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Psicologia em Pesquisa

On-line version ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.7 no.1 Juiz de Fora June 2013

http://dx.doi.org/10.5327/Z1982-1247201300010015 

RESENHA

DOI: 10.5327/Z1982-1247201300010015

 

Neuropsicologia e Reabilitação Cognitiva

 

 

Tatiana Spalding PerezI

IFaculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Porto Alegre), Brasil

 

 

Nos últimos 30 anos, o estudo e trabalho em reabilitação cognitiva vem crescendo de forma constante. O aumento de interesses e pesquisas permitiu que a teoria amadurecesse e que diversas abordagens terapêuticas fossem sistematizadas dentro do campo da neuropsicologia. Nesse contexto, foi publicado no Brasil o livro "Reabilitação Cognitiva: Uma Abordagem Neuropsicológica Integrada" (Sohlberg & Mateer, 2011) - uma tradução da reedição e expansão do livro pioneiro da área "Introduction to Cognitive Rehabilitation. Theory and Practice." (Sohlberg & Mateer, 1989). O objetivo é disponibilizar uma versão brasileira dessa obra de grande valor para os profissionais da área (terapeutas, cuidadores, etc.), que pode auxiliar no processo de reabilitação de pessoas com alteração na habilidade cognitiva, ao relacionar a prática profissional com o conhecimento científico em cognição e neurociência.

A primeira parte do livro, "Fundamentos Para a Prática da Reabilitação Cognitiva", leva ao leitor, em quatro capítulos, informações básicas e necessárias ao entendimento do trabalho com reabilitação cognitiva. O primeiro capítulo introduz e apresenta ao leitor as tendências e desafios do processo de reabilitação cognitiva, esclarecendo que tal termo não consegue definir bem o quanto tal trabalho deve ser focado no indivíduo e sua lesão, e ressaltando que, apesar de todo o conhecimento científico e das técnicas desenvolvidas, é fundamental compreender que cada caso responde de forma diferente. Partindo do entendimento que, para um trabalho mais efetivo de reabilitação é necessário o conhecimento sobre as síndromes neurológicas mais frequentes e suas técnicas diagnósticas, as autoras apresentam no segundo capitulo uma revisão teórica sobre traumatismo cranioencefálico (TCE), acidente vascular cerebral (AVC), lesão cerebral
hipóxica-hipotensiva, encefalite, tumores, e um resumo sobre punção lombar, radiografia, pneumoencefalografia, angiograma, tomografia, ressonância magnética e estudos eletrofisiológicos. No terceiro capítulo, o livro traz as variáveis que contribuem para uma recuperação neurológica e neurocomportamental, abrangendo desde os aspectos psicossociais relacionados às características pessoais dos sujeitos até os físicos moleculares da neuroplasticidade. Para finalizar essa parte de orientações gerais e introduzir o leitor à parte mais densa do livro, as autoras dissertam sobre a importância do processo de avaliação das habilidades e deficiências cognitivas, ressaltando o quanto o mesmo é desafiador e deve levar em consideração as diversas variáveis presentes na adaptação e adequação dos indivíduos envolvidos.

Em "Controle das Abordagens para Deficiências Cognitivas", segunda parte da obra, são exploradas revisões teóricas, seguidas de processos de avaliação e estratégias para controle dos déficits nas áreas de atenção, memória, funções executivas, consciência e comunicação, sendo discutido também o uso de dispositivos externos na reabilitação de memória.

Seguindo a mesma lógica, a terceira parte, "Intervenções Para os Problemas Comportamentais, Emocionais e Psicossociais", aborta os comportamentos desafiadores e as alterações de humor frequentes em casos de lesão cerebral (depressão e ansiedade). Nessa terceira parte, as autoras dedicam um capítulo extra para defender a importância do trabalho colaborativo com a família para um melhor resultado na reabilitação.

Finalizando o livro, a quarta parte, "População Especial", traz um capítulo sobre a reabilitação de crianças com deficiências cognitivas adquiridas e um capítulo sobre estratégias de controle para TCE leve. As autoras parecem englobar tais casos como "especiais" por entenderem que os mesmos têm sido negligenciados nas pesquisas e precisam de maior discussão para possibilitar amadurecimento teórico e prático.

A obra em sua versão original é de grande valor e significado para o estudo da neuropsicologia e é rica tanto para profissionais quanto para estudantes, ao abrir um leque de possibilidades e explicitar o quanto as mesmas podem ser úteis ao processo de reabilitação, como para pessoas envolvidas no cuidado de sobreviventes de lesão cerebral, ao frisar a importância do envolvimento familiar. Nessa versão brasileira, porém, a qualidade da tradução deixa a desejar, causando estranhamento para leigos e estudantes iniciais interessados na área e demonstrando erros grosseiros aos olhos de profissionais e estudiosos da neuropsicologa, acostumados com a necessária leitura de artigos e obras em línguas estrangerias devido à escassez de produção em português.

A leitura de "Reabilitação Cognitiva: Uma Abordagem Neuropsicológica Integrada", apesar da tradução desastrosa, possibilita de forma geral a percepção da importância de conciliar a prática profissional com o conhecimento científico para a eficácia do processo de reabilitação cognitiva. Sua leitura, porém, não é suficiente para o profissional da neuropsicologia, podendo ser entendida até mesmo como um desserviço à neuropsicologia brasileira, ao permitir e propagar o uso de termos inadequados e equivocados na produção científica.

 

Referências

1. Sohlberg, M. M., & Mateer, C. A. (2011). Reabilitação Cognitiva: uma Abordagem Neuropsicológica Integrada. São Paulo: Santos.         [ Links ]

2. Sohlberg, K. M., & Mateer, C. A. (1989). Introduction to cognitive rehabilitation. Theory and practice. New York: Guilford.         [ Links ]