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Contextos Clínicos

Print version ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.1 no.1 São Leopoldo June 2008

 

ARTIGOS

 

Evoluções e revoluções na clínica psicanalítica infantil: da orientação aos pais à avaliação-intervenção conjunta pais-filhos

 

Evolutions and revolutions of the psychoanalytic children clinic: from the advice of the parents to the joint parents-children evaluation-intervention

 

 

Helga S. Machado QuagliattoI; Marines de Fátima CunhaII; Ludmilla de Sousa ChavesIII; Luísa Guimarães PajolaIV; Karla LemgruberV

ISociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo - SBPSP e Centro de Estudos e Eventos Psicanalíticos de Uberlândia - CEEPU. Av. Amazonas, 2245, 38405-302, Uberlândia, MG, Brasil. hquagliatto@sbpsp.org.br
IICentro de Estudos e Eventos Psicanalíticos de Uberlândia - CEEPU. Av. Batalhão Mauá, 1482, 38440-210, Araguari, MG, Brasil. marinescunha@yahoo.com.br
IIIUniversidade Federal de Uberlândia - UFU. Centro de Estudos e Eventos Psicanalíticos de Uberlândia - CEEPU. Rua Bernardo Cupertino, 1212, Osvaldo Rezende, 38400-444, Uberlândia, MG, Brasil. lud_chaves@hotmail.com
IVCentro de Estudos e Eventos Psicanalíticos de Uberlândia - CEEPU. Rua Juca Cândido, 193, 75701-020, Catalão, GO, Brasil. luisa@wgo.com.br
VCentro de Estudos e Eventos Psicanalíticos de Uberlândia - CEEPU. Av. Floriano Peixoto, 5322, apto. 03, bl. 13, 38405-184, Uberlândia, MG, Brasil. karlalemgruber@hotmail.com

 

 


RESUMO

Os estudos relatados sobre avaliação e intervenção psicanalítica com crianças indicam que o desenvolvimento de novas modalidades técnicas promoveu uma série de evoluções e revoluções na clínica contemporânea. A partir de Freud, Klein, Winnicott, Bion e Bick, inicia-se um processo de transformação, preconizando a Psicanálise Vincular e a inclusão dos pais no trabalho com crianças. Outros estudiosos continuaram esta trajetória, contribuindo com novas discussões. Em consonância com essas transformações, iniciou-se em 2006 um grupo de estudos em Uberlândia-MG, cuja referência de trabalho é estudar, a partir da experiência clínica, a Avaliação e Intervenção Psicanalítica Conjunta Pais-Filhos. Esta proposta, que inclui a participação de todo o grupo familiar, analisa não só o funcionamento mental e o desenvolvimento emocional da criança que motivou a consulta, mas também a interação pais-filhos. Sendo assim, o trabalho incide em dois principais focos: o infantil e a comunicação do grupo familiar para integrar a experiência emocional. Em relação às alternativas terapêuticas, esta modalidade técnica pode incluir inúmeras variáveis a serem analisadas para as indicações posteriores. Vale ressaltar que um dos objetivos é que o próprio grupo, com as pontuações do analista, conclua pela indicação ou não de análise individual para um ou mais elementos do grupo familiar. Desta forma, finalizada a era dos psicanalistas se filiarem a uma única escola, é fundamental reconhecermos a importância do conjunto de experiências clínicas que promovem elaborações teóricas e técnicas consistentes e diversificadas, e respeitá-las, fazendo, assim, ligações e recortes conforme o trabalho analítico exige em sua singularidade.

Palavras-chave: psicanálise infantil, revoluções clínicas, avaliação-intervenção conjunta pais-filhos.


ABSTRACT

Studies about psychoanalytic evaluation and intervention with children indicate that the development of new technical models promoted a series of evolutions and revolutions in the contemporary clinic. After Freud, Klein, Winnicott, Bion and Bick, a process of change takes place, recommending Linkage Psychoanalysis and the inclusion of parents in the work with children. Other research continued this trajectory, contributing new discussions. In line with these changes, in 2006 we started a study group in Uberlândia-MG, in order to study on the basis of clinical experience, the joint parents-children psychoanalytic evaluation-intervention. This proposal, which includes the participation of the whole family group, not only analyzes the child's mental functioning and emotional development which motivated the appointment, but also the parents-children interaction. Therefore, the work focuses on two main points: the children and the family group's communication to integrate emotional experience. In relation to the therapeutic alternatives, this technical pattern can include several variables to be analyzed in post-studies. It should be noted that one of the purposes is that the group itself, with the analyst's considerations, decides on individual analysis for one or more members of the family group. In this way, it is essential to recognize the importance of the whole of clinical experiences that promotes theoretical reflections and consistent and various techniques as well as to respect them, thus making connections and cutouts according to what the analytical work demands in its uniqueness.

Key words: child psychoanalysis, clinical revolutions, whole dealing parents-children evaluation-intervention.


 

 

Os estudos relatados sobre avaliação e intervenção psicanalítica com crianças indicam que o desenvolvimento de novas modalidades técnicas promoveu uma série de evoluções e revoluções na clínica contemporânea. Este movimento transformador está baseado fundamentalmente em três aspectos concomitantes e indissociados, que ampliaram a posição psicanalítica frente ao infantil. São eles: a compreensão e ênfase das escolas psicanalíticas sobre a formação da subjetividade humana (elementos intra-subjetivos, intersubjetivos, transgeracionais e transubjetivos); a noção de que a criança tem um aparelho psíquico próprio, que por estar em desenvolvimento gera constantes modificações; e o surgimento de novos problemas clínicos, advindos das experiências analíticas com crianças.

Assim considerando, o presente artigo objetiva realçar progressos teóricos que ampliaram a prática psicanalítica e permitiram o incremento de modalidades técnicas, discutindo a participação dos pais na avaliação-intervenção psicanalítica com crianças.

 

Revisitando as evoluções

O primeiro ensaio para tratar o sofrimento emocional de uma criança ocorre quando Freud (1980a) publica, em 1909, as orientações por ele realizadas ao pai de um menino fóbico de cinco anos. O objetivo era aliviar sintomas e também confirmar, através deste caso, suas teorias sobre desenvolvimento, sexualidade infantil e Édipo. Porém, depara-se com uma limitação técnica: a dificuldade de comunicação com a criança, cuja linguagem verbal é restrita. Em 1920, em seu artigo Além do Princípio do Prazer (Freud, 1980b), postula que a criança, para dominar a angústia, a transforma em um jogo. Apesar deste importante insight sobre a comunicação, Freud não amplia a técnica de análise de crianças e evidencia em 1933, em suas Novas conferências introdutórias (Freud, 1980c), uma nova limitação: "Quanto ao caso de crianças, em que se pode contar com os maiores êxitos, as dificuldades são externas, influenciadas pelo relacionamento com os pais, embora tais dificuldades, afinal, necessariamente façam parte da condição da criança" (Freud, 1980c, p. 188).

Em decorrência desses estímulos freudianos e com o objetivo de manter o método psicanalítico, Ferro (1995) comenta que, na década de 1920, surgiram tentativas de elucidar uma técnica de análise com crianças a partir da latência, nos trabalhos de Hermine von Hugh-Hellmuth e Sophie Morgenstern. Mas as grandes representantes deste cenário até 1945 foram Anna Freud e Melanie Klein.

Anna Freud, de acordo com Zimerman (2001), defendia radicalmente a idéia de que a análise de uma criança não deveria se iniciar antes dos quatro anos de idade e nem ser aplicada diretamente a ela, mas sim com a ajuda da autoridade dos pais. A ênfase estava centralizada em orientações pedagógicas, na medida em que considerava impossível o estabelecimento de relações transferenciais com o analista.

Neste mesmo período, conforme Hinshel-wood (1992), Melanie Klein, trabalhando com pequenos pacientes, sistematizou uma técnica individual de análise com crianças. Sua forma de trabalhar baseou-se em suas observações de que o brincar é a expressão natural de dramatizações de fantasias inconscientes e elaboração de conflitos da infância, em que observava que o trabalho com a angústia favorecia o relacionamento da criança com seus pais.

A evolução do pensamento kleiniano permitiu um amplo desenvolvimento clínico, através da técnica do brincar, que redimensionou a compreensão do mundo interno:

A experiência ensinou-me que as crianças podem, perfeitamente, produzir uma neurose de transferência e que, exatamente como no caso dos adultos, surgirá uma situação transferencial desde que empreguemos um método equivalente a análise dos adultos, isto é, que evitemos qualquer medida pedagógica e que analisemos a fundo os impulsos negativos dirigidos ao analista (Klein, 1981, p. 20).

Observa-se que o foco da subjetividade kleiniana recai fundamentalmente sobre a dimensão intrapsíquica, na medida em que propõe a análise das fantasias inconscientes, das angústias primitivas e dos mecanismos de defesa do ego. Esta postura amplia o trabalho individual da análise com crianças, porém provoca, em contrapartida, uma dificuldade no setting: lidar com o binômio pais-filhos.

Esses fatores, entre outros, levaram os colaboradores de Klein a expandir e em alguns aspectos, modificar, a partir da década de 1960, as idéias de sua preceptora. Psicanalistas, como Donald Winnicott, Wilfred Bion e Esther Bick, ressaltaram também a importância das questões psicossociais das relações e influenciaram decisivamente no trabalho com crianças, ao considerá-las como um ser inserido no meio familiar, social e cultural. Estes autores propuseram uma investigação da maneira pela qual os vínculos, em especial da mãe com o bebê, vão sendo construídos para favorecer, ou não, a saúde mental.

Winnicott apresentou uma teoria original do desenvolvimento emocional primitivo, denominada de Teoria do Amadurecimento Pessoal. Tecnicamente, esta teoria imprimiu relevância às primeiras consultas psicoterapêuticas com a criança, no sentido de avaliar e intervir no conflito inconsciente no tempo possível e disponível de contato, antes de qualquer escolha terapêutica de longo curso (Winnicott, 1984). Nas palavras de Winnicott: "Seja o que for que aconteça, é o acontecer que é importante" (Winnicott, 1994, p. 246).

Bion (1970) trouxe uma grande contribuição à clínica ao sistematizar um trabalho vincular com grupos, reconhecendo a presença de mecanismos psicóticos nos mesmos, desenvolvendo assim a Teoria do Pensar e do Continente/Contido (Bion, 1991), que subsidiou também o entendimento do funcionamento dos grupos familiares. Comenta Bion (1988) sobre as dificuldades da análise com crianças:

Se você sente que o paciente é a mesma pessoa, que é responsável por vir e pagar os honorários e tudo o mais, isto torna tudo mais fácil do que se você tiver que lidar com uma criança que pode ser muito cooperadora, mas com pais que não estão com a menor vontade de se envolver com a análise. Esta é uma das dificuldades da análise de criança ou mesmo em se tratando de análise de pacientes psicóticos limítrofes (Bion, 1988, p. 5).

Também o Método de Observação Psicanalítica da Relação Mãe-Bebê-Família, desenvolvido por Bick (1964), apresenta-se como um importante recurso de formação psicanalítica para a clínica de estados mentais primitivos. Neste método, o analista visita semanalmente a casa de um bebê do seu nascimento até o segundo ano de vida, com o objetivo de observar rigorosamente, sem intervir, os movimentos emocionais relacionais bebê-mãe-família e as formas não-simbólicas de comunicação.

 

As revoluções da psicanálise infantil

Assim, compreende-se que estas evoluções e revoluções teórico-clínicas preconizam a Psicanálise Vincular, que trata da inserção nos diferentes mundos nos quais se vive simultaneamente, como expressa Béjar (2002):

O mundo espaço intra-subjetivo no qual nos relacionamos com os nossos objetos internos; o mundo espaço intersubjetivo no qual a presença do outro é inexorável e condiciona, inevitavelmente, a percepção da própria existência que se constitui precisamente nesta relação, obtendo-se assim a forma de ser sujeito; e finalmente, o mundo espaço transubjetivo, o sociocultural que nos marca, que nos atravessa. Somos ensinados a pensar certas experiências como sendo separadas, e assim passamos parte de nossas vidas unindo-as e articulando-as. Na realidade, elas já estão vinculadas se assim pudermos vê-las. A nossa proposta é podermos aprender com as experiências, detalhando-as sem perder de vista seu rico entrelaçado de vivências transgeracionais (Béjar, 2002, p. 18).

As sementes lançadas por estas transformações permitiram tomar em consideração no processo analítico (que inclui o primeiro contato, a avaliação, a proposta terapêutica e a análise propriamente dita), todos os elementos que compõem a subjetividade, e isso indica que, no caso de crianças, os pais devem ser incluídos. Também remetem ao não estabelecimento de um modelo único, de uma técnica correta em detrimento das outras; pelo contrário, apontam para a flexibilidade e criatividade que o método psicanalítico possibilita.

O movimento de inclusão dos pais no trabalho psicanalítico com crianças tem sido discutido na contemporaneidade por estudiosos como Mélega (2002), Caron (2000), Silva (2003) e Almeida et al. (2007), dentre outros. Este é o campo das intervenções conjuntas, da introdução da família nas primeiras entrevistas com a criança. Como modalidade técnica, abrange um amplo repertório, havendo várias maneiras de se articular este trabalho, e, como estruturação teórica, aponta para um importante marco, que evidencia a correlação entre o intrasubjetivo, o intersubjetivo, o transubjetivo e o transgeracional na constituição da subjetividade.

 

Avaliação-intervenção psicanalítica conjunta pais-filhos

Em consonância com essas transformações, iniciou-se, em 2006, um grupo de estudos em Uberlândia-MG vinculado ao CEEPU (Centro de Estudos e Eventos Psicanalíticos de Uberlândia). O grupo reuniu também profissionais das cidades de Araguari-MG e Catalão-GO, cuja referência de trabalho é estudar, a partir da experiência clínica, a Avaliação e Intervenção Psicanalítica Conjunta Pais-filhos.

Esta proposta analisa não só o funcionamento mental e o desenvolvimento emocional da criança que motivou a procura da análise, mas também a interação entre os membros do grupo familiar. A premissa básica de trabalho, assimilada de Brafman (1999), é que cada participante desperta e reage a fatores inconscientes dos seus pares, e os pais ajudam os filhos, se não se identificarem com os conflitos inconscientes dos mesmos. Se ocorrer dos pais interpretarem, inconscientemente, o conflito da criança como reflexo de suas próprias angústias, perdem a capacidade de ajudá-la e exacerbam o conflito. Forma-se um ciclo vicioso.

Nesta prática, ao haver uma procura para atendimento de uma criança até a latência, é apresentada uma proposta de avaliação conjunta (com o grupo em que a criança vive: pais, irmãos, responsáveis, etc.) da situação perturbadora que motivou a consulta. Compreende-se que a denominação "em conjunto" refere-se à experiência emocional.

Os encontros podem durar em torno de seis a doze sessões, com uma hora de duração cada. Prepara-se a sala com brinquedos simples e material de desenho pertinente à idade cronológica da(s) criança(s). Neste ponto o trabalho incide:

a) Sobre o INFANTIL, ou seja, sobre os modelos infantis que não sofreram suficientes elaborações para cada membro do grupo familiar, independentemente da idade cronológica e como ocorre a repercussão do infantil no grupo. Observam-se, neste contexto, tendo como referencial os estágios de amadurecimento propostos por Winnicott (2000): graus de dependência; estados de integração, não-integração e desintegração; as tarefas no processo de integração; o objeto e o uso do objeto; e as defesas.

b) Sobre a comunicação do grupo familiar para integrar a experiência emocional: dependendo do momento no desenvolvimento emocional e das tarefas em que o grupo familiar está envolvido, são diferentes as formas de comunicação; sendo assim, devem-se observar a comunicação silenciosa e direta e a comunicação indireta e explícita (Winnicott, 1983). Todas essas variações também são vividas no convívio do grupo familiar com o analista, que compreende a relação transferencial nesta modalidade de trabalho como uma oportunidade para alcançar algo na busca de sentido para aquela experiência emocional (Winnicott, 2000).

No relato a seguir, será apresentada, de forma condensada, uma primeira sessão de avaliação-intervenção psicanalítica conjunta pais-filhos. A escolha por esta modalidade de atendimento clínico pautou-se pelo objetivo de investigar as várias dimensões da subjetividade inseridas na configuração sintomática da criança (falta de atenção, concentração e aprendizagem na escola, isolamento e inabilidade nas atividades diárias - trocar-se, limpar-se, alimentar-se sozinha, etc.) associado ao encaminhamento de um neurologista que não encontrou evidências neurológicas que justificassem o quadro clínico relatado, bem como a profunda preocupação, incompreensão e angústia parental.

Esta criança, que na ocasião completara seis anos de idade e era filha única do casal, chega com os pais para a sessão e, ao entrar na sala conduzida pela mãe, não olha nem cumprimenta a analista. A mãe indica o lugar em que ela deveria se sentar. A menina está com um baralho nas mãos, passa a primeira carta para o final do monte e assim, sucessivamente, sem parar. É insistentemente questionada pelos pais: "fale o seu nome, quantos anos você tem, diga onde você estuda". A tentativa de comunicação familiar é mal sucedida e desencontrada. A criança está absorta em suas cartas. Os pais explicam que ela sabe das coisas, que fala, mas só diz quando quer. Não se relaciona com nada nem com ninguém. Neste momento, é feita uma intervenção da analista: "Ela se interessa pelo baralho!". Os pais respondem que isso não tem nada a ver, que é só uma mania. Com o objetivo de se estabelecer uma comunicação, a analista pontua: "O papai e a mamãe acham que o seu baralho não tem importância. Será que não?" Ela, espontaneamente, pára de manipular as cartas, levanta e aproxima seu rosto da analista, olhando-a profundamente.

Abre-se, neste momento, um espaço de comunicação não-verbal, para que se pense ao vivo, ou seja, na experiência emocional, o tipo de relação e o vínculo deste grupo, bem como os aspectos infantil-narcísicos de cada membro. O baralho tem uma função calmante para a criança, funcionando, neste momento, como objeto/fetiche. Ao ser considerado, possibilita um novo meio de comunicação entre os pares, para a possível transformação em objeto transicional com a função criativa (Winnicott, 1975).

As alternativas terapêuticas desta modalidade técnica incluem inúmeras variáveis a serem analisadas para as indicações posteriores ao período de avaliação/intervenção. Vale ressaltar que um dos objetivos do trabalho conjunto pais-filhos é que o próprio grupo, com as pontuações do analista, conclua pela indicação ou não de análise individual para um ou mais elementos do grupo familiar. Portanto, o trabalho favorece a compreensão cognitiva e emocional da família sobre a indicação de análise individual e a permanência, no caso da criança, no trabalho analítico propriamente dito.

No caso de indicação para análise individual de mais de um membro do grupo familiar, é importante discutir quem permanece com o analista que realizou o trabalho conjunto. A preferência é da criança mais nova do grupo. Com crianças pequenas (até três anos) ou com um quadro de autismo, psicose infantil ou seus correlatos, o trabalho requer, por um período significativo, a presença dos pais, visto que há uma unidade que ainda não pode se independer. Porém, podem ocorrer situações em que, ao final do trabalho de avaliação-intervenção psicanalítica conjunta pais-filhos, não ocorra indicação para análise individual. Dados os recursos de integração da experiência emocional encontrados pelo grupo, os pais podem assumir novamente, de maneira eficiente, a função materna e paterna.

 

Considerações finais

Finalizada a era dos psicanalistas se filiarem a uma única escola, é fundamental reconhecer-se a importância do conjunto de experiências clínicas que promovem elaborações teóricas e técnicas consistentes e diversificadas, respeitá-las, fazendo, assim, ligações e recortes conforme o trabalho analítico exige em sua extraordinária singularidade. A multiplicidade técnica exige uma formação sólida, que deve estar vinculada às questões éticas, estando simultaneamente numa posição de estar envolvido e reservado no processo, onde a disciplina pessoal do analista deve ser o fio condutor. Sendo assim, o desenvolvimento dessas modalidades técnicas conquistou espaço e respeito no trabalho com crianças, ampliando o campo de atuação para além dos consultórios psicológicos particulares.

 

Referências

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Submetido em: 15/04/2008
Aceito em: 20/05/2008

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