SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 issue18A Psicologia do Esporte na iniciação esportiva infantilLa violencia psicológica al anciano en la familia author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Psicologia para América Latina

On-line version ISSN 1870-350X

Psicol. Am. Lat.  no.18 México Nov. 2009

 

PROCESOS PSICOLÓGICOS EN ADULTOS MAYORES

 

Motivação de idosos para a adesão a um programa de exercícios físicos

 

Motivación de ancianos a la adhesión a un programa de ejercicios físicos

 

Elders' motivation for being commited to a physical exercises program

 

 

Giovana Zarpellon MazoII; Simone Teresinha Meurer*,I; Tânia Rosane Bertoldo BenedettiI

IUniversidade Federal de Santa Catarina
IIUniversidade Estadual de Santa Catarina

 

 


RESUMO

Considerando a importância da adesão e manutenção a um estilo de vida ativo entre a população idosa, evidencia-se a necessidade de ampliar os conhecimentos em relação aos fatores motivacionais à prática de exercícios físicos deste grupo. Objetivou-se analisar os fatores e índices motivacionais para a adesão de idosos a um programa de exercício físico. Participaram 42 idosos iniciantes em um programa de exercícios físicos. Foi utilizado o Inventário de Motivação para a prática regular de atividades físicas. Os fatores motivacionais evidenciados pelos idosos foram: a saúde, o prazer pela prática e a sociabilidade, classificados como sendo de motivação alta ou média. Os fatores motivacionais destacados podem ser classificados como de motivação intrínseca ou como fatores de motivação extrínseca de integração, representando comportamentos autônomos em relação à prática de exercícios físicos. O estudo traz um importante avanço no entendimento da motivação de idosos para a inserção em programas de exercícios físicos por meio da teoria da autodeterminação.

Palavras-chave: Motivação, Exercício físico, Idosos.


RESUMEN

Considerando la importancia de la adhesión y de la manutención de un estilo de vida activo por la población anciana, se detecta la necesidad de extender los conocimientos acerca de los factores que la motivan a la práctica de ejercicios físicos. Se buscó analizar los factores e índices de motivación y de adhesión  de ancianos a un programa de ejercicios físicos. Participaron 42 ancianos, iniciantes de un programa de ejercicios físicos. Fue usado el Inventario de Motivación para la práctica regular de estas actividades. Los factores de motivación evidenciados en los ancianos fueron: la salud, el placer por la práctica y la sociabilidad, clasificados como de motivación alta o mediana. Estos factores pueden ser clasificados como de motivación intrínseca o como de motivación extrínseca de integración, representando comportamientos autónomos respecto a tales prácticas. El estudio aporta un importante avance en la comprensión de la motivación de ancianos para la inserción en programas de ejercicios físicos a través de la teoría de la autodeterminación.

Palabras clave: Motivación, Ejercicios físicos, Ancianos.


ABSTRACT

Considering the importance of the adoption and the maintenance of an active lifestyle among the elder people, it is evidenced the needs of broadening the knowledge in relation to the motivation factors to the physical activities in this group. The present paper aimed at analyzing the factors and motivational indexes for the adoption of physical exercises by elder people in a program. 42 elder people participated in a program of physical exercises. It was utilized the Motivation Inventory for the regular practice of physical activities. The motivation factors evidenced by the elder people were the health, the pleasure for the practice and sociability, classified as being of high or medium motivation. The highlighted motivational factors can be classified like either of intrinsic motivation or of extrinsic integrative motivation, representing autonomous behaviors in relation to the physical exercises practice. Thus, the study is an important advance in the understanding of the motivation of elder people for the insertion in physical exercises program by means of the theory of self-determination.

Keywords: Motivation, Physical exercises, Elder people.


 

 

INTRODUÇÃO

Os dados demográficos demonstram que o Brasil passa por um processo de envelhecimento populacional (IBGE, 2000) e as preocupações centram-se em possibilitar que o envelhecimento seja com boa qualidade de vida, enfocando, especialmente, a promoção da saúde, prevenção de doenças e acesso a cuidados primários e de longo prazo (WHO, 2005).

A atividade física vem sendo apontada como um dos fatores comportamentais que contribui para um envelhecimento saudável, prevenção da morbidade e mortalidade em idosos (BOOTH et al., 2000), uma vez que reduz o risco de doenças coronárias, diabetes, osteoporose e hipertensão, entre outras (BOUCHARD & DESPRES, 1995); atuando positivamente na saúde mental (NETZ et al., 2005) e na prevenção de quedas (BARNETT et al., 2006).

Ao mesmo tempo em que as evidências mostram benefícios decorrentes da atividade física, estudos indicam que a inatividade física entre os idosos tem alta prevalência. A partir de amostras representativas e de base populacional, estudos realizados em São Paulo, apontam para a prevalência de inatividade física em torno de 70% (ZAITUNE et al., 2007). A inatividade física atinge grande parte da população idosa, representado nos 50,3% das mulheres e 65,4% dos homens acima dos 65 anos, em pesquisa realizada nas capitais brasileiras (BRASIL, 2007).

Diante desta problemática, diferentes estudos vêm investigando quais são os fatores determinantes para a adesão de idosos a programas de exercícios físicos. Dentre os principais resultados, estudos mostram a saúde e aptidão física como fatores motivacionais para a prática de exercícios físicos (KIRKBY et al., 1999; KOLT et al., 2004; MAZO, CARDOSO & AGUIAR, 2006; FREITAS et al., 2007), a sociabilidade (CARDOSO et al., 2008) e a auto-eficácia (TANG & WONG, 2005). Outros estudos têm focado as investigações nas barreiras para a prática de exercícios físicos, identificando, por exemplo, os problemas de saúde (SANTARIANO et al., 2000; DERGANCE et al., 2003; CROMBIE et al., 2004); a falta de companhia e de interesse, a fadiga (SANTARIANO et al., 2000); o ambiente e a falta de conhecimento sobre a relação atividade física e saúde (SCHUTZER & GRAVES, 2004).

A partir do momento que o idoso começa a participar de um programa de exercício físico, pode-se identificar um passo significativo para uma mudança positiva de comportamento. Porém, são necessários esforços por parte dos gestores e professores do programa para evitar o abandono/desistência, uma vez que há registros de desistência significativamente altos nos programas de exercício físico e/ou reabilitação, especialmente, nos primeiros três a cinco meses (RAMOS, 2001; CARDOSO et al., 2008).

Desta forma, o presente estudo preocupa-se em identificar e compreender os fatores motivacionais para a adesão de idosos iniciantes em um programa de exercícios físicos. Este fato permitirá avanços na proposta do programa investigado, no sentido de voltar-se aos interesses dos idosos e acompanhar de forma mais próxima aqueles com maior propensão à desistência.

Diferentes modelos teóricos da motivação já foram desenvolvidos para esclarecer o comportamento relacionado ao exercício físico, sendo que se evidenciam estudos que empregaram a Teoria da Autodeterminação (TAD), que compreende a motivação em diferentes níveis (intrínseca ou extrinsecamente), ou ainda, ser amotivado durante a prática de uma atividade (RYAN & DECI, 2000).

A TAD propõe que quando os indivíduos são motivados de forma autônoma em suas ações (intrinsecamente), experimentarão mais interesse e confiança, manifestada no desempenho e na persistência. Já na motivação extrínseca, o comportamento é regulado por contingências externas, referindo-se às ações controladas, tais como recompensas ou motivações estimuladas por meios externos, mas que passam a ser importantes para o indivíduo. A amotivação, caracteriza-se como aquela em que o indivíduo não visualiza nenhuma razão importante para a realização da atividade, podendo não participar ou participar sem interesse (RYAN & DECI, 2000).

Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo geral analisar os fatores e índices motivacionais para a adesão de idosos a um programa de exercício físico realizado nos Centros de Saúde de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Destaca-se que a identificação e análise destes fatores a partir da TAD, mostram-se de suma importância para a interpretação do comportamento dos idosos.

Como objetivos específicos, procurou-se identificar os fatores e índices motivacionais dos idosos para a adesão ao programa de exercício físico e verificar se existe relação entre os fatores e índices motivacionais para a adesão ao programa de exercício físico e o sexo (feminino e masculino), a faixa etária e o estado civil dos idosos.

 

METODOLOGIA

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, projeto nº 078/2008.

Os idosos foram informados sobre a pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE em duas vias, ficando uma de posse dos idosos e outra dos pesquisadores.

Todos os participantes do estudo foram idosos iniciantes do Programa Floripa Ativa – Fase B, no ano de 2008, com exceção de um idoso, que manifestou desinteresse em participar. Assim, os sujeitos do estudo foram 42 idosos, 33 do sexo feminino e 9 do sexo masculino, iniciantes no programa Floripa Ativa, fase B, nos Centros de Saúde (CS) de João Paulo, Lagoa da Conceição, Estreito e Santo Antônio de Lisboa. A idade dos participantes variou entre 60 e 87 anos, com média de 65 anos (dp=1,26).

Na classificação por sexo, 33 eram mulheres e n=9 homens. Destes, n=39 idosos eram casados; n=11 eram viúvos e n=2 separados ou solteiros. Assim, identificou-se que, em sua maioria, estes idosos eram do sexo feminino, casados (as) e idosos jovens.

O programa Floripa Ativa da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, SC, acontece nos CS do município de Florianópolis/SC e teve seu início em junho de 2006. Neste programa, existem três fases A, B e C, que estão relacionadas a programas de exercício físico com os pacientes e idosos. A fase A refere-se à reabilitação cardiovascular, pulmonar e metabólica; a fase B a prevenção secundária e terciária; e a fase C com a prevenção primária, secundária e promoção em saúde.

A fase B do programa Floripa Ativa tem como principal objetivo a prevenção secundária e terciária e atende idosos com comorbidades leves a moderadas, e aqueles já reabilitados na Fase “A”. Consiste em aulas de ginástica realizadas três vezes/semana, com duração de 60 minutos/sessão, enfatizando as diferentes qualidades físicas, principalmente, força, equilíbrio, flexibilidade, coordenação e resistência aeróbia. Atualmente, esse programa acontece em 8 (oito) CS, sendo que 4 (quatro) destes iniciaram suas atividades no ano de 2008, estando ainda em processo de implementação e consolidação.

Para identificar os fatores motivacionais dos idosos para a adesão ao programa Floripa Ativa – Fase B, foi utilizado o Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividades Físicas – IMPRAF 54 (BALBINOTTI & BARBOSA, 2006) que foi construído nos pressupostos da teoria da autodeterminação.

Este instrumento, validado para diferentes faixas etárias, desde adolescentes a idosos (Alpha de Cronbach superior a 0,82 em todas as dimensões avaliadas), tem a proposição de medir os seis fatores (controle de estresse, saúde, sociabilidade, competitividade, estética e prazer) associados à motivação para a prática regular de atividades físicas que aparecem citadas na literatura (CAPDEVILA et al., 2004; Gaya & Cardoso, 1998; MARKLAND & INGLEDEW, 1997; RYAN et al., 1997). É constituído por 54 itens, agrupados em 9 blocos e que são, de forma individual, avaliados por meio de uma escala Likert de 5 pontos, “isso me motiva pouquíssimo” a “isso me motiva muitíssimo”.

Por meio desta escala são identificados os fatores que são considerados mais motivadores para a prática de atividade física. Para contextualizar os resultados, são utilizadas tabelas normativas, fornecidas no manual de aplicação do instrumento, sendo que os escores brutos são transformados em percentis que permitem comparar o desempenho do avaliado com seu grupo de acordo com sexo e idade. Portanto, permite comparar os resultados, fornecendo índices de motivação que podem ser classificados em motivação alta, média ou baixa.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista individual no local onde são realizadas as aulas, sendo agendados horários antes e após as mesmas. As coletas foram realizadas por profissionais de Educação Física e acadêmicos bolsistas, devidamente treinados para a aplicação do instrumento.

Os dados foram analisados com auxílio do programa SPSS for Windows 15.0. Utilizou-se o teste de Shapiro Wilk para verificar a normalidade dos dados. Identificados os dados não-normais, utilizou-se o teste não paramétrico de Kruskall-Wallis e Mann-Whitney. O objetivo foi verificar a diferença entre a pontuação do Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividades Físicas e as variáveis sociodemográficas (estado civil, sexo e extratos etários). Também foi utilizada a estatística descritiva com as medidas de tendência central, dispersão, freqüência e tabelas de contingência.

 

RESULTADOS

Foram pesquisados 42 idosos, iniciantes em um programa de exercícios físicos em 4 CS na cidade de Florianópolis. A média de idade dos participantes foi de 65 anos (dp=8,18) e n=33 eram mulheres e n=9 homens.

Na Tabela 1, apresenta-se o perfil motivacional do grupo, identificando que as dimensões saúde, prazer e sociabilidade são os principais fatores pelos quais os idosos iniciaram a participação no programa de exercícios físicos, enquanto que competitividade e estética foram os fatores menos pontuados.

 

 

Os fatores motivacionais podem ser assim interpretados: controle de estresse: alívio das angustias; saúde: refere-se ao interesse nos possíveis benefícios decorrentes do exercício físico para a saúde; competitividade: fator que mede o interesse em competir, concorrer e ganhar prêmios; estética: querer ter ou ficar com o corpo bonito ou definido; prazer: a atividade física é vista como uma fonte de satisfação, sensação de bem-estar e sociabilidade, oportunidade para encontrar, estar ou reunir com amigos (BALBINOTTI & BARBOSA, 2006).

Ao lançar os valores atribuídos à cada fator na tabela normativa, foi possível localizar cada um dos participantes na tabela percentílica. Desta forma, pode-se identificar se os fatores motivacionais saúde, prazer e sociabilidade, apontados como motivos para a adesão à prática de exercícios físicos representam índices de motivação alta, média ou baixa, quando comparado às pessoas do mesmo sexo e faixa etária.

Na Tabela 2, apresenta-se a distribuição dos participantes nas três categorias (saúde, prazer e socialização) e o índice de motivação (baixo, médio e alto) destes.

 

 

Conforme a Tabela 2, os fatores motivacionais evidenciados (saúde, prazer e sociabilidade) quando localizadas na tabela percentílica, são classificados, pela maioria dos participantes, como sendo índices de motivação média ou alta.

Na análise individual das respostas dos participantes, identificou-se que 26 participantes classificaram pelo menos dois (2) fatores nos percentis considerados como motivação alta; 10 apresentaram um (1) fator dentro da categoria motivação alta e 6 dos participantes, não classificaram nenhum dos fatores dentro dos percentis de motivação alta.

Na Tabela 3, pode-se visualizar a distribuição percentílica (F e %) das dimensões saúde, prazer e sociabilidade de motivação de acordo com o índice de motivação e o sexo (feminino e masculino).

 

 

Pode-se identificar que nenhum dos participantes do sexo masculino apresentava índices de motivação baixa nos fatores analisados. A freqüência maior do sexo masculino foi localizada na categoria motivação alta, enquanto que a freqüência maior do sexo feminino esteve na média.

Na Tabela 4, são apresentados os resultados obtidos quando os fatores motivacionais foram comparados entre os sexos.

 

 

Conforme apresentado na Tabela 4, identificam-se diferenças estatisticamente significativas para os ranks das dimensões saúde e prazer entre os sexos, enquanto que em relação à sociabilidade, não houve diferenças.

Já em relação ao estado civil e faixa etária, nenhuma diferença significativa foi identificada em relação à pontuação obtida no Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividades Físicas.

 

DISCUSSÃO

A maioria dos participantes do estudo são mulheres e todos são iniciantes no programa de exercícios físicos oferecidos pela prefeitura, fato que pode estar relacionado ao fenômeno da feminização do envelhecimento. Com a diminuição das taxas de mortalidade materna e de fertilidade por mulher, associado às melhorias do padrão de vida das pessoas de meia idade, houve a extensão da sobrevida na velhice, principalmente das mulheres, que já vinham mais protegidas em relação aos fatores de risco (NERI, 2007).

A feminização da velhice também vem sendo apontada no Brasil por dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domiciliares (PNAD), na qual foram identificados 8.839 homens e 11.116 mulheres na faixa etária de 60 anos ou mais (PNAD, 2008).

O envelhecimento é acompanhado por muitas perdas e, dentre estas, as perdas biológicas que acarretam conseqüências negativas para a saúde, uma vez que o aparecimento de doenças é muito comum dentre os idosos.

No perfil motivacional apresentado, a saúde foi apontada como o principal fator de adesão ao programa de exercícios físicos e este resultado corrobora outras investigações realizadas com idosos, quando a maioria é motivada pela manutenção da saúde e de bom nível de aptidão física para a saúde (KIRKBY et al., 1999; KOLT et al., 2004; FREITAS et al., 2007; STIGGELBOUT et al., 2008).

A divulgação positiva dos meios de comunicação e científicos sobre a importância da prática de exercícios físicos para a saúde, pode ser uma das razões pela qual o fator motivacional saúde recebeu maior pontuação (MOTA, 2004).

Todos os participantes do presente estudo tiveram recomendação do médico do CS para iniciarem o programa de exercícios físicos por enquadrarem-se nas características de sujeitos com comorbidades leves ou moderadas. Portanto, considera-se a possibilidade de que a “falta” de saúde dos participantes possa ter influenciado sobre a elevada pontuação recebida pelo fator saúde.

Assim, a evidência recebida pelo fator saúde pode ter relação com a indicação médica e com o enfoque que esta vem recebendo no entendimento público e científico. Pode-se identificar que, nesse caso, acontece uma integração, ou seja, as motivações extrínsecas passam a fazer parte do comportamento do indivíduo e passam a ser consideradas como importantes para este. De acordo com Ryan & Decy (2000), a integração é a forma mais autônoma de motivação extrínseca.

O prazer pela prática, representando a possibilidade de bem-estar e satisfação obtida a partir da participação em exercícios físicos, foi o segundo fator mais apontado pelos idosos do presente estudo. Um sujeito intrinsecamente motivado é aquele que ingressa na atividade por vontade própria, diga-se, pelo prazer e pela satisfação de conhecer uma nova atividade (RYAN & DECY, 2000).

Em estudo realizado com idosos da cidade de Belo Horizonte (BR), o prazer pela prática foi apontado como um motivo para ingressarem em um programa de exercício físicos (LINS & CORBUCCI, 2007). Os autores destacam que ter o prazer como o motivo mais referenciado para ingressar em programa de exercícios físicos, é uma motivação intrínseca que evidencia o desejo pessoal associado à realização e satisfação em estar em um grupo social, com manifestações de respeito, cumplicidade e reconhecimento social, desejos que se tornam importantes, principalmente, nesta fase da vida. Muitas vezes, em outros contextos sociais, há exclusão dos idosos.

A evidência recebida pelo fator prazer como motivo para a inserção no programa de exercícios físicos pode ter relação com o fato das coletas de dados terem sido realizadas em período inicial (1 à 3 meses) de inserção no programa. Assim, a sensação de bem-estar proporcionada pelo exercício, especialmente, para idosos que eram sedentários, pode ter interferido sobre esta pontuação, sendo que os efeitos benéficos do exercício físico se evidenciam com maior ênfase no período inicial.

Outra perda evidenciada pelo envelhecimento é o espaço social, principalmente, após o evento da aposentadoria e os programas de exercícios físicos podem representar esta convivência entre amigos (Weinberg & Gould, 2001).

O fator sociabilidade, pontuado como um motivo importante para inserção no programa de exercícios físicos pode apresentar uma relação com novas possibilidades de amizades.

A sociabilidade foi um fator de grande importância para a inserção de idosos em um programa de hidroginástica, os idosos parecem ser carentes de contato social (CERRI & SIMÕES, 2007).

O fator sociabilidade tende a contribuir positivamente sobre o tempo de permanência no programa (MARKLAND & INGLEDEW, 1997), ao contrário de fatores como perda de peso e aparência. A sociabilidade corresponde a uma necessidade psicológica do indivíduo, a de ser aceita num grupo, e a satisfação dessa necessidade está associada à motivação intrínseca do indivíduo, representando um aspecto favorável para a manutenção dos idosos no programa de exercício físico.

Ao considerar os três fatores motivacionais (saúde, prazer, sociabilidade), identificados pelos idosos como mais relevantes para a inserção no programa de exercícios físicos, pode-se identificar que, mesmo quando o fator saúde está associado à indicação médica, a pontuação recebida pelos fatores prazer e sociabilidade evidencia que os idosos apresentam interesses autônomos para esta prática. Ainda, analisando esses fatores de acordo com os índices de motivação, identificou-se que para a maioria dos idosos a saúde, o prazer e a socialização são fatores que representam motivação alta ou média. Os iniciantes do programa de exercícios físicos apresentam grandes chances de permanecer no mesmo.

Foi observado, ainda, que 26 idosos se localizaram dentro de percentis que os classificam na categoria de motivação alta para mais de um fator. O índice motivacional desses sujeitos é alto, quando comparados a outros do mesmo sexo e faixas etárias por meio de tabelas normativas. Ao apresentar um ou mais fatores na categoria motivação alta, o participante apresenta mais de uma razão importante para sua permanência no programa. Ao mesmo tempo, evidencia a importância de fornecer suporte e incentivo aos idosos que não pontuaram nenhum dos fatores como aspectos de motivação alta (6 idosos), o que os coloca numa condição de risco para a desistência.

Foram identificadas diferenças estatisticamente significantes entre as médias de pontuação que foram atribuídas ao fator saúde e prazer entre os sexos, sendo que os homens tiveram uma pontuação mais positiva nesses fatores. Também, na análise dos índices motivacionais, pode-se perceber que nenhum dos participantes do sexo masculino se enquadrou em “motivação baixa”.

Dentre as razões que podem estar relacionadas a este fato, aponta-se que as mulheres tendem a ter auto-conceito e percepção de bem-estar menor que os homens (PINQUART & SÖRENSEN, 2001). Newsom et al. (2004) identificaram que as mulheres apresentaram maior tendência a indicar a falta de saúde e a falta de habilidade como barreiras para mudanças de comportamento em relação à atividade física. Desta forma, os resultados do presente estudo, mostram maior índice motivacional do sexo masculino, o que pode ter relação com a percepção do auto-conceito e das barreiras para a inserção na prática de atividades físicas.

Em relação à faixa etária e o estado civil, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes dos fatores motivacionais, fato que pode estar atrelado ao pequeno número de idosos pesquisados e baixa variabilidade no que se refere à faixa etária e o estado civil, sendo a maioria, idosos jovens e casados.

Os comportamentos relacionados à saúde, tal como a prática de exercício físico, são influenciados não somente por motivações do indivíduo, mas igualmente pelas estruturas, pelas oportunidades e pelas políticas que existem dentro de suas comunidades (DAMUSH et al., 2005).

Os achados deste estudo demonstram que os idosos apresentam diferentes fatores e altos índices motivacionais para a inserção em um programa de exercícios físicos. Porém, a inserção na prática acontece de forma associada a uma oportunidade, ou seja, para que haja inserção em programas de exercícios físicos, há necessidade de serem oferecidos tais programas para os idosos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os fatores motivacionais evidenciados pelos idosos iniciantes em um programa de exercícios físicos foram: a saúde, o prazer pela prática e a sociabilidade. Ao considerar os índices motivacionais, estes fatores foram classificados como sendo de motivação alta ou média, ou seja, os idosos apresentaram altos índices de motivação para aderir a um programa de exercícios físicos.

De acordo com a TAD, pode-se considerar que os idosos apresentam grandes possibilidades de se manterem no programa, pois a maioria apresenta mais de um fator motivacional dentro da categoria motivação alta. Ainda, os fatores motivacionais destacados podem ser classificados como de motivação intrínseca ou como fatores de motivação extrínseca de integração, como no fator saúde, representando comportamentos autônomos em relação à prática de exercícios físicos.

Os homens apresentaram índices motivacionais mais elevados do que as mulheres e, em relação à faixa etária e o estado civil, nenhuma diferença foi identificada.

O estudo traz um importante avanço no entendimento da motivação de idosos para a inserção em programas de exercícios físicos por meio da teoria da autodeterminação. Ela permite a identificação e compreensão dos fatores e índices motivacionais e auxilia no delineamento do trabalho com os idosos participantes, podendo colaborar na manutenção deste grupo no programa de exercícios físicos, recentemente implantado.

Além disso, aponta-se para a possibilidade de estender o presente estudo para os demais participantes do programa, o que permitiria o delineamento do perfil motivacional destes e posteriores intervenções no programa, objetivando a permanência dos idosos no programa de atividade física para a manutenção de sua capacidade funcional.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALBINOTTI, M. A. A. & BARBOSA, M. L. L (2006). “Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividades Físicas (IMPRAF – 126)”. Manual Técnico de Aplicação. Laboratório de Psicologia do Esporte – Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Porto Alegre.        [ Links ]

BARNETT, A., SMITH, B., LORD, S. R., WILLIAMS, M., & BAUMAND, A. (2003) “Community-based group exercise improves balance and reduces falls in at-risk older people: A randomised controlled trial”. Age and Ageing. Vol. 32, p. 407-414.         [ Links ]

BOOTH, F.W., GORDON, S.E., CARLSON, C.J., HAMILTON, M,T. (2000) “Waging war on modern chronic diseases: primary prevention through exercise biology”. Journalof Applied Physiology. v.88, n.2, p. 774-787.        [ Links ]

BOUCHARD, C. & DESPRES, J. (1995). “Physical activity and health: Atherosclerotic, metabolic and hypertensive diseases”. Research Quarterly for Exercise and Sport. Vol. 66, p. 268-275.         [ Links ]

BRASIL (2007). MINISTÉRIO DA SAÚDE. “Vigitel Brasil 2006: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico”. Brasília.        [ Links ]

CAPDEVILA, L.; NIÑEROLA, J.; PINTANEL, M. (2004) “Motivación y actividad física: el autoinforme de motivos para la práctica de ejercicio físico (AMPEF)”. Revista de Psicología del Deporte, v.13 n.1 p.55-74.        [ Links ]

CARDOSO, A. S. et al. (2008) “Fatores influentes na desistência de idosos em um programa de exercício físico”. Movimento. Vol.14, n.1, p. 225-239.        [ Links ]

CERRI, A.S; SIMÕES, R. (2007). “Hidroginástica e Idosos: por que eles praticam?”. Movimento.Vol.13, n. 01, p.81-92.         [ Links ]

CROMBIE, I.K. et al. (2004). “Why older people do not participate in leisure time physical activity: A survey of activity levels, beliefs and deterrents”. Age and Ageing, Vol. 33, p. 287-292.         [ Links ]

DAMUSH, T.M. et al. (2005). “Motivational Factors Influencing Older Adults Diagnosed With Knee Osteoarthritis to Join and Maintain an Exercise Program”. Journal of Aging and Physical Activity. Vol. 13, p. 45­-60.        [ Links ]

DERGANCE, J.M. et al. (2003). “Barries to and benefits of leisure time physical activity in the elderly: differences across cultures”. Journal of American Geriatrics Society. Vol. 51, no. 6, p. 863-868.         [ Links ]

FREITAS, C.M.S.M et al. (2007). “Aspectos motivacionais que influenciam a adesão e manutenção de idosos a programas de exercícios físicos”. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis. Vol. 9, no. 1, p. 92-100.        [ Links ]

Gaya, A.; Cardoso, M. (1998). “Os fatores motivacionais para a prática desportiva e suas relações com o sexo, idade e níveis de desempenho desportivo”. Revista Perfil, v.2 n.2 p.40-51.         [ Links ]

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) (2000). Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro.         [ Links ]

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios (PNAD) 2007. Disponível em: www.ibge.gov.br/home>. Acesso em 10 de setembro de 2008.        [ Links ]

KIRKBY, R. J., KOLT, G. S., HABEL, K., & ADAMS, J. (1999). “Exercise in older women: Motives for participation”. Australian Psychologist. v. 34, p.122-127.         [ Links ]

KOLT, G. S., DRIVER, R. P., & GILES, L. C. (2004). “Why older Australians participate in exercise and sport”. Journal of Aging & Physical Activity. Vol. 12, p. 185-198.         [ Links ]

LINS, R.G.; CORBUCCI, P.R. (2007). “A importância da motivação na prática de atividade física para idosos”. Estação Científica Online. n. 4.         [ Links ]

MARKLAND, D.; INGLEDEW, D. K. (1997). “The measurement of exercise motives: Factorial validity and invariance across gender of a revised Exercise Motivations Inventory”. British Journal of Health Psychology. Vol. 2, p.361–376.         [ Links ]

MAZO, G.Z.; CARDOSO, F.L.; AGUIAR, D.L. de. (2006). “Programa de Hidroginástica para idosos: motivação, auto-estima e auto-imagem”. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano. Vol.5, n. 2, p. 67-72.         [ Links ]

MOTA, J. (2004). Desporto como Projecto de Saúde. In: Gaya, A.; Marques, A.; Tani, G. (Org.) Desporto para Crianças e Jovens: razões e finalidades. Porto Alegre, Editora da UFRGS, p. 171-186.        [ Links ]

NERI, A.L. (2007). Feminização da velhice. In: Idosos do Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. Anita Liberalesso Néri (org). São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Edições SESC.        [ Links ]

NETZ, Y., WU, M. J., BECKER, B. J., & TENENBAUM, G. (2005). “Physical activity and psychological well-being in advanced age: A meta-analysis of intervention studies”. Psychology and Aging. Vol. 20, p. 272-284.         [ Links ]

NEWSOM, JT; KAPLAN, M.S; HUGUET, N; MCFARLAND, B.H. (2004). “Health Behaviors in a Representative Sample of Older Canadians: Prevalences, Reported Change, Motivation to Change, and Perceived Barriers”. The Gerontologist. Vol. 44, no. 2, 193–205.         [ Links ]

PINQUART, M.; SÖRENSEN, S. (2001). “Gender Differences in Self-Concept and Psychological Well-Being in Old Age: A meta-Analysis”. Journal of Gerontology: psychological sciences. Vol. 56B, no. 4, p.195–213.        [ Links ]

RAMOS, J.H. (2001). “Determinantes de adesão, manutenção e desistência de um Programa de prevenção e reabilitação cardiovascular”. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. v. 3, no. 1, p. 112.         [ Links ]

RYAN, R.M.; DECI, E.L. (2000). “Intrinsic and Extrinsic Motivations: Classic Definitions and New Directions”. Contemporary Educational Psychology. Vol.25, n.1 p.54-67.         [ Links ]

RYAN, R.M.; FREDERICK, C.M.; LEPES, D.; RUBIO, N.; SHELDON, K.M. (1997). “Intrinsic Motivation and Exercise Adherence”. International Journal of Sport Psychology. v.28, p.335-354.         [ Links ]

SANTARIANO, W.A.; HAIGHT, T.J.; TAGER, I.B. (2000). “Reasons given by older people for limitation or avoidence of leisure time physical activity”. Journal of the American Geriatrics Society. Vol. 48, p.505-512.         [ Links ]

SCHUTZER, K.A.; GRAVES, B. (2004). “Barriers and motivations to exercise in older adults”. Preventive Medicine. Vol. 39, p. 1056–1061.         [ Links ]

STIGGELBOUT, M; HOPMAN-ROCK, M; MECHELEN, W. (2008). “Entry Correlates and Motivations of Older Adults Participating in Organized Exercise Programs”. Journal of Aging and Physical Activity. Vol. 16, p.342-354.        [ Links ]

TANG, C.S; WONG, C.Y. (2005). “Psychosocial Factors Influencing the Practice of Preventive Behaviors Against the Severe Acute Respiratory Syndrome Among Older Chinese in Hong Kong”. Journal of Aging and Health. v.17, p. 490 – 506.         [ Links ]

Weinberg, R. S.; Gould, D. (2001). Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 2a edição. Porto Alegre: Artmed Editora, 560p.         [ Links ]

WORD HEALTH ORGANIZATION (WHO) (2005). Envelhecimento Ativo: uma política de saúde. Tradução de Suzana Gontijo. – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde.         [ Links ]

ZAITUNE; M.P.A et al. (2007) “Fatores associados ao sedentarismo no lazer em idosos, Campinas, São Paulo, Brasil”. Caderno de Saúde Pública. Vol. 23, n.6, p.1329-1338.        [ Links ]

 

 

*simonemeurer@yahoo.com.br

Creative Commons License