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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.12 no.4 São João del-Rei out./dez. 2017

 

EDITORIAL

 

Uma internacionalização brasileira

 

 

Maria de Fátima Aranha de Queiroz e MeloI; Marília Novais da Mata MachadoII; Larissa Medeiros Marinho dos SantosIII; Marcos Vieira-SilvaIV

Ie-mail: fatimaqueiroz.ufsj@gmail.com
IIe-mail: marilianmm@gmail.com
IIIe-mail: medeiros.lara@gmail.com
IVe-mail: mvsilva@ufsj.edu.br

 

 

A internacionalização de periódicos acadêmicos brasileiros é pauta que está na ordem do dia. Veículos nacionais de divulgação científica, grandes e bem avaliados, já vêm sendo editados em inglês. Neles, entende-se que internacionalizar é escrever nessa língua que, nos dias atuais, permite trocas entre cientistas dos mais diversos lugares do planeta, ocupando o espaço que foi o do latim, dos idos do Império Romano ao final do século XIX.

Neste número especial, a revista Pesquisas e Práticas Psicossociais, à sua maneira, participa desse movimento. Semelhante aos números anteriores, este cuida, sobretudo, da discussão de questões psicossociais brasileiras: a desigualdade, o racismo, o retorno constante aos autoritarismos, a anulação do sujeito. Afinal, nossas pesquisas, nosso público, nossos problemas e questões têm sido brasileiros.

Porém, este número oferece também ao leitor "internacional" - aquele que não só lê, mas também escreve em inglês - a possibilidade de saber o que Pesquisas e Práticas Psicossociais faz (e como faz). Especialmente, mostra como a revista se dirige ao público brasileiro, além de dar pistas de como ela participa da discussão sobre políticas públicas e sobre problemas psicossociais, utilizando (e também criando) metodologias para abordar democraticamente cidadãos em sofrimento psíquico, comunidades carentes, sem-teto, sem-terra, marginalizados.

Pesquisas e Práticas Psicossociais não pretende ser doravante um periódico escrito em inglês. Ao contrário, além de ser um convite à participação de autores de outros países, o número pretende despertar nos usuários de língua inglesa o interesse em traduzir do português para o inglês (ou para outra língua, pois elas são muitas), se acharem útil, artigos nossos, da mesma forma como fazemos, há décadas, com trabalhos europeus e norte-americanos.

O leitor deste número poderá conhecer temas e metodologias que nos dizem respeito, bem diferentes de experimentos canônicos e de pesquisas de campo, mesmo qualitativas, em que a distância entre pesquisador e pesquisado é grande. São tentativas de pensar, praticar e pesquisar junto a sujeitos concretos, com eles.

O primeiro conjunto de artigos foi escrito por autores convidados, sêniores e experientes, que atenderam ao nosso convite.

Assim, com Observâncias: Psicologia, políticas de segurança pública e juventudes encarceradas, Oriana Holsbach Hadler e Neuza Maria de Fátima Guareschi, da UFRGS, assim como Andrea Cristina Coelho Scisleski, da Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (MS), com posicionamentos foucaultiano e etnográfico, analisam criticamente atos psicológicos praticados no campo da segurança pública.

Em Algumas reflexões sobre raça e racismo no Brasil, Claudia Mayorga, da UFMG, busca esclarecer como racismo e desigualdades raciais se implantaram no Brasil, atrelados a interesses da elite local, à lógica colonial, à modernização do País e ao mito de uma democracia racial. Destaca ainda contribuições do movimento negro ao reconhecer igualdade racial como questão pública no Brasil.

Maria Stella Brandão Goulart e Leísa Ferreira Amaral Gomes, da UFMG, juntamente com Listhiane Pereira Ribeiro, do Instituto Federal Minas Gerais, Campus Ribeirão das Neves, com uma leitura fenomenológica e uso da análise do conteúdo, apresentam, no artigo Pesquisas e Práticas Psicossociais: uma Re-vista, parte das conclusões da pesquisa "Estado da Arte em Psicologia Social em Minas Gerais" relativas, justamente, a esta nossa revista, no período 2007/2008.

Em Diário de campo: O autor como um protagonista, Estela Scheinvar, da UERJ, e Maria Lívia do Nascimento, da UFF, apresentam análises de intervenções em escolas e em conselhos tutelares, fundamentadas nas teorias da análise institucional (Lourau e Lapassade) e do acontecimento (Foucault), com destaque para o uso do diário de campo como ferramenta que permite estranhar os modos de codificação das práticas.

Em Práticas Psicossociais: Metodologia, Epistemologia e Ética, Marília Novais da Mata Machado, pesquisadora da UFMG e da UFSJ, questiona a capacidade de práticas psicossociais gerarem e construírem conhecimento psicológico e social, teorias, métodos e, ainda, dispositivos de ação, pesquisa, autoavaliação e regulação, com atenção às questões éticas envolvidas.

No artigo Tensões e desafios na relação dos agentes comunitários de saúde com as equipes, Roberta Carvalho Romagnoli, da Puc Minas, e Jania Lurdes Pires Samudio, da Universidade Estadual de Montes Claros, ressaltam a importância do trabalho dos agentes comunitários que trabalham na Atenção Primária à Saúde. As autoras mostram que esses profissionais ressentem sobrecarga de trabalho e desvalorização pelos profissionais de nível superior que compõem a equipe.

Em Juventude pobre e longevidade escolar: sentidos construídos por bolsistas do Prouni em Belo Horizonte (MG), Maria do Carmo Sousa e Maria Ignez Costa Moreira, da PUC Minas, com perspectiva sócio-histórica e uso de entrevistas, buscaram compreender como jovens pobres, bolsistas do Programa Universidade para Todos (Prouni) veem a permanência na escola.

O segundo conjunto foi escrito por autores que, ao tomarem conhecimento de que Pesquisas e Práticas Psicossociais dispunha- se a publicar um número em inglês, espontaneamente nos enviaram seus trabalhos.

Celso Francisco Tondin e Alan David Evaristo Panizzi, da UNOCHAPECÓ, em Expectativas construídas na relação família-escola, apresentam resultados da observação participante de 21 profissionais e 16 familiares em uma escola. O Diário de campo e as entrevistas semiestruturadas permitiram apontar as diferentes expectativas desses dois grupos relativas a atendimento pedagógico e à participação das famílias.

Em Vulnerabilidade das crianças e adolescentes no uso das redes sociais e a mediação parental, Emanuela Maria de Araújo e Pedro Paulo Viana Figueiredo, da Faculdade de Ciências Humanas Esuda, Recife, PE, revelam as estratégias de supervisão do uso da internet adotadas por mães e pais de filhos entre 09 e 17 anos. Entrevistas semiestruturadas e análises de discurso mostraram que os pais valorizam a internet na interação social dos filhos, têm dificuldade em avaliar os riscos relativos a ela e empregam formas diversas e inespecíficas para mediar seu uso.

Em Percepções de adolescentes infratores sobre a polícia: Um estudo qualitativo realizado no Brasil, Jéssica Balisardo Coelho, da Universidade do Oeste Paulista, Alex Sandro Gomes Pessoa, das universidades Estadual Paulista (UNESP) e Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Dorothy Bottrell, da Victoria University, Melbourne, apresentaram uma pesquisa qualitativa com adolescentes que incorreram em atos infracionais e evidenciaram os efeitos danosos de abordagens policiais truculentas.

Em A teoria da subjetividade no estudo da dependência química: Refletindo sobre as teorias e práticas profissionais existentes, Thamiris Melo Caixeta, Valéria Deusdará Mori e Marília Santos Bezerra, do Centro Universitário de Brasília, usando o método construtivo-interpretativo de González Rey e com base num estudo de caso que valoriza o singular e o dialógico, refletem sobre dependência química e acentuam a produção das subjetividades social e individual e os processos relativos à saúde no contexto da clínica da dependência química.

Com esse pequeno conjunto de artigos, acreditamos que apresentamos à comunidade científica leitora em inglês um pouco daquilo que fazemos, pensamos e sabemos.

Este número contou com o imprescindível trabalho da equipe do Setor de Editoração Eletrônica (Sedit) da Universidade Federal de São João del-Rei: Rogério Lucas de Carvalho e seus assistentes administrativos: Adalberto Nunes Pereira Filho, Laércio Carlos Ribeiro dos Santos Maus e Michel Montadon de Oliveira. Agradecemos também a competente revisão final do inglês feita pelo Prof. Carlos Renato de Almeida.

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