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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.14 no.1 São João del-Rei jan./mar. 2019

 

Editorial 14(1)

 

 

Larissa Medeiros Marinho dos SantosI; Isabela Saraiva de QueirozII; José Rodrigues de Alvarenga FilhoIII; Maria de Fatima Aranha de Queiroz e MeloIV

Ilarissa@ufsj.edu.br
IIisabelasq@ufsj.edu.br
IIIjoserodrigues@ufsj.edu.br
IVfatimaqueiroz.ufsj@gmail.com

 

 

O ano de 2019 se inaugura com desafios. A Revista Pesquisas e Práticas Psicossociais publica o primeiro dos quatro números previstos para este ano. Apesar das adversidades que certamente nos alcançarão com o estreitamento das possibilidades de recursos necessários à manutenção dos periódicos científicos no período de obscurantismo em que vivemos, alianças e articulações se mobilizam para dar visibilidade a trabalhos tecidos em parceria com outros grupos e instituições para compor edições temáticas.

Sobrevivência e luta são palavras de ordem num tempo de corte de verbas. Nosso compromisso com a divulgação de relatos de pesquisas e experiências se mantém, assim como a nossa periodicidade trimestral. Este número multitemático congrega numerosos trabalhos, oriundos de instituições por todo o país, em que podemos perceber a preocupação de pesquisadores com diferentes focos. Embora apareçam artigos que levantam questões metodológicas convergindo disciplinas e/ou problematizando processos de subjetivação, destacam-se, neste número, artigos em que crianças, adolescentes e jovens aparecem protagonizando as investigações em contextos diversos, grande parte deles ligados às questões da educação e da saúde. Verificamos preocupação com a infância, juventude e também com a velhice, desassistidas e negligenciadas em nosso país por políticas excludentes e equivocadas em suas atuais diretrizes. Estratégias de ensino e atendimento a esses brasileiros aparecem como possibilidade de enfrentamento aos desafios colocados cotidianamente. Projetos de vida e perspectivas de futuro são alinhavadas a partir desses trabalhos, mostrando a universidade como locus de interlocução com as políticas públicas e formação de cidadãos.

O artigo Psicologia social e antropologia: experiências de pesquisa participante e etnográfica, que tem como autores José Sterza Justo (Universidade Estadual Paulista), José Carlos Franco de Lima (Universidade Federal de Roraima) e Alejandra Astrid Leon Cedeño (Universidade Estadual de Londrina), descreve e discute duas experiências de pesquisa na interface entre a Antropologia e a Psicologia Social: uma realizada com andarilhos de estrada, mediante contatos estabelecidos nos acostamentos das rodovias, e outra feita em comunidades populares, por meio de um projeto de pesquisa-ação. Nos dois casos, destacam a fecundidade e a eficácia da utilização de recursos da etnografia e da pesquisa-ação-participante em estudos e práticas voltados para processos de subjetivação distintos.

Robson Kleber de Souza Matos e Rosemberg Cavalcanti Belem (Universidade Federal de Pernambuco) são autores do artigo intitulado Música: Formando tribos, constituindo identidades sociais, resultado da investigação que buscou entender em que medida a construção da identidade social está relacionada à escolha de um determinado seguimento musical por jovens de uma tribo. Por meio de entrevistas semiestruturadas e análise baseada na Teoria da Identidade Social de Tajfel, mostraram como a música pode funcionar como compositora de tribos urbanas e consequentemente de identidades sociais.

Em Iniciação musical no ensino fundamental: afetividade e aprendizagem, Girlane Moura Hickmann e Adolfo Antonio Hickmann, ambos da Universidade Federal do Paraná, relatam a experiência de criação do Projeto Música Para Todos, sediado em Teresina, Piauí, buscando tornar acessível o ensino gratuito de música para população de baixa renda. Associaram os conhecimentos de flauta e inglês para que o ensino de ambas as disciplinas envolvessem afetivamente os alunos no processo que gerou influências no desempenho dos estudantes em outras aulas.

Design para empatia: brinquedos e brincadeiras como oportunidade para promover o desenvolvimento emocional teve como objetivo explorar formas em que o design pode auxiliar no estímulo das experiências de crianças, apresentando diretrizes para que os projetos de brinquedos tenham o potencial de oportunizar a empatia na idade escolar. Para além das contribuições teóricas para a pesquisa em design, o estudo tem aplicações práticas para o mercado de brinquedos, apresentando ao leitor uma nova forma de se olhar para esse tipo de atividade projetual. Seus autores são Roberta Rech Mandelli (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) e Leandro Tonetto (Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

No artigo A Educação Popular em Saúde como dispositivo transformador das práticas da Rede de Atenção Psicossocial no município de Itajaí - SC, Jonatan Hoffmann e Carlos Eduardo Maximo, da Universidade do Vale do Itajaí, apresentam experiências oportunizadas por uma Residência Multiprofissional em Saúde da Família, com o objetivo de compreender como os usuários da Rede de Atenção Psicossocial experienciam práticas de Educação Popular em Saúde (EPS). No trabalho são relatados alguns caminhos e experiências em EPS e seus desdobramentos, refletidos com base em uma perspectiva histórico-crítica. Conclui-se que as intervenções em EPS possibilitam a construção de relações sociais pautadas por valores orientados para uma ética do diálogo, alteridade e solidariedade.

Luciane Guisso e Marivete Gesse, da Universidade Federal de Santa Catarina, no artigo Estratégias utilizadas por professores ante os desafios no processo de escolarização de estudantes do ensino fundamental, identificaram a baixa implicação dos docentes no processo de escolarização que protagonizam, sendo frequente a recorrência à intervenção de especialistas fora do contexto escolar, por acreditarem que muitos de seus estudantes não aprendem em função de questões cognitivas ou neurológicas.

Em Relações entre a Estima de Lugar e a construção dos Projetos de Vida de jovens adolescentes de escolas públicas de Fortaleza/CE - um estudo avaliativo, Debora Linhares da Silva e Zulmira Áurea Cruz Bomfim, da Universidade Federal do Ceará, buscam relações entre Projetos de Vida de jovens adolescentes e a Estima de Lugar destes em relação às escolas em que estudam, corroboradas na análise de indicadores afetivos como autoestima, autoeficácia e perspectiva de futuro.

As autoras da Universidade Federal do Espírito Santo, Luciana Vieira Caliman, Victoria Bragatto Rangel, Janaina Mariano Cesar, Merielli Campi Paterlli, Alana Araújo Corrêa Simões, Anita Nogueira Fernandes e Luana Gaigher Gonçalves, no artigo Oficina da palavra: literatura, infância e cultivo da atenção, apresentam uma pesquisa-intervenção participativa, realizada em um Capsi de Vitória/ES - Brasil, no formato de oficinas literárias com crianças. Sustentadas pela estratégia da Gestão Autônoma da Medicação, as oficinas possibilitaram a construção de um espaço de expressão e cogestão, refletindo na reafirmação da importância da literatura no acesso e reinvenção da experiência infantil, por meio, entre outros fatores, do cultivo atencional.

Nirvana Ferraz Santos Sampaio, Tauana Nunes Paixão e Silvana Perottino, vinculadas à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), são autoras do texto Uma discussão a respeito da dislexia - o sujeito na sua relação com a escrita. A partir de dois casos, o de uma criança diagnosticada com dislexia e o de uma diagnosticada com disgrafia, fazem um relato e uma discussão sobre a dislexia e sobre a disgrafia em crianças durante a fase de aquisição de linguagem. O trabalho inicia com uma apresentação da temática a partir de três áreas do conhecimento: a Fonoaudiologia, a Psicanálise e a Linguística (Neurolinguística Discursiva e Aquisição da linguagem), e finalmente traz a abordagem da aquisição de linguagem interacionista. As autoras questionam a própria noção de distúrbio à medida que apresentam os casos.

Comportamentos sociais acadêmicos de universitários de instituições públicas e privadas: o impacto nas vivências no ensino superior, das autoras Adriana Benevides Soares, Marcia Cristina Monteiro, Fátima de Almeida Maia, Zeimara de Almeida Santos, da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), é o relato de um estudo que visou avaliar o impacto dos comportamentos sociais acadêmicos a partir do Inventário de Comportamentos Sociais Acadêmicos (ICSA) e do tipo de instituição que frequentam. Foram investigados 289 estudantes de oito Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e 20 de privadas. Além do ICSA, foi utilizado também o Questionário de Vivências Acadêmicas (QVA-r) e um questionário sociodemográfico. O trabalho traz dados que são relevantes para quem quer compreender as relações de estudantes com as suas instituições, carreira e adaptação à universidade.

Erika Borges dos Santos e João Wachelke, no artigo Relações entre habilidades sociais de pais e comportamento dos filhos: uma revisão da literatura, fazem uma revisão bibliográfica nas bases de dados Lilacs e Scientific Eletronic Library Online (SciELO), a partir dos termos "habilidades sociais pais e filhos". A consulta à base de dados e os critérios de exclusão, tais como artigos de revisão, resultaram em 24 trabalhos que foram apresentados e analisados. Os autores trazem reflexões sobre as relações encontradas e apontam novas perspectivas de investigação.

Em O atendimento à crise e urgência no Centro de Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes de Betim, Rosângela Rodrigues-Morais, Celina Maria Modena, Dirley Lellis dos Santos Faria e Maria Cristina Ventura Couto discutem a política pública brasileira para saúde mental de crianças e adolescentes a partir de um estudo exploratório realizado por meio de entrevistas semiestruturadas no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi) em Betim. A análise se refere aos cuidados prestados às situações de urgência e crise e permite o debate de temas relacionados à gestão, aos cuidados prestados e às questões relacionadas à política de Saúde Mental de Crianças e Adolescentes (SMCA).

Em Resiliência familiar diante do diagnóstico da doença de Parkinson na velhice, Larissa Jorge Ferreira de Faria, Priscilla Melo Ribeiro Lima, Nara Liana Pereira Silva (Universidade Federal de Juiz de Fora) discutem o processo de resiliência familiar diante do diagnostico de doença de Parkinson (DP) na velhice. Os autores refletem acerca do sofrimento do idoso com DP, os recursos dos quais ele e sua família lançam mão para enfrentar a doença e sua repercussão na dinâmica familiar.

Alexsandra Maria Sousa Silva, Veronica Morais Ximenes (Universidade Federal do Ceará), no artigo Políticas públicas e juventude: análises sobre o protagonismo juvenil na perspectiva dos jovens pobres, analisam a compreensão e o exercício do protagonismo no modo de vida de jovens pobres, a partir de uma pesquisa qualitativa, realizada no Centro Urbano de Cultura, Ciência, Arte e Esporte (Cuca), em Fortaleza (CE). Apontam que as juventudes têm potenciais de inventar novos modelos de participar da sociedade, produzir intervenções políticas e criar suas próprias estratégias de enfrentamento às privações cotidianas.

Em Ações Itinerantes do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) em ambiente universitário, Walter Melo (Universidade Federal de São João del-Rei) relata experiência de ações itinerantes de um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) em ambiente universitário. Diante da necessidade de mobilizar a comunidade acadêmica para a participação em debates e ações relacionados à prevenção de HIV/Aids, ações de aconselhamento e testagem foram possíveis a partir da interação entre a comunidade acadêmica e os profissionais de saúde do CTA, levando em consideração a noção de vulnerabilidade e suas categorias.

No artigo Pesquisa qualitativa em saúde e a perspectiva da Cartografia em Deligny e Deleuze/Guattari, Adriana Barin de Azevedo, Flávia Liberman e Rosilda Mendes (Universidade Federal de São Paulo) apresentam os delineamentos teórico-metodológicos da investigação "atenção básica e a produção do cuidado em rede, Santos - São Paulo, que teve como cenário de estudo Unidades da Atenção Básica e buscou identificar experiências de cuidado de saúde em rede. Para tanto, metodologicamente, a pesquisa orientou-se pela perspectiva cartográfica de Deligny e Deleuze/Guattari.

A equipe da revista Pesquisas e Práticas Psicossociais agradece a todos aqueles que, de alguma forma, participaram do processo de feitura desta edição, compartilhando saberes e fazeres para que o conhecimento construído nas trilhas da academia possa ser publicizado amplamente e alcance todos aqueles que o buscam na tarefa de fazer girar a roda da ciência.

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