SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.3 número1Fatores familiares associados ao desenvolvimento do talento no esporteVolume de treinamento, percepção subjetiva do esforço e estados de humor durante um macrociclo de treinamento índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Psicologia do Esporte

versão On-line ISSN 1981-9145

Rev. bras. psicol. esporte v.3 n.1 São Paulo jun. 2010

 

 

Atletas talentosos e o papel desempenhado por suas famílias

 

Talented athletes and the role played by their familie

 

Los atletas com talento y el papel desempeñado por sus familias

 

 

Paulo Vinícius Carvalho Silva; Denise de Souza FleithI

IInstituto de Psicologia - Universidade de Brasília

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo investigar a percepção de atletas de alto desempenho em relação à freqüência com que seus pais implementavam práticas parentais associadas ao desenvolvimento do talento esportivo. Participaram do estudo 225 atletas adultos, distribuídos entre vinte modalidades esportivas. As informações, obtidas por meio do Inventário Fatorial de Práticas Parentais Relacionados ao Desenvolvimento do Talento no Esporte (IFATE) e de um questionário com informações sócio-demográficas e dados relativos à prática esportiva dos atletas, permitiram comparar respostas atribuídas aos cinco fatores do IFATE em virtude do gênero dos atletas, tipo de esporte praticado por eles, classe social de suas famílias de origem, tempo de participação em competições, tempo de participação em competições nacionais e nível das competições nas quais os atletas participaram. Os resultados indicaram diferenças significativas decorrentes do tipo de esporte praticado pelos atletas e do nível das competições nas quais eles participaram. Não foram encontradas diferenças significativas quanto ao gênero, tempo de participação em competições e classe social das famílias de origem dos atletas.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Talento, Esporte, Família.


ABSTRACT

Talented athletes and the role played by their familiesThe present study aimed at investigating high performance athletes’ perception related to the frequency in which their parents used to implement parental practices associated with talent development in sports. A total of 225 adult athletes participated in the study, distributed among twenty sports modalities. The information obtained by both Factor Inventory of Parental Practices Related to Talent Development in Sports (IFATE) and a questionnaire containing demographic data, in addition to information regarding the athletes’ sports practice allowed to compare responses to the five factors of the Inventory, in relation to the athletes’ gender, type of sport practiced, social class of families of origin, time of participation in competitions, and level of competitions in which athletes participated. The results indicated significant differences due to the type of sport practiced by athletes and the level of competitions in which they participated. No significant differences were found in relation to gender, time of participation in competitions, and social class of athletes’ families of origin.

Keywords: Development, Talent, Sports, Family.


RESUMEN

Los atletas com talento y el papel desempeñado por sus familiasEste estudio tiene como objetivo investigar la percepción de atletas de alto rendimiento sobre la frecuencia con que sus famílias apliquen las prácticas parentais relacionadas con el desarrollo de talento deportivo. Los participantes del estudio fueron 225 atletas adultos, distribuidos entre los veinte deportes. La información, obtenida a través del Inventario Factorial de las Prácticas Parentais Relacionadas con el Desarrollo de Talento en el Deporte (IFATE) y un cuestionario con datos socio-demográficos y los datos relativos a la práctica de deportes de los atletas, permitió comparar las respuestas dadas a los factores de IFATE considerando el género de los atletas, el tipo de deporte practicado por ellos, la clase social de sus familias de origen, el tiempo de participación en competiciones, y el nivel de las competiciones en el que participaron atletas. Los resultados indican diferencias significativas derivadas del tipo de deporte practicado por atletas y el nivel de las competiciones en las que participó. No se encontraron diferencias significativas considerando el género, el tiempo de la participación en competiciones, y la clase social de las famílias de origen de los atletas.

Palabras-llave: Desarrollo, Talento, Deportes, Família.


 

 

Introdução

Durante os últimos anos, observa-se um interesse cada vez maior em relação a indivíduos que apresentam desempenho superior. Investimentos e estudos têm sido realizados de forma contundente, com o objetivo de delinear melhor como ocorre o desenvolvimento e manifestação de comportamentos de superdotação. No Brasil, a definição atualmente empregada pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação afirma que "alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse" (Brasil, 2008, p. 15). Portanto, o talento ou superdotação pode se desenvolver em diversas áreas.

Além disso, estudiosos destacam a importância da interação entre características individuais e fatores ambientais para o desenvolvimento do talento ou superdotação1 (Renzulli, 2005; Tannenbaum, 2003; Winner, 1998). O contexto familiar, por exemplo, tem sido apontado como de extrema relevância para o desenvolvimento de habilidades na ciência, música e esporte (Alencar, 1997; Bloom, 1985; Moraes, Rabelo & Salmela, 2004).

Para Olszewski-Kubilius e Limburg-Weber (2003), a família desempenha o importante papel de introduzir o jovem à sua área de talento, sendo os seus primeiros professores. Além disso, os pais providenciam os recursos necessários ao desenvolvimento dos jovens naquela área. As pesquisadoras também afirmam que os pais que oferecem um suporte adequado a seus filhos talentosos geralmente: "(a) funcionam como um filtro por meio do qual suas jovens crianças experimentam o mundo; (b) ajudam suas crianças a construírem relações sociais que auxiliam o desenvolvimento de seu respectivo talento; e (c) ensinam crenças e valores que auxiliam a alta realização" (p. 9).

Ressalta-se ainda que o desenvolvimento do talento ou superdotação é um processo associado a vários fatores e que ocorre durante distintos estágios. Cada período possui suas características particulares, impondo desafios ao indivíduo talentoso e às pessoas que se relacionam com ele (Bloom, 1985; Côté, 1999). No esporte, o envolvimento do atleta consiste em uma carreira composta por início, meio e fim (Stevenson, 1990). Ou seja, ela constitui uma experiência contínua, desenvolvida ao longo de diferentes estágios. Neste sentido, Côté (1999) destaca três estágios específicos do contexto esportivo e relacionados à participação dos pais na vida esportiva dos filhos: anos de experimentação, anos de especialização e anos de investimento. Estes estágios se baseiam nos conceitos da teoria da prática deliberada. Segundo o pesquisador, os anos de experimentação correspondem à faixa etária de 6 a 12 anos e se caracteriza por ser um período em que os pais possuem a responsabilidade de fazer com que o filho se interesse pelo esporte. É uma fase em que é essencial o divertimento, o prazer pela atividade e a possibilidade de experimentação de atividades diversas. Os anos de especialização correspondem à faixa etária de 13 a 15 anos e é um período em que o jovem passa a praticar somente uma ou duas modalidades esportivas, participando menos de outras atividades extracurriculares. Há um maior comprometimento com a atividade e é importante o desenvolvimento de habilidades específicas do esporte praticado. Os anos de investimento correspondem ao período de 16 a 18 anos, sendo um período no qual o jovem almeja alcançar um nível de excelência no esporte praticado. Neste período, há um grande envolvimento tanto do jovem atleta como de seus familiares. O jovem atleta torna-se o centro de todas as atividades da família, que também exerce o importante papel de fornecer suporte emocional aos atletas, que passam a enfrentar adversidades decorrentes do árduo treinamento, como por exemplo, lesões e fadiga. Ressalta-se que a idade em que os jovens alcançam esta fase pode variar conforme a modalidade esportiva. Côté e Hay (2002) acrescentam ainda outro estágio denominado anos de recreação, no qual o indivíduo pode ingressar após qualquer um dos estágios mencionados anteriormente. Nos anos de recreação, pratica-se o esporte sem a aspiração de atingir um nível excelência, preocupando-se apenas em obter saúde e satisfação com a atividade realizada.

Segundo Wolfenden e Holt (2005), a proposta de Côté (1999) considera que o envolvimento dos pais se modifica ao longo dos estágios de desenvolvimento. Nos anos de experimentação, os pais desempenham um papel de liderança. Durante os anos de especialização, os pais desempenham um papel de facilitadores da participação esportiva do jovem. E nos anos de investimento, os pais fornecem o suporte necessário aos jovens, principalmente em termos emocionais.

As formas com que a família se envolve na atividade esportiva realizada por seus integrantes também têm sido investigadas. Hellstedt (1987), por exemplo, afirma que o envolvimento dos pais se classifica em um contínuo formado por três grupos: subenvolvimento, envolvimento moderado e superenvolvimento. O subenvolvimento corresponde a uma relativa falta de comprometimento financeiro, emocional ou funcional dos pais, que estabelecem pouquíssimo contato com os treinadores. O envolvimento moderado, que é considerado o nível ideal, consiste em firmeza e suporte dos pais em relação à participação do filho no esporte. Os pais oferecem o suporte necessário às crianças, mas estas possuem autonomia para decidir acerca de sua respectiva participação esportiva. O superenvolvimento consiste numa participação excessiva dos pais na prática esportiva dos filhos, confundindo as suas próprias necessidades com as dos filhos atletas. Estes pais tendem a estabelecer metas irreais aos jovens e a desaprová-los caso eles não consigam atingi-las.

Os estágios de desenvolvimento do talento se modificam em decorrência dos diferentes estágios de desenvolvimento humano. Estudos relativos ao contexto esportivo afirmam que as famílias possuem uma influência predominante no desenvolvimento do talento durante a infância e o início da adolescência. Porém, nos estágios posteriores, os técnicos passam a exercer uma influência maior (Bloom, 1985; Côté, 1999, 2002; Wolfenden & Holt, 2005). Uma possível explicação para isso é que, com o crescimento dos filhos, as orientações dos pais passam a ser mais voltadas à independência e autossuficiência dos jovens (Power & Shanks, 1989). Isto, por sua vez, pode resultar num maior afastamento dos pais/família em relação às atividades realizadas pelos filhos.

Para que o envolvimento dos pais contribua de forma efetiva sobre o desenvolvimento do talento dos jovens, é importante que estes desenvolvam uma percepção favorável a respeito da participação mencionada (Wiersma, 2001). Estudos ressaltam a importância da percepção e interpretação das crianças acerca do envolvimento dos pais (Babkes & Weiss, 1999; Kanters, Bocarro & Casper, 2008). O envolvimento dos pais em alguma atividade realizada pelos jovens pode ser avaliado de formas distintas por estes. Pais que apresentam um alto nível de envolvimento podem representar uma fonte de grande pressão para alguns jovens. Em outros casos, esta mesma característica dos pais pode ser encarada como fonte de grande incentivo (Hellstedt, 1995). Para que os jovens percebam de forma favorável o envolvimento de seus pais, Lee e MacLean (1997) recomendam que os pais conversem com seus filhos sobre a natureza e a intensidade do seu envolvimento na prática dos jovens. Deste modo, serão comunicadas e discutidas as necessidades dos jovens, os anseios dos pais e a função que será desempenhada por estes.

Ademais, em relação à família e aos treinadores, Byrne (citado em Vilani & Samulski, 2002) afirma que eles são os elementos que exercem mais influência sobre a prática esportiva dos jovens. O autor propõe o modelo do triângulo esportivo, que ilustra a tríade treinador-pais-criança. As relações estabelecidas entre os elementos da tríade são fundamentais para a constituição de um ambiente apropriado à formação do jovem no esporte.

Destaca-se que as crenças dos pais dos atletas podem desenvolver diferenças de gênero em relação à percepção de competência e crenças de valores de crianças e adolescentes. Ou seja, o incentivo e o reconhecimento atribuídos às atividades esportivas de meninos e meninas são diferentes, o que pode influenciar o envolvimento dos jovens no esporte. Eccles e Harold (1991) apontam uma grande diferença de gênero em relação à importância que as crianças atribuem ao esporte e à percepção de habilidade esportiva que os jovens apresentam sobre si mesmos. As meninas consideram que possuem menos habilidade do que os meninos no esporte, e atribuem menos importância a tal domínio.

Nesta mesma temática, Fredricks e Eccles (2005) realizaram um estudo com crianças e seus respectivos pais no qual os resultados indicaram diferenças de gênero nas práticas e crenças destes. Ou seja, em comparação com os pais das meninas, os pais dos meninos atribuíram maior importância à prática esportiva e consideraram que seus filhos apresentavam maiores habilidades. O incentivo providenciado pelos pais dos meninos mostrou-se superior ao incentivo relativo aos pais das meninas.

Conforme mencionado anteriormente, a família desempenha uma importante função em relação ao desenvolvimento do talento. Entretanto, Chagas (2003) cita estudos cujos autores afirmam que ainda não há consenso suficiente para delimitar a extensão e magnitude do impacto destes aspectos sobre tal processo. Desta forma, destaca-se a importância da realização de outros estudos relacionados a esta temática, possibilitando uma compreensão mais acurada acerca do papel desempenhado pela família.

Especificamente relacionado ao contexto esportivo, torna-se fundamental a efetuação de pesquisas com o objetivo de verificar o papel desempenhado por pais de atletas de alto desempenho ao longo de suas trajetórias, auxiliando a implementação de medidas educativas com a finalidade de favorecer o desenvolvimento do talento esportivo. Em virtude disso, o objetivo deste estudo foi investigar a percepção de atletas de alto desempenho em relação à freqüência com que seus pais implementavam práticas parentais associadas ao desenvolvimento do talento esportivo, considerando: (a) o gênero dos atletas, (b) tipo de esporte praticado, (c) classe social da família de origem, (d) tempo de participação em competições, (e) tempo de participação em competições nacionais, e (f) nível das competições nas quais os atletas participaram.

 

Método

PARTICIPANTES

Participaram do estudo 225 atletas adultos2, sendo 152 (67,6%) do gênero masculino e 73 (32,4%) do gênero feminino. A média de idade dos participantes foi 23,61 anos (DP = 4,29), variando de 18 a 33 anos. Para participar do estudo, os atletas deveriam treinar e residir no Distrito Federal. Além disso, eles deveriam, no mínimo, participar de competições há três anos e de competições nacionais há dois anos. Estes critérios tinham o objetivo de selecionar uma amostra de participantes com um nível de desempenho acima da média em suas modalidades.

Os atletas estavam distribuídos entre vinte modalidades esportivas: (a) esportes individuais: natação, nado sincronizado, saltos ornamentais, triatlo, ciclismo, atletismo, remo, esgrima, ginástica rítmica, patinação artística, judô, jiu-jitsu, karatê, taekwondo e luta olímpica; (b) esportes coletivos: futsal, basquete, vôlei, vôlei de praia e handebol. Do total de atletas, 134 (59,6%) eram praticantes de esporte individual e 91 (40,4%) de esporte coletivo3.

A renda mensal da família de origem, composta pelos familiares que criaram os atletas, também foi questionada. Os valores, indicados pelos participantes, correspondiam a diferentes classes sociais4. A tabela de classificação, utilizada neste estudo, contempla sete classes sociais, correspondentes a distintas rendas mensais: A1, A2, B1, B2, C, D e E. Porém, para fins de análise e tendo em vista o número de participantes, as classes A1 e A2 foram agrupadas (classe A) assim como as classes B1 e B2 (classe B). Além disso, as classes D e E também foram reunidas em apenas um segmento. A seguir, encontra-se descrita a distribuição das famílias de origem dos participantes entre as diversas classes sociais, segundo sua renda mensal (ver Tabela 1). Cinco participantes não revelaram a renda de suas famílias de origem.

 

 

Em relação à idade de início de prática em seus respectivos esportes, os atletas indicaram que, em média, isto ocorreu quando eles tinham 10,97 anos (DP = 4,09). Vinte e quatro (10,7%) atletas relataram que começaram a praticar aquele esporte entre três e cinco anos atrás, 62 (27,6%) atletas indicaram que o início no esporte em questão ocorreu entre cinco e dez anos atrás, 84 (37,3%) atletas mencionaram que o ingresso naquela prática esportiva ocorreu entre dez e quinze anos atrás, e 55 (24,4%) atletas afirmaram possuir mais de quinze anos de experiência no esporte escolhido por eles. Entretanto, este período não corresponde, necessariamente, ao tempo de participação em competições.

Em virtude disso, foi questionado há quanto tempo os atletas participavam de competições (de qualquer nível) e há quanto tempo eles participavam especificamente de competições nacionais (ver Tabela 2). Apenas um participante não relatou o seu tempo de participação em competições (de qualquer nível).

 

 

Além disso, foi verificado se os atletas tinham participado apenas de competições nacionais ou se também possuíam experiência em competições internacionais. Do total de atletas, 132 (58,7%) participaram apenas de competições nacionais e 93 (41,3%) tinham experiência em competições nacionais e competições internacionais.

Os atletas também foram solicitados a indicar o estágio de desenvolvimento do talento esportivo no qual suas famílias mais participaram. Do total de atletas participantes deste estudo, 67 (29,8%) indicaram o estágio de experimentação (prática sem compromisso e realizada pelo prazer proporcionado), 72 (32%) citaram o estágio de especialização (início de participação em competições), 63 (28%) mencionaram o estágio de investimento (maior dedicação e participação em competições maiores), 4 (1,8%) indicaram os estágios de experimentação e especialização, 3 (1,3%) atletas mencionaram os estágios de especialização e investimento e, por fim, 14 (6,2%) atletas responderam que suas famílias participaram de forma igualmente expressiva em todos os estágios mencionados. Dois participantes não informaram este dado.

Por fim, os atletas também foram solicitados a atribuir níveis de importância a suas famílias em relação ao desenvolvimento deles como esportistas. Neste estudo, 142 (63,1%) atletas responderam que a família foi muito importante, 58 (25,8%) atletas revelaram que a família foi importante, 18 (8%) atletas atribuíram pouca importância à família e 7 (3,1%) participantes relataram que a família não foi importante.

INSTRUMENTOS

Foram utilizados dois instrumentos para a obtenção dos dados: (a) Inventário Fatorial de Práticas Parentais Relacionadas ao Desenvolvimento do Talento no Esporte; e (b) um questionário com informações sociodemográficas e dados relativos à prática esportiva dos atletas.

Inventário Fatorial de Práticas Parentais Relacionadas ao Desenvolvimento do Talento no Esporte (IFATE). Esta escala avalia a frequência com que práticas parentais, relacionadas ao desenvolvimento do talento no esporte, eram implementadas por pais de atletas adultos de alto desempenho, segundo a percepção dos próprios atletas. O processo de validação do IFATE, realizado previamente a este estudo, indicou que ele mede cinco fatores: Envolvimento da Família com a Prática Esportiva do Filho, Suporte Informativo e Emocional Proporcionado pela Família, Crenças da Família sobre o Potencial dos Filhos, Valores da Família e Expectativas da Família sobre o Desempenho do Filho (Silva, 2009).

O fator Envolvimento da Família com a Prática Esportiva do Filho inclui dez itens que expressam a participação direta dos pais na prática esportiva dos filhos, no que diz respeito a aspectos ligados a treinamentos e competições. O coeficiente alfa de consistência interna foi de 0,89. Citam-se os seguintes itens como exemplo: (a) Meus pais modificavam a rotina deles devido à minha prática esportiva, e (b) Meus pais me cobravam dedicação aos treinamentos.

O fator Suporte Informativo e Emocional Proporcionado pela Família engloba seis itens que representam o fornecimento de orientações da família com a finalidade de solucionar eventuais problemas e desafios enfrentados pelos jovens. O coeficiente alfa de consistência interna foi de 0,89. Entre os itens que compõem este fator, citam-se: (a) Meus pais conversavam comigo sobre o meu progresso durante os treinamentos, e (b) Meus pais conversavam comigo sobre o que eles esperavam do meu envolvimento no esporte.

O fator Crenças da Família sobre o Potencial do Filho inclui quatro itens relacionados ao reconhecimento da família acerca dos interesses e empenho dos filhos em suas atividades. O coeficiente alfa de consistência interna foi de 0,75. A seguir, encontram-se alguns exemplos de itens: (a) Minhas ideias e interesses eram respeitados pelos meus pais, e (b) Meus pais acreditavam que eu poderia enfrentar qualquer situação difícil que surgisse durante a minha carreira esportiva.

O fator Valores da Família contempla seis itens que retratam os valores ressaltados e cultivados pela família dos jovens atletas, os quais também podem ser assimilados pelos atletas em questão. O coeficiente alfa de consistência interna foi de 0,80. Entre os itens deste fator, encontram-se: (a) Meus pais me incentivavam a enfrentar desafios, e (b) Meus pais destacavam a importância de ser persistente em relação ao que se quer alcançar.

O fator Expectativas da Família sobre o Desempenho do Filho inclui três itens referentes ao que a família esperava que os jovens pudessem alcançar em suas respectivas práticas esportivas. O coeficiente alfa de consistência interna foi de 0,58. Constituem exemplos de itens deste fator: (a) Meus pais esperavam que eu agisse de forma responsável, e (b) Meus pais confiavam nas minhas habilidades no esporte.

Questionário com informações sociodemográficas e dados relativos à prática esportiva dos atletas. Este questionário foi construído pelos autores deste estudo, com o objetivo de obter informações sociodemográficas dos participantes e dados relativos à atividade esportiva praticada por eles. O questionário investigava dados relativos à idade, gênero, ordem de nascimento e renda mensal da família de origem. Este instrumento foi respondido antes do IFATE.

Em relação à atividade esportiva, foi indagada a modalidade esportiva praticada pelo participante, idade de início da prática daquele determinado esporte, período correspondente ao início de participação em competições, período relativo ao início de participação em competições nacionais, competição mais importante na qual o atleta participou, maior resultado obtido, segundo a opinião do atleta, estágio no qual a família participou mais ativamente da carreira esportiva do participante, pessoas da família que ofereceram maior suporte ao atleta durante sua trajetória esportiva e importância da família para o desenvolvimento do atleta. Estas informações foram importantes para a seleção e caracterização dos atletas participantes.

PROCEDIMENTOS

Primeira etapa. O projeto de pesquisa, inicialmente, foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, de uma instituição federal de ensino superior (Registro n° 009/2008; CAAE: 0007.0.012.000-08).

Nesta fase, foram estabelecidos contatos com as federações esportivas de diversas modalidades. Previamente, realizou-se um planejamento acerca de atletas que poderiam participar do estudo. Posteriormente, contatou-se as federações esportivas correspondentes às modalidades destes prováveis participantes. Nestas visitas, o projeto de pesquisa foi apresentado e foram comunicadas as normas éticas que os pesquisadores deveriam cumprir. O perfil dos participantes do estudo foi descrito aos presidentes e/ou vice-presidentes das respectivas federações esportivas, que indicaram técnicos/treinadores, clubes e equipes esportivas que possuíam atletas com o perfil desejado.

Segunda etapa. Após a construção da escala, a realização dos três estudos piloto e a análise da escala pelos juízes, foi iniciada a aplicação das escalas aos atletas. Para isso, primeiramente, foi feito um contato telefônico com técnicos indicados pelas federações esportivas. Em algumas ocasiões, o primeiro contato com os técnicos foi feito pessoalmente, pelo primeiro autor do estudo, no próprio local de treinamento. Durante esta conversa, foi realizada uma breve descrição do projeto de pesquisa e do perfil que os atletas deveriam ter para participar do estudo. Neste momento, também foi combinado um horário para que o projeto fosse apresentado aos atletas.

No dia e horário previamente combinados, foram descritos os objetivos da pesquisa aos atletas e foi solicitada sua colaboração no estudo. Quase todas as escalas foram aplicadas em dias de treinamento, no próprio local. Termos de consentimento livre e esclarecido foram providenciados aos participantes do estudo. Nestes, eram descritos brevemente os objetivos da pesquisa e as normas éticas que deveriam ser cumpridas pelos pesquisadores. Após a devolução dos termos, com as respectivas assinaturas dos atletas participantes, iniciou-se a aplicação da escala, que foi realizada tanto de forma individual como coletiva (cada participante respondeu a escala individualmente). O sigilo das informações e da identidade dos participantes foi assegurado pelos pesquisadores.

ANÁLISE DE DADOS

Foi utilizado um delineamento fatorial para comparar as respostas dos atletas participantes. As análises, descritas a seguir, foram realizadas por meio do pacote estatístico SPSS 13.0 (Statistical Package for the Social Sciences).

Nas análises realizadas por meio do teste t de Student, as variáveis dependentes corresponderam às médias apresentadas nos fatores resultantes da análise fatorial, medidos pelo IFATE. As variáveis independentes se referiram, respectivamente, ao gênero (masculino/feminino), tipo de esporte praticado (individual/coletivo) e nível das competições nas quais os atletas participaram (nacionais/nacionais e internacionais).

Em outras ocasiões, os dados foram submetidos à análise univariada de variância. As variáveis dependentes foram as médias obtidas nos fatores decorrentes da análise fatorial, medidos pelo IFATE. As variáveis independentes foram respectivamente: renda mensal da família de origem dos atletas (classe A: a partir de R$ 6.690; classe B: R$ 2.216 a R$ 6.689; classe C: R$ 1.115 a R$ 2.215; classes D e E: até R$ 1.114), anos de participação em competições (3 a 5 anos; 5 a 10 anos; 10 a 15 anos; mais de 15 anos) e anos de participação em competições nacionais (2 a 3 anos; 3 a 5 anos; 5 a 10 anos; mais de 10 anos).

 

Resultados

Inicialmente, foi calculada a média (M) e desvio-padrão (DP) dos participantes, em cada um dos cinco fatores (ver Tabela 3). As médias representaram a percepção dos atletas acerca da implementação, por suas famílias, de práticas parentais relacionadas ao desenvolvimento do talento no esporte. As maiores médias foram apresentadas no fator Expectativas da Família sobre o Desempenho do Filho (M=3,46; DP=0,58) e no fator Crenças da Família sobre o Potencial do Filho (M=3,30; DP=0,62). As menores médias foram obtidas no fator Suporte Informativo e Emocional Proporcionado pela Família (M= 2,29; DP= 0,82) e no fator Envolvimento da Família com a Prática Esportiva do Filho (M=2,64; DP= 0,73).

 

 

Os resultados não assinalaram diferenças significativas, nos cinco fatores da escala, entre as médias apresentadas por atletas do gênero masculino e atletas do gênero feminino. Da mesma forma, não foram encontradas diferenças significativas entre as respostas de atletas, com diversos períodos de participação em competições (de qualquer nível e nacionais), acerca da implementação, por seus respectivos pais, de práticas parentais associadas ao desenvolvimento do talento no esporte.

Por outro lado, o teste t indicou diferenças significativas entre atletas de esportes individuais e coletivos apenas em relação ao fator 1 (Envolvimento da Família com a Prática Esportiva do Filho) (t[223]=3,52; p=0,001). Os atletas de esportes individuais relataram que seus pais implementavam, com maior frequência, as práticas parentais apontadas pelos itens deste fator (M=2,78; DP=0,73), em comparação aos atletas de esportes coletivos (M=2,44; DP=0,70) (ver Tabela 4).

 

 

O teste t revelou ainda diferenças significativas entre atletas com participação apenas em competições nacionais e atletas com participação em competições nacionais e internacionais unicamente em relação ao fator 3, denominado Crenças da Família sobre o Potencial do Filho (t[223]=3,83; p=0,0001). Os atletas com participação em competições nacionais e internacionais indicaram que seus pais implementavam, com maior frequência, as práticas parentais apontadas correspondentes aos itens deste fator (M=3,47; DP=0,50), em comparação aos atletas com participação somente em competições nacionais (M=3,17; DP=0,67) (ver Tabela 5).

 

 

Por fim, os resultados, decorrentes da análise univariada de variância, também indicaram diferenças significativas apenas no fator 1, denominado Envolvimento da Família com a Prática Esportiva do Filho (F=[3, 216]=3,59; p=0,015), e no fator 5, Expectativas da Família sobre o Desempenho do Filho (F=[3, 216]=3,25; p=0,023). No fator 1, observa-se que atletas com famílias de origem de classes sociais A (M=2,75; DP=0,72) e B (M=2,74; DP=0,71) relataram que seus pais implementavam, com maior frequência, as práticas parentais retratadas pelos respectivos itens, em comparação aos atletas com família de origem de classes sociais C (M=2,40; DP=0,71), D e E (M=2,37; DP=0,75). Da mesma forma, no fator 5, nota-se que as médias apresentadas por atletas cujas famílias de origem eram de classes sociais A (M=3,52; DP=0,51) e B (M=3,54; DP=0,55) apresentaram médias significativamente superiores em comparação aos atletas com famílias de origem de classes sociais C (M=3,30; DP=0,65), D e E (M=3,22; DP=0,64). Porém, destaca-se que, embora os resultados da análise univariada de variância tenham sugerido diferenças significativas entre as respostas dos atletas participantes, o teste de Scheffé, utilizado como post hoc, não assinalou quaisquer diferenças significativas entre as médias apresentadas pelos atletas com famílias de origem de distintas classes sociais.

 

Discussão

Do total de 225 atletas participantes, 152 (67,6%) são homens e 73 (32,4%) são mulheres. Conforme apontado pela literatura, o incentivo e reconhecimento atribuídos às atividades esportivas praticadas por homens geralmente são maiores do que em relação às atividades esportivas praticadas pelas mulheres (Eccles & Harold, 1991; McCarthy, Jones & Clark-Carter, 2008), o que influencia a participação no esporte. Enquanto os homens se sentem mais encorajados a persistirem em suas carreiras esportivas, as mulheres podem se dedicar a outras atividades devido à falta de apoio na prática esportiva.

Os atletas também mencionaram o estágio de desenvolvimento do talento esportivo no qual suas famílias mais participaram. Observou-se uma distribuição semelhante entre as respostas dos atletas: 67 (29,8%) indicaram o estágio de experimentação (prática sem compromisso e realizada pelo prazer proporcionado), 72 (32%) citaram o estágio de especialização (início de participação em competições) e 63 (28%) mencionaram o estágio de investimento (maior dedicação e participação em competições maiores). Os atletas podem ter privilegiado diferentes aspectos (suporte material e suporte emocional, por exemplo), que podem ter ocorrido de formas diferenciadas nos distintos estágios, para julgarem o período de maior participação dos pais.

Em meio ao total de participantes deste estudo, apenas vinte e cinco atletas atribuíram pouca ou nenhuma importância a suas famílias em relação ao desenvolvimento que eles alcançaram em seus esportes. Ou seja, mesmo sem contar com o suporte efetivo ou desejável por sua família, os atletas persistiram em suas atividades e alcançaram um desempenho maior. Isto também denota o papel desempenhado por outros aspectos sobre o desenvolvimento dos atletas, como, por exemplo, características de personalidade, relação estabelecida com o técnico e treinamento recebido (Durand-Bush & Salmela, 2002; Rubio, 2006).

Observa-se ainda que algumas categorias de classificação (relacionadas ao tempo de prática esportiva, participação em competições e classe social da família de origem dos atletas) foram representadas por poucos participantes. Por exemplo, as famílias de origem dos atletas, segundo suas rendas mensais, foram distribuídas em classes A, B, C, D e E. No entanto, foi observado um número bem superior de atletas cujas famílias de origem eram de classes A e B (n=161), em comparação com o número de atletas com famílias de origem de classes C, D e E (n=59). Ou seja, seria melhor se a distribuição tivesse sido mais equilibrada, em virtude da comparação posteriormente estabelecida entre as respostas destes grupos. Isto também ocorreu em relação ao tempo de participação em competições nacionais. Neste caso, 89 atletas relataram possuir de dois a cinco anos de participação em competições nacionais, 33 atletas possuíam de cinco a dez anos de participação em competições nacionais e 49 atletas acumulavam mais de dez anos de participação em competições de nível nacional.

Apesar de terem ocorrido estas diferenças em relação à distribuição dos atletas nas categorias de classificação criadas, enfatiza-se que esta amostra de participantes representou de forma confiável o cenário esportivo do Distrito Federal, uma vez que diversos atletas de alto desempenho, que treinam e residem no DF, responderam as escalas.

Os resultados destacam a importância das crenças e expectativas da família em relação ao desempenho dos jovens atletas. Os pais destes atletas confiavam nas habilidades esportivas de seus filhos e na possibilidade de sucesso que eles apresentavam (possivelmente estes atletas tenham apresentado um desempenho maior desde o começo de suas práticas esportivas). Em virtude disso, provavelmente estes pais tenham investido mais na carreira dos filhos e proporcionado um maior incentivo e suporte a eles. Estes resultados corroboram a literatura, que destaca o papel das expectativas dos pais em relação ao desempenho atual do jovem e à forma como este se dedica à atividade realizada (Côté, 1999; Ericsson et. al., 1993; Eccles & Harold, 1991; Power & Woolger, 1994). Por sua vez, as crenças desenvolvidas pelos indivíduos talentosos são essenciais ao seu respectivo progresso e persistência na atividade empreendida, sendo influenciadas pelas crenças de adultos significativos (Dweck, 1986). Ou seja, a percepção dos pais acerca da competência dos jovens influencia a percepção desenvolvida por estes sobre sua própria competência, influenciando o nível de dedicação empregado em suas atividades (Babkes & Weiss, 1999; Freeman, 2000; McCarthy et. al., 2008).

Os resultados indicaram uma menor média apresentada nos itens referentes ao suporte informativo e emocional proporcionado pela família. Estes dados podem ter ocorrido em virtude da grande participação que os técnicos podem exercer em relação a estas formas de suporte. Conforme apontam alguns estudos, os pais desempenham um papel mais ativo nos estágios iniciais de participação esportiva dos atletas. Posteriormente, os técnicos passam a exercer papel de protagonistas (Bloom, 1985; Côté, 1999, 2002). Desta forma, a função relativa ao suporte emocional (enfrentamento de possíveis situações adversas, como lesões, por exemplo) e informativo (orientações específicas com o objetivo de aumentar o desempenho) pode ter sido desempenhada, de forma predominante, pelos técnicos.

A média apresentada no fator 1 (Envolvimento da Família com a Prática Esportiva do Filho) também foi uma das menores (apesar de ter sido acima do ponto médio da escala), em comparação com os demais fatores. Isto pode ter acontecido em função de diferentes percepções, dos atletas, acerca da importância do envolvimento de seus pais em suas atividades esportivas. Alguns pais de atletas são bastante participativos e atuantes nas carreiras esportivas dos filhos, o que pode constituir fonte de suporte para alguns atletas e fonte de pressão para outros (Hellstedt, 1995). Ou seja, para alguns atletas, um envolvimento maior de seus pais é indesejável. Em virtude disso, os pais se afastam da prática esportiva dos filhos. Realmente este menor envolvimento dos pais pode representar um aspecto positivo para estes jovens. Neste estudo, os atletas participantes relataram um envolvimento moderado de seus pais (na média), o que é considerado ideal (Hellstedt, 1987; Lee & MacLean, 1997).

Outro aspecto que pode ter ocorrido é um envolvimento diferenciado dos pais dos atletas em alguns momentos da participação esportiva dos filhos. No começo da prática esportiva, o envolvimento dos pais com a prática esportiva do filho pode ter sido superior do que em momentos posteriores (Bloom, 1985; Côté, 1999, 2002). Ou pode ter ocorrido o contrário. Neste caso, os pais podem ter passado a se envolver de forma maior com o esporte dos filhos somente a partir do momento em que estes apresentaram um desempenho expressivo, anos após o início da prática esportiva. Esta possibilidade foi mencionada por um dos participantes, que relatou um maior envolvimento e participação dos pais somente quando ele se tornou um atleta profissional, anos após o seu ingresso na atividade esportiva5. Como o IFATE não diferencia os estágios de participação esportiva, os atletas podem ter mencionado valores moderados devido ao fato dos itens terem sido respondidos de uma forma geral, considerando a trajetória esportiva do atleta como um todo.

Os resultados não indicaram diferenças significativas, nos cinco fatores do IFATE, em decorrência do gênero dos atletas. De acordo com o que foi mencionado anteriormente, nota-se que a prática esportiva costuma ser mais associada aos homens. Este incentivo e reconhecimento também são exercidos pela família. Desta forma, poderia ter sido elaborada a hipótese de que atletas do gênero masculino apresentariam médias superiores acerca das práticas parentais implementadas por seus pais. Entretanto, isto não foi observado. Uma possível explicação é que, para participar do estudo, os atletas deveriam apresentar um perfil cujas características permitissem classificá-los como atletas de um destaque maior, em relação à grande média de praticantes. Ou seja, estes atletas adultos acumulam um largo período de prática esportiva. Para que a carreira dos atletas apresente uma longevidade maior, é importante que estes desenvolvam uma grande persistência para enfrentar possíveis dificuldades que surjam. Esta persistência também é moldada com base nas crenças e expectativas positivas que os pais depositam em relação ao desempenho dos atletas. Sendo assim, os atletas participantes deste estudo (homens e mulheres) provavelmente tenham tido um reconhecimento adequado por parte de seus pais. Se este apoio não fosse proporcionado a estes atletas, possivelmente eles teriam apresentado uma carreira esportiva menos duradoura. Alguns deles, inclusive, poderiam ter abandonado a carreira esportiva antes de alcançar a faixa etária de 18 anos. Além disso, destaca-se que estes resultados podem ter ocorrido devido à discrepância na distribuição da amostra, em relação ao gênero dos atletas. Havia um número bem maior de atletas do gênero masculino do que do gênero feminino. Caso esta distribuição tivesse sido mais equilibrada, os resultados obtidos poderiam ter sido diferentes.

As análises revelaram diferenças significativas entre atletas de esportes individuais e coletivos apenas em relação ao fator 1 (Envolvimento da Família com a Prática Esportiva do Filho), tendo sido apresentadas médias superiores pelos atletas de esportes individuais. Nos esportes coletivos, os atletas compartilham sua rotina esportiva com diversas pessoas, como técnico, dirigentes e outros atletas. Este maior assessoramento pode ter feito com que os pais destes atletas tivessem a impressão de que seus filhos necessitassem de menos auxílio por parte por deles. Em decorrência desta impressão, estes pais se envolviam menos com a prática esportiva dos filhos. Por outro lado, os pais de atletas de esportes individuais podem ter desenvolvido a percepção de que os filhos necessitavam de uma maior assistência para realizar suas atividades. Isto, por sua vez, resultou em um envolvimento mais intenso na prática esportiva dos jovens. Destaca-se ainda que este maior envolvimento apresentado por alguns pais pode ter sido decorrente de uma experiência prévia como atletas.

Observa-se também que, nos demais fatores, as médias apresentadas por atletas de esportes individuais foram superiores às médias apresentadas por atletas de esportes coletivos. Porém, estas diferenças não foram significativas. De qualquer forma, estes resultados sugerem que esta é uma questão relevante a ser investigada em futuras pesquisas.

As análises não indicaram quaisquer diferenças significativas entre as médias apresentadas pelos atletas, devido à classe social de suas famílias de origem. Ou seja, independente de suas rendas mensais, as famílias podem implementar as práticas parentais apontadas pela escala. O aspecto financeiro pode constituir dificuldade em relação ao apoio material à prática esportiva do filho (compra de equipamentos, por exemplo). Todavia, outras dimensões relacionadas às práticas parentais associadas ao desenvolvimento do talento no esporte (suporte informativo, suporte emocional, crenças e expectativas sobre o desempenho do jovem, por exemplo) podem ser enfatizadas pelas famílias dos jovens atletas e ter um peso maior no cultivo do talento esportivo, independente de suas rendas salariais.

Destaca-se que, mesmo sem ter constituído diferenças significativas, observou-se, em todos os fatores, médias superiores apresentadas por atletas com famílias de origem de classes sociais A e B (maiores rendas mensais) em comparação com atletas cujas famílias de origem eram de classes sociais C, D e E. Ressalta-se também que estes resultados podem ter ocorrido em virtude de uma quantidade superior de atletas com origens sociais de classes A e B, em comparação com os atletas cujas famílias de origem eram das classes sociais C, D e E.

As análises indicaram diferenças significativas entre atletas com participação apenas em competições nacionais e atletas com participação em competições nacionais e internacionais unicamente em relação ao fator 3 (Crenças da Família sobre o Potencial do Filho), tendo sido apresentadas médias superiores pelos atletas com participação em competições nacionais e internacionais. Estes atletas apresentavam um nível superior em comparação aos atletas com participação somente em competições nacionais. Deste modo, os seus pais realmente podem ter desenvolvido uma crença superior em relação à competência dos jovens atletas, possivelmente apresentada desde o início da prática esportiva. Estas crenças, por sua vez, podem ter contribuído em relação ao desempenho alcançado pelos atletas (Babkes & Weiss, 1999; Freeman, 2000; McCarthy et. al., 2008). Nos outros fatores, apesar de não terem sido encontradas diferenças significativas entre os participantes, observou-se também que as maiores médias foram apresentadas pelos atletas com participação em competições de nível nacional e internacional. Outra possível explicação é que, na percepção dos atletas, o fato de terem participado de competições internacionais teria maior impacto na valoração do filho pelos pais. Ou seja, a percepção mais favorável dos filhos atletas acerca de suas competências pode influenciar a forma com que eles acreditam que os pais o percebem.

 

Considerações Finais

Este estudo corrobora pesquisas anteriores que destacam a importância da família para o desenvolvimento do talento (Bloom, 1985; Chagas, 2003, 2008; Dessen, 2007; Olszewski-Kubilius, 2002; Silverman, 1993; Winner, 1998). Necessidades e desafios são impostos aos esportistas durante suas carreiras. Para superá-los, os familiares desempenham um importante papel, fornecendo o suporte, incentivo e reconhecimento necessários para que os atletas persistam em suas atividades, buscando um constante aperfeiçoamento. No entanto, outros aspectos também devem ser considerados neste processo. Por exemplo, alguns atletas alcançam um desempenho muito expressivo sem contar com a participação e suporte familiar. Por outro lado, alguns atletas, mesmo contando com uma família bastante participativa, não conseguem alcançar um alto desempenho em seus esportes.

Assim, além do importante papel que pode ser desempenhado pela família, outras condições devem ser disponibilizadas aos atletas para que estes possam alcançar o maior desenvolvimento possível em suas modalidades, como, por exemplo, locais adequados para o treinamento, possibilidade de participar de competições de maior nível, acesso a um treinamento de melhor qualidade e alimentação apropriada. Do total de esportistas, somente alguns conseguem alcançar um desempenho maior. Mas, independente disso, devem ser proporcionadas condições privilegiadas a todos os atletas. Neste sentido, ações voltadas à detecção do talento esportivo não podem se constituir em medidas que excluam alguns jovens esportistas. Tanto os talentos detectados como outros jovens atletas devem se beneficiar de condições e estruturas adequadas. O contexto esportivo mostra que são necessários vários anos de treinamento para que um atleta possa atingir um alto desempenho e resultados expressivos. Ademais, em algumas ocasiões, atletas, atualmente reconhecidos por suas realizações, não se destacavam quando mais jovens. Sendo assim, os jovens esportistas podem se desenvolver em ritmos diferentes, alcançando um desempenho expressivo em momentos distintos. Mas, para que isso aconteça, lembra-se, novamente, que os atletas devem ter acesso a condições apropriadas, o que pode ser proporcionado por meio de investimentos governamentais e privados, direcionados aos esportes.

As condições, citadas no início do parágrafo anterior, certamente são importantes para que um atleta alcance um alto nível de desempenho. Entretanto, ressalta-se que a ausência delas, não necessariamente, constitui impedimento para o desenvolvimento de um atleta. Por exemplo, Rúbio (2006) destaca que alguns atletas brasileiros medalhistas olímpicos do atletismo enfrentaram várias adversidades e, mesmo sem incentivo e acesso aos recursos apropriados, alcançaram destaque em suas atividades.

Ações relacionadas à descoberta e desenvolvimento do talento esportivo devem ser implementadas com cuidado e paciência. É importante que o jovem atleta possa, primeiramente, desenvolver habilidades motoras básicas e experimentar diversos esportes. A experimentação também é importante para que o jovem encontre uma atividade que realmente lhe proporcione satisfação, o que contribui para que haja o desenvolvimento de uma verdadeira paixão pela aprendizagem. Posteriormente, o jovem escolhe uma determinada modalidade e passa a se dedicar de forma cada vez mais comprometida a ela, buscando um melhor desempenho. Entretanto, em algumas ocasiões, tanto os técnicos como os familiares pressionam os jovens atletas, exigindo deles um desempenho além do que eles podem apresentar naquele momento. Ao contrário disso, pais e treinadores devem respeitar o ritmo de desenvolvimento e aprendizagem dos jovens atletas, fazendo exigências no momento adequado. É fundamental que as crianças e adolescentes atletas desenvolvam uma grande satisfação por suas atividades, desde o começo de suas trajetórias esportivas. Desta forma, estes jovens irão prosseguir com suas atividades, passando por todos os estágios de desenvolvimento do talento. Estas etapas de desenvolvimento não devem ser abreviadas, pois atletas de alto desempenho apresentam um grande período de prática e um processo gradativo de aperfeiçoamento em seus esportes. Desempenhos maiores e resultados expressivos são construídos com calma, persistência e busca constante pelo aprimoramento na prática esportiva.

Os resultados, decorrentes deste estudo e de outros que abordam o desenvolvimento do talento e a trajetória de atletas de alto desempenho, devem ser discutidos com pais, técnicos e atletas. Desta forma, com diálogo e colaboração mútua entre todas as pessoas envolvidas, os jovens atletas podem desenvolver o seu potencial, apresentando um desempenho superior em suas atividades.

Por fim, ressalta-se que esta pesquisa forneceu um panorama sobre práticas parentais que têm sido implementadas por famílias de atletas de alto desempenho e que também podem contribuir em relação ao desenvolvimento de outros atletas. Entretanto, cada atleta possui uma história singular e preferências próprias acerca da participação e envolvimento que devem ser estabelecidos por seus familiares.

A área de desenvolvimento do talento no esporte apresenta várias possibilidades de pesquisa, devido aos múltiplos aspectos que interferem neste processo e à complexidade envolvida na interação entre eles. Sendo assim, sugere-se para futuras pesquisas: (a) realizar uma pesquisa qualitativa, junto a atletas, com o objetivo de detalhar a diversidade de aspectos que caracterizou cada um dos estágios de desenvolvimento do talento no esporte, (b) realizar uma pesquisa que compare relatos de atletas que consideram a família importante e de outros atletas que não atribuem importância à sua família no seu desenvolvimento como esportista, bem como (c) comparar relatos de atletas do gênero feminino e atletas do gênero masculino, de diferentes classes sociais, em relação à influência da família em suas trajetórias esportivas.

 

Referências

Alencar, E. M. L. S. (1997). Pesquisadores que se destacam por sua produção criativa: hábitos de trabalho, escolha profissional, processo de criação e aspirações. Cadernos de Pesquisa - INEP, 3, 11-24.         [ Links ]

Babkes, M. L. & Weiss, M. R. (1999). Parental influence on children’s cognitive and affective responses to competitive soccer participation. Pediatric Exercise Science, 11, 44-62.

Bloom, B. S. (Org.). (1985). Developing talent in young people. New York: Ballantine.         [ Links ]

Brasil. (1990). Lei 8069: Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm. Acesso em 14/05/2008.         [ Links ]

Brasil. (2008). Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Inclusão - Revista de Educação Especial, 4, 7-17.         [ Links ]

Chagas, J. F. (2003). Características familiares relacionadas ao desenvolvimento de comportamentos de superdotação em alunos de nível sócio-econômico desfavorecido. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, DF.         [ Links ]

Chagas, J. F. (2008). Adolescentes talentosos: características individuais e familiares. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, DF.         [ Links ]

Côté, J. (1999). The influence of the family in the development of talent in sport. Sport Psychologist, 13, 395-417.         [ Links ]

Côté, J. (2002). Coach and peer influence on children’s development through sport. In J. M. Silva & D. E. Stevens (Orgs.), Psychological foundations of sport (pp. 520-540). Boston, MA: Allyn and Bacon.

Côté, J. & Hay, J. (2002). Children’s involvement in sport: A developmental perspective. In J. M. Silva & D. E. Stevens (Orgs.), Psychological foundations of sport (pp. 484-502). Boston, MA: Allyn and Bacon.

Dessen, M. A. (2007). A família como contexto de desenvolvimento. In D. S. Fleith (Org.), A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação. O aluno e a família (pp. 13-27). Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial.         [ Links ]

Durand-Bush, N. & Salmela, J. H. (2002). The development and maintenance of expert athletic performance: Perceptions of world and olympic champions. Journal of Applied Sport Psychology, 14, 154-171.         [ Links ]

Dweck, C. S. (1986). Motivational processes affecting learning. American Psychologist, 41, 1040-1048.         [ Links ]

Eccles, J. S. & Harold, R. D. (1991). Gender differences in sport involvement: Applying the Eccles’ expectancy-value model. Journal of Applied Sport Psychology, 3, 7-35.

Fredricks, J. A. & Eccles, J. S. (2005). Family socialization, gender, and sport motivation and involvement. Journal of Sport & Exercise Psychology, 27, 3-31.         [ Links ]

Freeman, J. (2000). Families: The essential context for gifts and talents. In K. A. Heller, F. J. Mönks, R. J. Sternberg & R. F. Subotnik (Orgs.), International handbook of giftedness and talent (pp. 573-585). Oxford, UK: Pergamon.         [ Links ]

Hellstedt, J. C. (1987). The coach/parent/athlete relationship. The Sport Psychologist, 1, 151-160.         [ Links ]

Hellstedt, J. C. (1995). Invisible players: A family systems model. In S. M. Murphy (Org.), Sport psychology interventions (pp. 117-146). Champaign, IL: Human Kinetics.         [ Links ]

Kanters, M. A., Bocarro, J. & Casper, J. (2008). Supported or pressured? An examination of agreement among parent’s and children on parent’s role in youth sports. Journal of Sport Behavior, 31, 64-80.

Lee, M. & MacLean, S. (1997). Sources of parental pressure among age group swimmers. European Journal of Physical Education, 2, 167-177.         [ Links ]

McCarthy, P. J., Jones, M. V. & Clark-Carter, D. (2008). Understanding enjoyment in youth sport: A developmental perspective. Psychology of Sport and Exercise, 9, 142-156.         [ Links ]

Moraes, L. C., Rabelo, A. S. & Salmela, J. H. (2004). Papel dos pais no desenvolvimento de jovens futebolistas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17, 211-222.         [ Links ]

Olszewski-Kubilius, P. (2002). Parenting practices that promote talent development, creativity, and optimal adjustment. In M. Neilhart, S. M. Reis, N. M. Robinson & S. M. Moon (Orgs.), The social and emotional development of gifted children. What do we know? (pp. 205-212). Washington, DC: Prufrock Press.         [ Links ]

Olszewski-Kubilius, P. & Limburg-Weber, L. (2003). Early years, early gifts. In P. Olszewski-Kubilius, L. Limburg-Weber & S. Pfeiffer (Orgs.), Early gifts: Recognizing and nurturing children’s talents (pp. 1-18). Waco, TX: Prufrock Press.

Power, T. G. & Shanks, J. A. (1989). Parents as socializers: Maternal and paternal views. Journal of Youth and Adolescence, 18, 203-220.         [ Links ]

Power, T. G. & Woolger, C. (1994). Parenting practices and age-group swimming: A correlational study. Research Quarterly for Exercise and Sport, 65, 56-66.         [ Links ]

Renzulli, J. S. (2005). The three-ring conception of giftedness: A developmental model for promoting creative productivity. In R. J. Sternberg & J. E. Davidson (Orgs.), Conceptions of giftedness (pp. 246-279). New York: Cambridge University Press.         [ Links ]

Rubio, K. (2006). Medalhistas olímpicos brasileiros: memórias, histórias e imaginário. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Silva, P. V. C. (2009). Fatores familiares associados ao desenvolvimento do talento no esporte. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, DF.         [ Links ]

Silverman, L. K. (1993). Counseling families. In L. K. Silverman (Org.), Counseling the gifted and talented (pp. 151-177). Denver, CO: Love.         [ Links ]

Stevenson, C. L. (1990). The early careers of international athletes. Sociology of Sport Journal, 7, 238-253.         [ Links ]

Tannenbaum, A. J. (2003). Nature and nurture of giftedness. In N. Colangelo & G. A. Davis (Orgs.), Handbook of gifted education (pp. 45-59). Boston, MA: Allyn and Bacon.         [ Links ]

Vilani, L. H. P. & Samulski, D. M. (2002). Família e esporte: uma revisão sobre a influência dos pais na carreira esportiva de crianças e adolescentes. In S. Garcia & K. L. M. Lemos (Orgs.), Temas atuais VII: educação física e esportes (pp. 9-16). Belo Horizonte: Editora Health.         [ Links ]

Wiersma, L. D. (2001). Conceptualization and development of the sources of enjoyment in youth sport questionnaire. Measurement in Physical Education and Exercise Science, 5, 153-177.         [ Links ]

Winner, E. (1998). Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

Wolfenden, L. E. & Holt, N. L. (2005). Talent development in elite junior tennis: Perceptions of players, parents and coaches. Journal of Applied Sport Psychology, 17, 108-126.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Paulo Vinícius Carvalho Silva
SQN 304 - Bloco H - ap 506 / CEP 70736-080 / Brasília - DF
E-mail: paulovcs@hotmail.com
Denise de Souza Fleith
Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia,
Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento.
Campus Universitário - Asa Norte CEP 70910-900 / Brasília - DF
E-mail: fleith@unb.br

 

 

Sobre os autores

Denise de Souza Fleith
Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília Ph.D. pelo National Research Center on the Gifted and Talented, University of Connecticut - EUA

Paulo Vinícius Carvalho Silva
Mestre em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde (Programa de Pós-Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília).

Sobre o trabalho

Trabalho desenvolvido com apoio da CAPES.

1 Neste artigo, os termos superdotação e talento serão considerados sinônimos.
2 Os participantes considerados adultos tinham, pelo menos, 18 anos de idade (Brasil, 1990).
3 A modalidade esportiva foi especificada pelo participante. Posteriormente, elas foram classificadas em esporte individual ou esporte coletivo pelo autor deste estudo.
4 Esta classificação foi obtida por meio de um serviço contratado junto a uma empresa Junior, coordenada por um economista. Segundo este profissional, essa tabela com as classes sociais e suas correspondentes rendas mensais foi elaborada a partir de informações extraídas da Associação Brasileira de Estudos Populacionais/Gismarket estudos de Mercado e atualizadas pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), disponibilizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
5 Alguns atletas, após responderem as escalas, comentaram aspectos relacionados à pesquisa. Estes comentários e reflexões foram relevantes para a discussão dos resultados e proposta de futuras pesquisas.

Creative Commons License