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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.15 no.3 São João del-Rei jul./set. 2020

 

E agora, quem somos nós a cada encontro? Dançando e dissentindo o cuidado desde dentro

 

What Now, Who Are We at Each Meeting? Dancing and Dissenting Care from Within

 

Y ahora, ¿quiénes somos en cada encuentro? Bailando y disentindo el cuidado desde el dentro

 

 

Elis TelesI; Maíra FrançaII

IPsicóloga. Doutoranda e mestra em Estudos da Subjetividade pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
IIPsicóloga e mestra em Estudos da Subjetividade pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

 

 


RESUMO

A proposta deste artigo é seguir a ação de dissentir-por-dentro (Maria Puig de la Bellacasa & Donna Haraway) como operadora em trabalhos que desenvolvemos com danças do ventre e massagens, criando modos de conhecer e intervir. Dissentir-por-dentro é parte da dinâmica do cuidado, compreendido aqui como uma rede vital de interdependência em que se incluem aspectos conflitantes e desarmoniosos. Em nossos trabalhos, marcas de experiências individuais e coletivas entram em cena nessa rede e solicitam de nós o encontro com dimensões que divergem, tensionam, desconfortam. Seguindo epistemologias feministas e o método do PesquisarCOM (Moraes), lançamos mão de duas figuras ficcionais que ajudam a operar na escrita a ação de dissentir, de modo localizado, corporificado e parcial. A noção do dentro é pensada como "de dentro das relações", com suas tensões e possibilidades. Dessa forma, o artigo corrobora com a ideia de que viver e morrer bem nesse mundo implica em dar prolongamento e sustentação à ação de dissentir-por-dentro.

Palavras-chave: Cuidado. Marcas. Dissentir-por-dentro.


ABSTRACT

The proposal of this article is following the action of dissenting-from-within (Maria Puig de la Bellacasa and Donna Haraway), as a clinical operator in works we developed with belly dancing and massages, coming up with methods of meeting and intervention. Dissenting-from-within is part of care dynamic, understood here as a vital interdependence mesh in which conflicting and disharmonious aspects are included. In our works, marks of individual and collective experiences come in and make us get in touch with dimensions that diverge, tension, discomfort. Following feminist epistemologies and the PesquisarCOM method (Moraes), we make use of two fictional figures that help execute on writing the action of dissenting, in a localized, embodied and partial way. The inside notion is thought as "within relationships", including its tensions and possibilities. Therefore, this article endorses the idea that living and dying well in this world means extending and sustaining the action of dissenting-from-within.

Keywords: Care. Mark. Dissenting-from-within.


RESUMEN

El propósito de este artículo es seguir la acción de disentir dentro (Maria Puig de la Bellacasa y Donna Haraway), como operadora clínica en los trabajos que desarrollamos con danzas y masajes del vientre, creando formas de conocer e intervenir. La disidencia desde dentro es parte de la dinámica de la atención, entendida aquí como una red vital de interdependencia en la que se incluyen aspectos conflictivos y poco armoniosos. En nuestro trabajo, marcas de experiencias individuales y colectivas entran en escena en esta red y nos piden que nos encontremos con dimensiones que divergen, tensión, incomodidad. Siguiendo las epistemologías feministas y el método PesquisaCOM (Moraes), hicimos uso de dos figuras ficticias que ayudan a operar por escrito la acción de la disidencia, de manera localizada, encarnada y parcial. La noción del interior se considera "desde dentro de las relaciones", con sus tensiones y posibilidades. Por lo tanto, el artículo corrobora la idea de que vivir y morir bien en este mundo implica prolongar y mantener la acción de disentir desde dentro.

Palabras clave: Cuidado. Marcas. Disentir-desde-dentro.


 

 

Introdução

Este texto resulta do trabalho com danças do ventre (no plural, marcando suas diferentes localidades e expressões), arte, Psicologia, massagens e pesquisas que desenvolvemos desde 2017 nas atividades do coletivo ViVentre em um centro de terapias integradas.1 Trata-se de um processo vivo com o qual estamos pesquisando, de modo transdisciplinar, formas de criar contato com o que estamos nomeando de marcas no intuito de pensá-las como modos de conhecer, agir e pensar com cuidado. Aliamo-nos à noção de cuidado articulada por Maria Puig de la Bellacasa (2012) em conexão com Donna Haraway, isto é, compreendido como uma ação dentro de uma rede vital de interdependência, uma condição ontológica que envolve tudo aquilo que fazemos para manter, sustentar e reparar nossos mundos. Essa rede de ações a qual a autora nomeia como cuidado não compele exclusivamente às mulheres, embora tenhamos sido nós quem a sustentamos por bastante tempo. Não por ser essa uma ação essencialmente feminina, mas por condição histórica e política. Não temos um consenso sobre o que são marcas, tampouco queremos dar a elas uma significação totalizante. No entanto, nesse trabalho com as danças-massagens, nós as tocamos com as gestualidades das danças do ventre, com a pele, com a voz, com a palavra e com o desconforto, na intenção de entrarmos em relação com os processos de produção de nossos modos de ser. Somos duas mulheres psicólogas, dançarinas e pesquisadoras que articulamos, em nossos trabalhos dançantes, práticas de massagem e uma série de elementos com os quais entramos em relação para compor nossas proposições e compartilharmos experiências no tempo e no espaço. Entrar em relação com nossos modos implica criar relação com os modos como vamos sendo produzidas, aprendendo a distinguir as marcas que compõem o "ser mulher" de cada uma. Nos trabalhos dançantes, fazemos isso com uma série de parcerias, pensando-as na perspectiva de "espécies companheiras", proposta por Donna Haraway (2008). Nas palavras da autora, "Espécies companheiras - comodelando-se de todas as maneiras em todos os tipos de temporalidades e corporalidades - é meu termo estranho para um não humanismo no qual espécies de todos os tipos estão em questão" (Haraway, 2008, p. 164).

Escrevemos no feminino e em primeira pessoa do plural porque estamos aliadas às epistemologias feministas que levam em conta as interferências que o processo do pesquisar faz nas autoras, ou seja, estamos implicadas com o que pesquisamos e nossos modos de pensar, escrever e produzir conhecimento tem a ver com o modo como afetamos e somos afetadas. Aliadas a isso, estamos interessadas em construir um "nós" que não está dado de antemão, ou seja, não é porque trabalhamos com mulheres que esse "nós" está garantido. Não falamos em nome delas, não queremos colocar o pronome à frente das experiências. Sabemos que isso não é possível porque as marcas inscrevem singularidades nesse processo. Narramos a partir de nossos encontros, desde dentro dessas relações que também nos incluem. O "nós" é construído aqui por histórias marcadas, localizadas, parciais e corporificadas. Nesse sentido, a questão "quem somos nós a cada encontro?" se refere ao que Maria Puig ressalta sobre a dissidência ao nos depararmos com essas fronteiras que nos distinguem, nos singularizam. Talvez pensar por conexões é potencialmente pensar por dissidências, pois é justamente na conexão que uma marca encontra com a outra e desse encontro podem derivar fronteiras, diferenças, singularidades. O encontro não garante consenso, conforto e semelhança. Em nossos trabalhos, nos perguntamos sobre quando, de que forma e o que as marcas falam. Exercício esse que vem sendo tecido nas conexões dessas oficinas dançantes. Dele pinçamos algumas narrativas e experiências que entendemos como caminhos de comunicação das marcas, isto é, histórias localizadas com as quais queremos pensar a ideia do "dissentir-por-dentro" (Haraway & Bellacasa), como ferramenta político-epistemológica que opera nas dinâmicas do viver e morrer bem neste mundo, o que para nós consiste em uma aposta clínica também. Aqui aprendemos a dissentir-por-dentro dançando desde dentro e somos levadas a perguntar: que corpos fazemos ao dançar? O que partilhamos? Que falas e gestos se inauguram? E quais psicologias colocamos em ação nesses encontros? Por que alguns movimentos fazem chorar, provocam sensações desconfortáveis e dores? Que heranças, histórias e memórias suscitamos ao dançar as danças do ventre? O que se rumina em nossos ventres?

Conforme dito, a noção do dentro é pensada como "de dentro das relações", com suas tensões, desconfortos e possibilidades, assim como a imaginação que construímos acerca do "mundo" dentro da pele, este que não vemos com os olhos (o grande olho da ciência moderna que tudo vê desde lugar nenhum ou que vê tudo desde um lugar apenas). Dissentindo e dançando desde dentro, esbarramos com as marcas e buscamos sustentar o interesse por elas, seria dizer, não as apagar, nem as silenciar, mas dar prolongamento a seus efeitos e conexões. Apostamos nisso porque queremos seguir produzindo vida e conhecimento COM elas, afirmando o método do PesquisarCOM (Moraes, 2010), e também o sentido de viver e morrer bem nesse outro mundo2 que já está parido e com o qual "esperançamos" um contínuo florescer.

Sem um mínimo de esperança não podemos sequer começar o embate, mas, sem o embate, a esperança, como necessidade ontológica se desarvora, se desendereça e se torna desesperança, que, às vezes, se alonga em trágico desespero. Daí uma precisão de uma certa educação da esperança (Freire, 2014, p.15)

Para tanto, criamos estados de dança-massagem que funcionam como ferramentas que nos ajudam a entrar em relação com esses processos de construção de nós de forma artística, localizada, cuja aposta política mira o decolonial, porque entendemos que viver e morrer bem neste mundo implica relações decoloniais desde o cotidiano também. Para nós, o decolonial alinha-se com a forma como a autora Uschi Curiel compreende esse fazer, isto é, um processo pulsante, vivo, tecido por diferentes vozes e lugares

Uma posição decolonial implica, como um desengancho epistemológico, pensar esses conhecimentos que não são validados e que são cotidianos. Nós, feministas decoloniais, os legitimamos como possibilidade. E não são só categorias, mas cosmovisões. Eu creio, por exemplo, que o Bem-Viver, assim como uma proposta dos indígenas da América Latina e do Caribe, de Abya Yala, espero que não se institucionalizem. Porque o Bem-Viver é uma proposta ética de vida outra que não tem a ver com satisfações de necessidades capitalistas individuais, senão com outras maneiras de se relacionar ou com a natureza, ou entre nós mesmas e nós mesmos (Curiel apud Teixeira, Silva & Figueiredo, 2017, p. 118)

Pensar e agir decolonialmente implica transformar realidades de opressão, ou seja, implica em práticas antirrascistas, anticapitalistas, não heteronormativas e em produções de conhecimento coerentes a essas práticas (Curiel, 2018), incluindo nisso políticas de narratividade, isto é, as formas como operamos na escrita a partilha de percursos de investigação, apostas e saberes. Nesta escrita, convidamos duas figuras ficcionais para narrar conosco esses processos - Astárgati e Mulher-Esqueleto -, espécies companheiras que nos provocam a compor palavras e a transitar pelas marcas.

Nas oficinas dançantes, há momentos em que as proposições que fazemos passam por encontrar/criar expressões, gestos e movimentos que produzem desconfortos corporais, acessam territórios existenciais associados a experiências vividas que abrem feridas doloridas. São nessas condições de desconforto que o "Corpo-Astárgati" (Teles, 2015) e a "Mulher-Esqueleto" (Estés, 1994) aparecem como parcerias que nos conduzem no contato com essas feridas pessoais-políticas, solicitando pausas, escutas e acolhimento não apaziguador. Mais ainda, conforme dito, essas figuras nos ajudam a contar essas histórias na escrita, são espécies companheiras de pensamento e ação.

 

Dançando a escrita por dentro: pensando a relação marca-memória

Estamos pensando as marcas aqui a partir de algumas pistas teóricas fundamentadas na perspectiva de Donna Haraway acerca dos conhecimentos localizados (2009) e da concepção de memória como uma ação de "re-membrar". Suas objetividades têm fronteiras, são parciais e corporificadas nas conexões desses encontros de dança e cuidado.

Haraway faz um trocadilho com a palavra em inglês "remember" e propõe o termo "remembrar", para compor uma ideia de trazer um ou mais membros para a cena ou então de retomar uma memória e rearranjá-la ao corpo. Nesse sentido, aproximando essas pistas de nosso trabalho com a dança-massagem, se a memória corporifica, vira membro, ela também passa a dançar junto, se faz presente na cena. Quando esse "membro" (que é marca, que é memória) se faz presente, atualiza a pergunta: "quem somos nós agora?".

Essa aproximação entre marca e memória, fazemos também a partir de certas experiências nossas, das autoras, que foram suscitadas com as danças-massagens e no fazer desta escrita. No tatear de formas narrativas para contar essas histórias, optamos por colocar aqui trechos de um diálogo nosso, para marcar a oralidade como método em ação, produção de conhecimento, visando mostrar a forma como tecemos esse pensamento. Esses trechos aparecem aqui sem a distinção de um diálogo formal, mostrando as texturas e modos pelos quais as marcas foram aparecendo em nossas conversas, suscitando desconfortos, pausas, reticências... sem a solenidade do "cada uma fala por vez". Aparecem no esbarro do pensamento de uma com o pensamento da outra em composição com a ferramenta do "Google docs", que possibilita uma escrita ser tecida por duas pessoas ao mesmo tempo.

"...não sei bem se dá pra dizer que é a mesma coisa... tô pensando (Sim... podemos falar em aproximação mesmo, e não em similaridade). É... eu acho que tem uma relação da memória com o tempo, e da marca com a história (tô pensando...) ...mas não sei se tô viajando... tipo, a marca pode não ser lembrada e estar ali chegando primeiro que tudo... saca? sim... mas penso que aqui estamos falando da marca que é lembrada no esbarrão dos encontros, né? Seja esse esbarrão vivido junto de uma gestualidade, como no movimento de peito, seja no depoimento após uma dinâmica, como foi no caso de Azaleia e o bambu... Na real, pensei agora, que a marca só existe se ela é solicitada, se ela é remembrada, caso contrário ela não existiria... tipo, lembrei agora, a marca-memória do esbarrão que tive com uma professora de dança (era sobre isso que eu ia falar e parei aqui), quando ela disse sobre eu e minha amiga negra de pele clara, mas de cabelo crespo, termos cara de pobre. Naquele momento, uma história da formação do nosso povo é re-membrada ali, sei lá, como se povos indígenas e negros que nos constituíram tivessem sido convocados pra'quela cena, mas num contexto de classe também "cara de pobre", e o que ela disse foi no tom de "estarmos acostumadas..." Como vc se sentiu? Eu senti raiva no momento, mas senti uma vontade concomitante de afirmar positivamente aquilo, por isso que eu disse em seguida "sim... se os pobres do Brasil têm cara de pretos e indígenas, então sim, nós temos cara de pobres... foi o que falei, mas com o coração batendo mas tem também o lance do corpo gordo dançando... essa é uma marca que a todo tempo se remembra em mim, ainda que meu corpo já tenha mudado inúmeras vezes... É uma marca que quando se remembra eu quero abraçá-la, ou melhor, abraçar não, quero pegar na mão e dizer "vamos dançar mesmo assim..." A barriga "flácida" tremendo que marcas suas querem se remembrar quando vc dança? Bem, eu acho que o que me vem agora é a lembrança de quando era criança e fui obrigada a tirar os óculos para tirar foto na escola e saí vesga, e no dia seguinte todas as outras crianças riram de mim. A professora me disse que eu tinha que ter me esforçado para não sair vesga. Aquilo foi muito violento, porque eu já era chamada de duende, anã de jardim, Smurfet, etc. E esses dias me vi dançando no vídeo e foi como se eu dissesse para aquela menina esquisita que ela pode dançar, aparecer mesmo vesga, não importa! Acho que a dança me autoriza a mostrar minhas marcas... quando tremo o quadril no chimmie, é uma forma de me deslocar com o meu tremor nas mãos quando fico nervosa, sabe? De me deslocar também com minhas gagueiras, minhas fragilidades e vulnerabilidades... Caramba, pensei um negócio aqui! Tá vendo como a marca chega na frente da memória? Eu se fosse falar das minhas marcas não traria essa de partida, da menina vesga e tal traria a marca de ser mãe solo que acho ser muito mais forte e presente na minha vida Pois é, é uma dúvida que fica em mim, meio que aquele negócio de quem vem primeiro, "o ovo ou galinha", sabe? Pensei aqui na memória que forçamos e na memória que vem pelo esbarro do encontro... Acho que as duas são importantes, as duas tem hora e tem lugar... Às vezes é preciso forçar a memória, não forçar, mas pedir (convidar, convocar, solicitar?) a ela que apareça, como quando retomamos memórias com intenção de interferir em uma situação do presente, em um contexto histórico em que é importante que essas memórias se façam presentes Lembrei do mote da luta antimanicomial "para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça" e também a comissão da verdade, memória e justiça "e também a importância da memória para Grada Kilomba ao retomar as histórias de seus antepassados africanos escravizados"

 

ViVentre: dançar e dissentir desde dentro

O ViVentre é um processo vivo com o qual estamos pesquisando, de modo transdisciplinar, efeitos entrelaçados entre dançar, narrar, escrever, criar clínica, criar terapêuticas, fazer contato com as estruturas patriarcais em nós e a usarmos isso como ferramenta para não paralisar, ou seja, continuarmos criando cuidado (interdependências, redes). É um dispositivo que queremos levar adiante mantendo como eixo movimentos herdados das danças do ventre (no plural, marcando suas diversas expressões e localidades).

No início, juntamo-nos com a finalidade de darmos aulas de danças do ventre e fusões, misturando danças ciganas, indianas e outras. Passamos alguns meses tentando desenvolver nossas aulas seguindo as marcas de nossos percursos individuais com essas danças e mantendo ainda um formato de transmissão de técnicas. À medida que as aulas foram acontecendo, entendemos que não queríamos dar aulas de danças do ventre, mas queríamos criar um espaço de contato com nossas marcas e histórias a partir do trabalho com essas danças. Queríamos pensar as práticas de cuidado de nós e de nossas relações cotidianas a partir disso. Primeiro porque nos sentíamos muito vivas depois das aulas. Sentíamo-nos bem. Com vontade de criar. Vontade de potência. De dar continuidade artística para a vida. Depois porque queríamos pensar isso junto de nossas pesquisas de mestrado3 e doutorado.4 Queríamos enunciar, palavrar esses efeitos com as psicologias que estamos compondo com nossos trabalhos. São nesses encontros sensíveis do ViVentre que tecemos epistemes, criamos espaços vivos de produção, convivência, trocas de saberes e cuidados com a nossa saúde, intensificando o contato com o corpo, as sensações, sentires, pensamentos. Nessas experiências encarnadas com a dança nos deparamos com as diferentes formas que a marca mulher se enuncia em cada uma de nós e também quando ela não se enuncia, como quando homens participam das oficinas.

 

Mulher-Esqueleto (o que precisamos deixar morrer para entrarmos em relações?)

A Mulher-Esqueleto cria para si um corpo. Junto com Clarissa Pinkola Estés em "Mulheres que Correm com os Lobos", queremos nos aproximar dessa dimensão especulativa e ficcional. Em diversas culturas, hispânicas, africanas, papúas, judaicas, os ossos têm poder de se transformar em uma pessoa. Figuras semelhantes à mulher-esqueleto aparecem em diferentes histórias de diversas localidades: Dama da Morte, Kua'n Yin, Baba Yaga, Beladona. As histórias estão repletas de mulheres-esqueletos, elas são antigas reencarnações da dimensão vida-morte-vida. Aqui a entendemos em seu aspecto ontológico, força da natureza (que somos), força vital com a qual estamos em relação de cuidado, de interdependência. Bellacasa (2012, s/p) articula a noção de cuidado como sendo um estado afetivo-vital e relacional.

A partir de uma perspectiva feminista há outras razões pelas quais visões normativas e moralistas do cuidado não servem. Cuidar é mais do que um estado afetivo-ético: ele envolve o engajamento material em trabalhos para sustentar mundos interdependentes, trabalhos que são frequentemente associados com a exploração e a dominação. Nesse sentido, os significados de cuidar não são simples. Interdependência não é um contrato, mas uma condição; até mesmo uma pré-condição. Por tudo isso, devemos ter cuidado para não nos tornarmos nostálgicos de um mundo idealizado do cuidar: cuidar ou ser cuidada não é necessariamente recompensador e confortante. Uma visão do cuidado inspirada no feminismo não pode ser baseada no desejo por um mundo liso e harmonioso, mas em ações práticas cotidianas que promovam o engajamento com os problemas inerentes às existências interdependentes.

Entendemos que a dimensão vida-morte-vida da mulher-esqueleto se articula ao que deve morrer em nós quando estamos em relação de cuidado. Se o cuidado é manter, sustentar e reparar a vida, não há vida nenhuma sem alguma morte. Não há relação nenhuma sem que haja relação com a mulher-esqueleto. A figura da Morte causa temor, ninguém quer encontrar com ela. O esqueleto, essa camada profunda enterrada dentro de nós, abraçá-lo é um exercício e tanto. Tocá-lo e acordá-lo desde dentro, com o bambu e outros elementos sensoriais/espécies companheiras é umas das proposições que desenvolvemos em alguns encontros para trazer a consciência dos ossos pélvicos. "Chocalhar os ossos" do quadril no movimento do "shimmie" (tremidas) da dança do ventre, ouvindo o barulho das moedas costuradas em nossos cinturões, convoca esse encontro com o se ouvir, ouvir seus sons. Esses e outros são momentos que a Mulher-Esqueleto pede passagem. O que ela nos pede para deixar morrer e renascer? A partir de nossa própria carne e nossos próprios ossos? Quem é essa outra estrangeira-conhecida, só e acompanhada das outras, que passa a se conhecer mais por meio da dança e do encontro com outras mulheres à medida que deixa para trás um certo corpo, um gesto antigo, um estado de rigidez que dá passagem a um estado de soltura? Sair da casca, ou casulo, aceitando suas durezas e tensões é o que entendemos aqui como um ciclo da vida-morte-vida. A Mulher-Esqueleto nos convida a olhar a dinâmica, a olhar ciclocorporificando a dinâmica cíclica e transformadora dos processos vitais - tanto no corpo quanto na cultura. Algo como aprender a viver e morrer bem os sistemas vida-morte-vida. Para nascer a dança, também precisamos deixar morrer algo em nós, como foi o que se passou com Açucena, uma das participantes. Dizíamos a ela para deixar a dança nascer desde dentro, formando uma meia lua em volta dela dando contorno aos seus movimentos com leves toques, éramos "doulas"5 de novos gestos naquele momento, emprestando nossos desejos e nossos corpos para que ela pudesse "parir" sua dança. Nesse dia ela nos conta que fez contato com a sensação de estar descosturando seu peito e que isso doía muito.

Em outra oficina de preparação corporal com bambu, a Mulher-Esqueleto faz uma nova aparição, sinalizando a linha tênue entre o desejo de convencer e a possibilidade de partilhar recusas. A proposta foi criar referências táteis a partir do desenvolvimento da sensibilidade profunda e superficial da pele, no intuito de interferir nas camadas e influenciar processos involuntários de tensões musculares. Uma experiência que propiciou sentir nossos limites e contornos por meio das muitas possibilidades de contato do nosso corpo com o bambu; nas solas dos pés, estimulando o arco plantar, depois deitando com o trocanter (um dos ossos da bacia, importante nos movimentos da dança do ventre) em cima do bambu, depois deitando com diferentes partes da coluna, desde a base do crânio até a coluna sacral. Azaleia,6 uma das participantes, ao término da experimentação diz: "Eu ouvi vocês dizendo que essa experiência trouxe bem-estar, mas eu não senti bem-estar, eu me senti mal o bambu me trouxe a memória das práticas de tortura na ditadura, de empalo" Ficamos um tempo sentadas no chão em silêncio. Não soubemos o que fazer com aquele relato naquele momento, mas sabíamos que era preciso sustentá-lo, não no sentido de apaziguá-lo, mas de prolongá-lo para podermos ficar com o problema (Haraway, 2016). A marca que o bambu suscita em Azaleia é a que dissente da marca lisa e harmoniosa que estava dada de antemão na nossa proposta com o bambu. O que isso nos devolve é o próprio cuidado em sua materialidade, isto é, entrar em relação com as marcas de forma situada, localizada e não supor que o que reconforta aqui vai necessariamente reconfortar ali.

 

Corpo-Astárgati: confusões frutíferas nas fronteiras

O Corpo-Astárgati (Teles, 2015) é aquele que atua borrando as fronteiras das marcas, do pensamento e da escrita. No tarô de Barbara Walker,7 "Atargátis" é mostrada como uma figura feminina com cauda de peixe, boca cheia de dentes no ventre e olhos em lugar dos seios.

O Corpo-Astárgati opera uma escrita atenta aos aspectos do outro que nos percorrem, nos atravessam e nos modificam. Esse outro como "rabo de peixe", como "boca no ventre" e "olhos no peito". Esse outro a faz mover-se pelas águas, a faz pensar de corpo inteiro, a dar-se conta de que ela não pode ser outra coisa que não seja acompanhada por essa dimensão estranha que a faz interrogar (Teles, 2015, p. 17)

Em nossos trabalhos, o Corpo-Astárgati nos desafia a criarmos palavras para comunicarmos o que essa boca cheia de dentes no ventre ingere, mastiga, digere. O que esses olhos em lugar do peito veem e por onde a cauda de peixe move esse corpo. Ele vem para produzir confusão nas fronteiras acerca dos modos de conhecer e de entrarmos em relação. Açucena, em outra oficina, nos diz que não pode mais dançar: "Eu travei, não consigo mais dançar". Nesse momento o Corpo-Astárgati nos interroga: Mas, o que é dançar? Açucena propõe que apenas conversássemos, sem dançar, disse ela. Sentamo-nos em roda e ela contou muitas histórias sobre sua vida entrelaçando a dificuldade que estava encontrando para continuar dançando. Disse que não voltaria mais porque se sentia impossibilitada de dançar naquele momento e que precisava se afastar. Foi uma conversa em que puxamos muitos fios para fazer um ouvido e escutar a demanda de Açucena, incluindo neles a percepção de que fazer fluir uma conversa é também criar um deslocamento, um movimento, portanto, criar um estado de dança. O Corpo-Astárgati nos faz entender que a dança é processo móvel que percorre os lugares borrando as fronteiras, deparando-se, inclusive, com as tensões e desconfortos disso.

"Mas o que faço com minhas couraças?", nos disse Gérbera enquanto encontrava dificuldade para expandir e contrair o externo e com isso fazer o que nomeamos como deslocamento de peito. Rimos juntas. Rimos porque estamos a todo o tempo esbarrando com nossas "couraças" enquanto dançamos. Que histórias são essas que se "encouraçaram" (paralisaram, endureceram) em partes de nossos corpos? É possível movê-las? O Corpo-Astárgati nos diz que sim, que é possível movê-las, que é possível nadar em outros territórios com essas marcas, com essas histórias. Rindo e dissentindo por dentro.

Mas a risada veio de dentro, com o compromisso de compartilhar problemas de uma comunidade. Isso é diferente de um riso irônico: "Eu rio: logo, eu sou... implicada" Eu rio: logo, sou responsável e respeitável (Haraway, 1997, p 182). Rir com, não rir de, acompanha um tipo de pensamento, o pensamento que produzimos enquanto estamos mergulhados nas comunidades com as quais nos importamos e é um exemplo de uma forma de pensar com cuidado que eu proponho chamar de dissentir-por-dentro (Bellacasa, 2012, s/p)

Inventamos rituais como forma de convidar e receber as pessoas e a nós mesmas para a oficina. Convites para entrarmos em relação com a proposta e conosco. Desde que mudamos das aulas para as oficinas, muitas dinâmicas foram experimentadas. Nessas dinâmicas, cada pessoa "deixa e recebe um tanto" (conforme canta os novos baianos).

Em uma ocasião, fomos questionadas sobre homens poderem participar de nossas oficinas e sobre a palavra ventre localizar de antemão um público. Nossa proposta é criar com a dança práticas de cuidado de si no coletivo com foco nos movimentos oriundos das danças do ventre, mas não buscamos constituir um espaço exclusivo para mulheres cis ou trans. Tampouco queremos apagar a marca mulher que se articula na palavra ventre. Queremos construir confusões frutíferas nessas fronteiras. Sabemos que essa questão é delicada e só pode ser tratada de modo situado, localizado. Na experiência do ViVentre, Cravo, um rapaz que participou das oficinas, trouxe referências interessantes para pensarmos o movimento sinuoso do oito (desenho do símbolo do infinito que fazemos com o quadril) de quadril a partir da movimentação ocular, propondo que dançássemos o oito também com os olhos. Essas trocas nos interessam. Pensar o ventre não imediatamente relacionado à mulher também nos interessa. As confusões que o Corpo-Astárgati coloca nas fronteiras nos interessam.

 

"Quem somos nós agora?" e as psicologias que queremos afirmar

Seguindo nessa investigação das marcas, o que fazemos é criar proposições em que elas possam acoplar-se a outras experiências e tornarem-se possíveis de serem tocadas no momento presente, junto daquilo que se passa no tempo e espaço das oficinas. Nós apostamos em gestualidades das danças do ventre, em sonoridades,8 aromas de folhas, caules e raízes (óleos essenciais), lenços de moedas, véus, saias, flores, velas, enfim, uma série de espécies que convidamos para compartilhar e compor essa dimensão que se registra, que nos marca. Ciborgues, conforme propõe Donna Haraway, articulam em si espécies companheiras,9 sejam elas humanas ou não, espécies que afetam, marcam, criando, entre outras coisas, formas de comunicação. As marcas, tal como as abordamos aqui, são sempre tocadas de forma localizada, situada nos encontros. Passam a importar no momento em que entram em relação situada com alguma coisa. Pensamo-nas também como marcas-ciborgues com fronteiras, territórios situados de enunciação, como os "cortes" aos quais Bellacasa (2013, s/p) se refere.

Olhar para "cortes" da perspectiva de como eles estão re-criando, ou sendo criados por "conexões parciais" (Strathern, 2004 [1991]; ver também: Munro, 1996; 2005). Ou seja, nós podemos direcionar a atenção para as heranças, para o modo como "novos" padrões são herdeiros de uma rede de relacionalidades, rede que contribuiu para torná-los possíveis.

Com isso, afirmamos as psicologias da Mulher-Esqueleto e do Corpo-Astárgati como saberes que entrelaçam experiências compostas por encontros com mulheres (diversas em termos de raça, classe, gênero e sexualidade), corpos, afetos, arte, danças do ventre que atuam em uma prática clínica. Dessa forma, afirmamos uma clínica que acontece nesse condensamento de saberes à medida que vamos aprendendo a contrair esses encontros e a dissentirmos juntas, sustentando, prolongando e seguindo com as tensões e desconfortos inerentes ao que aqui estamos nomeando de cuidado. É no alargar dos laços de pertencimento que os nossos saberes também se alargam. Um trabalho de amor, como nos incita Bellacasa (2012), nos traz a pergunta: "com o que e pelo que nos importamos?" O que nos importamos nos toma tempo, gera conflitos, não é um amor romantizado, apaziguado. Não é nada óbvio. A partilha de um percurso de trabalho leva tempo e confiança para construir uma ética do viver e morrer bem neste mundo. A materialidade de como colocamos nossos corpos disponíveis para diferentes conexões é terreno incerto e urgente. Criar laços de pertencimento também é expor os nós complicados de des(fios) e desvios nos quais nos emaranhamos quando estamos na ética de viver juntas e juntes.

Que corpos fazemos ao dançar? O que compartilhamos? Que falas e gestos se inauguram? E quais psicologias colocamos em ação nesses encontros? Por que alguns movimentos fazem chorar, provocam sensações desconfortáveis e dores? Astárgati e Mulher-Esqueleto - Que especulações são essas? Que heranças, histórias e memórias suscitamos ao dançar as danças do ventre? O que se rumina em nossos ventres? São perguntas que mantemos ativas em nossos corpos e com as quais vamos aprendendo a dissentir-por-dentro.

Dessa forma, o que é construir um trabalho de cuidado que de um lado mira o aspecto reconfortante, liso e harmonioso e de outro mira o aspecto rugoso, desconfortante e tenso? Como construímos confusões frutíferas nessas fronteiras? Nossa aposta é na sustentação do desconforto.

Até onde vai o estar juntas e juntes? Até onde podemos falar nós em nosso nome? Até onde podemos ser ouvidas, até onde ouvir, como ouvir e fazer silêncio? Até onde vai o limite da fina membrana da pele? Em alguns momentos, o silenciar é preciso para poder estar COM. Suportar ouvir é em muitos casos calar. Grada Kilomba é uma mulher negra pesquisadora, artista, escritora, psicóloga, teórica transdisciplinar, reconhecida em seu trabalho "Descolonizando o conhecimento" - uma palestra performance (2017), que tem como foco o exame da memória, trauma, gênero, racismo e pós-colonialismo. Nele ela ativa um sentimento de pertencimento quando afirma que o passado colonial está inscrito no corpo de tal forma que não há como se esquecer. Na memória de Kilomba (2019), a "máscara" - um objeto de tortura usado para calar seus ancestrais africanos escravizados - remonta à história do racismo, silenciamento e opressão que as pessoas negras sofreram e sofrem. O pertencimento fala de ser ouvida, ser levada em consideração, ser lembrada. Ela nos pergunta quem pode ser ouvido e quem pode falar. E mais ainda, quem pode produzir conhecimento e quem não pode? "Quando eu falo, o que você ouve?"

Temos percebido que os silêncios que aparecem em nossas oficinas e os desconfortos que os acompanham é um índice desse dissentir. E também percebemos que muitas mulheres não dão continuidade às oficinas, para nós, acolher essa recusa é parte desse trabalho de amor, de ouvir as marcas e compor com elas. Dessa forma, apostando no contato e intensificação do aspecto desconfortante e por vezes dissidente do cuidado, vamos tateando formas de viver e morrer bem neste mundo, produzindo assim novas marcas que não necessariamente precisam ser feridas não cicatrizadas que constantemente doem e desvigoram a potência da vida. Cicatrizá-las para que se tornem memórias possíveis e não imposições constantes em nossas relações de interdependência. São com essas companhias (no sentido das espécies companheiras dito anteriormente) que vamos alargando e criando sensibilidades para acolher o chamado que as marcas fazem ao emergirem dos encontros, dos esbarros, das conexões. Dançando assim, desde dentro das relações, tornamo-nos mulheres, psicólogas, pesquisadoras que estão experimentando ferramentas político-epistemológicas que possam nos acompanhar nesse processo de reconhecimento do dissentir como uma dinâmica fundamental do cuidado, da vida.

 

Referências

Bellacasa, M. P. (2012). Nothing Comes without Its World: Thinking with Care (A. Muniz, Trad.). The Sociological Review, 60(2), 197-216.         [ Links ]

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Haraway, D. (2000). Manifesto ciborgue. Antropologia do ciborgue. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.         [ Links ]

Haraway, D. (2008). Able Bodies and Companion Species. In D. Haraway. When Species Meet (pp. 161-179, D. Haraway, Trad.). London: University Minesotta Press.         [ Links ]

Haraway, D. (2009). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, (5), 7-41. Recuperado de https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1773.

Haraway, D. (2016). Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene. Durham: Duke University Press.         [ Links ]

Kilomba, G. (2019). Memórias da plantação. Rio de Janeiro: Cobogó         [ Links ].

Moraes, M. (2017). Deficiência em questão: por uma crise da normalidade -(1a ed.).-Rio de Janeiro.

Ribeiro, M. M. F (2019). Sentir, tocar, perceber e narrar: fragmentos de encontros com deficientes visuais no tornar-se psicóloga. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói.         [ Links ]

Teixeira, A. B., Silva, A. M., & Figueiredo, Â. (2017). Um diálogo decolonial na colonial cidade de Cachoeira/BA: entrevista com Ochy Curiel. Cadernos de Gênero e Diversidade, 3(4), 106-120.         [ Links ]

Teles, E. C. S. (2015). A lógica do cuidado por um corpo articulado: interferências entre dança e intervenção na política de assistência social. Dissertação de mestrado em Psicologia, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 1º/11/2019
Aceito em: 22/7/2020

 

 

1 Casa Tao - Centro de Terapias e Artes Orientais.
2 No sentido do que dizem os povos originários zapatistas, de que "otro mundo es posible".
3 Sentir, Tocar, Perceber, Narrar: fragmentos de encontros COM deficientes visuais no tornar-se Psicóloga. Dissertação de mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2018.
4 Éticas feministas, comunitárias e descoloniais do cuidado. Doutoramento em andamento.
5 No sentido metafórico.
6 Usaremos nomes de flores para nos referirmos às participantes das oficinas.
7 A imagem refere-se à carta Atargátis ou Astárgati, do tarô de Barbara Walker, uma versão própria da autora que parece dar ao tarô uma ordenação e interpretação feminista, segundo informações contidas no site https://mycuriouscabinet.wordpress.com/2012/04/29/weirdly-darkly-the-barbara-walker-tarot/.
8 Derbake (tambor de origem árabe), Pandeiro cigano e sagats (címbalos que são os "avós" das castanholas), espécies com as quais interagimos.
9 Tanto "ciborgue" e "espécies companheiras" são figuras especulativas com as quais a autora opera suas questões. Dizem respeito a uma mistura de elementos humanos, não humanos, especulativos etc., que podem entrar em relação e construir mundos.

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