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Psicologia em Pesquisa

versão On-line ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. v.3 n.1 Juiz de Fora jun. 2009

 

REVISÃO DE LITERATURA & ENSAIOS TEÓRICOS

 

Grupos sociais e instituições: comunicação, interação e recepção

 

Social groups and institutions: communication, interaction and reception

 

 

Gilberto Barbosa Salgado*

UFJF

 

 


RESUMO

Esse trabalho busca estabelecer pontos de comparação e de contraste entre as teorias da Ação Comunicativa de Habermas, o Interacionismo Social (trabalhado por diversos autores) e a Estética da Recepção, que se desdobrou na teoria do Efeito Estético, de Wolfgang Iser para, em seguida, uma vez cotejadas, serem aproximadas dos fenômenos comunicacionais, dando relevo a seus problemas epistêmicos e interpretativos.

Palavras-chave: Epistemologias de teorias, Grupos sociais, Interação comunicativa, Efeito da recepção


ABSTRACT

This work aims to establish comparison and contrasting points of Habermas’s Communicative Actions, Social Interacionism (reviewed by several authors) and Aesthetics of Reception, which has diverse into the Theory of Aesthetic Effect, of Wolfgang Iser to, later, once analyzed, be approximated to communicative phenomena, stressing its interpretative and epistemic

Keywords: Epistemology of theories, Social groups, Communicative interaction, Effects of reception


 

 

1. Apresentação

O objetivo primordial deste “paper” é demonstrar a importância para as teorias da comunicação, assim como para a sua epistemologia e também sua hermenêutica, de toda uma série de outras teorias, tais como a Teoria da Ação Comunicativa de Jurgen Habermas, a Teoria Sociointeracionista desenvolvida por diferentes autores, e a Teoria do Efeito Estético de Wolfgang Iser, mais afeitas às ciências sociais, mas de modo algum circunscritas às mesmas, que possuam por escopo abordagens fronteiriças entre a sociologia, a psicologia (notadamente a psicologia social) e a comunicação. Não é uma tarefa fácil para ser levada a termo no formato sintético deste modelo de demonstração quase ensaístico, porém, nem por isso menos importante.

A relevância dessas teorias pode, por si só, ser justificada pelo rico elenco de autores. O trabalho de Habermas teve repercussões mundiais e, no âmbito acadêmico alemão, suscitou debates –com prós e contras- entre autores, como Karl-Otto Apel, Niklas Luhmann, Peter Sloterdijk e Axel Honneth, para mencionar apenas alguns. Já na corrente interacionista, que possui diversas correntes e subdivisões, podem ser mencionados Peter Berger, Herbert Blumer, Peter Hall, Erving Goffman, Howard Becker e Anselm Strauss, todos com abordagens um tanto diferentes. Por seu turno, Wolfgang Iser articula uma instigante teoria do Efeito Estético a partir da Teoria da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss, hodiernamente comentada por Hans Ulrich Gumbrecht.

Como já se afirmou, são caminhos compostos por indagações múltiplas e caleidoscópicas. Ainda que seja tentador procurar “trabalhar” com todos esses autores, o estudo ficará circunscrito a Habermas, pela racionalidade comunicativa, Goffman e Strauss, pelo interacionismo, e Iser e Gumbrecht, representando os debates sobre o efeito estético. Uma conclusão buscará aproximar aspectos dessas teorias com problemas epistemológicos e hermenêuticos das teorias da comunicação e suas interfaces com a sociologia e a psicologia social como aludido anteriormente no que tange aos grupos e às instituições sociais. 1

 

2. O Interacionismo e os Grupos Sociais

Ao longo dos decênios, muitas teorias em ciências humanas costumam, progressivamente, passar por sucessivos processos de síntese e depuração. Talvez se possa argumentar que esse é um processo de decantação, em que a base epistemológica dessas teorias permanece como pano de fundo, enquanto mecanismos de síntese vão, paulatinamente, emergindo. As ciências buscam, por si só, autonormatividade, autorreflexividade e autocompreensão2 em um processo natural na composição dos paradigmas científicos. As concepções teóricas que permanecem não perdem sua base ou, por assim dizer, “chão”, porém emergem com novas contextualizações conceituais e abstrato-formais. Esse foi o caso típico do Interacionismo.

A base filosófica que influenciou a teoria interacionista deriva-se de várias fontes, sendo, como já se sublinhou, sucessivamente aprimorada. Edmund Husserl, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre foram alguns desses nomes: de Husserl, os interacionistas aproveitaram a proposição da “redução eidética”, como o momento de análise do fenômeno após as operações de reduções filosóficas e fenomenológicas. De Heidegger, a idéia de “acontecimento-apropriação” exposta em “Ser e Tempo” sendo que, alguns anos mais tarde, e nas novas gerações, Sartre foi o mote influenciador pelas idéias de autenticidade, projeto e existência, articulando-as como intersubjetividade. Entretanto foi o filósofo alemão Georg Simmel, contemporâneo de Max Weber, 3 que empreendeu uma interpretação decisiva quando, ao refletir sobre uma possível filosofia das formas sociais, culminou na importante noção de sociabilidade. Para Simmel, esta –a sociabilidade- dar-se-ia essencialmente por processos de intersubjetividade entre indivíduos4. O autor desenvolveu, por conseguinte, o conceito de interação, que seria o pilar do interacionismo. Além disso, Simmel foi o primeiro a tematizar o movimento, como principal determinante da determinação quantitativa dos grupos sociais e consequente alteração em sua morfologia como no ensaio sobre os grupos e os estudos sobre morfologia social, em “The Sociology of Georg Simmel” e “On Individuality and Social Formas”.

Para Simmel seriam diferenciadas e, talvez, dinamicamente evolutivas as formas de interação: a mais remota interação seria a do homem com a natureza, desmistificando a idéia de mônada ou de indivíduo isolado tal como um hermitão, pois os processos de influência seriam recíprocos; em seguida, a interação diádica, para a qual se pode remeter como mais antiga a existente entre mãe e bebê, porque se inicia na vida uterina; da diádica para a triádica5, sendo, define o autor, inúmeras as díades e tríades que celebramos na vida. Simmel também postulou por uma interação familiar, uma interação grupal e, tema posterior de Toennies, Durkheim e tantos outros, uma interação comunitária que antecedesse à social (que ele denominava de interação societária). Foi a sua maneira de responder à clássica formulação fundante da sociologia, qual seja, “como é possível a sociedade”. Posteriormente alguns autores advogaram por uma interação nacional, como base do nacionalismo e, até, por uma interação holística ou com o cosmos, como sentimento de pertencimento a algo maior.

Com Simmel a filosofia e a sociologia estavam definitivamente articuladas, tendo como novidade epistêmica um alcance microssocial. As noções de representação e identidade complementarão, lado a lado à interação, o enxuto e elegante feixe conceitual do interacionismo. Pode-se afirmar, sem receio de erro, que o autor que promoveu essa costura foi Alfred Schutz (1979), na sua “Fenomenologia e Relações Sociais”, aludindo às categorias de mundo da vida, cognição e relações sociais, ulteriormente caras a Habermas. Mais ainda, para Schutz essas noções são fundadoras de conhecimento, no sentido literal do termo.

Como já foi mencionado, o caminho do Interacionismo como corrente da teoria social, inclusive em seu sentido ideológico, passaria por variadas hibridizações e sincretismos. Com efeito, face à imensa recepção da obra de Simmel nos Estados Unidos, alguns de seus conceitos e categorias foram importantes para as formulações iniciais da escola de Chicago, especificamente no que tange a uma inspiração para pesquisas qualitativas destinadas a melhor compreensão de comunidades, como nos casos de Wirth, Small e Foote-Whyte, assim como para o estudo do planejamento urbano de metrópoles. Por mais saudável que tenha sido essa recepção, a evolução de sua utilização para estudos empíricos qualitativistas sobre microtemas, tais como a análise da conversação, as conversas telefônicas, a reprodução de padrões familiares e os arrazoados retóricos forenses nos tribunais de júris, culminaram por enjaular6 a teoria interacionista em uma série de formulações teóricas, por vezes muito sofisticadas, contudo bastante próximas da análise individual do comportamento, já denominada de behaviorismo. Não foi outro o resultado com a corrente batizada de etnometodologia, cujos principais nomes, Harold Garfinkel e Aaron Cicourel, também são identificados como “pais fundantes” do interacionismo, posto que não tenham auxiliado em muito as formulações de Herbert Blumer que, mesmo criativas, são hoje consideradas um tanto quanto simplistas.

O interacionismo corria o risco de virar uma variante do behaviorismo, ou mesmo de sua dissolução, em uma visada funcionalista; a última corrente, nos Estados Unidos, capitaneada pelo invulgar Talcott Parsons. Era necessário um “manifesto fundante” do interacionismo para restaurar o lugar, vale o negrito, daquilo que já havia sido fundado e possuído por sua gênese formadora. Nesse sentido, a reação ideológica foi muito forte, de maneira que no meio acadêmico norte-americano, no decênio de sessenta do século passado, foi o interacionismo e não o neomarxismo ou marxismo ocidental, como postulam alguns apressados, a teoria de cabedal crítico frontal dos excessos mecanicistas e conservadores do funcionalismo, na sociologia, e do behaviorismo ou comportamentalismo, na psicologia. 7

A psicanálise inglesa, por exemplo, “antenada” com esse debate, já que o “inimigo” era o behaviorismo, produziu notáveis estudos de grupos sociais, inclusive, através de autores como Donald Winnicott, em “O Ambiente e seus Processos de Maturação” e “A Família e o Desenvolvimento Individual”; Wilfred Bion, em “Encontro com Grupos”; Erik Erikson, no “Infância, Juventude e Crise” e no “Identidade e Câmbio” e, mais tarde nos EUA, Heinz Kohut, em “Self e Narcisismo”, com a noção de self. 8 Desse modo, era mesmo necessária uma “refundação”, e não obstante uma refundação crítica, que veio pela obra de Peter Berger, escrevendo em colaboração com Thomas Luckmann. Sendo assim, “A Construção Social da Realidade” (Petrópolis, Vozes), e “Perspectivas Sociológicas” (idem), restauraram o lugar e o vigor crítico do interacionismo, sendo que aquela mais do que essa, sem dúvida alguma, poderia ser considerada a obra de “manifesto” da escola. Ao introduzir as temáticas das instituições, dos papéis sociais, da socialização primária e secundária9 e da realidade objetiva e subjetiva, Berger levou a extremo vigor social a noção de identidade, derrubando o mito da noção de “caráter” 10, e propugnando por uma identidade aberta e em permanente construção, metamorfose e mutações. Inclusive, de forma sutil, complementa a máxima de Blumer de “que não passa de bravata” a idéia de um indivíduo incapaz de ser influenciado ou de influenciar outrem.

Os estudos práticos qualitativistas e altamente criativos do sociólogo e também pianista Howard Becker, intitulados “Uma Teoria da Ação Coletiva” (Rio, Zahar) e “Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais” (São Paulo, Hucitec), revigoraram a prática interacionista, proporcionando a emergência de novos estudos, cotejando teoria e prática, tais como “Grounded Theory” de Anselm Strauss e, com nova formatação, Nathan Glazer; justapostos às obras instigantes de Erving Goffman. Este, talvez, tenha elevado o interacionismo ao seu maior patamar: as concepções de estigma e de manipulação da identidade (aqui um traço negativo para ela), o seminal e já clássico capítulo sobre as “características das instituições totais” no seu livro “Manicômios, Prisões e Conventos” (São Paulo, Perspectiva) e, last but not least, a articulação entre os papéis e a teoria da representação11 para, em seguida, biunivocamente, relacionarem-se com a interação e a identidade, conformam a autenticidade, originalidade e criatividade de sua contribuição. O interacionismo atingia aquilo que muitos epistemólogos e sociólogos da ciência gostariam, ou seja, uma “elegante” teoria, aplicativa, repousada em poucos e generalizáveis conceitos.

Goffman (1974) ousou in extremis com o seu “Frame Analysis”, obra cujas similaridades com a “Grounded Theory” de Strauss e Glazer merecem ser estudadas. Análise de quadros ou de enquadramento12, a proposta de Goffman é uma microscopia social sobre os processos de organização da experiência e, fundamentalmente, é um diálogo aberto com todas as tendências genealógicas do interacionismo com notável capacidade de erudição. A análise “dramatúrgica” de eventos é das mais criativas com proposições, inclusive, para o enquadramento de entrevistas.

Goffman tem o seu pathos guardado ao lado de Anselm Strauss. Ambos merecem mais atenção dos teóricos da comunicação, e também por seus approaches empíricos nas suas abordagens microssociais. Além disso, enfatizaram a importância dos estudos dos grupos sociais. A fundamental obra de Anselm Strauss é “Espelhos e Máscaras – A Busca da Identidade” (São Paulo, Edusp), um livro que serve para refletir sobre as organizações, os grupos sociais, os processos de mudanças nas interações e, derrogativamente, como os sentimentos gregários dos seres humanos são capazes de intervir na experiência e na identidade, individual e/ou grupal. Para Strauss, as interações são matizadas pelas intenções, os ritmos das ações, os devaneios e fantasias, as regras, os desafios, as proclamações públicas das mais diferenciadas13, a superação, a traição, a estranheza, o embuste, as liturgias, o controle do tempo, as crises, dentre outras que são congêneres14. O essencial para Strauss é que a identidade é um processo em construção jamais finalizado e fascinante por sua permeabilidade à mutação. 15

Jurgen Habermas não ignorou os interacionistas e é com o autor que se inicia o próximo diálogo.

 

3. Racionalidade Comunicativa para a Ação e o Diálogo

O filósofo social Jurgen Habermas é autor de vasta e complexa obra. Suas influências são decorrentes de múltiplas tradições que, como se não bastasse, o autor debateu por dentro. No âmbito deste artigo estar-se-á circunscrita a “Teoria da Ação Comunicativa”, sua tour de force, que veio a lume em 1981, acrescida de uma ou outra consideração acerca da noção de esfera pública. Além disso, o autor ainda está em plena produção intelectual, e seus artigos já abrangem temas da realidade e de conjuntura, sempre em consonância com sua teoria, de forma que uma avaliação de sua obra, de forma genérica, pecaria pela incompletude. De todas as influências, no entanto, a mais notável é a da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt.

Os também filósofos sociais, que lideraram intelectualmente a assim denominada Escola de Frankfurt, foram Theodor Adorno e Max Horkheimer, e tiveram grande influência sobre Habermas, mesmo que para rebatê-los. Herbert Marcuse, outro proeminente expoente da Teoria Crítica, também impressionou o filósofo alemão, em especial no tema da tecnologia na sociedade pós-industrial.

O sombrio e crítico diagnóstico empreendido por Adorno e Horkheimer sobre a indústria cultural, no famoso e controvertido texto de 1944, demonstrou que as operações de industrialização, fetichismo da mercadoria, serialização, padronização e desencantamento do mundo por padrões seculares administrados, atingiram, inexoravelmente, a cultura e a arte. Os autores, que propugnavam pela intransigente defesa da razão emancipatória, fiadora da liberdade, da redenção e da igualdade, contra a tecnicização empreendida pela razão instrumental, capaz de “curvar” todos os sujeitos à lógica de objetos do progresso técnico da sociedade industrial tardia, não conseguiram vislumbrar uma superação sintética para esses antagonismos. Para Adorno, em livro posterior intitulado “Dialética Negativa”, essas contradições não se superariam dialeticamente, sendo que a única saída redentora residiria na arte e na estética. 16

Os frankfurtianos foram criticados pala ausência de um prognóstico otimista, a pouca esperança na “vertebração” da cultura popular e pela paralisia da crítica em um exercício sem saídas. Ao contrário, anos mais tarde, pertencente a uma nova geração, Habermas procurou realizar uma obra que, no diálogo fecundo com diversas tradições filosóficas e sociais, conseguisse sinalizar um caminho otimista sem perder a crítica.

Ao elaborar em “Mudança Estrutural da Esfera Pública” (Rio, Tempo Brasileiro), uma concepção de esfera pública que ampliava a idéia de sociedade civil, e incluísse temas culturais e de difusão (o famoso capítulo, por exemplo, sobre o papel das cartas nos salões do século XVII), além do surgimento da imprensa e da opinião pública, Habermas ordenou suas preocupações para, posteriormente, pensar a cultura sob novas disjuntivas. 17

Fundamentalmente, essa nova disjuntiva iria opor, de um lado, trabalho, como categoria sociológica central no capitalismo e, de outro, interação, a mesma noção e em sentido muito próximo ao dos interacionistas. 18 Habermas percebeu que o capitalismo tardio apresentava uma interpolação desses eixos antinômicos, com a presença do trabalho na esfera da interação (levar trabalho para casa, por exemplo) e, inversamente, a presença da interação na esfera do trabalho (exemplificando, “poupar” tempo conversando no cafezinho do ambiente de produção). O autor intuiu que a linguagem e a cognição, sempre intermediadas por valores, seriam as questões cruciais nas duas esferas supracitadas e, mutatis mutandis, doravante em seus demais trabalhos.

Depois de escrever diversas obras que seriam prolegômenos para a Teoria da Ação Comunicativa19, Habermas, pesquisando sobre a “tecnologização” do mundo social, chega a sua opus magnum. Com efeito, a Teoria da Ação Comunicativa20, cujo primeiro volume é de 1981 e o segundo de 1983, teve enorme impacto no meio acadêmico21. No primeiro volume, Habermas expõe a racionalização da ação e do mundo social, suplementando as reflexões com eruditos comentários sobre Marx e Weber, além de um singular diagnóstico da modernidade, posteriormente ampliado no debate com Foucault e os neonietzscheanos e pós-modernos, em 1984, em “O Discurso Filosófico da Modernidade”. Já o volume dois da TAC apresenta uma incisiva crítica a Durkheim e a Parsons, temperada com uma empática sinopse das possibilidades de diálogo com os interacionistas.

Uma nova disjuntiva, um eixo antinômico para figurar ao lado das antinomias clássicas e contemporâneas das ciências sociais22, dialetizadora por excelência, é proposta pelo autor: sistema versus mundo vivido ou mundo-da-vida (do alemão, na falta de terminologia mais adequada, Lebenswelt). Para Habermas a noção de trabalho se ampliaria na noção de sistema e, por conseguinte, a interação se amplificaria para mundo vivido. Ao demonstrar os processos contraditórios e dialetizadores entre as mencionadas antinomias ou disjuntivas, o filósofo sublinha as explícitas tentativas do sistema para “colonizar” 23o mundo da vida, inclusive pela dominação tecnológica. Todavia, de forma diametralmente oposta, vislumbra salvaguardas de vascularidade nas diferenciadas maneiras e modalidades em que o mundo vivido reage a essa tentativas do sistema. Portanto, sua visão de síntese é bem mais otimista que as de Adorno e Horkheimer, já que as saídas superadoras são identificadas no discurso e na linguagem. Tal como os interacionistas, Habermas não vê o cidadão impotente, passivo, dominado e inerte, mas capaz de reagir, criticar e se revoltar. Mais do que isso: com competência comunicativa para enxergar o mundo de seu jeito.

Decerto, há muito de utopia nas proposições habermasianas. Fiel ao ideário frankfurtiano, contudo, o autor não quer esvaziar a sua teoria da dimensão utópica. Sendo assim, a síntese das tensões entre sistema e mundo-da-vida repousa na dimensão de uma racionalidade dialógica, com os interlocutores permanentemente voltados para o consenso fundado. Para Habermas o uso da razão dialógica , isto é, pautada pelo diálogo, efetuar-se-ia por uma dimensão valorativa e ética, tendo como meta o já mencionado consenso fundado, o que não pode ser erroneamente interpretado como impossibilidade de discussões ou de visões plurais de mundo24 e da realidade, entretanto, com a petitio principii de debatê-las ao extremo. Os discursos seriam - via de regra - fundados.

Claro está que, para essa grandiloquente proposição teórica, o autor estabeleceu seus fundamentos em uma teoria da ação: a linguagem é coordenada interativamente; pode ser ação comunicativa ou estratégica, embora a última vise à persuasão; sendo o mundo vivido formado por mecanismos de compreensão mútua e de entendimento recíproco. É necessário, desse modo, que os interlocutores sejam verazes e estabeleçam seus arrazoados discursivos com clareza, cujas motivações atendam a razões válidas e sinceras para fazê-lo.

Porquanto, os interlocutores estariam reconhecendo suas intencionalidades, aceitando a priori restrições ou regras normativas para que haja racionalidade comunicativa, de tal modo que essas atitudes ajudam a legitimar as declarações e os atos discursivos, bloqueando um tanto quanto (mas não totalmente) a persuasão e a retórica vazia e, por fim, conferindo racionalidade, conduzindo prioritariamente à aceitação mútua e o entendimento entre os agentes, ou então, ao debate sobre a aceitação e seu recíproco entendimento. O objetivo de Habermas é o de desobstruir os processos comunicacionais de suas possíveis “obstruções ou contaminações”.

Jurgen Habermas (1977) atribui potência racional ao agir comunicativo: padrões de interação são formados, a interlocução torna-se prática, ainda que não necessariamente objetiva, pois não esvazia a dimensão simbólica e fabulativa. Para o teórico, espaços sociais são gerados na esfera pública. Ao comentar a esfera pública política, no volume dois de seu “Direito 25e Democracia”, Habermas aponta as redes de opiniões e seus fluxos comunicacionais, compondo uma estrutura do “agir comunicativo” orientado para o entendimento, não sendo normativas como organizações e/ou instituições, mas interagindo com o privado, isto é, a família, a religião, as associações civis, e congêneres. O teórico social enxerga a liberdade de imprensa como um dos pilares desses fundamentos, sendo a “mídia uma forma de esfera pública abstrata” (Habermas, 1997).

 

4. A Recepção e seus Efeitos

O interacionismo, utilizado e levado adiante por diversos pesquisadores progressistas e críticos, e a TAC, herdeira direta e tributária do pensamento também crítico da Escola de Frankfurt, possuem na Teoria do Efeito Estético de Wolfgang Iser, caudatária da Estética da Recepção desenvolvida por Hans Robert Jauss, uma notável “companheira de viagem”. 26

Com efeito, se Jauss havia estabelecido a importância da experiência de afetação e de impacto, como capazes de metamorfosear os afetos, as percepções, os sentidos, as sensações e as emoções do receptor, lado a lado às alterações cognitivas e intelectivas sempre proclamadas, Iser caminha para além dessas concepções, de tal modo que, ambos, podem, sem o receio de erro, ser circunscritos no campo daqueles que defendem a noção de um receptor não mais passivo ante as mensagens, porém ativo e deliberador por excelência. Essa observação também vale para as reações às mensagens midiáticas, bem como para qualquer tipo de texto, ou seja, escrito, oral, sob a forma de imagens, e outras. Em uma metáfora coloquial e em certo sentido “gasta”, “a gelatina mexe”, isto é, os grupos sociais e o indivíduo não compõem massas inermes a serem moldadas na forma que melhor for conveniente ao celebrarem interações com textos e com a mídia.

Na obra máxima de Wolfgang Iser27, o texto é visto como “sintoma” e o receptor como co-produtor, 28 de forma que algumas intertextualidades se superam. Iser ultrapassa certas nuances do new criticism , tais como, a identificação das relações entre a intenção do autor e o texto; a relação entre a vida do autor e o texto; a tensão da cultura e da sociedade com os próprios textos; as contradições e similaridades entre texto e contexto, e entre aquele e a obra; a dialética entre o texto e o corpus teórico do autor, e, afinal, os antagonismos entre o texto e as modalidades discursivas de seus contemporâneos.

Na nova implicação teórica e dialógica29 consignada pelo autor da Escola de Konstanz, o “efeito estético” é uma pré-figuração do leitor sobre o texto, formando uma hermenêutica que, inclusive, sai do leitor em direção à obra e retorna a esse, em um efeito looping. Uma hermenêutica que incide essencialmente sobre os espaços vazios, caracterizando uma postura ativa do receptor e, inexoravelmente, classificando as criações estéticas com o sentido de obra aberta.

No volume 1 de “O Ato da Leitura” Iser pontifica: “um texto literário só produz efeito literário quando é lido; os efeitos atualizam-se nos processos de leitura; o texto é, por conseguinte, uma premissa de comunicação; o efeito estético deve considerar texto, leitor e interação; intenção, valor e mensagem literária geram hermenêutica; a intenção engendra e pré-figura a recepção e a interação; a estética da recepção trabalha na síntese entre tradição e modernidade; plurivocidade, polissemia e polifonia consagram novas significações, ricas textualmente; além da já mencionada idéia de que o texto pré-figura a recepção”. 30 Há, desse modo, um leitor implícito, que estabeleceria inevitavelmente novos “arranjos” com as obras.

Por outro lado, no volume 2, Iser acrescenta que o texto é, simultaneamente, wishful thinking e work in progress31. Um desejo pensante tanto do receptor (leitor), quanto do autor, além de uma obra em progressão que, se certamente o é por parte do autor, poderá vir a ser por parte do leitor (receptor). De uma leitura fechada (close reading) se evoluiria para uma leitura aberta (open reading). Esse já citado leitor implícito advogado por Iser define-se, entretanto, como estrutura do próprio texto, sendo que o ato de leitura modificaria, por assim dizer, as representações e significações. A obra passa a ser um jogo entre autor e leitor e, se o texto gerou impacto e afetação, é porque realizou sua32 promessa redentora de felicidade e, dessa maneira, de efeito estético.

A interessante obra de Iser inspirou vários teóricos e comentadores, inclusive no Brasil, em uma recepção tão intensa e diversificada quanto as que tiveram Habermas e os interacionistas. Devido ao formato desse ensaio curto, o único comentador a ser tratado, tal como anunciado na introdução, é Hans Ulrich Gumbrecht.

Em uma de suas obras, intitulada “Corpo e Forma – Ensaios para uma Crítica Não-Hermenêutica”, Gumbrecht (1998) sinaliza para as operações de desreferencialização, destemporalização e destotalização, essencialmente pós-modernas. Para o autor o texto não é só jogo, mas também mapa, leitura e território, muitas vezes dizendo por aquilo que não está escrito (o que também foi rubricado por Iser). Gumbrecht, salvaguarda de Iser, aponta que o fato de se estudar o leitor não significa, como condição sine qua non , que o texto ou o autor devam ser abandonados.

Gumbrecht sinaliza para a idéia do texto como autopoiese, precisando, pois, ser refletido como sistema e dentro de uma teoria geral, que por ele é denominada de teoria geral da ação cognitiva, incorporadora, outrossim, de uma fenomenologia da leitura e, ao mesmo tempo, de uma sociologia da ação. 33 Gumbrecht acredita que há uma crítica literária encravada na sociologia da comunicação e na nascente psicologia da comunicação, como postula o italiano Giuseppe Mininni, que também pode se incorporar a uma teoria da ação comunicativa, tal como proposta por Habermas ou, do contrário, na já mencionada teoria geral da ação cognitiva. De fato, no início dessa obra o autor referira-se à “integração desta nova forma de crítica literária na sociologia da comunicação que está, ela própria, em processo de constituição” (Gumbrecht, 1998).

É digno de nota que a idéia de uma incorporação da crítica literária em uma sociologia da comunicação desloca, no próprio campo semântico das ciências sociais, a sua constituição disciplinar, já que nos termos propostos por autores como Pierre Bourdieu, Theodor Adorno e Raymond Williams, tanto a crítica literária, com a crescente autonomia disciplinar da lingüística, quanto a sociologia da literatura deveriam ser incluídas, no que tange à sua formação disciplinar, no campo da sociologia da cultura. 34

Essas observações encerram o caminho deste artigo. Porém, fica a certeza de que outras “veredas” poderão ser abertas e até mesmo complementadas.

 

5. Conclusões para iniciar um debate

As três teorias possuem muito em comum. Mais ainda, em diversas passagens os autores mutuamente citam-se, com menor comprovação delas entre os interacionistas, em parte pelo período histórico de apogeu da corrente, ainda que seus seguidores o façam.

As noções de interação, representação, identidade, intersubjetividade, razão dialógica, intencionalidade, movimento inter e intragrupos, racionalidade comunicativa, consenso fundado, esfera pública, recepção, impacto, afetação, efeito estético, pré-figuração, ou mesmo as idéias de vazio hermenêutico ou polifonia e polissemia textual, sem descartar o conceito de autor como coprodutor, são, indubitavelmente, complementares. Claro está que, em alguma medida, se diferenciam, não obstante a formação discursiva, a análise do discurso e do conteúdo e, in strictu sensu, uma metodologia de análise do discurso podem inferir dessas categorias teóricas importantes considerações e aplicações para a reflexão analítica dos grupos sociais e das instituições, justamente na fronteira disciplinar entre sociologia da ação e psicologia social. A ciência não é um amálgama permanente. Certas clivagens são epistêmicas e ideológicas.

Cumpre observar que as teorias da comunicação, quando estabelecem diálogos transdisciplinares com a sociologia da ação e a psicologia social, e mesmo o escopo da disciplina, beneficiam-se imensamente desse debate por razões paradigmáticas, ou seja, que se engendram nas epistemologias, nas teorias, nos métodos, nas técnicas, nas empirias, nas polêmicas intelectuais, científicas e culturais, na hermenêutica e, não se pode deixar de lembrar também o seu caráter heurístico. E obviamente nas modalidades do discurso comunicacional.

Finalmente, um pormenor a ser salientado é que as associações dessas teorias com as teorias críticas da comunicação, a psicologia dos grupos e a sociologia das instituições resultam em ainda mais “munição” de combate, de afirmação de palavra e de tomada de posição, em relação (ou contra) a teorizações marcadamente conservadoras, como aquelas afeitas ao behaviorismo, ao funcionalismo, à teoria da escolha racional, às teorias calcadas no individualismo metodológico, e até uma certa “trilha” de verniz cog sci35 que esconde pretensões bem pouco nobres de setores da neurociência, sem falar na celebração hedonista, epicurista e com “tinturas” new age do conexionismo e das suas promessas incorporadoras da sociedade em rede, embutidas em formulações semânticas pretensiosas, como sociedade da informação ou sociedade do conhecimento, negligenciando seu viés ideológico e/ou etnocêntrico.

 

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Recebido em: Abril de 2009
Aceito em: Julho de 2009

 

 

1 Objetivo secundário, mas não menos relevante, é contribuir para os debates desse Núcleo de Pesquisas em Teorias da Comunicação, tradicional e importante na INTERCOM.
2 Com a liberdade da tolerância utilizam-se livremente as categorias de Karl Mannheim, apresentadas em diversos de seus estudos e levadas adiante pelo sociólogo da ciência David Bloor, antigo editor da revista Social Studies of Science; Bloor aprimora essas noções e associa-as à concepção de paradigma em seu seminal estudo, intitulado Knowledge and Social Imagery, já traduzido no Brasil.
3 Que acabou passando à história como um dos grandes nomes do nascimento da sociologia.
4 Noções que também aparecerão de forma similar nas obras de Martin Buber e de Emmanuel Lévinas.
5 Sua formulação clássica foi imortalizada por Freud na noção de Complexo de Édipo
6 Na ausência de melhor metáfora vale a inspiração vaga weberiana.
7 De fato, Parsons decepcionou-se com a não aceitação universal de sua teoria nos campi norte-americanos.
8 Noção essa que atualmente está no cerne das reflexões de autores denominados “comunitarianos”, como Charles Taylor, Michael Walzer e Alasdair McIntyre (e que, em certo sentido, se contrapõem a Habermas).
9 Essas últimas categorias são essenciais para a psicologia social.
10 Defendido pela escola teológica denominada de moralista sem conotações pejorativas ao termo.
11 Noção milenar, a idéia de representação aparece em Platão, Aristóteles, Spinoza, Schopenhauer, Freud, e nos estruturalistas e pós-estruturalistas franceses, para ficar apenas em alguns autores, tendo polissemias como representação simbólica, alegórica, ficcional, ideativa, cognitiva, lingüística, inconsciente, social, cultural, política, fabulativa, dentre tantas, e, a mais remota de todas, a mnêmica, isto é, representação de memória, que só deixa de ser individual quando socializada; Goffman esteve atento a essas “polifonias” e as articulou com as concepções de interação e de identidade.
12 É difícil e imprecisa a tradução literal.
13 Atitudes comprobatórias da interação.
14 A impressionante seqüência de análise dos sentimentos gregários vai da página 61 a 134.
15 Peter Hall, outro interacionista, sempre propugnou por uma ordem social permanentemente negociada.
16 Temas de seu último livro, concluído post-mortem por sua esposa Graetel (“Teoria Estética”).
17 Já permeadas por um arremedo de idéia de racionalidade comunicativa mediada pela linguagem
18 De fato, os interacionistas seriam objeto de análises e citações problematizadoras por Habermas nos dois volumes da Teoria da Ação Comunicativa.
19 Como podem ser mencionadas, sem a pretensão de esgotamento de todas, “Conhecimento e Interesse” e “Para a Reconstrução do Materialismo Histórico”.
20 Doravante abreviada para TAC.
21 Em um seminário nos Estados Unidos, que congregava inúmeros teóricos destacados para comentarem a sua obra, o autor chegou a escrever um interessante ensaio intitulado “A Reply to my Critics”, de quase uma centena de páginas (ver Held e Thompson, Habermas – Critical Debates, The M.I.T. Press, 1982), que, na sua terra natal, veio a se constituir em um terceiro volume da TAC.
22 São antinomias clássicas as que contrapõem micro e macro, e ação ou agência e estrutura; e contemporâneas as que opõem individualismo metodológico e holismo metodológico (ou coletivismo) e, afinal, subjetividade e objetividade.
23 A expressão é do próprio.
24 Weltanschauungen, ou seja, visões de mundo.
25 Facticidade e Validade – Para uma Teoria do Estado Democrático de Direito; esse o título original.
26 Ambas compondo a denominada Escola de Konstanz.
27 Denominada “O Ato da Leitura – Uma Teoria do Efeito Estético” (Rio de Janeiro, Ed. 34).
28 Lembrando, em muito, a máxima de James Joyce no seu “Finnegans Wake”: “My consumers, are they not my producers?”
29 Inevitável chamar a atenção para a terminologia, que aparece na mesma acepção proposta por Habermas
30 Impressionante seqüência de caracteres descritos até a página 63.
31 Desejo pensante, e obra em progressão.
32 Conforme teorizado às páginas 9 e 82 do segundo volume.
33 Gumbrecht debate em toda a obra com as noções de Maturana e de Luhmann, mencionadas no parágrafo.
34 Nas respectivas obras “As Regras Da Arte”; “O Ensaio como Forma”; e “Cultura”, já editadas há algum tempo em português.
35 Corruptela muito utilizada para ciências cognitivas.
* Sociólogo e psicólogo, mestre em Sociologia (IUPERJ) e doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ); é professor da UFJF desde 1987, onde desenvolve suas pesquisas no Núcleo de Estudos Estratégicos, sendo professor e pesquisador do Mestrado e do Doutorado em Ciências Sociais e do Mestrado em Psicologia da UFJF. O autor agradece os comentários críticos do colega André Gaio, o que não o torna responsável por possíveis equívocos cometidos. Versão preliminar desse trabalho foi apresentada no Encontro Nacional da INTERCOM, em Brasília (UnB), junho de 2006.

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