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Revista Brasileira de Psicologia do Esporte

versão On-line ISSN 1981-9145

Rev. bras. psicol. esporte v.1 n.1 São Paulo dez. 2007

 

 

Futebol e construção da subjetividade masculina: leituras da psicologia social

 

Soccer and male subjectivity building: readings by social psychology

 

Fútbol y construcción de la subjetivid masculina: lecturas de la psicología social

 

 

Marcel de Almeida Freitas

Faculdade da Cidade de Santa Luzia, MG

 

 


RESUMO

O artigo busca focar alguns aspectos da construção das subjetividades masculinas enfatizando o caráter cultural desse processo tendo o futebol, fenômeno social viril por excelência, como pano de fundo. A fim de que a teoria seja mais solidamente corroborada, são apresentados trechos de entrevistas feitas com torcedores de times de Minas Gerais, Atlético e Cruzeiro. A metodologia foi baseada em técnicas qualitativas e o tratamento dos dados fundamentado na Análise do Discurso. Entre as considerações preliminares da pesquisa expostas no texto estão: a masculinidade se caracteriza pelos vínculos coletivos, isto é, difere da feminilidade, mais baseada nas relações face a face, e as subjetividades masculinas são socializadas para a violência, seja física ou simbólica, e isto é um diferencial em relação à feminilidade.

Palavras-chave: Masculinidade, Futebol, Violência.


ABSTRACT

This article aims at emphasizing some aspects of the construction of masculine subjectivities contemplating the cultural character of this process having Brazilian soccer, a virile social phenomenon, as reference. In order to support the theory more strongly, interview extracts with team supporters from Minas Gerais, more specifically Atlético and Cruzeiro teams were provided. The methodology was based on qualitative techniques and the treatment of the data was based on the Discourse Analysis. Among the general considerations of the research exposed in this work, there are: masculinity is characterized through the collective bonds, that is, it differs from feminality because this is based on the relations face to face, and the masculine subjectivities are socialized to be violent, physically and symbolically, this aspect is a differentiation in relation to feminality.

Keywords: Masculinity, Soccer, Violence.


RESUMEN

Ese texto procura atenerse a algunos aspectos de la construcción de las subjetividades masculinas enfatizando el carácter cultural de ese proceso considerando el fútbol, fenómeno social viril por excelencia, como paño de fondo. Para sostener la teoría, se ofrece fragmentos de entrevistas hechas en Minas Gerais con torcedores de Atlético y Cruzeiro. La metodología está basada en técnicas cualitativas y el tratamiento de los datos fundamentado en Análisis del Discurso. La investigación se pone las siguientes consideraciones preliminares: la masculinidad se caracteriza por vínculos colectivos, así se difiere de la feminilidad, mas basada en relaciones faz a faz; las subjetividades masculinas son socializadas para la violencia, física o simbólica, siendo un diferencial en relación a la feminilidad.

Palabras clave: Masculinidad, Fútbol, Violencia.


 

 

Introdução

O futebol é uma instituição social de grande importância para o povo brasileiro e na sociedade ocidental em geral; devido a isso, o estudo deste evento social vem adquirindo relevância no meio acadêmico brasileiro nos últimos anos. Desta feita, os intelectuais cada vez mais se dedicam a investigar a inserção cultural, social, econômica e psicológica do futebol e as imensas possibilidades de sua articulação teórica com outros campos temáticos: classe, raça, trabalho e ainda restritamente, gênero. Nas Ciências Sociais, localizamos em Freyre (1948) o início das análises sociológicas sobre o futebol nacional. O presente trabalho se situa na interface da Psicologia Social com a Antropologia Cultural, portanto, empregaremos os conceitos de fenômeno social (peculiar às Ciências Sociais) e de instituição social (típico às abordagens psicológicas) para nos referirmos ao futebol no Brasil.

Estes conceitos não são idênticos, porém, tendo em vista a interdisciplinaridade proposta entre as duas áreas, podem ser utilizados de modo equivalente, pois os fenômenos sociais podem ser definidos como componentes da vida social que, quando ajustados uns aos outros, formam padrões mais ou menos estáveis. E o conceito de instituição social pode ser assim demarcado: um modo de associação que está a serviço de interesses amplos, e não estreitos, e assim o faz de modo ordeiro e duradouro. A palavra instituição também se aplica a práticas estabelecidas de fazer as coisas. Assim, buscaremos mostrar como esta instituição socializa adolescentes masculinos e molda suas representações de gênero. Com esse propósito, apresentaremos trechos de entrevistas realizadas com torcedores de times mineiros que tratam dessa temática específica1.

 

Futebol: paixão dos homens

Tem-se afirmado com relativa veemência que o interesse do povo brasileiro pelo futebol substituiria satisfações e bens mais reais e concretos; entretanto esta verdade é apenas uma falácia enquanto não se precisar o que está sendo chamado de substituinte e/ou de substituído: de que realmente as pessoas necessitam e o que o futebol está entrando em seu lugar enquanto substitutivo? Foi a partir destas questões que se constituíram duas grandes vertentes explicativas para tal instituição sócio-cultural. Assim, há os estudos produzidos especialmente por sociólogos nos anos 1970 que enfatizam que tal esporte oferece aos brasileiros um ópio para distraí-los da miséria, da falta de moradia, da não participação política ou da violência urbana. Outros trabalhos mais complexos e iniciados na década de 1980, a partir de Roberto Da Matta (influenciado por Gilberto Freyre), postulam que o futebol é um ambiente de vivência democrática, espaço de constituição e exercício da identidade e da cidadania nacional.

Os teóricos que encaram o futebol enquanto fator de alienação social não vêem tal esporte como uma ingênua manifestação espontânea da cultura brasileira; o seu postulado é que o futebol é uma atividade lúdica discretamente explorada pelo poder dominante e pela mídia. Nesse jogo, o povo sempre sairia perdendo e literalmente, tomando-se o aspecto semântico das palavras lúdico/ludibriado, sendo ardilosamente impelido a trocar uma participação democrática por um passatempo vazio. Por outro lado, a obra de Da Matta (1982) estimulou a adoção de outro olhar sobre este fenômeno social. Um primeiro aspecto, que tangencia a Ciência Política, seria o argumento de que o futebol igualaria a todos, nivelaria brancos e negros, ricos e pobres. Regras impessoais e objetivas vigorariam nessa esfera, à diferença do que ocorreria em outras esferas públicas brasileiras.

Outro dentre os argumentos de apoio à prática do futebol é que praticamente qualquer menino pode ter o sonho de ingressar numa seleção brasileira, visto que o ingresso numa magistratura ou no quadro docente de uma grande universidade brasileira não desperta o desejo das classes mais baixas, tendo em vista que tais instâncias não fazem parte da realidade de meninos de periferia: grande parte não sabe o que significa isso. Outro aspecto colocado pelos entusiastas do futebol é que ele é passível de ser comentado e opinado por todos; dirigir críticas a seus dirigentes não é motivo de punição como acontecia quando se reprovava os dirigentes do país na Ditadura. Não existe nessa área um único saber legítimo que recuse a palavra e os saberes populares.

Tal experiência de igualdade permitiria a prática criativa e a vivência de alguma liberdade aos brasileiros, também proporcionando ao indivíduo a sensação de estar inserido em algo maior que ele, algo realmente grandioso. Portanto, a sociedade brasileira futebolística não seria alienação política, já que alcança e principalmente ela uma dimensão genuinamente nacional. Sem dúvida, esta sensação de plenitude também existe em outras nações Alemanha, Inglaterra, Itália onde o futebol é admirado, todavia, ganha dimensões extraordinárias quando através dele acontece um patriotismo que não consegue ser alcançado por nenhum outro fenômeno, nem mesmo pelo carnaval ou pela religiosidade. Logo, para o posicionamento teórico que percebe o futebol em seus aspectos positivos, é essencialmente no âmbito do jogo e não através de outros níveis da vida nacional (legislação pretensamente cega, discurso tecnocrático-científico ou militar ufanista) que os brasileiros constituem uma nação. Nessa sociedade verdadeiramente geral, todos reconhecem uns nos outros um alter ego de fato, e não alguém abstratamente igual como, por exemplo, no caso do sujeito eleitor. Portanto, o futebol faria o brasileiro se sentir um indivíduo universal em meio a tantos outros universais.

A postura crítica em relação ao futebol busca mostrar outras características deste fenômeno. Segundo os teóricos, nos dias de vitória, em especial nas finais de Copa do Mundo, assiste-se a uma verdadeira convulsão social e a coletividade brasileira passa de um estado de pulverização a um estado de comunhão dionisíaca, quase orgiástico. No entanto, conforme esta linha de reflexão, tal vivência igualitária não se prolonga num projeto político que ambicione abranger outras instâncias sociais. Outro comentário pertinente é que a temporalidade lúdica é intrinsecamente anárquica, constituída de instantes descontínuos. Nada de concreto, que possa penetrar nos campos político e econômico, se consolida a partir da unificação popular propiciada por este esporte. Do ponto de vista da política formal seria estéril o futebol.

Pelo fato de que os jogos não têm uma história, mas apenas uma crônica algo como o passado não conta, o que interessa são os resultados futuros não se exercitaria um continuísmo de ação a partir da experiência deste esporte. Por fim, postulam que a democracia futebolística não se desdobra em outras formas de participação democrática, esgota-se em si própria. Então, a divergência de ambas abordagens é aqui localizável: enquanto que para os herdeiros de Gilberto Freyre, como Filho (1964), o futebol pode engendrar uma pré-cidadania, para os teóricos que o exprobram, o futebol nada mais realiza que uma pseudocidadania. Conforme os últimos, isso é interessante para as elites que, através dos grandes meios de comunicação, dizem de modo subliminar: para que mudar a sociedade, se já somos irmãos no futebol, ou não há motivo de insatisfação para com o país, só ele é penta, etc.

Porém, podemos localizar dois pontos de semelhança nos dois enfoques acima citados, por mais contrastantes que pareçam: o primeiro diz respeito ao não questionamento das desiguais relações entre as macro-regiões sul-sudeste e norte-nordeste do país. Ambas posturas tomam como natural que o sul-sudeste seja (também nesta esfera) mais desenvolvido que o norte-nordeste em se tratando do futebol. Assim, a ínfima participação dos times nortistas no Campeonato Nacional retrata o atraso maior daquela região mais pitoresca, selvagem, inóspita, menos urbana e progressista que o Sul Maravilha. Logo, ao não interrogar tal dualidade, há uma reificação ainda que não proposital, pois a temos internalizada e inconsciente das relações de dominação cultural, simbólica e econômica entre norte e sul do Brasil.

Outro ponto de convergência concerne à construção da identidade de gênero: nenhuma das duas propostas teóricas menciona os conceitos feminilidade, feminino, mulher, masculino, masculinidade, homem. Nesse aspecto, o indivíduo no futebol é o sujeito universal do Ocidente, ou seja, o homem (numa perspectiva acrítica, os termos homem e humano entendidos como sinônimos). Ainda que exista importante debate no que respeita às questões de classe e raciais/étnicas nos dois enfoques, praticamente nada é dito em relação ao lugar (melhor dizer ausência) da mulher neste âmbito. Novamente vemos a naturalização/legitimação de um traço cultural; é quase um dado biológico imutável que esta esfera seja masculina, território de homens. Acreditamos que essa discussão é mais intrincada, não se atendo apenas ao plano macrossocial, mas também permeando esferas constituídas pelos laços interpessoais, vínculos afetivos, subjetividades e emoções inconscientes, e por isso a tomamos como objeto de inquietações científicas.

Diante disso, o objetivo da pesquisa, da qual o presente artigo é uma parte, foi localizar os primórdios do processo de institucionalização do futebol no Brasil, identificando suas particularidades e situá-lo dentro de um contexto maior, o mundo dos esportes no Ocidente moderno. Ressaltando a quase ausência com raríssimas exceções (Guedes, 1977; 1998) da questão de gênero na produção intelectual, procuramos mostrar também, ainda que brevemente, que o futebol, ao contrário do que a mídia brasileira divulga persistentemente, não é um paraíso onde não existem o racismo, o classismo-elitismo e outras formas de segregação. Trabalhamos com os seguintes argumentos: a constituição da identidade é marcada pelos vários tipos de inserções sociais a que estamos sujeitos e talvez a questão de gênero seja a primeira delas, sendo que no futebol ela se apresenta de forma explícita.

No âmbito da prática deste esporte e no interior dos grupos de torcedores organizados, a ideologia básica de gênero é uma condensação mais acintosa da cultura brasileira sobre este assunto. Assim sendo, os indivíduos que socialmente são identificados e se auto-identificam como homens são ensinados, também nos gramados e nas arquibancadas de futebol, que seu lugar é o público (fora/externo), que devem se sobrepor aos outros (coletivamente, vale ressaltar, aspecto que difere da competição entre as mulheres, individual); devem ser ativos (fazem a ação) e o mais importante: nesta socialização de gênero localizada no campo de futebol (e talvez nos esportes em geral mais discretamente), eles não podem ser femininos/afeminados (metaforicamente, o perdedor/fracassado/inferior).

Além disso, o futebol é um fato social onde os níveis institucional, organizacional e grupal da vida político-cultural e das subjetividades podem ser estudados de forma interconectada e mutuamente determinantes. Partimos da noção de que os âmbitos instituição, organização e grupo se referem a um processo dinâmico, sendo distinguíveis somente no plano analítico, visto que os controles, valores e crenças sociais operam em todos os três planos indistintamente. Assim, o que congrega as três instâncias, fazendo-as parte do mesmo processo dinâmico, é o fato de que as pessoas estão em interação sob uma mesma estruturação sígnica, econômica e sócio-cultural. Desta forma, a diferença entre instituição, num extremo, e grupo no outro, diz respeito ao grau e ao índice de contatos e cooperação entre os sujeitos. Também há o fato de que os grupos interagem entre si e com as organizações (estas também entre si) dentro de uma instituição maior. Isto fica evidente quando consideramos o futebol a instituição abrangente, os clubes e os times como organizações, e as entidades torcedoras (especialmente as Torcidas Organizadas) enquanto grupos.

Partindo de teorizações retiradas da Psicologia Social Institucional, conceituamos grupo como aquela instância coletiva onde as relações fundam-se especialmente sobre o comportamento dos indivíduos, desta maneira, nestes contextos, "(...) cada um toma consciência da presença dos outros numa atmosfera em que se apreende, na prática, a relação estreita de cada existência com a existência de outrem" (Lapassade, 1977:9). Com efeito, para o autor, a instituição é o âmbito maior que envolve e faz funcionar as práticas sociais concretas, sendo por vezes a dimensão oculta e não analisada dos fenômenos sociais. A organização seria um "(...) grupo dos grupos, onde se faz a mediação entre a base (a sociedade civil) e o Estado" (Lapassade, 1977:15). Diante disso, compreende-se como instituição o fenômeno, a um só tempo estrutural e processual, que estabelece relações, valores, normas, códigos, atitudes, representações e significados culturais, formas de ser e de se comportar.

 

A socialização violenta e as subjetividade agressivas

Elias & Dunning (1992) enfatizam que os desportos, as guerras (investigadas pela História) e as emoções (pesquisadas pela Psicologia) apresentam sobreposições consideráveis, ainda que um pouco negligenciadas pelas Ciências Sociais clássicas. Desta maneira, o esporte e a guerra implicam formas de conflito que se encontram imiscuídas, de modo sutil, a modos de interdependência grupal e de cooperação humana, sendo que ambas instituições guerra e futebol engendram o nosso e o grupo deles. Ademais, tanto um como outro fenômeno podem desencadear emoções de prazer e de sofrimento. Outro aspecto que explicita as aproximações entre os dois fenômenos é que os esportes especialmente coletivos muitas vezes desempenharam o papel de treino militar, devido à agressividade e severidade que lhes é peculiar. Assim, os intelectuais presumem que certo nível de violência bem como de agressividade é inerente a todos eles, posto que possuem condutas competitivas. No entender dos autores, os esportes constituem oportunidades para a manifestação da violência socialmente sancionada, portanto, da violência ritualizada. Todavia, também podem desencadear a violência má, ou seja, a violência desordenada. Isso sucede quando "(...) o nível de tensão pode elevar-se até um ponto em que o equilíbrio entre a rivalidade amigável e [a rivalidade] hostil se inclina a favor da última" (Elias & Dunning, 1992:331).

Diversamente das abordagens usuais nas Ciências Humanas, estes autores consideram que a dinâmica grupal numa partida de futebol pressupõe tensão e cooperação coexistindo ao mesmo tempo em diferentes níveis. Eles não tomam o conflito e a harmonia como excludentes entre si, mas ao contrário, pensam que ambos caracteres da sociedade são intrínsecos a toda formação social. Numa perspectiva polemizadora, sugerem que esta tendência em contemplar apenas a solidariedade nas coletividades estaria relacionada com esquemas de valores (inconscientes) pré-estabelecidos do pesquisador e a uma cosmovisão sócio-política que define, também na Academia, o sentido dos argumentos teóricos e dos olhares metodológicos. A partir deste exame, com relação aos esportes coletivos especificamente, pensam que "(...) o termo grupos em tensão controlada seria apropriado para os designar" (Elias & Dunning, 1992:285).

A descrição que fazem do proto-futebol do período medieval nas Ilhas Britânicas nos remete ao pugilato greco-romano, posto que ambas práticas lúdicas privilegiavam o ethos guerreiro varonil. Por isso era considerada covardia e sinal de feminilidade a esquiva dos golpes. Assim, por muito tempo, o drible no football foi rotulado, pelos amantes do rubgi, como algo desleal e feminil. O choque corpo a corpo deveria ser preservado como símbolo da macheza. O envolver-se em uma luta quase corporal era então, no início dos esportes coletivos, o principal critério para o alçar da reputação masculina. O psicólogo Peter Marsh (apud Elias & Dunning, 1992) propugna que as tentativas atuais para extirpar a violência da sociedade pós-industrial tiveram como efeito uma diminuição dos espaços para a manifestação da violência ritual (socialmente construtiva). Segundo ele, uma das conseqüências disso foi o crescimento da violência descontrolada. Paralelamente, as ações agressivas tornaram-se mais incontroladas e cruéis. Afirma que podemos observar uma transformação civilizadora de amplo impacto no que se refere à violência nas sociedades industrializadas do Oeste Europeu.

Elias & Dunning (1992) descobriram certo paralelismo entre o direcionamento geral da sociedade com a dinâmica de grupo em uma partida de futebol no que concerne à passagem de uma forma de relacionamento interpessoal violenta a uma mais cordial e comedida. Assim é que por volta de 1863 a recém-criada Associação Britânica de Futebol se segmentou porque a maioria dos membros pleiteou retirar do jogo as caneladas, ao passo que uma pequena minoria os fundadores principalmente defendia que a eliminação desta prática tornaria o evento afeminado. Este foi o acontecimento cardeal que desencadeou o desenvolvimento de dois tipos de competição na Inglaterra: o football e o rugbi. Assim, notamos que neste último esporte tanto o nível de contato corporal é maior quanto a violência, porém é menos popular. No Brasil há uma prática comum nos estádios como a canelada inglesa, vista com benevolência pelos espectadores desde que ocorra só no adstrito ambiente campal: a patolada. Tal hábito consiste no aperto das partes genitais de um jogador pelo outro, sendo que quando ocorre entre colegas do mesmo time tem o sentido de brincadeira e quando ocorre entre jogadores de times rivais tem a finalidade de machucar. No Brasil, pode ser atribuída a erotização da sociedade em geral em todos os âmbitos que se manifesta até mesmo em programas infantis e nos esportes.

As regras esportivas possuem dispositivos específicos para que o controle das tensões e da violência não flutue fora e acima do convencionado como aceitáveis pelos processos sociais exteriores ao futebol. Isso gera o fato de que a dinâmica destas configurações possua uma lógica peculiar. Deste modo, as polarizações ataque versus defesa, e por que não, atividade versus passividade, identificação afetuosa (para com os iguais) versus rivalidade hostil (para com os outros) operam em estreita relação nos esportes, proporcionando importante força motriz na dinâmica do futebol. A forma como se dão as relações sociais nos grupos segmentares explanados por Elias & Dunning (1992) contribui para entendermos a lógica interna das torcidas organizadas de futebol e como essas influenciam a socialização de gênero dos adolescentes. As normas de combate em tais grupos são semelhantes ao sistema de vendetta que persiste em muitas culturas mediterrâneas; nesse sistema, um indivíduo que é desafiado por um elemento de um grupo rival sente que está em cheque não apenas sua honra, mas a de todo o grupo e por esta razão outros membros do clã se inserem no conflito. Isso fornece inexpugnável indicação do alto grau de identificação dos indivíduos com os grupos a que fazem parte. Logo, os indivíduos e grupos se atacam mutuamente nas imediações dos estádios simplesmente porque portam a insígnia que caracteriza o time contendor.

Posto que estes grupos segmentares estão inseridos dentro de uma sociedade maior, talhada pela urbanização e pela economia pós-industrial, se encontram de certa maneira reprimidos no que concerne à ampla manifestação do temperamento cultural violento. Dito de outro modo: deduzimos, a partir da explanação de Elias & Dunning (1992), que os grupos segmentares (as torcidas organizadas) têm espaços restritos na sociedade atual para exercerem a violência que seu meio social imediato faz com que desenvolvam, estando sujeitos, por conseguinte, à pressão da cultura dominante e, deste modo, concordamos com os autores quando advogam que o futebol é locus especial para que estas características grupais (machismo, violência e agressividade exacerbadas) hoje anacrônicas possam vir à tona. Assim;

O futebol tornou-se cenário para a expressão de semelhantes padrões, em certa medida, porque as normas de masculinidade lhe são intrínsecas. (...) O seu carácter específico de oposição implica que se oriente, de boa vontade, para a identificação de grupo e para o engrandecimento da solidariedade (Elias & Dunning, 1992:354).

No decorrer dos jogos, muitas vezes, as torcidas adversárias parecem dirigir sua atenção mais para o grupo inimigo cantando refrães obscenos, direcionando-lhe gestos agressivo-sexuais e enviando-lhe mensagens ofensivas do que propriamente para a partida. Os pesquisadores, assim como nós, também notaram que a participação numa invasão bem sucedida sobre a arquibancada rival constitui fonte de glória coletiva e de honra pessoal entre os hooligans. Este aspecto violento dos grupos masculinos, relatado por Elias & Dunning (1992), foi por nós averiguado no clássico mineiro Atlético versus Cruzeiro:

O facto de os grupos rivais envolvidos parecerem estar, por vezes, tanto ou mais interessados em oporem-se uns aos outros como em assistir ao futebol. [isso sugere que eles] obtêm prazer positivo no confronto e que a capacidade de luta constitui a principal fonte quer de prestígio individual quer do grupo (Elias & Dunning, 1992:351).

Baseados em dados estatísticos, os autores postulam que o hooliganismo tomou fôlego especialmente a partir da década de 1960. Todavia, fazem questão de ressaltar que praticamente desde a institucionalização do futebol como esporte, por volta de 1880, a violência faz parte desta modalidade de lazer. Merece nota que foi a partir da Copa do Mundo de Futebol, realizada na Inglaterra em 1966, que a violência teve uma ascensão curvilínea, ou seja, nunca mais apresentou queda no número de ocorrências. Creditamos este fenômeno ao fato de que foi no término da década de 1960 e início dos anos 70 que múltiplos setores sociais2, antes silenciados, começaram a tomar voz, não só na Europa, mas em todo o Ocidente, bem como coincide com o período em que a Europa e, principalmente, a Inglaterra começam a receber imigrantes dos territórios recém-descolonizados: indianos, paquistaneses, caribenhos, africanos, etc., gerando-se assim ambientes propícios para conflitos sociais.

No entender de Elias & Dunning (1992) a mídia sensacionalista também contribuiu para que o futebol se tornasse uma arena violenta: a partir do momento em que começou a relatar com freqüência e ênfase acontecimentos agressivos dentro dos estádios; isso fez com que pessoas das classes superiores tivessem impulso de abandonar os jogos ao vivo, ou que, na melhor das hipóteses, abandonassem as chamadas, na Inglaterra, bancadas dos peões (no Brasil geral e arquibancada). Isso fez com que, percentualmente, os espectadores de futebol originários das classes mais baixas se tornassem maioria. Em suma, devido ao processo civilizatório mais abrangente, essa diminuição quantitativa e qualitativa da violência no futebol britânico correspondeu ao desenvolvimento social geral. Em traços largos, para os intelectuais, a violência dos fãs nas partidas de futebol pode ser entendida, entre outras coisas, como fruto de um estilo masculino agressivo socialmente gerado, próprio das classes mais baixas com parcos índices de escolaridade, estilo esse que pode ser compreendido como resposta configuracional à mudança de equilíbrio no poder e nos papéis entre os sexos, o que entre outras coisas, trouxe o enfraquecimento do patriarcado.

 

Futebol e masculinidade

O verbo torcer, em sentido lato, significa revirar, retorcer, dobrar, enroscar, entortar. Tendo isso em vista, o substantivo torcedor denota aquele que se contorce por algum motivo. O torcedor de futebol é alguém que se torce numa angústia psíquica. Desta maneira, Rosenfeld (1993) comenta que o espectador de futebol no Brasil plasticamente co-atua no campo através de seu sofrimento manifesto corporalmente. Inconscientemente é como se pudesse contribuir com seu corpo, com sua energia, com sua conduta aflita para o sucesso do seu time. A partir de noções essencialistas de gênero e de sexo, o autor coloca que um dos motivos para que o futebol tenha tanto sucesso é o aspecto motor natural do homem que, enquanto torcedor, se identifica com aquele que está jogando.

Todo o menino e todo homem (o bárbaro que há nele) tem a tendência de impelir para frente, com o pé, latas e cascas de fruta que estão no caminho. A reação natural do homem (não do burguês assentado e, em nossa cultura, quase nunca da mulher) é devolver com o pé uma bola que rola para ele (Rosenfeld, 1993:94).

Primeiro desconsiderando os aspectos aprendidos do comportamento humano, posteriormente o autor se contradiz, ao afirmar que em nossa cultura as mulheres não têm este tipo de comportamento. Então não ter a propulsão de chutar, no caso das mulheres, varia de cultura para cultura? Concomitantemente, ele desviriliza os homens burgueses, visto que inicialmente afirma que é uma tendência natural do homem chutar qualquer coisa e em seguida diz que isso não se aplica ao burguês. É importante destacar como o autor também implicitamente fala em naturezas feminina e masculina:

Parece ser claro que o arremesso, pelo simples fato de se realizar com a mão, é um comportamento incomparavelmente mais civilizado do que o golpe com o pé. Aquele, [seria característico sobretudo do] jogo de bola das moças (...) enquanto que o movimento de chutar é um ato de agressão (...) (Rosenfeld, 1993:95).

Ele confere ao feminino mais delicadeza, entretanto, mesmo colocando que o fato de ser mais delicado é mais humano, o essencialismo não é abandonado. Ademais, ele sustenta a tese de que a íntima identificação que o torcedor tem com o esportista é derivada de um sentimento de também poder ser: forte, audaz, másculo, em suma, um sentimento inconsciente de wannabe, assim como o jogador, desejado pelas mulheres, famoso, rico. Destarte, "o torcedor de futebol identifica-se (...) com um clube, com uma instituição, que simboliza alguma coisa" (Rosenfeld, 1993:96). Ainda adiciona que um dos motivos de sucesso do futebol no Brasil é o fato de ser praticado em grupo, diversamente do atletismo. Quanto a isso, além de haver a questão grupal segundo ele aspecto mais característico da construção da masculinidade do que da feminilidade existe o fato de que para o homem brasileiro médio "(...) é mais fácil investir a paixão numa equipe, e, deste modo num clube, (...) do que num indivíduo" (Rosenfeld, 1993:95). Em suma, esse esporte é um catalizador das questões étnicas, de classe e de gênero na cultura brasileira, por isso se tornou fenômeno social. Além disso

No sentido de show, (...) é indiferente se os atores são amadores (diletantes) ou profissionais; estes últimos se sentem realmente verdadeiros artistas de circo (...). Entre os espectadores produz-se imediatamente a constelação estética: (...), a identificação, o `viver com' (...) (Rosenfeld, 1993:105).

Portanto, o autor presume que "(...) todos esses complicados fatores psicológicos e culturais deram (...) às dissenções das torcidas uma veemência que dificilmente se pode imaginar na Europa" (Rosenfeld, 1993:98). Ele pensa que as várias clivagens que caracterizam o povo brasileiro étnicas, de classe, de escolaridade entre outras fizeram com que o futebol se tornasse um campo de disputas de desigualdades e hierarquias. "Essa ambivalência deve exercer um apelo extraordinário em culturas que, como as do Ocidente, reverenciam tanto o ideal da masculinidade um traço que no Brasil particularmente se realça" (Rosenfeld, 1993:95). Porém, desde o início um aspecto fica fora do futebol externo por ser outro, aquilo que nem mesmo merece ser discutido. O feminino e tudo o que se liga à mulher.

A seguinte ilustração fornecida pelo autor mostra como, desde os primórdios desse esporte, o fato de ser vencido era associado ao feminino, algo como deixou de ser homem: "Quando o Vasco foi batido pelo Flamengo, os adeptos deste colocaram, no portão da sede do clube vencido, um tamanco de quase três metros" (Rosenfeld, 1993:98)3. Por outro lado o pesquisador faz questão de frisar que no âmbito da vida diária reinava a mais absoluta paz nas relações sociais entre portugueses e brasileiros. Isso nos possibilita trazer a análise que Freud (1972) faz dos chistes e das anedotas acerca das suas funções de extravasar o que socialmente não pode ser verbalizado seriamente (como o racismo), vinculando-os com algumas funções sociais desempenhadas pelo futebol.

A partir da ideológica visão de democracia racial, o escritor coloca que um autêntico fruto da mistura de raças do Brasil foi responsável pela ampliação deste esporte no gosto popular: o jogador Arthur Friedenreich, filho de um alemão e de uma brasileira mulata. Assim sendo, "o gol da vitória, que marcou em 1919 contra o Uruguai, abriu ao homem de cor acesso aos times mais distintos. Um `moreno' tornara-se herói nacional" (Rosenfeld, 1993:98). O mesmo autor sublinha que homens de cor já haviam realizado grandes feitos nas artes brasileiras, contudo, o grande público não tinha conhecimento de tais obras, conseqüentemente, tais pessoas não eram modelos positivos para negros e mestiços pobres em geral. Na verdade, para alguns negros e mulatos estes literatos negros que se destacaram eram vistos como uma espécie de desertores, posto que teriam adotado o mundo dos brancos/europeus.

Com relação a este jogador paulista especificamente ele "(...) encarnava um dos mais altos valores ideológicos do Brasil: o da democracia racial (...)" (Rosenfeld, 1993:99). Desta maneira, esse futebolista é tomado como protótipo daquilo que Freyre (1987) denominava, no âmbito psicológico, de mulatice brasileira. Não obstante isso, ele recorda que, em princípio, os próprios negros e mulatos não acreditavam na capacidade de outros negros e mulatos como jogadores, sendo que este fato contradiz o que Gilberto Freyre assegurava acerca do povo em relação aos jogadores de futebol:

(...) a massa se comporta, diante do ídolo, como o gato que se enroscando na perna do seu dono, parece adulá-lo, quando, na verdade, acaricia voluptuosamente a própria pele. Nesse sentido, não é de admirar que massas de imigrantes italianos encontrem seu ídolo em filhos de imigrantes italianos que sejam grandes craques de futebol (Freyre, apud Rosenfeld, 1993:99).

Portanto, o fato relatado por Rosenfeld (1993) bem como outras declarações cotidianas como, por exemplo, mulher não gosta de mulher, pobre não vota em pobre demonstram que outro fator intersecciona a identificação imediata entre iguais: uma ideologia que, através dos símbolos coletivos e do discurso hegemônico, elege determinados tipos como ideais, denegrindo outros, portanto não os fazendo alvo de identificação, mas alvo de repúdio mesmo por parte de seus iguais e, segundo Marx (1980), se deve a isso a permanência de qualquer ideologia. No Marxismo a ideologia seria um retrato de cabeça para baixo da sociedade, visto que coloca o efeito como causa e vice-versa. Esse processo distorce e mitifica as verdadeiras causas dos fenômenos sociais. Segundo ele, a fetichização faz com que certo objeto ou fato social apresente propriedades intrínsecas como se sempre as tivesse, que não fossem elaboradas ao longo da história desta forma, tais fatos passam a ter valor em si mesmo e não são passíveis de questionamento.

Já para Gramsci (apud Ramos, 1984), cujo conceito de ideologia é basicamente dialético, existiriam dois tipos de dominação social: um mais direto e explícito, exercido pela força e pela coação física e um segundo tipo seria o uso ideológico de mecanismos psíquicos para o exercício do poder, tais como a cooptação, a persuasão, a manipulação, a chantagem entre outros. Um conceito que Gramsci desenvolve a partir desses mecanismos mais sutis de dominação é o de hegemonia cultural. Conforme Ramos (1984), o futebol pode ser compreendido desta forma: um instrumento que artificialmente emana do povo, pois em verdade representa uma agência de despolitização e de alienação das massas. Logo, para ele, o futebol é mais um dos aparelhos ideológicos do Estado capitalista e assim como a família, a escola e a igreja, também atua no sentido de manter o instituído.

Segundo Ramos (1984), a sensação de felicidade provocada pelos êxitos esportivos se deve à fuga da realidade. Porém, o autor acredita que o alívio temporário gerado nos estádios das coerções e opressões nas quais a massa da população vive serve justamente para manter as condições dessa subordinação de classe. Ainda Ramos (1984), numa leitura generalizante de Freud, afirma que o futebol também funciona como um desvio da sexualidade, sendo que Reich (1949) aprofunda ainda mais a questão, considerando que o exercício masoquista da sexualidade pode se dar de várias formas, como por exemplo, no gozo pelo sofrimento (perder o jogo) e na obediência (aos ídolos esportivos).

Em síntese, Ramos (1984) acredita que o manejo das massas populares na cultura ocidental instrumentalizou a indústria de entretenimento e o futebol seria parte desta técnica de manipulação dos indivíduos. "Os anúncios, as relações públicas, a doutrinação não são mais custos improdutivos, gerais, mas custos básicos de produção" (Marcuse, apud Ramos, 1984:29). De fato, o futebol funcionaria como excelente instrumento para as classes capitalistas, já que, descarregando a raiva e agressividade em outra área que não no pátio da empresa, o indivíduo volta do jogo psiquicamente dócil e em condições de aceitar e obedecer às regras que lhe são impostas. Relativamente a isso, Rosenfeld diz:

Nele [futebol] encontram expressão impulsos irracionais da espécie mais violenta. (...) se trata de uma expressão lúdica (...) de uma descarga daqueles instintos moldada e cultivada por uma estrita disciplina e firmes convenções, (...) em suma, de sua sublimação. (...) o Futebol é uma expressão simbólica de energias primitivas, até destruidoras: é sua representação organizada (Rosenfeld, 1993:105). (grifo do autor).

Logo, na compreensão do pesquisador citado, o referido esporte é uma expressão metafórica do controle humano sobre energias que a priori seriam irracionais. Faz com que o animal que subsiste no humano passe por uma lapidação através desta catarse coletiva. Neste mesmo raciocínio foi a declaração colhida por Roberto Ramos de um jogador que já passara por grandes times como Grêmio ou Flamengo sobre o futebol:

(...) aliena e, no que se coloca nesse plano exagerado, outras situações básicas para a vida do ser humano ficam esquecidas. Se fosse o delírio por uma jogada bem-articulada (...) seria maravilhosa a reação dessa gente. Porém, as emoções que envolvem essa gente, ao assistir um jogo de futebol, e suas respectivas reações, nem pertencem a elas, ou, se pertencem, são totalmente inconscientes. O estádio passa a ser uma arena, um muro de lamentos, uma válvula de escape para os intrincados problemas propostos pelo quotidiano (Ramos, 1984:28).

 

Alguns depoimentos

Visto que optamos por uma abordagem qualitativa e baseando-nos na complexidade e multiplicidade de facetas dos fenômenos (não palpáveis) etnia, relações de classe e subjetividade masculina, nos propusemos a realizar um número reduzido de entrevistas semi-estruturadas, aprofundando-nos nos tópicos, técnica essa que ofereceu oportunidades de escavar, analisar e compreender significados acessando um discurso altamente polissêmico. Posto que se trata então de um estudo qualitativo, onde não existe a urgência de que as pessoas entrevistadas estejam dentro de um rígido padrão sócio-cultural-econômico, não nos preocupamos demasiadamente com dados referentes à classe social, escolaridade ou etnia, entretanto o filtro se baseou numa faixa etária específica (entre 20 e 40 anos), moradores da rede urbana de Belo Horizonte e torcedores de times de futebol da capital mineira.

Portanto, o que substancialmente compõe nosso conjunto de entrevistados é o vínculo com o futebol, sendo que não tivemos a pretensão de medir o grau de paixão do sujeito antes de submetê-lo à entrevista, mas desde que se manifestasse positivamente pelo Atlético ou pelo Cruzeiro era um entrevistado em potencial. Ouvimos 1 torcedor integrante da Máfia Azul (torcida organizada do Cruzeiro) 1 torcedor integrante da equipe dirigente da Galometal (torcida organizada do Atlético) e 3 torcedores comuns do Atlético e 2 torcedores comuns do Cruzeiro. Para melhor visão panorâmica das características sociais e econômicas, apresentamos a seguir um quadro comparativo entre os entrevistados.

 

 

Três diferentes partes do repertório das respostas coligidas exemplificam bem a diversidade da prática de futebol entre os entrevistados e como tal prática é determinada pelas subjetividades de cada um; no primeiro patamar de freqüência estariam aqueles que habitualmente praticam este esporte (Diego, Júnior e Kleison), mas se pudessem o exercitariam com mais freqüência. No segundo escalão os que esporadicamente jogam, especialmente por falta de tempo, não porque não gostam (Hugo, Rafael e Ângelo). Por último estaria Márcio, que jogou apenas na infância quase que impelido a fazer isso. Em sua resposta sobre a prática esportiva vemos a influência do social (os avós) na práxis cotidiana das pessoas.

Marcel: e jogar você joga?

Diego: jogo... toda terça feira eu jogo futebol de salão.

Hugo: já joguei muito. Quase profissional, não cheguei a ser jogador profissional, mas quando era criança eu jogava nos campeonatos de Ipatinga das categorias inferiores; hoje morando aqui em Belo Horizonte não tenho muita oportunidade... Agora é mais por lazer mesmo. Antigamente era por lazer e meio profissional.

Márcio: sou a aberração do futebol e certamente porque eu nunca curti muito essa onda do esporte. (...) eu acho pouca bola pra muita gente, acho que o jogo vai ficar em zero a zero, acho que aquele negócio vai ficar meio agressivo (...). Joguei futebol muito pouco, por necessidade, de me ver obrigado, aquela coisa dos avós: pelo amor de Deus, joga uma partida na escola (...). E aí vou lá e jogo aquilo muito a contragosto achando muito chato.

Também poderíamos aludir ao que argumenta Mauss (1974) acerca das técnicas corporais para compreender as concatenações entre a formatação do corpo masculino, no universo esportivo, com certas técnicas físicas próprias da prática lúdica. Neste aspecto, o corpo do atleta amador ou profissional é montado e regulado para determinados tipos de utilizações. Além disso, existe o reconhecimento, pela fala de Diego, de como a questão da identificação social interfere na experiência e na vivência concreta do sujeito, pois é categórico ao admitir que jogando bola o indivíduo tenta imitar seus ídolos (Ideais de Ego). Diego deixa entrever um dos pressupostos do paradigma sócio-histórico, que vem a ser o da vinculação entre cognição, afetividade e realidade prática como práxis e ethos estão intimamente relacionados, imbricação esta também importante no processo de identificação, pois, a princípio por imitação e depois por idealização, o sujeito passa a introjetar características daquele grupo/indivíduo que valoriza na construção da sua subjetividade.

Diego: jogar é você ver o seu ídolo jogando e tentar colocar em prática as jogadas (...) reproduzir as jogadas dele jogando com seus amigos (...) exercer o seu futebol (...) a sua técnica, que aprendeu a desenvolver ao longo da vida (...), então a graça mesmo é você tentar reproduzir as jogadas dos grandes craques...

Em relação ao sentimento positivo que jogar futebol causa, Hugo ofereceu uma explicação que passa pelo prazer físico (sentir o corpo, testar as habilidades), pelo psicológico (envolve espiritualidade, a pessoa é valorizada, é positivo para a auto-estima e conseqüentemente para a construção do caráter do sujeito) e pelo social (cultura, insere o indivíduo no grupo). Indiretamente ele diz que o indivíduo que se mostra violento (bom de briga) também irá ser prestigiado pela cultura e nos permite deduzir que, neste sistema simbólico, brigar e jogar muitas vezes não apresentam fronteiras definidas entre si, como explanaram Elias & Dunning, (1992). Evidenciamos ainda, no recorte que se segue, que ele coloca uma prática agressiva (brigar bem) num contínuo formado por duas práticas esportivas (bom de bola; faz gols), como se, mentalmente, lhes representasse um só processo.

Hugo: [o prazer advém de] sentir meu corpo, sentir minhas habilidades (...) envolve a espiritualidade do cara... a cultura mesmo (...) você é valorizado se você joga futebol aqui no Brasil; se você é bom de bola (...) se você briga bem, se você faz os gols você é valorizado... isso de alguma forma contribui pro cara ser uma pessoa. (...) tudo o que você faz quando você é criança contribui pra você ser homem, então se você jogou bola bem, é bom pra sua auto-estima, seu caráter. (...) eu gostava de sair com a galera junta 20 caras e vão jogar bola... você tá inserido dentro de um grupo. (...) tem jogo que é violento, dentro do campo você vê quem é violento, quem não é; você consegue até descobrir um pouco do perfil dos colegas, a agressividade. Outros vão pro campo nem é pra jogar bola, é pra quebrar o outro... tem uns que vão pelo prazer de jogar mesmo... o prazer é descobrir suas habilidades.

Resposta adjacente a esta foi a de Márcio, que, porém, não assimilou aspectos psicológicos, apenas físicos (se exercitar é prazeroso) e sociais (o indivíduo bom de bola é prestigiado na sociedade). Nisto, seria como se a pessoa ganhasse um crachá (credencial) social para ser identificada e assim ser diferentemente avaliada e tratada a partir da catalogação: bom jogador, mau jogador, etc. Júnior considerou apenas aspectos físicos (exercitar o corpo) e psicológicos (favorece que problemas diários sejam momentaneamente deixados de lado, permite que se entre em outra, agradável, realidade) para justificar sua afinidade por este esporte.

Márcio: (...) acho que é a competição. Acho que é o prazer do físico. O exercício físico causa um ato de prazer. É o prazer (...) de exercício físico, da socialização de uma maneira geral. (...) E vem aquele negócio: `eu sou bom de bola', que de certa forma é estimado ainda no Brasil e nesse ponto é mais masculino. Ainda é uma característica que vale alguma coisa. Ah lá! Fulano é bom de bola. Há certo destaque.

Júnior: de certa forma é uma forma de você exercitar o seu corpo e esquecer os problemas externos totalmente, você fica concentrado naquele jogo, uma forma mais ou menos de sair da realidade... de pensar somente no futebol, talvez seja bom por isso.

Também Ângelo, assim como Júnior, ressalta o lado físico (atividade esportiva em geral) e o caráter social do futebol (melhor que outros esportes porque existe interação, conversa, diálogo, o pensar em grupo). Para ele o fato de ser um jogo em conjunto seria o grande diferencial positivo do futebol. Contudo, fica em aberto uma questão que ele mesmo tangenciou no início da explanação: quais os motivos de o futebol se sobrepor ao vôlei, ao basquete ou mesmo ao handball, atividades também efetivadas socialmente? Provavelmente uma das respostas para esta dúvida poderia ser tirada do fato de que o futebol é uma simbólica da masculinidade brasileira, e como tal atrai narcisicamente os indivíduos, que assim (virilmente) se auto-representam, pelas interações sociais entre iguais. Aqui encontramos um traço cultural recorrente em diferentes sujeitos e que nos faz pensar que seja peculiar ao universo masculino: o ritualístico hábito de se tomar cerveja, no bar preferencialmente, com amigos do mesmo sexo.

Ângelo: seria pela prática do esporte... simplesmente isso. (...) aquela peladinha do final de semana... aí eu não acho diferença de jogar um basquete, um vôlei, eu acho que seria pela atividade física mesmo. (...) e pelo fato de ser um esporte em conjunto. É uma atividade coletiva, do mesmo jeito que sair prum barzinho e tomar uma cerveja, você tá interagindo com outras pessoas; tem o prazer de ganhar uma partida também ou não ganhei mas vamos tomar uma cervejinha depois do futebol, aí porque a atividade esportiva tá praticando com quem você gosta... agora é muito diferente de você fazer uma corrida, é um esporte totalmente diferente... futebol é em coletividade. (...) tem estratégia, tem criatividade, você tem que pensar rápido, conversa... é outro tipo de esporte, acho que na natação não existe interação social, o futebol tem essa parte social.

Ângelo crê que os homens são mais ligados à questão da corporalidade, do toque físico (desde que seja com sentido agressivo) do que as mulheres. É importante destacar isso porque presumimos que se o significado do contato físico fosse afetivo sua resposta seria o inverso. Aos homens é interditada esta possibilidade, ao passo que para as mulheres é socialmente aceito (em outra passagem o mesmo entrevistado fala que, por exemplo, duas mulheres podem dormir juntas, andar de mãos dadas, o que seria impensável entre homens, não para ele, frisou). Assim, a corporalidade intermasculina, para existir, deve necessariamente passar pela rusticidade, pois, ao contrário, é rechaçada e mesmo estigmatizada pela sociedade (ao menos no plano ideal). Desta forma, numa perspectiva adotada por Douglas (1976), podemos entender aquele fato da seguinte forma: os rituais e os códigos sociais concernentes ao corpo são símbolos que retratam desígnios da estrutura social mais ampla e, acrescentaríamos, reforçados por esta estrutura maior e ao mesmo tempo servindo para mantê-la.

Marcel: você acha que os homens gostam mais de futebol do que as mulheres?

Ângelo: sim, eu acho que é por ser mais uma coisa de contato... contato físico, por ser uma coisa agressiva.

Também Ângelo entende como normal que um homem ache outro bonito, admire a beleza masculina, pois na sua compreensão, a análise estética e o desejo sexual são coisas distintas. Júnior também pensa assim, mas recorda que o homem não pode admitir/elogiar em público a beleza do outro, ainda que para ele particularmente não haja problema. Colocamos a conceituação normal entre aspas porque é uma constante cultural que os homens não possam verbalizar aspectos positivos da beleza em outro homem, apesar de admirá-la sutilmente, isto é, não lhes é permitido reparar outro homem como as mulheres geralmente fazem entre si.

Marcel: não tem problema um homem achar o outro bonito?

Ângelo: não, de forma alguma... o que é bonito é pra ser visto.

Júnior: não. (...) é a cultura do homem, como uma mulher achar a outra bonita, o homem já não aceita isso... eu posso até achar outro homem bonito mas não posso falar, não pode falar porque senão ele é taxado: então você gosta, (...). Com certeza aí, a palavra forte ia ser talvez piranha, galinha... talvez nesse sentido teria uma mesma função... mulher chamar a outra de piranha. (...) isso vai ofender o homem, a cultura não deixa o homem ser introduzido, a grande maioria não aceita, que é uma coisa normal pra mulher num sexo.

Neste caso, este outro sentido dentro da masculinidade hegemônica somente pôde ser trazido por um indivíduo que de certa forma se encontra exterior a esta masculinidade dominante (mas não completamente, como as outras respostas dele demonstraram). Este processo de desnormalização do habitual, desestabilização dos lugares comuns reafirma ainda mais o caráter histórico, relativo e socialmente erigido da cultura e da sociedade bem como aponta, diferentemente do que pregam as teorias macro sociológicas acerca da ação racional, que somos influenciados por diversos tipos de motivações, desejos e anseios inconscientes jamais refletidos por nós mesmos (Costa, 1995).

Na contraposição entre corpo e mente apareceu a seguinte vinculação: 3 sujeitos associaram o conceito corpo ao Cruzeiro e 4 ao Atlético. Quando relacionaram o Atlético a corporalidade, os entrevistados justificaram que este time/torcida os lembrava: violência, raça (neste item podemos fazer um elo com a questão étnica, pois o Atlético é mais associado aos negros/escuridão/sombra), sem guia (perdido), irracional, agressividade, paixão, força. Em síntese, o corpo seria a animalidade (característica por excelência atribuída aos negros até recentemente na história do Brasil) e a mente seria peculiar à humanidade. Quanto a esta última palavra, ligada ao Cruzeiro, o que ocorreu aos entrevistados foram os conceitos de: racionalidade (mais racional; notamos que o Cruzeiro foi definido em relação ao Atlético, assim como a mulher é definida em relação ao homem), inteligência, usa a cabeça, é clássico (fino), time de toque de bola (o que se contrapõe a jogo de raça: com força e garra), estrategista (ardiloso), tranqüilo.

Por outro lado, quando foi associado ao corpo, o Cruzeiro despertou nos entrevistados os conceitos de maior presença física no estádio e superficialidade emocional. Quando associado à mente, o Atlético fez os entrevistados se remeteram à alma (mais profunda que o corpo) e ausência corporal (abstração, tal como a mente). A própria maneira como as idéias foram colocadas e organizadas pela maioria dos entrevistados é indicativa de como opera nosso sistema simbólico-cognitivo: em geral eles primeiro definiam a norma a partir de um dos conceitos, por exemplo, Cruzeiro é isso, Atlético é aquilo, e em seguida atribuíam o conceito que sobrou ao outro. Isso mostra que não há simetria nem neutralidade avaliativa e sígnica, reflexo do sistema social/político/econômico/cultural mais vasto que nos envolve.

 

 

Apito final

A partir da teorização precedente, ou seja, desde os primórdios do futebol no Velho Mundo até sua instauração na Capital mineira, podemos concluir que, seguramente, o futebol é uma instituição social que possui dimensões sócio-culturais e econômicas que incitam muitos estudos nas Ciências Humanas atualmente. Várias dissertações e teses têm sido elaboradas nas últimas décadas sobre este tema; entre elas podemos mencionar o trabalho de Moura (1998) que, de modo primoroso, discorre sobre os significados da construção do Estádio Maracanã. Entre outras afirmações ela demonstra como tal obra simbolizou, na época, uma identidade e um nacionalismo grandiosos em relação ao restante da América Latina. Ela também analisa o que significou a derrota na Copa de 1950, dentro deste estádio, para o Uruguai (uma nação considerada menor frente ao Brasil, o gigante adormecido).

Grande parte dos textos sobre futebol no Brasil enfatiza sua história e seu papel na constituição da identidade nacional este é o caso do estudo de Gudes (1998). Com relação à pesquisa de Gil (1994), há destaque para a relação entre a prática futebolística e nacionalidade, onde o autor ressalta a imagem do futebol-arte como representante da miscigenação do povo e fonte de identificação dos brasileiros. Segundo a obra, a cultura mestiça do país teria originado o estilo malandro de se jogar bola, contudo, ele nota que tal característica uma peculiaridade do Brasil estaria sendo ameaçada pela mercantilização e pela europeização do esporte, cada vez mais agudas a partir da década de 1970. Desta forma, a magia, a paixão e o talento inato (biológico?) estariam sendo substituídos pela seriedade, disciplina e rigor que caracterizaria o futebol internacional.

Já a hipótese central de Ramos (1984) é que o futebol desempenha na sociedade brasileira, especificamente, e também em todo o Ocidente, variados papéis ideológicos. Em primeiro lugar sustentaria os estados ditatoriais, fazendo com que os conflitos sejam pacificamente desarticulados, visto que, enganosamente, proporcionaria a sensação de que todos burgueses, operários, ricos, pobres, negros, brancos são iguais: torcedores de um mesmo time. Neste sentido, criaria a falsa impressão de que a sociedade brasileira é democrática:

(...) as relações de dominação e exploração capitalista desaparecem. São substituídas pela identificação dos torcedores, ou no máximo pela divergência clubística. Há a implantação de outra dimensão do real. Os torcedores possuem um objetivo comum (Ramos, 1984:33).

Isso, no entender do autor, faria com que a população desenvolva uma posição acrítica e passiva diante da realidade. Os altos salários dos jogadores bem como a ascensão de poucos elementos vindos das classes pobres não são questionados, ou seja, atribuí-se ao talento pessoal ou a sorte que este ou aquele favelado consiga ascender economicamente jogando futebol (e não cursando uma faculdade ou sendo um empresário), o que legitimaria a péssima distribuição de renda e de oportunidades no país. Nestes termos, o futebol daria a ilusão no menino pobre que ele pode ter uma boa condição financeira apenas através daquele esporte e não por outros meios como se tornar um executivo, um juiz, etc. Tal ocorreria porque os meios de comunicação de massa absolutizam o futebol, lhe dão um caráter transcendental, como se sempre tivesse existido, ocultando sua origem sócio-histórica e as manipulações dos resultados, de acordo com os interesses financeiros dos clubes e patrocinadores.

É também pertinente, numa época como a que vivemos presentemente, de enfraquecimento das fronteiras simbólicas e de interpenetração das identidades, encarar o futebol e a torcida organizada como lugar específico de identificação e de unidade. Neste sentido, naquele contexto, festejar uma vitória é, em algum sentido, territorializar um campo simbólico. Na Argentina a xenofobia e o racismo são persistentes nos gritos das torcidas, fato que muito raramente aparece nas cantigas dos estádios brasileiros. Por exemplo, para os argentinos o Outro, no aspecto étnico, são os paraguaios, os bolivianos (devido à predominância do biótipo indígena) e os brasileiros (devido à influência negra na composição da população). Quanto ao último povo, são chamados de los macaquitos, recurso verbal que recorre a desumanização como forma de desprezo. É intrigante constatar que mesmo em jogos entre clubes nacionais a referência aos paraguaios, bolivianos e brasileiros, como forma de insulto, é freqüente.

À guisa de conclusões, no que concerne à elaboração da identidade violenta na esfera lingüística, esse é um processo de reconhecimento que o sujeito social faz de si mesmo como idêntico (similar) a outros e, conseqüentemente, tal identidade funciona como fator de coesão entre os que assim se identificam, formando então o grupo social. Este processo de auto-identificação é acompanhado da atribuição de significados por parte dos outros em relação a ele (fulano é bravo/valente), significados estes que, em seu conjunto, formam um arcabouço simbólico em torno de determinado coletivo identitário (os atleticanos, os brasileiros, etc.) que os permite, embora convencionalmente como todo traço cultural, assumir uma unidade relativa (esta vai ser mais precária quanto maior for o grupo).

 

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1 As reflexões ora apresentadas são derivadas da pesquisa que realizei durante o Mestrado em Psicologia Social na Universidade Federal de Minas Gerais que, por sua vez, gerou a dissertação intitulada A institucionalização do futebol e a organização dos times em belo horizonte analisadas sob o prisma das relações de gênero, de classe e étnicas, defendida em 2004 na UFMG sob orientação da Profa. Dra. Íris Barbosa Goulart.
1 Gays, lésbicas, mulheres feministas, negros, imigrantes do dito terceiro mundo, etc.
3 Isto é, o Vasco tendo sido fundado por imigrantes portugueses, naquele momento não representava mais a hombridade dos adeptos, tendo se transformado numa lusitana com seus tamancos típicos.

 

Sobre o autor

Marcel Freitas é antropólogo e mestre em Psicologia Social (UFMG); professor da Faculdade da Cidade de Santa Luzia, MG.

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