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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.12 no.3 São João del-Rei jul./set. 2017

 

ARTIGOS

 

A perspectiva de mães a respeito das relações parentais diante de um contexto de violência doméstica contra mulher

 

The prospect of mothers about the parental relationship forward to a context of domestic violence against women

 

La perspectiva de las madres acerca de la relación de los padres con interés un contexto de violencia doméstica contra las mujeres

 

 

Yara Alves Costa JustinoI; Larissy Alves CotonhotoII; Célia Regina Rangel NascimentoIII

IBacharel em Psicologia pelo Centro Universitário Católico de Vitória (2014). Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social na Ufes (2017). Docente na Faculdade Multivix (São Mateus/ES). E-mail: yarajustino@hotmail.com
IIProfessora no Instituto Federal do Espírito Santo, lotada no Centro de Referência em Formação e em Educação a distância (Cefor). Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (1994), Pedagogia pela Universidade de Uberaba (2012), mestrado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2001), doutorado em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-doutorado em Psicologia do Desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Ufes. E-mail: larissyalves@gmail.com
IIIMestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998) e doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (2006). Docente do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: eliarrn@gmail.com

 

 


RESUMO

A presente pesquisa buscou investigar a percepção de mães a respeito de seus relacionamentos com os filhos adolescentes e como elas avaliam a relação entre os filhos e o pai, em um contexto familiar no qual os filhos foram expostos a situação de violência do pai contra a mãe. Foram entrevistadas cinco mulheres que estavam/estiveram em situação de violência, mães de adolescentes com idades entre 12 e 17 anos. Considerando o relato das participantes, verificou-se que tanto a díade mãe-filho quanto a díade pai-filho são afetadas pela violência vivenciada na família. Entretanto, o relacionamento dos filhos e filhas com o pai foi considerado como sendo mais afetado negativamente, tendo sido descrito pelas mães como distante e conflituoso. Acredita-se que, futuramente, o acesso ao relato dos adolescentes e dos pais poderá contribuir para analisar melhor essas relações e propor intervenções para esses casos.

Palavras-chave: Violência doméstica. Violência familiar. Relação parental. Relacionamento familiar.


ABSTRACT

The present research sought to investigate mothers' perceptions regarding their relationships with their adolescent children and how they evaluate the relationship between the children and the father in a family context in which the children were exposed to the violence situation of the father against the mother. Five women, mothers of adolescents between 12 and 17 years old, who have been / were in a situation of violence were interviewed. Considering the participants' reports, it was verified that both the mother-child dyad and the father-child dyad are affected by the violence experienced in the family. However, the relationship of the sons and daughters with the father was considered to be more negatively affected, and was described by the mothers as distant and conflicting. It is believed that, in the future, access to the reports of adolescents and parents may contribute to a better analysis of these relationships and to propose interventions in these cases.

Keywords: Domestic violence. Family violence. Parental relationship. Family relationships.


RESUMEN

La presente investigación buscó investigar la percepción de madres acerca de sus relaciones con sus hijos adolescentes y cómo ellas evalúan la relación entre los hijos y el padre en un contexto familiar en el cual los hijos fueron expuestos a la situación de violencia del padre contra la madre. Se entrevistó a cinco mujeres que estaban / estuvieron en situación de violencia, madres de adolescentes con edades entre 12 y 17 años. En vista del relato de las participantes, se verificó que tanto la díada madre-hijo como la díada padre-hijo son afectadas por la violencia vivenciada en la familia. Sin embargo, la relación de los hijos e hijas con el padre fue considerada como afectada negativamente, siendo descrita por las madres como distante y conflictiva. Se cree que en el futuro el acceso al relato de los adolescentes y de los padres puede contribuir a analizar mejor estas relaciones y proponer intervenciones frente a estos casos.

Palabras clave: Violencia doméstica. Violencia familiar. La relación de los padres. Las relaciones familiares.


 

 

Introdução

De acordo com a Lei nº 11.340/06, ou Lei Maria da Penha (Brasil, 2006), a violência doméstica e familiar contra a mulher é descrita como toda ação ou conduta que tenha como base o gênero e produza consequências como morte, dano, sofrimento físico, sexual, psicológico, moral ou patrimonial a pessoas do sexo feminino em diferentes âmbitos. Esse fenômeno tem ganhado cada vez mais reconhecimento social e reforço legislativo, a fim de ser identificado e combatido (Sani, 2008).

Entretanto, apesar do empenho de diferentes setores para erradicar a violência contra a mulher, os índices referentes a essa problemática se apresentam cada vez mais elevados. Segundo relatório produzido pela Organização Mundial da Saúde, que fez estimativas globais e regionais a respeito da violência contra a mulher, uma em cada três mulheres já sofreu violência física e/ou sexual por parte de seus parceiros (OMS, 2015). No Brasil, estima-se que cinco mulheres são espancadas a cada 2 minutos, sendo que em 80% dos casos reportados o parceiro ou ex-parceiro é indicado como responsável pela violência (Fundação Perseu Abramo, 2010). As taxas de homicídio contra a mulher no Brasil também são altas. O mapa da violência de 2015 (Waiselfisz, 2015) aponta que, hoje, no país, contabiliza-se em média 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, sendo que 27% desses casos aconteceram no âmbito doméstico. Verifica-se ainda que 33,2% dos assassinatos foram cometidos por parceiro ou ex-parceiro. Esse dado coloca o país no 5º lugar no ranking de homicídios contra a mulher.

Tendo em vista a relevância do tema, é possível identificar na literatura uma quantidade considerável de trabalhos que discutem as consequências físicas, emocionais, psicológicas e comportamentais dessa violência na vida da mulher que sofre as agressões (Adeodato, Carvalho, Siqueira & Souza, 2005; Fonseca & Lucas, 2006; Fonseca, 2009; Guedes, Silva & Fonseca, 2009), das razões que, muitas vezes, mantém essas mulheres em uma união permeada pela violência (Jong, Sadala & Tanaka, 2008; Mizuno, Fraid & Cassab, 2010; Souza & da Ros, 2006), bem como a respeito dos fatores históricos, sociais e individuais que na história de vida dos homens autores de violência contribuíram para a construção de seus repertórios agressivos (Alves & Diniz, 2005; Gomes, Diniz, Araújo & Coelho, 2007; Justino, 2014; Lôbo & Lôbo, 2015).

Outra linha de estudos que tem sido contemplada pela literatura, refere-se aos desdobramentos dessa violência para outros membros da família, abordando como essa situação afeta os filhos1 dos casais expostos a ela. Assim, diferentes trabalhos têm indicado que desde muito novas as crianças mostram-se atentas aos acontecimentos dentro da família, indicando uma capacidade apurada para discriminar as interações afetuosas das interações hostis entre as figuras parentais (Goulart & Wagner, 2013; Mendes & Sani, 2015).

Dessa forma, a concepção de que as crianças e os jovens não são capazes de compreender o que se passa no interior da família e, logo, não são afetados por essas situações, tem dado lugar a diferentes estudos que evidenciam os efeitos adversos que podem resultar da exposição à violência entre o pai e a mãe. Os trabalhos, de modo geral, indicam as consequências da exposição à violência para os filhos no que tange aos aspectos psicológicos e emocionais (Lopes, 2014; Mendes & Sani, 2015; Patias, Bossi & Dell'Aglio, 2014), desempenho acadêmico (Brancalhone, Fogo & Williams, 2004; Milani & Loureiro, 2009) e problemas comportamentais (George, Fairchild, Cummings & Davies, 2014; Maldonato & Wiliams, 2005; Ribeiro, 2010).

Entretanto, a partir de um breve levantamento bibliográfico em algumas bases de dados como SciELO, Pepsic, Redalyc e PubMed2, tendo como período de referência 2005 a 2015, verificou-se que, sobretudo no Brasil, poucas pesquisas investigam o relacionamento entre pais, mães e filhos nesse contexto. Moura e Matos (2008) discutem que o conflito interparental, sendo um evento potencialmente negativo dentro da família, pode resultar em mudanças na vinculação que os filhos estabelecem com cada uma das figuras parentais (Hernández & Gras, 2005; Osofsky, 1998, citado por Sani, 2003). Na situação de violência do pai contra a mãe, Ravazzola (1997, citado por Santos & Costa, 2004) destaca, por exemplo, a ambivalência dos sentimentos experimentados por eles ao terem de administrar o amor que sentem pelo genitor que, por conseguinte, também é autor de violência contra a genitora.

Ademais, a literatura indica que não só os filhos vivenciam sentimentos confusos e dificuldades em administrar as relações dentro do lar permeado pela violência. A forma como os pais interagem com os filhos também pode ser comprometida e estes podem não conseguir separar as experiências negativas referentes ao relacionamento conjugal do relacionamento parental. Diferentes pesquisas na área da Psicologia têm apontado a interdependência das relações conjugais sobre as relações parentais, sendo que essa hipótese é discutida na literatura a partir do conceito de Spillover. O termo, traduzido do inglês, significa "transbordamento". De acordo com esses trabalhos, os sentimentos vivenciados na díade conjugal influenciariam diretamente (transbordariam para) os sentimentos vivenciados nas relações parentais. Assim, relacionamentos conjugais satisfatórios conduziriam ao bem-estar das relações parentais. Por outro lado, relações conjugais conflituosas e insatisfatórias poderiam tornar os pais menos disponíveis e mais agressivos com seus filhos (Boas, Dessen & Melchiori, 2010; Calheiros & Monteiro, 2007; Dessen & Braz, 2005; Kouros, Papp, Goeke-Morey & Cummings, 2014; Levendosky, Bogat & Huth-Bocks, 2011; Mosmann & Wagner, 2008; Sani & Cunha, 2011).

Todavia, outros trabalhos também indicam a existência da hipótese na qual, sobretudo a mãe, tenderia a compensar o ambiente doméstico conflituoso com uma maior dedicação no relacionamento parental. Essa proposição é referida na literatura como Efeito de Compensação (Calheiros & Monteiro, 2007; D'Affonseca, 2013).

Assim, considerando o contexto de violência envolvendo as figuras parentais, os diferentes apontamentos da literatura a respeito do modo como as relações mães, pais e filhos podem ser afetadas, bem como os sentimentos conflitantes que permeiam essas relações, surge o questionamento que impulsiona a realização deste trabalho: como se estabelece o relacionamento entre pais, mães e filhos em famílias que vivenciam a violência doméstica e familiar contra as mulheres envolvendo as figuras parentais? Dessa forma, com base na perspectiva da mãe, objetivou-se investigar como se caracteriza o relacionamento dela com os filhos e como elas descrevem o relacionamento dos filhos com o pai, autor das agressões. Como suporte teórico, será utilizada a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (TBDH).

Teoria bioecológica do desenvolvimento humano

Esse modelo teórico destaca a importância e a influência dos ambientes ecológicos no desenvolvimento humano (Prati, Couto, Moura, Polleto & Koller, 2008). Seus estudos envolvem, basicamente, quatro núcleos de análise: processos proximais, pessoa, contexto e tempo.

Os processos proximais são considerados os motores do desenvolvimento. Podem ser descritos como interações recíprocas, contínuas e progressivamente mais complexas entre um organismo biopsicossocial e as pessoas, objetos e símbolos existentes no seu contexto imediato (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Bronfenbrenner e Morris (2006) também explicam que os processos proximais variam em função das características da pessoa em desenvolvimento, dos contextos, desde o mais próximo ao mais distante em que os processos ocorrem, da natureza dos resultados desenvolvimentais em consideração e das continuidades e mudanças que acontecem ao longo do tempo pessoal e histórico.

Considera-se ainda que os processos proximais podem ter dois efeitos: os resultados de competência e os resultados de disfunção. Os resultados de competência ocorrem em função do estabelecimento de bons processos proximais e estão relacionados à aquisição e ao desenvolvimento de conhecimentos e competências intelectuais, físicas, socioemocionais ou uma combinação destes. Por sua vez, os resultados de disfunção ocorrem quando os processos proximais são desenvolvidos de forma frágil e implicam em frequentes manifestações de dificuldades da pessoa em desenvolvimento em sustentar o controle e a integração do seu comportamento (Bronfenbrenner & Morris, 2006).

No que tange às características da pessoa, verifica-se que estas aparecem duas vezes no modelo bioecológico. A primeira como um dos quatro elementos que influenciam a forma, o poder, o conteúdo e a direção dos processos proximais, podendo sustentar seu funcionamento, dificultar ou impedir a sua ocorrência, limitar ou facilitar o engajamento nas interações, bem como convidar ou desencorajar reações do ambiente social (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Assim, as características da pessoa podem ser entendidas tanto como produtoras quanto como produto do desenvolvimento (Bronfenbrenner & Morris, 2006) e influenciarão os processos proximais.

O contexto pode ser definido como meio ambiente global em que o indivíduo está inserido e no qual ocorrem os processos desenvolvimentais. É dividido em quatro subníveis (Martins & Szymanski, 2004): o microssistema, no qual acontecem as interações face a face entre o sujeito e seu meio ambiente imediato; o mesossistema, que assinala as interrelações entre dois ou mais microssistemas, nos quais o sujeito participa ativamente e pode ser ampliado sempre que a pessoa passa a fazer parte de novos contextos; o exossistema, que também descreve a interrelação entre os microssistemas, embora referindo-se ao ambiente no qual o sujeito não participa ativamente, mas que influencia suas interações; e, por fim, o macrossistema, que diz respeito às leis, à cultura, aos valores que fazem parte da vida da pessoa. Por fim, o quarto elemento da teoria é o tempo ou "cronossistema". Refere-se às mudanças no ciclo de vida individual e familiar.

O tempo também é dividido em três subnúcleos de análise: o microtempo, entendido como as continuidades e descontinuidades dentro dos episódios de processos proximais; o mesotempo, referindo-se à periodicidade dos episódios de processo proximal e o macrotempo como transgeracionalidade e mudanças na sociedade (Boing, Crepald & Moré, 2008).

Neste trabalho, buscou-se conhecer, a partir da perspectiva das mães, os processos proximais entre mães, pais e filhos adolescentes em um microssistema familiar no qual os filhos foram expostos a situação de violência do pai contra a mãe. Foram avaliadas também as características individuais que afetavam as interações, do ponto de vista das participantes.

 

Método

Participantes

Foram entrevistadas cinco mulheres que estavam ou estiveram em situação de violência doméstica e familiar, mães de adolescentes, menino ou menina, com idades entre 12 e 17 anos. O genitor dos adolescentes era o autor das agressões contra as mães entrevistadas.

Materiais

Para coleta de dados foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada. Num primeiro momento essas perguntas abordaram questões mais gerais sobre o ambiente familiar, a fim de estabelecer um rapport com os participantes, mas que não foram analisadas nos resultados da pesquisa. Na segunda e terceira parte das entrevistas, as questões contemplaram perguntas mais diretamente relacionadas aos objetivos do trabalho, buscando investigar como as mulheres percebiam e descreviam o seu relacionamento com o filho(a) adolescente e as suas considerações sobre a relação deste(a) com o genitor.

Procedimentos

A coleta de dados contou com a mediação institucional de um centro de atendimento psicossocial a vítimas de violência doméstica localizado em Vitória/Espírito Santo. Após solicitação, foi obtida a autorização da instituição para realização da pesquisa com as usuárias do serviço em suas dependências. A partir da leitura dos prontuários, os profissionais do local identificaram casos que estavam de acordo com o perfil de interesse do estudo e entraram em contato apresentando a pesquisa e verificando o interesse das usuárias em participar. Depois desse primeiro contato, a pesquisadora marcou dia e horário para realização das entrevistas, que ocorreram na instituição. Durante a coleta de dados, as entrevistas foram gravadas. Para organização dos dados, as gravações foram transcritas na íntegra. Em seguida, realizou-se uma análise de conteúdo do material com base nos pressupostos de Bardin (1977). Desse modo, em um primeiro momento, efetivou-se uma pré-análise do material, a partir de uma leitura flutuante de todas as entrevistas transcritas. Posteriormente, cumpriu-se uma análise mais detalhada, incluindo sua codificação e categorização. Na codificação, os dados brutos foram agrupados em unidades temáticas de análise que permitiram uma descrição mais exata do material coletado. Em seguida, os dados foram categorizados partindo-se das perguntas realizadas durante as entrevistas, bem como considerando os temas que surgiram nos relatos das participantes, identificados como relevantes para a presente discussão. Por fim, foram interpretados à luz da Teoria Bioecológica e da revisão de literatura científica que trata dos temas da pesquisa.

Aspectos éticos

A pesquisa seguiu todas as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, preconizadas pelo Conselho Nacional de Saúde - Resolução nº 466/12 (Brasil, 2012). Em consonância com essas diretrizes, antes das entrevistas, as participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Além disso, para proteção da identidade das participantes, os nomes utilizados na análise de dados divulgados neste trabalho são fictícios.

 

Resultados e discussão

Caracterização das participantes

A idade média das participantes entrevistadas foi de 44,2 anos, sendo que a participante mais nova e a mais velha tinham, respectivamente, 29 e 54 anos de idade. O tempo de relacionamento com os companheiros apresentou média de 21,6 anos, variando entre 15 e 35 anos. Das cinco participantes, quatro haviam se afastado do companheiro a menos de 60 dias e uma apresentou um período de afastamento de sete anos. A respeito do nível de escolaridade, quatro tinham ensino fundamental e uma ensino superior incompleto. A renda familiar de quase todas as entrevistadas (quatro) foi de um salário mínimo, bem como quase todas (quatro) procuraram a instituição de atendimento em virtude de terem sofrido violência física. A Tabela 1 sintetiza esses dados.

Os relatos

Os resultados foram organizados considerando temas e subtemas. O primeiro tema, intitulado Relacionamento entre as díades mãe-filho e pai-filho em função do tempo, contemplou informações a respeito de como eram as relações na infância dos filhos e no momento da coleta de dados, quando estes eram adolescentes. Comportamentos, atitudes e sentimento nas relações e mudanças nas interações considerando a transição entre as fases de desenvolvimento dos filhos foram relatados. O segundo tema, intitulado Relacionamento e convívio entre mãe-filho e pai-filho atualmente, abordou os seguintes subtemas: a) realização de atividades junto com os filhos, monitoramento e acompanhamento das atividades dos filhos, incluindo o acompanhamento das atividades do(a) filho(a) dentro e fora do domicílio e conhecimento sobre os amigos ou outras pessoas próximas com as quais ele se relacionava de forma mais frequente; b) relacionamento com os filhos envolvendo informações sobre conflitos, disciplina, comunicação e afeto; c) percepção dos filhos em relação aos comportamentos emocionais apresentados pelos pais e mães, bem como a percepção das mães sobre os comportamentos emocionais apresentados pelos filhos e sua avaliação sobre como os pais percebiam os filhos.

A Tabela 2 ilustra os temas e subtemas que serão discutidos na presente análise de dados.

Relacionamento entre as díades em função do tempo

Das cinco mães entrevistadas, quatro descreveram o relacionamento com o(a) filho(a) durante a infância deste(a) como sendo positivo. Apenas uma das mães ressaltou sentimentos de rejeição direcionados à criança até os seis anos de idade, relacionando tal fato à violência que sofria do companheiro e que transferia para o filho.

Até o seis anos, tinha período assim, de eu destratar o meu filho. Porque na gravidez eu sofria muita violência, tanto antes, durante e depois do parto dele. [...] Então, até os seis anos eu rejeitei ele um pouco, sabe?! Tinha muito amor a ele, mas como eu sofria aquela violência, eu transpassava para ele. (Carmem)

O relato da participante corrobora com as pesquisas que apontam para o Efeito de Spillover, isto é, a existência de um transbordamento dos sentimentos vivenciados no relacionamento conjugal para os sentimentos vivenciados no relacionamento com os filhos. De acordo com Mosmann & Wagner (2007), tanto as características positivas quanto as características negativas da relação conjugal podem ser consequentemente transferidas para a relação parental. Diferentes estudos têm apoiado essa hipótese (Boas, Dessen & Melchiori, 2010; Calheiros & Monteiro, 2007; Dessen & Braz, 2005b; Erel & Burman, 1995; Kouros, Papp, Goeke-Morey & Cummings, 2014; Levendosky, Huth-Bocks & Bogat, 2011; Mosmann & Wagner, 2007; Sani & Cunha, 2011).

Na avaliação a respeito do relacionamento entre pai e filho(a) na infância, todas as mães foram unânimes em afirmar que estes, em algum aspecto, também eram positivos. Entretanto, algumas participantes fizeram ressalvas. Uma delas, por exemplo, ponderou que o relacionamento do filho com o pai era bom, devido ao conforto material que este oferecia ao filho. De acordo com a participante: "Não é porque o pai era bom. É porque o pai tinha casa boa, tinha piscina [...]. Mas sempre a relação boa com o pai era baseada nessa questão" (Carmem). Enquanto outra participante considerou que a atenção do pai não era constante: "Quando ela [filha] era pequena, ele até me ajudou a cuidar dela, assim e tudo, mas ele era o tipo de pai que a criança começa a brincar e ele não tinha paciência mais [...]. Não era um pai presente com a filha" (Joana).

As diferenças em relação ao investimento no cuidado dos filhos têm relação com a construção histórica dos papéis de gênero que atribuiu à mulher a responsabilidade pelo cuidado com os filhos e ao homem a função de dar o suporte material e estabelecer a ordem no âmbito doméstico (Fleck & Wagner, 2013). Nesta pesquisa, essa divisão de tarefas aparece na fala de Joana quando descreve que, na infância da filha, o esposo "ajudava" nas atividades de cuidado, indicando que a mãe era a responsável principal pelo cuidado da criança. Assim, apesar das mudanças que aconteceram e ainda vêm acontecendo em relação à forma como os papéis de gênero se organizam nas famílias, as práticas tradicionais têm se mostrado persistentes em alguns casos (Fleck & Wagner, 2013; Wagner, Predebon, Mosmann & Verza, 2005).

A respeito do relacionamento atual entre mãe-filho(a), as mães também avaliaram de forma positiva, destacando a amizade e o carinho mútuo entre eles(as), reconhecendo que houve mudanças no relacionamento com os filhos entre a transição da infância para adolescência, mas que, de modo geral, essas relações se mantiveram positivas. Apesar disso, foram ponderadas algumas situações de conflitos. Duas participantes, Mariana e Joana, ressaltaram que as filhas apresentavam algumas alterações comportamentais como "irritação e rebeldia" em função da observação do relacionamento conjugal conflituoso dentro do lar. Pérola também fez ressalvas a respeito do relacionamento com a filha. Segundo a participante, quando a filha vai para casa do pai, o relacionamento entre elas sofre mudanças, uma vez que, em sua perspectiva, o pai tenta persuadir a filha, falando mal dela e fazendo com que a filha retorne para casa "mais estressada". Nesse caso, verifica-se a influência das relações do microssistema "casa do pai" sob as relações estabelecidas no microssistema "casa da mãe", indicando um mesossistema.

Yunes e Juliano (2010, p. 359) discutem que "as forças do mesossistema são originadas nas inter-relações de dois ou mais ambientes em que a pessoa em desenvolvimento participa ativamente". Os autores destacam que o potencial de promoção do desenvolvimento em um mesossistema está relacionado às ligações de segurança e/ou de apoio existentes entre um e outro contexto. Entretanto, no caso relatado, nota-se uma desconexão entre os microssistemas, de forma que a influência do microssistema "casa do pai" traz prejuízos ao bem-estar da relação entre mãe e filha, segundo a avaliação da mãe. Essa situação pode gerar resultados de disfunção, isto é, dificuldades da pessoa em desenvolvimento para sustentar o controle e a integração do seu comportamento (Bronfenbrenner & Morris, 2006). Contudo, é importante considerar que, neste estudo, obteve-se apenas o ponto de vista da mãe sobre essa relação. Verificou-se resultado semelhante na pesquisa de Sani (2003), na qual um dos adolescentes das famílias abordadas também foi descrito pela mãe como "mais agressivo", sobretudo após as visitas ao pai.

A respeito do relacionamento atual entre o pai e filho(a), das cinco mães entrevistadas, quatro descreveram-no como insatisfatório, caracterizado por distanciamento e falta de interesse mútuo. Como mostra o relato da participante: "Hoje, eu descrevo o seguinte: [...] se ela pudesse, ela fazia todo mal para ele. [...] Se ele fosse preso, fosse morto, para ela tanto faz como tanto fez. [...] ela teve muitas decepções, teve muitas coisas desagradável com ele" (Mariana).

Embora este seja o ponto de vista das mães, no trabalho de Mendes e Sani (2015), que buscou investigar a experiência de crianças que viviam em casa-abrigo em função de terem sido expostas à violência do pai contra a mãe, verificou-se que as crianças apresentaram narrativas claras sobre os episódios de conflito parental, traduzidos em episódios de violência física e emocional. Observou-se que as crianças identificavam o pai como o único responsável, direcionando a ele sentimentos negativos, assim como observado nos relatos das mães sobre o relacionamento dos filhos com o pai.

Entre as mudanças relatadas pelas mães no relacionamento dos filhos com os genitores na transição da infância para a adolescência, três participantes destacaram o afastamento entre os filhos e o pai. As participantes Mariana e Carmem justificaram que o motivo para isso teria sido o fato de o pai ter se tornado mais agressivo com a família, ao longo do desenvolvimento do filho. Assim, considerando que os processos proximais ocorrem também em função das características das pessoas em interação, a agressividade do pai pode ter interferido ativamente na relação pai-filho, funcionando como obstáculo a ocorrência de processos proximais (Bronfenbrenner & Morris, 2006), distanciando pai-filho. Destaca-se que apenas Fátima ponderou que a filha, apesar de presenciar os conflitos entre ela e o ex-companheiro, conseguia separar o relacionamento conjugal do relacionamento parental, estabelecendo um relacionamento positivo com o pai, caracterizado por conflitos pouco frequentes e com presença de manifestações afetuosas de ambas as partes.

Portanto, de modo geral, verificou-se que tanto o relacionamento na díade mãe-filho(a) quanto na díade pai-filho(a) parece ter sofrido alterações ao longo do tempo, sobretudo em função da exposição ao relacionamento conjugal conflituoso entre os pais. No caso de Fátima, única participante que destaca o relacionamento da filha com o pai como positivo, analisa-se que essa díade está sob uma condição particular em relação aos outros casos. Entre as entrevistadas, Fátima foi a única a buscar o serviço por ocasião da violência psicológica, sendo que todos os outros casos envolveram a violência física. É incontestável a gravidade de ambos os tipos de violência. Entretanto, considerando que a violência psicológica se apresenta, na maioria dos casos, de forma velada, é possível que essa situação impeça ou minimize o acesso da adolescente aos episódios de conflito entre os pais de forma mais direta, sendo reduzidos, portanto, seus danos ao relacionamento parental. Outras pesquisas corroboram essa análise (Benetti, 2006; Ribeiro, 2010).

Além da mudança no relacionamento em função do momento do desenvolvimento dos filhos, no relato de quatro das cinco participantes entrevistadas, foram identificadas descrições a respeito das mudanças no relacionamento mãe e filho(a) após a saída do pai de casa, situação verificada para todas as participantes no período da pesquisa. Ou seja, ocorreram mudanças em função de uma reconfiguração no microssistema familiar que impactaram as participantes e as interações com os filhos. Uma das participantes, Carmem, destacou terem sido os filhos que notaram que o comportamento dela estava mais calmo e, por conseguinte, avaliaram melhorias no relacionamento entre mãe e filho. Segundo a participante: "O meu próprio filho disse isso. [...] 'Mãe, você está mais alegre, você tá sorridente, você tá melhor com a gente, tratando a gente melhor'".

De modo geral, na infância, tanto o relacionamento na díade mãe-filho(a) quanto na díade pai-filho (a) foram descritos pelas entrevistadas como caracterizados por interações que apresentavam alguma frequência, poucos conflitos e cuidado. Entretanto, de acordo com o relato das participantes, na adolescência, essas relações sofreram alterações que foram avaliadas como estando relacionadas tanto aos conflitos que esses jovens observavam nas interações entre os pais como ao padrão comportamental pouco empático apresentado pelo genitor. É possível que essas alterações tenham se apresentado na adolescência devido a uma percepção mais ampla que esses jovens conquistam, conforme avançam no desenvolvimento. Como bem aponta Bronfenbrenner (1996, p. 5), "o desenvolvimento humano implica um processo através do qual a pessoa em desenvolvimento adquire uma concepção mais ampliada, diferenciada e válida do meio ambiente ecológico".

Além disso, destaca-se que as mudanças comportamentais do jovem em relação aos pais, bem como o aumento de conflitos entre pais, mães e filhos, podem ter relação com as mudanças na dinâmica familiar e na relação com os adultos em função do desenvolvimento do jovem. Para alguns adolescentes, ao buscarem a consolidação da própria identidade, pode ocorrer o afastamento da família de origem e um maior envolvimento com o grupo de iguais. Os filhos também podem tornar-se mais questionadores em relação às regras, limites e valores, levando à ocorrência de desentendimentos com os adultos cuidadores (Wagner, Falke, Silveira & Mosmann, 2002). Entretanto, considerando o relato das mães entrevistadas, os conflitos e violência na família podem ter intensificado essas mudanças.

Aspectos específicos do convívio, nas díades mãe/pai-filho, atualmente

A respeito da realização de atividades de lazer junto com os filhos, duas participantes relataram não ter o hábito de sair com o(a) filho(a), e acrescentaram que os filhos não aceitavam convites para passeios. Duas participantes relataram que costumavam sair com as filhas, mas que os passeios não aconteciam mais. Justificaram que em função das brigas entre elas e o esposo não havia motivação para saírem juntas. Apenas Fátima relatou realizar atividades com a filha sempre que possível, incluindo passeios ao shopping, cinema, praça ou assistir a um filme dentro do próprio domicílio.

No que se refere à realização de atividades do pai com o filho(a), os resultados foram semelhantes. Duas mães relataram que o pai não saia com o filho(a), ressaltando ainda que essa nunca foi uma prática entre eles; duas descreveram que o pai e a filha já compartilharam momentos de lazer, embora no momento atual esses momentos não ocorressem, tendo em vista o distanciamento estabelecido na relação. Fátima acrescentou que, em situações nas quais os conflitos entre ela e o esposo se agravavam, levando ao rompimento das interações e da comunicação, o pai tendia a oferecer mais atenção à filha, numa tentativa de disputar com ela a atenção da adolescente.

Nota-se, portanto, que os momentos de lazer entre mães-filhos e pais-filhos, no momento da pesquisa, quando os filhos eram adolescentes, de modo geral, não eram comuns no cotidiano das famílias, indicando poucos momentos de interações nessas díades, fora da rotina de cuidados e cotidiano doméstico. Essa situação pode implicar também em limitações na ocorrência de processos proximais e consequentemente vínculos enfraquecidos entre pais, mães e filhos.

Em relação ao conhecimento da mãe a respeito das atividades extradomiciliares do(a) filho(a), todas as mães declararam acompanhar as atividades dos filhos, sendo a escola o contexto que mais se destacou no relato das participantes. Outros locais citados foram o médico e a casa de amigos. Ao discorrerem a respeito do conhecimento do pai sobre as atividades extradomiciliares do filho(a), verificou-se que as mães foram unânimes ao declarar que o pai não acompanhava as atividades dos filhos adolescentes ou o fazia esporadicamente, quando solicitado por eles. Uma participante explicou: "Ele diz que é responsabilidade minha, porque a guarda está comigo" (Pérola).

Com relação à supervisão em relação às amizades, todas as participantes descreveram que, de algum modo, conheciam as companhias dos filhos. Contudo Carmem e Joana afirmaram que não conseguiam acompanhar muito bem essas relações. Ao avaliarem a supervisão do pai a respeito dos amigos dos filhos, as mães consideraram que os pais não conheciam ou conheciam muito pouco as companhias dos filhos. Assim verificou-se, mais uma vez, a partir do relato das entrevistas, que o monitoramento dos filhos era realizado principalmente pelas mães, que representavam o papel de cuidadoras principais em relação aos filhos.

As mães também relataram a ocorrência de desentendimentos entre elas e os filhos, apontando que os temas das discussões eram diversos. Briga entre irmãos, tarefas escolares e namoro foram indicados como exemplos mais frequentes. Em relação aos desentendimentos entre os pais e filhos, três das participantes também afirmaram sua ocorrência. Uma delas destacou que o ex-companheiro se comportava em relação à filha de forma semelhante ao que acontecia no relacionamento conjugal. Ela descreve:

Se ele mandar ela arrumar e ela não arrumar, aí eles começa a discutir [...]. Aí ela fala bem assim: "Ah, quando minha mãe chegar eu vou falar que você tá me escravizando". [...] quando eu não tô, ele pede ela para fazer. Se ela não faz, ele vai dá um tapa nela ou se não der um tapa ele xinga ela. Há pouco tempo ele passou a chamar ela de cachorra, de galinha. Como ele chamava eu né?! [...] Eu já presenciei muito isso. (Mariana)

Entre as outras duas participantes, uma apontou os momentos de conflitos como inexistentes entre o ex-companheiro e o filho, devido ao comportamento "mais passivo" do adolescente que, em suas palavras, "aceita tudo calado", e a outra informou que os conflitos eram pouco frequentes. Assim, com base no relato das mães, verificou-se que os conflitos entre elas e os filhos estavam relacionados a assuntos cotidianos e eram constituídos de interações menos agressivas. Entretanto, de acordo com os relatos das mães, constatou-se que os conflitos entre os genitores e os filhos, quando aconteciam, se apresentam de forma mais intensa e, em alguns momentos, com posturas semelhantes às que ocorriam na relação entre os cônjuges.

Ao se referirem às correções e limites aplicados pelas mães quando consideravam os comportamentos dos filhos como inadequados, todas as mães indicaram que corrigiam os filhos utilizando o diálogo. Em relação aos pais, três das cinco mães entrevistadas relataram que eles costumavam corrigir os filhos quando era preciso. Entretanto, ao discorrerem mais especificamente a respeito dessa questão, pôde-se verificar que essa função também era mais direcionada às mães no cotidiano das famílias. Como destacado por Mariana: "Costuma, se ela fizer alguma coisa ele costuma. Mas é muito difícil. [...] eu creio que é mais eu mesmo para corrigir a Amanda, do que ele". Além disso, as participantes também ponderaram que quando o pai corrigia os comportamentos dos filhos, algumas vezes, essas correções se efetivavam na forma de punição física. Pérola e Carmem, respectivamente destacaram: "Ele não conversa não, ele bate. É isso que ele faz. A correção dele é essa" (Pérola); "Não corrigi, briga né?! [...] Não é sempre, mas já ocorreu, às vezes, de, ao invés de conversar, agir com pancada" (Carmem).

Verificou-se assim que, em algumas situações, ao exercerem a parentalidade, os pais reproduziam comportamentos agressivos que foram observados na relação conjugal, o que não favorecia o estabelecimento dos processos proximais entre pais e filhos. Acrescenta-se que as mães assumiam mais responsabilidade nas situações de acompanhamento e intervenção dos filhos, fortalecendo assim os processos proximais com eles. Essa análise fica clara quando consideramos o relato de Pérola, ao explicar que o ex-marido justificou não se comprometer com os cuidados relacionados à filha, pois a guarda era da mãe; ou a resposta de Joana ao relatar que o ex-marido "ajudava" nos cuidados da filha quando ela era pequena, indicando que a responsável principal pelo cuidado da filha era dela. Esses resultados também podem ser identificados em outros estudos que tratam do relacionamento parental, apontando que a figura materna é indicada como tendo mais responsabilidade com - e assumindo de fato - os cuidados físicos, afetivos e sociais dos filhos (Fleck & Wagner, 2013; Wagner, Falke, Silveira, Mosmman, 2002; Wagner, Predebon, Mosmann & Verza, 2005).

Em relação às demonstrações de afeto entre as mães e os filhos adolescentes, quatro das cinco participantes descreveram momentos de afeto com os filhos. Entretanto, Joana ponderou que esses momentos têm sido pouco frequentes devido à situação de conflito entre ela e o esposo, que, segundo seu relato, alterou o relacionamento entre ela e a filha. Quanto às demonstrações de afeto entre os filhos adolescentes e os pais, duas mulheres consideraram que não ocorriam e três informaram que existem demonstrações de afeto. Assim, apesar de as mães relatarem distanciamento e conflito na relação do adolescente com o pai, também observaram demonstrações de afeto entre eles.

Ao serem questionadas sobre a sua percepção a respeito dos sentimentos de tristeza dos filhos, todas as mães relataram identificar alterações no comportamento dos jovens quando eles estavam chateados ou com algum problema e abordá-los para conhecer as razões de seu estado emocional. Ao avaliarem a reação dos pais sobre esse tema, todas consideraram que os pais não identificavam os sentimentos dos filhos quando estes estavam chateados ou tristes. Entretanto, a participante Fátima ponderou: "Se ela tiver bicuda, com raiva... Aí ele percebe. Mas triste assim, porque aconteceu alguma coisa, amuadinha assim, não". Tal descrição indica que, segundo Fátima, o pai só notava alterações no comportamento da filha,quando essas mudanças eram visíveis, sendo percebidas sem muito esforço.

No relato a respeito de como as mães avaliavam a percepção dos filhos quando elas próprias estavam tristes, quatro das cinco participantes relataram que os adolescentes percebem as mudanças de comportamento e questionam o motivo de estarem chateadas. Segundo a participante Carmem: "Aí é quando ele chega mais junto de mim. Vem, dá um beijo, dá um cheiro [...]. Ele é muito preocupado, ele cuida muito bem de mim". Joana também destaca: "Ela se aproxima. Pergunta por que eu tô triste, às vezes manda até o namorado me vigiar para ver se eu tô chorando em cima da cama, alguma coisa [...]". Em relação aos sentimentos do pai, as avaliações foram diferentes, sendo que quatro das cinco mães consideraram que os filhos não costumam notar as alterações emocionais no comportamento do genitor. Assim, segundo as mães, existe uma maior atenção e empatia entre elas e os filhos e filhas adolescentes que entre estes e seus pais em relação à percepção dos sentimentos de tristeza. Contudo, é importante considerar que a avaliação das mães pode ser enviesada pelos sentimentos negativos decorrentes da relação conflituosa com o ex-companheiro.

As mães entrevistadas também descreveram comportamento de proteção dos filhos em relação a elas. A participante Mariana, por exemplo, descreve que a filha "sempre tomou sua frente" nas brigas com seu companheiro, fazendo de tudo para protegê-la e livrá-la da violência a que estava submetida, chegando a elaborar estratégias para efetivar alguma ajuda. Outras participantes também relataram comportamentos parecidos como: discussões entre o adolescente e a madrasta objetivando a sua defesa; vigilância dos pertences da mãe em relação ao pai; conselhos; e até mesmo renúncia a momentos de lazer com os amigos, por acreditar que a mãe estava em perigo, como descrito por Carmem: "Ele raramente sai [...]. Se ele achar que eu tô em perigo, volta correndo para casa".

Tomando como base a descrição das mães, verifica-se que o comportamento de cuidado dos filhos em relação à mãe e, por conseguinte, da mãe em relação aos filhos, indica um forte vínculo estabelecido entre eles. A percepção de que a mãe é vítima do pai na situação de violência, bem como o fato de esses jovens, por vezes, também serem vítimas de violência do pai, contribui para que o vínculo entre pai-filho seja fragilizado e para que a avaliação a respeito do pai seja negativa. Esses resultados são semelhantes aos encontrados no estudo de Henriques (2013), no qual as mães eram descritas pelos filhos como frágeis e carentes de proteção.

Entretanto, mesmo sendo unânime entre as mães o fato de que os filhos buscam defendê-las na relação com o genitor, também houve relatos de momentos em que esses adolescentes se sentem divididos em relação aos sentimentos direcionados às figuras parentais. Alguns trabalhos apontam que os filhos podem vivenciar sentimentos ambíguos nessa situação: ao mesmo tempo em que se sensibilizam pela forma como a mãe é tratada na relação com o pai e avaliam negativamente o comportamento do genitor, questionam o posicionamento da mãe em não por fim ao processo de violência (Ribeiro, 2010; Sudermann, Jaffe & Watson, 1996). Dessa forma, quando questionadas a respeito do apoio dos filhos a uma das figuras parentais, três participantes descreveram que o apoio é direcionado a elas, enquanto outras duas notaram que os filhos se sentem ambivalentes na situação de conflito entre elas e o ex-companheiro.

Por fim, ao avaliarem o que elas consideravam que os filhos adolescentes gostariam de mudar no relacionamento com o pai, três participantes acreditavam que estes gostariam que o pai fosse mais tolerante, menos agressivo e mais atencioso. Já a entrevistada Mariana supõe que a filha não desejava mudanças no relacionamento com o pai, pois demonstrava ser, atualmente, indiferente a ele. Em suas palavras: "Não mudaria nada não. Porque assim, ela acompanhou a minha fase todinha de agressão. Tanto quando tava na minha barriga [...] Até onde ela tá agora, entendeu? [...] Quer só distância".

Mais uma vez, a partir do relato das mães, observa-se que as características pessoais do genitor tendem a funcionar como obstáculo ao desenvolvimento dos processos proximais entre eles e o filho(a). Assim, torna-se coerente o relato das participantes ao avaliarem que os filhos não reconheciam nos genitores uma fonte de apoio paterno. Quatro participantes responderam a questão que investigava esse tema de forma negativa e uma apontou que não sabia informar se o pai era ou não apoio para o filho.

 

Considerações finais

Este trabalho buscou analisar do ponto de vista de mães que sofreram violência doméstica por parte do companheiro o relacionamento entre elas e seus filhos adolescentes, de ambos os sexos, e como elas percebiam a relação entre os filhos e o pai, autor das agressões. A partir das descrições apresentadas pelas mães entrevistadas, analisa-se que tanto a díade mãe-filho(a) quanto à díade pai-filho(a) são afetadas pelo contexto de violência em que estão inseridas. Entretanto, o relacionamento do(a) filho(a) com o pai parece ser afetado mais negativamente. As mães avaliaram as características pessoais e o comportamento dos pais de forma negativa e consideraram que eles têm pouca proximidade com os filhos. As descrições realizadas pelas participantes também indicaram que elas observam a reprodução do repertório desses homens da díade conjugal para o relacionamento com os filhos, o que corrobora as pesquisas na literatura que apontam para o Efeito de Spillover. A descrição das mães indica processos proximais frágeis dos pais para com os filhos. Entretanto, é importante destacar o possível viés que os relatos das mães podem estar sofrendo, em função da violência sofrida pelo ex-companheiro e os possíveis sentimentos negativos decorrentes dessa situação.

Também foi possível verificar que as mães entrevistadas avaliaram seus relacionamentos com os filhos adolescentes como mais próximos quando comparado à relação dos filhos com os pais. Elas descreveram monitorar os filhos, identificar suas emoções e sobre como se sentem. Também afirmaram que os cuidados em relação aos adolescentes são desempenhados principalmente por elas, além de considerarem que os conflitos e a violência na família afetavam os filhos, fazendo com que eles desempenhassem um papel de protetores delas ou se sentissem divididos entre o pai e a mãe.

Com base nos resultados, avalia-se como importante que os serviços de atendimento às pessoas que tem seus direitos violados, particularmente os voltados às mulheres vítimas de violência doméstica, focalizem também os outros membros da família envolvidos na situação. Acrescenta-se ainda que o acesso ao relato dos adolescentes e dos genitores, além de pesquisas com outras metodologias, poderiam originar novos dados, contribuindo para melhor análise e construção de intervenções diante desses casos.

 

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Recebido em 19/07/2016

 

 

1 Neste trabalho, o termo "Filhos" será utilizado para referir-se a jovens de ambos os sexos.
2 As palavras utilizadas como buscadores foram: "violência conjugal" OR "violência doméstica contra mulher" OR "conflito conjugal" AND "relacionamento parental"; "violência conjugal" OR "violência doméstica contra a mulher" OR "conflito conjugal" AND relacionamento pais e filhos; e os respectivos termos traduzidos para o inglês.

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