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Epistemo-somática

versão impressa ISSN 1980-2005

Epistemo-somática v.3 n.2 Belo Horizonte dez. 2006

 

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

 

Ditadura da beleza

 

Beauty Dictatorship

 

 

Jorge Antônio de Menezes*

SBCP/Minas Gerais

 

 


RESUMO

O autor descreve as novas, sutis e esmagadoras exigências da sociedade moderna em relação aos padrões de beleza vigentes, e essas imposições, gerando depressão, baixa auto-estima e perda da capacidade competitiva embasada no não-alcance desses padrões vigentes.

Palavras-chave: Ditadura da beleza, Emagrecimento, Orientação psicológica.


ABSTRACT

The author describes the new, tenuous and the overwhelming demands of the modern society concerning the ongoing beauty patterns and those impositions that generate depression, low self-esteem and loss of competitive capacity grounded in the non-fulfillment of these patterns.

Keywords: Beauty dictatorship, Weight loss, Psychological guidance.


 

 

Não é de hoje que somos sistematicamente submetidos a um forte apelo pela valorização da estética.

Abrimos as revistas, ligamos a TV, olhamos outdoors pelas ruas e lá estão expostos corpos esquálidos como ideal de perfeição feminina, sem falar do culto à malhação - imagens que pouco refletem os padrões reais da grande maioria da população.

A cada dia proliferam academias, clínicas de estética, novos tratamentos antienvelhecimento, antiestrias, “antiisso”, “antiaquilo...” ufa!!!

É tanta informação e novas propostas que, se não tivermos senso crítico, somos levados a querer experimentar tudo ou, pior ainda, sentimos nossa auto-estima despencar.

Vivemos hoje sob uma ditadura do corpo. A todo o momento surgem novas dietas, clínicas de estética, tipos de ginásticas e mais um arsenal de produtos para o corpo que remetem a novos padrões corporais de beleza, que prometem para aqueles insatisfeitos com suas formas o caminho para a perfeição corporal.

Se você não está dentro deste tipo determinado, será um excluído social. Como podemos ver no nosso dia-a-dia, a maioria dos brasileiros deseja estar em forma e busca os mais variados artifícios para encontrar esse corpo ideal.

Porém, nessa busca os caminhos muitas vezes são os mais controversos possíveis.

Em primeiro lugar deve-se avaliar o aspecto psicológico de por que você quer emagrecer, quais são seus objetivos com esta mudança e, principalmente, qual o desconforto que você tem, seja psicológico ou físico. Hoje o bem-estar físico está em primeiro lugar e só depois o psicológico, indo de encontro ao velho ditado que diz “mente sã em corpo são”.

O que se percebe é que muitos buscam a todo custo atingir padrões que muitas vezes não condizem com seu biótipo, abusando das dietas milagrosas, das fórmulas mágicas de remédios para emagrecimento e do excesso de exercícios físicos. Em um determinado momento os excessos poderão ter uma conseqüência danosa ao organismo, levando a uma desnutrição silenciosa ou a uma fadiga crônica, prejudicando a vida profissional ou pessoal do indivíduo.

É preciso respeitar o organismo para se obter bons resultados e o processo de emagrecimento deve ser a longo prazo. Em média o corpo leva 18 meses para chegar a um peso e forma ideais. Todo este arsenal de beleza, aliado ao avanço da cirurgia plástica e ao acesso cada vez maior de pessoas das diversas camadas sociais, passou a ter um grande impacto nesta área da medicina. Na busca do corpo ideal, pessoas querem a todo o custo se adaptar aos padrões reinantes, e visando um resultado rápido recorrem a grandes cirurgias de correção e implantes, em processos que muitas vezes submetem o paciente a diversos tipos de procedimentos em uma só cirurgia. É fundamental alertar que a cirurgia estética é um procedimento cirúrgico e como tal deve ser respeitado. Fazer uma coisa de cada vez e a seu tempo e não se expor a riscos desnecessários, que podem vir a terminar em resultados insatisfatórios ou até mesmo em complicações graves para o paciente.

As prioridades inverteram-se. Se um marciano chegar hoje à Terra, vai achar que a celulite é mais importante do que a queimadura. Essa seria a percepção que ele teria da celulite, que é o que todo mundo fala. Parece um problema de saúde pública. Agora virou foco de interesse não somente do médico, como da própria televisão e da mídia que usa aquele gancho para poder faturar. O interesse é no produto como algo comercial e não médico. A cirurgia estética tornou-se um objeto de consumo cada vez mais separado do ambiente médico. Porque uma amiga fez, a outra tem de fazer também, então se chega a esse absurdo. Qual é a percepção hoje da cirurgia plástica? Primeiro a promoção mercadológica, segundo criar sonhos. O sonho de ser jovem eternamente e da beleza ideal. A cirurgia plástica não é uma cirurgia no corpo, mas no cérebro. Modifica-se a personalidade da pessoa com o bisturi. É a cirurgia da vaidade.

Não há nada de errado em procurar estar de bem com a vida e com você mesmo, o importante é fazer isso de forma correta, com boa orientação e no tempo certo. Neste caso, o papel do cirurgião plástico hoje é fundamental para avaliar se o paciente realmente precisa da correção ou não. Muitas vezes, uma boa orientação psicológica pode evitar um procedimento arriscado e o cirurgião poderá atuar no que realmente precisa ser melhorado em seu paciente. Neste caso, ambos saem ganhando em segurança e na confiança de se alcançar um resultado que atenda as expectativas de sucesso do paciente.

 

 

Recebido em: 24/11/2006
Aprovado em: 01/12/2006

 

 

* Membro titular e especialista em cirurgia plástica da SBCP • Secretário e membro do Departamento de Eventos Científicos da SBCP/Minas Gerais • Capacitação em medicina estética pela USP • Hospital Mater Dei / BH-MG: preceptor do Centro de Formação e Treinamento em Cirurgia Plástica, especialista em cirurgia plástica e reconstrutora e cirurgia plástica restauradora de politraumatizados, acidentados, grandes queimados e seqüelados • Endereço eletrônico: jorgea.menezes@uol.com.br • Na internet: www.estheticcare.com.br

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