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Psicologia para América Latina

versão On-line ISSN 1870-350X

Psicol. Am. Lat.  n.18 México nov. 2009

 

LA PSICOLOGÍA EN LA TRANSFORMACIÓN EDUCATIVA

 

Prontidão escolar e estresse parental

 

School readness and parental stress

 

Prontitud escolar y el estrés de los padres

 

 

Elda G. C. Andrada* I; Gabriela Belling**; Idonézia Collodel Benetti***; Bárbara Rezena****

Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí

 

 


RESUMO

O presente trabalho levantou dados junto a 130 famílias da cidade de Rio do Sul para verificar a prontidão escolar de crianças entre 5 e 6 anos de idade, matriculadas, no ano de 2007 em sete (07) Centros de Educação Infantil, bem como o estresse dos pais destas crianças. Os resultados mostraram que existe diferença na prontidão escolar de crianças de famílias com maior ou menor nível de estresse, quando observados os grupos acima e abaixo da média de estresse parental. A escolaridade das mães foi estatisticamente significante com a prontidão escolar das crianças. O Estresse Global está correlacionado às famílias com menor número de filhos, que apresentaram maior prontidão escolar. Os resultados também revelaram que quanto maior o número de fatores estressores dos cuidadores maior é a prontidão escolar das crianças, e que as crianças pertencentes ao grupo acima da média de prontidão escolar são filhas de pais com maior nível de Estresse Global.

Palavras-chave: Prontidão escolar, Estresse parental, Família, Risco.


RESUMEN

El presente trabajo há levantado datos de 130 famílias en la ciudad de Rio do Sul (Rio del Sur) en el estado de Santa Catarina, Brasil, para verificar  la prontitud (estado de quién está pronto o listo para hacer determinada tarea; preparado) escolar de niños entre 5 y 6 años de edad, matriculados en 2007 en siete (07) Centros de Educación Infantil, bién así el estrés de los padres de estos niños. Los resultados muestran que existe diferencia en la prontitud escolar de niños de famílias con mayor o menor nivel de estrés, cuando observados los grupos arriba y abajo de la média de estrés de los padres. La escolaridad de las madres fué estadísticamente significante. El estrés global está correlacionado a las famílias con menor número de hijos, que presentaron mayor prontitud escolar. Los resultados también revelaron que cuanto mayor el estrés de los que cuidan ("los cuidadores") mayor és la prontitud escolar de los niños, y que los niños pertenecentes al grupo arriba de la média de prontitud escolar son hijas de padres con mayor nivel de estrés global.

Palabras clave: Prontitud escolar, Estrés de los padres, Familia, Riesgo.


ABSTRACT

The present paper presents the results of data collected from 130 families in Rio do Sul, in order to verify the School Readiness of children between 5 and 6 years old, enrolled in 7 educational centers, in 2007, as well as their Parents’ Stress. The results revealed that exist difference related to the school readiness among families with many and few stressor factors, when analyzed the groups above and beneath the statistic mean. The educational level of mothers in this study was statistically significant. The Global Stress is correlated to those families with few children, which presented higher levels of school readiness. The results also revealed that the higher was the parents’ stress the higher was the school readiness, and that those children, who were among the ones in the group above the statistic mean for school readiness, are sons and daughters of parents with higher global stress.

Keywords: School readiness, Parental stress, Family risk.


 

 

1 INTRODUÇÃO

Atenção e cuidados parentais podem causar ansiedades e estresse. Frente às expectativas relacionadas ao processo de escolarização, algumas situações como o impacto do primeiro dia de aula, a adaptação da criança ao processo de transição lar/escola, atividades escolares podem gerar situações de estresse nas interações pais e filhos. Dessa forma, o estresse parental pode exercer influências significativas na prontidão escolar das crianças. A importância desta pesquisa está em investigar se o índice de estresse parental influencia a prontidão escolar constituindo-se em fator de risco ou proteção para o processo ensino-aprendizagem de crianças na faixa de 5 e 6 anos.

Partindo da hipótese de que existe diferença na prontidão escolar de crianças com pais com maior ou menor nível de estresse, os objetivos da pesquisa foram: a) Identificar a correlação entre Estresse parental e a Prontidão escolar, b) Identificar a prontidão escolar em crianças na faixa etária compreendida entre 5 e 6 anos. c) Averiguar o nível de estresse parental nas famílias pesquisadas, d) Verificar a correlação entre Estresse Parental e as variáveis: Níveis de Escolaridade, Idade e Média Salarial, e d) Investigar se o estresse parental é fator de risco para a prontidão escolar em crianças de cinco a seis anos de idade.

 

2 O ESTADO DA ARTE

2.1 PRONTIDÃO ESCOLAR

A prontidão escolar tem sido alvo de inúmeras pesquisas (Carlton & Winsler, 1999; Parker; Boak; Griffin; Ripple & Peay,1999; Meisels, 1999; Pianta & Walsh, 1996). De acordo com Parker et al. (1999), os Estados Unidos articulam iniciativas desde 1988 acerca de fatores que promovem ou dificultam a prontidão escolar em crianças pré-escolares, tornando a prontidão escolar uma prioridade nacional no planejamento de estratégias de ensino-aprendizagem e mediacionais com famílias (Robbinson, 2001; DeLapp, 2002).

A fim de que essas estratégias tenham resultados positivos no desenvolvimento da criança, as pesquisas têm apontado alguns fatores que demonstram a condição de uma criança que se encontra pronta para a escola: contato com pessoas que investiram emocionalmente nela, exposição a um ambiente físico previsível e seguro, rotinas regulares e atividades que apresentaram ritmos, contato com pares competentes e com materiais que estimularam sua capacidade de explorar e apreciar os objetos do mundo que a cerca (Pianta & Walsh, 1996).

Dessa forma, como um microssistema de maior importância no desenvolvimento de crianças, a família passa por uma série de mudanças nesse período do ciclo de vida, sendo inundada de tarefas que requerem tempo e dinheiro, tais como estimular a criança com jogos, atividades extras, passeios, materiais diferenciados, etc. Além de tudo, ainda os pais e mães precisam estar emocionalmente envolvidos com essas tarefas, de uma forma saudável e funcional, com menor estresse possível.

2.2 ESTRESSE DOS PAIS

Etimologicamente a palavra “stress”, de acordo com o Webster’s International Dictionary (1996),se origina da palavra Latina “strictus/stringo/stringere”, dando idéia de compressão, aperto. Porém, novos rumos apontaram para diferentes percepções daquilo que antes vinha sendo caracterizado como estresse, deixando para trás uma orientação de natureza tradicional para uma perspectiva mais abrangente.

O modelo Biopicossocial (Bernard & Krupat, 1994), que envolve componentes não somente internos (ansiedade, medo), mas também externos (eventos de vida estressores – acontecimentos cotidianos), incluindo a interação entre ambos. Este modelo prevê o envolvimento do meio e seus eventos nas demandas geradoras de respostas ao estresse e sua influência na experiência individual em lidar com os fatores que desencadeiam processos estressores.

Assim, mais recentemente o estresse tem sido definido

"[...] como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda ou mesmo que a faça imensamente feliz". (Lipp, 2001, pp.20).

Dentro do modelo bioecológico de desenvolvimento humano proposto por Bronfenbrenner (2002), a comunidade, a escola, a família e a criança seriam microssistemas. No círculo maior, estaria o macrossistema, que se caracteriza pelo conjunto de valores, pela cultura, pelos sistemas econômico, social e político de uma determinada sociedade. Muitas destas relações podem ser vividas em uma condição retroalimentativa, o que implica não somente no reflexo do nível de estresse de um sobre o outro, mas também na possibilidade da reação, como uma forma refratária de alcance do processo.

 

3 MÉTODO

Faz parte do contexto dos participantes, enquanto exossitema, a cidade de Rio do Sul, que possui uma área total de 262 Km², e uma população que compreende55.391 habitantes, segundo dados encontrados no site1 da prefeitura municipal da cidade. Considerada a capital do Alto Vale apresenta traços migratórios europeus, oriundos principalmente da Alemanha.

A periferia é composta de família de agricultores, o que faz a cidade ter características rurais: as casas têm quintal/horta, jardins,etc. As famílias, mesmo com baixa renda, possuem casas construídas dentro de padrões de espaço e conforto, se comparadas a outras localidades onde os habitantes têm a mesma renda mensal. Estes detalhes são importantes, pois mesmo com salários mais baixos, as crianças desta localidade têm um ambiente familiar diferente daquelas cujos pais têm piso salarial igual, mas não têm a mesma cultura (Andrada, 2007).

Os participantes da pesquisa constituíram-se de alunos entre 5 e 6 anos de idade, matriculados no ano de 2007 em Centros de Educação Infantil de Rio do Sul. Foram entrevistados 130 pais/responsáveis e as crianças, entre 5 e 6 anos. Destas 130 crianças, sessenta e três (63) foram meninas e sessenta e sete (67) meninos.

Para a coleta de dados foram usados três instrumentos específicos a saber: 1- Questionário sócio-demográfico aplicado aos pais abordando as variáveis clássicas da sociologia. 2- Teste de Prontidão Escolar Lollipop: tradução Pirulito. TESTE DE AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DE PRONTIDÃO ESCOLAR-REVISADO (Chew, A.L., 1981). Avaliou a identificação das habilidades dos sujeitos da pesquisa nas seguintes áreas: matemática; português; identificação de cores, formas e formas copiadas; descrição de figuras, posição e reconhecimento espacial. 3- Índice de Stress Parental (ISP): (Abdin, 1983) se destinada a identificar os fatores de estresse no relacionamento pais/criança.  É constituído por 36 itens no modelo de uma escala do tipo Likert com cinco alternativas que visam a avaliar as fontes de estresse dos pais em diferentes situações.

Foi enviada através da escola uma carta convite para os pais, com questionário sócio demográfico e com a hora e data para aplicação do ISP, que aconteceu nas dependências da Escola. O teste Lollipop foi administrado com as crianças, individualmente, nas dependências da escola.

Os dados foram analisados através de programa de computador denominado SPSS (Pacote Estatístico para as Ciências Sociais), versão 15. Consideraram-se como critério para rejeição da hipótese de igualdade entre as variáveis, valores de p=0,05.

 

4 RESULTADOS

Este estudo revelou uma média de Estresse Parental de 124,83, e uma média de Prontidão Escolar no valor de 47,59. Quanto à renda mensal, a maioria das famílias (60,97 %) está na faixa mensal de até quatro salários mínimos. Os resultados também evidenciam que 18,7% das famílias pesquisadas recebem mais de seis salários mínimos mensalmente, considerada uma renda privilegiada para a realidade da região.

Os dados mostraram que as mulheres possuem escolaridade maior que seus companheiros: 20,68% completaram o ensino fundamental e 35,71% completaram o ensino médio. Entretanto, a escolaridade da mãe, no que se refere ao ensino superior, é menor do que a do pai. Os homens também obtiveram formação de nível fundamental e médio, porém em percentuais mais baixos, 25 % para o ensino fundamental e 28, 7% para o ensino médio.

A maioria das famílias entrevistadas (79,53%) possui até 2 filhos. Verificou-se que a correlação entre o Estresse Global, a Prontidão Escolar e o Número de Filhos, apresentou números estatisticamente significantes (p<0,01),sinalizado quanto maior o Estresse Global, menor o Número de Filhos.  E, nas famílias que têm menor número de filhos, as crianças tendem a ter uma maior prontidão escolar.

Os resultados apontam para uma média de 37,05 anos para pais e 33,04 anos para mães.  Ao comparar-se a idade dos pais e as variáveis Prontidão Escolar das crianças e o Estresse Parental Global, ambas correlacionaram negativamente com a idade do pai, indicando quanto mais velho o pai, menor é o número de fontes estressoras e menor é a prontidão escolar da criança (p<0,05). Ainda conforme a tabela 1, o número de filhos apresentou-se inversamente proporcional com o estresse parental global e a prontidão escolar das crianças, numa forte correlação (p<0,01

 

 

Quanto à escolaridade de pais e mães, somente a escolaridade das mães foi estatisticamente significante (p<0,05), indicando que quanto maior a escolaridade das mães, maior a prontidão escolar dos filhos. A escolaridade não apresentou correlação com o estresse parental.

 

 

Pôde-se perceber uma correlação positiva e estatisticamente significante (p<0,05), entre o Estresse Parental e a Prontidão Escolar total das crianças, revelando que quanto maior o número de fontes de estresse dos cuidadores – pais e mães – maior é a prontidão escolar das crianças.

 

 

Os resultados apontaram uma tendência de que quanto maior o nível de estresse, maior a prontidão escolar das crianças. Porém ao avaliar as diferenças entre o grupo de famílias com maior e menor número de fontes estressoras e as variáveis de prontidão escolar, percebeu-se que apenas em dois domínios Identificação de números, contagem (* p<0,05) e Identificação letras e escrita (** p<0,01 ), há. Uma diferença expressiva.

 

 

Como demonstrado na tabela 4, as diferenças mais expressivas estão relacionadas aos domínios Identificação de números, contagem (*p<0,05) e Identificação letras e escrita (**p<0,01), apontando que estes itens da prontidão escolar das crianças estão nos grupos de pais com fontes de estresse acima da média. 

 

5 DISCUSSÃO

Pesquisas têm afirmado que o estresse parental tem influência direta na relação pais-criança, bem como no desenvolvimento das mesmas (Pereira-Silva & Dessen, 2006; Brandth & Kvande, 2002; Lewis & Dessen, 1999). A média de estresse global de 124,8 revelou-se como um índice bastante alto, se comparado aos pais da amostra canadense (94,5), e da amostra do Distrito Federal, Brasília (96,5) (Dessen & Szelbracikowski, 2004).

Estes dados apurados em Rio do Sul, superiores aos dados canadenses e brasileiros do Distrito Federal, se mostram bastante interessantes, pois o sul do país é reconhecidamente privilegiado socialmente, com menor índice de violência (maior segurança), menos caos no trânsito e nas ruas, etc., que caracterizam as cidades de menor porte. As condições do macrossistema canadense relacionadas à qualidade de vida, à segurança, à educação – com taxa de alfabetização de mais de 99%2 - e às condições operacionais das políticas públicas, etc., acabam oferecendo às pessoas situações privilegiadas, se comparadas às brasileiras e, consequentemente, as probabilidades de atenuar as fontes de estresse são maiores lá do que aqui.

Todavia, apesar de esta pesquisa ter sua amostra coletada no sul do país, com condições de urbanidade diferentes de Brasília, há que se considerar ainda, e sobretudo, o macrossitema (Bronfenbrenner, 2002). Em Rio do Sul há preocupações com transporte, quase sempre difícil, com pouca oferta, pouca diversidade e instabilidade no emprego, etc.

Observando a região do Alto Vale da perspectiva do macrossitema, grande parte do comércio e das microempresas locais depende das safras provenientes da agricultura. Em outras palavras, o poder aquisitivo da população citadina aumenta ou diminui de acordo com a sasonalidade e as condições climáticas. Assim, este resultado sugere que, além das características peculiares dos pais e da criança, em cada família, o macrossitema, neste caso, tem oferecido fatores estressores independentes (Kessler, 1997) e fontes externas (Lipp, 1996; Lipp & Malagris, 1998), em quantidade suficiente para o alcance deste índice.

Associada ao Estresse Parental foi possível visualizar a Prontidão Escolar das crianças investigadas com média 47,59, considerada inferior à média encontrada nos estudos de Andrada (2007), que pontuam a prontidão escolar das crianças em 56,75. Há que se salientar, porém, que as crianças com média superior têm também maior idade, sete anos. 

É interessante enfatizar, porém, que o Estresse Global teve correlação positiva com a Prontidão Escolar das crianças (p<0,05),sinalizando que, apesar de os pais e mães apontarem fontes estressoras presentes na família, as crianças tendem a ter prontidão na escola, refutando a idéia de que um número tão alto de fontes estressoras poderia ser prejudicial à prontidão escolar da criança. Para compreender esta correlação, foram feitos testes estatísticos para avaliar as correlações entre as pontuações de cada domínio da Prontidão Escolar em relação ao Estresse Global. O resultado mostrou que a Prontidão Escolar esteve mais positivamente correlacionada com dois dos domínios do teste Lollipop, a saber, os domínios da Identificação e contagem de números (p<0,05), e da Identificação de letras e escrita (p<0,01), mostrando a prontidão das crianças principalmente para a alfabetização.   

Em relação ao “risco e proteção à prontidão escolar”, a escolaridade dos pais tem se destacado na literatura como fator que pode prover e também dificultar a vida escolar dos filhos (Bradley & Corwyn, 2002). Desta maneira, a escolaridade dos pais aparece nos resultados das pesquisas como forte aliada à proteção da criança, ao promover a prontidão escolar, uma vez que tem se mostrado como o indicador socioeconômico mais fortemente associado ao desempenho escolar, na fase da meninice3.

Apesar de a literatura apontar a escolaridade paterna como fator de proteção para o desenvolvimento da criança (Santa Maria-Mentel, 2007; Andrada, 2007), nesta pesquisa somente a escolaridade da mãe mostrou-se com correlação significativa (p<0,05). Curiosamente, as mães do grupo com fontes estressoras acima da média apresentam maior escolaridade, com uma diferença estatística significativa (p<0,01). Assim, mães com mais tempo de estudo parecem se envolver mais com a vida escolar dos filhos, e esse envolvimento está diretamente associado à prontidão escolar deles. Stevenson e Baker, (1987) ancoram esta idéia, advogando que mães que possuem mais anos de estudo são mais envolvidas na vida acadêmica das crianças, promovendo, desta maneira, um melhor desempenho da criança.

Na realidade, este quadro não é novo, uma vez que pesquisas (Heubeck, Watson & Russel, 1986) têm mostrado que, tanto os pais quanto as mães se preocupam com os problemas dos filhos, mas são as mães que freqüentemente procuram ajuda profissional, quando tem dificuldades com as crianças.  Assim, cabe à mãe o papel de resolver os problemas com as crianças, já que o pai se mostra pouco inclinado a assumir a responsabilidade de procurar ajuda e também se mostra pouco engajado em esforços para remediar essas dificuldades.

Nesta linha de pensamento, visto que, de acordo com os resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se depreender que a mãe exerce um papel fundamental na vida escolar dos filhos e a tendência é que as mães mais escolarizadas tenham filhos com maior prontidão escolar. Pode-se, assim, inferir que as mães devem acumular, além da educação dos filhos, outras atividades que demandam tempo para conciliar obrigações familiares e profissionais.  

A intercorrelação das variáveis Idade dos Pais e Estresse global com o Número de Filhos trouxe descobertas interessantes com uma correlação negativa de ambos os sexos sendo estatisticamente significante para os homens (p<0,05). A Prontidão Escolar das crianças esteve relacionada à Idade dos seus pais e a hipótese sob investigação sugeriu que pais (do gênero masculino) mais velhos afirmam ter menos fontes de estresse e tem filhos e filhas com maior prontidão: quanto mais velho é o pai, menor é a prontidão escolar do filho.

A relação Estresse e Número de filhos, de acordo com os dados da pesquisa, que apontou também uma correlação negativa sinalizaram, surpreendentemente, que quanto maior o Estresse Global, menor é o Número de Filhos. Este dado pode ser consideradamente inesperado uma vez que o que se pressupõe é que famílias com mais filhos tendem a ter mais fontes de estresse. A diluição dos afazeres cotidianos entre os irmãos mais velhos é comum principalmente nas classes economicamente menos favorecidas, onde há um maior envolvimento e o compartilhamento dos membros da família nas tarefas domésticas (Quiñones, 2006).

Culturalmente as famílias numerosas e com renda mensal mais baixa tendem a ações coletivas, no que se refere às tarefas domésticas, inclusive apresentando a condição de os irmãos mais velhos cuidarem dos mais novos, assumindo muitas vezes uma hierarquia equiparada à hierarquia paterna. Assim, a dinâmica familiar no dia-a-dia se volta para o benefício e o bem-estar coletivo, conforme apontado por Goodnow (1988, citado por Quiñones, 2006). Compartilhadas as tarefas, dividida a responsabilidade e minimizada a sobrecarga, pode-se inferir que, provavelmente, em uma relação de colaborativismo, a família mais numerosa tende a lidar melhor com os fatores estressores.

  Já nas famílias que têm menor número de filhos, provavelmente por razões opostas às previamente mencionadas, as crianças tendem a ter famílias que apresentam mais fontes de estresse. Há, também, nestas famílias, uma maior prontidão escolar das crianças, o que é compreensível, já que a prole em menor número favorece uma dedicação maior dos pais que, de acordo com os resultados, são cuidadores mais jovens. O fator “juventude” aparece aliado ao estresse mostrando, como já visto anteriormente, que quanto mais jovens os pais, maiores as fontes estressoras apontadas e maior a prontidão escolar das crianças.

Considerando o ciclo familiar, segundo Carter e McGoldrick (1995), os índices mais altos de estresse são encontrados nos momentos de transição de uma etapa para outra, dentro do ciclo vital das famílias. Fica então justificada, em parte, a razão para as fontes de estresse dos pais mais jovens, uma vez que, nesta fase da vida, os casais ainda estão trabalhando arduamente preocupados com o futuro financeiro da família.  Pode-se associar a estes fatos, também, o fator salarial, sendo que a maioria das famílias mais jovens, em fase de estabilização financeira , ainda conquistando autonomia, revelou ter salários mais baixos.

Em parte, este dado explica os pisos salariais mais baixos, uma vez que, neste momento do ciclo de vida familiar, os casais, além de estarem cuidando dos filhos, estão trabalhando, e muitos estudando, tentando melhorar as condições sócio-econômicas e construir um patrimônio, objetivando ter ascendência financeira.

Assim, com base nos resultados desta pesquisa, pode-se afirmar que fatores estressores fazem parte da prontidão escolar das crianças, como um elemento constitutivo de trajetórias escolares bem sucedidas. Este resultado, associado aos demais fatores interventores abordados neste estudo, oferece respaldo para assegurar que os fatores estressores, per se, sem a interferência de variáveis socioeconômicas, não configuram riscos à prontidão escolar das crianças; ao contrário do que foi esperado na pesquisa, os fatores estressores tem influenciando, positivamente, na qualidade das práticas familiares de escolarização.

Ainda neste fluxo de pensamento, é plausível pontuar que não se pode reduzir o campo explicativo da prontidão escolar de crianças entre 5 e 6 anos à variável renda. Certamente ela é um componente importante do problema mas não explica totalmente a questão. Há que levar em consideração as questões pertinentes à cultura e ao macrossistema no qual a criança está inserida.

Concluindo, ao verificar se existe diferença na prontidão escolar de crianças com famílias com mais ou menos fontes de estresse, esse estudo apresenta um achado científico bastante importante e, ao mesmo tempo, intrigante para a cidade de Rio do Sul. Confirmou-se que de fato há diferenças entre os grupos de famílias com mais ou menos fontes de estresse, porém diferente do esperado, ou seja, as crianças com maior prontidão escolar são filhos e filhas de pais que estão no grupo que apresentou fontes de estresse acima da média.

Outrossim, pode-se afirmar que, no caso deste estudo, o mesmo não apresentou evidências sobre o estresse parental nem como fator de risco nem como fator de proteção para a prontidão escolar das crianças investigadas. Apesar de ter se correlacionado positivamente à prontidão das crianças, e se correlacionado com outras varáveis como idade dos pais, renda familiar, número de filhos, etc., os resultados sugerem que os fatores estressores, por si só, não constituem um fator de risco para o desenvolvimento escolar das crianças desta faixa etária. 

Assim, pode-se inferir que as fontes de estresse sozinhas não parecem ser um fator de risco para a prontidão escolar das crianças.  Seria imprudente e leviano considerar que somente estes fatores seriam suficientes para colocar o estresse como fator de proteção à prontidão escolar do grupo investigado. Há outros fatores envolvidos na questão da prontidão escolar que este estudo, por ter o objetivo de uma investigação mais focalizada, não teve o alcance necessário para conseguir resultados que possibilitassem colocar o estresse como fator de proteção à prontidão escolar.

 

6 CONCLUSÃO

Sabe-se que o estresse é um fenômeno que pode ser um fator agravante para vários outros fenômenos experienciados ao longo da vida. Porém, nesta pesquisa, verificou-se que as fontes de estresse, per se, sem a contribuição de outras variáveis envolvidas neste estudo, não constitui fator de risco para a prontidão escolar das crianças, não representando nenhum agravante para o desenvolvimento acadêmico das mesmas, e nem se colocando como obstáculo à entrada das crianças pesquisadas na primeira série do ensino fundamental. 

Seguindo esta mesma linha de raciocínio, é provável que, em decorrência de uma escolaridade mais alta, o suporte nas tarefas escolares esteja mais presente e com maior eficácia e eficiência, no momento de dar acompanhamento aos filhos. Nesse contexto, a família, como maior transmissora de significados e da cultura para a criança, acaba passando a representação social do que é “escola” e, por extensão, do que é educação. É prudente salientar que os determinantes socioeconômicos e culturais, quando somados aos vários contextos ambientais (microssistemas e macrossistema), favorecem o repasse e a perpetuação de valores que são agregados ao cotidiano das famílias.

 

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Notas

I Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, com estágio na Université Du Quebéc  à Montreall, Canadá. Professora da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí

1 http://www.riodosul.sc.gov.br/portal/principal.php?pg=1757 . Prefeitura Municipal de Rio do Sul – Administração 2005/2008.
2 Dado encontrado no site Wikipédia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Canad%C3%A1
3 Temo cunhado pela Dra. Edna Marturano, o qual aparece em várias produções científicas da autora (Ver bibliografia)

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