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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.12 no.1 São João del-Rei jan./março 2017

 

Afetividade, liberdade e atividade: o tripé terapêutico de Nise da Silveira no Núcleo de Criação e Pesquisa Sapos e Afogados

 

Affectivity, freedom and activity: the therapeutic tripod of Nise da Silveira in the Center for Creation and Research Frogs and Drowned

 

Afectividad, libertad y actividad: el trípode terapéutico de Nise da Silveira en el Centro de Creación e Investigación Ranas y Ahogados

 

 

Patrícia Fonseca de OliveiraI; Walter Melo JúniorII; Marcos Vieira-SilvaIII

IMestre em Psicologia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). patriciafonsecadeoliveira@yahoo.com.br
IIProfessor do PPGr em Psicologia,UFSJ. wmelojr@gmail.com
IIIProfessor Associado III, Departamento e PPGr em Psicologia, Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial, UFSJ. mvsilva@ufsj.edu.br

 

 


RESUMO

Este estudo se insere nos debates acerca da reabilitação psicossocial de cidadãos em sofrimento psíquico. As categorias que compõem o tripé terapêutico de Nise da Silveira - afetividade, atividade e liberdade - constituem um conjunto conceitual para analisar os discursos dos integrantes do Núcleo de Criação e Pesquisa Sapos e Afogados, de Belo Horizonte, MG, Brasil, que trabalha com teatro e cinema e é formado por usuários da rede de saúde mental. A pesquisa de campo foi efetuada a partir de observações dos ensaios e trabalhos do grupo, além de entrevistas individuais semiestruturadas. Foram entrevistados seis atores e a diretora. A análise desses discursos teve cunho foucaultiano. Como resultado, constatou-se a importância do tripé terapêutico proposto por Nise da Silveira na prática cotidiana do grupo Sapos e Afogados. Foram também elaboradas reflexões em torno do poder disciplinar no campo da saúde mental e acerca do lugar de resistência do grupo.

Palavras-chave: reabilitação psicossocial; arte; saúde mental; Nise da Silveira.


ABSTRACT

This study is inserted in the debates about psychosocial rehabilitation of people in psychological distress. The categories that compose the therapeutic tripod of Nise da Silveira - affectivity, activity and freedom - provide the conceptual framework to analyze the discourse of members of the Center for Creation and Research Frogs and Drowned, Belo Horizonte, MG, Brazil, which works with theater and cinema and is formed by users of mental health services. The field research was made by observing the essays and group works and by individual semi-structured interviews. Six actors and the director were interviewed. The analysis of these discourses adopted some of the Foucault's point of views. As results, it is confirmed the importance of the therapeutic tripod proposed by Nise da Silveira in everyday practice of the group Frogs and Drowned. Some reflections on disciplinary power in the mental health field and the place of the group resistance were also elaborated.

Keywords: psychosocial rehabilitation; art; mental health; Nise da Silveira.


RESUMEN

Este estudio se inserta en los debates sobre la rehabilitación psicosocial de personas en situación de trastorno psicológico. Las categorías que componen el trípode terapéutico de Nise da Silveira - afectividad, actividad y libertad - proporcionan el marco conceptual para analizar el discurso de los miembros del Centro de Creación e Investigación Ranas y Ahogados, Belo Horizonte, MG, Brasil, que trabaja con teatro y cine y está formado por usuarios de servicios de salud mental. La investigación de campo se realizó a partir de observaciones de ensayos y trabajos de grupo y con entrevistas individuales semi-estructuradas. Se entrevistaron a seis actores y al director. El análisis de estos discursos adoptó algunos de los puntos de vista de Foucault. Como resultado, se confirma la importancia del trípode terapéutico propuesto por Nise da Silveira en la práctica diaria del grupo Ranas y Ahogados. También se elaboraron algunas reflexiones sobre el poder disciplinario en el campo de la salud mental y sobre el lugar de la resistencia del grupo.

Palabras clave: rehabilitación psicosocial; art; salud mental; Nise da Silveira.


 

 

Introdução

A saúde mental no Brasil passou por diversas transformações, frutos de intensas lutas para que os tratamentos dos cidadãos em sofrimento psíquico assegurassem a liberdade e o exercício da cidadania. No atual cenário da saúde mental, o principal objetivo dos trabalhos se refere à reabilitação psicossocial. Nossa proposta foi investigar como ela é possível por meio do tripé terapêutico proposto por Nise da Silveira, composto pelas categorias afetividade, atividade e liberdade (Melo, 2001; 2005).

A utilização de recursos artísticos como forma de intervenção no campo da saúde mental foi introduzida, no Brasil, pelo psiquiatra Osório Cesar, na década de 1920, no Hospital Juquery, em São Paulo. Essas atividades foram ampliadas ao longo dos anos e, em 1948, foi implantada a Seção de Artes Plásticas para os internos (Ferraz, 1998). A partir do contato com o trabalho desenvolvido por Osório Cesar, a psiquiatra Nise da Silveira iniciou as atividades artísticas como método terapêutico em 1946, na Seção de Terapêutica Ocupacional do Hospital de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Em 1956, Nise da Silveira inaugurou, com artistas e profissionais da saúde mental, a Casa das Palmeiras, clínica de tratamento em regime de externato, sem fins lucrativos, que tem a afetividade, a atividade e a liberdade como princípios norteadores para a reorganização psíquica e a reinserção social (Silveira, 1981; 1986; 1992). O trabalho de Nise da Silveira se destaca pela forma humanizada de tratamento e pelo caráter efetivamente reabilitador.

Atualmente, o uso da linguagem artística como forma de intervenção em instituições de saúde mental tem o respaldo de políticas públicas, primeiramente mediante a Lei do SUS nº 8.080 (Brasil, 1990), que prevê a saúde como bem-estar biopsicossocial, garantida por melhores condições de vida que incluem lazer, moradia, trabalho, saneamento etc. A ampliação do conceito de saúde abre possibilidades para pensar os vários aspectos que afetam os sujeitos e a comunidade. O principal marco no campo das políticas públicas que permitiu ampliar as formas de tratamento dos cidadãos em sofrimento psíquico é a aprovação da Lei nº10.216 (Brasil, 2001), conhecida como Lei Paulo Delgado, que regulamenta os direitos desses indivíduos e prevê formas de tratamento que priorizam a reabilitação psicossocial.

Apesar de não abordarem diretamente a utilização de recursos artísticos no campo da saúde mental, as referidas leis permitem pensar práticas que extrapolam a clínica tradicional, focada no indivíduo, assim como a emergência de práticas de cunho coletivo e com princípios baseados no conceito ampliado de saúde. A partir da aprovação da Lei nº 10.216/01, foi proposta a regulamentação do funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) I, II e III por meio da Portaria GM/MS nº 336 (Brasil, 2002), que prevê o atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou médio.

No ano de 2005, a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais aprovou a Portaria nº 396 (Brasil, 2005a), de 7 de julho, que regulamenta o Programa de Centros de Convivência e Cultura na rede de atenção em saúde mental do SUS. Existem cerca de 60 Centros de Convivência e Cultura em funcionamento no país, em sua maioria concentrados nos municípios de Belo Horizonte, Campinas e São Paulo (Brasil, 2007). Na IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial, realizada em 2010, foi reivindicada a criação de uma portaria ministerial para implantação de Centros de Convivência (Brasil, 2010).

Os Centros de Convivência, bem como os CAPS (Brasil, 2005b), são dispositivos que se propõem a promover a reabilitação psicossocial, principalmente por meio de trabalhos em grupos. Nesse sentido, buscamos investigar as atividades de um grupo que, inserido no campo da saúde mental, trabalhasse com alguma atividade expressiva e tivesse como um dos objetivos a reinserção social dos participantes. O grupo escolhido foi o Núcleo de Criação e Pesquisa Sapos e Afogados, de Belo Horizonte, MG, Brasil, formado por usuários da rede de saúde mental cujas atividades artísticas ocorrem de forma independente dessa rede há cerca de dez anos.

 

Afetividade, atividade e liberdade

Nise da Silveira iniciou seu trabalho no campo da saúde mental em 1946. Entre as diversas atividades que desenvolveu, destacaram-se as expressivas, de cunho artístico. A intenção era criar as condições necessárias para a expressão de ideias e emoções. Esse método terapêutico tem como meta a reabilitação (Silveira, 1966).

No ano de 1952, em decorrência da expressiva produção artístico-científica dos ateliês de pintura e de modelagem, Nise da Silveira fundou o Museu de Imagens do Inconsciente. Além de dar visibilidade a essas obras, esse trabalho se constituiu como um espaço ímpar de produção, visto que o museu abriga, em seu interior, um ateliê onde os artistas expositores executam suas obras, afirmando-se, assim, como um Museu Vivo (Pedrosa, 1980; Melo, 2011).

O método de trabalho de Nise da Silveira foi fundamentado no Tripé Terapêutico, composto pelas categorias afetividade, atividade e liberdade (Melo, 2001; 2005). Em seus estudos, Nise da Silveira (1992) se contrapôs à obra de Descartes para entender como as ciências atribuem grande importância à racionalidade em detrimento da afetividade. Dessa maneira, considerou a influência do pensamento de Descartes como modelo para a persistente separação de corpo e psique na medicina contemporânea. A partir dessa separação, o corpo é visto como máquina e a função do médico seria atuar por meios físicos e químicos para mantê-lo em bom funcionamento, menosprezando, assim, as emoções.

Podemos destacar três maneiras de Nise da Silveira abordar a questão da afetividade: o ambiente deve ser acolhedor, afetivo; a função do terapeuta se constitui a partir das relações afetivas (catalisadoras e inibidoras); e, a partir do ambiente e da relação, são consteladas as forças autocurativas da psique, ou seja, o afeto cria as condições necessárias para que pessoas psiquicamente cindidas almejem uma reorganização (Melo, 2001; 2005; Silveira, 1981; 1992).

Ao analisar séries de imagens que, desde 1952, compõem o acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, Nise da Silveira percebeu a configuração de diferentes vivências espaciais, desde a representação da exclusão social até viagens em espaços cósmicos, passando pela desorganização das coordenadas tridimensionais (tendência à abstração) e pela busca da restauração do espaço cotidiano -tendência à empatia (Jaffé, 1977; Jung, 2011a; Silveira, 1981). A proposta de se organizar espaços acolhedores visa criar condições para se estabelecer relações de confiança com o ambiente e com as pessoas.

Em analogia às reações que acontecem na esfera química, a dimensão afetiva foi abordada por Nise da Silveira (1981; 1992) como catalisadora ou inibidora dos processos psíquicos. Um terapeuta pode desempenhar junto a um cidadão em sofrimento psíquico uma ação catalisadora, ou seja, que possibilite a reorganização psíquica, e de forma inibidora junto a outro indivíduo, uma vez que as vivências afetivas estão ligadas às projeções inconscientes inerentes às relações. Como a ênfase encontra-se nas relações afetivas, Nise da Silveira (1981; 1992; 1998) propõe, também, que sejam levados em consideração os vínculos estabelecidos com animais, notadamente o cão, dada a sua constância. Assim, a presença de terapeutas (humanos e animais) nas atividades de terapêutica ocupacional está relacionada ao conceito de afeto catalisador (Silveira, 1981).

O ambiente acolhedor e o vínculo afetivo são condições básicas para a proposta de Nise da Silveira, que parte do princípio de estreita relação entre espaço cotidiano e espaço imaginário, entre mundo externo e mundo interno (Silveira, 1981). Assim, por meio do estudo da série de imagens do inconsciente, é possível vislumbrar o impacto dos afetos no psiquismo e acompanhar os modos criativos de superação das tensões que causam sofrimento, caracterizando o que Jung (2011b) denominou função transcendente. "O tratamento construtivo do inconsciente, isto é, a questão do seu significado e de sua finalidade, fornece-nos a base para a compreensão do processo que se chama função transcendente" (p. 19).

Dessa maneira, a afetividade apresenta-se como um dos pilares do pensamento de Nise da Silveira. Isso não quer dizer, de forma alguma, que a proposta é de mimos e paparicos, mas, sim, da compreensão dos modos como o ambiente e as relações nos afetam subjetivamente. O intenso sofrimento é compensado por ambiente acolhedor e por relações afetivas que ativam, de maneira criativa, conteúdos psíquicos opostos que, tensionados, conferem sentido às vivências dos cidadãos em sofrimento psíquico. O sofrimento adquire, portanto, significado e pode ser superado a partir da afetividade.

Em relação à categoria atividade, observa-se que o trabalho como função terapêutica não surgiu no campo da Psiquiatria. Segundo Santiago e Yasuí (2011), com o advento da Psiquiatria, o trabalho é colocado como prática curativa a partir da proposta de tratamento moral preconizada por Philippe Pinel. Esse tipo de proposta teve impacto na Psiquiatria moderna e chegou ao Brasil no fim do século XIX e início do século XX, período em que foram construídos os primeiros hospitais psiquiátricos brasileiros. Em sua estrutura, os hospitais já contavam com terrenos para cultivo da terra, para trabalhos com barro, madeira ou couro (para os homens), além de bordado e costura (para as mulheres). Tais práticas ficaram conhecidas por alguns nomes: laborterapia, ergoterapia, praxiterapia. Em 1900, o psiquiatra Franco da Rocha defendia que a ocupação laboral era capaz de afastar o que chamava de fantasias mórbidas. Nesse sentido, a atividade tinha a função de distração da mente.

Ao contar a história do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, em Minas Gerais, Magro Filho (1992) discute como o trabalho dentro da referida instituição era mais uma forma de assegurar economicamente a manutenção do hospital do que uma prática terapêutica para evitar o ócio e os delírios dos pacientes. As propostas de Osório Cesar e de Nise da Silveira se contrapõem às atividades como fatores meramente ocupacionais ou com fins de manutenção econômica das instituições (Melo, 2009). Contemplam, portanto, outro tipo de objetivo: a elaboração e expressão do sofrimento psíquico. Daí a grande importância da atividade como expressão subjetiva, assunto discutido neste trabalho sobre a proposta teatral do grupo Sapos e Afogados.

Nise da Silveira utilizava a terapêutica ocupacional como possibilidade de expressão de vivências não verbalizáveis por aqueles que, segundo a autora, encontram-se mergulhados nas profundezas do inconsciente (Silveira, 1981). Mediante os diversos setores de atividades, Nise da Silveira pretendia alcançar a reabilitação dos cidadãos em sofrimento psíquico. A noção de atividade está, para Nise da Silveira (1977), vinculada de maneira estreita às noções de afetividade e de liberdade. As atividades têm caráter político, pois possuem critérios de funcionamento que rompem com a lógica manicomial: "o funcionamento de atividades infunde vida ao hospital, modifica o ambiente" (p. 26); e as atividades se caracterizam pela liberdade expressiva.

O trabalho de Nise da Silveira é, muitas vezes, identificado com o diálogo que ela estabeleceu com o campo das artes, provocando debates com o campo social que propiciaram transformações culturais no campo da saúde mental (Melo, 2004; 2010a; 2010b; 2011). Mas, é importante observarmos que tanto na Seção de Terapêutica Ocupacional quanto na Casa das Palmeiras foram implementadas diversas atividades, divididas em quatro categorias: as que envolvem esforço típico do trabalho (marcenaria, saparia e encadernação); as expressivas (pintura, modelagem, teatro e música); as recreativas (jogos, esportes e festas); e as culturais (diversas formas de estudo). É claro que, para Nise da Silveira (1966; 1977), atividade se contrapõe à inatividade, mas isso não significa mero passatempo. A categorização das atividades indica a presença de pressupostos diversos e, também, de expectativas de resultados variados. Além disso, o modo como cada atividade é executada é levado em consideração, fazendo da expressividade das atividades, além de uma categoria, uma característica que perpassa todos os tipos de atividades. Assim, podemos afirmar que atividade, para Nise da Silveira (1977), pode ser definida pelo seu caráter expressivo, pois permite "a espontânea expressão das emoções, que dão larga oportunidade a que os afetos tomem forma e se manifestem" (p. 30). A atividade é, portanto, o livre exercício de expressar as emoções, possibilitando a elaboração dos afetos.

A categoria liberdade é, assim, integrada de maneira orgânica às outras duas, sendo de suma importância no trabalho de Nise da Silveira. A criação da Casa das Palmeiras é uma referência também nesse sentido. As portas abertas simbolizam um método eficaz de evitar as reinternações (Silveira, 1986; 1992). Isso significa um grande passo rumo ao reconhecimento da cidadania do indivíduo considerado louco. Essa ideia foi levada para o âmbito das instituições públicas de saúde mental três décadas depois, com a criação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS Luiz da Rocha Cerqueira, na cidade de São Paulo, cuja inauguração foi no ano de 1987. Trata-se do marco de uma nova forma de tratamento do adoecimento psíquico, tendo como prioridade a liberdade e a preservação dos vínculos sociais (Devera & Costa-Rosa, 2007).

 

Os discursos em suas superfícies: análise e discussão

Passaremos, agora, a apresentar as análises das observações realizadas no trabalho de campo, das filmagens dos ensaios teatrais e das produções do grupo, tendo em vista as categorias afetividade, atividade e liberdade. Para cada categoria criamos dois enunciados, a partir da leitura aprofundada das falas dos integrantes do grupo. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os atores Sílvia, Rogério, Edmundo, Elom, Ludmila e Viviane, e com a diretora, Juliana1. Para análise das entrevistas, bem como das filmagens, que foram transcritas, pautamo-nos na Análise do Discurso, tendo como objetivo primordial "realizar uma reflexão geral sobre as condições de produção e apreensão da significação" (Minayo, 2010, p. 319).

O texto não será tratado como pretexto para corroborar as concepções de Nise da Silveira acerca da afetividade, liberdade e atividade. Em nosso caso, será analisado o modo de produção das falas da diretora e dos atores do grupo Sapos e Afogados, ou seja, as condições que permitem a existência de determinados enunciados: não há investigação por um sentido oculto ou latente, mas parte-se daquilo que foi dito para buscar a maneira como foi dito, quem o pôde dizer, em que circunstâncias e por que foi esse o dito e não qualquer outro. Trata-se de analisar os discursos em suas superfícies, no nível da existência das palavras (Foucault, 1987).

Para se chegar aos enunciados, foram considerados os quatro elementos básicos propostos por Foucault:

[O enunciado] requer, para se realizar, um referencial (que não é exatamente um fato, um estado de coisas, nem mesmo um objeto, mas um princípio de diferenciação); um sujeito (não a consciência que fala, não o autor da formulação, mas uma posição que pode ser ocupada, sob certas condições, por indivíduos indiferentes); um campo associado (que não é o contexto real da formulação, a situação na qual foi articulada, mas um domínio de coexistência para outros enunciados); uma materialidade (que não é apenas a substância ou o suporte da articulação, mas um status, regras de transcrição, possibilidades de uso ou de reutilização. (p. 133, grifos nossos.).

Assim, definimos como (1) referencial, neste caso, o discurso dos participantes do Núcleo de Criação e Pesquisa Sapos e Afogados; (2) os sujeitos, no sentido de uma posição a ser ocupada, são os entrevistados desta pesquisa, ocupantes da posição de cidadãos em sofrimento psíquico, além da diretora, que é atriz e pedagoga; (3) o campo associado nos remete a outros enunciados, do mesmo discurso ou de discursos conexos, entre os quais privilegiamos os enunciados de Nise da Silveira acerca da afetividade, atividade e liberdade; (4) a materialidade, coisas ditas e que podem ser reproduzidas e ativadas por meio de práticas, técnicas e relações sociais são, no caso, as transcrições das entrevistas e as filmagens das reuniões do grupo.

Nesta pesquisa, optamos por ouvir de maneira ativa enunciações de pessoas que fazem tratamento no campo da saúde mental, pessoas que, historicamente, foram silenciadas, caladas pela clausura dos hospitais psiquiátricos e apartadas da dimensão da verdade, por estarem à margem de uma suposta racionalidade. Assim, tomamos como parâmetros de análise a relação exclusão/inclusão e os modos de legitimar o verdadeiro ou o falso (Foucault, 2013).

Esse tipo de proposta é relevante no contexto atual da Reforma Psiquiátrica que instituiu parâmetros para os tratamentos na rede de saúde mental. Idealmente, esses parâmetros visam à reinserção no meio social e ao exercício da cidadania. Questionamos se os sujeitos em tratamento têm espaço para dizer sua verdade ou se ainda lhes é imposto um lugar de refreamento. Desse modo, buscamos investigar, nos discursos dos integrantes do grupo Sapos e Afogados, como aparecem as limitações impostas e verificar em quais pontos esses discursos figuram como micropoderes de resistência, uma vez que em todo exercício de poder há uma forma de resistência (Foucault, 1979). O estudo sobre a resistência no grupo Sapos e Afogados é uma aposta que se faz a partir da reflexão sobre a própria história do grupo e sua escolha por um trabalho independente da rede de saúde mental, uma vez que começaram no interior de um Centro de Convivência de Belo Horizonte/MG e contam, atualmente, com apoiadores do meio artístico. A positividade do saber no campo da saúde mental mostra-nos que as ações tendem, historicamente, a docilizar os indivíduos, uma vez que ainda se prioriza o tratamento medicamentoso (muitas vezes de maneira excessiva). E sabemos, também, que muitas práticas conhecidas sob rótulos como arteterapia, oficinas artísticas, oficinas terapêuticas etc., em vez de se afirmarem como estratégias de reabilitação psicossocial, promovem atividades de cunho ocupacional que contribuem para que essas pessoas, cidadãos em sofrimento psíquico, se docilizem e não se insurjam contra os poderes que as excluem.

A primeira categoria analisada foi a afetividade. O primeiro enunciado ao qual chegamos é: "O grupo é um espaço para vivenciar afetos". Mediante as enunciações dos atores, foi possível perceber o quanto a afetividade é a base para um bom trabalho com cidadãos em sofrimento psíquico. Os vínculos afetivos estabelecidos entre os integrantes e a diretora possibilitam a realização do trabalho em grupo e, muitas vezes, mobilizam aspectos psicológicos necessários para a criação dos personagens e para a elaboração do sofrimento psíquico.

Então, tanto a gente se conhece, como conhece o colega do grupo. A gente sabe da debilidade, a gente sabe das fraquezas, a gente conhece praticamente a vida da pessoa toda. Porque a gente tem mais intimidade um com o outro né? [...] A gente pode falar dos nossos problemas, das nossas desilusões, dos nossos conflitos. Então a gente se dá muito bem um com o outro. (Rogério)

Olha, uma coisa que eu acho que é muito pontual, que a gente como um grupo de teatro, a gente faz um laço de amizade muito grande. (Edmundo)

Retomando contribuições teóricas de Pichon-Rivière, além das de Nise da Silveira, é possível observar como a afetividade (as formas como as pessoas se vinculam) é importante na construção de um novo lugar para o cidadão em sofrimento psíquico. O vínculo é o modo pelo qual o sujeito produz transformações em si mesmo e em seu meio (Pichon-Rivière, 1988; 1991). Os vínculos afetivos vivenciados entre os integrantes do grupo produzem, de fato, transformações tanto em suas vidas pessoais quanto no trabalho teatral.

O segundo enunciado da categoria afetividade é: "Estar no grupo é realizar o sonho de ser artista". Esse enunciado aparece na fala de cinco dos seis atores do grupo, caracterizando um desejo interrompido pela experiência da loucura.

Eu, assim, na minha infância, eu vendo as novelas, tomada por esse discurso, ou não... acho que não foram só as novelas, acho que foi de um trabalho de teatro na quarta série que aí eu montei, eu comecei a produzir peças de teatro no quintal com os meus amigos, sabe? [...] E um desejo muito grande, assim, de ser atriz, mas aí na adolescência eu fui, não sei, esse sonho meu de ser atriz, de trabalhar com as artes de um modo geral, a música e o teatro, aí foi interrompido, não sei dizer, pela experiência tão dolorida, tão sofrida, tão violenta mesmo, da loucura, né? (Sílvia)

O vínculo afetivo entre os integrantes e também a atividade teatral são de suma importância para a participação no grupo. Ambas as formas de vinculação estão interligadas, pois a atividade teatral para os atores dá significado aos sofrimentos enfrentados pela experiência da loucura. Por meio dessas falas, percebemos que a situação de entrevista possibilitou que diversas memórias afetivas fossem reavivadas: como dizer ainda que a experiência da psicose (ou da loucura) causa embotamento da afetividade? (Silveira, 1992).

A segunda categoria analisada foi a atividade. O primeiro enunciado foi: "Participar do grupo não é fazer terapia, mas é terapêutico". Nesse enunciado, os participantes do grupo descrevem a potencialidade terapêutica do trabalho teatral, ainda que o objetivo do grupo não seja o de realizar terapia:

É um trabalho, só que eu misturo isso com a arte, eu quero é que isso tenha uma expressividade, né... enfim, mas são esses conteúdos, é... difíceis de trabalhar, que eu não trabalharia nem na análise, que não é o caso de tratar com palavras mesmo, né? (Viviane)

Você pode resolver muitos problemas que na terapia, na psicanálise, você, durante as sessões psicanalíticas você não consegue resolver, dentro do teatro você fica um pouco protegido também porque é permitido fazer diversas coisas no teatro que na sua vida real você não pode fazer ou não deveria fazer. (Elom)

Por meio dessas falas é possível percebermos a potencialidade das atividades artísticas na elaboração do sofrimento mental. Esse tipo de elaboração é favorecido pela possibilidade de se construir os personagens a partir das memórias afetivas dos atores. Não se trata de realizar terapia, uma vez que esse não é o objetivo do trabalho do grupo. Esse tipo de atividade possibilita, de maneira sutil, a expressão e elaboração de pensamentos e emoções. A condução do trabalho teatral é feita por uma diretora, que utiliza, além das técnicas teatrais, a linguagem da Psicanálise no entendimento do cidadão em sofrimento psíquico, o que, para ela, é fundamental, no sentido de ter um modo de trabalhar flexível e compatível com a condição desses sujeitos.

A atividade artística do grupo pode ser vista como uma forma de resistência ao poder disciplinar no campo do trabalho que, numa lógica própria ao capitalismo, privilegia a alienação do sujeito da produção ao controlar sua atividade (Foucault, 1987). O teatro no grupo é uma forma de trabalho com forte significação para os cidadãos em sofrimento psíquico que dele participam. É uma forma de resistência, ainda, aos poderes impostos pela Psiquiatria no que concerne ao uso de medicamentos em excesso que tamponam os sintomas e delírios psicóticos numa tentativa de calar o sofrimento. No grupo, o delírio é valorizado na construção dos personagens, uma vez que é parte da vida desses sujeitos: "Embora reconheçamos o delírio como um 'trabalho', uma feitura, uma confecção da loucura, o que nos interessa nesta busca é uma construção cênica vinda desta nova lógica, onde o significado fica aberto podendo ser lido de modos diversos" (Barreto, 2012, p. 121).

O segundo enunciado da categoria atividade é: "O grupo levanta a bandeira da saúde mental e da luta antimanicomial". Em algumas entrevistas fica evidente o caráter político do grupo nas questões relativas ao Movimento da Luta Antimanicomial:

Eu acho que é uma potência, uma força muito grande pra militar diante dessa ideologia e desse princípio mesmo, quer dizer, portadores de sofrimento mental são atores sim, são pessoas capazes, são pessoas talentosas, são pessoas... E eu acho que levantar essa bandeira enquanto grupo, eu me disponho, né. (Sílvia)

A maioria dos integrantes do grupo Sapos e Afogados está ligada diretamente ao Movimento de Luta Antimanicomial. Esse envolvimento dos atores aparece também nos trabalhos realizados pelo grupo, uma vez que, nas suas enunciações, o lugar do grupo é o de mostrar à sociedade que cidadãos em sofrimento psíquico podem estar em plena atividade de trabalho. O próprio texto das peças evoca as questões da saúde mental, como no espetáculo Caixa Preta, que brinca com a questão dos medicamentos de tarja preta. Pensando na análise dos poderes, a militância dos atores é o ponto mais evidente do posicionamento de resistência aos poderes que ainda agem sobre a loucura. Os atores buscam, com esse trabalho, evidenciar para a sociedade que, apesar de apresentarem o que é classificado pela medicina psiquiátrica como transtornos mentais, eles podem ser atores e ocuparem os mesmos espaços que as pessoas consideradas normais.

A terceira categoria analisada foi a liberdade. O primeiro enunciado é: "A entrada na cultura se deu de fato com a saída do Centro de Convivência". Nesse enunciado, os atores e a diretora falam sobre o rompimento com o Centro de Convivência no qual iniciaram os trabalhos teatrais, para dar um passo além e promover a inclusão social de fato:

Nesse meio tempo eu saio da rede pública de saúde mental, por entender que esse trabalho, que hoje tá comigo, já podia dar um outro salto e aí talvez não coubesse ali naquele formato. Pra mim foi uma época difícil, que foi abrir mão do trabalho que era feito lá por acreditar também na potência que esse trabalho tinha fora, de fazer com que esse trabalho circulasse num outro lugar. E o que eu tentava mostrar era isso, que eles tavam com o domínio, com o jeito de fazer teatro. De fazer essa inclusão deles, de oferecer pra eles inclusive esse outro nome, não mais de usuário de saúde mental ou louco ou paciente, mas de ator. (Juliana)

Quando romperam com o Centro de Convivência, o grupo tinha dois anos. Esse enunciado levanta um questionamento sobre o papel do Centro de Convivência na história do grupo: Convivência com o quê? Convivência com quem? Percebe-se que o Centro de Convivência, embora preconizasse a integração dos cidadãos em sofrimento psíquico à sociedade, nesse caso se afirmou como local onde a convivência se dá entre loucos e não em um espaço comunitário diverso. Uma das falas se refere ao Centro de Convivência como um lugar de pessoas adoecidas: "Uma oportunidade que você tiver você procura um Centro de Convivência e você vai ver como são as pessoas lá. Elas são debilitadas, elas têm que tomar remédio fortíssimo" (Rogério).

Nas falas dos atores, podemos perceber que a entrada para o campo da cultura se concretiza somente após a saída do Centro de Convivência e com a acolhida pelo Grupo Galpão, renomado grupo de teatro da cidade, que cede espaço para os ensaios e as produções do Sapos e Afogados:

Então aqui eu respiro teatro e lá eu respirava loucura, apesar de tá fazendo teatro eu respirava loucura. (Edmundo)

Foi daí que começou, fora do Centro de Convivência o grupo Sapos e Afogados, foi que daí passou pra cultura porque agora a gente faz parte da cultura, a gente não faz parte do Centro de Convivência. Nós somos usuários da Saúde Mental, porque nós somos portadores de sofrimento mental, mas nós somos um grupo independente, um grupo que tá na cultura, que dialoga com outros grupos. [...] Então a gente tá numa situação assim um pouco melhor que antes, né? (Rogério)

O segundo enunciado da categoria liberdade é: "Participar do grupo é uma possibilidade de estar integrado à sociedade e vivenciar vários papéis". A participação no grupo aumenta as possibilidades de circulação no meio social, além de produzir um deslocamento do rótulo de louco, considerado incapaz, para a função de ator, com reconhecimento social.

Eu me sinto, me sinto integrada assim. A gente se sente integrado à sociedade, mais integrado, menos excluído. (Ludmila)

Ah, muda que eu me torno uma atriz, né? Eu já podia ser atriz antes porque eu tinha formação, mas eu não tava em atividade e logo que eu cheguei no grupo eu não tava assim como você ta me vendo agora. Eu tava ainda bem retraída [...] Você não fica nesse lugar de grupo de portadores de sofrimento mental todo o tempo sabe? A gente fica pensando no teatro. (Viviane)

A possibilidade de inclusão social e a vivência de vários papéis perpassam fortemente os discursos dos integrantes do grupo Sapos e Afogados e nos fazem pensar na formação identitária e na possibilidade de exercício da cidadania, principalmente pela produção cultural por meio do teatro. A identidade enrijecida passa a ser metamorfoseada ao se articular ao exercício de novas atividades sociais (Ciampa, 1994). No caso do grupo Sapos e Afogados, a construção da identidade de ator é fundamental e se encontra profundamente atrelada ao exercício da cidadania. Esse aspecto aparece de forma explícita nos discursos dos integrantes do referido grupo, como já assinalado. Implicitamente, a essa identidade de ator, podemos afirmar que aparece a identidade de cidadão como aquele que ocupa a cidade, usufrui de seus benefícios e busca exercer seus direitos e deveres.

Verifica-se, portanto, que as ações do campo da saúde mental não podem ficar restritas à espacialidade concreta das instituições. O contato com diversos locais da cidade faz com que os espaços comunitários sejam utilizados como parte desse território de cuidados. Os espaços passam a ser, assim, locais de trocas afetivas, subjetivas, sociais e econômicas, possibilitando a reinserção social e o exercício da cidadania. Podemos pensar, então, que o principal objetivo das políticas públicas em saúde mental é a restituição da cidadania mediante a reinserção social.

 

Considerações finais

A principal contribuição deste estudo é a constatação da atualidade da proposta do tripé terapêutico de Nise da Silveira - afetividade, atividade e liberdade -, evidenciada nos discursos dos integrantes do grupo. Essas categorias são fundamentais para pensarmos a reabilitação psicossocial como possibilidade de concretizar o exercício da cidadania e de transpor os estreitos limites das instituições de saúde mental rumo à cidade, criando as condições necessárias para a vivência de novas identidades, produzindo transformações nas vidas dessas pessoas.

O trabalho do grupo Sapos e Afogados é uma aposta numa forma de reabilitação psicossocial que passa pelo desenvolvimento da autonomia dos sujeitos e do direito à cidadania, mesmo que tresloucada (Birman, 1992). A loucura não pode ser um fator excludente para a vivência da cidadania, sendo, antes, um modo de estar na cidade e de intervir nela, no caso específico desse grupo, por meio da arte.

 

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Recebido em 04/09/2015
Aprovado em 05/12/2016

 

 

1 A utilização dos nomes reais dos participantes foi autorizada mediante um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e solicitada, enfaticamente, por todos os integrantes do grupo Sapos e Afogados, por considerarem incoerente não serem identificados, dado que o trabalho que fazem se insere como um dispositivo do Movimento de Luta Antimanicomial.

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