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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.15 no.2 São João del-Rei abr./jun. 2020

 

"Quarto de despejo": relato de uma vivência dialogada

 

"Quarto de despejo": report of a lived experience

 

"Quarto de despejo": relato de una vivencia dialogada

 

 

Daniella Sotero de Barros PinangéI; Dandara Maria Oniilari Ferreira da SilvaII; Roseane Amorim da SilvaIII; Jaileila de Araújo MenezesIV

IMestra em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco. Sócio-fundadora da Entrelaços Recife - Diálogos e Vivências Terapêuticas
IIMestra em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco. Residente em Saúde da Família pela Secretaria Municipal de Jaboatão dos Guararapes (PE)
IIIPsicóloga. Mestre e Doutora em Psicologia. Professora Adjunta da Universidade Federal Rural de Pernambuco ( UFRPE), Unidade Acadêmica de Serra Talhada ( Uast)
IVProfessora Associada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), vinculada ao Departamento de Psicologia e Orientações Educacionais e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia

 

 


RESUMO

O relato de experiência aqui apresentado trata de uma oficina que teve como base a leitura de Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. O caminho metodológico da oficina contou com os seguintes passos: 1. Orientações prévias aos participantes. 2. Montagem do cenário da oficina. 3. Aquecimento. 4. Atividade principal: vivência das estações. 5. Fechamento. O material utilizado foram objetos específicos que remetiam ao livro, bem como materiais diversos para montagem das estações. Participaram da oficina 18 integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Poder, Cultura e Práticas Coletivas (Gepcol), das áreas de Psicologia, Pedagogia e Geografia, com idades entre 22 e 50 anos, majoritariamente composto por mulheres e tendo alguns participantes que se autodeclararam negros/as. O presente estudo focou em duas das estações realizadas na oficina "A mulher Carolina e Cenário Político". A partir da perspectiva decolonial, este estudo buscou trazer ao contexto acadêmico linguagens e formatos para produção de conhecimento que foram historicamente alijados dos espaços de representatividade e poder, tanto na ciência como na política.

Palavras-chave: Quarto de despejo. Carolina Maria de Jesus. Conhecimento científico. Decolonialidade. Oficina.


ABSTRACT

The experience report presented herein was a workshop that was based on the reading of Room of Eviction: diary of a favela, by Carolina Maria de Jesus. The workshop's methodology included the following steps: 1. Previous guidance to participants. 2. Setting the scene. 3. Warming-up. 4. Main activity: experience of the seasons. 5. Closing. The material used were specific objects that referred to the book, as well as various materials for assembling the stations. Eighteen members of the study and research group about Power, Culture and Collective Practices (Gepcol), from the areas of psychology, pedagogy and geography, aged between 22 and 50 years old. The group was composed mostly by women, some of them self-declared black people. The present study focused on two of the stations held in the workshop: Carolina as a woman and the Political Scenario. From a decolonial perspective, this study sought to bring to the academic context languages and formats for the production of knowledge that have historically been excluded from the spaces of representation and power, both in science and in politics.

Keywords: Dump room. Carolina Maria de Jesus. Scientific knowledge. Decoloniality. Workshop.


RESUMEN

El informe de experiencia aquí presentado trata sobre un workshop que se basó en la lectura de la Sala del desalojo: diario de una favela, de Carolina Maria de Jesus. La metodología incluyó los siguientes pasos: 1. Orientación previa para los participantes. 2. Montaje del escenario del workshop. 3. Preparación. 4. Actividad principal: experiencia de las estaciones. 5. Cierre. El material utilizado fueron objetos específicos que se referían al libro, así como diversos materiales para ensamblar las estaciones. Dieciocho miembros del Grupo de Estudios e Investigación sobre Poder, Cultura y Prácticas Colectivas (GEPCOL) participaron, desde las áreas de psicología, pedagogía y geografía, con edades entre 22 y 50 años, en su mayoría compuesto por mujeres y con algunos participantes que se declararon a sí mismos gente negra. El presente estudio se centró en dos de las estaciones realizadas en el workshop: Carolina mujer y el Escenario político. Desde una perspectiva descolonial, este estudio buscó traer al contexto académico lenguajes y formatos para la producción de conocimiento que históricamente han sido excluidos de los espacios de representación y poder, tanto en la ciencia como en la política.

Palabras clave: Cuarto de desalojo. Carolina Maria de Jesus. Conocimiento científico. Descolonialidad. Oficina.


 

 

Introdução

A ciência, a partir de um engendramento colonizado do saber, acabou por negligenciar e invisibilizar muitos caminhos de produção de conhecimento ao longo da história. A partir dos estudos pós-coloniais e decoloniais, esse paradigma hegemônico é questionado, reivindicando-se a mudança da lógica dicotômica e abrindo-se espaço para um entre-lugar, para um saber fronteiriço (Costa, 2013). Assim, este estudo dialoga com a perspectiva decolonial, pois parte da compreensão de que esse projeto busca um rompimento com as epistemologias eurocêntricas e enfatiza a importância "dos diferentes saberes (e paradigmas outros) sendo produzidos em diversos contextos geopolíticos, questionando assim cânones e métodos autorizados" (Costa, 2014, pp. 929-930).

Diante dessa perspectiva, há o redirecionamento do olhar para os lugares de enunciação na produção de conhecimento: "Para tal, há a necessidade de reflexão sobre o lugar de enunciação dos/ as que produzem conhecimento em relação ao poder hegemônico dos cânones teóricos ocidentais, bem como sobre as estratégias de tradução desse conhecimento" (Costa, 2014, p. 656).

Pâmela Marconato Marques e Maria Elly Herz Genro (2016) discorrem a respeito de tais saberes subalternizados e da pergunta ética que perpassa o olhar do/a pesquisador/a social que tenha a consciência desse silenciamento: como dar visibilidade a esses/as tantos/as outros/as autores/as e formas de produzir conhecimento? Frente a tais inquietações, o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Poder, Cultura e Práticas Coletivas (Gepcol),1 da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), buscou explorar o livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, a partir de um trabalho em formato de oficina.

Mary Jane Spink, Vera Menegon e Benedito Medrado (2014) discutem acerca das oficinas, situando-as como estratégia metodológica de pesquisa. Eles entendem oficinas como

Espaços com potencial crítico de negociação de sentidos, permitindo a visibilidade de argumentos, posições, mas também deslocamentos, construção e contrastes de versões e, portanto, ocasiões privilegiadas para análises sobre produção de jogos de verdade e processos de subjetivação. (Spink, Menegon & Medrado, p. 33)

Essa ferramenta metodológica dialoga com princípios da Educação popular de Paulo Freire (2007), quando ele nos fala acerca da potência da união entre teoria e prática no processo de ensino-aprendizagem. Segundo ele, aprendemos mais quando praticamos e refletimos (teorizamos) acerca de nossas ações. Freire diz que a teoria é importante, mas que a prática refletida (prática-teoria-prática) reverbera de maneira contundente no processo educativo. A oficina, assim, carrega consigo implicações ético-políticas, podendo ser utilizada em muitos contextos e a partir de diferentes procedimentos e estratégias discursivas, indo desde expressões artísticas, trabalhos com movimentos corporais, até mesmo a fala (Spink; Menegon & Medrado, 2014).

Entre tais possibilidades, destacamos aqui o papel da arte no processo de produção de conhecimento. Marian Liebmann (2000) nos diz que a partir da utilização da arte é possível que todos os participantes assumam um papel ativo, independentemente do nível de conhecimento de cada um no tema trabalhado; uma ampliação da comunicação e expressão, ultrapassando e somando o caminho das palavras; o estímulo e desbloqueio da criatividade; que os "produtos" sejam examinados posteriormente e, por ser prazerosa, pode incentivar o trabalho coletivo.

Segundo Eduardo Passos (2012), na oficina há uma conjugação entre saber-fazer e fazer-saber, pois é no encontro com a diferença do outro e das materialidades que emerge um saber advindo do fazer compartilhado. Esse fazer compartilhado contribui para que o corpo seja afetado, e se afetando transforme-se e crie novas formas de ação. Voltando para a oficina realizada e aqui relatada, destacamos que em diversos momentos os/as participantes demonstraram suas afetações pela obra de Carolina e pelas reflexões que estavam sendo construídas.

É importante também apresentarmos a autora e o livro que nos guiou para a realização da oficina. Carolina - mulher negra, moradora do bairro do Canindé, em São Paulo -, no livro escrito na década de 1950, compartilha algumas situações vivenciadas na favela e em outros espaços nos quais circulava. Relata, além das experiências ligadas às situações de miserabilidade impostas a ela, seus filhos e a vizinhança, o quanto a escrita se tratava de um elemento importante para ela, soando em alguns momentos como uma espécie de refúgio e também como uma voz que almejava pudesse chegar a muitos ouvidos, por meio das publicações.

A possibilidade de publicação do material construído pela autora chegou a partir de um jornalista que a conheceu na favela enquanto buscava escrever uma matéria sobre o lugar em que Carolina vivia. A princípio, trechos do diário de Carolina foram usados nesse material jornalístico, tornando-se futuramente o livro em questão. A publicação foi traduzida para 13 idiomas, projetando suas narrativas para além das fronteiras brasileiras, expandindo a voz dessa mulher que tanto tinha a dizer a países diversos.

Em Quarto de despejo, os relatos diários de Carolina falam sobre a condição de vida difícil de uma moradora de favela, mulher negra, mãe solo, que precisou dar conta do sustento de três crianças, dois meninos e uma menina. A cada dia, travava-se uma luta nova, principalmente contra a fome (sua velha conhecida), elemento fortemente presente nos escritos, tendo em vista que os cruzeiros conseguidos pela escritora, a partir da coleta de papel, não eram suficientes para garantir à família alimentos, vestuário e material de limpeza. Entre tantas faltas, Carolina se queixava por andar suja porque não conseguia comprar sabão.

A fome, a falta d'água, as desavenças entre os vizinhos e o abandono por parte do poder público compõe algumas das cenas que nos são trazidas ao longo dos escritos. Histórias marcantes discorridas com criticidade por parte da autora, que nos permite chegar à realidade da favela que habitava, detalhadamente contada pelos seus olhos, suas mãos e seu coração. Impossível não se angustiar em alguns momentos dolorosos compartilhados por Carolina, porém impossível também não vibrar a cada pequena conquista ou cada provocação levantada nos escritos.

Assim, é nesse contexto epistemológico que o presente relato de experiência se situa: desde a escolha da autora até a forma de discutir seu livro - buscando um modo decolonial de produzir conhecimento. Compreendemos a decolonialidade a partir do pensamento de Grada Kilomba (2019), quando, ao usar esse conceito, refere-se ao desfazer do colonialismo. Politicamente, o termo descreve a conquista da emancipação por parte dos/as que foram colonizados/as e, portanto, envolve a realização da criticidade ativa para a construção de outros modos de vida não subalternizados.

Ricardo Castro e Cláudia Mayorga (2019, p. 13) chamam a atenção sobre a importância de trabalharmos com uma perspectiva decolonial em uma sociedade colonizada como a latino-americana. Para isso, ressaltam que é importante também "o testemunho e ação de interlocutores que possam constituir um campo simbólico que interpele a narrativa da desigualdade para que ela possa se abrir para novas significações, rompendo com o local do subalternizado, apenas, como vitimização". E isso foi o que percebemos na obra de Carolina, uma mulher que relatou muitas de suas dores, mas em nenhum momento da obra colocando-se como vítima, e sim como uma pessoa que lutava por melhorias, por resistência em uma sociedade opressora e desigual. A seguir abordaremos como a oficina em que discutimos a obra de Carolina foi realizada.

 

Método

A oficina "Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus", promovida pelo Gepcol, objetivou trabalhar o livro da escritora a partir de um formato dissonante dos modelos hegemônicos no meio acadêmico-colonial. Acreditamos que, com uma proposta em que o caminho epistêmico hegemônico de produção de conhecimento científico é questionado, abre-se a possibilidade de refletir sobre que outros caminhos são possíveis para esse fim.

O caminho metodológico da oficina contou com os seguintes passos: 1. Orientações prévias aos participantes. 2. Montagem do cenário da oficina. 3. Aquecimento. 4. Atividade principal: vivência das estações. 5. Fechamento.

Utilizamos como materiais: computador, projetor, jornal, caixa de som, colas, tesouras, canetas de cores variadas, papel ofício, papel canson e diversos objetos específicos que remetiam ao livro, para montagem das estações e que serão mencionados adiante. Foi solicitado, previamente, que cada integrante selecionasse músicas que tivesse relação com a leitura para montagem de uma trilha sonora do encontro. Participaram da oficina 18 integrantes do Gepcol (da graduação, mestrado e doutorado) das áreas de Psicologia, Pedagogia e Geografia. A maioria dos/as participantes faz parte do grupo há mais ou menos 2 anos, mas alguns/mas há mais de 5 anos. Os/as participantes encontram-se quinzenalmente para as discussões sobre pesquisa e textos teóricos, e para iniciar o primeiro semestre de 2018 surgiu a ideia de discutir o livro em questão por meio de uma oficina. Esse livro chegou até o grupo a partir do diálogo com outros núcleos de pesquisa que também tem uma agenda de debates críticos à colonialidade do saber no meio acadêmico. No caso do Gepcol, no período da oficina, os/as integrantes estavam na faixa etária entre 22 e 50 anos, sendo o grupo participante composto majoritariamente por mulheres. Alguns e algumas mulheres e homens se autodeclararam negros/as.

Algumas orientações prévias foram dadas aos participantes, como a leitura prévia do livro "Quarto de despejo," de Carolina Maria de Jesus, e a solicitação de que cada um levasse um objeto que de algum modo os remetesse à leitura. No que concerne à montagem do cenário, organizamos estações para categorizar importantes reflexões suscitadas pelo livro. Cada estação estava composta com objetos diversos que remetiam ao tema proposto. Foram organizadas quatro estações denominadas: 1. A mulher Carolina (objetos utilizados: par de alianças, certidão de casamento e nascimento, jogo de maquiagem, lenço, caderno, caneta). 2. O cenário político (objetos utilizados: recortes de reportagens do período, material para confecção de um jornal). 3. A favela (objetos utilizados: balde, sabão em barra, cachaça, pandeiro). 4. Astúcias e resistências de uma favelada (objetos utilizados: tintas, fitas e o livro Quarto de despejo como símbolo de astúcia e resistência). Foram confeccionados, ainda previamente, quatro tíquetes referentes a cada estação para viabilizar a divisão dos grupos em cada uma.

No primeiro momento do encontro, durante o aquecimento, foi realizado um círculo e todos/as foram convidados/as a se apresentarem dizendo seus nomes e, em seguida, mostrando o objeto trazido, fazendo a partir dele uma breve relação com passagens do livro. Depois das apresentações, cada objeto foi colocado em uma toalha forrada no centro da roda. Em casos em que o/a participante por algum motivo deixou de trazer o objeto, foi solicitado que o nome fosse escrito em um papel e igualmente colocado no centro, como uma forma de garantir as reflexões e a participação de todos/as.

O segundo momento, da vivência das estações, iniciou com a orientação de que cada participante encontrasse uma posição confortável e que fechasse os olhos para se preparar para uma viagem. Antes de seguir para a etapa seguinte, foi realizado um momento de respiração e trabalho de consciência corporal para, em seguida, iniciar uma meditação guiada, previamente elaborada por uma das facilitadoras.

O roteiro da meditação guiada foi inspirado no Projeto Artpad (2011) e falava de uma viagem de trem em que todos/as foram convidados/as a pensar o que levariam em suas mochilas e com quem gostariam de encontrar no meio do caminho. Em seguida, foi dito que chegaram ao seu local de destino e que uma pessoa os/as aguardavam na estação: Carolina Maria de Jesus. Ao fim da meditação, ao abrir os olhos, dissemos que Carolina havia deixado conosco alguns tíquetes referentes a cada estação para seguirem a viagem e, assim, foram formados os quatro grupos. A orientação seguinte foi a de utilizar os objetos dispostos nas estações (além de algumas letras de músicas e imagens disponibilizadas na sala) para construir alguma relação com o livro lido, com o objetivo de suscitar a discussão.

Cada "grupo-estação" montou um formato de apresentação e/ou performance e, ao término de suas construções, abrimos para que cada um se apresentasse. Quando todas as apresentações findaram, os grupos se juntaram novamente em um grande círculo e aconteceu o momento de discussão do livro a partir da costura com a vivência experimentada. O fechamento da oficina se deu com uma rodada de avaliação da vivência da leitura do livro, bem como acerca do formato do encontro.

 

Resultado e discussão

Para fins de apresentação e discussão neste relato, focaremos em duas estações: A mulher Carolina e Cenário Político. Essa escolha advém do fato de as questões abordadas nessas estações dialogarem de forma mais direta com os temas de pesquisas que os/as integrantes do grupo vinham/vêm desenvolvendo.

A mulher Carolina

Nessa estação, existiam alguns objetos simbolizando a mulher Carolina: par de alianças, certidão de casamento e nascimento, lenço, caderno, caneta. O grupo que ficou nessa estação fez uma performance encenando quem era Carolina, mulher negra, pobre, mãe de três filhos, solteira, moradora da favela Canindé. Carolina é a protagonista do livro que ela mesma escreveu, no qual narra o dia a dia na favela, relatando tanto a sua vida e de seus filhos/as como a dos/as outros/as moradores/as. A escrita é o modo que ela encontrou para se situar no mundo, falar da vida, do sofrimento, dos seus maiores personagens: a favela e a fome. "Favela", "fome", "sofrimento" são referências constantes em suas narrativas. O seu diário é um modo visceral de tomada de consciência de si e dos outros, da cor da sua pele e do cenário em que vive.

Nessa estação, por meio da performance realizada, foi possível discutir várias questões referentes a ser mulher negra e pobre, pois, apesar de o livro ter sido escrito na década de 1950, é inegável a sua atualidade, diante de tantas Carolinas que nos dias de hoje sofrem e resistem às opressões de gênero, raça e classe. Carolina, no livro, tinha noção de que muitas das questões que enfrentava deviam-se à sua condição de mulher negra, às dificuldades por não ter conseguido estudar, não ter um emprego formal, nem uma moradia digna, não poder se alimentar todos os dias. Isso nos remete ao que Jurema Werneck (2010) aborda quando fala sobre as mulheres negras, pois a maioria delas enfrentam situações de precariedade em termos educacionais e profissionais que limitam seu acesso a bens e oportunidades sociais, fatores que têm grande influência sobre sua qualidade de vida.

Sobre as mulheres negras, Bell Hooks (1984, p. 4) também ressalta que "há muita evidência de que as identidades de raça e de classe criam diferenças em qualidade de vida, status social e estilo de vida que prevalecem sobre a experiência comum que as mulheres partilham". Podemos observar isso pelos dados sobre a pobreza no Brasil (Ipea, 2014), apontando que 57,8% dos homens e 59,1% das mulheres encontravam-se em 2013 na faixa da população em situação de extrema pobreza, de pobreza e de vulnerabilidade (em todos os casos, com renda domiciliar inferior a um salário mínimo). Ainda que essa diferença de 1,3 ponto percentual seja significativa, a distância entre as mulheres brancas e as mulheres negras é bem mais acentuada. Entre as brancas, 45,9% estão em condição de extrema pobreza, pobreza e vulnerabilidade, entre as negras esse número chega a 70,9%. Dessa forma, no que diz respeito à pobreza, mais mulheres do que homens se encontram nos estratos mais pobres da população, e as mulheres negras estão em uma posição mais próxima à dos homens negros (68,4% deles estão nessa condição) do que das mulheres brancas.

Conjuntamente, "o racismo, o patriarcado, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as possibilidades relativas" das pessoas e constituem instituições e políticas que as afetam (Crenshaw, 2002, p. 177). A falta de alimentos, de insumos básicos para sobrevivência, de uma moradia digna também foram questões que pudemos discutir, pensando o lugar que Carolina viveu e retratou: a favela. A fome surge em diversas passagens de seu diário, como é possível verificar no dia 24 de julho de 1958: "Como é horrível levantar de manhã e não ter nada para comer. Pensei até em suicidar. Eu suicidando-me é por deficiência de alimentação no estômago. E por infelicidade eu amanheci com fome" (Jesus, 2014, p. 99).

Também entraram em cena durante as discussões as dificuldades narradas por Carolina para conseguir água e sabão para fazer a limpeza da casa e de si mesma. Em uma das passagens, escrita em 22 de julho de 1958, a escritora narra em seu diário: "Saí pensando na minha vida infausta. Já faz duas semanas que não lavo roupa por falta de sabão. As camas estão sujas que até dá nojo. [...] Creio que devo andar com um cartaz nas costas: se estou suja é porque não tenho sabão" (Jesus, 2014, p. 98).

A garrafa de bebida alcoólica, sempre presente, que representava a forma encontrada pelos/as moradores/as da favela para lidarem com as dificuldades vivenciadas no dia a dia: a fome, violência, falta de emprego, entre outras, também foi discutida pelo grupo. E a forma de diversão para alguns/as.

Em um estudo realizado por Roseane Silva (2019), do qual fez parte moradores/as de comunidades tradicionais e periféricas, foi visto, no uso de álcool, o quanto as desigualdades sociais produzem efeitos que incidem sobre a vida dos/as jovens pobres para eliminá-los/as socialmente e o quanto esses/as jovens estão em uma situação de desamparo quando narraram várias das situações vivenciadas, a exemplo do uso do álcool, ser uma forma de lidar com a falta de perspectiva de futuro, e para enfrentar situações difíceis. Esses/as jovens são estigmatizados, discriminados, excluídos, por não serem considerados corpos que importam para a sociedade, são alijados de vários de seus direitos, ao acesso à Educação de qualidade, à saúde, ao lazer, ao mercado de trabalho, entre outras esferas. Nesse sentido, vimos que a rede de apoio desses jovens está vazada. Assim como a ausência ou a pouca eficácia de políticas públicas que contemplem essa realidade.

Apesar da presença do álcool nos relatos de Carolina, ao trazer à tona o cotidiano da favela, a escritora adverte sobre o cuidado em não fazer uso de tal substância, talvez como uma forma de não estar vulnerável aos efeitos da bebida. Em 27 de junho de 1958, Carolina (2014, p. 74) pondera:

Tem pessoas aqui na favela que diz que eu quero ser muita coisa porque não bebo pinga. Eu sou sozinha. Tenho três filhos. Se eu viciar no álcool os meus filhos não irá respeitar-me [...] Para concluir, eu não bebo porque não gosto, e acabou-se. Eu prefiro empregar o meu dinheiro em livros do que no álcool.

A partir dessas questões, a equipe, para representar a favela, fez uso de três músicas: "A carne" (Elza Soares); "O lamento da lavadeira" (Monsueto); "Lata d'água na cabeça" (Marlene), usando um trecho de cada uma que pudesse representar a dificuldade na favela. A seguir a poesia criada a partir das músicas.

Lata d'água na cabeça
Lá vai Carolina
Lá vai Carolina
Sobe o morro e não se cansa
pela mão leva a criança
Lá vai Carolina
Sabão, um pedacinho assim
Água, um pinguinho assim
Roupa, um montão assim
Trabalho, um tantão assim
Cansaço é bastante sim
Dinheiro, um tiquinho assim

Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
De algum antepassado da cor

Brigar, brigar, brigar
Com a lata na cabeça
Lá vai Carolina
Lá vai Carolina
Sobe o morro e não se cansa
pela mão leva a criança
Lá vai Carolina
"Será que quando eu morrer vou morar na favela?"

As músicas usadas para a paródia retratam a vida de mulheres pobres e as dificuldades enfrentadas, em meio à escassez material. Outro ponto que também abordamos foi a violência contra a mulher, narrado no livro e tão presente na vida das mulheres negras, pobres. Em um de seus relatos diários, em 20 de julho de 1958, Carolina (2014, p. 96) fala dessa violência em sua favela: "Era 1 hora quando eu ia recomeçar a escrever. O senhor Alexandre começou a bater na sua esposa. A Dona Rosa interviu. Ele dava pontapé nos filhos".

Em diversos indicadores de violações de direitos humanos, as mulheres negras aparecem como a maioria das vítimas. Dados da Central de Atendimento à Mulher, relativos ao ano de 2013, apontam que 59,4% dos registros de violência doméstica no serviço referem-se a mulheres negras. O Dossiê Mulher (2015), do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, destaca que 56,8% das vítimas dos estupros registrados no Estado em 2014 eram negras. E 62,2% dos homicídios de mulheres vitimaram pretas (19,3%) e pardas (42,9%). Esses dados nos dizem muito sobre o quanto as mulheres de modo geral, e sobretudo as negras, continuam a sofrer devido à situação de gênero, raça e classe. Assim, podemos ver que o Dossiê sobre as mulheres (2015, p. 15), fazendo uso do que está exposto no parágrafo 69 da Declaração da III Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, ressalta que

Estamos convencidos de que racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata revelam-se de maneira diferenciada para mulheres e meninas, e podem estar entre os fatores que levam a uma deterioração de sua condição de vida, à pobreza, à violência, às múltiplas formas de discriminação e à limitação ou negação de seus direitos humanos.

E como podemos observar nos dados abordados, faz diferença para as mulheres e entre as mulheres. As estatísticas para as mulheres negras em todos os âmbitos chamam atenção para o nível de desigualdade e violência vivenciada por elas.

Outra questão que a obra nos levou a pensar a partir da oficina foi sobre a solidão da mulher negra. Carolina cuida sozinha dos três filhos, e por ser mãe e solteira foi criticada, falavam mal dela, sofria diversas violências. A mulher negra tem dificuldades de manter relacionamentos sérios, inclusive as amizades, muitos/as não querem a companhia dos/as negros, para não ficarem "mal" vistos perante os/as racistas da sociedade. Na pesquisa realizada por Roseane Silva (2019), é feita referência a Ana Cláudia Lemos Pacheco (2013), que realizou um estudo em que foi observada a solidão da mulher negra, no que se refere à dimensão afetivo-sexual. A mulher negra é vista como aquela que não serve para casar e, mais uma vez, são violentadas. A solidão produz um sofrimento psíquico que afeta a saúde mental das mulheres. Alguns homens negros buscam as mulheres brancas no intuito de "clarear" a família e, assim, conseguir uma mobilidade social.

Diante de várias situações de opressão e desigualdades, observamos que muitas mulheres têm, ao longo da história, encontrado formas de resistir, por meio da cultura, da arte, da escrita, como fez Carolina de Jesus, e outras escritoras negras, como Bell Hooks, Jurema Werneck, Conceição Evaristo, citando só algumas que encontraram nas palavras um meio para falar sobre a dor, o sofrimento, as injustiças, para denunciar ao mundo o que elas e tantas mulheres negras enfrentam no dia a dia.

 

Cenário político

O convite à discussão a respeito do cenário político que se desenrolava nos escritos do diário de Carolina ocorreu a partir da construção de um jornal da época. Recortes de reportagens jornalísticas ligadas ao andamento da política nos anos 1950 foram disponibilizados, além de demais materiais para confecção do noticiário, a exemplo de tesouras, colas, cartolinas.

A construção de um jornal mostrou-se um recurso interessante e inovador que, despertando a criatividade do grupo desta estação, propôs uma reflexão a respeito dos fatos histórico-políticos que circundaram a escrita do diário. A pertinência de se pensar o momento político a partir dos olhos de Carolina deve-se aos constantes posicionamentos críticos da autora acerca de sua condição como mulher negra em uma favela, e do modo como a política se desenrolava no país.

O cenário político da década de 1950 foi várias vezes mencionado nos escritos de Carolina, que no livro inicia-se em julho de 1955 e segue até o fim do mesmo ano, seguido dos escritos de 1958 até o primeiro dia do ano de 1960. Na época dos relatos publicados, o Brasil era presidido por Juscelino Kubitscheck (1902-1976) e tinha como vice-presidente Jânio Quadros (1917-1992). O estado de São Paulo era governado por Adhemar de Barros (1901-1969) e essas três figuras políticas, em alguns momentos, são mencionadas por Carolina, que tecia crítica ao modo como alguns políticos pareciam só lembrar-se da favela em épocas de eleição, não mais voltando seus olhares sobre esses moradores depois de eleitos.

Em 16 de maio de 1958, a autora, sem nada para comer, escreveu: "Eu quando estou com fome quero matar o Jânio, quero enforcar o Adhemar e queimar o Juscelino. As dificuldades corta o afeto do povo pelos políticos" (Jesus, 2014, p. 33). O crescimento econômico do governo de Juscelino, com um plano de metas que faria o Brasil crescer 50 anos em cinco, não chegou à favela do Canindé, e Carolina seguia com fome e desacreditada dos políticos.

A proposta da oficina de realizar a confecção de um jornal fictício baseado em fatos reais, ou seja, com recortes de um jornal que circulou há décadas, já traz em si um enfrentamento crítico ao que se tem como formas hegemônicas de produção de conhecimentos.

Um ponto destacado pelo grupo, a partir dessa experiência, foi que Carolina Maria de Jesus, em seu livro e sua escrita-resistência, retrata fatos que podemos dizer que se fazem presentes ainda nos jornais de hoje, em 2020. Sobre essa "escrita-resistência", Grada Kilomba (2016), em um trecho de seu texto "Enquanto eu escrevo", nos diz:

Enquanto eu escrevo eu não sou o Outro. Mas a própria voz. Não o objeto, mas o sujeito. Torno-me aquela que descreve e não a que é descrita. Eu me torno autora e a autoridade em minha própria história. Eu me torno a oposição absoluta ao que o projeto colonial predeterminou. Eu retorno a mim mesma. Eu me torno: existo.2

Alguns aspectos do diário, escrito anos atrás, soam como narrativas que sem muito esforço cabem nos dias (e por que não nos diários e jornais) de hoje, em 2020. A crença de que a eleição de determinada figura política pudesse trazer melhorias efetivas para o cenário nacional, inclusive para a favela, foi destruída, e Carolina, que um dia teve fé no governo de Juscelino, relata em um diálogo com um de seus filhos já não ter mais. Nas palavras da escritora: "A democracia está perdendo os seus adeptos. No nosso paiz tudo está enfraquecendo. O dinheiro é fraco. A democracia é fraca e os políticos fraquíssimos. E tudo que é fraco morre um dia" (Jesus, 2014, p. 39).

Décadas mais tarde, depois de um golpe político que resultou no impeachment de uma presidente democraticamente eleita, em que a Educação e a saúde pública de qualidade têm sido ameaçadas, a veracidade da democracia em que supostamente vivemos nunca fez tanto sentido em ser radicalmente questionada, ou seja, a voz de Carolina nunca foi tão atual. "Quem governa o nosso país é quem tem dinheiro, quem não sabe o que é fome, a dor, e a aflição do pobre. Se a maioria revoltar-se, o que pode fazer a minoria? Eu estou ao lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido. Precisamos livrar o paiz dos políticos açambarcadores" (Jesus, 2014, p. 35).

Podemos perceber em vários momentos do livro como nesse trecho, que Carolina tinha uma visão crítica e política sobre a sociedade, em nenhum momento foi conformista com a situação de pobreza que ela e muitos/as outros/as da favela enfrentavam, e sabia muito bem as causas das desigualdades sociais e o que era preciso acontecer para que houvesse uma mudança social.

 

Considerações finais

Carolina Maria de Jesus, segundo consta na biografia que acompanha uma das edições de Quarto de despejo, nasceu por volta de 1914, na cidade de Sacramento, Minas Gerais, ou seja, somente 26 anos depois de decretada a abolição da escravatura no Brasil. Pensar a história de Carolina é refletir a respeito de como o processo colonizador imposto à população negra, a partir da escravidão, resultou na negação de direitos básicos a essa população. Mesmo nos anos que se seguiram à Lei Áurea, especificamente, o lugar da mulher negra em nosso atual cenário continua vulnerável às mais diversas formas de violência.

Buscamos, a partir da vivência pautada em Quarto de despejo, refletir a respeito dessas e de outras questões pulsantes no livro, fazendo uso de metodologias que vão de encontro a formas colonizadoras de produção de conhecimento. Assim, a partir de uma perspectiva decolonial, ressaltamos a importância de se trazer ao contexto acadêmico linguagens e formatos que foram historicamente alijadas dos espaços de representatividade e poder tanto na ciência como na política de produção de saberes.

Quando finalizamos a oficina, pudemos refletir sobre a potência que usar outros recursos para abordar temas tão complexos na sociedade possibilita, a exemplo do racismo, a violência contra as mulheres, as várias opressões vivenciadas, sobretudo pelas negras e pobres. A obra de Carolina Maria de Jesus de fato é algo que nos leva a pensar sobre tantas questões, que inclusive não conseguimos dar conta em uma única oficina. Saímos com várias reflexões que ainda ressoam em nós, a indignação pela condição de miséria que é presente na vida de muitas mulheres atualmente, mas também encantadas com a força e capacidade de resistência de Carolina, por meio da escrita. Força essa que temos observado que é a luta do povo negro que há anos vem resistindo contra as várias formas de opressão e encontrando meios de se firmarem presentes no mundo.

Ficou nítida a importância da ampliação do caminho e possibilidade de diálogo textual, para além do caminho hegemônico. O olhar crítico dos/das participantes diante do que se discutiu e uma postura ativa na produção de conhecimento. Isso foi possível ser constatado na medida em que, diante do que foi lido e construído coletivamente (jornal, uma paródia, uma performance), o desejo e o desafio de produzir algo ultrapassou o caminho usual de discussão de texto.

Outro ponto a ser destacado foi a expressiva presença dos/as participantes do grupo de estudo, visto que mesmo pessoas que estavam distantes geograficamente (em cidades do interior, em outros países) ou que não vinham participando das reuniões pelos mais diversos motivos, presentificaram-se nesse encontro. Antes mesmo de o encontro acontecer, diante da solicitação de músicas para compor a oficina e objetos que lhes remetessem a leitura, já foi sendo anunciado um caminho de discussão, de acolhimento e de coletividade a ser trilhado. Isso nos traz a reflexão: em que medida esse caminho, essa forma de convite à participação, foi o gatilho convidativo à vivência prazerosa na produção de conhecimento?

Uma das participantes, ao fim do encontro, trouxe um retorno significativo quanto ao caminho trilhado para discussão do texto. Ela afirmou que, embora se questione os modelos hegemônicos de produção de conhecimento, na prática, ainda é muito difícil "escapar" e romper com o modus operandi da ciência colonial - e que aquela experiência lhe possibilitou sentir essa busca de produção de ruptura.

 

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Recebido em: 29/5/2018
Aprovado em: 27/3/2020

 

 

1 Grupo que busca construir um diálogo interdisciplinar entre os campos teórico, institucional e científico, o uso de metodologias quantitativas e qualitativas, bem como visa ao fortalecimento das práticas coletivas tanto no âmbito urbano quanto rural.
2 Tradução de trecho do vídeo "While I Write", do "The desire project" apresentado por Kilomba, na 32ª Bienal de São Paulo (2016), no Brasil. Tradução recuperada em 10 março, 2020, de http://www.pretaenerd.com.br/2015/10/escrita-como-resistencia-e-assentamento.html.

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