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Epistemo-somática

Print version ISSN 1980-2005

Epistemo-somática vol.4 no.1 Belo Horizonte July 2007

 

EDITORIAL

 

Este volume IV, números 1 e 2, dedicaremos à publicação dos artigos apresentados no III Fórum Internacional Psicanálise e Hospital: a subversão operada no mundo pelo discurso da ciência e... os caminhos da psicanálise (agosto/2007), uma co-realização da Clínica de Psicologia e Psicanálise do Hospital Mater Dei (Belo Horizonte/Brasil) e da Université Louis Pasteur (Strasbourg/France).

O III Fórum Internacional Psicanálise e Hospital tem por objetivo sustentar e dar continuidade ao debate sobre as questões que colocam a práxis do psicanalista diante dos desafios clínicos, teóricos e institucionais. Neste ano, a proposta foi de uma reflexão sobre os desafios produzidos pelas transformações da sociedade que, por sua vez, estão relacionadas com a dominação do discurso da ciência e do liberalismo no mundo atual.

Deste modo, as discussões e elaborações teórico-clínicas apresentadas neste evento se serviram das formulações lacanianas sobre a teoria dos discursos e sobre a relação entre ciência e psicanálise. Os efeitos do discurso da ciência e de seu imperativo categórico – “continue a saber” – já haviam sido antecipados por Lacan. O pensamento científico construído nesta perspectiva visa, por um lado, uma objetivação que deixa o sujeito reduzido a objeto de um saber preestabelecido, eliminando a enunciação que singulariza o sujeito. Por outro lado, ele povoa o mundo de “coisas forjadas”, desses objetos de realidade que gravitam no mesmo espaço que nós e que se tornam parte integrante do sujeito, seja porque estão “dentro de nós” (vejam os objetos de realidade que se tornam indispensáveis), seja porque estão “aderidos” a nós (vejam as numerosas próteses do homem moderno). E, alheio à sua promessa de felicidade, o mal-estar que impulsiona o discurso da ciência insiste. Entretanto, apesar da produção de utopias, como “a de um corpo sem limite” tão importante na área hospitalar, a falta persiste e se volta contra o indivíduo colocando-o numa dimensão de impotência.

É dessa quota de impotência ou de impossibilidade que Lacan, desde O Avesso da Psicanálise (1969/1970), faz o centro repetitivo de todo discurso. Nesse contexto, ele define “a incidência do discurso analítico como... capaz de desestabilizar um certo semblante e de propiciar, enquanto efeito, um giro discursivo”. O discurso analítico traz à cena o impossível, revelando a existência do sujeito em sua exceção, o que o situa como uma das “respostas” à impotência subjetiva.

Este ano, com a realização do III Fórum Internacional Psicanálise e Hospital, buscamos mais uma vez o desafio de reunir as diferenças de países, de regiões, de práticas e teorias propiciando um espaço para interrogar como o analista opera com o sujeito em sua demanda de fazer de seu corpo um “universo infinito” onde repousam as tecnociências médicas do hospital geral na atualidade.

Assim, reafirmamos nossa aposta epistemológica sustentada pela formalização teórica a partir da clínica e pelo desafio de construir “recursos de análise” para os sujeitos dos tempos atuais que, por serem tempos difíceis, exigem recursos de análise com potencialidade subjetivante para produzir caminhos novos e imprevisíveis.

 

Comissão Organizadora

III Fórum Internacional Psicanálise e Hospital

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