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Contextos Clínicos

Print version ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.6 no.2 São Leopoldo Dec. 2013

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2013.62.01 

ARTIGOS

 

Psicoterapia e resultado: um panorama mundial da produção científica 2001-2011

 

Psychotherapy and results: a global overview of scientific production 2001-2011

 

Paula von Mengden Campezatto; Luciana Cunha Vieira; Maria Lucia Tiellet Nunes

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Av. Ipiranga, 6681, Prédio 11, sala 928, 90619-900, Porto Alegre, RS, Brasil. paulavmc@hotmail.com, lucicunhavieira@gmail.com, tiellet@pucrs.br

 

 


RESUMO

Faz-se necessário o conhecimento da eficácia e da efetividade das psicoterapias oferecidas à população para constante aprimoramento teóricotécnico. Objetivou-se investigar a produção científica referente a resultados em psicoterapia, buscando compor um panorama geral dessa produção. Foi realizada busca sistemática nas bases de dados PsycINFO, Lilacs e Indexpsi entre 2001 e 2011, com os descritores "psychoterapy" e "result" ou "outcome". Encontraram-se 707 artigos e, após refinamento, 312 artigos permaneceram, divididos em três categorias: pesquisas empíricas, revisão da literatura e apresentação de material clínico. Percebe-se crescimento da produção mundial a respeito dos resultados das psicoterapias, sobressaindo-se artigos empíricos, caracterizados por rigor metodológico. As principais origens dos artigos são Estados Unidos e Europa. O Brasil destaca-se na América Latina, embora a base de dados Indexpsi não apresente muitas publicações desta natureza. A maior concentração dos artigos está centrada na abordagem teórica da Terapia Cognitivo-Comportamental e direcionada a Transtornos Mentais do Eixo I.

Palavras-chave: psicoterapia, resultado, resultado de psicoterapia.


ABSTRACT

It is necessary to know the efficacy and the effeectiveness of psychotherapy offeered to the public for constant theoretical and technical improvement. The objective of this article was to investigate the scientific findings regarding the outcomes of psychotherapy, offeering an overview of this production. We performed a systematic search in PsycINFO, Lilacs and Indexpsi databases between 2001 and 2011 with the descriptors "Psychotherapy" and "result" or "outcome". 707 articles were found and, after refinement, 312 articles remained and were divided into three categories: empirical research, literature review and clinical material presentation. The review showed growth of world output regarding the results of psychotherapy, mainly in the form of empirical articles, characterized by methodological rigor. The main sources of the articles are the United States and Europe. Brazil stands out among Latin American countries, although the Indexpsi database does not present many publications of this nature. The largest concentration of articles focuses on the theoretical approach of Cognitive-Behavioral Therapy and is directed to Axis I Mental Disorders.

Key words: psychotherapy, psychotherapy results, psychotherapy outcome.


 

 

Existem diferentes formas de aproximação ao estudo empírico das psicoterapias: as que envolvem avaliação de resultado, que são as de eficácia e de efetividade, e as que avaliam o processo psicoterápico, que enfocam especialmente como ocorrem as mudanças no contexto da psicoterapia (Peuker et al., 2009). Faz-se necessário o conhecimento da qualidade, eficácia e efetividade dos tratamentos psicoterápicos oferecidos à população no intuito de constante aprimoramento técnico e teórico-técnico. Atualmente, existe uma forte tendência que privilegia o que pode ser comprovado cientificamente. Principalmente nos Estados Unidos e países da Europa, muitos dos recursos disponíveis para a saúde mental somente são destinados a modalidades de tratamento que já comprovaram ser mais efetivas no tratamento psicológico dos pacientes (Fonagy, 2003).

Deakin e Nunes (2008) já salientavam a escassez de pesquisas de resultado de tratamento que não as comportamentais, atribuindo a essa questão as peculiaridades das abordagens teóricas dos tratamentos psicoterápicos e ao fato de as pesquisas se adequarem às demandas dos planos de saúde de forma a receber o reembolso dos custos dos tratamentos, e não da necessidade de aprimoramento técnico-clínico.

Com a crescente demanda de comprovação da psicoterapia como tratamento por excelência para desordens mentais, vários estudos neste sentido ocorreram nas últimas décadas. O objetivo deste artigo, portanto, foi o de investigar a produção científica atual referente a resultados em psicoterapia, oferecendo ao leitor um panorama geral dessa produção.

 

Método

A busca de artigos publicados entre os anos de 2001 e 2011 foi realizada nas bases de dados PsycINFO, Lilacs e Indexpsi, a partir dos descritores "psychotherapy result", "psychotherapy outcome" e "psicoterapia resultado", de forma a abranger os descritores nas línguas inglesa e portuguesa. A escolha das bases de dados se deu na intenção de contemplar bases de dados de referência mundial, latino-americana e nacional.

 

Apresentação e discussão dos resultados

Foram encontrados 707 artigos, utilizandose como critérios de refinamento a inclusão de artigos que abordassem o tema do resultado em psicoterapia individual, sendo excluídos os que tratassem unicamente de tratamentos de grupo, de família ou de casal. Também foram excluídos desta pesquisa resenhas de livros, teses, dissertações, respostas a artigos, artigos repetidos e outros temas que não abordassem o resultado de um tratamento psicoterápico, além de artigos que tratassem unicamente de instrumentos, sem englobar resultados de tratamentos. Após o refinamento, permaneceu-se com 312 artigos, conforme disposto no Diagrama 1.

Observa-se que, mesmo após a realização do refinamento, há grande quantidade de produção científica sobre o tema estudado. No entanto, é importante salientar que a maioria dos artigos encontrados (N=275; 88,14%) se concentra na base de dados PsycINFO, representando a produção científica mundial na área da Psicologia. A base de dados Lilacs, representativa da América Latina, demonstrou produtividade menor (N=32; 10,26%), e a base de dados brasileira Indexpsi apresentou apenas 5 artigos (1,60%). Tais aspectos demonstram o quanto o Brasil e a América Latina ainda estão aparentemente defasados de pesquisas desta natureza em comparação a outros países e principalmente aqueles da América do Norte e da Europa.

Os 312 artigos encontrados sobre resultado em psicoterapia foram analisados e divididos em três categorias: (a) Pesquisas empíricas, na qual foram agrupados artigos decorrentes de pesquisas que abordaram o resultado da psicoterapia, envolvendo coleta de dados ou prontuários; (b) Revisão da Literatura ou artigos teóricos, em que foram realizados levantamentos ou estudos teóricos do tema pesquisado, citando pesquisas e pontos de vista diferenciados e (c) Apresentação de material clínico, na qual estão descritos casos clínicos e a demonstração do resultado do tratamento empreendido. A distribuição dos artigos está disposta na Tabela 1.

Na Tabela 1, a maior concentração é de artigos de natureza empírica (N=207; 66,35%), nos quais foram realizadas pesquisas que abordaram o resultado da psicoterapia. Também há numerosos artigos de revisão da literatura e teóricos (N=98; 31,41%), e poucos artigos que apresentem material clínico (N=7; 2,24%). Analisando-se a Tabela 1, considerando a base de dados em que estas produções científicas ficam agrupadas, percebe-se, em todas elas, maior número de publicações na categoria "Pesquisas Empíricas". No entanto, na base de dados Lilacs, há também uma concentração importante de produções na categoria "Revisão da Literatura ou Artigos Teóricos" (N=17; 53,15%).

A seguir, serão trabalhadas cada uma das categorias de artigo encontradas, unindo as produções referentes a cada tipo de estudo sem a divisão por base de dados. Desta forma, buscou-se tomar conhecimento do panorama geral das publicações sobre a temática, a fim de elucidar a origem e o ano de cada uma destas publicações, bem como os quadros clínicos e a abordagem teórica explorados. Em cada uma dessas categorias, houve novamente um agrupamento de informações, sendo as especificidades relevantes abordadas na discussão de cada tabela. A origem de publicação de cada artigo está descrita em continentes, buscando organizar sua origem por concentração geográfica, sendo nomeados apenas os países que se destacam na discussão. A abordagem teórica está descrita em subcategorias, compilando-se nomenclaturas semelhantes ou de mesmo referencial teórico, tais como Psicanálise, que engloba a própria Psicanálise, Terapia Psicodinâmica, Terapia de Orientação Psicanalítica, etc. Os transtornos mentais foram agrupados por Eixo, seguindo a categorização proposta pelo DSM-IV-TR (APA, 2002).

(a) Pesquisas empíricas

Nesta categoria, estão agrupados todos os artigos de natureza empírica encontrados no período pesquisado. Devido à extensa quantidade de material (N=207), os artigos foram reagrupados em tipos de pesquisa, abrangendo Estudos Clínicos (a.1) e Estudos Observacionais (a.2), conforme disposto na Tabela 2.

(a.1) Estudos clínicos

Os Estudos Clínicos encontrados concentram grande parcela de artigos (N=165; 79,71%) e incluem:

(a.1.1) Ensaio Clínico Randomizado Controlado: os estudos aqui incluídos (N=45; 21,74%) são caracterizados por exigente rigor metodológico, em que os sujeitos participantes das pesquisas foram randomizados a diferentes tipos de tratamento, mantendo pelo menos um grupo controle (outra abordagem de tratamento ou sem tratamento), com medidas antes, durante e na conclusão do tratamento. Há estudos com componente longitudinal de follow-up (N=17; 8,21%). Os estudos concentram-se em sua maioria na Europa (N=28; 13,53%) (destacando-se Alemanha, com N=9; 4,35%, e Holanda, com N=7; 3,38%) e na América do Norte (N=14; 6,76%) (estudos oriundos exclusivamente dos Estados Unidos). Apenas um estudo foi encontrado na América do Sul, cuja origem é brasileira. Percebe-se que os artigos aqui incluídos estão agrupados sua maioria no ano de 2011 (N=32; 15,46%), demonstrando que os Ensaios Clínicos Randomizados Controlados parecem ser tendência atual e, provavelmente, derivados de estudos teóricos ou estudos empíricos com menor rigor metodológico. Também se destacam os estudos da abordagem teórica Cognitivo-Comportamental (N=20; 9,66%) e com participantes com diagnósticos do Eixo I (N=28; 13,53%), dentre os quais ressaltam-se Transtornos de Ansiedade, Fobia Social, Transtorno do Estresse Pós-Traumático e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.

(a.1.2) Ensaio Clínico Randomizado: neste grupo, estão incluídos estudos novamente com rigor metodológico, ainda que se diferencie do grupo anterior pelo fato de as amostras não terem sido comparadas a um grupocontrole. O número de artigos neste grupo é importante (N=45; 21,74%), assim como os estudos que apresentaram follow-up (N=21; 10,14%). Estes estudos concentram-se em sua maioria na América do Norte (N=30; 14,49%) (sendo N=27; 13,04% referentes aos Estados Unidos e N=3; 1,45% referentes ao Canadá) e os demais na Europa (N=15; 7,25%) (Alemanha, com N=4; 1,93%, e Holanda, também com N=4; 1,93%). Percebe-se que os artigos aqui incluídos também estão agrupados em sua maioria no ano de 2011 (N=20), demonstrando que, assim como os Ensaios Clínicos Randomizados Controlados, os Ensaios Clínicos Randomizados são tendência atual. Também se destacam os estudos da abordagem teórica Cognitivo-Comportamental (N=27; 13,04%) e com participantes com diagnósticos do Eixo I (N=29; 14,01%), englobando os mesmos tipos de transtorno da categoria anterior.

(a.1.3) Ensaio Clínico Controlado: neste grupo, estão incluídos estudos de intervenção em que amostras clínicas são comparadas a um grupo-controle, sendo os participantes escolhidos por conveniência na maioria dos estudos, ou seja, sem a randomização dos participantes. Observa-se número elevado de artigos neste grupo (N=27; 13,04%), sendo poucos os estudos que apresentaram follow-up (N=6; 2,90%). Os estudos desta categoria estão espalhados por diversos continentes, porém, seguem a tendência das demais categorias ao concentrarem-se na América do Norte (N=12; 0,58%) (N=9; 4,35% referentes aos Estados Unidos e N=3; 1,45% referentes ao Canadá) e na Europa (N=7; 3,38%) e com representatividade da América do Sul (N=6; 2,90%), onde há 5 estudos originados do Brasil. Ainda se observa concentração de publicações no ano de 2011 (N=9; 4,35%), porém, também são encontrados estudos desta natureza no decorrer de toda a década investigada. Os artigos abordando a teoria Cognitivo-Comportamental (N=15; 7,25%) e com participantes com diagnósticos do Eixo I (N=17; 8,21%) são maioria, do mesmo modo que nas duas categorias descritas acima.

(a.1.4) Ensaio Clínico Aberto: nesta categoria, encontram-se os estudos clínicos que avaliam intervenções clínicas, em sua maioria com medidas antes e depois da intervenção. Diferenciam-se dos demais estudos descritos por não realizarem randomização dos participantes e nem comparação a um grupo-controle. O número de artigos neste grupo é importante (N=48; 23,19%), sendo apenas N=17 (8,21%) destes os estudos que apresentaram follow-up. Concentram-se em sua maioria na América do Norte (N=22; 10,63%) (sendo N=20; 9,66% referentes aos Estados Unidos e N=2; 0,96% referentes ao Canadá), na Europa (N=17; 8,21%, com destaque ao Reino Unido N=7; 3,38%) e na América do Sul (N=12; 5,80%) (destaque para o Brasil, com N=4; 1,93% e Chile, com N=3; 1,45%). As publicações aqui incluídas estão agrupadas no ano de 2011 (N=25; 12,08%),

o que corrobora a ideia de os Ensaios Clínicos serem tendência atual. Novamente, verificase concentração de estudos de intervenções Cognitivo-Comportamentais (N=16; 7,73%) e com participantes com diagnósticos do Eixo I (N=23; 11,11%).

(a.2) Estudos Observacionais

Os Estudos Observacionais desenvolvidos no período estudado representam parcela pequena (N=42; 20,29%) comparados aos Estudos Clínicos (N=165; 79,71%) descritos anteriormente. Provavelmente, isso se deva ao fato de estudos observacionais serem menos valorizados no meio acadêmico, por não obedecerem a rigor metodológico estrito como os Ensaios Clínicos. Os Estudos Observacionais diferenciam-se dos Ensaios Clínicos porque as intervenções psicoterápicas aqui estudadas não foram operacionalizadas e realizadas em função dos estudos descritos; as intervenções foram realizadas independentemente do estudo, de forma naturalística, e aspectos dos pacientes e da técnica foram observados. Os estudos aqui encontrados são divididos em duas categorias:

(a.2.1) Longitudinais: incluem tanto estudos retrospectivos como prospectivos, totalizando N=37 (17,87%). Caracterizam-se pelo acompanhamento do tratamento ao longo do tempo, geralmente por medidas ou estudos de sessões no decorrer do tratamento (comumente estudos de caso individuais ou coletivos) ou questionários retrospectivos sobre a experiência de tratamento, e não medidas operacionais antes e depois. Os estudos longitudinais encontrados foram publicados ao longo de toda a década investigada, embora também se encontre a tendência à concentração no ano de 2011 (N=12; 5,80%).

Os estudos retrospectivos (N=11; 5,31%) são realizados posteriormente, ou seja, depois de concluído o tratamento, investigam-se os registros dos casos (usualmente, registros de prontuários, questionários e entrevistas sobre a experiência de tratamento) na intenção de acompanhar retrospectivamente os sujeitos estudados. Diferente da tendência apresentada nos Ensaios Clínicos, sobressaem os estudos da abordagem Psicanalítica (N=4; 1,93%), acompanhados da abordagem Cognitivo-comportamental (N=3; 1,45%), em que são realizados estudos de caso de pacientes com Transtornos variados.

Os estudos prospectivos (N=26; 12,56%) buscam acompanhar os sujeitos investigados no decorrer do tempo, porém, com medidas ou registros desde o início da intervenção e no decorrer desta. Assim, observa-se o comportamento naturalístico daquele grupo de sujeitos expostos a uma situação clínica, sem dividi-lo em grupos. Os estudos aqui descritos concentram-se na América do Norte (N=20; 9,66%) (sendo Estados Unidos N=15; 7,25% e Canadá N=5; 2,42%), seguindo a abordagem cognitivocomportamental (N=12; 5,80%), investigando transtornos do Eixo I (N=17; 8,21%).

(a.2.2) Transversais: estes artigos (N=5; 2,42%) abordam os resultados da psicoterapia mensurados usualmente ao final do tratamento, sem o objetivo de realizar medidas no decorrer do tempo, pois não contam com dados do início ou do decorrer do tratamento. Não há a possibilidade de explicitar relações de causalidade, mas sim associações das variáveis disponíveis. O objetivo destes artigos é verificar unicamente o resultado da psicoterapia, geralmente associando variáveis tais como tipo ou intensidade da aliança terapêutica, diferenças étnicas entre pacientes e terapeutas, entre outras, sem medidas de comparação com o início do tratamento ou no decorrer do processo de tratamento. Trata-se de pequena parcela de estudos em comparação às categorias anteriormente descritas, sem que se possa observar concentração de origem das publicações, abordagem teórica ou ano de publicação.

(b) Revisão da literatura ou artigos teóricos

Nesta categoria, estão agrupados todos os artigos de natureza teórica ou de revisão da literatura encontrados no período pesquisado. Devido à diversidade de material encontrado (N=98), os artigos foram reagrupados em categorias por tipos de estudo, abrangendo Revisão da Literatura (b.1), Artigo Teórico (b.2), Meta-Análise (b.3), Revisão Sistemática (b.4) e Revisão Crítica da Literatura (b.5), conforme apresentado na Tabela 3. Também é necessário ressaltar que numerosos artigos encontram-se sem especificação do referencial teórico (N=45) e/ou sem quadro clínico (N=55). Dentre eles, destacam-se estudos acerca da influência do tipo de relação terapêutica no resultado da psicoterapia, da diferença de etnia entre paciente e terapeuta e sua implicação no desfecho do tratamento e, também, dos estudos envolvendo o tratamento de pacientes com Transtorno de Estresse Pós-Traumático em virtude de catástrofes naturais.

(b.1) Revisão da literatura

Artigos de revisão da literatura encontrados (N=36; 36,76%) foram os que englobaram levantamento do assunto do tema pesquisado, abrangendo resultados de pesquisas, pontos de vista diversificados de autores, livros técnicos, etc. Nesta categoria, percebe-se a mesma tendência de produção dos artigos empíricos, demonstrando que, de fato, os conteúdos mais estudados são os resultados da abordagem cognitivo-comportamental para Transtornos Mentais do Eixo I (Ansiedade e Depressão), oriundos da América do Norte (N=20, 20,41%), mais especificamente dos Estados Unidos (N=14; 14,29%), e publicados em 2011 (N=13; 13,27%). Na América do Sul, a totalidade das publicações (N=8; 8,16%) originou-se do Brasil; na Europa (N=7; 7,14%), a Alemanha destaca-se com N=4 (4,08%).

(b.2) Artigo teórico

Nesta categoria, estão os artigos que apresentam propostas teóricas sobre alguma abordagem terapêutica, descrevendo os resultados esperados, com N=34 (34,69%) unidades. Diferentemente do encontrado nos demais achados deste estudo, os artigos da abordagem psicanalítica sobressaem aos demais, com N=9 (9,18%) artigos, comparados a N=4 (4,08%) da Terapia Cognitivo-Comportamental. Nas demais categorias, a tendência segue para os Quadros Clínicos classificados como Eixo I, de origem da América do Norte (N=21, 21,43%), mais especificamente dos Estados Unidos (N=20; 20,21%), publicados em 2011.

(b.3) Meta-análise

A meta-análise é a técnica especialmente desenvolvida para integrar os resultados de dois ou mais estudos sobre uma mesma questão de pesquisa, sendo 12 os artigos encontrados (12,24%), dos quais 7 artigos são oriundos da América do Norte. Trata-se de modalidade avançada de estudo, sendo encontrados poucos trabalhos nesta categoria quando comparada às demais categorias do grupo Revisão da Literatura ou Artigos Teóricos.

(b.4) Revisão sistemática

Os estudos aqui incluídos (N=8; 8,16%) são os que utilizaram método sistemático para encontrar e avaliar criticamente as publicações científicas disponíveis sobre alguma questão de pesquisa. Com apenas N=8 artigos, merecem destaque a origem das publicações, N=3 (3,06%) oriundas dos Estados Unidos e N=3 (3,06%) oriundas do Brasil.

(b.5) Revisão crítica da literatura

Novamente com N=8 (8,16%) produções encontradas, aqui se enquadraram as que realizaram um levantamento do assunto do tema pesquisado, mas com contribuições críticas dos autores. Abrangeram artigos com resultados de pesquisas, pontos de vista diversificados de autores, livros técnicos, de forma a cobrir o assunto pesquisado a partir de conceitos-chave, histórico, evolução, bem como a inclusão de pesquisas sobre o tema.

(c) Apresentação de material clínico

Na pesquisa realizada nas bases de dados, foram encontrados 7 artigos que abordavam a apresentação de material clínico, os quais não se enquadravam na metodologia empírica de estudo de caso qualitativo. Ressalta-se a pouca quantidade de estudos dessa natureza, o que provavelmente ocorre pela tradição dos periódicos em privilegiar estudos empíricos e revisões teóricas sistemáticas. Os casos apresentados foram divididos de acordo com a orientação teórica, conforme apresentado na Tabela 4.

Na Tabela 4, pode-se destacar que em N=6 (85,71%) dos N=7 (100%) artigos, a produção tem origem na América do Norte (aqui, unicamente representado pelos Estados Unidos), demonstrando que outros países não têm a tradição de publicar trabalhos desta natureza. Isto corrobora os achados das categorias A e B descritas anteriormente, nas quais os Estados Unidos também se destacam pelo númeroelevado de produções. É possível pensar que não é tradição dos periódicos publicar artigos desta natureza devido à pouca quantidade de produções científicas encontradas.

Outro aspecto que merece atenção foi o de que dos 7 artigos apresentados, 4 (57,14%) referem-se à teoria Psicanalítica. Contudo, nas categorias A e B citadas acima, que descreveram as pesquisas empíricas e os artigos de revisão ou teóricos encontrados, a maioria dos estudos baseava-se na Teoria Cognitivo-Comportamental. Parece ser ainda tradição da Psicanálise apresentar casos clínicos, o que demonstra a dificuldade em realizar pesquisas empíricas na área.

 

Considerações finais

Nos últimos anos, percebe-se um crescimento da produção teórica mundial geral a respeito dos resultados das psicoterapias, demonstrando uma aproximação ascendente entre a pesquisa e a clínica, questão imprescindível para a qualificação dos tratamentos oferecidos. A partir da busca realizada, percebe-se que a integração entre o clínico e o investigador pode começar na universidade, conforme sugerem Deakin e Nunes (2013). As autoras salientam que, dessa forma, o conhecimento pode ser desenvolvido e usado diretamente para aprimorar a prática clínica, levando em consideração as especificidades da amostra e o fato de cada ser humano ser único.

É provável que este crescimento da produção científica mundial seja não apenas com relação a este tema, pois a produção do conhecimento como um todo está mais veloz e, cada vez mais, os estudos teóricos e empíricos se aprimoram. Isso pode ser facilmente percebido pelo aumento significativo da qualidade dos artigos dos anos do final do período estudado em comparação com os artigos dos anos de início.

A partir do material estudado, percebe-se que, na produção mundial, representada pela base PsycINFO, sobressaem artigos empíricos, muitos dos quais caracterizados por importante rigor metodológico. As produções publicadas na América Latina contemplam revisões e estudos empíricos, demonstrando crescente investimento na área. Já no Brasil (Indexpsi), destaca-se a pouca quantidade de estudos sobre resultado de psicoterapia nos anos pesquisados. No entanto, é fundamental ressaltar que o Brasil está significativamente presente em bases não brasileiras, mostrando-se presente em todas as categorias desenvolvidas no decorrer do artigo.

A produção oriunda dos Estados Unidos se apresenta em larga escala, assim como a da Europa, em consonância com os achados de García-Martinez et al. (2012). No entanto, o Brasil se faz presente como o mais importante país em que se publica artigos sobre o tema na América Latina, além de apresentar-se à frente de muitos outros países da Europa, Oceania e do continente Americano. Assim, este estudo revela que, embora a base de dados brasileira estudada (Indexpsi) não demonstre a tradição de publicação de pesquisas desta natureza em nível nacional, estudos brasileiros importantes vêm sendo desenvolvidos e divulgados em diversos outros países.

Encontrou-se grande quantidade de artigos sobre os resultados de psicoterapia, sendo estudos de variadas natureza (empíricos, teóricos e apresentação de casos clínicos) e de temáticas diversas. No entanto, encontrou-se concentração significativa destes na abordagem teórica da Terapia Cognitivo-Comportamental e em estudos direcionados a Transtornos Mentais do Eixo I. Apesar disso, pode-se perceber, em todas as tabelas apresentadas, que muitos artigos não especificam a abordagem teórica dos tratamentos investigados e/ou o diagnóstico dos sujeitos de tais pesquisas, não sendo possível afirmar com precisão se a concentração descrita manter-se-ia com o esclarecimento desses dados. A partir disso, mostram-se necessários estudos de outras abordagens teóricas, tais como a Psicanalítica e a Humanista Existencial, que não têm a mesma tradição que a Terapia Cognitivo-Comportamental no desenvolvimento de pesquisas empíricas. É possível que essa diferença se dê em decorrência de especificidades dos métodos que empregam, tornando algumas linhas mais adequadas a determinados tipos de pesquisa (principalmente as pesquisas quantitativas). O acesso aos consultórios privados é geralmente muito mais restrito, seja por questões éticas, seja pela falta de envolvimento do clínico com a pesquisa propriamente dita, fazendo com que muitos tratamentos psicológicos, incluindo entre eles a psicanálise, deixem de revisar sua efetividade e fundamentar cientificamente sua metodologia (Bernardi, 1996). Mesmo assim, existe a necessidade de que outras abordagens cresçam no meio empírico, buscando metodologias e objetivos mais adequados aos seus pressupostos, aproximando o clínico do pesquisador. Também se fazem necessários estudos sobre Transtornos Mentais variados, tanto do Eixo I como do Eixo II, bem como de comorbidades.

Jimenez (2007) acredita que a pesquisa pode influenciar de forma positiva a prática clínica. A partir de sua experiência, o autor sugere que os dados encontrados nas pesquisas de avaliação de resultados de psicoterapia e psicanálise podem ajudar na identificação das formas de intervenção mais apropriadas para produzir mudanças terapêuticas, podendo influenciar a prática clínica em diferentes níveis e em diferentes áreas, como, por exemplo, a análise da especificidade de certas intervenções terapêuticas versus a relevância de fatores curativos comuns a diferentes técnicas.

A partir deste estudo, é possível identificar o panorama geral da produção científica a respeito dos resultados de psicoterapia, sendo possível identificar também as lacunas que deverão ser preenchidas com outras pesquisas: eficácia/efetividade da psicoterapia em diferentes abordagens teóricas, transtornos mentais dos Eixos II, III e IV, entre outros.

 

Referências

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Submetido: 25/02/2013
Aceito: 28/08/2013