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Psicologia em Pesquisa

On-line version ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.14 no.spe Juiz de Fora  2020

 

Prefácio

 

 

O volume inicia-se com um artigo do Dr. J. Farley Norman professor de Psicologia na Western Kentucky University e, atualmente, co-diretor do Laboratório de Percepção Gustav Fechner na Western Kentucky University. Em seu artigo, Professor Norman revisa as contribuições científicas que demonstram que os contornos visuais e suas deformações ao longo do tempo (em resposta ao movimento do objeto ou do observador) carregam tanto ou mais informações sobre a forma do objeto do que outras formas de informação visual.

Em sequência, temos as reflexões do Dr. Carlos Mourão Júnior, nas quais o mesmo discute criticamente o atual momento da neurociência, defendendo, entre outras medidas, o abandono do termo "neurociência" e o retorno ao propósito inicial do estudo do sistema nervoso enquanto ciência natural.

No texto seguinte, Elton Matsushima desenvolve uma proposta de integração de alguns dos principais modelos do controle visual da ação num quadro unificado. Entre as vantagens associadas ao novo quadro, o autor sublinha a capacidade de acomodar evidências empíricas recentes, facultar uma compreensão alargada da calibração recíproca entre sinais visuais e vestíbulo-cinestésicos e orientar a investigação experimental com base na proposta de fluxos e estágios de processamento.

Maria Ângela Feitosa, Marta Dias Prestes, Maiara Maia Santana e Vanessa Cristina Bastos Sena examinam, do ponto de vista metodológico, um procedimento de percepção categorial auditiva, envolvendo tarefas de identificação e discriminação com variação do tempo de ativação da voz (VOT), e discutem a sua utilidade para o estudo das dificuldades de perceção e compreensão da fala, designadamente no idoso.

Uma revisão narrativa de estudos centrados na utilização da Tarefa de Compatibilidade Espacial Afetiva (TCEA) é oferecida em seguida por Paulo Frassinetti do Nascimento, Allan Pablo Lameira, Erick Quintas Conde e Nelson Torro Alves. Os autores concluem que o conjunto dos estudos documenta uma modulação consistente dos efeitos de compatibilidade espacial pela valência emocional de diferentes tipos de estímulos, apoiando o valor instrumental da TCEA para o estudo neuropsicológico da interação emoção-cognição.

Jorge Gelvane Tostes, Ana Bellini de Vasconcelos, Carla da Silva Tostes, Kesley Dias de Brito, Thales Fernandes de Souza e Renato Leonardo de Freitas discutem a complexidade da entidade nosográfica esquizofrenia, argumentando a necessidade central de compreender e avaliar articuladamente as suas dimensões atentivas, perceptivas e mnésicas, não apenas com vista ao aperfeiçoamento terapêutico como ao desenvolvimento de estratégias de prevenção.

A concluir a série dos artigos que integram a rubrica "Ideias e Reflexões", Melina Boratto Urtado, Rosemary Conceição dos Santos e Sérgio Sheiji Fukusima revê criticamente os diferentes modelos de abordagem experimental do efeito Kuleshov (indução de uma emoção percebida numa face neutra a partir da manipulação do contexto) e os principais resultados fornecidos pela neurociência e a investigação experimental. A conclusão retirada é a de que, apesar de indicações comportamentais e neurológicas favoráveis, o efeito Kuleshov não se encontra definitivamente demonstrado.

O primeiro texto da rubrica "Processos Psicológicos Básicos", da autoria de Aline Mendes Lacerda, Maria de Bustamante Simas e Geórgia Marques de Menezes, investiga a percepção visual do tamanho em pacientes diagnosticados com esquizofrenia e depressão, contrastando-os entre si e com participantes controle. Os resultados indicaram alterações consistentes na percepção visual do tamanho em ambas as condições clínicas, manifestando-se em tamanhos percebidos superiores ao do grupo controle. Esta alteração (aumento do tamanho percebido) foi por sua vez mais pronunciada nos pacientes com esquizofrenia do que nos pacientes com depressão.

O trabalho seguinte, assinado por Ana Mércia Fernandes, Daniel Ciampi de Andrade, Luiz Serramo Lopez, Luiz de Gonzaga Gawryszewski e Nelson Torro Alves, investiga a percepção de expressões faciais dinâmicas de dor e de alegria (tanto masculinas como femininas) num grupo de participantes femininos. Os resultados revelaram, no caso da dor, uma classificação mais rápida das faces masculinas relativamente às femininas, não existindo diferenças associadas ao género das faces no caso da alegria. Os autores discutem o significado destes resultados e o interesse de conduzir estudos similares em pessoas com dor crónica.

A percepção da velocidade de veículos por observadores estáticos em campo aberto é o objeto do artigo de Bruno Araújo Faria e Ricardo Kamizaki. A capacidade dos observadores para discriminar diferentes velocidades manteve-se elevada em todas as condições, não mostrando depender da magnitude das velocidades, gênero do participante ou habilitação para condução veicular. Estes resultados sugerem, segundo os autores, a ideia de que há uma tendência à superestimativa com o aumento da velocidade física, indicando que não há linearidade na percepção de velocidades de veículos por observadores estáticos.

Luciana Rodrigues da Silva, Joaquim Carlos Rossini, Ederaldo José Lopes, Renata Fernandes Lopes e Cesar Galera estudam a memória de trabalho táctil em participantes dotados de visão, fazendo variar a carga mnésica imposta em três níveis, através de uma tarefa do tipo N-Back. Os erros de omissão, embora não os de comissão, aumentaram em função da carga mnésica. Os autores concluem que a tarefa N-Back oferece uma via promissora para a avaliação da memória de trabalho tanto em participantes visualmente aptos como em não videntes.

Segue-se um estudo conduzido por Roberta Olivério Naegeli, Aline Melina Vaz, Mayra Antonelli-Ponti e Patrícia Ferreira Monticelli numa escola pública, com o objetivo de examinar os efeitos de um sistema de economia de fichas (SEF) na promoção do comportamento cooperativo. Ainda que os efeitos registados se tenham revelado moderados e apontem para uma variabilidade importante das estratégias de comportamento desenvolvidas pelas crianças, os resultados são considerados animadores, quer do ponto de vista da utilidade do SEF para a condução de investigação no domínio do comportamento social quer do ponto de vista da sua aplicabilidade em contexto escolar.

Encerrando a rubrica de processos psicológicos básicos, Adauto de Jesus Junior, José Aparecido da Silva, Felipe Valentini e Ricardo Primi investigam as relações entre inteligência fluida (avaliada pelo BPR-5) e o desempenho acadêmico em Língua Portuguesa e Matemática. O estudo, conduzido numa amostra de alunos do 9º ano do ensino fundamental e incluindo uma análise longitudinal (Modelação da Curva de Crescimento Latente) relativa ao período entre o 4º e o 9º anos, documentou não apenas uma saturação importante das avaliações escolares em inteligência fluida, como o valor preditivo da inteligência fluida relativamente ao desempenho académico.

Em sequência, e concluindo este segundo volume, temos um artigo sobre o enfrentamento da pandemia desencadeada pelo vírus SARS-CoV-2, cenário que perpassou, dia após dia, todo o período no qual este número especial foi organizado. Neste artigo, Mayra Antonelli-Ponti, Francisco Cardoso, Célio Pinto e José Aparecido da Silva comparam os níveis de estresse peritraumático durante a pandemia Covid-19 (EPC) entre Brasil e Portugal destacando as consequências das diferentes decisões políticas de saúde seguidas nos dois países.

Armando Mónica - Universidade de Coimbra - Portugal

Joaquim C. Rossini - Universidade Federal de Uberlândia - Brasil

José Aparecido Da Silva - Universidade de São Paulo - Brasil

 

 

Novembro 2020

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