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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versión On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.16 no.1 São João del-Rei ene./mar. 2021

 

Editorial 16(1)

 

 

Daiana Paula BaroniI; José Rodrigues de Alvarenga FilhoII; Maria de Fatima Aranha de Queiroz e MeloIII; Victor Freitas HenriquesIV

Idaianapaulam@yahoo.com.br
IIjoserodrigues@ufsj.edu.br
IIIFatimaqueiroz.ufsj@gmail.com
IVvf_henriques@hotmail.com

 

 

2021: o ano da imunização?

Voltamos ao primeiro número de mais um ano. Parece que 2020 nem passou. Ou será que passou tão rápido que nem percebemos? Passando rápida e intensamente como um pesadelo, deixou-nos atônitos a procurar quantas e quais marcas alimentaram ou sugaram nossa existência. Apesar das limitações que foram impostas a todos com a necessidade de distanciamento social, caminhamos como foi possível, deixamos rastros de nossas produções, reinventamos modos de viver, sobrevivemos praticando a resiliência nossa de cada dia.

2021 deveria ser o ano em que, finalmente, poderíamos estar imunizados e retomar nossos contatos, colocar em prática os planos engavetados, poder sair de casa sem medo, ver o florescimento de biossistemas queimados, pensar na possibilidade de algum futuro sem máscaras e álcool 70%. Seria bom respirar sem proteção e não ter as mãos feridas pelo uso de tanta substância corrosiva. Seria bom reencontrar os amigos, poder abraçá-los, lamentar nossos mortos, sentir a vida pulsar sem amarras, agradecer por ainda estar vivo. Seria... Mas ainda teremos de esperar, pois, ao contrário do almejado, novas cepas do vírus surgiram, o surto de covid recrudesceu e estamos vivendo ondas sequenciais de contágios e óbitos em circunstâncias anunciadas pelos cientistas, mas negligentemente negadas por parte da população e pelos poderes públicos. Talvez consigamos falar sobre esse retorno tão almejado nos próximos números.

Em tempo recorde, ao longo de 2020, cientistas de todo o planeta se associaram no empenho de elaborar vacinas que nos oferecessem a possibilidade de controlar a disseminação do vírus e estancar a pandemia; mas a aquisição desses fármacos inaugurou disputas políticas e essa politização do vírus passou a contaminar também o processo de imunização. Alguns países estão sendo bem-sucedidos em suas campanhas, outros se esforçam para esse êxito; e o Brasil continua nos deixando um saldo de vergonha e indignação. Não só pelos desmandos do atual governo, que mostra uma das faces de maior incompetência na gestão da pandemia, como por parte de alguns grupos que, na ausência de vacina para todos em curto prazo, adotam a lógica do "farinha pouca, meu pirão primeiro", defendendo argumentos que justificam sua prioridade na imunização, quando, na verdade, não conseguem disfarçar a sua ânsia pela manutenção de privilégios de classe.

Sim. Ainda vai custar: mais confinamento, mais infecções, mais mortes, mais porções de nossas vidas, mais reformas para retirada de direitos e manutenção de privilégios. Que o nosso desejo por dias melhores não se resuma a esperar, mas a "esperançar", como dizia Paulo Freire: uma espera ativa, cidadã, que nos coloque em marcha para a conquista de nossos direitos ou em luta por não perdê-los ainda mais. Talvez a vacina possa nos imunizar contra o coronavírus e suas variantes, mas não estaremos imunes aos atos daqueles que se consideram não apenas imunes, mas impunes a toda lei.

Os editoriais da PPP têm buscado refletir um termômetro do momento de cada publicação, mas é preciso assumir que os artigos que estamos publicando neste número - e provavelmente nos próximos -, em sua maioria, resultam de submissões feitas antes da pandemia. São trabalhos de cunho variado, trazendo contribuições sobre a atuação profissional de psicólogos e assistentes sociais em contextos da saúde; assistência psicossocial e intersetorialidade para usuários de álcool e drogas; inclusão/exclusão social nas trajetórias de jovens - marcadas, na universidade, pela vulnerabilidade e, na periferia, pela violência. Outros assuntos menos comuns, mas não menos importantes, como tempo e subjetividade, moda e turismo, sob diferentes enfoques, fazem parte da composição deste número, que se conclui com problematizações sobre a formação em Psicologia à luz de novos paradigmas.

No artigo "A atuação do psicólogo no contexto do SUS: repensando práticas", Crystiane França Silva Castro, do Centro Universitário Tiradentes de Alagoas, coloca em análise a atuação dos profissionais da Psicologia no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), apontando desafios para a efetivação do paradigma da garantia de direitos diante da realidade brasileira. Ao mesmo tempo, pensando a Psicologia como um instrumento de transformação social, pontua e problematiza o nosso compromisso ético-político.

Em "A atuação do Assistente Social na alta hospitalar do Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais no contexto da humanização e integralidade em saúde", Marjory Furlan Rueda e Silmara Carneiro e Silva, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, buscam compreender a atuação do assistente social na alta hospitalar do Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HURCG). Para tanto, como estratégia metodológica, fizeram uso de formulários de dados e grupo focal. As autoras apontam para o papel essencial do assistente social no planejamento da alta hospitalar.

No artigo "Gênero e assistência psicossocial: perspectiva de usuárias sobre o Caps-AD", as autoras Larissa Goya Pierry, Taís Tasqueto Tassinari, Marta Cristina Schuch, Valquiria Toledo Souto, da Universidade Federal de Santa Maria; Keity Laís Siepmann Soccol, da Universidade Franciscana (UFN); e Marlene Gomes Terra (UFSM), buscaram analisar, por meio de uma pesquisa qualitativa, o contexto da assistência em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas sob a perspectiva de mulheres de um município do interior do Rio Grande do Sul, apresentando o atendimento por profissionais mulheres como uma estratégia que pode favorecer a vinculação ao tratamento.

No artigo "O projeto Redes em Betim/MG: encontros intersetoriais para o fortalecimento da rede de atenção e redução de danos a pessoas que usam drogas", as autoras Edna Mara Mendonça, do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas); Viviane Andrade Pinheiro, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; José de Arimateia Rodrigues Reis, da Universidade Federal do Pará; e a autora Renata Barreto Fernandes de Almeida, da Universidade Federal de São Paulo, descrevem a inserção da política de redução de danos como projeto voltado para o estreitamento de laços entre os dispositivos da rede de saúde no município de Betim, Minas Gerais.

As autoras Luciana Oliveira de Jesus e Daniela Ribeiro Schneider, da Universidade Federal de Santa Catarina, nos convidam a pensar, no artigo "Vulnerabilidade, apoio e inclusão social: trajetórias de universitários residentes em moradia estudantil" - a partir dos resultados de intervenção participativa, entrevistas e observação -, a relação entre permanência nas universidades, enfrentamento das condições no ambiente e políticas assistenciais por parte de universitários residentes em moradias de instituições de ensino superior.

A partir de experiências de estágio em um Centro de Referência Especializado de Assistência Social, as autoras Liandra Savanhago, da Universidade Federal de Santa Catarina; Camila Trindade, da Universidade Estadual de Maringá; e Tielly Rosado Maders (UFSC), apresentam, em "Trajetórias Sociais: processo de intervenção com jovens em cumprimento de medidas socioeducativas", os resultados do uso da ferramenta Trajetórias Sociais com jovens cumpridores de medidas socioeducativas, discutindo o potencial formador de atividades que aproximam construção de visões de mundo e experiências afetivas.

No artigo "Periferia, violência e estigma sob o enfoque da promoção da saúde: relato de experiência na comunidade de Mata Escura, Salvador/Bahia", Suelem Maria Santana Pinheiro Ferreira, Carla Maria Lima Santos, Carla Santos Almeida, Airton Viniccius Oliveira Moreira, Juliana Costa dos Santos Borges, Polliana Alves de Oliveira e Rafaela Silva Santos, da Universidade do Estado da Bahia, apresentaram uma experiência de enfrentamento do estigma e preconceito por meio do fortalecimento da identidade de comunidade, estimulando reflexões sobre identidade social e pertencimento.

Em "'Foguete ou tiro?': a produção de subjetividade de juventudes a partir do território", os autores Paloma de Almeida Albergaria Lanna, Matheus Henrique Silva e Lara Brum de Calais, da Universidade Federal de Juiz de Fora, analisam, por meio de grupos focais com jovens, como o território, marcado por fatores como violência, tráfico de drogas e medo, compõe realidades, influencia hábitos, sentimentos de pertencimento a um lugar, assim com exerce influência na construção das subjetividades dos sujeitos.

No artigo "Subjetividade e espaço: análises com Michel Foucault", Diego Henrique da Silva Trujillo, Flávia Cristina Silveira Lemos, Leandro Passarinho Reis Júnior e Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira, da Universidade Federal do Pará, constroem um ensaio interrogando os conceitos de espaço e subjetividade na obra de Michel Foucault, articulando Psicologia, História e Filosofia.

Daniela Castro dos Reis, da Universidade Federal do Amazonas; Thamyris Maués dos Santos, Tatiana Afonso, Simone Souza da Costa Silva e Fernando Augusto Ramos Pontes, da Universidade Federal do Pará, são autores do artigo "O uso do tempo de crianças no contexto urbano e ribeirinho na Amazônia". Utilizando o Instrumento Sociodemográfico e o Inventário de Rotinas, os autores estudaram o uso do tempo de crianças no contexto urbano e rural, evidenciando diferenças estatisticamente significativas entre população urbana - com predominância do uso do computador - e ribeirinha, para quem as tarefas domésticas e as conversas eram predominantes, sugerindo caminhos desenvolvimentais diferenciados em função dos contextos culturais nos quais cada grupo estava imerso.

No artigo "Psicossociologia e turismo: desvendando interconexões investigativas", Cristiane Passos de Mattos, Marta de Azevedo Irving, Gustavo Mendes de Melo e Elizabeth Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, utilizaram a Psicossociologia como lente interpretativa e, como método, o levantamento e sistematização de produção acadêmica no Portal de Periódicos Capes. Os autores verificaram que o turismo vem sendo abordado na produção científica em investigações que estão centradas na dinâmica de intercâmbio e de interação entre turistas e população residente, representando um caminho fértil para a investigação acadêmica.

Em "Moda e trabalho como prática de exclusão social: uma revisão das produções acadêmicas brasileiras", os autores Pedro Afonso Cortez, Marcus Vinícius Rodrigues de Souza e João Paulo Araújo Lessa, da Universidade São Francisco; e a autora Jullie Tenório Ed Din Sammur, da Universidade Federal de Alagoas, resgatam, pela análise de importantes produções acadêmicas, a relação entre moda, precarização das relações de trabalho, anulação identitária e a necessidade de se criar práticas psicossociais inclusivas que possam diminuir tal contexto de exclusão.

Os autores da Universidade Federal de Juiz de Fora, Amata Xavier Medeiros, Telmo Mota Ronzani e Fernando Santana de Paiva, e Pedro Henrique Antunes da Costa da Universidade de Brasília, elaboraram o artigo "Contribuições da Psicologia Social Comunitária para a área de álcool e drogas". Por meio de uma revisão narrativa de literatura, eles traçaram um histórico sobre o desenvolvimento das políticas e instrumentos normativos que regulamentam a área de álcool e outras drogas, bem como sobre a constituição da PSC no contexto latino-americano e brasileiro e, posteriormente, fizeram um paralelo entre o desenvolvimento desses dois campos.

Em "Formação inventiva em Psicologia: problematizações à luz dos novos paradigmas da ciência contemporânea", as autoras Maria Clara Carneiro Santiago e Roberta Carvalho Romagnoli, da PUC Minas, discutem a formação acadêmica em Psicologia tendo como foco a prática clínica, problematizando a concepção de aprendizagem e ensaiando um movimento em defesa da invenção e da consideração dos fluxos heterogêneos e intensivos dessa prática, tendo em vista as singularidades e as diferenças que nunca podem ser abarcadas por um conhecimento encerrado em definições absolutas e totalizantes.

Este ano também traz mudanças para o corpo editorial da revista com a saída das professoras Larissa Medeiros Marinho dos Santos e Isabela Saraiva de Queiroz, que estarão alçando voos em outros projetos. Larissa, que está conosco desde 2017, continuará nos ajudando como editora de leiaute enquanto nosso diagramador estiver em sua licença para doutoramento. Isabela, que ingressou no corpo editorial em 2018, estará concluindo seu trabalho com os artigos que estão sob sua responsabilidade. Gratidão a ambas pela parceria e pelo compartilhamento de experiências que contribuíram para o crescimento da revista. Daiana de Paula Baroni e Victor de Freitas Henriques, que participam do corpo técnico da revista desde 2019 e 2020, respectivamente, assinam este editorial.

A todos os que contribuíram direta ou indiretamente para que esta edição da revista fosse publicada, o nosso agradecimento.

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