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Psicologia em Pesquisa

On-line version ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.8 no.2 Juiz de Fora Dec. 2014

http://dx.doi.org/10.5327/Z1982-1247201400020009 

ARTIGOS
DOI: 10.5327/Z1982-1247201400020009

 

Formação e atuação em psicologia social comunitária

 

Formation and operation in community social psychology

 

 

Adriano Valério dos Santos AzevêdoI; Maria Benedita Lima PardoI

IUniversidade Federal de Sergipe (São Cristóvão), Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A pesquisa objetivou identificar as opiniões de estudantes de psicologia sobre a formação acadêmica para atuação profissional na área da psicologia social comunitária. Participaram da pesquisa 114 estudantes do 5º ano do curso de psicologia. Os participantes responderam a um questionário estruturado com perguntas fechadas e abertas sobre a formação e atuação em psicologia social comunitária. Os estudantes demonstraram satisfação com os aspectos gerais e específicos da formação, e as disciplinas de psicologia social e psicologia comunitária representaram as principais bases teóricas. As estratégias de ensino foram consideradas satisfatórias, e os conteúdos apresentados nas aulas contribuem para a formação profissional, mas destacou-se que as instituições de ensino precisam oferecer estágios e pesquisas com o propósito de facilitar a preparação para atuação profissional. Os resultados evidenciam que a formação na área da psicologia social comunitária necessita priorizar as inter-relações de ensino, prática e pesquisa, por se considerar que esses pontos contribuem para a contextualização das demandas sociais.

Palavras-chave: formação do psicólogo; psicologia social; psicologia comunitária; intervenção social.


ABSTRACT

The research aimed to identify psychology students' opinions about the academic formation for professional operation in the area of community social psychology. Thus, 114 students from the 5th year of the psychology course participated in the research. The participants answered a structured questionnaire with closed and open ended questions about the formation and operation in community social psychology. The students demonstrated satisfaction with the general and specific aspects of the formation, and the disciplines of social psychology and community psychology represented the main theoretical bases. The teaching strategies were considered satisfactory, and the contents presented in classes contribute to the professional formation, but it was highlighted that teaching institutions need to offer internships and research with the purpose of facilitating the preparation for professional operation.  The results show that the formation in community social psychology needs to prioritize the inter-relations of teaching, practice and research, by considering that these points contribute to the contextualization of the social demands.

Keywords: psychologist education; social psychology; community psychology; social intervention.


 

 

A temática relacionada à formação do psicólogo representa um fenômeno relevante para a pesquisa científica, o que possibilita evidenciar aspectos sobre a qualificação profissional e o panorama atual da área de conhecimento. Destaca-se a importância das instituições de ensino superior de psicologia para a formação de profissionais comprometidos com as áreas de atuação que focalizam a qualidade de vida da sociedade. Nesse contexto, a psicologia social comunitária representa um campo de atuação com perspectivas direcionadas para o desenvolvimento de intervenções sociais, considerando-se a noção de grupo e as reflexões críticas referentes aos aspectos políticos e éticos da sociedade (Campos, 2007; Gómez, 2008; Montero, 2010; Scarparo & Guareschi, 2007). O presente estudo focaliza essa área considerando-se as contribuições para a profissão de psicólogo, que tem sido bastante discutida na comunidade científica, com o propósito de ampliação das práticas psicológicas por meio do enfoque social.

A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Brasil, 1996), acerca das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, priorizou o desenvolvimento de estratégias de ensino para a promoção de práticas sociais. As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia destacaram a importância da preparação do estudante para o enfrentamento dos desafios do mundo moderno, por exemplo, o desenvolvimento de habilidades para o trabalho com grupos nas equipes multiprofissionais (Brasil, 2004). A atuação do psicólogo precisa considerar as necessidades sociais de indivíduos, grupos e comunidades. Nesse ponto, a psicologia social comunitária integra essas concepções e permite que o psicólogo comece a refletir sobre os modelos de atuação; assim, os estudos acerca da formação nessa área apresentam relevância para a análise de questões críticas relacionadas ao futuro da profissão de psicólogo.

A formação em psicologia precisa considerar as mudanças vivenciadas pela sociedade no contexto histórico para facilitar o aprimoramento das práticas psicológicas (Nascimento, Manzini, & Bocco, 2006). Ferreira-Neto (2008) ressaltou que, no período da graduação, as diferentes abordagens teóricas e a atuação nas áreas da psicologia apresentaram uma série de repercussões, por exemplo, a psicologia clínica direciona o foco para as queixas centrais do indivíduo e a psicologia social investiga as relações intergrupais. Um ponto importante refere-se à inexistência da integração de dois polos: indivíduo e grupo. O autor destacou que essa situação compromete a formação do psicólogo e, diante disso, apresenta uma proposta de integração dessas áreas de conhecimento, considerando que as instituições de ensino precisam desenvolver esse diálogo com reflexão e crítica.

Branco (1998) propõe uma discussão acerca da formação do psicólogo mediante questionamentos sobre as demandas sociais que promovem novos modelos de atuação, que repercutem na pluralidade teórica da psicologia e na qualidade do ensino na graduação. Diante desses fatores, destaca-se a importância de verificar a maneira pela qual o estudante de psicologia desenvolve a capacidade de reflexão das atividades profissionais por meio do enfoque social. De acordo com Bock (2008), as intervenções desenvolvidas pelos psicólogos devem priorizar a relação dinâmica que o indivíduo estabelece com o grupo social. Assim, a psicologia mostra-se comprometida com a sociedade e amplia a atuação por meio de uma visão crítica para o universo que constitui uma comunidade, o que permite direcionar estratégias de intervenção numa ação transformadora. Dessa forma, a utilização dos princípios teóricos da psicologia social comunitária apresenta congruência e contribui para o desenvolvimento de ações efetivas.

Inicialmente, existe a necessidade de caracterizar o desenvolvimento histórico dessa área enfatizando as principais bases teóricas que se destacaram no decorrer da década de 1960. A psicologia social tornou-se área de conhecimento no momento em que as questões sociais representaram objeto de estudo científico (Silva, 2004), por considerar que a investigação de fenômenos relevantes, tais como violência e preconceito, permitia compreender as possíveis implicações nas relações sociais. A apresentação de teorias psicossociais ampliou o campo de investigação nos diversos espaços geográficos e as possibilidades de atuação profissional. O surgimento da psicologia comunitária permitiu o desenvolvimento de práticas sociais nas comunidades enfatizando a saúde coletiva, a noção de grupo, a delimitação das intervenções e a importância do diálogo e da atuação do psicólogo na condição de facilitador das práticas sociais (Freitas, 1998; Góis, 1994; Ussher, 2006). Na América Latina, foram discutidas as estratégias para a inserção do psicólogo comunitário nos diversos contextos sociais visando à ampliação das práticas (Montero, 2003) e, com isso, foi estabelecido o termo psicologia social comunitária.

A trajetória da psicologia social comunitária no Brasil foi marcada pela contraposição aos locais tradicionais de trabalho do psicólogo, pelas práticas da psicologia social norte-americana, que focalizavam estudos experimentais, e pela necessidade de incluir a noção de comunidade no conjunto de seus princípios teóricos (Gonçalves & Portugal, 2012). Isso permite compreender que a perspectiva social comunitária se apresenta com o objetivo de contextualizar novos campos de atuação com a integração de fundamentos teóricos, para consolidar uma área emergente da psicologia diante das transformações sociais. No que se refere aos aspectos teóricos, o termo "social" evidencia a dinâmica das interações sociais, enquanto que a comunidade representa um espaço geográfico da vida entre pessoas, e na sua multidimensionalidade existem aspectos sociais, econômicos e culturais repletos de significações que emergem nas relações humanas (Góis, 1989). A comunidade é um campo de apropriação de conhecimentos, de construção de identidades e de crenças culturais; sendo assim, a psicologia social comunitária apresenta contribuições importantes ao enfatizar contextos sociais de investigação e prática.

No Estado de Porto Rico/San Juan, na década de 1970, o termo "psicologia social comunitária" surgiu com o propósito de ampliar os estudos e as práticas acerca dos fenômenos sociais e direcionar intervenções no campo das políticas públicas (Messa & Serrano-Garcia, 2008; Montero, 2010). Outros autores (Jiménez-Domínguez, 2004; Montero, 2000; Serrano-García, López, & Rivera-Medina, 1992; Ussher, 2008) destacam que existem três fatores responsáveis pelo surgimento dessa área: as repercussões da Segunda Guerra Mundial, que provocaram situações de crise nas relações sociais, os questionamentos referentes aos estudos teóricos da psicologia social e a reivindicação de uma ciência comprometida com as questões sociais. Na América Latina, essa área da psicologia apresentava propostas para a transformação social por meio do compromisso ético e político (Montero, 2011; Ramos & Carvalho, 2008), com o propósito de avaliar o impacto das intervenções psicológicas.

No Brasil, o desenvolvimento da psicologia social comunitária ocorreu num período de críticas aos modelos tradicionais da psicologia social, especificamente a perspectiva norte-americana e suas pesquisas experimentais, o que possibilitou reformular formas de atuação priorizando as questões sociais com o propósito de promover transformações por meio da participação da comunidade (Gonçalves & Portugal, 2012). Isso possibilitou problematizar a atuação da psicologia no cenário brasileiro, buscando-se estratégias para promover a inserção efetiva nos diversos contextos comunitários. Assim, a psicologia social comunitária prioriza a qualidade de vida de indivíduos, o desenvolvimento das relações comunitárias e a construção de políticas sociais comprometidas com os direitos humanos (Resto-Olivo, Torres, & Serrano-García, 2007). É possível verificar que existe uma perspectiva direcionada para os princípios de equidade, justiça social e, segundo Rappaport (1977), o psicólogo pode direcionar atividades para três eixos: comunidades, grupos e políticas sociais. Serrano-García et al. (1992) destacam outras tarefas desse psicólogo: avaliação de programas sociais, consultoria para a promoção de mudanças nas comunidades e a prática de pesquisa científica. A atuação nessa área enfatiza a participação de indivíduos na construção de um ambiente que seja favorável para as relações sociais.

A psicologia social comunitária integra as concepções da psicologia social e da psicologia comunitária e fundamenta-se em princípios éticos, políticos e humanitários, visando ao desenvolvimento de práticas direcionadas para as comunidades, com o objetivo de promover a capacidade de reflexão nos indivíduos acerca das situações vivenciadas no ambiente social (Campos, 2007). As principais temáticas da psicologia social e da psicologia comunitária enfatizam o desenvolvimento do indivíduo na sociedade e a maneira pela qual a subjetividade é construída nessas interações. Assim, a psicologia social comunitária considerou relevantes os conceitos desenvolvidos pelas outras duas áreas, mas propôs o desenvolvimento de intervenções numa ação política e social para estabelecer uma nova identidade profissional para o psicólogo que atua nas comunidades e instituições sociais. Segundo Freitas (2005), a psicologia social comunitária prioriza os seguintes níveis:

(1) as repercussões psicossociais das condições de vida de indivíduos e grupos;

(2)   a construção de conhecimentos para orientar a definição de objetivos e as estratégias de intervenção;

(3)   o compromisso político e o desenvolvimento de práticas coletivas que valorizem as relações humanas. A atuação do psicólogo social comunitário representa uma referência para as práticas sociais com diretrizes teóricas e metodológicas.

A denominação psicologia social comunitária integra um conjunto de pressupostos teóricos que fundamentam a atuação profissional, por exemplo, as concepções de Paulo Freire (1979) acerca do processo de conscientização social por meio da educação popular nas comunidades e as ideias de Martin-Baró (1998) sobre a psicologia da libertação, que enfatiza o comprometimento com os grupos sociais buscando a superação das dificuldades e o fortalecimento de vínculos. A noção de uma psicologia crítica que reconhece a complexidade dos objetos de investigação e das relações humanas representa um ponto importante da teoria da psicologia social comunitária (Montero, 2010). Isso permite ressaltar que se trata de uma perspectiva integrativa de conhecimentos que fundamentam as práticas e os questionamentos das problemáticas sociais.

A psicologia social comunitária fundamenta-se nos princípios teóricos e práticos da psicologia social latino-americana, da psicologia política e da psicologia da libertação e utiliza o diálogo com as ciências sociais, antropológicas e filosóficas (Gómez, 2008; Jiménez-Domínguez, 2004; Ussher, 2008). De acordo com Montero (2011), a psicologia social comunitária estuda aspectos psicossociais inerentes ao contexto de relações humanas, buscando estimular os indivíduos para a identificação e resolução de problemas ou demandas emergentes, o que torna possível promover mudanças na comunidade.

O princípio central da psicologia social comunitária prioriza que o trabalho em equipe nas comunidades deve ocorrer por meio do enfoque interdisciplinar e da colaboração mútua (Campos, 2007; Ussher, 2008). Essa área enfatiza que a construção do conhecimento deve estar fundamentada na interação do psicólogo com os indivíduos da comunidade. A literatura científica destaca os parâmetros para atuação nessa área e considera que a formação adequada precisa integrar teoria e prática para facilitar o desenvolvimento das atividades profissionais (Gómez, 2008; Scarparo & Guareschi, 2007). Para estes últimos autores citados, é importante analisar os ambientes sociais e desenvolver práticas psicológicas que priorizem as relações humanas e, durante o período da graduação, é necessário desenvolver essas habilidades técnicas por meio de experiências nos estágios e pesquisas.

Existe a necessidade do estudo acerca da formação e atuação do psicólogo social comunitário devido à relevância dos referencias teóricos dessa área para o desenvolvimento de práticas psicológicas comprometidas com a sociedade. Foi realizada uma busca nas bases de dados eletrônicas (BIREME/LILACS, Science Direct, Scopus, Web of Knowledge, Wiley/Interscience), com as palavras-chave "psicologia comunitária" e "psicologia social comunitária", bem como "community psychology" e "community social psychology" no período de 2000–2014. As pesquisas sobre a psicologia social comunitária destacam dados históricos acerca do surgimento dessa área de atuação, da formação profissional e das práticas psicossociais que foram desenvolvidas no Brasil na década de 1960 (Bernardes & Scarparo, 2001; Freitas, 2004; Scarparo & Guareschi, 2007). Os autores apresentam reflexões teóricas, com destaque para Gómez (2008), que evidenciou as perspectivas referentes a uma proposta curricular que integre conhecimentos da psicologia social latino-americana, psicologia política e psicologia da libertação, para facilitar a formação do estudante de psicologia. Outros autores (Gonçalves & Portugal, 2012; Jiménez-Domínguez, 2004; Montero, 2010; Scarparo & Guareschi, 2007) apresentam dados acerca do surgimento da psicologia social comunitária, inter-relacionando-o com os princípios que fundamentam a formação e o compromisso social. Uma pesquisa buscou compreender os relatos de estudantes de psicologia mediante a prática de intervenção psicossocial numa comunidade, o que possibilitou destacar que o trabalho prático representa uma oportunidade para desenvolver habilidades de comunicação e identificar as principais questões sociais a serem contextualizadas, o que apresenta repercussões positivas na atuação (Zavaleta, 2012). Trata-se de um estudo que investigou as experiências vivenciadas pelos estudantes de psicologia no planejamento e execução de uma intervenção na comunidade, o que tornou possível refletir sobre a importância das práticas da psicologia social comunitária durante a formação profissional.

Na produção científica, é possível verificar uma lacuna de estudos empíricos sobre a formação e atuação do psicólogo social comunitário, por se considerar que as pesquisas enfatizam aspectos teóricos com o propósito de definir conceitos, delimitar o campo de práticas e orientar a atuação profissional. É importante ressaltar que o estudo sobre a formação e atuação do psicólogo social comunitário possibilita contribuir para a construção de diretrizes teóricas que possam orientar a atuação baseada em competências e a contextualização das práticas psicológicas. Diante disso, existe a necessidade de investigar aspectos relacionados a essa formação e atuação, de acordo com as percepções dos estudantes de psicologia, para que as instituições de ensino avaliem de maneira crítica se os conhecimentos que estão sendo oferecidos contribuem para a qualificação profissional. Isso permite iniciar reformulações na grade curricular e auxiliar no aprimoramento de estratégias de ensino, pesquisa e extensão.

Nessa perspectiva, as pesquisas empíricas referentes a esse tema possibilitam investigar pontos específicos, tais como disciplinas da graduação, experiências de estágio e pesquisa, para que isso permita uma avaliação global e possibilite reformulações que se façam necessárias para promover a formação adequada. Esta pesquisa objetivou identificar as opiniões de estudantes de psicologia sobre a formação acadêmica para atuação profissional na área da psicologia social comunitária. Buscou-se também compreender de que maneira os estudantes de psicologia definem a atuação nessa área, verificar quais disciplinas da grade curricular da graduação contribuem para a qualificação profissional e as sugestões apresentadas para essa formação.

 

Método

Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva de levantamento de informações, direcionada para estudantes do último ano do curso de psicologia, a respeito da formação e atuação em psicologia social comunitária.

Participantes

Participaram da pesquisa 114 estudantes que estavam cursando o 5º ano do curso de graduação em psicologia numa região do nordeste do Brasil, provenientes de uma instituição federal e duas faculdades particulares. Na primeira instituição, participaram 36 estudantes; na segunda, 28 e, na terceira, 50. Essas instituições de ensino oferecem na grade curricular as disciplinas de psicologia social I e II, assim como psicologia comunitária. Procurou-se incluir os estudantes regularmente matriculados no último ano do curso de graduação de psicologia; esse critério foi estabelecido para priorizar os estudantes que obtiveram um número significativo de créditos adquiridos nas disciplinas do curso de psicologia. A maioria dos participantes foi constituída por estudantes de psicologia do sexo feminino (n=88; 77%), com a faixa etária de 20 a 25 anos (n=84; 73%).

Instrumento

Utilizou-se um questionário estruturado que relacionava temáticas da formação e atuação na área da psicologia social comunitária. Inicialmente, foi realizado o pré-teste com 30 estudantes de psicologia que responderam ao questionário somente com questões fechadas. Verificou-se a necessidade de reformular o instrumento; essa versão integrou questões fechadas seguidas de questões abertas para permitir contextualizar os aspectos que estavam sendo investigados.

A primeira parte do questionário foi composta por seis questões que focalizavam a formação em psicologia social comunitária. Procurou-se verificar o nível de satisfação numa escala de 5 pontos (1 = satisfação; 5 = insatisfação) sobre a formação proporcionada pela instituição de ensino para atuação nessa área e sobre as disciplinas da graduação, solicitando-se escrever as justificativas abaixo. Em seguida, buscou-se investigar se os conteúdos apresentados nas disciplinas contribuem para a qualificação profissional nessa área (sim/não) e quais os principais conteúdos. Na próxima questão, investigou-se o nível de satisfação acerca das estratégias de ensino utilizadas pelos professores, seguido de questão aberta para escrever sobre essa experiência. A quinta questão buscou verificar se a instituição de ensino precisava realizar mudanças para contribuir com a formação nessa área (sim/não). Para os alunos que anteriormente responderam "sim", foram apresentados alguns itens para serem assinalados, por exemplo, reformulação da grade curricular, inserção do estudante nos estágios e iniciação científica, seguidos de questão aberta para que pudessem escrever sugestões.

A segunda parte do questionário enfatizou a atuação profissional com cinco questões; inicialmente, com uma questão aberta, procurando-se identificar qual a definição de psicologia social comunitária. Em seguida, buscou-se investigar se, durante a graduação, o estudante vivenciou alguma atividade prática na área da psicologia social comunitária (sim/não). Para aqueles que responderam "sim", foram apresentadas algumas alternativas para serem assinaladas (estágio/pesquisa/outras experiências). As próximas questões foram fechadas com o propósito de identificar se o estudante está preparado para atuar nessa área (sim/não) e, em seguida, se tem interesse nessa atuação (sim/não) e qual atividade pretende desenvolver.

Procedimentos

As coletas de dados foram realizadas nas instituições de ensino após as devidas autorizações. O pesquisador responsável entrou em contato com os estudantes de psicologia que responderam ao questionário na instituição de ensino em suas respectivas salas de aulas. O tempo destinado para responder ao questionário foi de 10 a 15 minutos. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos.

Análise de Dados

Os dados quantitativos referentes às características sociodemográficas dos participantes e as perguntas fechadas do questionário foram analisados por meio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 15.00, para identificar a frequência e o percentual. Nas questões abertas, procurou-se verificar as regularidades nos relatos por meio da identificação dos temas centrais.

 

Resultados

Os resultados são apresentados em duas categorias, as quais expressam conjuntamente as opiniões trazidas pelos estudantes que participaram do estudo. A primeira categoria integra pontos relacionados à formação em psicologia social comunitária, as opiniões sobre aspectos gerais e específicos que se referem às disciplinas, os conteúdos, as estratégias de ensino e as sugestões para a formação profissional. A segunda categoria aborda as definições referentes à atuação em psicologia social comunitária, as experiências nessa área, a preparação e o interesse para atuação profissional.

Formação em Psicologia Social Comunitária

No que se refere aos aspectos gerais da formação acadêmica para atuação profissional na área de psicologia social comunitária, verificou-se que 55% dos participantes (n=63) estão satisfeitos. Os principais pontos se referem às disciplinas e às possibilidades de articulação entre teoria e prática, mas ressaltam a importância de priorizar a qualidade do ensino e as estratégias para o planejamento e execução de atividades práticas. Os estudantes que relataram insatisfação (n=44; 38%) destacaram que, durante a graduação, a ausência de conhecimentos teóricos e práticos relacionados à psicologia social comunitária dificultou a formação profissional.

Sobre os aspectos específicos da formação, os estudantes (n=64; 56%) indicaram que estão satisfeitos com as disciplinas da graduação relacionadas à psicologia social comunitária. As disciplinas de psicologia social e psicologia social comunitária representam as principais bases teóricas para a formação do psicólogo social comunitário. Foram destacados os principais conteúdos abordados nessas disciplinas — psicologia social: conceito de crenças, atitudes e representações sociais — e psicologia comunitária: inserção e atuação do psicólogo na comunidade. Os estudantes insatisfeitos (n=50; 28%) destacaram que as disciplinas precisam aprimorar os conteúdos a serem ministrados para enfatizar as características da prática profissional. Esses estudantes perceberam que, durante o curso de graduação, as temáticas da psicologia social comunitária são destacadas apenas em duas disciplinas (psicologia social e psicologia comunitária), e isso representa a principal limitação do curso de psicologia.

De acordo com os estudantes (n=80; 70%), os conteúdos apresentados nas disciplinas contribuem para a qualificação profissional na área da psicologia social comunitária. Os conteúdos das disciplinas (psicologia social e psicologia comunitária) integram estudos acerca dos fenômenos sociais de grupos e comunidades. Além disso, essas disciplinas abordam considerações acerca da análise institucional, práticas sociais, elaboração de projetos e técnicas de pesquisa participante. Uma quantidade menor de participantes (n=30; 26%) apresentou críticas relacionadas à ausência de conteúdos relevantes para a área, considerando a necessidade de enfatizar as temáticas de grupos e comunidades.

No que se refere às estratégias de ensino utilizadas pelos professores, verificou-se que 56% dos participantes (n=64) estão satisfeitos. A estratégia mais relevante para a aprendizagem foi a vivência das atividades práticas, mas os estudantes indicaram a necessidade de um acompanhamento sistemático com supervisão, visando focalizar as fases de elaboração e desenvolvimento de projetos. De acordo com esses estudantes, o acompanhamento deveria iniciar-se por meio de aulas teóricas com referências atualizadas para facilitar a inserção no campo e o desenvolvimento das práticas. As discussões na sala de aula com os profissionais que atuam nas áreas da psicologia social e psicologia comunitária representaram uma experiência satisfatória. A estratégia menos relevante está relacionada com o excesso de aulas teóricas que impossibilitam a inserção do estudante na área de atuação.

Na presente amostra (n=102; 89%), os estudantes destacaram que as instituições de ensino de psicologia precisam desenvolver mudanças para contribuir com a formação em psicologia social comunitária. Esses estudantes enfatizaram a importância da implantação dos estágios acadêmicos, os programas de iniciação científica e a reformulação da grade curricular, por exemplo, ampliar a carga horária das disciplinas de psicologia social e psicologia comunitária. Outras sugestões foram apresentadas pelos estudantes: promover a capacitação profissional de professores para o ensino das disciplinas de psicologia social e psicologia comunitária, facilitar a inter-relação de aspectos teóricos e práticos, possibilitar a inserção de atividades práticas e a ampliação dessas tarefas por meio de estágios, bem como realizar eventos científicos sobre essas áreas da psicologia.

Atuação em Psicologia Social Comunitária

Verificou-se que 52% dos participantes (n=60) destacaram que o psicólogo social comunitário analisa as demandas sociais com o propósito de trabalhar com práticas educativas e intervenções que visam à qualidade de vida dos grupos por meio de uma ação coletiva. Além disso, realiza pesquisas científicas e considera relevante o diálogo e o compromisso ético e social. Outros estudantes (n=30; 26%) ressaltaram apenas a importância dessa área da psicologia para a sociedade.

Destaca-se que 60% dos participantes (n=69) vivenciaram uma experiência na área da psicologia social comunitária. Desses estudantes que tiveram oportunidades de desenvolver atividades práticas, verificou-se que a maior parte se dedicou à pesquisa científica (n=39; 56%), seguida dos cursos de extensão (n=23; 33%) e dos estágios acadêmicos (n=6; 8%) que foram realizados em diversas instituições (postos de saúde, hospitais), com o enfoque da psicologia social comunitária. Os estudantes de psicologia que não tiveram esse tipo de experiência (n=45; 39%) destacaram que a ausência de conhecimento teórico e prático dificulta refletir sobre as possibilidades de atuação, o que compromete o desenvolvimento de práticas na área da psicologia social comunitária.

Nesta amostra, 64% dos participantes (n=73) indicaram que não estão preparados para essa atuação, e 55% (n=63) relataram a falta de interesse nessa área. Esses participantes descreveram que as práticas foram insuficientes para compreender a atuação do psicólogo social comunitário, considerando que o número limitado de estágios, os problemas durante a supervisão de trabalhos práticos e a insatisfação com as aulas teóricas representaram fatores que dificultaram a preparação nessa área, o que repercutiu na ausência de interesse para atuação.

Os estudantes de psicologia que se sentem preparados (n=40; 35%) e interessados nessa área (n=51; 44%) pretendem desenvolver projetos sociais nos diversos contextos institucionais (escolas, creches, abrigos, área da saúde, centros de assistência social) com o objetivo de promover a qualidade de vida de indivíduos e grupos. Foram destacados os programas de prevenção de álcool e drogas, a reinserção de indivíduos na comunidade, as práticas de promoção de saúde, as visitas domiciliares, as reuniões grupais para discutir temáticas relevantes sobre moradia e direitos humanos, buscando-se desenvolver as potencialidades dos indivíduos e a conscientização acerca das mudanças no ambiente social. As ações educativas incluíram a inserção de artes plásticas e esportes nas comunidades.

 

Discussão

O interesse desta pesquisa foi identificar as opiniões de estudantes de psicologia sobre a formação acadêmica para atuação profissional na área da psicologia social comunitária. Na presente pesquisa, a satisfação dos estudantes de psicologia acerca da formação na área da psicologia social comunitária representou um aspecto relevante para análise. Esse dado refere-se à avaliação geral sobre a formação proporcionada pela instituição de ensino. Na pesquisa realizada por Carvalho (1989), os estudantes de psicologia perceberam os aspectos gerais da formação de psicólogo de maneira positiva. No estudo de Pires (2008), foi possível identificar relatos de insatisfação, e os estudantes de psicologia evidenciaram que a teoria e prática representam recursos importantes para serem considerados na formação.

A satisfação dos estudantes acerca das disciplinas de psicologia social e psicologia comunitária indicam que os conteúdos apresentados contribuem para a qualificação profissional e inserção na área da psicologia social comunitária. Esses dados contradizem alguns estudos (Carvalho, 1989; Pires, 2008), que indicaram a avaliação negativa dos estudantes acerca das especificidades da formação de psicólogo, tais como carga horária das disciplinas, os conteúdos que são ministrados nas aulas e a falta de coerência nas avaliações, aspectos que repercutem na baixa qualidade.

As estratégias de ensino dos professores foram consideradas satisfatórias para a formação do psicólogo social comunitário, principalmente os trabalhos de campo que incluem visitas aos centros comunitários para o desenvolvimento de projetos de pesquisa. Na literatura consultada, os estudos evidenciaram a importância do ensino da psicologia focalizado na teoria e prática (Lisboa & Barbosa, 2009; Santos & Melo-Silva, 2003; Souza, 2005). Os autores ressaltaram a necessidade de mudanças nas estratégias de ensino para estimular o desenvolvimento científico com reflexões críticas. É importante refletir sobre o processo de formação em psicologia direcionada à área da psicologia social, no que se refere à proposta pedagógica, à articulação entre teoria, prática e pesquisa e às estratégias utilizadas na sala de aula, o que exige constante aprimoramento desses aspectos para que seja possível contextualizar as questões sociais a serem trabalhadas (Machado, 2011).

Verificou-se que os participantes da pesquisa destacaram que as instituições de ensino precisam desenvolver mudanças para contribuir com a formação do psicólogo social comunitário. A inserção do estudante nas práticas de estágio e pesquisa e a reformulação da grade curricular representaram os principais itens. Outras sugestões indicaram a importância da qualificação de professores para o ensino das disciplinas de psicologia social e a elaboração de eventos científicos dessa área de atuação. Souza e Souza-Filho (2009) analisaram os programas das disciplinas de psicologia social de diversas instituições de ensino de psicologia localizadas nas cinco regiões do Brasil. Os professores responderam questionários acerca dos conteúdos que são ministrados, os métodos e práticas de ensino. Os dados destacaram a prevalência do ensino dos conceitos descritivos de atitude, percepção e representações sociais. As principais abordagens teóricas utilizadas pelos professores foram a psicologia social crítica, psicologia sócio-histórica e psicologia social cognitiva. Os livros representaram as principais fontes bibliográficas utilizadas para o ensino das temáticas da psicologia social. Poucos professores indicaram as possibilidades de aplicação dos conceitos da psicologia social por meio de trabalhos supervisionados. O número limitado de práticas relacionava a área da psicologia social comunitária. Assim, verifica-se a importância do desenvolvimento de estratégias para o ensino e prática nas disciplinas relacionadas à psicologia social, o que pode contribuir para a formação profissional.

Dados de pesquisas indicam que os estudantes de psicologia reivindicam mudanças na formação acadêmica, com ênfase no desenvolvimento de atividades práticas e a reformulação da grade curricular, pois os problemas relacionados à estrutura do curso de graduação apresentaram repercussões para a baixa qualidade do ensino (Pires, 2008; Santos & Melo-Silva, 2003). No estudo de Messa e Serrano-Garcia (2008), os psicólogos que participaram da pesquisa destacaram a importância da inclusão de disciplinas de políticas públicas nas diretrizes curriculares do curso de psicologia. Essa estratégia tem o objetivo de facilitar a preparação profissional na área da psicologia social comunitária, e os autores apresentaram a importância do desenvolvimento das práticas psicológicas nas comunidades, a formação de grupos de estudo e a divulgação de eventos científicos. Isso apresenta congruência com as diretrizes curriculares que apontam a importância de enfatizar questões sociais durante a formação profissional (Brasil, 2004). A intervenção psicossocial possibilita desenvolver no indivíduo a conscientização sobre as vivências num determinado contexto; isso permite iniciar um posicionamento crítico e envolve um processo participativo de contextualização das demandas sociais (Soares, Rocha, & Moura-Júnior, 2013).

Verificou-se que os dados obtidos da maioria dos participantes nas definições da atuação do psicólogo social comunitário se referiam ao compromisso da psicologia com as questões sociais. Práticas educativas, demandas sociais, projetos de pesquisa e intervenções nos diversos contextos institucionais, priorizando os grupos por meio do compromisso ético e social, representaram as características da atuação profissional. Isso apresenta coerência com a literatura científica, e o termo "compromisso social da psicologia" foi destacado por diversos autores (Bock, 2008; Dimenstein, 2001; Ferreira-Neto, 2004; Martínez, 2003; Mello, 1975; Yamamoto, 2003), com o propósito de facilitar a formação de psicólogos com uma visão crítica para as possibilidades de atuação profissional. Nessa perspectiva, o enfoque social prioriza o desenvolvimento de práticas psicológicas fundamentadas nas relações intergrupais. Trata-se de uma proposta coerente que tem o objetivo de facilitar a integração de conhecimentos da psicologia social nas áreas da saúde, educação e trabalho, assim como na atuação nos centros comunitários e instituições sociais. Ferreira-Neto (2004) e Mello (1975) ressaltaram que a ampliação de práticas psicológicas contribui para o desenvolvimento da profissão de psicólogo.

Campos (2007), López e Serrano-García (2006), Montero (2003) e Scarparo e Guareschi (2007) destacam que o psicólogo social comunitário analisa as queixas apresentadas pelos indivíduos, valoriza as relações intergrupais e direciona intervenções em escolas, hospitais, comunidades e outros contextos. Temáticas relacionadas à qualidade de vida das comunidades, políticas sociais e direitos humanos foram evidenciadas por outros autores (Rappaport, 1977; Resto-Olivo et al., 2007). No que se refere aos fundamentos teóricos que orientam as práticas, a psicologia social e a psicologia comunitária foram consideradas as principais referências para atuação na área da psicologia social comunitária, o que possibilitou confirmar dados da literatura consultada (Freitas, 2007; Ussher, 2008).

Nesta pesquisa, os altos índices de estudantes de psicologia que desenvolveram atividades práticas na área da psicologia social comunitária por meio da iniciação científica, estágio acadêmico e nos cursos de extensão representam aspectos importantes para essa formação. Estudos teóricos (Gómez, 2008; Ramos & Carvalho, 2008; Souza & Souza-Filho, 2009; Scarparo & Guareschi, 2007) apresentam discussões acerca da formação nas áreas da psicologia social e da psicologia social comunitária. Os autores destacaram a importância do ensino da psicologia nessas áreas e a necessidade da preparação do estudante. No que se refere à psicologia social comunitária, os fundamentos teóricos e práticos devem ser trabalhados no período da graduação e no decorrer da atuação profissional (Campos, 2007; Freitas, 2001; Gómez, 2008; Montero, 2000; Scarparo & Guareschi, 2007). Em síntese, trata-se de uma formação contínua que enfatiza o comprometimento da tríade: instituição de ensino, estudante de psicologia e psicólogo, durante o desenvolvimento de práticas profissionais.

Os baixos índices referentes à preparação profissional e o interesse para atuação na área da psicologia social comunitária estão relacionados com as vivências da graduação. De acordo com Vilhena, Dimenstein e Zamora (2000), a prática psicológica nas comunidades decorrente da formação acadêmica tradicional nos cursos de graduação focaliza princípios teóricos reducionistas que não permitem analisar a inserção do indivíduo na sociedade no momento histórico e cultural. A ausência de análise crítica das relações sociais estabelecidas pelos indivíduos e dos aspectos relativos às necessidades da população representa os pontos a serem superados durante a formação profissional, com o propósito de contextualização das práticas sociais. As experiências de estudantes de psicologia em um programa de intervenção comunitária foram investigadas (Zavaleta, 2012), o que possibilitou destacar que os participantes consideram importante utilizar as estratégias da psicologia social comunitária, por exemplo, comunicação com a comunidade e vivências grupais.

Os estudantes que se sentem preparados e interessados nessa área destacam a importância dos projetos sociais. No que se refere à execução de projetos comunitários, Freitas (2005) destacou a importância dos conhecimentos das temáticas que serão trabalhadas, as habilidades para o diagnóstico e planejamento de intervenções, bem como a utilização adequada dos instrumentos de pesquisa. A atuação do psicólogo nos espaços comunitários e nas políticas sociais representa um avanço importante, mas existe a necessidade de enfatizar as necessidades e interesses da sociedade, o que foi destacado por Bock (2008). A questão social definida por Yamamoto (2007) integra fatores sociais, econômicos e políticos que demandam análise crítica da construção da sociedade. Busca-se contextualizar aspectos relativos às condições de vida da população para promover mudanças sociais. Na concepção desse autor, existem perspectivas positivas referentes ao comprometimento do psicólogo nas políticas sociais e na superação dos limites da ação profissional por meio de dois eixos: a parceria com a sociedade civil e a construção de novos recursos teóricos e técnicos para a efetivação das práticas. Em uma pesquisa realizada com egressos de um curso de psicologia, verificou-se que a psicologia social e comunitária foi a terceira área de atuação mais citada pelos participantes, o que representa um comprometimento com as questões sociais, provavelmente devido à concentração de oportunidades de trabalho no campo da saúde mental e assistência social (Martins, Matos, & Maciel, 2009). Esses dados são positivos e possibilitam refletir sobre os contextos sociais nos quais o psicólogo desenvolve suas atividades, numa perspectiva ampliada da psicologia social comunitária.

Considerações Finais

Esta pesquisa destacou que os aspectos gerais e específicos da formação em psicologia social comunitária apresentam relevância, de acordo com os estudantes de psicologia. As sugestões referentes à inclusão de disciplinas, à implantação de estágios supervisionados e aos projetos de pesquisa permitem compreender a necessidade das inter-relações entre aspectos teóricos, práticos e de investigação científica, o que possibilita facilitar a preparação profissional.

 Os resultados da presente pesquisa permitem evidenciar que existem desafios a serem enfrentados, tais como qualificação docente, reformulação da grade curricular e dos estágios acadêmicos, para facilitar a inserção de estudantes na área da psicologia social comunitária. As mudanças devem acontecer por meio do comprometimento das instituições de ensino com as diretrizes curriculares e a proposta pedagógica do curso de psicologia, considerando-se importante a qualificação de professores para o ensino.

Em síntese, os objetivos da pesquisa foram alcançados, o que permitiu apresentar dados relevantes, os quais permitem uma reflexão crítica sobre a temática de estudo. Esta pesquisa enfatizou as opiniões de estudantes de psicologia de uma região do nordeste do Brasil por meio do questionário estruturado. A utilização desse instrumento de pesquisa facilitou compreender os aspectos gerais e específicos que foram apresentados pelos participantes. No que se refere às limitações, esta pesquisa apresenta característica descritiva e exploratória, que se configura numa etapa preliminar de investigação, possibilitando apenas apresentar um panorama geral referente ao objeto de estudo. Por meio dos resultados obtidos, é possível iniciar estudos longitudinais com estudantes de psicologia para o acompanhamento sistemático da formação profissional. Pesquisas com estudantes de psicologia de outras regiões do Brasil e do exterior permitem avaliar as diferenças existentes na formação oferecida pela instituição de ensino. Recomenda-se que novas investigações da formação do psicólogo social comunitário utilizem a técnica de grupos focais para permitir contextualizar as temáticas abordadas. Outro ponto importante refere-se à possibilidade de investigar os discursos de psicólogos que atuam nas instituições sociais, a fim de se verificarem pontos referentes à formação para atuação na área da psicologia social comunitária.

 

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Endereço para correspondência:
Adriano Valério dos Santos Azevêdo
Universidade Federal de Sergipe
Núcleo de Pós-Graduação em Psicologia Social
Cidade Universitária Prof. Aloísio de Campos
Avenida Marechal Rondon, s/n – Jardim Rosa Elze
CEP: 49100-000 – São Cristóvão/SE
E-mail: adrianoazevedopsi@yahoo.com

Recebido em 09/09/2013
Revisto em 23/04/2014
Aceito em 11/07/2014