, e, sobretudo, na forma como são recebidos e tratados pelos profissionais. Sentem-se acolhidos e valorizados enquanto pessoas. Caçapava et al. (2009), em seu estudo sobre estratégias de cuidado em saúde mental no contexto dos Centros de Convivência, concluíram que os CECO's são instituições de saúde singulares que superam a prática assistencial tradicional ao utilizar diversas formas de linguagem no cuidado, tais como as artes, o esporte e o artesanato. Essas pesquisadoras compreendem, também, que o cuidado no contexto do CECO caracteriza-se pelo reconhecimento da subjetividade do usuário e de suas potencialidades criativas, o que vai ao encontro dos achados de Ferigato et al. (2016a, p. 16) no que se refere às relações de cuidado estabelecidas entre usuários e profissionais nestas instituições de saúde: "Nesses espaços, o olhar do profissional para a potencialidade do usuário não é secundário, mas é o fio condutor desse encontro, uma postura ética que parte do reconhecimento do outro como legítimo outro".

Além disso, esses mesmos pesquisadores pontuaram que as relações de cuidado no contexto do CECO se estabelecem num ambiente no qual os profissionais não se colocam superiores aos usuários, proporcionando relações mais humanizadas, de interesse mútuo e de desejo de cuidar e ser cuidado, como apontado pelos participantes da nossa pesquisa. Ficou evidente que eles significam as experiências de cuidado como imprescindíveis pelo papel que o serviço exerceu, ou ainda exerce, em momentos de fragilidade e de sofrimento emocional. Os participantes ressaltaram a importância do CECO, dos frequentadores e profissionais nestes momentos, sobretudo, pelo cuidado sensível disponibilizado, isto é, por uma relação de ajuda que reconhece a pessoalidade do outro.

Por meio de um clima psicológico de valorização mútua entre profissional e usuários, como apontado em nosso estudo, abre-se a possibilidade para relações de confiança - elemento essencial em uma instituição de saúde que compõe a rede de Atenção Psicossocial. Em sua pesquisa desenvolvida com usuários de um CAPS, Nasi e Schneider (2011) compreenderam que este tipo de relação potencializa o cuidado em saúde mental, pois favorece relacionamentos estáveis e de segurança para o usuário, que, por sua vez, costuma se manter vinculado ao serviço pelas possibilidades de desenvolvimento e de melhora das condições de saúde.

Ao falar do relacionamento com os profissionais do CECO, os participantes da pesquisa relataram que sabem que o papel da equipe não se limita ao ensino de alguma técnica ou à facilitação de atividades grupais. Entendem que o CECO é espaço de cuidado em saúde e que há profissionais que podem dar assistência e amparo em momentos de maior dificuldade, como em situações de luto, ansiedade, medo, angústia, crises. Percebem que o CECO é espaço de escuta, de cuidado e de potencialização da saúde e das relações humanas. Esta percepção favorece sentimentos de segurança e confiança mútua entre a equipe profissional e os frequentadores do CECO. Neste clima psicológico de segurança, ao se sentirem respeitados como pessoas e não como pacientes, os usuários sentem-se confiantes para colaborarem com as oficinas da instituição, assumindo responsabilidade em relação a elas e participando das atividades de uma maneira diferente da qual vivenciam em outras instituições de saúde.

Uma condição que impacta negativamente as relações de cuidado no contexto dos CECO's refere-se à precariedade do espaço físico, tanto do ponto de vista da infraestrutura quanto da manutenção, o que foi destacado por todos os participantes da pesquisa e também pelos profissionais. Aleixo e Lima (2017) consideram que a falta de investimentos financeiros e de uma regulamentação ministerial dos CECO's os fragilizam, sendo essa a realidade para muitos serviços como estes. Apesar de os participantes da pesquisa e os profissionais do CECO mostrarem-se insatisfeitos e entristecidos com a falta de recursos na instituição, parece que esta situação não impede que neste contexto as relações intersubjetivas de cuidado aconteçam de forma satisfatória, isto é, ocorram numa direção para o crescimento, amadurecimento e transformação pessoal. Neste sentido, Rogers aponta que "se posso proporcionar um certo tipo de relação, o outro descobrirá dentro de si mesmo a capacidade de utilizar aquela relação para crescer, e mudança e desenvolvimento pessoal ocorrerão" (2009, p. 37). Desse modo, pode-se afirmar que as relações de cuidado no CECO possibilitam o desenvolvimento psicológico de seus usuários. Isso não significa, contudo, que estes serviços não necessitam de mais investimentos políticos e econômicos.

 

Considerações finais

Os elementos fenomenologicamente desvelados apontam que o Centro de Convivência se revelou como um espaço de cuidado e de valorização das relações humanas capaz de promover o desenvolvimento de potencialidades e de preservar a tendência inerente das pessoas para o crescimento e amadurecimento. Além disso, verificou-se que a vivência de relações construtivas, que estimulam a tolerância às diferenças e reconhecem a pessoalidade dos frequentadores, torna o CECO uma instituição de saúde diferenciada para os participantes, os quais significam suas experiências nesse contexto como muito valiosas e imprescindíveis.

Esta pesquisa apontou, ainda, para a falta de estudos que discorrem sobre as relações interpessoais no contexto dos CECO's. Há poucas investigações que discutem os processos relacionais nestes espaços de cuidado e os que o fazem não se aprofundam. O presente estudo buscou, desse modo, analisar a convivência enquanto dimensão psicológica das relações interpessoais no CECO a partir do reconhecimento das experiências de seus usuários e do modo como eles as significam.

Ao longo da realização da pesquisa, os pesquisadores procuraram refletir sobre os Centros de Convivência de forma crítica, tendo em vista que estas instituições de saúde foram concebidas para promover diferentes modos de relacionamentos saudáveis, já que o mundo contemporâneo acaba por não favorecer este tipo de convivência naturalmente, sobretudo, para as pessoas socialmente estigmatizadas ou que se sentem excluídas em algum nível. O CECO, neste sentido, apresentou-se como um meio valioso para as pessoas que o frequentam pela possibilidade que encontram ali de organizarem suas rotinas, sentirem-se pertencentes a um grupo e serem reconhecidas como pessoas.

O CECO se destaca, desse modo, como um contexto relacional que assume grande responsabilidade social ao promover formas de convivência que acolhem as diferenças individuais, sem julgamentos, e promovem relações gratificantes entre as pessoas. Estes elementos nos convidam a refletir sobre a vida em sociedade. Pessoas em sofrimento psíquico grave ou aquelas que lidam com outras problemáticas sociais e de saúde ainda são discriminadas cotidianamente. Esta constatação nos remete à necessidade de se compreender as experiências dos participantes desta pesquisa sem desvinculá-los de um contexto social, político e econômico maior.

 

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Recebido em 01.07.2019
Primeira Decisão Editorial em 20.04.2020
Aceito em 18.05.2020

 

 

1 Os pesquisadores optaram por utilizar o termo Centro de Convivência (CECO) como uma forma de padronizar na escrita os diferentes modos de se nomear esta instituição no contexto brasileiro: Centro de Convivência e Cultura, Centro de Convivência e Cooperativa, Centro de Convivência da Saúde Mental.
2 O referencial teórica deste estudo é humanista, segundo os princípios da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl R. Rogers.
3 O mosaico consiste em uma arte decorativa que que se fundamenta na criação de figuras (geométricas e/ou abstratas) a partir de pequenos fragmentos de materiais, como cacos, pastilhas e azulejos. É uma técnica expressiva aplicada em superfícies planas como pisos, paredes e quadros. Do ponto de vista simbólico, esta técnica relaciona-se aos processos de desconstrução e reconstrução. Já a decoupage constitui-se em uma técnica artesanal e expressiva que se utiliza dos processos de recorte e colagem de imagens prontas para cobrir superfícies, como madeiras, tecidos e vidros.

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