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Psicologia em Pesquisa

versão On-line ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. v.3 n.2 Juiz de Fora  2009

 

RELATOS DE PESQUISA

 

Avaliação do Projeto Esperança: um Estudo de Caso na Pavuna – RJ

 

Evaluation of Hope Project: A Case Study in Pavuna – RJ

 

 

José Eduardo de SouzaI; Luciana MourãoI,*

IUniversidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO - Niterói

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar o Projeto Esperança, um projeto social que atende crianças, adolescentes e famílias com dificuldades em manter as condições básicas de sobrevivência. A pesquisa teve natureza qualitativa, com realização de entrevistas e grupos focais com gestores, financiadores, parceiros, líderes comunitários, executores e beneficiários do Programa, as quais foram gravadas e transcritas. A análise de conteúdo realizada mostra que todos os públicos-alvo pesquisados são capazes de apontar resultados obtidos com a realização do Projeto em termos de melhoria de vida dos beneficiários, tanto relacionados aos objetivos do Projeto, como outros tipos de ganhos não planejados. A pesquisa também permite concluir que, apesar dos resultados alcançados, o Projeto Esperança ainda não cumpriu em sua totalidade os objetivos propostos e não há sinais concretos de que tais objetivos serão alcançados ao término do Projeto em 2009.

Palavras-chave: avaliação de programas sociais; vulnerabilidade social; qualidade de vida.


ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the Projeto Esperança. A social project that helps children, adolescents and families struggling to keeping the basic conditions for survival. It was a qualitative research with interviews and focus groups, which included recorded transcriptions with managers, financiers, partners, community leaders, implementers and program beneficiaries. The content analysis performed shows that all target groups surveyed are able to point the results obtained when carrying out the Project in terms of improving the beneficiaries’ lives here related to the goals of the project, and other unplanned gains. Despite the achievements, the research also shows thatthe Projeto Esperança didn’t accomplish its entirety the proposed objectives and there are no real signs that such objectives will be achieved at the end of the project in 2009.

Key Words: evaluation of social programs, social vulnerability, quality of life.


 

 

Os programas sociais têm ganhado importância em todo o mundo, sendo ainda mais necessários nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. As enormes discrepâncias sociais e econômicas do País, somadas a uma situação de impossibilidade de o Estado dar conta de todas as questões sociais vêm fortalecendo a demanda por programas sociais que não sejam apenas do governo, mas também propostos por organizações privadas e do Terceiro Setor.

Mas independentemente de quem seja o patrocinador dos programas sociais, a avaliação dos mesmos cumpre uma função ética, na medida em que possibilita melhorias nos processos e na qualidade de vida para a população-alvo. Nesse sentido, o papel do avaliador cumpre também uma dimensão política, que possibilita maior diálogo e proximidade com a realidade, para que se chegue a uma qualidade possível.

O presente artigo apresenta um estudo de caso de um projeto social realizado na Comunidade Chico Mendes, no Bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro. O objetivo da pesquisa foi verificar empiricamente os resultados obtidos com o programa do ponto de vista dos beneficiários e de diferentes stakeholders que participam do processo, como os financiadores, os gestores, os executores, os parceiros e os líderes comunitários.

 

1. Avaliação de Programas Sociais

Na revisão de literatura, é consenso que avaliar é uma forma valorosa e essencial para qualquer sistema ou sociedade, contribuindo para a eficiência de suas práticas, sejam elas de cunho organizacional ou político. O processo avaliativo compreende também a análise dos papéis desempenhados pelos agentes avaliadores, externos ou internos.

Nessa perspectiva, a avaliação implica a participação e o envolvimento dos grupos de interesse. Furtado (2001, p. 169) os define da seguinte forma: "grupos de interesse ou implicados ou ainda stakeholders são definidos como organizações, grupos ou indivíduos potencialmente vítimas ou beneficiários do processo avaliativo". De acordo com o autor, os grupos de interesse costumam ser formados por pessoas com características comuns (gestores, usuários, etc.) que têm algum interesse no "desempenho", no produto ou no impacto do objeto da avaliação. Ele esclarece que essas pessoas estão de alguma forma envolvidas ou são potencialmente afetadas pelo programa e por eventuais consequências do processo avaliativo.

É inegável que a avaliação de programas sociais tem um papel a cumprir no sentido de esclarecer aos agentes sociais os resultados obtidos com o programa e as práticas que requerem melhorias, contribuindo para o processo de tomada de decisão das instituições. Penna Firme (2005, p. 2) concorda com essa função social da avaliação, quando afirma que:

"É na medida em que avaliadores e avaliadoras dialoguem, instituições e sistemas se sintonizem e inteligências múltiplas se complementem que a avaliação irá emergindo com suas características mais notáveis de propulsora das necessidades transformadoras educacionais e sociais e de advogada dos direitos humanos".

Ou seja, não só os programas sociais, mas a própria avaliação deles compreende um processo transformador. O papel do avaliador não é apenas o de dizer se o Programa funcionou ou não, mas também o de apontar caminhos para que o programa avaliado e outros programas futuros possam obter êxito.

A respeito do conceito de avaliação, Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004, p. 35) apresentam uma definição geral de avaliação de maneira semelhante: "avaliar é determinar ou estabelecer o valor de; examinar e julgar". Assim, quando se realiza a avaliação de um programa social, está se dizendo a respeito do valor desse programa, examinando e julgando o seu mérito. Portanto, para que isso seja feito, é preciso utilizar método cientificamente estabelecido e adequado à realidade do programa em questão.

Para Minayo (2005), a avaliação como técnica e estratégia investigativa é um processo sistemático de fazer perguntas sobre o mérito e a relevância de determinado assunto, proposta ou programa. A autora analisa que, do ponto de vista da utilidade, a avaliação visa reduzir incertezas, melhorar a efetividade das ações e propiciar a tomada de decisões relevantes. Minayo (2005) deixa claro que a avaliação deve ser um processo que envolve construção a partir de uma técnica pré-estabelecida com a finalidade de enobrecer os movimentos e os organismos que buscam a transformação da sociedade. Ou seja, esses programas precisam oferecer respostas aos beneficiários, à sociedade e ao governo sobre os serviços prestados, apontando para os investidores os frutos de sua aplicação e respondendo aos interesses das instituições e de seus gestores e técnicos.

A definição de Scriven (1967, p. 37) é mais simples: "avaliação é julgar o valor ou mérito de alguma coisa". Worthen e cols. (2004, p. 35) propõem uma definição mais extensa: "avaliação é a identificação, esclarecimento e aplicação de critérios defensáveis para determinar o valor, a qualidade, a eficácia ou a importância do objeto avaliado em relação a esses critérios". Outra definição de avaliação é apresentada por Franco (1971, p. 3) que entende que: "Avaliar é fixar o valor de uma coisa; para ser feita se requer um procedimento mediante o qual se compara aquilo a ser avaliado com um critério ou padrão determinado".

Porém, a análise dessas definições evidencia que não há grande discrepância entre elas, sendo apenas enfocados aspectos complementares em uma ou em outra definição. Nesse sentido, cumpre registrar que a avaliação tem diversos papéis e que ela não é única – no sentido de ter em si uma abordagem diversa. Assim, pode ser citado Almeida (2006, p. 12) que define a avaliação da seguinte forma:

• "É, antes de tudo, um processo sócio-político;

• É um processo compartilhado e colaborativo;

• É um processo de ensino e aprendizagem;

• É um processo contínuo, recursivo e altamente divergente;

• É um processo emergente e substancialmente imprevisível;

• É um processo com resultados imprevisíveis;

• É um processo que constrói uma realidade".

Portanto, para Almeida (2006), a avaliação é uma nova forma de fazer política na medida em que sua elaboração e execução precisam estar comprometidas com uma qualidade de vida para o beneficiário do programa. No caso de uma avaliação de políticas públicas o espectro da análise será maior, pois não se consideram apenas as necessidades dos beneficiários-alvo, mas também a forma como acontecem as relações sociais e o custo para o Estado. Nessa discussão cabe ainda a consideração do grau de sustentabilidade da política pública em avaliação, uma vez que se espera das mesmas uma dimensão emancipatória, que responda às necessidades sociais e coletivas a partir da situação de vida das famílias atendidas.

As descobertas que surgem a partir da avaliação não são simples "fatos", com sentido definitivo, são criações por meio de um processo de interação que inclui o avaliador e os grupos de interesse (Almeida, 2006). Surge, assim, um processo de construções que faz parte de uma dada realidade e que como tal demanda não apenas ações, mas também negociação.

 

2. O Projeto Esperança

A presente seção apresenta as informações centrais acerca do Projeto Esperança, contextualizando a sua concepção, os objetivos do programa, as ações desenvolvidas no âmbito do mesmo, os stakeholders envolvidos e a caracterização da comunidade atendida.

O Projeto Esperança é um projeto da Província Brasileira da Congregação da Missão – PBCM, que surgiu com o objetivo de atender crianças, adolescentes e famílias que apresentavam dificuldades em manter as condições básicas de sobrevivência e que participavam do projeto "Cesta Básica" – criado pela própria PBCM. O projeto foi idealizado para permitir que os alunos do Colégio São Vicente de Paulo pudessem realizar atividades de solidariedade, contribuindo para o desenvolvimento de uma atitude ética e cidadã.

Em 2006, quando foi criado, o projeto tinha como característica principal o recolhimento de doação de alimentos entre os alunos do Colégio. Os alimentos doados eram repassados a famílias residentes na Comunidade Chico Mendes, localizada na Pavuna. Contudo, os instituidores do Projeto perceberam que, ainda que a doação de cestas básicas consistisse na formação de um valor entre os alunos, essa ação era insuficiente para promover uma mudança social naquelas famílias. Sendo assim, o Projeto foi reformulado, passando a ter o seguinte objetivo geral: "Contribuir para a melhoria da qualidade de vida das famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, de forma humanizada, visando à expansão do indivíduo enquanto transformador social". Para atingir esse objetivo a PBCM formulou seis objetivos específicos, a saber:

(a) estimular trabalhos de geração de renda, assim como organização em associações e/ou cooperativas; (b) despertar a consciência humana, política e cidadã através de oficinas temáticas; (c) acompanhar periodicamente as famílias atendidas, através de visitas domiciliares e entrevistas; (d) desenvolver as atividades de forma integrada com a comunidade, buscando parcerias com a rede local de serviços; (e) incentivar a cultura e a valorização da identidade local, respeitando o contexto histórico da região; (f) possibilitar intercâmbio com os projetos da PBCM e ampliar a visão de mundo da comunidade." (PBCM, 2007).

Nessa nova fase do Projeto, planejada para ocorrer no período de 2007 a 2009, a proposta era de que as famílias não apenas recebessem a cesta básica, mas também fossem atendidas semanalmente na comunidade, recebendo orientação sobre as mais diversas questões, como cidadania, saúde, direitos, cultura e apoio escolar. O foco dessas orientações era voltado para o público feminino que é o que mais participa do Projeto, embora esporadicamente alguns homens compareçam aos encontros. Assim, as ações do projeto visavam oferecer serviços e atividades que desenvolvessem as potencialidades do ser humano considerando seus direitos e deveres civis, políticos e sociais.

Nessa nova fase do Projeto Esperança (período de 2007 a 2009), as ações planejadas para desenvolver o Projeto foram: (a) ações de estruturação e consolidação de um grupo de trabalho; (b) incentivo à qualificação profissional; (c) ações para promover melhoria do aproveitamento escolar das crianças e adolescentes; e (d) ações voltadas para a geração de renda, culminando com a formação de uma cooperativa e a busca de parcerias com a rede local.

As entrevistas iniciais realizadas com as famílias pela equipe da PBCM permitiram identificar alguns talentos, o que fez com que fossem planejadas ações para a construção da melhoria de vida da comunidade. Nesse sentido, identificaram-se vários moradores que sabem realizar trabalhos na construção civil, mulheres que conhecem a técnica de fazer sabonete, pintura em gesso, flores artesanais, bordado, crochê ou que atuam bem no trabalho de doméstica. O Projeto partiu do pressuposto de aproveitar as habilidades dos beneficiários, a fim de que a transformação social pudesse vir de características que já pertenciam à própria comunidade.

Assim, a proposta do Projeto Esperança era de que as atividades fossem norteadas pelo princípio da liberdade e do respeito à pessoa humana. Para isso, todos os beneficiários foram escutados no processo de construção do plano de ação, onde cada um teve oportunidade de expressar seus desejos, suas habilidades, capacidades e comprometimento com o resultado final. A fim de proporcionar um intercâmbio com os outros projetos da PBCM e ampliar a visão de mundo dos alunos do Colégio São Vicente de Paulo, os membros do Projeto Esperança também foram incentivados a participar de atividades de intercâmbio cultural e social em eventos que favorecessem o crescimento pessoal e coletivo.

De forma resumida, pode-se, elencar as seguintes ações relacionadas ao Projeto Esperança:

a) entrevistas residenciais com as famílias candidatas a participar do Programa;

b) seleção das famílias que melhor preenchem as condições de participação (condição de vida mais precária);

c) reuniões semanais com discussões temáticas (cidadania, saúde, direitos e cultura);

d) oficinas de capacitação em atividades que permitam a geração de renda, tais como fuxico, bordado, crochê, corte e costura;

e) ações de inserção cultural (passeios ao cinema, visita a monumentos turísticos do Rio de Janeiro); e

f) visitas semestrais às famílias em suas residências para acompanhamento dos resultados obtidos com a participação no Projeto.

O Projeto Esperança conta com um grupo de profissionais, alunos e voluntários vinculados ao Colégio São Vicente de Paulo no desenvolvimento de suas atividades. Porém, os atores envolvidos no Projeto vão além das fronteiras do Colégio, podendo ser citados quatro grupos principais de stakeholders: (a) financiadores (Mantenedora – PBCM); (b) gestores (assistentes sociais); (c) executores (alunos participantes do Programa e grupo de mães apoiadoras - Grupo MAS); (d) parceiros (líderes comunitários, líderes religiosos, associação de moradores, pessoas influentes na Comunidade, Associação Internacional da Caridade); e (e) Beneficiários (famílias participantes).

Aos idealizadores e financiadores coube a função de criar o Projeto e de prover os recursos humanos e financeiros para que o mesmo possa ser executado. Os gestores correspondem a duas assistentes sociais responsáveis pela coordenação do Projeto, desde a fase de seleção das famílias participantes, até a condução dos encontros semanais. Os executores são alunos do ensino médio e constituem um grupo de grande relevância para o Projeto por estarem diretamente vinculados ao Colégio São Vicente de Paulo. O Grupo de Multiplicadores de Ações Sociais – MAS, formado por mães de alunos do Colégio São Vicente de Paulo, também atua de forma direta. Esse grupo planeja e executa as atividades de reuniões semanais, propõe a realização de oficinas e de outras intervenções para melhoria das condições de vida das famílias atendidas pelo Projeto. Entre os parceiros estão os líderes comunitários, que embora tenham atuação menos preponderante, também constituem um público importante na medida em que conhecem a realidade vivenciada pela Comunidade. Por fim, aos beneficiários também é definida uma participação ativa, no sentido de que eles não apenas sejam receptores das ações sociais, mas participem da definição das mesmas. A proposta é que as famílias atuem como protagonistas do processo de transformação da sua realidade social e da sua subjetividade. Dessa forma, o Projeto reúne os mais diversos atores, com funções complementares.

O Projeto Esperança atende a 26 famílias residentes na Comunidade Chico Mendes, no bairro da Pavuna. A Pavuna é um bairro antigo, tendo sido fundado antes mesmo da cidade do Rio de Janeiro. Sempre foi um pólo econômico, desde o tempo da produção de açúcar e aguardente no século XVII, até a instalação de indústrias no século XIX. Hoje, além de um parque industrial com pequenas, médias e grandes indústrias, possui vagas de emprego no setor de serviços. No bairro funciona, ainda, a tradicional Feirinha da Pavuna. Sua população também se diversificou desde o início da ocupação. O processo de fragmentação das áreas urbanas, acelerado pela ocupação de pessoas oriundas das camadas menos favorecidas, gerou um fluxo populacional desordenado, aumentando e precarizando as condições de moradia no bairro e na comunidade Chico Mendes. A comunidade é marcada pelo poder paralelo do tráfico de drogas e pela ausência de instituições do poder público. A maior parte dos moradores da Pavuna, em especial os moradores da Comunidade Chico Mendes, não possui acesso às condições de trabalho e renda, assim como à qualificação profissional para exercer melhores ocupações no mercado de trabalho.

As famílias participantes do Projeto têm como característica marcante, o elevado número de filhos, assim como a baixa escolaridade de crianças, jovens e adultos. Há ausência de alimentação equilibrada e que atenda às exigências nutricionais para um desenvolvimento físico e mental adequado. Das famílias entrevistadas, 40% buscam seus alimentos no aterro sanitário, localizado no município de Caxias, em Jardim Gramacho, e na Central de Abastecimento da Cidade (CEASA), em Irajá, sem qualquer condição de higiene e preservação dos alimentos. Também são notórias as péssimas condições das moradias em que as famílias atendidas vivem. As residências são constituídas de madeira, sendo algumas mistas (alvenaria com madeira). No momento em que foram feitas as entrevistas iniciais para a seleção das famílias a serem atendidas pelo Projeto Esperança, quase a metade delas gerava sua renda por meio da coleta de resíduos sólidos (lixo), produzidos em um condomínio próximo à região, e de materiais como ferro e papelão recolhidos pela cidade. A precarização dos vínculos de trabalho, o grande número de filhos por família e a ausência de renda, fazia com que 95% da população atendida pelo Projeto estivessem incluídas no Programa Bolsa Família do Governo Federal.

 

3. Método

Esta pesquisa consistiu em um estudo de caso que, segundo Yin (1989, p. 23), caracteriza-se por ser "uma forma de se fazer pesquisa social empírica ao investigar-se um fenômeno atual dentro do seu contexto de vida real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto são claramente definidas e na situação em que múltiplas fontes de evidência são usadas.". Na definição do autor, duas características do estudo de caso ficam evidenciadas: (a) a necessidade de se apresentar o contexto onde o caso está inserido; e (b) a demanda por múltiplas fontes de coleta de dados, a fim de garantir a quantidade e a profundidade de dados requeridos por um estudo de caso. Essas duas características do estudo de caso são seguidas na presente pesquisa.

Em relação à abordagem metodológica, a pesquisa foi desenvolvida com a utilização predominante da abordagem qualitativa. Foram realizadas seis entrevistas em profundidade e cinco grupos focais e aplicados questionários a 23 alunos que participaram do Projeto como executores.

 

3.1 Participantes

Como sujeitos de pesquisa foram ouvidos diferentes stakeholders – financiadores, gestores do programa, parceiros, líderes comunitários, executores e beneficiários – que participam do Projeto Social Esperança na Comunidade Chico Mendes. A amostra total foi de 66 pessoas pesquisadas, sendo: dois financiadores (responsáveis pela mantenedora), uma gestora do programa (assistente social), 11 parceiros (mães dos alunos do Colégio participantes do Grupo Multiplicadores na Ação Social - MAS), três líderes comunitários (associação de moradores, líder religiosa, líder comunitário), 23 executores (alunos do ensino médio do Colégio) e 26 beneficiários (famílias participantes do programa). A participação de cada um desses sujeitos foi voluntária e o presente projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Salgado de Oliveira.

A Tabela 1 apresenta uma breve descrição de cada modalidade de participante, bem como o critério utilizado para a definição quantitativa de cada modalidade.

 

 

3.2 Instrumentos de coleta de dados

Para a coleta de dados foram desenvolvidos instrumentos de coleta de dados específicos para cada público pesquisado. Para os grupos focais e para as entrevistas em profundidade foram desenvolvidos roteiros semi-estruturados para orientação do pesquisador durante a condução do processo de coleta de dados. Buscou-se nesses roteiros cobrir todos os temas avaliados, bem como repetir perguntas para diferentes públicos de forma a permitir a utilização do método de análise por triangulação/ circularização. Também foi desenvolvido um questionário estruturado com 14 perguntas fechadas e uma pergunta aberta aplicado a alunos do Colégio São Vicente de Paulo que participavam do Projeto Esperança.

 

3.3 Procedimentos de coleta de dados

Os procedimentos de coleta de dados envolveram quatro técnicas de coleta de dados: análise documental (dados secundários), grupos focais, entrevistas em profundidade e aplicação de questionários. A escolha dos procedimentos de coleta de dados para cada público-alvo foi feita considerando-se dois critérios principais: objetivo da avaliação e tamanho da amostra. A escolha entre a coleta de dados quantitativa (questionários estruturados) ou qualitativa (entrevista em profundidade e grupos focais) levou em conta o objetivo da avaliação.

Assim, no caso dos executores – alunos de ensino médio do Colégio São Vicente de Paulo – havia uma proposta de pesquisar não apenas os alunos que participam do Projeto Esperança, mas também alunos que participam de outros projetos sociais realizados pelo Colégio, a fim de se validar uma escala de razões para participação voluntária em projetos sociais. Por esse motivo, optou-se por aplicar questionário. Já para os demais públicos a ideia era aprofundar as respostas e realizar uma análise mais subjetiva das mesmas, nesse sentido optou-se por procedimentos de natureza qualitativa para a coleta de dados. A decisão entre a realização de entrevistas em profundidade ou grupos focais foi feita com base no tamanho da amostra. Como os financiadores, gestores e líderes comunitários tinham no máximo quatro possíveis respondentes, decidiu-se por realizar entrevistas em profundidade. No caso dos beneficiários e dos parceiros, havia um grupo maior a ser pesquisado, optando-se, então, pela realização dos grupos focais, a fim de permitir uma coleta de dados com maior interação entre os participantes. A Tabela 2 detalha os procedimentos de coleta de dados primários.

 

 

A coleta de dados primários foi presencial em dia e hora marcados previamente com os participantes, no período de julho a dezembro de 2008. As entrevistas e os grupos focais foram gravados e posteriormente transcritos, para maior fidedignidade dos dados. Para melhor compreensão das opiniões dessas pessoas, nos casos em que houve mais de um representante para o mesmo tipo de stakeholder, optou-se por nomeá-los com uma numeração que permitisse distinguir as falas (por exemplo: financiador 1, financiador 2; parceiro 1, parceiro 2, parceiro 3). Em nenhum momento de coleta de dados, houve a participação de qualquer outra pessoa ligada ao Projeto, além dos pesquisadores. Apesar de haver reuniões semanais dos gestores e dos parceiros com os beneficiários, evitou-se realizar os grupos focais com as famílias participantes durante essas reuniões para reduzir a ocorrência do fenômeno de desejabilidade social.

A proposta durante as entrevistas e os grupos focais era de ouvir o que as pessoas tinham a dizer sobre si mesmas, sobre as suas vidas e sobre o Projeto Esperança, sem direcionamento de respostas ou expressão de qualquer opinião a respeito. A idéia tanto nas entrevistas como nos grupos focais era apenas de aprofundar, quando oportuno, os assuntos mais diretamente ligados ao Projeto. A adoção desse procedimento permitiu que surgissem dos stakeholders informações relevantes tanto sobre o Projeto como sobre outros aspectos contextuais fundamentais para este estudo.

 

3.4 Procedimentos de análise de dados

Para a análise de dados, foi realizada análise de conteúdo categorial (Bardin, 1977) nos documentos sobre o Projeto, bem como nos dados qualitativos originados das entrevistas e grupos focais. Além disso, também se adotou a técnica de análise por triangulação (Denzin, 1979, citado por Minayo, 2005), a qual compara as respostas obtidas por diferentes fontes a fim de melhor compreender o fenômeno estudado.

A análise de conteúdo caracteriza-se como procedimento de fragmentação de textos com o objetivo de identificar regularidades e possibilita tratar todo o material textual, buscando identificar a pluralidade temática presente num conjunto de textos, ao mesmo tempo em que pondera a freqüência desses temas dentro do mesmo conjunto (Nascimento & Menandro, 2006). Neste estudo, a análise de conteúdo foi feita a partir do agrupamento de elementos de significados mais próximos, com formação de categorias e subcategorias (análise categorial). As categorias e subcategorias derivaram da relevância, e da recorrência dos temas no corpus dos depoimentos dos pesquisados. Assim, a partir da leitura inicial (leitura flutuante) foram anotadas impressões que geraram pré-categorias. Uma nova leitura detalhada dos depoimentos levou à construção de grades de categorias contendo tema geral, palavras e frases relacionadas a esse tema, bem como o agrupamento de elementos das categorias gerais em subcategorias. Em função da quantidade de depoimentos coletados (cinco grupos focais e seis entrevistas) optou-se por não trabalhar com a análise de recorrência de cada categoria e subcategoria, mas sim com uma análise de ausência/presença dessas categorias nos discursos dos diferentes stakeholders.

 

4. Resultados

Em relação aos financiadores do Projeto Esperança, foram entrevistados dois educadores, sendo que um exerce a

função de direção do Colégio e o outro de coordenador da parte social da mantenedora do Colégio. Ambos têm vínculo com a Igreja Católica e com a PBCM, porém, há grande diferença em termos de perfil etário (69 anos no primeiro caso e 28 no segundo) e também de tempo na instituição (50 e 12 anos, respectivamente).

A pessoa entrevistada como responsável pela gestão do Projeto Esperança foi uma assistente social, que gerenciava as ações sociais do Colégio. Essa profissional é especialista em políticas públicas, tem 28 anos e estava há um ano na gestão do Projeto Esperança.

O grupo de parceiros,constituído por mães dos alunos do Colégio São Vicente de Paulo que se ofereceram para atuar como voluntárias no Projeto – Grupo Multiplicadoras de Ação Social – MAS, é formado por pessoas que têm vínculo com a instituição há muitos anos. Predomina entre elas, a função "do lar", embora também haja aquelas que têm atuação profissional como professora, secretária, servidora pública, artesã e administradora.

Como líderes comunitários foram entrevistadas três pessoas. Uma delas, com 58 anos, é líder religiosa da comunidade, reside na mesma há 15 anos e tem um filho adulto que mora com ela na Comunidade Chico Mendes. O segundo líder pesquisado pertencia à associação de moradores e também tem um perfil semelhante à primeira entrevistada em termos de idade e tempo na comunidade (52 e 14 anos, respectivamente). O terceiro e último líder comunitário entrevistado tem 47 anos e é morador da comunidade há 12 anos, sendo uma pessoa que conhece muito a comunidade local e é uma referência para os moradores para apoio em situações de emergência e que conhece o Projeto desde a sua implantação.

Em relação aos alunos que participaram do Projeto Esperança, quase dois terços (65,2%) são do sexo masculino, devido à maior restrição das famílias à participação das meninas em função da distância e da violência associada ao Bairro da Pavuna. Isso pode ser evidenciado pelo fato de haver 44% de alunas participando das ações sociais do Colégio, mas apenas 34,8% participando do Projeto Esperança. Em relação à divisão pelas turmas dos três anos do ensino médio, ela foi praticamente equânime com sete participantes do 1º ano e oito participantes tanto do 2º como do 3º ano. A idade média era de 16,5 anos (DP=0,8) e o tempo de médio de vínculo com o Colégio de 7,4 anos (DP = 2,8). As ações sociais consideradas mais importantes pelos alunos do ensino médio do Colégio São Vicente de Paulo que participam de programas sociais são relativas a: Direitos Humanos/Cidadania (73,9%), Educação/Formação profissional (52,2%), Meio Ambiente (39,1%), Direito da Criança/ Adolescente (34,8%) e Saúde (30,4%). As ações sociais relativas a Minorias, Segurança/Violência e Terceira Idade tiveram um percentual menor de indicações. As ações relativas a Mulheres e Habitação tiveram apenas uma citação cada. É importante destacar que a participação dos alunos no Projeto Esperança é baixa. Dentre aqueles que participam de alguma ação social proposta pelo Colégio, apenas 12,3% atuam no Projeto Esperança. São duas as principais razões para essa baixa adesão ao Projeto: (a) o medo da violência na Comunidade Chico Mendes; e (b) o receio da violência que pode ocorrer até a chegada ao bairro da Pavuna, em função dos trajetos percorridos (Avenida Brasil, Bairro Santo Cristo e Linha Vermelha, que são regiões conhecidas como de alto índice de violência).

Por fim, os beneficiários foram ouvidos por meio de quatro grupos focais com as mulheres representando as 26 famílias assistidas. Essas pessoas tinham idade média de 37,8 anos (DP= 11,4), sendo a mais jovem de 18 anos e a mais velha de 78. Todas tinham filhos, numa média de 4,4 filhos por mulher (DP = 2,7), bem acima da média nacional de 2,3 filhos/mulher apontada nas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE a partir do censo 2000. Outra característica importante das famílias beneficiárias é que 42,3% delas são constituídas por mães e filhos, ou seja, sem a presença paterna no lar. A Tabela 2 apresenta a descrição de cada um desses stakeholders e o perfil dos pesquisados.

 

 

No que diz respeito à análise de conteúdo das entrevistas com os stakeholders, emanaram cinco categorias principais, as quais apresentaram, em alguns casos, ênfases específicas que poderiam ser chamadas de subcategorias. As categorias principais foram: Percepção da moradia em uma comunidade; Principais dificuldades da vida na Comunidade Chico Mendes; Significado do Projeto Esperança; Função social do Projeto Esperança; e Resultados do Projeto. Neste artigo serão focados os Resultados do Projeto.

Os beneficiários são unânimes em avaliar que o Projeto Esperança trouxe melhorias para as suas vidas. Os vários depoimentos acerca dos resultados do Projeto apontam para o alcance de alguns dos objetivos propostos. Alguns beneficiários enfatizaram a questão do estímulo para o trabalho e renda, que é uma das questões centrais para a Comunidade Chico Mendes, onde é grande o número de pessoas que não estão inseridas no mundo do trabalho. Nessas falas, além do trabalho propriamente dito, também é dada ênfase aos cursos que possibilitam a aprendizagem de atividades que são possíveis geradoras de renda, como o artesanato e a culinária.Alguns depoimentos-chave selecionados apontam discursos que evidenciam essas percepções.

- "Pra mim, representa muita coisa que eu aprendi. Fiz os curso e tô botando em prática os cursos, né, que eu fiz, né, aprendi fazer, né?". (Beneficiário 8).

- "O Projeto Esperança foi uma ajuda de renda, de aprender coisas novas que eu sei um pouco, aprendi mais e a conhecer mais os meus vizinho". (Beneficiário 3).

- "O Projeto Esperança pra mim, no meu modo de ver é assim, eu tô aprendendo, além de conviver melhor com as outras pessoas, né, embora todo mundo aqui eu já conheço, não tem ninguém estranho pra mim... é conviver, conhecer as pessoa melhor, conviver com as pessoa. E tô aprendendo a fazer coisas, por exemplo, aprendi a fazer salgado isso eu soube aprender, aprendi artesanato também é bom pra mudar de vida, pra gente poder mudar de vida, muito bom, muito bom". (Beneficiário 24).

- "Pra mim foi tudo de bom. Pra mim é tudo de bom. E é aquele negócio, a gente aprende a conviver, há oportunidade maior é que eu tenho um sonho de poder cozinhar numa cozinha industrial, eu até sonho com isso, (risos)" (Beneficiário 20).

- "Pra mim foi uma grande ajuda, muito mesmo. Estou trabalhando graças ao projeto, pelo conhecimento de vocês". (Beneficiário 6).

- "Pra mim é como uma luva, né, como uma luva porque, no início eu me encontrava, assim, desempregada sem perspectiva, não tinha emprego numa boa, no caso, pra mim serviu de grande utilidade". (Beneficiário 12).

- "Essa semana mesmo eu tive um encontro com uma pessoa que participa do projeto muito feliz, pois tinha comprado uma geladeira nova. (...)Ela disse que fez a prestação já contando com o rendimento do projeto, com a venda do produto artesanal." (Líder Comunitário 3).

Além das questões relativas ao trabalho, os stakeholders beneficiados também falam de outros tipos de ganhos como o despertar da consciência humana, política e cidadã e a ampliação da visão de mundo, inclusive para lidar com os filhos. Os depoimentos a seguir ilustram esse outro tipo de ganho mencionado pelos pesquisados.

- "Foi tipo uma nova família, aprendendo a cada dia e um pouquinho de cada canto". (Beneficiário 4).

- "Falamos pra elas fazer um trabalho de mutirão, de quem elas achavam que deveria ter uma ajuda emergencial. Então, duas elas foram identificadas e as outras cederam a vez para essas duas. Então, já tá havendo uma conscientização. Tá havendo aí uma união!". (Parceira 4).

- "Quando nós começamos o projeto a gente levava o lanche. Servimos uma mesa com os lanches e elas enchiam a mão e os copos e as que chegam por trás não conseguiam comer. Agora não, desde o ano passado cada uma se serve, a gente serve as bandejas, elas ficam sentadas, a gente serve de novo, ninguém briga. Não avançam, não brigam." (Parceira 4).

- "Esse projeto agora, de ir ao cinema, de ir a praia de Copacabana e ao Cristo Redentor. Meninas, elas estão eufóricas e não falam em outra coisa (Parceira 4). É... são pessoas assim, mais ou menos da nossa idade e tem mais velhas que nunca foram à praia. São cariocas, nasceram no Rio e, nunca foram (...) Tão comum a gente ir a praia, eu não sou carioca e estou aqui há 17 anos, muitas vezes eu fui a praia e fiquei boba de alguém dizer que tem 40 e poucos anos alguém que não conhece a praia." (Parceira 8).

- "Olha, eu vou ser honesta eu disse. Até hoje, ele foi de grande, assim, não sei, né, dizer, na minha vida, né, por que eu aprendi muita coisa, depois que veio as meninas, antes não tinha aqui... o encontro, mas depois do encontro, eu aprendi muita coisa, né? As meninas que vem pra cá ensinaram muita coisa e tá ensinando muita coisa, né, pra mães aqui, até mesmo a lidar dentro de casa com as filhas, né, com paciência, aquelas coisa, que elas faz uma perguntinha..." (Beneficiário 4).

Porém, além de resultados diretamente ligados aos objetivos do Projeto, os beneficiários relataram a existência de outros tipos de ganhos. Dentre esses benefícios adicionais, os mais mencionados são a amizade/união com os vizinhos, a melhoria da auto-estima e o fato de ter uma ocupação. Também há depoimentos sobre o carinho que recebem das pessoas que "trazem" o Projeto até a comunidade e sobre a importância das doações que recebem. A seguir são apontados depoimentos-chave que ilustram essas percepções.

-"Me dei mais valor... (choro). E esse projeto mostrou que eu sou capaz de fazer, que eu sou capaz de fazer, que eu sou capaz e que eu não posso desistir daquilo que eu quero". (Beneficiário 3).

-"Mudou que eu não fico à toa (risos)." (Beneficiário 10).

-"O que mudou foi na amizade, né? Todo mundo fica aqui conversando aí eu converso um pouquinho, né?". (Beneficiário 11).

-"Pra mim é legal, entendeu. A minha vida é ocupada em outras coisa e agora eu tenho procurado melhor". (Beneficiário 13).

-"Um tentando se aproximar mais do outro, né, de ajudar um ao outro e que, como assim, é... é... é uma coisa, foi tipo assim, uma nova família, né, mesmo que a gente chega aquele dia aí vem todo mundo, naquela ansiedade de encontrar todo mundo aqui". (Beneficiário 15).

-"Pois é... deixa eu ver... não sei nem como falar. Tá tudo sendo feito, de bom agrado, a atenção das menina [Assistentes sociais e Grupo MAS] que vem, não sei nem o nome, só o carinho que elas tem em vim pra cá ensinar, né, enfim, sem preconceito, não bota preconceito, vem, abraça as pessoa." (Beneficiário 4).

-"Uma ajuda muito boa. Compras, cesta básica, roupa de natal para meus filhos porque eu não tenho como comprar". (Beneficiário 25).

Os resultados do Projeto Esperança – relacionados aos objetivos propostos ou não – também foram percebidos por outros stakeholders, como os financiadores, a gestora, os líderes comunitários e os parceiros do Projeto. Na percepção dessas pessoas, os resultados estão relacionados ao aumento da auto-estima, aprendizagem de trabalhos artesanais, geração de renda, redução da violência e ampliação da rede e da convivência social.

-"Isso não é porque ela não tem condições de fazer. Isso tá ligado a auto-estima, tá ligado, né, porque você pode descer e ir andando. Se não vai é por outros problemas sociais, a visão que tem da sua própria realidade e é isso que a gente tem de trabalhar." (Parceira 1).

-"Quando a gente vai fazer um trabalho para apresentar, sabe o que elas fazem? Ficam para trás do papel se escondendo e falando". (Parceira 4).

-"Quando essas pessoas da Pavuna vêm pra cá ou pra aprender alguma coisa ou pra participar assim, divertir no Domingão Vicentino, eu acho que a gente tá de alguma forma contribuindo pra diminuir a violência, ajudar aquela comunidade a melhorar, né?". (Financiador 2).

-"O Projeto está trazendo um esclarecimento para as pessoas. Para elas terem uma visão de vida melhor, eles estão tendo mais qualidade (...) é uma esperança de vida mesmo, como diz o próprio nome. Porque aquelas pessoas viviam com a auto-estima muito lá embaixo. E estas famílias estão mais felizes, entendeu? Tanto no vestir e na alimentação e, esse projeto está sendo de muita valia lá na comunidade, na auto-estima!". (Líder Comunitário 3).

-"Nós começamos do zero, né, as meninas [assistentes sociais] visitaram as casas, depois eu fui também e eram assim, muito humildes, com a auto-estima lá embaixo, não se valorizavam, não se gostavam, achavam que não tinham capacidade de fazer nada. E, agora, a gente levou algumas pessoas para fazer palestras, algumas dinâmicas, a gente levou algumas meninas das arteiras. E, então, agora, elas estão achando que são capazes de fazer isso". (Parceira 4).

Porém um aspecto a ser destacado é que além dos resultados para os beneficiários e para a Comunidade Chico Mendes como um todo, os stakeholders falam em alguns resultados do Projeto Esperança para os demais públicos envolvidos, sobretudo, os executores (alunos) e as parceiras (mães do Grupo MAS). Especificamente no que diz respeito aos alunos, nas respostas aos questionários, eles apontaram uma visão bastante favorável à participação no Projeto Esperança. Quando perguntados sobre possíveis diferenças ocorridas nas suas vidas a partir do Projeto, eles apontaram um conjunto de mudanças pessoais relacionadas à diversidade, ao engajamento, à solidariedade, à aprendizagem pessoal e à transformação da realidade social. A seguir são apresentados alguns dos depoimentos dos alunos relativamente aos ganhos obtidos com a participação no Projeto Esperança.

-"Aprendi a importância de conviver no meio social por uma boa causa".

-"Participar do Projeto Esperança me ajudou a entender melhor a situação de pessoas de classe mais desfavorecidas".

-"Me fez perceber a necessidade de trabalhar para um mundo melhor".

-"Me ensinou a olhar e ajudar mais o próximo".

-"Me fez enxergar outras realidades além da minha".

-"Cresci como pessoa".

-"Aprendi um pouco sobre a vida".

-"Dei mais valor a minha vida".

-"Ser mais solidário".

-"Fez sentir-me inserida num contexto social que pode ser mudado para melhor".

As mães também apontam ganhos pessoais derivados da sua participação no Projeto. Embora algumas delas já realizassem trabalhos sociais antes de matricularem seus filhos no Colégio São Vicente de Paulo, elas apontam ganhos específicos a partir da participação nesse Projeto. Para elas, o Projeto Esperança traz muitos desafios entre eles ter de ir até as comunidades carentes e aprender a contribuir com essas pessoas de forma a melhorar sua qualidade de vida, mas respeitando a cultura peculiar dos beneficiários, mas o que é mais recorrente no discurso dessas pessoas é a possibilidade de atuar de forma solidária e contribuir para uma transformação social.

-"O envolvimento com o trabalho social, né, quer dizer a gente tá ajudando alguém, participando, tentando melhorar a vida das pessoas, lá no caso da Comunidade Chico Mendes, né?". (Parceira 9).

-"Ganhamos de ver que a gente ajuda as pessoas que estão necessitadas, de dar uma mão para as pessoas." (Parceira 8).

-"E as coisas também de não ficar esperando os outros fazerem, né, responsabilizar sempre os outros, então, pode partir de todo mundo um pouquinho e as coisas saem, elas acontecem sem ficar esperando". (Parceira 8).

-"Eu acho que é muito parecida com a história do beija-flor, né? A floresta pega fogo e aí o beija-flor vai com um pinguinho de água, faz mil viagens e perguntam pra ele: Você acha que vai resolver alguma coisa? Ele responde: Eu não sei se vou resolver, mas estou fazendo a minha parte. Se todo mundo fizer a sua parte eu acho que é isso que vai chegar a um denominador comum, né?" (Parceira 4).

-"É fazendo o bem aos outros a gente tá fazendo a nós mesmos. É um prazer!" (Parceira 8).

Um outro aspecto bastante ressaltado pelas mães parceiras do Projeto Esperança foi a possibilidade que o projeto oferece de aproximação dos seus filhos e de dar um exemplo de solidariedade, o que contribuiria para o processo educacional dos adolescentes. As parceiras também destacam-se em seus depoimentos a realização pessoal por meio da atuação como voluntária. As falas a seguir evidenciam como esses ganhos são percebidos por esse grupo de mães.

-"É um desafio tanto para mim quanto para a minha filha ajudar o próximo". (Parceira 11).

-"Eu vejo que a minha filha sente orgulho do que eu faço, ela sente orgulho: ‘pôxa a minha mãe...’. A minha filha consegue separar a coisa que ela ama de paixão, que ela fala desde quando ela era pequenina: ‘e agora eu fiquei crescida, né, mãe, então vou dar’! Isso é um exemplo maravilhoso." (Parceira 8).

-"Me interessei pelo trabalho social de estar aprendendo alguma coisa, de estar fazendo por alguém alguma coisa e tá também perto do colégio, perto dos meus filhos, né, e podendo realizar algumas coisas. (Parceira 2).

-"Ganhamos de também de mostrar para os nossos filhos que é importante a gente ajudar o próximo. Eu mostro todo esse trabalho ao meu filho (...) que eu acho importante mostrar para eles crescerem com essa visão de ajudar o próximo." (Parceira 8).

Em relação ao que fazer para melhorar os resultados do Projeto, há muitas opiniões distintas entre os stakeholders. Os beneficiários falam sobre ampliar os espaços para as oficinas de trabalho, em ter creche e atividades para as crianças, posto de saúde. Os depoimentos evidenciam que são muitas as carências dessas pessoas, como pode ser visto em algumas falas selecionadas e listadas a seguir.

-"A única coisa que a gente tá tentando também é uma oficina, ampliar um lugar melhor pra gente começar a produzir as coisa". (Beneficiário 3).

-"Alguma atividade pras criança". (Beneficiário 17).

-"É... atividade pra crianças, computador, esportes e dança também". (Beneficiário 15).

-"Poder trazer as crianças nas reuniões". (Beneficiário 10).

-"Ter um espaço para as criança, entendeu e que eles pudessem ter a presença deles aqui duas vezes na semana. Pra ensinar mais como vem a moça aqui e ensina negócio de pet [garrafa pet], entendeu? Negócio de pano de prato, então, eu acho assim que falta um espaço para aquelas mães que tem criança podê participar e não ficar de fora, que é o meu caso, o caso da esposa dele". (Beneficiário 25).

-"Porque sim, eu acho aqui um lugar bom e a única coisa que falta é assim... o presidente [da associação dos moradores] que entrar, já tá aí agora de novo, tomar providências assim para todos" (Beneficiário 3).

-"Uma creche aqui perto". (Beneficiário 18).

-"Falta posto de saúde". (Beneficiário 19).

-"Uma creche, né? Porque nóis só, aqui, só tem uma creche". (Beneficiário 13).

-"Eu achava que deviria ter aula de... de capoeira, esses negócios, judô, aula de dança pra meninas, balé e essas coisas assim... que deveria ter que se não for pago não tem, não tem aqui em cima, de graça não tem aqui em cima". (Beneficiário 8).

Os beneficiários se queixam também de como as doações são distribuídas, discordando do sorteio como forma de escolher quem receberá os donativos. Há depoimentos dizendo que quando os alunos visitavam as casas para avaliar quem tinha mais necessidade, o processo fluía melhor. Nesse sentido, há também outras falas sobre a falta de uma coordenação/organização e de líderes que possam "tomar providências assim para todos". Falam também da falta de união dos participantes do projeto como algo que seria um ponto fraco. Alguns depoimentos a seguir mostram as diferentes leituras dos beneficiários acerca da gestão do Projeto Esperança.

-"Ainda falta, né, porque é aquele negócio, nós tamos iniciando, o projeto já tem um tempo, mas não tinha ali o pessoal para poder controlar melhor, mas é a gente tem que ir mais a frente pra poder expandir isso." (Beneficiário 20).

-"Eu gostaria que as pessoas se entendessem melhor. Tem muita gente aqui que deixa a gente meio balançada, a gente tenta fazer de tudo, mas..." (Beneficiário 21).

-"Ter mais união, tá faltando muito". (Beneficiário 22).

-"Eu vou ser logo clara, entendeu... eu tô sendo sincera... muita gente tá achando muito errada a forma do sorteio das coisas que vem. Muitas pessoas são sorteadas e não precisam e não tem a sorte. Um dia desses eu queria ser sorteada em uma televisão e não tem nada. Antigamente eram os alunos que vinham e via o que a gente precisava e não precisava". (Beneficiário 13).

-"Porque sim, eu acho aqui um lugar bom e a única coisa que falta é assim... o presidente [da associação dos moradores] que entrar, já tá aí agora de novo, tomar providências assim para todos" (Beneficiário 3).

Porém, é importante registrar que alguns deles falaram que "não podemos querer mais nada", no sentido de que já estão recebendo ajuda e que eles não têm "o direito de exigir nada". Nesse sentido, um beneficiário afirmou: - "É, cobrar seria impossível e demais também. Num todo só tenho a agradecer, né? Só tenho a agradecer". Essas falas evidenciam o quanto o Projeto Esperança ainda é visto como uma caridade e o quanto é distante dessa comunidade a percepção de seus direitos sociais.

Em relação às sugestões para a melhoria do Projeto, os líderes comunitários também apontaram alguns caminhos para que o Projeto Esperança obtenha resultados mais efetivos. Porém, ao contrário dos beneficiários, eles não falam de questões pontuais, pois solicitam mudanças no próprio desenho do Projeto, seja no sentido de focar mais as oportunidades profissionais – como forma de evitar a marginalização, seja na definição do público-alvo – com maior envolvimento dos pais e não apenas das mães. Há, ainda, uma proposta de amparo mais completo a essas famílias, buscando-se conhecer o que elas realmente necessitam para ajudá-las a ter novas perspectivas de vida. A seguir, são apresentados trechos das falas dos três líderes comunitários entrevistados.

-"O que eu gostaria que fosse feito? Meu Deus! Se todas as famílias tivessem o amparo total, pois este é o amparo parcial. O amparo total eu digo assim, ter alguém se encaminhando para o emprego, sabe, uma criança que precisava de uma bolsa de estudo e que já pudesse conseguir este já seria uma grande esperança e uma grande perspectiva de vida. É isso que eu espero que o seu projeto traga.". (Líder Comunitário 1).

-"Do meu ponto de vista seria ampliar esportes e profissionalizante para preparar o jovem. Me preocupa muito quando chega na faixa etária e não tem escolaridade é um grande problema para procurar emprego. Se não tem formação profissional já contribui para a marginalização. E se a gente cuidar da juventude tudo, mais tarde, não vai ter homem preso. Isso vai aliviar um pouco a violência, não solucionar e sim amenizar". (Líder Comunitário 2).

-"O que eu queria que fosse feito é que eles envolvessem mais os pais [homens] no projeto. Eles não se envolvem, eles são muito assim, se recuam muito. Eu queria que fosse feito um trabalho mais amplo com eles". (Líder Comunitário 3).

Para a gestora, o principal desafio do projeto é desenvolver a autonomia dos beneficiários, deixando de ser um projeto meramente assistencialista: "Não pode ser só da gente ir lá e cumprir um papel. A gente tem que desenvolver essas pessoas no sentido de criar a autonomia delas". Já os financiadores do Projeto Esperança falam em um redesenho desse Projeto, apontando várias alternativas, tais como: aumentar a visibilidade dos produtos resultantes das oficinas realizadas na Comunidade Chico Mendes; diversificar as oficinas artesanais e oferecer outras atividades; educar para a solidariedade; trabalhar não só com as mulheres, mas também com os homens da comunidade nesse processo de geração de renda e de atuação na liderança comunitária. Alguns depoimentos-chave foram selecionados para ilustrar as opiniões dos financiadores do projeto.

-"Eu acho que elas tinham que ter maior visibilidade nas nossas Feiras, eu acho que os produtos que elas tão produzindo, ao longo do tempo, foram adquirindo maior qualidade, então a gente pode... pode passar a vender mais (...) pra ajudar na questão da geração de renda." (Financiador 2).

-"A gente atinge muito as mulheres, as donas de casa. Eu acho que seria necessário o... um projeto que atingisse também os homens, de certa forma quebrar esse preconceito. É... levar alguma atividade que chama a atenção dos homens para que eles também possam ter algo ou dentro da geração de renda, ou dentro do aprendizado, da liderança comunitária, né, a gente tem de pensar algo nesse sentido". (Financiador 2).

-"A ideia de educar que a gente quer ajudar pessoas a saírem do nível que estão a adquirirem uma consciência diferente, uma proposta de vida diferente. Educar para isso". (Financiador 1).

-"Eu acho que talvez, também, nós batemos muito a cabeça com algumas atividades relacionadas a artesanato, coisas assim que talvez elas nem tinham tanta aptidão assim, e hoje a gente viu que diversificando as atividades a gente tem atingido melhor os talentos lá, né?." (Financiador 2).

Além dos beneficiários, dos líderes comunitários, da gestora e dos financiadores, as parceiras também apresentaram sugestões para a melhoria do Projeto Esperança. Os depoimentos das mães parceiras no grupo focal apontam para questões mais pragmáticas, com uma preponderância de sugestões para que elas pudessem, juntamente com a comunidade e com os alunos do Colégio, "colocar a mão na massa". Ou seja, elas gostariam de realizar mais do que encontros, palestras, visitas guiadas ou oficinas. Gostariam de poder mudar o espaço onde vivem as famílias beneficiárias, no sentido de proporcionar-lhes uma vida mais saudável e digna. Alguns depoimentos ilustrativos dessa percepção do Grupo MAS são apresentados a seguir.

-"Eu acho que a gente tinha de fazer um projeto de mutirão, tinha de trabalhar mais isso de emprego. Porque toda vez que a gente pergunta o que vocês mais querem, elas gritam logo: emprego!" (Parceira 4).

-"A primeira vez que eu fui lá na Pavuna e o que eu pensei que nessa visitação seria feito era se juntar pra melhorar o espaço... deles, com lixeira em casa, subir casa, limpar terreno, coisas que fossem possíveis e não era contratar nada não, viu? Eram pessoas! Era fazer, juntos inclusive, acho complicado, juntar inclusive os próprios alunos que foram, que estavam engajados no projeto, entendeu e fazer alguma coisa maior." (Parceira 11).

-"Fazer um mutirão entre eles e fazer muita coisa." (Parceira 10).

A fim de analisar as regularidades de avaliações nos dados qualitativos coletados, foi feita uma análise de presença ou ausência nas subcategorias dos Resultados do Projeto nos discursos dos stakeholders. Como pode ser visto nos depoimentos relacionados nesta seção, as subcategorias compreendem visões singulares de cada pesquisado, ainda que tais visões possam ser agrupadas tematicamente. A seleção dos depoimentos-chave buscou ilustrar o que foi dito e as diferentes versões para um mesmo tema, apresentando não apenas o que foi dito, mas o como foi dito.

O resultado permitiu concluir que das quatro subcategorias, duas estiveram presentes nos discursos de todos os pesquisados, a saber: Resultados relativos ao alcance dos objetivos do programa e Sugestões de melhoria para o Projeto. Por outro lado, as duas subcategorias que deixaram de ser apontadas por dois grupos de stakeholders foram: Resultados do projeto além dos objetivos propostos; e Resultados do projeto para os demais públicos. Finalmente, vale destacar que os únicos stakeholderes que abordaram todas as subcategorias foram os parceiros e a gestora do Projeto, enquanto os líderes comunitários deixaram de abordar duas subcategorias. A Tabela 3 sintetiza a análise da presença de subcategorias nos discursos dos pesquisados.

 

 

Discussão dos Resultados

Neste estudo foram pesquisados diferentes stakeholders, com ênfase na abordagem qualitativa. A opção por essa abordagem encontra respaldo em diversos autores, tais como Uchimura e Bosi (2002) que avaliam que a dimensão subjetiva da qualidade de programas públicos "guarda, certamente, em seus meandros, muitos aspectos a serem desvelados, já que pertence ao plano das nuanças, do profundo, do particular" (2002, p. 1.567). As autoras defendem que pesquisas de avaliação de programas considerem os pontos de vista dos atores e, principalmente, dos beneficiários, uma vez que é em função deles que o Programa existe. Assim, a avaliação do Projeto Esperança buscou contemplar diferentes atores sociais envolvidos na realização do mesmo, com a participação nesta pesquisa de todos os beneficiários diretos do Programa.

No que diz respeito aos Resultados do Projeto Esperança, é preciso discutir os níveis de resultados alcançados à luz dos objetivos propostos pelo Projeto. Ainda que resultados não esperados tenham ocorrido, conforme sinalizam diversos autores da área de avaliação de programas sociais como Posavac e Carey (1997) e Rossi e Freeman (1993), é fundamental avaliar se os objetivos traçados foram de fato alcançados. Contudo, no caso do presente projeto, é preciso considerar que a avaliação foi feita seis meses antes do seu término. De qualquer forma, considerando que o Projeto foi criado em 2006, muitos dos resultados intermediários puderam ser avaliados.

Na linha do que é proposto por Antunes (2001), o presente processo avaliativo teve como finalidade a indicação da relevância, da efetividade e do impacto do Projeto Esperança, à luz de seus próprios objetivos. Sendo assim, cabe analisar o grau de alcance do objetivo principal do Projeto, bem como de seus objetivos específicos. De acordo com documentos da PBCM (2007), o objetivo geral do Projeto Esperança era: "Contribuir para a melhoria da qualidade de vida das famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, de forma humanizada, visando à expansão do indivíduo enquanto transformador social".

A respeito do objetivo do Projeto Esperança cabe inicialmente considerar que o mesmo era bastante audacioso para um projeto com duração de três anos e recursos limitados (tanto humanos como materiais). Em que pese o fato de os líderes comunitários terem mencionado a melhoria da qualidade de vida dos participantes como um dos resultados do Projeto Esperança e de alguns dos beneficiários também terem expressado que suas vidas estão melhores, há que se questionar em que medida de fato conseguiu-se a expansão do indivíduo como transformador social.

Por um lado, há indícios nos discursos de um processo de tomada de consciência das próprias capacidades, bem com de um direito de cobrar por políticas públicas de melhor qualidade. Por outro, há também indícios de que esses resultados apresentam ainda caráter pontual, com maiores chances de mudança efetiva na qualidade de vida de alguns poucos beneficiários do que da Comunidade Chico Mendes como um todo.

Em relação aos objetivos específicos, a PBCM (2007) elaborou seis objetivos, os quais serão analisados um a um. O objetivo de "estimular trabalhos de geração de renda, assim como organização em associações e/ou cooperativas" foi apenas parcialmente atingido. É fato que algumas beneficiárias aprenderam novos ofícios, sobretudo na área de trabalhos artesanais. Porém, não se conseguiu formas efetivas de estruturar o processo produtivo dessas pessoas, nem tampouco a logística de escoamento da produção. Nesse sentido, o trabalho realizado pelas beneficiárias contou apenas com a exposição nas feiras realizadas no Colégio São Vicente de Paulo ou em algumas outras feiras solidárias realizadas em ambientes escolares.

Ainda sobre esse objetivo cabe destacar que não foram identificadas durante a pesquisa ações sistemáticas que levassem à formação de associações e/ou cooperativas como resultado do Projeto Esperança. A esse respeito vale considerar os princípios cooperativistas listados por Albuquerque, Mascareño e Maia (1999) entre os quais se destacam o livre acesso e a adesão voluntária, o direito de voto a todos os cooperados, a supressão do lucro, os benefícios proporcionais ao trabalho ou quantidade de produto aportado e o caráter educativo e formativo das cooperativas. Assim, as cooperativas representariam uma forma de aumentar as chances de sustentabilidade do Projeto, uma vez que os sócios são ao mesmo tempo fornecedores, clientes e, às vezes, empregados (Albuquerque e cols., 1999). Donde se depreende que, se os beneficiários tivessem suporte para se organizar em redes produtivas com auto-gestão da produção e comercialização de seus produtos, os princípios da autonomia e emancipação teriam maiores chances de serem contemplados.

Uma consideração a ser feita diz respeito à pertinência desse objetivo. Se um dos focos do Projeto Esperança é a integração social das pessoas que vivem na Comunidade Chico Mendes, necessário se faz ter ações voltadas para a geração de oportunidades de trabalho. Conforme salientam Barros, Sales e Nogueira (2007, p. 323), "A vivência da exclusão – em especial para os moradores das favelas – apresenta estreitos laços com a questão do trabalho". Essa demanda por oportunidade de trabalho aparece não apenas no discurso dos próprios beneficiários e líderes comunitários, mas também das parceiras que estão diretamente ligadas ao Projeto Esperança. Uma delas diz "Toda vez que a gente pergunta o que vocês mais querem, elas gritam logo: emprego!" Barros e cols. (2007) confirmam o trabalho como elemento capaz de aumentar a auto-estima e reverter a identidade de "marginal", por vezes atribuída a pessoas que moram em favelas. Para os autores, a condição de "favelado" pode ser entendida como fator dificultador do ingresso no mercado de trabalho. Ele salienta que quem contrata funcionários utiliza o endereço como se fosse um "atestado de bons antecedentes", o que leva muitos candidatos que residem em favelas a omitir o seu endereço durante uma entrevista de seleção ou nas informações contidas no seu currículo.

No que diz respeito ao objetivo de "despertar a consciência humana, política e cidadã através de oficinas temáticas", avalia-se que houve um processo de conscientização, evidenciado em vários trechos dos discursos dos pesquisados, como o beneficiário que diz: "Esse projeto mostrou que eu sou capaz de fazer e que eu não posso desistir daquilo que eu quero"; a parceira que relatou "Adorei o que a senhora mais velha falou e a consciência dela, e a motivação dela querer para ela e para os outros e de se auto-sustentar"; ou ainda o depoimento do líder comunitário: "A alternativa aqui seria nós fazermos um mutirão de nós irmos até as autoridades e pedir, fazer este pedido, mas isto já foi feito muitas vezes e só agora eles tomaram consciência que nós estamos precisando, realmente.".

Não há dúvida que o resultado pretendido com esse objetivo requer mudanças de longo prazo, pois a "consciência humana, política e cidadã" demanda tempo e constância. Portanto, a avaliação é de que tal transformação já começou a ocorrer, mas que resultados mais sólidos carecem de continuidade. Porém, cabe a reflexão a respeito do verbo utilizado na construção desse objetivo. O uso da palavra "despertar" remete à ideia de que as pessoas da Comunidade Chico Mendes não têm nenhuma consciência humana, política e cidadã. Nesse sentido, seria mais adequado que o Projeto falasse em "fortalecer" essa consciência e não em "despertá-la".

O objetivo de "acompanhar periodicamente as famílias atendidas, por meio de visitas domiciliares e entrevistas" foi parcialmente cumprido, pois no início havia atuação mais direta dos alunos que iam às casas, bem como dos financiadores que assumiam mais diretamente o Projeto e que ao longo do mesmo foram delegando essas tarefas para a gestora e as parceiras. Contudo, o tempo limitado para a atuação das voluntárias reduziu o número e a frequência das visitas domiciliares e não houve sistematização das entrevistas familiares. Vale destacar a queixa de uma beneficiária pela falta de acompanhamento sistemático das necessidades de cada família, o que levaria a uma forma de distribuição dos donativos considerada injusta (sorteio). A beneficiária salienta que essa opinião não é apenas dela quando diz: "Eu vou ser logo clara, entendeu... eu tô sendo sincera... muita gente tá achando muito errada a forma do sorteio das coisas que vem. Muitas pessoas são sorteadas e não precisam (...) antigamente eram os alunos que vinham e via o que a gente precisava e não precisava".

No que diz respeito ao objetivo de "desenvolver as atividades de forma integrada com a comunidade, buscando parcerias com a rede local de serviços", conclui-se que muito pouco foi feito. Os depoimentos coletados não falam dessa integração com a comunidade nem tampouco das parcerias com os comerciantes locais ou outras instituições que atuam na Comunidade Chico Mendes. Cabe, porém, questionar em que medida esse seria um objetivo factível considerando a limitação de recursos e de oportunidades que a rede local pode oferecer. Nesse sentido, mesmo sabendo-se do potencial emancipatório que parcerias com a comunidade local oferecem, talvez fosse mais recomendável estabelecer um objetivo relacionado a parcerias também fora da Comunidade – incluindo o poder público e organizações não-governamentais – uma vez que a situação de miséria na região é fato facilmente constatável.

Cabe ainda analisar o objetivo de "incentivar a cultura e a valorização da identidade local, respeitando o contexto histórico da região". A respeito desse objetivo pode-se dizer que os resultados são pouco visíveis. Por um lado, buscou-se uma integração dos beneficiários com a cidade do Rio de Janeiro, no sentido de eles se reconhecerem nesse espaço. Para isso, foram feitas visitas a monumentos como o Pão de Açúcar, passeios ao cinema e à praia. Mas ações específicas de resgate da história da Pavuna ou mesmo da Comunidade Chico Mendes não foram citadas por nenhum pesquisado.

Finalmente, o objetivo de "possibilitar intercâmbio com os projetos da PBCM e ampliar a visão de mundo da comunidade" tem sido atingido na medida em que há programas de integração da comunidade escolar com os beneficiários – como Domingão Vicentino, bazares e oficinas artesanais realizados no próprio Colégio, além da presença de beneficiários em debates e fóruns pedagógicos. O fato de haver encontros temáticos da gestora e das parceiras com as beneficiárias também representa uma forma de ampliação da visão de mundo, a qual foi confirmada por depoimentos tanto das parceiras quanto dos beneficiários.

Sobre o não alcance de alguns dos objetivos traçados é preciso considerar se o tempo estipulado para a realização do Projeto seria factível para o impacto que foi planejado. Nesse sentido, uma das parcerias argumenta: "Acho pouco tempo... pra gente conseguir isso tudo é muito pouco, é muito difícil gente. Se nós estamos pegando essas famílias do zero. Sem estrutura nenhuma, sem nada. Eu acho que para você poder colocá-las, poder dizer ‘missão cumprida’, eu acho que dois anos é muito pouco." A esse respeito cabe ainda esclarecer que o ano de 2006 foi um período de estruturação do Projeto e que sua implementação se deu, de fato, no período de dois anos, o que na visão dos financiadores e da gestora é um tempo curto considerando todas as transformações sociais almejadas.

Para concluir a análise acerca dos resultados do Projeto Esperança, vale considerar os aspectos ressaltados por Posavac e Carey (1997) relativamente à avaliação de resultados de programas sociais. Segundo os autores, esse tipo de avaliação requer:

(a) a análise do atendimento aos clientes dos serviços (a qual foi feita e descrita acima);

(b) a comparação entre quem recebe e não recebe os serviços (dimensão não contemplada na presente pesquisa, uma vez que não foi feito delineamento com grupo controle);

(c) a mudança nas condições de vida dos participantes (a qual foi verificada, embora ainda em menor intensidade do que o idealizado no Projeto); e

(d) a sustentabilidade ao longo do tempo (dimensão que apresenta baixa probabilidade de ocorrência, pois os aspectos que poderiam garantir essa sustentabilidade – como a formação de associações e cooperativas ou as parcerias com a rede local – não foram desenvolvidos conforme o planejamento inicial do Projeto Esperança).

Porém, além de resultados diretamente ligados aos objetivos do Projeto, houve relatos dos beneficiários de outros tipos de ganhos como a melhoria da auto-estima, o fato de ter uma ocupação, a união entre as pessoas da Comunidade e a ampliação da rede e da convivência social. Esses resultados, embora não estejam descritos de maneira direta nos objetivos, contribuem para a realização dos mesmos, uma vez que caracterizam-se comopressupostos para a transformação social.

Outro aspecto a ser destacado são os resultados do Projeto Esperança para os demais públicos envolvidos, considerando, sobretudo a formação cidadã dos alunos e os benefícios para as mães parceiras. A participação e o discurso dessas mães permitem confirmar as três dimensões de benefícios do trabalho voluntário propostas por Selli, Garrafa e Junges (2008): o pólo individual, o pólo dual (voluntário e beneficiário) e o pólo coletivo (instituição e sociedade). De fato, os depoimentos das parceiras abordam esses três tipos de benefícios, tanto os ganhos que elas têm como pessoa e como mães (no sentido de se aproximarem dos seus filhos e darem um exemplo de cidadania), como também o aspecto do ganho social resultante do trabalho por elas realizado. De forma complementar, há no discurso delas o chamado pólo dual (Selli e cols., 2008), pois em vários casos elas apontam benefícios recíprocos derivados do convívio com os beneficiários – "Fazendo o bem aos outros, a gente tá fazendo a nós mesmos!"

Os alunos engajados no Projeto Esperança também relataram uma série de benefícios pessoais a partir da participação no mesmo, incluindo uma maior preocupação com o outro e com a dimensão da coletividade. Nesse sentido, Selli e Garrafa (2006) analisam que o comprometimento com o outro na vida em coletividade supõe abertura total às múltiplas dimensões da realidade, tanto do indivíduo como sujeito, quanto da realidade sociopolítica na qual ele está inserido e exerce seus papéis de pessoa e de cidadão. Assim, pode-se dizer que a atuação dos alunos do ensino médio do Colégio São Vicente tem contribuído para a formação pessoal e cidadã dos mesmos, no tocante ao conceito de voluntariado orgânico defendido por Selli e Garrafa (2005).

 

Considerações Finais

A preocupação com avaliações que tenham ao mesmo tempo rigor científico e caráter prático é crescente em todo o mundo, mas o Brasil ainda não tem tradição de avaliação de programas sociais, embora tenha experimentado considerável aumento das pesquisas e da literatura científica sobre o tema. Porém, ainda falta no país formação específica nessa área para que se possam realizar avaliações em maior número e com maior qualidade. A avaliação de programas sociais demanda profissionais com formação interdisciplinar, com contribuições de diferentes áreas como Sociologia, Ciências Políticas, Psicologia, Administração e Estatística.

O Projeto Esperança surgiu com o objetivo de atender crianças, adolescentes e famílias que apresentavam dificuldades em manter as condições básicas de sobrevivência. O projeto tem caráter educativo e emancipatório e foi idealizado para permitir que os alunos do Colégio São Vicente de Paulo pudessem realizar atividades de solidariedade, contribuindo para o desenvolvimento de uma atitude ética e cidadã. O objetivo atual do Projeto Esperança é "Contribuir para a melhoria da qualidade de vida das famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, de forma humanizada, visando à expansão do indivíduo enquanto transformador social".

O principal objetivo desse estudo foi avaliar o Projeto Esperança a partir do ponto de vista de diferentes stakeholders (gestor, financiadores, parceiros, líderes comunitários, executores e beneficiários). Talvez a primeira conclusão a que se possa chegar é a de que todos os públicos-alvo pesquisados são capazes de apontar resultados obtidos com a realização do Projeto em termos de melhoria da vida dos beneficiários. Uma segunda conclusão importante seria a de que foram alcançados não apenas os resultados diretamente descritos nos objetivos (geral e secundários) do Projeto, pois houve menção a outros tipos de ganhos não planejados. Também cabe incluir como conclusão dessa avaliação o fato de que não apenas os beneficiários tiveram ganhos com o Projeto, uma vez que há relatos de resultados também por parte dos financiadores, dos parceiros e dos executores. Finalmente, a pesquisa permite concluir que, apesar dos resultados alcançados, o Projeto Esperança ainda não cumpriu em sua totalidade os objetivos propostos e não há sinais concretos de que tais objetivos serão alcançados ao término do Projeto em 2009.

De acordo com a proposição conceitual de Posavac e Carey (1997), a avaliação de programas sociais constitui-se de um conjunto de métodos e ferramentas necessários para determinar se um serviço: (a) é necessário e utilizável; (b) é oferecido de maneira suficientemente intensiva para suprir as necessidades que tenham sido identificadas como não atendidas; (c) é oferecido tal como foi planejado; e (d) efetivamente atende as pessoas necessitadas, dentro de um custo razoável e sem outros tipos de efeitos não desejados. A partir dessa proposição dos autores e dos resultados encontrados na pesquisa, pode se concluir que: (a) o Projeto Esperança é necessário e utilizável; (b) ainda não é oferecido de maneira suficientemente intensiva para suprir as necessidades identificadas; (c) não tem sido oferecido da maneira como foi planejado, e observa-se que as mudanças nos processos e procedimentos têm gerado tanto resultados positivos como negativos; e (d) o Projeto Esperança efetivamente atende as pessoas necessitadas, dentro de um custo razoável e sem outros tipos de efeitos não desejados que tenham sido identificados de maneira clara na pesquisa.

Em relação às recomendações, a partir da realização dessa pesquisa optou-se por apresentar recomendações para três públicos distintos: os financiadores do Projeto (PBCM), a instituição responsável pelo mesmo (Colégio São Vicente de Paulo) e pesquisadores e profissionais que estudam avaliação de programas sociais. Em relação à PBCM, as recomendações são as seguintes: (a) acompanhar mais de perto a construção das avaliações de seus projetos sociais; (b) apresentar os resultados obtidos na avaliação para todos os atores sociais envolvidos no Projeto e especialmente para os beneficiários e a comunidade na qual estão inseridos; (c) investir nas parcerias dos projetos sociais no sentido de aprimorar as relações da instituição com os parceiros e estabelecer um modelo de gestão dos projetos com papéis claramente definidos; (d) propiciar uma formação aos voluntários de forma que eles possam estar mais preparados para o desempenho de suas funções em cada projeto; e (e) aproximar-se da comunidade local onde o projeto social está sendo desenvolvido no sentido de aproveitar suas potencialidades e fortalecer o aspecto contextual desses projetos.

Em relação às recomendações para os pesquisadores e profissionais que estudam avaliação de programas sociais, os resultados da presente pesquisa reforçam pressupostos já defendidos na literatura, a saber: (a) fazer uso complementar das abordagens quantitativas e qualitativas; (b) pesquisar diferentes stakeholders e confrontar as percepções desses atores sobre os diversos temas relacionados ao programa ou projeto social; (c) analisar os resultados obtidos à luz dos objetivos e metas inicialmente traçados e também à luz de outros achados já apontados pela literatura da área. Sem dúvida, como ressaltado por Posavac e Carey (1997), o trabalho de um avaliador situa-se entre o papel desempenhado por um cientista social – preocupado com questões teóricas, desenho de pesquisa e análise de dados – e o papel de um profissional envolvido com a prestação de um serviço a pessoas necessitadas. Ou seja, quem atua como pesquisador nessa área necessita mesclar suas contribuições para os avanços científicos e para a melhoria dos projetos que avalia.

Como limitações do presente estudo, há o fato de essa pesquisa ter sido desenvolvida por um avaliador interno, ligado ao Colégio São Vicente de Paulo. Se por um lado essa condição possibilita melhor acesso aos gestores do programa e aos administradores da organização, por outro a objetividade das observações pode ser afetada. Do ponto de vista de conteúdo, a falta de tradição da instituição pesquisada em avaliar seus projetos e ações sociais de maneira mais científica, reduziu a possibilidade de comparação dos resultados obtidos. Além disso, trata-se de um projeto social de uma organização específica e que atende a uma comunidade que também apresenta as suas particularidades. Nesse sentido, qualquer generalização dos resultados obtidos no presente estudo fica prejudicada.

Por fim, como sugestões para pesquisas futuras, podem ser mencionadas: (a) a mensuração do avanço da qualidade de avaliação de programas sociais no Brasil em termos metodológicos; (b) as diferenças metodológicas das avaliações realizadas no âmbito governamental e pelas instituições privadas ou do Terceiro Setor; (c) a investigação das mudanças realizadas em projetos sociais a partir de resultados obtidos em avaliações anteriores; (d) a publicação de estudos de casos de avaliação de programas sociais, uma vez que a pesquisa nessa área é caracterizada por avaliações específicas para cada projeto ou programa social; (e) a avaliação de resultados de programas em comunidades e/ou municípios comparando condições em que haja parcerias claramente estabelecidas com outras em que a atuação seja exclusiva de uma única organização.

 

Referências

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Recebido em Setembro de 2009
Aceito em Novembro de 2009

 

 

*Nota. luciana.mourao@empconsulting.com.br

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