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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.10 no.2 São João del-Rei dez. 2015

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Maria de Fátima Aranha de Queiroz e Melo; Marília Novais da Mata Machado; Sheila Ferreira Miranda; Marcos Vieira-Silva

Endereço para correspondência

 

 

Com este número, Pesquisas e Práticas Psicossociais completa seu décimo ano de existência ininterrupta. Comemora esse evento com o dossiê especial dedicado à "Psicologia Comunitária", organizado por Marcos Vieira-Silva, editor da revista desde o primeiro momento. Ao dossiê, seguem-se artigos multitemáticos que, dentro da linha editorial da revista, contemplam a diversidade de perspectivas e métodos de tratamento dos processos psicossociais.

O Dossiê sobre Psicologia Comunitária que publicamos neste número da PPP é resultado de um trabalho proposto pelo GT Psicologia Comunitária, da ANPEPP - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia. Compreende artigos de diferentes regiões e instituições do país, de autoria de membros do GT produzidos com parceiros e convidados, com o objetivo de apresentar um panorama dos trabalhos desenvolvidos sobre Psicologia Comunitária em instituições de ensino, extensão e pesquisa em Psicologia de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.

O GT Psicologia Comunitária participa dos Simpósios da ANPEPP desde 1990, na edição de Águas de Lindóia. Sempre contou com a participação de pesquisadores de várias instituições e regiões do Brasil, preocupados com a investigação e intervenção no campo social a partir do trabalho com referências da Psicologia Social Comunitária. Nos últimos anos tem procurado incorporar novos pesquisadores para garantir a produção de reflexões mais abrangentes e mais contemporâneas, buscando contribuir com uma leitura crítica da realidade e com a busca pela produção de uma sociedade mais justa e igualitária, do ponto de vista da cidadania e da subjetividade.

A Psicologia Comunitária surgiu no Brasil nos anos 70, como uma sub-área de investigação e intervenção da Psicologia Social e se constituiu como uma área de produção específica em função do volume de trabalhos, de suas articulações interdisciplinares com outros campos da própria Psicologia, bem como das ciências sociais em geral, e em função das demandas dos movimentos sociais, em um período no qual as políticas públicas ainda engatinhavam no país. O objetivo do dossiê é apresentar experiências desenvolvidas em vários grupos de pesquisa do país, dialogando com categorias temáticas e com práticas de investigação e intervenção no campo social com várias articulações com políticas públicas de Saúde, educação e desenvolvimento social.

O primeiro artigo do Dossiê, Desafios éticos na prática em comunidade:(des)encontros entre a pesquisa e a intervenção, de autoria da Profª Maria de Fátima Quintal de Freitas, apresenta reflexões sobre práticas em Psicologia Comunitária, partindo dos desafios éticos que se apresentam à pesquisa e à intervenção realizadas com vistas ao desenvolvimento de ações questionadoras e transformadoras da realidade social dos movimentos sociais comprometidos com a construção de uma sociedade mais crítica e igualitária. O artigo é finalizado com exposições sobre a congruência entre investigação e intervenção na perspectiva da Psicologia Social Comunitária Latinoamericana. A autora é professora e pesquisadora junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, possui Doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP, com Estágio Pós-Doutoral no ISPA, Lisboa e Universidade do Porto, Portugal. Coordena o Núcleo de Psicologia Comunitária, Educação e Saúde (NUPCES-PPGE/CNPq).

A Profª Lúcia Maria Ozório Barroso, Doutora em Psicologia Social com Estágio Pós Doutoral na Universidade de Paris 13 Nord, é pesquisadora no Laboratório EXPERICE - Universidades Paris 8 - Paris 13, França; e no Laboratório LIPIS - PUC-RJ. Rio de Janeiro; é Membro do GT Psicologia Comunitária-ANPEPP. Em seu artigo Cidade com Comunidade, nos apresenta um conjunto de reflexões sobre as articulações da vida comunitária com os espaços da cidade, com todas as contradições de um lugar que apresenta desigualdades e limites ao comum, que não conseguem impedir que ele apareça com força e grite por suas demandas, principalmente se as consideramos a partir das periferias localizadas no coração dos grandes centros urbanos. As contradições entre submissão, resistência e liberdade são abordadas de maneira crítica e comprometida, surgindo daí, também, as possibilidades e perspectivas de transformações sociais e políticas.

Cibele Mariano Vaz de Macêdo, Professora na Universidade Ibirapuera e na Universidade Santo Amaro, pesquisadora Associada ao Núcleo de Estudos de Relações Raciais: memória, identidade e imaginário, na PUC/SP, com doutorado em Psicologia Social pela UERJ e Regina Gloria Nunes Andrade, Professora Titular do Instituto de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio De Janeiro e Membro do GT Psicologia Comunitária da ANPEPP, nos apresentam o trabalho Mangueira: a cultura comunitária e o Centro Cultural Cartola, que discutem reflexões a partir de uma investigação sobre os processos de subjetivação de crianças e jovens que frequentam o Centro Cultural Cartola. Cultura e Cidadania, preservação e divulgação cultural, identidade e processo de subjetivação são abordados em suas articulações com a Psicologia Comunitária e com o Grupo Operativo, de Pichón-Rivière.

A importância da psicologia social comunitária para o desenvolvimento sustentável, foi escrito por Tania Maria de Freitas Barros Maciel, Professora Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com Estágio Pós-Doutoral pelo L Institut d Etudes Politiques de Paris Sciences Po, Coordenadora do Programa Interdisciplinar de Comunidades e Ecologia Social (Programa EICOS), UFRJ e Membro do GT ANPEPP, em parceria com Monalisa Barbosa Alves, Doutora em Economia, Professora Adjunta e Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Economia da Universidade Federal de Pernambuco - PPGECON. Participa do Programa Interdisciplinar de Comunidades e Ecologia Social (Programa EICOS), UFRJ. No trabalho as autoras apresentam uma série de discussões e questionamentos sobre o desenvolvimento sustentável como perspectiva fundamental para a construção de uma sociedade mais desenvolvida e igualitária, apontando contribuições significativas da Psicologia Social Comunitária para um campo de investigação e intervenção pleno de desafios para a construção de uma realidade mais humana, ética e sustentável. Contribuições de pesquisas desenvolvidas no Programa EICOS-UFRJ são citadas.

O artigo Afetos, memória e sentido de comunidade na construção de diferentes modos de participação social, foi produzido por Samira Lima da Costa e Carlos Roberto Castro e Silva. Ela é Professora Adjunta do Departamento de Terapia Ocupacional, Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da UFRJ. Doutora em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (UFRJ, 2008) e Membro do GT ANPEPP de Psicologia Comunitária; ele é Professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo - Baixada Santista (UNIFESP). Realizou Estágio Pós-Doutoral em Ciências Sociais pela University of Western Ontario, Canadá (2006); Doutor em Psicologia Social (USP, 2004); Mestre em Psicologia Social (PUC São Paulo, 1998); Especialista em Saúde Coletiva (USP). O artigo busca discutir a produção dos sentidos de comunidade a partir de algumas categorias temáticas da Psicologia Comunitária, como a afetividade, a memória coletiva e a luta comunitária. Diferentes formas de participação social são consideradas a partir de experiências de dois grupos: integrantes de uma ONG e participantes de um grupo de pescadores artesanais.

O último artigo a compor o Dossiê, Práticas em Psicologia Comunitária e processos de mobilização social: provocações para um debate,foi escrito pelo Prof. Marcos Vieira-Silva, Doutor em Psicologia Social pela PUC-SP, com Estágio Pós-Doutoral em História da Psicologia Comunitária pela UFMG. Ele é Professor Associado III da UFSJ e Prof. Permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSJ. Atualmente é Coordenador do LAPIP - Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial da UFSJ e do GT ANPEPP de Psicologia Comunitária. Foi o organizador do presente Dossiê. O trabalho que apresenta provoca várias reflexões a partir de articulações entre categorias temáticas da Psicologia Social e da Psicologia Comunitária e práticas em Psicologia Social Comunitária, realizadas a partir de trabalhos de extensão, pesquisa e ensino desenvolvidos, principalmente, no LAPIP - UFSJ. Um pouco da história e das articulações da Psicologia Comunitária com políticas públicas de educação, saúde, cultura e desenvolvimento social são panos de fundos para as reflexões e provocações propostas.

Considerem nosso Dossiê como um convite provocador para aproximações frutíferas ou para uma maior convivência com a diversidade e criticidade de um campo da Psicologia que vem sendo construído coletivamente, principalmente a partir da pesquisa e da extensão universitária no Brasil e na América Latina, com instigantes articulações com o ensino da Psicologia e das ciências humanas em geral, desde os anos setenta, mas mantendo uma desafiante atualidade temática e metodológica.

O bloco multitemático deste número traz estudos e discussões que provocam, na contemporaneidade, a construção de saberes que habitam fronteiras fluidas e são prerrogativas dos profissionais que desenvolvem práticas psicossociais. Ideias, espaços, pessoas e materiais, em suas múltiplas relações, aparecem nesse módulo, tendo como autores pesquisadores e profissionais de instituiçõesvariadas.

Em "A Graça entre os homens": discutindo a (des)aparição feminina nas capas de Você S/A, Fabiane LangonLorenzi e Inês Henningen, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), questionam a quase inexistência da imagem de mulheres em capas da revista de negócios, tomando como pano de fundo a discussão de gênero nas construções midiáticas sobre as mulheres.

Saulo Valmor Batista e Edna Maria Marturano, da Universidade de São Paulo (USP), são os autores do estudo Oficina de fortalecimento de vínculos em um núcleo social que verifica o potencial de um programa para expandir habilidades sociais e reduzir problemas de comportamento em crianças frequentadoras regulares de atividades educativas no contraturno da escola.

Em A utilização da Matriz Lógica em processos sociais, Marcelo Sant' Anna Pereira, do Centro de Atendimento e Inclusão Social (CAIS), instituição em Contagem, MG, demonstra que o Logical Framework Approach (Enfoque Matriz Lógica) se destaca como ferramenta para gerir projetos, desde a concepção à realização. Para tanto, realiza uma revisão bibliográfica e uma avaliação de um projeto concreto.

O texto Processo participativo para a prática integrada de profissionais de saúde no atendimento à criança vítima de violência, de Denise de Camargo, da Universidade Tuiuti do Paraná, apresenta uma pesquisa participante realizada com profissionais de saúde em um Hospital Infantil, buscando formar um grupo reflexivo que possibilita a esses sujeitos compreender e encontrar soluções para seus desafios cotidianos por meio do compartilhamento de experiências.

Uso de ansiolíticos e antidepressivos por bancários: um estudo de representações sociais, de Sara Fernandes Picheth e Elisa Yoshie Ichikawa, da Universidade Estadual de Maringá, busca entender a prática de bancários que recorrem aos ansiolíticos e antidepressivos como recurso para enfrentar ambientes de alta pressão em seus ambientes de trabalho, uma vez que se encontram mais propícios ao uso dessa medicação.

O artigo A universidade e a reforma psiquiátrica: fios e desafios, dos pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais Maria Stella Brandão Goulart, Celso Renato Silva e Eliane Rodrigues da Silva, traz reflexões profícuas sobre as relações entre universidade e Reforma Psiquiátrica dentro do enquadramento da Psicologia brasileira, visando apontar as possibilidades de constituição de uma cultura profissional crítica que respalde uma postura de engajamento na luta antimanicomial.

Em O papel das praças para o envelhecimento ativo sob o ponto de vista dos especialistas, Eduardo Alexandre Ribeiro da Silva e Gleice Azambuja Elali, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, analisam entrevistas com profissionais que trabalhavam com idosos em Natal, RN, a fim de verificarem a relação entre frequência a praças públicas e envelhecimento ativo. Nesse setor, foi mostrada a importância das praças e das interações sociais que nelas ocorrem, desde que conservadas e bem administradas.

Gisele Gonçalves Melles de Oliveira, da Universidade Estadual Paulista, no artigo A sucata como avesso complementar da contemporaneidade, discute os significados da sucata na contemporaneidade, apresentando relato de uma experiência com esse material, em oficina de criação espontânea realizada em uma universidade, deixando de ser um material sem valor para se tornar um meio de possibilidades de interferir e fazer leituras de mundo.

Nirvana Ferraz Santos Sampaio, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, apresenta resultados do acompanhamento longitudinal da linguagem de um sujeito após um traumatismo craneoencefálico. Partindo dos pressupostos teórico-metodológicos da neurolinguística discursiva, o artigo Linguagem, Memória e Escrita, assinala que a leitura e a escrita podem ser eficazes na reestruturação da oralidade do sujeito, na reconstituição da sua identidade e na reinserção social.

Os pesquisadores da Universidade Federal do Ceará Daniel Welton Arruda Cabral, Luciola Limaverde Ribeiro, Débora Linhares da Silva e Zulmira Áurea Cruz Bomfim cotejam, no artigo Vigotsky e Freire: Os conceitos de "consciência" e "conscientização", os pensamentos e conceitos desses dois autores. Lembram que eles distam no tempo e no espaço de produção intelectual, mas têm em comum o referencial materialista histórico-dialético, o anseio pela inovação cultural e educacional e a atenção ao contexto social e à transformação dos sujeitos.

Seguem-se notas sobre Publicações Recentes e a Nominata dos consultores ad hoc de 2015, a quem agradecemos a colaboração imprescindível. Contamos neste número com o trabalho da funcionária da UFSJ Fernanda Sbampato de Resende Corrêa, que, ainda tateando, transforma-se em ótima secretária do Lapip e da PPP.

 

 

Endereço para correspondência:
Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial (Lapip/UFSJ).
Praça Dom Helvécio, 74, Salas 2.09 e 2.10,
São João del-Rei, MG, CEP: 36.301-160.
Endereço eletrônico: ppplapip@ufsj.edu.br

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