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Psicologia em Pesquisa

On-line version ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.4 no.2 Juiz de Fora Dec. 2010

 

EDITORIAL

 

A Questão do Método na Pesquisa Psicológica

 

Na sua tentativa de se constituir como campo epistêmico autônomo, a psicologia vem enfrentando, pelo menos desde o século XVIII, uma série de dificuldades para estabelecer um método de investigação próprio ao seu objeto de estudo. Isso se evidencia, por exemplo, nos inúmeros debates metodológicos ocorridos entre alguns de seus principais representantes ao longo desses últimos séculos (Dilthey x Ebbinghaus, Wundt x Bühler, Rogers x Skinner, etc.).

Uma análise mais detalhada dessa situação, contudo, permite-nos compreender que na maior parte das vezes a essa disputa metodológica subjaz uma profunda diferença na concepção teórica do que seja a psicologia. Em outras palavras, a divergência sobre o método já é uma conseqüência da falta de consenso sobre o objeto a ser abordado pelo mesmo. Daí a diversidade metodológica aparentemente inevitável na psicologia.

Na formação do psicólogo contemporâneo, em que as grandes questões de base são muitas vezes negligenciadas, a simples existência desse problema teórico-metodológico parece ter desaparecido do seu horizonte. E já que esse problema afeta também a formação do pesquisador, a eventual falta de reflexão metodológica por parte do psicólogo contemporâneo vai influenciar negativamente o planejamento e a execução de suas pesquisas.

Tendo em vista a importância dessa discussão, o presente número de PSICOLOGIA EM PESQUISA é dedicado exclusivamente à discussão sobre questões teórico-metodológicas na pesquisa psicológica. Para tanto, alguns dos principais nomes da psicologia brasileira expõem e discutem aspectos da metodologia de pesquisa em suas respectivas áreas de investigação e atuação profissional.

Gondim, Borges-Andrade e Bastos enfatizam os desafios metodológicos para a psicologia do trabalho e das organizações, decorrentes sobretudo da interdisciplinaridade e dos diferentes níveis de análise das questões que envolvem os trabalhadores e gestores no mundo contemporâneo.

Massimi mostra como o campo da história da psicologia também é afetado por uma diversidade metodológica, a partir de suas relações com a historiografia geral e com a história das ciências, o que acaba gerando uma multiplicidade de histórias possíveis.

Baptista discute a questão da avaliação da eficácia de intervenções psicoterápicas, a partir de uma metodologia quantitativa, envolvendo principalmente os delineamentos de ensaios clínicos randomizados e as meta-análises.

Cagnin enfoca o campo da neuropsicologia, partindo de uma exposição histórica até chegar à discussão de pesquisas clínicas e experimentais, assim como de métodos investigação mais recentes, como a neuroimagem.

Witter e Paschoal apresentam considerações sobre a pesquisa educacional em seus vários aspectos, tomando como base alguns resultados sobre a realização acadêmica na adolescência, decorrentes de levantamento de dados em quatro bases.

Mota discute questões metodológicas no campo do desenvolvimento humano, levando em consideração perspectivas e tendências atuais, ao mesmo tempo em que busca uma sistematização de questões que aparecem de forma dispersa na literatura secundária.

Velasco, Garcia-Mijares e Tomanari, representando a Análise do Comportamento, apresentam as principais características da metodologia experimental com sujeito único, explicitando as relações que suas estratégias e táticas mantêm com um conjunto de concepções filosófico-conceituais acerca da natureza de seu objeto de estudo.

Pereira faz uma defesa do uso do método experimental na psicologia social, ao mesmo tempo em que discute as razões para o desinteresse do psicólogo social brasileiro pela metodologia experimental em suas pesquisas.

Para encerrar este número especial de PSICOLOGIA EM PESQUISA, temos uma entrevista especial com a Prof. Maria Lucia Seidl-de-Moura e uma resenha do livro "Psychology's Territories", de Mitchell Ash e Thomas Sturm.

Saulo de Freitas Araujo

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