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Psicologia para América Latina

On-line version ISSN 1870-350X

Psicol. Am. Lat.  no.9 México Apr. 2007

 

NIÑOS Y JÓVENES DEL SIGLO XXI

 

Oficinas de reflexão do mundo jovem: uma experiência de extensão do PET psicologia

 

 

Rosa Maria Tosta1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Brasil

Bolsistas do grupo PET em 2005: Diogo de Lima Calazans; Giselle Souza de Santi; Isadora B. Tumulo; Karina Brochado; Lívia Farabotti Faggian; Luiza Cardinalli de Faria; Maria Lyra Muller; Marina Valente G. Cecchini; Renata Monteiro Machado Ishida; Renato Ferreira da Fonseca; Sharon Dymetman Sanz; Tatiana Cristina Henrique Vieira; Vanessa Palazzin

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Trata–se de relato de projeto de extensão voltado para os jovens assistidos pela Associação Comunitária Monte Azul, junto à favela na zona sul de SP. O objetivo foi possibilitar aos adolescentes um espaço de reflexão e troca de experiências sobre questões ligadas à sua realidade, promovendo uma abertura para o contato consigo mesmo e com o outro, de modo que pudessem buscar e dar sentido às informações disponíveis para sua vida cotidiana. Em 2004, depois da análise institucional e levantamento de demandas, foi elaborada proposta de intervenções pontuais. Houve a realização de duas oficinas, onde se buscou explorar as questões relativas à sexualidade adolescente no dia mundial de luta contra AIDS. A segunda etapa em 2005 constitui–se da proposição de seis oficinas direcionadas às questões trazidas pelos jovens participantes, tais como: aparência, relacionamento, violência, futuro e escolha. São descritas três destas oficinas. O projeto atingiu os objetivos propostos pelo grupo.

Palavras–chave: Jovem, Oficinas, Comunidade Monte Azul, Extensão Universitária.


ABSTRACT

Relate about an extention project directed to young people assisted by "Associação Comunitária Monte Azul", at the slum in south zone of SP. Aim: make possible to those teenagers to think about their own reality and talk about it, promoting an opening to their own selves as to the others in such a way that they could give sense to these daily informations. In 2004, after an institucional analysis and demands sourvey, a pontual source of intervention was elaborated. Two workshops have been done to explore questions related to teenage sexuality at the "dia mundial de luta contra aids". The second step, which took place in 2005 was made of six workshops directed to questions brought by the participant, like: appearance, relantionship, violence, future and choice. Three of these workshops are described. The project has achieved the aims proposed by the group.

Keywords: Young People, Workshops, Monte Azul Community, University Extention.


RESUMEN

Relato del proyecto de extensión dirigido a los jóvenes de la "Associação Comunitária Monte Azul", junto a la villa miseria en la zona sur de São Paulo. Objetivo: propiciar a los adolescentes un espacio de reflexión de experiencias sobre cuestiones de su realidad, de manera que pudieran buscar y dar sentido a las informaciones disponibles para su vida cotidiana. En 2004, tras el análisis institucional y la investigación de demandas, se elaboró la propuesta de intervenciones. Se buscó explotar las cuestiones de la sexualidad adolescente en el día mundial de la lucha contra el SIDA. La segunda etapa, en 2005, consiste en la proposición de seis talleres orientados hacia las cuestiones que nos han traído los jóvenes participantes, tales como: la apariencia, las relaciones, la violencia, el futuro y la elección. Se describen tres de estos talleres. El proyecto alcanzó los objetivos propuestos por el grupo.

Palabras clave: Joven, Talleres, Comunidad Monte Azul, Extensión Universitaria.


 

 

INTRODUÇÃO

Sou a violência

Estou espalhada por aí

Sou desemprego

Olha só como eu cresci

Ficamos fortes

Graças à corrupção

A incompetência

E a globalização

Eu sou o castigo

Te irrito e não deixo

Você me esquecer

Ouça o que eu digo

Ou acabe comigo

Ou acabo com vocês

(Música criada pelos jovens da Favela Monte Azul)

 

O Programa de Educação Tutorial (PET) é um programa de ensino, pesquisa e extensão financiado pelo MEC–SESu presente em universidades de todo o Brasil em todas as áreas de conhecimento. O programa visa à melhoria dos cursos de graduação nos quais está inserido, através do fomento de atividades de pesquisa, ensino e extensão pelos seus doze alunos bolsistas, que se renovam a cada ano, coordenados e orientados por um professor tutor.

O grupo PET da Faculdade de Psicologia da PUC–SP existe desde 1995 e desenvolve uma série de atividades, dentre elas aquelas voltadas para a extensão. Por esta via visamos nos integrar com a comunidade, realizando um conhecimento prático e vivenciado da mesma, aprendendo a reconhecer a suas necessidades e realizando intervenções que atendam às suas demandas específicas. Como extensão universitária, promove–se uma integração com atividades de ensino, de diversas formas, tais como busca de fundamentação teórica, e de pesquisa, na medida em que dificuldades encontradas possam gerar temas de investigação. Há um intercâmbio entre o conhecimento gerado na academia com o conhecimento prático e vivencial da comunidade.

Aqui relatamos a experiência de elaboração e realização de um projeto de extensão do grupo junto a uma comunidade. Trata–se do projeto desenvolvido na Associação Comunitária Monte Azul idealizado e aplicado pelo Grupo PET–Psicologia da PUC–SP, no período de 2004 e 2005. Tal projeto iniciou–se em junho de 2004 quando entramos em contato com a Associação, localizada na zona sul de São Paulo, próxima à favela Monte Azul.

A Associação foi fundada em 1979, a partir do trabalho da pedagoga Ute Craemer, imigrante alemã junto aos moradores da comunidade. As primeiras atividades desenvolvidas foram a criação de um ambulatório médico e uma escola para crianças carentes. Até hoje a instituição é financiada por um grupo alemão, e também por outras parcerias como a realizada junto à prefeitura de São Paulo. Os equipamentos da Associação são espalhados pela comunidade, a saber, um ambulatório, uma creche, um centro cultural, uma quadra e espaços utilizados na realização das seguintes oficinas: marcenaria, padaria, reciclagem de papel, corte e costura e cidadania.

Os dados de 2005 revelam que a Associação atende diretamente 1.251 crianças e adolescentes na área de educação, 635 na área de cultura e aproximadamente 4.000 atendimentos mês na área de saúde.

A idéia inicial do grupo era conhecer a associação, e propor algum trabalho conjunto a partir da demanda verificada. Os profissionais da associação apresentaram a necessidade de trabalho com os jovens que freqüentavam as oficinas profissionalizantes.

Respondendo a esta demanda, foi desenvolvido o presente projeto, que se deu em duas etapas. A primeira, em 2004, constituiu–se numa intervenção pontual, por meio de uma oficina que focalizou a AIDS e a sexualidade como temática principal; a segunda, no ano de 2005, contemplou a realização de três oficinas direcionadas a questões que concernem ao mundo jovem. Todas as oficinas foram realizadas em dois períodos (manhã e tarde), atendendo à disponibilidade dos adolescentes e os horários da instituição.

O objetivo principal das atividades foi possibilitar aos adolescentes um espaço de reflexão em que pudessem conversar e trocar experiências sobre questões ligadas à sua realidade, em sua maioria trazidas por eles próprios, promovendo uma abertura para o contato consigo, com o outro e o mundo, viabilizando que as informações disponíveis pudessem ser buscadas e passassem a fazer algum sentido na vida cotidiana.

Adotamos como principal guia teórico para nosso trabalho a visão de adolescência de acordo com uma perspectiva desenvolvimental, focada na teoria psicossocial de Erik Erikson ( 1968/ 1994, 1968/ 1987, 1998).

Segundo Pereira (2005), a adolescência é um constructo teórico referente a um processo, e não a um estado, caracterizado pelas mudanças psicológicas que ocorrem num período de transição entre a infância e a idade adulta "(p. 1). é um período que se inicia com a puberdade e com significativas mudanças no desenvolvimento cognitivo.

Como a adolescência na sociedade moderna e industrializada pode ser encarada como uma construção cultural, outros aspectos se fazem importantes na compreensão deste fenômeno. Segundo Pereira (2005), "os acontecimentos psicológicos na adolescência não são necessariamente, em nossa sociedade, apenas um correlato natural das mudanças físicas da puberdade, mas também uma conseqüência cultural, produto da complexidade das mudanças sociais" ( p.2).

Para Erikson (1968/ 1987) os avanços tecnológicos ampliaram o intervalo de tempo entre o início da vida escolar e o acesso do jovem ao mundo de trabalho especializado, propiciando que a adolescência tenha se estabelecido como um período delimitado em várias culturas.

Neste sentido, a autor considera que a formação da personalidade é um processo que se dá por toda vida dentro do chamado ciclo vital. Cada etapa da vida tem um momento crítico, uma crise, em que o indivíduo decide que caminho seguir, ou em direção ao progresso ou ao retardo. Nas palavras do autor cada passo é uma crise potencial por causa de uma mudança radical de perspectiva. A palavra crise é usada aqui num sentido de desenvolvimento para designar não uma ameaça de catástrofe, mas um ponto decisivo, um período crucial de crescente vulnerabilidade e potencial. (idem, ibidem, p.96).

A forma como estas crises serão resolvidas ou se serão adiadas dependem do desenrolar das crises anteriores e dirão de que forma aparecerão as próximas. As crises têm a função de abrir portas para a aquisição de novas habilidades e comportamentos.

Só ao atingir o amadurecimento da adolescência em termos físicos, mentais e sociais, o individuo tem condições físicas, mentais e sociais de viver a crise de identidade, o aspecto psicossocial do processo adolescente. (Erikson, 1968/1987,p.90). Assim, na adolescência a crise central refere–se à necessidade da formação de uma identidade versus a confusão de papéis.

Para Erikson (1998) o conceito psicossocial de identidade relaciona–se ao self. Assim, um senso global de identidade ajusta gradualmente a variedade de diferentes auto–imagens experienciadas durante a infância e as oportunidades de papel que se oferecem aos jovens para seleção e comprometimento. Por outro lado, não pode existir um senso duradouro de self sem a experiência contínua de um "Eu" consciente. (p.64).

Para que o indivíduo organize um sentido de identidade do eu ele precisa estabelecer compromissos com valores sociais e morais que propiciem a estabilidade nos relacionamentos, entretanto, esta tarefa não é nada simples. Para que o adolescente consiga superar esta crise, é necessário, segundo Erikson( 1968/1987 , 1998), que ele passe por uma moratória psicossocial, ou seja, um período de experimentação de papéis que permitam a ele escolher uma ocupação, uma orientação sexual, uma ideologia e uma posição social, que o satisfaça e o deixe seguro para ir em frente. Só então ele assumirá compromissos e responsabilidades.

Para Erikson (1968 / 1994) a integração de identidade envolve

una búsqueda ideologica de uma coherencia interna y um perdurable conjunto de valores. La fuerza particular buscada en la fidelidade; es decir, la oportunidad de cumplir com ciertas potencialidades personales em um marco que permita al joven ser fiel a si mismo y ser fiel a otros que lê son significantes. (p.541).

Portanto, com a crise de identidade da adolescência, o jovem pode conseguir integrar uma identidade psicossocial, resultante de um sentimento de fidelidade a si mesmo, aos outros e aos seus valores ideológicos ou pode perder–se numa confusão de identidade.

Muitos adolescentes passam por esta etapa de maneira tranqüila, entretanto, nem sempre isso acontece. Alguns assumem compromissos e responsabilidades precocemente, como é o caso de adolescentes que engravidam. O papel de mãe aparece cedo e a experimentação de outros papéis fica limitada. Em outros casos o período de moratória pode se estender e o indivíduo entrar confuso e despreparado para lidar com as pressões sociais da idade adulta.

Por fim, outros adolescentes podem ir pelo caminho da formação de uma identidade negativa, definida por Erikson (1998) como uma combinação de elementos de identidade socialmente inaceitáveis e, no entanto, obstinadamente afirmados"(p.64). Segundo Pereira (2005), os adolescentes preferem adotá–los a serem considerados ninguém.

Neste sentido, acreditamos que um trabalho junto aos adolescentes é de extrema importância para que possam pensar sobre quais são os papéis disponíveis, quais estão experimentando e o que querem assumir como compromisso para suas vidas futuras, com a finalidade de que façam escolhas de forma consciente.

 

Método

O primeiro passo realizado em ambas as etapas do projeto foram as observações das oficinas, que são divididas em profissionalizantes e ciclo básico, sendo que ambas têm como objetivo a experimentação nas diversas frentes de trabalho, com a diferença que o ciclo básico é freqüentado por jovens recém chegados na Associação ou que não estão matriculados na escola.

A partir destas observações de campo pudemos perceber como se dão as relações interpessoais na Associação e levantar algumas hipóteses relativas a questões que foram consideradas para elaboração e realização da intervenção, a saber, a comunicação, a articulação dos jovens com os observadores e forma de distribuição de papéis.

Considerando as demandas observadas e as trazidas pelos profissionais da Associação, foi elaborado um Projeto de oficinas vivenciais após a discussão da proposta inicial com os educadores e a coordenadora da área de educação, Raquel Calcina.

Local: As oficinas vivenciais foram realizadas num salão da Associação na comunidade Monte Azul.

Participantes: Aproximadamente 20 jovens por oficina, da faixa etária de 13 a 18 anos, freqüentadores dos Núcleos profissionalizantes, em sua maioria residente na favela Monte Azul ou moradores de comunidades próximas, provenientes de famílias de baixa renda. Também participaram educadores dos jovens, dois em cada uma.

Estratégia: Utilizamos a 'oficina', sendo esta, segundo Afonso (2000), um trabalho aceito e apropriado pelo grupo e que está ligada a uma demanda deste grupo. Em uma 'oficina' a coordenação tem o papel de escuta e adequação da proposta ao grupo. No presente projeto, havia três coordenadores e três observadores por Oficina.

Esta mesma autora afirma que a demanda está associada a uma pré–análise, que inclui um levantamento de dados e aspectos importantes da questão a ser abordada, que poderão ser relevantes para a construção de um trabalho com 'oficinas'. Isso justifica as nossas observações às oficinas profissionalizantes e ciclo básico na Comunidade Monte Azul.

Uma 'oficina', diz a autora, é realizada dentro de um contexto sócio–institucional, possuindo um enquadre definido: número e tipo de participantes, contexto institucional, local, recursos disponíveis e números de encontros que delimitarão o prazo de realização dos trabalhos.

As técnicas de grupo utilizadas nas oficinas foram retiradas de várias fontes, sendo uma delas a de LYON (1997). Também cotamos com a colaboração, na elaboração de algumas estratégias utilizadas, de Antonio Carlos Amador Pereira, professor do curso sobre grupos em núcleo da área da saúde na Faculdade de Psicologia da PUCSP.

 

Resultados: As Oficinas

Primeira Etapa: 2004

Oficina no Dia Mundial da Luta Contra a AIDS – 01 de dezembro de 2004

Esta etapa foi elaborada e coordenada por ex–bolsistas e alguns bolsistas atuais. O grupo era composto por: Ana Cecília A. de Moraes, Diogo de Lima Calazans, Giselle Souza de Santi, Isadora B. Tumulo ,Maíra Mendes Clini, Mariana Santos David, Marina de Castro Nascimento, Marina Valente G. Cecchini, Sharon Dymetman Sanz, Vanessa Abdo França e Vanessa Palazzin

Objetivo Específico: Possibilitar aos adolescentes um espaço de conversa e troca de experiências sobre questões relativas à sexualidade e sub–temas como, por exemplo, relacionamentos afetivos, auto–estima, violência, DSTs e AIDS.

Segundo a Organização Mundial da Saúde "sexualidade não é sinônimo de coito (...), é a energia que motiva a encontrar o amor, o contato e a intimidade" (Egypto, 2003).

O tema da sexualidade tem se tornado cada vez mais um assunto público, as informações são acessíveis, e a mídia em geral enfatiza o sexo e o prazer com freqüência. Porém, como mostram algumas reportagens nos jornais o Estado de São Paulo e Folha de São Paulo (24/10/2004), a partir de uma pesquisa realizada sobre os hábitos sexuais dos brasileiros, uma porcentagem considerável dos entrevistados não tem algumas informações básicas de prevenção a doenças e anticoncepção, e adotam comportamentos de risco.

Os adolescentes da Associação Comunitária Monte Azul já tiveram aulas informativas sobre sexualidade, e os educadores afirmaram que os pais demandam que a Associação trate de temas que eles não costumam abordar, sendo um destes temas a sexualidade. Os educadores declararam também que há uma diferença entre a informação que esses jovens têm e os comportamentos adotados por eles em relação à sexualidade.

Neste sentido, entendemos que a reflexão sobre este tema é fundamental para que a informação disponível possa ser buscada e possa fazer algum sentido na vida cotidiana. Segundo Egypto (2003), "nunca se falou tanto sobre sexo [na sociedade atual], mas não existe espaço para a reflexão".

é importante, portanto, que, além de informar, possamos abrir um espaço para reflexão sobre o que é divulgado e para debater valores, sempre implicados quando o assunto é sexualidade, e levando em consideração, como diz Egypto (2003), que nunca é demais refletir sobre este tema, e que o ideal é que ele seja tratado, nos espaços educacionais, de maneira ininterrupta e não eventual. Dessa forma, entendemos que o nosso trabalho vem a se somar com o que já foi e está sendo feito.

A oficina sucedeu da seguinte forma:

1– Contrato: estabelecimento de sigilo ético dentro do grupo e conosco;

2– Atividade de Apresentação: "dinâmica do fósforo" (em roda, cada participante pegou um fósforo aceso, falou o seu nome e algumas características suas).

3– Atividade de Aquecimento: "dinâmica do gato e rato" (tipo de pega–pega, em que se alternou o papel de perseguidor e perseguido);

4– Atividade Informativa: usando situações descritas em cartolinas, propusemos que os jovens dividissem as afirmações sobre AIDS e DSTs em três grupos: "pega AIDS e DSTs", "não pega AIDS e DSTs", "previne AIDS e DSTs". Alguns exemplos de afirmações foram: "fazer sexo sem camisinha"; "compartilhar seringas"; "usar o mesmo talher", entre outras.

5– Atividade reflexiva: os jovens foram divididos em três grupos com igual número de pessoas. Cada grupo teve um tema, e cada integrante escreveu em um papel uma cena (situação vivida, vista ou imaginada) relacionada com o tema dado. Em seguida, todas as cenas escritas por um mesmo grupo foram passadas para outro grupo, que construiu uma única cena a partir do que o outro grupo redigiu. Num terceiro momento, esta cena foi entregue ao outro grupo, que a dramatizou.

6– Avaliação: em roda, cada participante disse, em uma palavra, o que achou ou sentiu sobre as atividades propostas.

Resultados:

Os jovens concordaram em manter o acordo de sigilo, e parece que tal fato contribuiu para que eles ficassem à vontade ao longo da oficina para se expressarem. No que se refere à dinâmica do fósforo houve uma grande mobilização do grupo, sendo possível que cada um se apresentasse da maneira que achasse mais adequada.

A estratégia do gato e rato foi excelente como aquecimento e descontração. Os participantes gostaram muito de correr, mais exatamente de "pegar" o outro.

Os jovens ficaram muito concentrados e envolvidos com o jogo da parte informativa, mostrando–se muito à vontade para perguntar e responder questões referentes à prevenção da AIDS, além de informações acerca da virgindade, da importância ir ao médico e de fazer exame para detecção de AIDS.

Em ambas as oficinas foi feita uma demonstração pelos próprios jovens de como se coloca uma camisinha (com o auxílio de uma banana) e discutiu–se como integrá–la na relação.

Na elaboração do teatro, as três cenas foram apresentadas e comentadas por todos; e as situações criadas foram usadas como ponto de partida para refletirmos sobre os temas sugeridos: anticoncepção, primeira relação sexual, DSTs/ AIDS. Percebemos que os jovens tiveram alguma dificuldade em redigir a cena, inclusive nos deparamos com o fato de haver no grupo alguns jovens analfabetos, problema esse que tivemos que contornar na hora.

No teatro da tarde, foi introduzida a discussão das situações dramatizadas, ou seja, depois de apresentadas uma vez para a platéia, era pedido para ser repetida e então se parava a cena em determinados pontos. Situações eram trabalhadas, trocadas, identificando idades dos personagens e incentivando projeções de fantasias a respeito das mesmas.

Na segunda peça da tarde, os participantes usaram as informações da parte informativa para construir a cena. Os participantes mostraram maturidade tanto na construção da dramatização, como nos comentários que fizeram nas intervenções relativas às cenas.

Apareceu como conteúdo significativo, a fala de um jovem rapaz que se sente na obrigação de transar porque senão seria "zoado", isto é, os demais poderiam dizer que ele é gay. Mostraram–se, além desta, preocupações relativas à gravidez, primeiro contato sexual e busca pelo prazer imediato.

As Oficinas foram muito bem avaliadas pelos participantes, especialmente no período da tarde. Podemos ressaltar o fato de um jovem de 12 anos, participante da oficina da manhã, ter retornado à tarde como um dado positivo de avaliação da atividade. Percebemos que muitos jovens perguntavam quando iríamos voltar, e também agradeciam pelo trabalho desenvolvido ali. Isso, somado ao feedback dos profissionais da instituição nos leva a crer que as oficinas frutificaram como havíamos planejado.

Segunda Etapa: 2005 – Oficinas de reflexão do mundo jovem

São apresentadas aqui três das oficinas realizadas.

Oficina I – 29 de abril de 2005

Objetivo Específico: fazer um levantamento de questões e temas que fazem parte do universo destes jovens.

1– Contrato: estabelecimento de sigilo ético dentro do grupo e conosco;

2– Atividade de Apresentação: "dinâmica do barbante" (em roda, cada participante pegava o barbante, falava seu nome e o que mais gostava de fazer. Passava o barbante para outro dizendo porque o havia escolhido).

3– Atividade de Aquecimento: "Sentindo–se perdido". Os participantes do grupo foram vendados, colocados em fila para circular pela sala. Após um tempo, o grupo foi desmembrado e cada participante circulou sozinho. Com o término desta etapa, com os olhos já abertos, iniciou–se um relato sobre como se sentiram. A idéia era fazer com que falassem sobre os vários significados de estar perdido.

4– Atividades de Reflexão:

A) O grupo foi divido em 3 subgrupos. Em cada papel tinha uma pergunta que deveria ser respondida por cada um dos grupos. A troca dos grupos para responder às perguntas foi efetuada com a troca da música. As perguntas foram:

– O que é ser jovem?

–Quais assuntos me preocupam e sinto falta de discutir?

– Como eu usaria um espaço para discutir aquilo que me preocupa?

B) Os jovens foram divididos em três grupos com igual número de pessoas. A cada grupo solicitou–se criar uma música contendo assuntos que os interessassem, desenvolvendo uma coreografia para esta. Em seguida, cada grupo apresentou sua música e dança. Por fim, os grupos comentaram as letras que produziram.

5– Avaliação: em roda, cada participante disse em uma palavra o que achou ou sentiu a respeito das atividades propostas.

Materiais: barbante; lenço; revista; cola; tesoura; papel craft; aparelho de som e cds; papel sulfite; caneta.

Resultados:

Na primeira atividade, a dinâmica do barbante, os jovens participaram ativamente, embora tenham se mostrado, muitas vezes, constrangidos ao dizer por que passaram o barbante para o colega escolhido. Ao responder a questão "o que você mais gosta de fazer?", atividades bastante diversificadas foram apontadas, sendo que as que mais se repetiram foram: futebol (tanto jogar como torcer), ouvir música e comer.

Na atividade de aquecimento que tinha por objetivo explorar os possíveis sentidos de sentir–se perdido, os jovens comentaram sobre suas sensações e as respostas falavam sobre uma certa insegurança em andar no escuro.

Na primeira parte da dinâmica de reflexão, a elaboração dos cartazes, os jovens recortaram revistas e escreveram. Pudemos notar que a pergunta "Como eu usaria um espaço para discutir aquilo que me preocupa?" não foi bem compreendida. Isto talvez se deva ao fato do termo "espaço" não ser próprio do mundo desses jovens, assim como este tipo de pergunta não ser comum a eles.

A conversa com o grupo da tarde foi conduzida de maneira que diferentes imagens e textos elaborados nos cartazes fossem abordados e aglutinados em temas. Assim, a coordenadora apontava tais produções a fim de questionar de que modo aqueles assuntos os tocavam, propondo, após esta elucidação, palavras chaves que agrupavam os assuntos. Aqui os principais temas apontados foram: desigualdade social, drogas, namoro, sexo, violência, amizade e família.

O segundo momento da atividade de reflexão foi envolvente para o grupo da tarde, enquanto o grupo da manhã apresentou maior dificuldade em realizá–lo. Apesar disso, ambos os grupos compuseram as músicas propostas, retratando temas que lhes tocavam. No período da manhã, as músicas abordaram os temas: religião e futebol, questões sociais (violência, desemprego, entre outros) e drogas. No período da tarde, as músicas apresentavam os temas: identidade do morador da favela, discriminação social e desigualdade social. Além destes temas, uma das músicas, referindo–se as dificuldades de um jovem causadas pela exclusão social, mostrou–se como um pedido de ajuda ("ajuda aqui/ eu tô aqui/ tem jovem aqui...").

A partir da última atividade, pudemos notar que houve, nos dois períodos, uma boa avaliação da oficina por parte dos jovens e dos educadores presentes.

Oficina II – 06 de maio de 2005

Objetivo específico: Observação através da atividade proposta como vivem as situações referentes aos temas que se mostraram mais presentes na oficina anterior, tendo como tema principal os relacionamentos em geral, ou seja, relações amorosas, consigo mesmos, com o grupo e etc.

1) Retomada do contrato: foi falado um pouco da oficina anterior e sobre o que esperávamos deles e da oficina, estabelecendo melhor os limites de espaço e da condição para participar da oficina.

2) Apresentação: Os participantes em roda falaram de novo seus nomes numa breve reapresentação do grupo e da proposta.

3)Aquecimento: Com um tambor, foi pedido que os jovens andassem de acordo com o ritmo tocado, a partir daí aumentamos e diminuímos a velocidade das batidas. Dentro de um ritmo marcado quando demos uma batida forte eles pularam, quando duas eles gritaram e quando três, se agacharam.

4) Exercício de confiança: O grupo foi dividido em pequenos círculos de no mínimo 5 pessoas, com uma outra pessoa no centro. Esta foi jogada de um lado para o outro sendo aparada pelos participantes no círculo. Depois de um tempo a pessoa que estava no meio trocava com outra do círculo até que todos tivessem passado pelo centro. A idéia desta atividade era exercitar a confiança de um no outro se deixando jogar e confiando que não cairia. Foi feita uma reflexão com os participantes sobre o que sentiram.

5) Teatro: Dramatização de uma festa.

O grupo foi divido em três menores e cada sub–coordenador explicou o que seria a atividade e retomou um pouco do que aconteceu na oficina passada. Depois que estes explicaram a atividade, o coordenador tocou um trecho de cada tipo de música para inspirar os grupos a criarem uma pequena estória que se passaria em uma festa. Depois de escrita a estória, os sub–coordenadores deixaram seus grupos inventarem um pouco sozinhos, para que se sentissem mais à vontade. Depois os ajudaram a montar a infra–estrutura da festa (música, disposição das cadeiras,cenário, etc).

Terminado isso, cada grupo se apresentou enquanto os outros assistiam. Depois de todas as apresentações o coordenador fez um levantamento na lousa de algumas palavras e temas que surgiram nas apresentações que foram comentados com todo o grupo.

6)Finalização: Em roda cada um disse uma palavra sobre o que sentiu da oficina e os coordenadores também expressaram seus comentários sobre a participação dos jovens e das atividades realizadas.

Materiais: tambor; papel craft; fantasias; copos; mesa; cadeiras; giz; caneta; papel sulfite; aparelho de som e cds.

 

Resultados:

Todos os sub–grupos realizaram o aquecimento da maneira proposta e a atividade do teatro foi bem recebida por todos. Os jovens mostraram–se bastante interessados na elaboração e na montagem da encenação. Muitas idéias surgiram na criação da peça, mas várias foram descartadas por acharem que seriam inadequadas para serem apresentadas no local ou pela própria advertência dos educadores. Um momento que pode ilustrar esse quadro é um, no qual, alguns meninos estavam montando um cigarro de maconha de mentira e o educador pegou–o e pintou uma das pontas de cor laranja para ficar claro que seria um cigarro de tabaco.

Os conteúdos que mais apareceram foram álcool, relacionamento, violência e drogas, mais especificadamente a maconha.

O álcool foi apresentado como um elemento comum nas festas, mas alguns grupos mostraram que aqueles que bebiam em excesso acabavam atrapalhando o evento, pois ficavam agressivos ou tinham que ser levados ao hospital.

No caso do relacionamento, em quase todas as apresentações os temas "ficar" (beijar sem ter um compromisso formal) e namorar estavam presentes. A violência, por sua vez, foi retratada por brigas entre meninos que, na maioria das vezes, foi apartada pelos colegas ou pelo segurança do local da festa.

A maconha, apesar de ter sido repreendida pelos educadores algumas vezes na montagem da peça foi mostrada em algumas apresentações. O uso da droga foi tido como errado para uns e para outros não. Sobre essa questão uma das jovens afirmou que "fumar maconha em uma festa é tranqüilo, desde que seja do lado fora, porque tem gente que não gosta e seria uma falta de respeito com essas pessoas e o dono da festa".

Após a atividade, muitos disseram que freqüentavam danceterias e que, nelas, são servidas bebidas alcoólicas. Contaram que é normal beijar nas festas, mas, segundo eles, as meninas não podem ser "oferecidas nem ficar com mais de um no mesmo dia". Além disso, ressaltaram o fato de que, as boates geralmente possuem seguranças, pois as brigas são bastante freqüentes.

A avaliação que os participantes fizeram foi positiva, a maioria julgou esta oficina como melhor do que a anterior e definiram o dia com palavras como: legal, divertido, agitado, interessante, criativo.

Provavelmente o fato de utilizarmos como recursos a música e as fantasias, ajudou os jovens a se envolverem mais com o trabalho. Além disso, dessa vez, eles puderam colocar mais os elementos vivenciais da sua realidade, mesmo que com isto tenha provocado um desconforto e atitudes cerceadoras nos educadores presentes. A nós restou a questão de como trabalharíamos tais elementos na próxima oficina.

Oficina III: 03 de junho de 2005

Objetivo Específico: A partir dos temas e questões levantadas nas duas oficinas anteriores, trabalhar com os jovens as vivências dos processos de escolha quando se encontravam em situações–problema do cotidiano.

1) Apresentação: recapitulação das outras duas oficinas, apresentação dos coordenadores, além de dizer que esta era a última oficina do semestre.

2) Aquecimento: "Mas eu não posso ser eu mesmo"

Esta atividade visava proporcionar um momento de descontração onde os jovens pudessem ser "aquecidos" para a dinâmica principal e entrassem em contato de forma indireta com o tema proposto na oficina (escolha). Esta etapa da oficina tinha por objetivo uma experimentação da "perda" da livre escolha, do "abrir mão" dos desejos pessoais quando em atividade em grupo.

Primeiro foi dito aos membros do grupo para andarem pela sala. Eles poderiam andar para onde quiserem. Depois de alguns minutos, dissemos–lhes para que formassem pares. Os pares, de pé em qualquer lugar da sala, foram solicitados a amarrar as suas pernas, que ficavam do lado de dentro, juntas. Foi pedido, então, que andassem para onde quisessem. Em seguida, demos algumas instruções para explorar o exercício: andar mais depressa; andar mais devagar; andar acompanhando o ritmo de um instrumento ou palmas.

Depois de alguns minutos, pedimos aos pares que formassem equipes de quatro. Eles ficaram de pé, em fila e prenderam as pernas pelo lado de dentro. De acordo com essa formação, apenas aqueles que se encontravam na extremidade ficaram com uma das pernas livre. Depois pedimos aos grupos que andassem para onde quisessem.

3) Jogo das Escolhas (tabuleiro)

A partir de uma categorização de todas as questões levantadas nas oficinas anteriores, percebemos que os jovens traziam alguns grandes temas e subtemas. Como temas principais apareceram: violência, relacionamentos, aparência e futuro. Nos temas relacionamentos e aparência apareceram questões específicas e sub–temas, permitindo que os jovens escolhessem quais gostariam de trabalhar.

Em relacionamentos os subtemas foram: família (proibição, apoio e brigas), amigos (panelas, aventura e decepção) e namoro (beijo, sexo e amor).

Em aparência, destacaram–se os subtemas: preconceito (posição social, racismo e machismo), padrões sociais (vulgaridade, moda e TV) e auto–imagem (ídolos, corpo e valorização pessoal).

Em violência, os subtemas formaram uma situação problema criada pelos coordenadores para todos os grupos responderem. Os subtemas utilizados foram: futebol, álcool e briga.

Por último, no tema futuro, apareceram os subtemas sonho, estudos e trabalho.

Montamos então um tabuleiro num grande papel que foi estendido no chão em que constavam todas essas alternativas. A pontuação foi estabelecida previamente pelos coordenadores, que colaram os pontos por debaixo das palavras do tabuleiro. Sendo assim, quando um grupo escolhesse um assunto específico para ser trabalhado dentro do subtema, já tinha a pontuação correspondente.

Dando início à atividade, o grupo foi divido em três subgrupos, cada subgrupo tinha um coordenador para auxiliar na discussão. A meta do jogo era que cada grupo conseguisse chegar ao final com mais pontos. Para prosseguir no jogo, cada sub–grupo tinha que solucionar situações problemas propostas pelos coordenadores ou pelos outros sub–grupos.

Em seguida explicamos a atividade mostrando o tabuleiro do jogo e ilustrando com um exemplo. O exemplo dado foi: "Uma menina conhece um cara, eles começam a ficar e ele começa a mostrar para ela que está a fim de transar. Ela é virgem e tem medo, mas tem vontade e curiosidade. Teme o que os pais fariam se descobrissem. E então, o que ela faz?"

Materiais: um rolo de barbante; tabuleiro; fita crepe.

Ilustração do tabuleiro:

 

Resultados

 

Na primeira rodada o coordenador propôs a mesma situação de violência para os três sub–grupos: "Vocês estão numa festa dançando e bebendo. De madrugada, chega um grupo de meninos já meio bêbados e felizes porque seu time de futebol havia ganhado o jogo e começam a ofender outros times inclusive o de vocês. As meninas estão junto com vocês e correm o risco de se machucar se houver briga. O que vocês fazem?"

 

Tabela 1: Soluções formuladas pelos três grupos da manhã e tarde para a situação problema referente à temática violência.

 

Soluções

Grupo M1

Os homens ("caras") da festa tentariam conversar; se não entrassem em um acordo, chamariam a polícia.

Grupo M2

"A gente fala para eles irem embora; se eles não forem, a gente chama a polícia".

Grupo M3

"Os vizinhos pegam e chamam a polícia; como eles fizeram muito barulho, prendem o de maior. Quando eles foram embora, continuou a festa".

Grupo T1

As meninas iriam embora e os meninos brigariam.

Grupo T2

Tentariam se controlar, pois não vale a pena brigar por isso; chamariam os amigos para ir embora e os que quisessem ficar lá brigariam.

Grupo T3

Entrariam num acordo e finalizariam a festa.

 

No segundo círculo (relacionamentos), cada grupo tinha em sua frente um feixe com três assuntos relacionados aos sub–temas. Cada grupo optou por um deles e criou uma situação problema para outro grupo resolver. Ao final, verificamos quantos pontos correspondiam ao subtema.

 

Tabela 2: Situações Problema e Soluções formuladas pelos três grupos da manhã e da tarde de acordo com a escolha dos assuntos referentes aos subtemas família, namoro e amigos.

 

Subtemas

Assunto Escolhido

Situações Problema

Soluções

 

Namoro> beijo

X

"Como faço para beijar o

Grupo M2: "Espera

Grupo M1

Namoro> sexo

 

pai do meu filho que

ele sair ou desiste

 

Namoro> decepção

 

está preso e que tem namorada?"

dele".

 

Família> proibição

X

Uma filha quer ir ao

Grupo M3: " A

Grupo M2

Família> brigas

 

salão pois todas suas a amigas vão e ela quer

Menina tem que respeitar os pais,

 

Família> apoio

 

beijar e se divertir. Seus pais não a deixam ir porque ela não estuda, não ajuda em casa e não se comporta. O que ela faz para poder ir?

limpar a casa e estudar. Naquele dia ela não sai, mas depois, caso ela mude, ela sai."

 

Amigos> "panelas"

 

Um grupo de amigos vai

Grupo M1: " Eles

Grupo M3

Amigos> decepção

 

para Minas sem a

tinham que deixar

 

Amigos> aventura

X

permissão dos pais. Após ter acabado o dinheiro, não sabiam como voltar para casa. E agora?

de ser ‘birrão’ e ‘machão’, ligar para as mães ou ficar perdidos por lá mesmo".

 

Amigos> "panelas"

 


Dois amigos são unha e

Grupo T3: "terminar

Grupo T1

Amigos> decepção

X

carne. Um pega o outro

o namoro e tornar–

 

Amigos> aventura

 


beijando sua namorada. O que fazer?

se apenas colega do amigo; pois amizade mesmo, acabou."

 

Namoro> beijo

 

"Um casal namora há

Grupo T1: "Fazer o

Grupo T2

Namoro> sexo

X

dois anos, a menina era

exame para ver se

 

Namoro> decepção

 

virgem e eles transaram.

Depois, ele contou que tinha AIDS e que ela podia ter o vírus. O que fala mais forte: o amor ou o vírus?"

estava com AIDS. Se o resultado fosse positivo, o torturaria até a morte; pois, como ele sabia, foi sacanagem. Se desse negativo, mandaria ele para o inferno" .

 

Família> proibição

X

Pais mandam a filha

Grupo T2: Uma

Grupo T3

Família> brigas

 

trabalhar em casa

parte do grupo

 

Família> apoio

 

durante a semana e, no

final de semana, a proíbem de sair porque ela é muito nova. O que fazer?

acha: "Diálogos mais abertos com os pais e fazer o que eles querem sem resmungar". Outra parte alega: "Se ela é grande para arrumar a casa é também para sair".

 

No terceiro grupo (aparência) repetiu–se o procedimento anterior: cada grupo escolheu um assunto referente ao subtema, ganhou pontos e elaborou uma situação problema para o outro grupo:

 

Tabela 3: Situações Problema e Soluções formuladas pelos três grupos da manhã e da tarde de acordo com a escolha dos assuntos referentes aos subtemas padrões sociais, preconceito e auto–imagem.

 

Tabela 4: Situações Problema e Soluções formuladas pelos três grupos da manhã e da tarde de acordo com os subtemas estipulados previamente para cada grupo.



Subtemas


Situações Problema


Soluções


Grupo M1


Trabalho


"Um homem tava indo trabalhar e ele pegou um ônibus com um monte de maconheiros que não estavam respeitando os trabalhadores. Indo pra casa, ele foi assaltado e preferiu morrer a dar o dinheiro pra eles. O que ele faz?"

 


Grupo M2: "Devia ter morrido".


Grupo M2


Sonho


"O sonho da V. é que o L. saísse da cadeia pra ela ficar com ele. O problema é quando eles brigam, ele arruma outra namorada e ela fica aí... Como ela faz pra realizar esse sonho?"

 


Grupo M3: "Tem que esperar ele sair de lá primeiro pra depois a V. se declarar pra ele!"

 


Grupo M3


Estudo


"Uma mulher foi procurar emprego numa loja. Chegou lá, ela não sabia fazer conta. [ela fez até a 8ª série no esquema de aprovação automática] O que ela faz?".

 


Grupo M1: "Pedia ajuda pros parentes para aprender a fazer conta".


Grupo T1


Trabalho


Uma pessoa vai a busca do 1º emprego e tem uma dificuldade. Como ela lida com o fato de já ter idade para trabalhar e ainda ter que estudar?

 


Grupo T3: Procuraria algo para ter mais experiência.


Grupo T2


Sonho


Uma moça tem um sonho de comprar uma casa, um carro e trabalha, para isso, mas não terminou os estudos. Ela larga tudo e vai buscar a vida no exterior ou continua trabalhando?

 


Grupo T1: Ela deveria ir atrás do seu sonho, batalhar.


Grupo T3


Estudo


A menina está se formando na faculdade, ela encontra um emprego bom em outra cidade. Larga o estudo pelo emprego ou finaliza os estudos?

 


Grupo T2: Aceitaria o emprego, trancaria a faculdade e transferiria para a cidade nova.

 

 

Ao término somamos os pontos e venceu o grupo que teve mais pontos.

Na avaliação, cada um falou uma palavra do que achou do dia.

Quanto ao processo, na atividade de aquecimento alguns não participaram, pois disseram que "o barbante estava machucando" e por isso o tiraram. Aqueles que não quiseram participar permaneceram sentados observando os colegas que ainda realizavam a atividade. No período da tarde, isto fez com que os coordenadores realizassem um outro exercício com os jovens. Foram formadas duplas e foi pedido a cada par que ficasse um de frente para o outro. Em seguida, o coordenador pediu para que um representante da dupla encenasse como se comportava em duas situações (o que você faz quando acorda? E quando está na escola?). O outro integrante da dupla deveria ser seu espelho e imitar exatamente o que ele fizesse.

Pedimos para eles que os jovens falassem o que acharam ou o que sentiram durante o exercício. Em seguida pedimos para que cada grupo colocasse o que sentiu enquanto grupo. A opinião expressa no final da atividade, tanto no período da manhã quanto no da tarde, foi a de que é mais difícil andar em grupo porque cada um se movimenta de um jeito.

Nas avaliações, os jovens afirmaram que conseguiram aproveitar o espaço das oficinas e que gostaram muito das atividades. Alguns se manifestaram pedindo para que elas fossem mais dinâmicas e animadas. Houve sugestão de maior utilização de músicas, desenhos e debates.

 

Discussão

Consideramos que os dados foram tendo um caráter acumulativo, sendo que as características deste grupo de jovens ficaram mais evidenciadas principalmente na 2ª. e 3ª. oficinas de 2005.

Na segunda oficina (festa), quando eles se colocaram em ação, através da atividade de dramatização, os jovens puderam exibir mais espontaneamente os comportamentos de risco em relação ao uso de drogas e à sexualidade, que praticam ou gostariam de praticar em seu cotidiano. Havia a repreensão dos educadores presentes, mas que nem sempre inibiram a manifestação da representação dos comportamentos polêmicos.

Esta questão fica mais evidenciada nos quadros relativos ao jogo da última oficina, que acaba fornecendo um bom retrato do grupo em vários aspectos.

Primeiramente é possível fazer um paralelo entre as festas que eles fizeram na Oficina dois e as situações que criaram na terceira: falaram bastante sobre festas e situações envolvendo drogas, amizade, brigas. No entanto, talvez por terem que exibir um comportamento verbal que exigia maior elaboração, nem sempre na situação que eles montavam ou nas soluções dadas apareciam os comportamentos mais espontâneos, tendendo muitas vezes, especialmente na turma da tarde, a dar as respostas esperadas pelos educadores ou socialmente aceitas.

Podemos falar que os grupos são diferentes: os da tarde são mais concentrados, articulados e as garotas têm papel fundamental no grupo, mostrando–se mais identificados com o mundo adulto. Na manhã, são mais dispersos e dão soluções menos elaboradas para as questões, apresentando–se mais confusos e trazendo questões mais próprias do início da adolescência.

Na situação de violência aparece em ambos os períodos a tentativa de evitar briga buscando um entendimento verbal. Há diversas soluções, sendo que na manhã os jovens recorrem mais a outras pessoas ou à autoridade constituída (polícia) e a atitudes repressivas enquanto os jovens da tarde buscam resolver por si próprios o conflito, colocando as ações que eles empreenderiam.

Nas situações relacionadas aos relacionamentos, aparece um tema em comum nos períodos que é a questão da proibição familiar, trazendo conflitos ligados a não poder sair de casa e serem cobrados a fazer tarefas domésticas. Também em outras situações o grupo da manhã mostrou–se mais preocupado com os pais e com as autoridades, tendendo a dar solução pela obediência ou castigo. Na tarde, já aparece a possibilidade de questionamento da autoridade familiar, com uso de habilidades cognitivas e verbais. Quanto ao relacionamento com o outro sexo, no grupo da tarde, aparecem preocupações com a prática sexual, tendendo a tomar decisões e assumir as conseqüências das mesmas. Por outro lado, as respostas tendem a ser mais as que são esperadas pelo grupo adulto ou as mais convencionais. Já que as garotas tinham mais peso no grupo da tarde, e considerando que elas exibiam melhor habilidade no comportamento verbal exigido pela tarefa, podemos pensar que estes resultados refletem mais o universo feminino destas jovens do que a totalidade deles.

A preocupação com o grupo de amigos aparece de forma acentuada quer seja pela busca de parceria para atividades prazerosas, como para ter uma outra fonte de referência além da familiar, em termos de normas para os comportamentos.

Também no item aparência o grupo de pares é uma referência importante, o que apareceu mais claramente no processo de idealização das situações e soluções nos subgrupos.

Na situação de aparência, aparece uma maior ênfase em questões ligas ao universo feminino (machismo, moda), confirmando a prevalência da opinião feminina, especialmente no grupo da tarde.

Quanto às questões envolvendo o futuro, manhã e tarde apresentam situações bem distintas. O grupo da manhã traz situações mais próximas à sua realidade sócio–econômica, do cotidiano de um jovem que mora na favela (assalto, dificuldade de fazer contas e namorado sair da cadeia), enquanto o grupo da tarde cria situações mais idealizadas (menina na faculdade, sonho de comprar casa, tentar a vida no exterior), mais distantes de sua realidade cotidiana. As soluções do grupo da manhã, novamente passam por contarem com ajuda de outras pessoas enquanto os jovens da tarde deram saídas evasivas ou vagas, próprias de alguém que está se manifestando a partir de um campo mental, sem uma apropriação que atravessa o campo da ação.

Por outro lado, os dados de nosso grupo vão de encontro ao perfil do adolescente de "Sobradinho", uma comunidade de baixa renda do distrito federal, investigada por Sudbrack (1996), através da avaliação de 571 alunos de escola pública. Nesta parte de sua pesquisa, a autora relata que os jovens apresentam um projeto de vida ambicioso e "são otimistas com relação ao futuro", aspirando profissões de nível universitário (pg. 98).

O quadro que se apresenta quanto ao futuro mostra em primeiro lugar que aqui está o "calcanhar de Aquiles" deste grupo, que se mostrou identificado com os valores socialmente aceitos e reforçados pelos educadores da instituição. De fato, o que é reservado para estes jovens no campo profissional e de aperfeiçoamento pessoal? Possivelmente estes jovens não podem ter um período de moratória psicossocial em que podem experimentar papéis, antes de assumir as responsabilidades do mundo adulto.

Isto se liga a outro fator que observamos que é a questão trazida nas falas dos jovens ligadas à sua consciência da desigualdade social em que vivem e à pressão de viverem situações que não estão ao alcance de sua condição econômica, como por exemplo, "ir ao shopping". Pela falta de oportunidades estes jovens podem estar mais sujeitos a desenvolver uma identidade negativa (Erikson, 1968/1987, 1998) em que se identificam com os únicos papéis disponíveis ou aqueles que os demais julgam ser o seu (pais, educadores, amigos, etc.) e que não são aceitáveis socialmente. Na questão de escolha de comportamentos, até onde eles podem compartilhar uma perspectiva da maioria social, sem ficar algo postiço, relativo ao campo da identificação, sem possibilidade de experiência pessoal?

Como trabalhar com estes jovens a possibilidade de uma escolha pessoal que envolva uma responsabilidade viável de ser experimentada em relação aos seus comportamentos na sua vida cotidiana?

Estas são questões obrigatórias para um aprofundamento e reflexão do nosso grupo para a continuidade dos trabalhos com estes jovens. Já foi iniciado um estudo teórico dos temas trazidos pelos jovens _ violência, aparência, relacionamento e futuro, atravessados pela questão da escolha _ , buscando maior conhecimento desta população específica.

Além disto, há as questões transferenciais do próprio grupo de coordenadores, que são jovens universitários de um extrato social mais favorecido. Além disto, também em nosso grupo predominam as mulheres. Sendo assim, fica fácil entender porque o grupo teve muito mais facilidade de trabalhar com o pessoal da tarde, que se mostrava aos nossos olhos mais amadurecidos. Uma questão também a ser elaborada pelo grupo é sua maior dificuldade com os jovens mais fortemente característicos do grupo inicial da adolescência, masculino e mais típico deste extrato social.

 

Considerações Finais

Apresentamos os resultados parciais na medida em que o Projeto está em andamento. Porém, a partir da avaliação realizada com os educadores, coordenadora de Educação dos jovens e no próprio grupo, as oficinas realizadas atingiram os objetivos propostos em relação aos jovens participantes. Além disto, cumpre também com as metas do grupo relativas à extensão, no que tange ao atendimento de demandas da comunidade e à articulação com atividades de ensino e pesquisa. Além disto, alcança as principais metas colocadas pela atual tutoria por promover a integração do grupo e aperfeiçoamento de seus componentes enquanto futuros profissionais engajados no levantamento de questões relativas à cidadania e inclusão social.

 

Referências Bibliográficas

AFONSO, L. (2000). Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção psicossocial. In: AFONSO, L. (org) Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. Belo Horizonte: Edições do Campo Social.        [ Links ]

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Folha de São Paulo. 2004. Domingo dia 24 de outubro.        [ Links ]

ERIKSON, Erik H. (1968). El Ciclo Vital Humano. In: ERIKSON, Erik H. (Compilador: Stefhen Schlein) (1994) Um modo de ver las cosas: Escritos selectos de 1930 a 1980. (pp. 532– 546). México: Fondo de Cultura Econômica.        [ Links ]

ERIKSON, Erik H. (1987). Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Editora Guanabara. (Originalmente publicado em 1968).        [ Links ]

ERIKSON, Erik H. (1998). O Ciclo de Vida Completo. Porto Alegre: Artes Médicas.        [ Links ]

LYON JR, Harold C. 1997. Aplicando as Técnicas Humanistas às Situações de Sala de Aula, Ed. Martins Fontes.        [ Links ]

PEREIRA, Antônio Carlos Amador. 2005. O Adolescente em Desenvolvimento. São Paulo. Ed. Harbra.        [ Links ]

SUDBRACK, Maria de Fátima Oliver. 1996. Construindo Redes Sociais: Metodologia de Prevenção a Drogadição e à Marginalização de Adolescentes de Famílias de Baixa Renda. In: MACEDO, R.M. (org) Família e Comunidade. S.P.; Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Psicologia. Coletâneas de ANPEPP, nº 2, 136p.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Rosa Maria Tosta
E-mail: rosamariarmt@terra.com.br
Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
E-mail:psicopuc@pucsp.br

 

 

1Profa. Associada da Faculdade de Psicologia, Doutora em Psicologia Clínica, tutora do grupo PET até dezembro de 2005 e orientadora do trabalho.

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