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Psicologia em Pesquisa

versão On-line ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.6 no.1 Juiz de Fora jul. 2012

 

RESENHA

 

As Instituições de Psicologia no Brasil e a Constituição de sua História

 

Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil
Ana Maria Jacó-Vilela (Org.)
Rio de Janeiro: Imago; Brasília: CFP, 2011, 548 p.

 

 

Cíntia Fernandes MarcellosI

IFaculdade de Minas - FAMINAS

 

A missão precípua de todo livro é registrar um conjunto determinado do conhecimento humano e com isso permitir que ele possa ser compartilhado com outros leitores, em outros contextos e épocas, superando inclusive a duração efêmera daqueles que pela primeira vez o formularam. A partir do desenvolvimento de sua versão impressa, os formatos para tal registro variaram de modo surpreendente, e uma categoria específica de livros passou a ser costumeiramente tratada como aquela que mais adequadamente se presta à preservação e enunciação sistemática dos significados das palavras: os dicionários. E sua história faz jus a essa fama. Embora já no século XVI se encontrassem dicionários e thesaurus, é no fim do século XVII que a publicação desses grandes volumes é mais expressiva, atraindo a atenção de autores e editores (Oliveira, 1989). Sob a forma de verdadeiros tratados, o termo dicionário incluía não apenas os livros que reuniam um conjunto ordenado de palavras e seu respectivo signifi cado, mas também o que poderia ser caracterizado mais apropriadamente como enciclopédia. É exemplo de tal concepção a obra Encyclopédie ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, par une société des gens de lettres, editada em 1751 por Jean d'Alambert e Denis Diderot. Reunindo mais de 200 colaborados para a elaboração de seus verbetes e reeditada numerosas vezes nos anos seguintes, tal obra é reconhecida por especialistas como o primeiro dicionário a apresentar uma ampla explicação sobre as profissões, além de ser um dos primeiros contendo ilustrações (Oliveira, 1989).

Ao longo dos séculos, as atribuições de dicionários e enciclopédias foram se especificando,embora os dois formatos tenham permanecido como parentes muito próximos de uma mesma família. Um resultado deste contato são os chamados dicionários históricos e críticos, que além de descrição vocabular, acrescentam notas críticas e avaliativas acerca do desenvolvimento e do estado presente do alvo de sua apresentação. Extrapolando sua função meramente descritiva, tais compêndios permitem uma compreensão contextualizada acerca do que se procura. É neste molde que se pode entender a proposta do Conselho Federal de Psicologia (CFP) com a publicação do Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil (2011), o segundo do projeto "Memória da Psicologia Brasileira", elaborado em parceria com o Grupo de Trabalho em História da Psicologia da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPPEP). Antecedido pelo Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil (2001) e acompanhado pelas coleções "Clássicos da Psicologia Brasileira", "Histórias da Psicologia Brasileira" e "Pioneiros da Psicologia Brasileira", além de vídeos biográficos, o Dicionário representa um levantamento significativo acerca da história do estabelecimento institucional da psicologia no país, desde as primeiras iniciativas nos campos da medicina e da educação, até o surgimento dos grupos de estudo e pesquisa especializados.

De maneira similar ao seu antecessor, o Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil é fruto de uma intensa pesquisa realizada por autores de várias regiões do país e foi conduzida por pesquisadores da UFMG, UERJ, PUC/SP, além do grupo de trabalho da ANPPEP, entre os anos de 2006 e 2009. Com o apoio do CFP e de editais da CAPES/PROCAD, a elaboração da obra envolveu números expressivos: contou com a colaboração de 261 autores na construção de 264 verbetes, reunidos em 548 páginas! E não são apenas os números que impressionam: apesar das limitações em relação a informações sobre alguns estados, como os da região Centro-Oeste e Norte, a pesquisa teve como um de seus maiores méritos a reunião de registros significativos acerca de centenas de instituições relacionadas ao desenvolvimento da psicologia no país.

Além do critério da relevância histórica dessas instituições para a área, outro item considerado na seleção do que seria incluído no Dicionário foi o fato de terem sido criadas até o ano de 1980. Segundo a organizadora, Ana Maria Jacó-Vilela, uma restrição necessária, uma vez que a grande expansão das instituições de psicologia e a brevidade de atuação de muitas delas a partir desta data exigiriam uma dedicação exclusiva, extrapolando os propósitos do trabalho.

A estrutura do Dicionário é igualmente feliz ao lidar com essa signifi cativa quantidade de informações, contando com um item dedicado à Biografia dos Autores, um Índice Onomástico e um Índice Remissivo de Instituições, que se seguem à Apresentação, Introdução, Lista de Instituições e aos verbetes propriamente ditas. Com isso, a localização tanto de instituições, quanto de autores de verbetes e personagens citadas torna-se fluida e precisa.

Se ao final da consulta, fosse necessária uma única palavra para descrever o Dicionário, ela seria diversidade. Isso porque ele inclui não apenas autores oriundos de diversas instituições, como as de ensino superior, mas também Secretarias de Estado e Fundações, falando sobre a história dos mais diferentes contextos nos quais a psicologia se desenvolveu, como teatros, hospitais e, como não poderia deixar de ser, universidades. Essa diversidade institucional nos leva a uma característica importante acerca da autoria do Dicionário, uma vez que participaram não apenas pesquisadores com experiência em historiografi a, mas também colaboradores de outras áreas de estudo ou mesmo sem experiência específi ca com investigação e escrita, o que segundo a organizadora resultou em descobertas positivas sobre o objeto descrito. Além disso, também as fontes para obtenção dessas informações foram variadas, incluindo livros, artigos, atas, depoimentos e entrevistas. Tais características, acrescidas ao fato de que em alguns casos os autores dos verbetes são eles próprios participantes atuais das histórias ali relatadas, foram responsáveis pela singularidade de cada verbete.

Um aspecto igualmente importante na constituição do volume é que o espaço dedicado a cada verbete tende a um padrão, o que pode, por um lado, resultar em uma apresentação resumida de instituições mais antigas e reconhecidamente importantes para a história da psicologia no país, mas, por outro lado, abre um significativo espaço para que aquelas menos conhecidas tenham sua contribuição registrada. Além disso, os verbetes trazem os registros dos diferentes nomes recebidos por uma mesma instituição ao longo do tempo e, ao final, são complementados com referências bibliográficas.

Outra informação importante e que acompanha as inovações nos formatos dos livros é a apresentada por Jacó-Vilela na Introdução. Segundo ela, como recurso para aprimorar as eventuais lacunas em relação a instituições não incluídas, pretende-se elaborar uma versão online, a ser disponibilizada através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-Psi) e que possa ser oportunamente enriquecida com novos registros, o que ampliaria o alcance dessa narrativa histórica.

Além de seus méritos constitutivos e conforme lembrado pelo presidente do CFP, Humberto Verona, na Apresentação do Dicionário, o livro vem à propósito de um fato marcante na constituição da psicologia no país, que é a comemoração dos 50 anos de promulgação da Lei 4.119/62, responsável pela regulamentação dos cursos de formação e da profi ssão no Brasil. Embora a atuação de muitas das instituições listadas anteceda a esta data, tal fato demonstra não uma incoerência, mas antes a fértil contribuição das mais diversas áreas para que a psicologia alcançasse o estatuto acadêmico e profi ssional de que hoje usufrui.

Como já destacado em resenha de Cirino e Miranda (2011), a importância deste Dicionário extrapola o domínio de interesses do estudioso de história da psicologia, incluindo também informações importantes sobre personagens e instituições de outras ciências humanas e da saúde e configurando-se como um relevante material informativo e didático para o ensino e a pesquisa de áreas afins.

 

Referências

Campos, R. H. F. (org.) (2001). Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil: Pioneiros. Rio de Janeiro: Imago, Brasília: CFP.         [ Links ]

Cirino, S. D., & Miranda, R. L. (2011). Mapeando instituições, pluralizando olhares. Memorandum, 21, 280-285. Acesso em 09 de março de 2012, em http://www.fafich.ufmg.br/memorandum/a21/cirinomiranda01        [ Links ]

Jacó-Vilela, A. M. (org.) (2011). Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago; Brasília: CFP.         [ Links ]

Oliveira, J. T. (1989). A fascinante história do livro (Vol.IV). Rio de Janeiro: Kosmos.         [ Links ]